Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
➢ Estas teorias permitem situar a realidade política num campo vasto, onde se
misturam “normas” e “factos”.
• Componente normativa da realidade política Direito Constitucional
• Componente fáctica Ciência Política.
A realidade objeto da Ciência Política é o facto político.
• O FACTO POLÍTICO
➢ Mundo dos factos políticos=mundo dos indivíduos nas suas relações recíprocas
que constituem a vida em sociedade As pessoas nas suas relações interpessoais e
coletivas, não se relacionam de forma igual com toda a gente existem diferentes
formas de relacionamento (ex: pai e filho ou aluno e professor), o que leva a que os
vínculos sociais sejam também diferentes.
➢ A família, a escola, o sindicato ou o Estado são formas de vida social isto é, tipos
específicos de sociedade, que têm em vista para os seus membros, alcançar
determinados fins/determinados objetivos.
Isto pode ser feito de forma inorganizada como acontece com a família, ou com
uma classe social que não dispõe de normas e regras fixas de conduta a que devam
obediência ou pode ser feito de forma organizada como é feito num sindicato ou
num clube desportivo, que possuem regras disciplinares a que todos devem
obedecer, de forma a que o grupo social garanta a sua própria existência e coesão.
1. O poder
➢ Karl Deutsch considera que no poder de um individuo sobre outro observamos uma
espécie de jogo em que a pessoa que ganha consegue-o à custa do perdedor Assim, o
que é vantajoso para o vencedor é desvantajoso para os outros parceiros.
• A esta situação dá-se o nome de “jogo soma zero” na medida em que aquilo
que a pessoa A ganha é igual ao que a pessoa B perde.
1+ A superior
Pessoa A tem o direito de impor algo à pessoa B
2- B Inferior
➢ Maquiavel tinha também esta visão ao afirmar que um príncipe que favorece o
poder de outro príncipe diminui o seu próprio poder.
• Embora, o poder nem sempre assuma esta forma tão radical, não deixa de ser
verdade que a luta pela sua posse é feita, geralmente, de forma mais ou
menos
➢ Por outro lado o poder sobre a natureza é algo de que todos os seres humanos
podem beneficiar Por exemplo, a descoberta de vacinas, a construção de barragens,
a invenção dos transportes (carro, avião…) vêm mostrar que o poder sobre a natureza
é, também, um jogo, mas no qual todos podem ganhar.
➢ Aristóteles na sua obra “política” refere-se ao poder despótico (poder do senhor sobre
o escravo), ao poder paternal (poder do pai sobre o filho) e ao poder político (poder
do governante sobre os governados) os quais distinguia com base no interesse final.
• O poder do senhor sobre os escravos poder despótico devido a não ter
limites e ser absoluto;
• O poder do pai sobre o filho Poder paternal é exercido no interesse do filho,
tendo por isso esse limite.
• O poder do governante sobre os governados Poder político tem como fim o
bem comum, é por isso exercido no interesse comum de todos.
➢ John Locke na sua obra “Two treatises on Government” distinguiu o poder paternal, o
poder despótico e o poder civil com base no fundamento subjacente a cada um desses
tipos.
• Poder paternal funda-se na natureza das coisas;
• Poder despótico funda-se na punição dos culpados de um crime;
• Poder civil/político funda-se no consenso daqueles a quem se destina.
➢ Norberto Bobbio faz a distinção entre poder económico, poder ideológico e poder
político.
• O poder económico que “se vale da posse de certos bens, necessários numa
situação de escassez, para induzir aqueles que os não possuem a um certo
comportamento”. Isto é, quem detém os bens/serviços que me fazem falta
detém poder sobre mim.
