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1. POLÍTICA E PODER
Quando você pensa em política, o que vem à sua cabeça? Provavelmente algo relacionado ao
governo, às pessoas que administram a cidade, o estado ou o país. Você talvez pense nas eleições, em
candidatos, no voto. E talvez tenha uma opinião desfavorável sobre a política: muita gente, quando ouve
falar em política, logo pensa em corrupção. Mas você já pensou em quantas coisas boas na sua vida foram
conseguidas por lutas políticas?
Por exemplo, hoje você pode postar na internet uma frase como “Odeio todos os políticos, o
governo é corrupto”. No Brasil, há menos de trinta anos, quem criticasse o governo desse jeito poderia
ser preso, torturado e até morto. Isso só deixou de ser assim graças a um movimento político forte que
mudou a forma de o país ser governado. E quem achar que outros problemas graves do Brasil podem ser
resolvidos sem política está seriamente iludido. A Ciência Política ajuda a entender como funcionam o
governo, as leis, os partidos, e tudo aquilo que influencia ou regulamenta a vida.
2.1 Poder
Mas o poder com base apenas na ameaça de violência é frágil. O ladrão só consegue mandar no
pequeno número de pessoas que mantém sob a mira de sua arma. Para o poder se estabelecer sobre um
grande número de pessoas por um tempo razoável, é preciso que essas pessoas obedeçam mesmo quando
não se veem explicitamente ameaçadas de violência. Imagine, por exemplo, se o governo precisasse
manter um policial armado acompanhando cada um de nós, o tempo todo, para que cumpríssemos a lei.
Dificilmente um governo como esse conseguiria se manter por muito tempo.
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2.2 Dominação
Dominação Carismática: é a dominação que se baseia na crença de que o líder político possui
qualidades excepcionais, dons extraordinários. Os liderados podem acreditar que o líder é
inspirado por Deus, ou que é excepcionalmente capaz de compreender o verdadeiro destino da
nação. É possível, a propósito, que os liderados estejam enganados, ou seja, que o líder não tenha
nenhuma dessas qualidades. Mas, enquanto o líder convencer de que as tem, ele exerce poder
sobre os liderados, muitas vezes inspirando-os a fazer coisas que normalmente não fariam.
Vejamos como as coisas são mais complexas do que aparentam. Começamos vendo que o poder é
a possibilidade de impor a vontade. Quando concluímos que o poder que é só imposto não consegue se
estabelecer por muito tempo, descobrimos que aqueles que obedecem precisam de motivos para
obedecer. Esses motivos são muito mais complexos do que o medo da violência: a dominação, para ser
bem-sucedida, precisa respeitar as tradições dos dominados, ou precisa oferecer-lhes a inspiração e o
entusiasmo que uma grande liderança é capaz de produzir, ou precisa garantir a ordem segundo os
princípios da lei.
No final da história, os dominados não se limitam a obedecer; eles têm valores, expectativas e
exigências que impõem limites a quem exerce o poder. O político que resolver ignorar completamente a
questão “Afinal, por que essas pessoas me obedecem?”, corre o risco de descobrir que, com o tempo,
elas podem parar de obedecer.
3. O ESTADO
Boa parte dos trabalhos de Ciência Política estuda o Estado. A definição de Estado mais utilizada
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pelos especialistas também foi formulada por Max Weber, e diz o seguinte: o Estado é o monopólio da
violência legítima em um determinado território. Em outras palavras: o Estado tenta ser a única
instituição à qual a população reconhece, em determinadas ocasiões, o direito de praticar a violência. A
população aceita essa situação por diferentes motivos, que variam de sociedade para sociedade. Vamos
discutir em separado cada parte da definição de Estado.
MONOPÓLIO é uma palavra emprestada da economia e descreve uma empresa que é a única
vendedora de certo produto. Quando afirma que o Estado tenta ser um monopólio da violência legítima
em determinado território, Weber está dizendo que o Estado tenta se tornar a única instituição capaz de
praticar a violência legítima naquele território.
Mas o que é a violência “legítima”? Pense na seguinte situação: você está vendo, na TV, imagens
de um conflito entre polícia e criminosos. Os dois lados estão praticando violência, um está atirando no
outro. Mas, para você, o que cada um está fazendo não é a mesma coisa. Você provavelmente acha que a
polícia tem mais direito de atirar nos criminosos do que os criminosos têm de atirar na polícia. Você acha
que, em circunstâncias como aquela, a polícia tem o direito de praticar a violência; os criminosos, não.
Em outras palavras, você considera que a violência praticada pela polícia no cumprimento da lei é
legítima.
Por que achamos que a violência da polícia contra os criminosos é legítima? Porque, em geral, ela
é praticada para fazer cumprir a lei. O valor que damos à lei se deve ao fato de que, nas sociedades
modernas (como a nossa), predomina a forma de dominação racional-legal, que explicamos no item
anterior: para nós, o que vale é a lei. Quando vemos policiais cometerem violência sem cumprir a lei (por
exemplo, matando um inocente), nos revoltamos contra eles. A violência da polícia só é legítima quando
é praticada conforme a lei.
Mas é preciso ter em mente uma coisa muito importante: os Estados modernos (brasileiro,
norte- americano, francês, etc.) não se formaram porque seus fundadores desejavam proporcionar bem-
estar à população, respeitar a tradição, garantir o respeito à lei, ou porque desejassem ser “modernos”.
Vamos mostrar aqui como esse processo está relacionado com nossa discussão sobre o monopólio da
violência e sobre como os que dominam também dependem dos dominados.