• O poder ideológico que passa pela “influência que as ideias formuladas por
certa pessoa revestida de autoridade e defendidas por certos meios têm no
comportamento dos comandos”. Ou seja, certas ideologias e conceitos defendidos
por pessoas que ocupam determinados cargos terem a capacidade de alterar a
nossa atitude, a influência que têm no pensamento das pessoas (ex: o papa)
• O poder político supõe o recurso a “instrumentos através dos quais se exerce a
força física”. Assim, o Estado pode recorrer à força para impor as suas
determinações (ex: a polícia ao trabalhar para o Estado pode, em caso de
incumprimento das regras e das sanções impostas, recorrer à força). O recurso à
força é um atributo exclusivo do Estado, tirando em situações absolutamente
excecionais.
Das três formas referidas, a que exerce mais influência nos comportamentos sociais
é o poder político.
➢ Elementos que ajudam a compor a noção de poder por recurso a três ideias:
• O poder é um fenómeno biológico é o resultado de uma determinada
superioridade, que passa pelas características pessoais dos sujeitos envolvidos
(ex: o mais forte, o mais inteligente).
• O poder é um fenómeno de força e coação coação física (o mais forte); coação
económica (aquele que priva outro de algo, pode mais facilmente obter a sua
obediência); e a coação de outros tipos.
• O poder assenta em grande parte sobre crenças os governados acreditam que
é preciso obedecer aos governantes e estes procuram fazer-se estimados,
através do sistema de crenças.
▪ Este problema das crenças está intimamente ligado à noção de
legitimidade, especialmente quanto à questão da legitimidade de
exercício
ou seja, “em dado grupo social, a maior parte dos homens acredita que
o poder deve ter uma certa natureza, repousar sobre certos princípios,
revestir uma certa forma, fundar-se sobre uma certa origem é legítimo o
poder que corresponde a essa crença dominante”.
➢ Não existe uma única legitimidade, mas várias, que variam consoante os tempos
históricos e os grupos sociais assim, quanto maior for a legitimidade do poder,
menor será o recurso à força ou à coação para o impor.
➢ Formulada de forma mais ampla, a definição de Marcelo Rebelo de Sousa entende que a
ciência política é a “disciplina cientifica que estuda o facto político na atualidade, através da
sua observação e subsequente conceptualização” a maior amplitude desta conceção,
está no facto de Marcelo Rebelo de Sousa afirmar que a ciência política não se reduz ao
estudo dos factos políticos estaduais, abrangendo outras realidades para além dessas.
➢ Gomes Canotilho começa por definir a ideia de “objeto político” ocupada pelos
termos centrais de diretividade e agregação.
▪ Deste modo, o universo político será o “espaço socialmente constitutivo
de contradições e agregações de interesses, regulado pelos titulares do
poder político que dispõem do monopólio de coação física legitima”
com base nesta noção, este discute depois as tarefas do Direito
Constitucional e da Ciência Política, sem as desligar chama também à
atenção para o discurso crítico e construtivo que a Ciência Política
permite.
➢ Por outro lado há quem entenda que se deve identificar o objeto da ciência política de
forma autónoma, já que o político tem a sua própria esfera.
▪ Neste sentido cada ciência social teria a sua própria esfera identificada
a partir da especialidade de que se reveste.
▪ Esta conceção defende uma superior autonomia da ciência política e facilita
a sua especialização.
➢ O objeto da ciência política flutua principalmente entre dois polos: Poder e Estado.
➢ Na visão sociológica o Estado não difere das outras sociedades humanas devido a
ter uma natureza própria (conceção jurídica do Estado) mas sim pelo seu grau de
complexidade.
➢ A ciência política não está limitada ao estudo do Estado pois existe poder político
em sociedades pré-estaduais e infra-estaduais, bem como na comunidade
internacional.
A ciência política não se limita a uma Teoria Geral do Estado mas também não se
alonga por tudo o que são manifestações de poder.
➢ A teoria geral do poder político é área do saber que estuda “o poder político em
todas as suas formas”.
➢ Assim esta assume-se como uma designação mais adequada a explicar o estudo da
ciência política tanto na parte da atividade pública dos cidadãos como no que toca
ao Estado Constitucional contemporâneo.
Capítulo II
➢ O Estado que hoje conhecemos tem uma definição com base na “teoria dos três
elementos do Estado” que considera que este é constituído por:
• Um povo
• Um território
• Um poder político
Aproximando-se assim da definição de Marcello Caetano que vê o Estado como “um
povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse
território institui, por autoridade própria, os órgãos que elaboram as leis necessárias à
vida coletiva e imponham a respetiva execução”.
• Estado Medieval
• Estado Moderno Estamental ou corporativo
Absoluto
Constitucional
➢ O Estado Moderno é o tipo histórico característico da Idade Moderna e da Idade
Contemporânea (sec. XVI a sec. XX).
Este tipo de Estado tem como características fundamentais:
• A rápida centralização dos poderes políticos no rei;
• A definição precisa dos limites do território e o controle efetivo deste
pelos órgãos do Estado;
• A conceptualização e afirmação da ideia de Estado-Nação;
• A definição do Estado como ente soberano, ou seja, dotado de um
poder supremo na ordem interna e de um poder independente na
ordem internacional;
• A secularização do Estado;
• O culto crescente da Razão de Estado;
• Início do período constitucional, com as revoluções americana e francesa.
Estado Estamental ou corporativo passa pela ideia de que o rei e os estamentos
(clero, nobreza e povo), desenvolvam uma relação entre si na qual o rei deve ter
em consideração a opinião dos Estamentos, que ganham cada voz a partir de
assembleias (cortes, estados gerais, dietas) o rei não podia determinar sozinho a
evolução dos acontecimentos políticos necessitando de recorrer ao apoio das
outras forças estruturais, que era necessário ter em conta assim, pode, por isso,
falar-se aqui de uma monarquia limitada pelas ordens, visível sobretudo nos
séculos XVI e XVII.
Estado absoluto conforme o rei vai centralizando o poder os estamentos
desvanecem-se e passamos a um Estado absoluto dado ao monarca ter o poder
todo e consequentemente fazer a lei.
O rei afirma-se por “direito divino” no primeiro período do absolutismo mais
tarde o iluminismo vem introduzir o “despotismo esclarecido” através do qual a
ação do Estado passa a assentar na conveniência e na defesa do bem público, não
na justiça ou na legalidade.
Este permitiu a unidade do Estado a partir da elevação do papel da lei como
fonte de Direito pela formação de exércitos e pela intervenção em áreas como a
economia.
Estados Soberanos
(classificação jurídico constitucional)
Não soberanos
5. Estado e Nação
➢ A Nação de acordo com o sentido histórico cultural e como escreveu Renan “é uma
alma, um princípio espiritual (…). É o coroamento de um longo passado de esforços, de
sacrifícios e de devoções; ter glórias comuns no passado, uma vontade comum no
presente, ter feito grandes coisas em conjunto e querer continuas a fazê- las, eis as
condições essenciais para ser um povo”.
➢ Os titulares dos órgãos do poder político são representantes da Nação e não apenas do
conjunto dos cidadãos cuja expressão concorreu para a sua escolha.
➢ Antigamente a cidadania era entendida apenas como um vínculo jurídico-político que unia
um individuo ao Estado hoje é concebida como um verdadeiro direito de cada
individuo, revestindo a natureza de direito fundamental.
➢ A cidadania é um direito, porém, tal como se adquire também se pode perder através de:
• Renuncia decisão/vontade do próprio
• Privação decisão do Estado de retirar a cidadania a um nacional seu por
razões de origem jurídica ou política.
Lei + Vontade
Aquisição Adoção
Naturalização
➢ A cidadania originária obtém-se por mero efeito da lei ou por efeito conjugado da
lei e da vontade e por virtude dos factos ligados ao nascimento conciliando o jus
sanguinis e o jus soli.