Começamos este assunto com o exemplo do poder que o assaltante armado exerce sobre sua
vítima. Em seus estudos sobre a formação dos Estados modernos, o cientista político e historiador norte-
americano Charles Tilly (1929-2008) destaca que, quando surgiram, os Estados modernos não eram
muito diferentes de quadrilhas criminosas que, para não agredir o povo, cobravam dele. Os Estados
modernos começaram a se formar no final da Idade Média, na Europa, sob a liderança de governantes que
cobravam impostos do povo pela força.
O interesse básico desses governantes era explorar os povos conquistados (além, é claro, do povo
que já exploravam antes). Para isso, era necessário destruir os governantes adversários. Quando
conquistavam novos territórios, podiam explorar mais gente e financiar mais guerras. Na origem do
Estado está a guerra, e nem sempre era clara a diferença entre guerra e crime: muitos Estados
financiaram piratas, por exemplo, que passavam a ser denominados corsários quando contavam com a
proteção de governantes.
Para conseguir recursos a fim de financiar seus exércitos, os fundadores dos novos Estados
europeus perceberam que valia a pena se aliar a certos setores da sociedade. Exércitos poderosos custam
caro. Os Estados europeus logo descobriram a vantagem de tomar dinheiro emprestado para financiar
suas guerras. Quem emprestava esse dinheiro eram os banqueiros e comerciantes, que integravam uma
camada social em ascensão: a burguesia.
Os reis que conseguiram acumular riqueza e formar exércitos poderosos conseguiram também
enfrentar os nobres, que tinham seus próprios exércitos. Segundo Charles Tilly, o desarmamento da
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nobreza europeia foi um longo processo, que levou à eliminação dos exércitos particulares dos nobres e,
muitas vezes, à destruição de suas fortalezas e seus castelos. Quando conseguiram desarmar os nobres, os
reis passaram a ter o monopólio da violência em seus territórios, em um processo de concentração
de poder. Mas o que tiveram de fazer para que essa violência fosse considerada legítima?
Enquanto iam ficando mais fortes e derrotando os nobres, os reis aos poucos foram forçados a
fazer concessões aos burgueses, que lhes emprestavam dinheiro, e ao povo, que lutava em seus
exércitos. Para satisfazer a burguesia, tiveram que fazer leis que incentivavam o comércio e a
indústria, e deixar de interferir na atividade econômica. Para evitar que o povo se rebelasse,
tiveram de ceder cada vez mais direitos à população Também tiveram de aceitar limites sobre seu
poder: o Estado foi “domesticado” por meio de leis e da criação de parlamentos.
Para entender melhor esse jogo de confrontos e negociações, uma boa dica é ler seu
livro de História pensando nos problemas que discutimos aqui. As revoluções, por exemplo, podem
ser vistas como grandes esforços para obrigar o Estado a satisfazer as exigências de legitimidade dos
cidadãos. No próximo momento de ensino, vamos analisar um aspecto importante da história destas lutas:
a história das ideias sobre o Estado.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA1
BOMENY, Helena [et.al]. Tempos Modernos, tempos de sociologia. Volume Único. São Paulo:
Editora Brasil, 2013.
MACHADO, Igor José [et.al] Sociologia hoje. Volume Único. São Paulo: Editora Ática, 2013.
QUESTÕES
1. Nas Ciências Sociais, particularmente na Ciência Política, definir o Estado sempre foi uma tarefa
prioritária. As tentativas nesta direção fizeram com que vários intelectuais vissem o Estado de formas
diferentes, com naturezas diferentes. Numa palestra intitulada Política como vocação, Max Weber nos
adverte, por exemplo, que o Estado pode ser entendido como uma relação de homens dominando homens.
No trecho da canção d´O Rappa, Tribunal de Rua, dominação é o que se percebe, também, na relação
entre cidadãos e policiais (braço armado do Estado).
A partir da perspectiva weberiana, relacionada ao trecho da canção acima, evidencia-se que a dominação
do Estado:
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Todo material teórico que se encontra nessa apostila, foi produzido pela “Smart Editora”. http://www.smarteditora.com.br
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a) é exercida pela autoridade legal reconhecida, daí caracterizar-se fundamentalmente como dominação
racional legal.
b) é estabelecida por meio da violência prioritariamente exercida contra grupos e classes excluídos social
e economicamente.
c) ocorre a partir da imposição da razão de Estado, ainda que contra as vontades dos cidadãos que,
normalmente, àquela resistem.
d) a exemplo da dominação de outras instituições, opera de forma genérica, exterior e coercitiva.
2. O tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro é apontado como exemplo da ausência do Estado,
que, ao negligenciar a garantia dos direitos sociais, abandona parcelas da população à violência e ao
embate entre traficantes e policiais. Os traficantes resolvem conflitos entre moradores e assistem famílias
desamparadas pelo Estado, desenvolvendo fortes laços de solidariedade com os moradores. Nesse
contexto, a situação é sociologicamente definida como:
a) fenômeno psicossocial em que o aspecto emocional prevalece sobre o jurídico.
b) fenômeno normal, devido à particularidade de cada pessoa e de cada grupo social.
c) fenômeno patológico, porque representa desvio da função do Estado.
d) conflito entre a autonomia dos grupos sociais e a heteronomia que caracteriza o direito estatal.
e) conflito entre a justiça dos traficantes e a representação social de justiça dos moradores.
5. Quais são os três tipos de dominação legítima, segundo Weber? Comente cada uma.