➢ Por outro lado são portugueses de origem por efeito da lei e da vontade:
• Os filhos de mão portuguesa ou de pai português nascidos no estrangeiro se
tiverem o seu nascimento inscrito no registo civil português ou declararem
que querem ser portugueses;
• Os indivíduos nascidos no estrangeiro com, pelo menos um ascendente de
nacionalidade portuguesa do 2ºgrau na linha reta que não tenha perdido essa
nacionalidade, se declararem querer ser portugueses, possuírem laços de
efetiva ligação à comunidade nacional e, verificados esses requisitos,
inscreverem o nascimento no registo civil português;
• Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros que não
se encontrem ao serviço do respetivo Estado, que não declarem não querer
ser portugueses, desde que, no momento do nascimento, um dos
progenitores aqui resida legalmente há pelo menos dois anos.
➢ Já a cidadania não originária ou derivada adquire-se por efeito da lei e da vontade, por
adoção ou por naturalização.
➢ Podem por isso, adquirir cidadania portuguesa por efeito da lei e da vontade:
• Os filhos menores ou incapazes de pai ou mãe que adquiriu a cidadania
portuguesa, mediante declaração;
• O estrangeiro casado há mais de 3 anos com cidadão português, mediante
declaração feita na constância do matrimónio;
• O estrangeiro que, à data da declaração, viva em união de facto há mais de 3
anos com nacional português, após ação de reconhecimento dessa situação, a
interpor no tribunal cível;
• Aqueles que a tenham perdido por efeito de declaração prestada durante a
sua incapacidade, mediante declaração, quando tiverem readquirido a sua
capacidade jurídica.
Nestes casos a aquisição da cidadania pode ser objeto de oposição judicial por
parte do ministério público (nº1 Art.10º.) devido a:
• Inexistência de ligação efetiva à comunidade nacional;
• A condenação, com trânsito em julgado da sentença, com pena de prisão igual
ou superior a três anos;
• O exercício de funções públicas sem caráter predominantemente técnico ou a
prestação de serviço militar não obrigatória a Estado estrangeiro;
• A existência de perigo ou ameaça para a segurança ou a defesa nacional, pelo
seu envolvimento em atividades relacionadas com a prática do terrorismo, nos
termos da lei atinente a essa matéria.
6.2. O Território
A LEGALIDADE E LEGITIMIDADE
➢ Legalidade: Esta corresponde aos aspetos de conformidade com a lei, assumindo
como consequência o ordenamento jurídico. Assumindo desta forma que a atuação
dos poderes políticos deve ser regida por normas e por si limitadas. Esta opera no
plano normativo.
➢ Problema da legalidade segundo BOBBIO: um deles é a produção de direito através de
leis e a aplicação do direito de acordo com as leis, mas as consequências desse
conceito alargam-se a outros domínios: como o da aferição da legalidade de um
regime político, temos assim de assegurar que a respetiva escolha tenha obedecido as
normas disciplinadoras desse processo.
➢ Legitimidade: A legitimidade é um conceito com consequências jurídicas, mas sem
origem no Direito (o Direito vai recuperá-lo mais tarde). É a conformidade, a
compatibilidade e o respeito dos valores e princípios pelos quais uma sociedade se
orienta.
➢ Relação entre estes dois conceitos pode cruzar-se ao longo de quatro linhas:
a) O que é legal é legitimo (alguém escolhido de acordo com a lei e governa segundo
as regras e princípios dos cidadãos)
b) O que é ilegal é ilegítimo (alguém é escolhido de acordo com a lei, mas perde a
legitimidade de titulo porque não assume bem a sua função).
c) O que é legal é ilegítimo
d) O que é ilegal é legitimo
➢ Neste esquema, o topo representa a situação ideal (que está em conformidade com as
regras estatuídas aliando-se assim a compatibilidade com os princípios e valores
fundamentais em que a estrutura social assenta). Já a base representa o cenário mais
invejável (em que o Direito não é respeitado, como as convicções em torno das quais a
sociedade se agrega são absolutamente ignoradas.
➢ Legitimidade de titulo: quem governa, governa porque no momento da escolha isso
foi designado segundo a lei. É o momento inicial do exercício das funções.
➢ Legitimidade de exercício: alguém pode ter legitimidade de titulo, mas quando começa a
exercer perde toda essa legitimidade.
AS FUNÇÕES DO ESTADO
1. A realização dos fins do Estado implica que este desenvolva, um rol alargado de
atividades (recolher impostos, resolver litigios, punir ações criminosas).
2. Podemos dizer que as funções do estado são atividades específicas ou diferenciadas,
duradouras, cujo exercício coordenado por parte de um ou mais órgãos do Estado se
dirige à prossecução de um ou mais dos seus fins.
3. São especificas ou diferenciadas, porque podem ser identificadas pelos elementos
caracterizadores de cada uma.
4. São duradouras porque se prolongam no tempo, embora se desdobrem em vários
atos localizados em momentos concretos.
OS ORGÃOS DO ESTADO
1. Marcello caetano definiu o tema do órgão político do estado dizendo que este era
um cargo singular que tem competências para participar no processo de
manifestação de uma vontade funcional imediata ou mediatamente aplicável ao
Estado-coletividade.
2. Por esta definição conseguimos ver a existência de vários tipos de órgãos que o
órgão compreende um conjunto de elementos constitutivos em que existe uma
relação entre órgão e estado (relação jurídica) que permite transformar a vontade
psicológica dos titulares do poder em vontade do próprio estado.
A VONTADE FUNCIONAL
1. O conceito de órgão de estado é determinante para se entender a dinâmica do
estado e a sua articulação com a coletividade.
• Pois este permite explicar o funcionamento do estado como se tratasse de
uma grande empresa, com vontade própria. Porque a dualidade entre a
vontade dos que ocupam o poder (vontade psicológica) e a vontade do estado
(vontade funcional), apenas se consegue ultrapassar através da densificação
do conceito de órgão de estado.
2. Quando o estado legisla, este emite sentenças ou formula atos administrativos, isso é
então resultado inicial da atividade de determinadas pessoas físicas a quem é atribuída
a competência para decidir.
ELEMENTOS
1. Instituição: ideia de obra ou de realização que perdura no tempo e na comunidade
como uma realidade aceite.
2. Competência: complexo de poderes funcionais que dizem respeito à participação no
exercício de uma ou mais funções do Estado.
3. Titular: pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que tornam efectiva a vontade do
órgão político. É temporário e os modos da sua designação são por efeito do Direito
(sucessão hereditária, sorteio, rotação, antiguidade e inerência) ou por efeito do
Direito e da vontade (cooptação, nomeação, concurso e eleição).
4. Cargo: relação concreta que se estabelece entre o titular e o Estado.
ORGÃO E TITULAR
1. O órgão do Estado é permanente e exerce as suas competências de modo continuo.
2. O titular, por seu lado, é temporário por natureza, quer em virtude da vida humana
ou das suas capacidades, quer por força das regras jurídicas que apontam para a
renovação dos titulares dos cargos políticos (artigo 118º da constituição). Neste último
caso, prevalece o princípio da renovação, de evidente filiação republicana, que impede
a vitalidade dos cargos políticos.
3. Existem assim vários modos de designação dos titulares dos órgãos do Estado, sendo
assim usual distinguir-se entre:
a) Os que funcionam por mero efeito do direito- herança, sorteio…
b) Os que dependem da conjugação do direito e da vontade- nomeação,
concurso, eleição…
4. Assim independentemente das várias especificidades de cada um dos órgãos, todos
eles resultam de regras jurídicas que estão definidas na constituição ou na lei, sendo
que a designação dos titulares de órgãos do estado, em especial dos órgãos de
soberania assumem o vínculo da representatividade democrática, assentando
atualmente na eleição.
5. São inúmeras as relações que se podem estabelecer entre órgãos de soberania ou
entre titulares de órgãos de soberania, são esses:
a) Supletividade: quando a constituição ou a lei indica um titular habilitado a agir
em vez de outro, que esta impedido ou ausente (exemplo: o presidente da
assembleia da república, substitui o presidente da república- artigo 132º, nº2).
b) Interinidade: quando a constituição ou a lei consentem que o titular impedido
ou ausente seja substituído por outro que ele próprio escolheu (exemplo: caso
da substituição do PM, quando inexista vice-primeiro-ministro- artigo 185º,
nº1).
c) Delegação: quando a constituição ou a lei permitem a transferência do
exercício de poderes para outro titular, ainda que sem impedimento;
d) Substituição: quando um órgão de hierarquia superior é autorizado a agir em
vez de outro órgão (substituído).
e) Prorrogação: quando um órgão se mantém em funções transitoriamente e,
eventualmente, com contenção dos seus poderes, enquanto o sucessor não é
investido (exemplo: artigo 186º, nº5).
usual, utilizarem-se dois critérios: o critério das matérias exclusivas e o critério das
matérias concorrentes.
4. Critério das matérias exclusivas:
a) Matérias da competência exclusiva da federação;
b) Matérias da competência exclusiva dos Estados membros;
c) Matérias cuja legislação corresponde à federação e à execução dos estados
membros;
d) Muito raramente, matérias cuja aprovação sob a forma de lei corresponde aos
estados membros e a execução à federação.
5. Critério das matérias correntes:
a) Autorização da federação aos estados membros para que estes últimos
regulem certas questões;
b) Matérias cuja regulação está confiada aos Estados membros, mas em que a
federação pode intervir, se entender dever tratá-las de forma unitária.
6. A distribuição do poder tributário, atualmente leva a uma concorrência de fontes
fiscais entre a federação e estados federados, o que levou a uma tendencial
equiparação em termos de participação nas origens dos rendimentos.
7. O momento de coordenação entre a federação e os estados membros envolve dois
níveis distintos: relações de supremacia e subordinação e as relações de participação.
8. Relações de supremacia e subordinação:
a) Supremacia da constituição federal;
b) Prevalência do direito federal;
c) Fiscalização federal sobre os estados membros;
d) Justiça federal;
9. Relações de participação:
a) Na vontade da federação por parte dos estados federados, por intermédio da
criação de uma segunda câmara legislativa de natureza territorial;
b) Dos estados membros no procedimento de reforma constitucional, de tal
modo que, para a sua concretização, se torna necessária a aprovação por
maioria qualificada deles.
federalismo, pois como já foi dito anteriormente os estados unitários como o brasil e a
Áustria deram lugar a estados federais. Fala-se assim de um federalismo centrípeto
que resulta da associação livre de estados originalmente independentes e soberanos e
de um federalismo centrífugo em que os estados unitários dão origem a estados
federais.
2. Como formas de estado composto, o estado federal ou a união real compartilham de
aspetos das associações de estados, como as organizações supranacionais ou as
confederações podendo mesmo dizer-se que são formas mais intensas dessa figura,
dando origem a um novo estado.
3. A distinção entre confederação e federação parece clara.
4. Confederação: cada estado membro conserva a sua soberania e independência. Trata-
se no fundo de uma aliança entre estados, que em regra respeita a assuntos
internacionais e que é instituída por um tratado. Os órgãos confederais têm poderes
delegados pelos estados e não poderes próprios, sendo que a execução das decisões
da confederação há-de faze-se através dos órgãos internos dos estados e não
mediante ação direta da confederação.
5. Federação (união europeia): embora partilhem elementos comuns (exemplo: de a sua
instituição ocorrer por via do recurso a um instrumento de direito internacional, são
mais relevantes os elementos distintivos, em que podemos destacar duas:
a) O facto de a união europeia dispor de mais poderes e em áreas mais
numerosas do que uma confederação.
b) A existência nela de uma complexa estrutura orgânica, dotada de poderes
muito mais alargados do que os que se encontram na órbita de um congresso
confederal, uma vez que esta delibera por unanimidade e aquela, por via de
regra, por maioria qualificada.
3. A teoria das formas de governo orientou-se, desde cedo, sobretudo pela busca da
forma perfeita e da natureza cíclica da sucessão das diversas formas. Aristóteles
sustenta que a conciliação entre “politeia” e aristocracia poderia oferecer uma maior
estabilidade. Mas acaba por ser cícero e Políbio como defensores do “governo misto”.
4. São Tomás de Aquino: A classificação das formas de governo arranca da tipologia
tripartida de Aristóteles, mas com as seguintes particularidades:
a) As formas de governo variam consoante o ideal e os fins que as
inspiram. Esses fins reconduzem-se à virtude, riqueza e liberdade.
b) As formas de governo são quarto: monarquia, aristocracia, oligarquia
e democracia. A tirania é, na sua perspetiva, uma forma de tal modo
violenta e perversa que não merece ser catalogada como forma de
governo.
c) Adere também às formas mistas, defendendo como regime ou forma
perfeita a conciliação entre monarquia, aristocracia e democracia.
5. Maquiavel: faz a distinção entre república e Monarquia, por prevalência da virtude,
por referência à defesa da coisa pública (interesse público) e em oposição ao interesse
privado. As monarquias para este podem ser herdadas ou conquistadas e as repúblicas
podem ser aristocráticas, democráticas ou mistas. Para este a república é a única
forma de governo onde prevalece o bem comum e a única que permite garantir a
liberdade e afastar a tirania.
6. Montesquieu: Estuda a natureza das formas de governo à luz do padrão liberal de
limitação do poder político. Assinala três formas de Governo: república (o povo em
conjunto ou só uma parte dele tem o poder soberano; é a virtude), monarquia
(governa um só, mas com leis fixas e estabelecidas; está subordinada à honra) e
despotismo (governa um só sem lei e sem regra tudo arrastando por sua vontade; está
subornado ao medo).
REGIMES POLÍTICOS
1. O regime político pode definir-se como a relação existente entre os cidadãos e o poder
político. Esta relação deve ser encarada de diversos pontos de vista entre eles:
a) A participação dos cidadãos ou de grupos de cidadãos nas tomadas de decisão
políticas e na atividade política geral;
b) O maior ou menor número de restrições ao exercício de direitos fundamentais
e a amplitude da sua proteção;
c) O grau de controlo por parte dos cidadãos do poder político e a efetiva
possibilidade de alternância de cidadãos ou grupos no exercício do poder;
2. Marcelo Rebelo de Sousa considera o regime político atendendo a três elementos
cumulativos primordiais:
a) A assunção pelo poder político de uma filosofia de estado constitucional ou
legalmente consagrada como dominante, e como tal politicamente imposta
ou, em alternativa, o reconhecimento de um pluralismo de inspiração
ideológica;
b) A existência ou não de um aparelho político colocado ao serviço da filosofia do
Estado, exclusiva ou dominante, com sacrifício, nos princípios e na prática
constitucional dos direitos fundamentais dos cidadãos, em particular dos seus
direitos políticos;
c) A adoção de formas não democráticas de designação dos governantes, bem
como de controlo do exercício do poder político.
3. Regime democrático: É aquele em que é respeitado o pluralismo, quer no plano das
conceções filosóficas, quer no domínio institucional. Ao mesmo tempo quer a ordem
constitucional, quer a prática confirmam a efetiva salvaguarda dos direitos
fundamentais dos cidadãos, que participam na designação e controlo dos governantes.
4. Regime ditatorial: reside na imposição dogmática de uma filosofia de estado, na sua
aplicação sistemática através de um aparelho político civil ou militar, que subordina a
garantia dos direitos fundamentais à lógica da linha ideológica exclusiva ou dominante
e à conveniência do aparelho político que zela pela sua observância.
1. Órgão político legislativo deve ser composto por membros eleitos pelo povo, direta
ou indiretamente.
2. Todos os cidadãos adultos devem ter direito ao voto e a serem eleitos.
3. Todos os cidadãos devem ter voto igual e serem livres de votar segundo a sua
opinião formada.
4. Os cidadãos devem ter fontes alternativas e plurais de informação.
5. Os cidadãos devem ter direito a formar associações políticas, partidos e grupos de
pressão independentes.
6. O princípio da maioria numérica aplica-se tanto para as eleições de cargos políticos
como para as decisões dos órgãos políticos.
7. Nenhuma decisão tomada pela maioria deve limitar os direitos das minorias.
8. O órgão de governo deve gozar da confiança do parlamento ou do chefe do poder
executivo, por sua vez eleito pelo povo.
9. Os titulares de cargos políticos devem poder exercer os seus direitos constitucionais
sem interferências ou oposições invalidantes por parte dos poderes fácticos.
Sistemas de Governo
Introdução
➢ O sistema de governo não se desliga do regime político dado que um influencia o
outro.
É seguro que, se o regime político assume de conteúdo ditatorial, igualmente o sistema
de governo tenderá a configurar-se como ditatorial já que, não são duas realidades
que possam funcionar independentes uma da outra.
Contudo, o sistema de governo strictu sensu define-se em termos meramente
técnicos podendo definir-se como a “forma como entre si se relacionam os diversos
órgãos do poder político soberano”, quer do ponto de vista do seu modelo e
estruturação normativa, quer do ponto de vista das situações fácticas concretamente
desenvolvidas (da prática constitucional).
➢ A ideia é a de que o Estado deva ser organizado em três ramos pelo que a teoria da
separação conduz à distinção de três poderes:
• O poder legislativo que faz as leis;
• O poder executivo que assegura a sua execução;
• O poder judicial que aplica as leis e salvaguarda-as, julgando os diferendos.
Cada um destes poderes encontrar-se ia em sede de órgãos e titulares diferentes e
jamais reunidos sob o controlo de um só homem ou órgão nenhum deles teria o
poder de coagir ou se sobrepor a qualquer um dos outros dois tornando-se assim
imprescindível existir um acordo entre os três poderes para que um ato de governo
pudesse ser executado.
➢ LOCKE entendia que os três poderes não podiam estar isolados uns dos outros: pelo
contrário a harmonia constitucional exigia que cada um estivesse na “dependência”
dos outros e se controlassem mutuamente de modo a que os abusos de poder não
corressem o risco de se manifestar só assim os direitos naturais dos indivíduos
seriam preservados.
➢ Hoje em dia a divisão de poderes encontra a sua essencial razão de ser em ideias de
estabilização e delimitação do poder estadual e na garantia da liberdade através da
organização jurídica dos limites dos órgãos, com o consequente controlo recíproco
(checks and balances).
A Constituição da República Portuguesa no art. 111.º refere em relação ao princípio
da divisão de poderes que o mesmo “radica em duas direções: por um lado, na de que
a função legislativa é atribuída em princípio ao Parlamento, a função executiva ao
Governo, a função judicial aos Tribunais; por outro lado, na de que os órgãos do
Legislativo, do Executivo e do Judiciário se controlam ou limitam mutuamente de tal
forma que o poder do Estado resulte atenuado e a liberdade das pessoas protegida…”
“A Constituição não refere jamais, nem entre os seus princípios fundamentais nem
entre os princípios gerais de organização do poder político, o da separação de poderes.
Pelo contrário estabelece o princípio da separação e interdependência dos órgãos de
sobernais e o da divisão de competências (arts. 114.º e 113.º) garantindo por essa
forma que a Assembleia e o Governo se limitem e controlem mutuamente.”
➢ A separação rígida de poderes, configura-se como sendo uma realizada com o sistema
presidencial no qual se pode distinguir, por um lado, o poder executivo nas mãos do
Presidente e, do outro lado, o poder legislativo detido pelo Parlamento, não existindo
entre os dois, quaisquer ligações orgânicas contudo, o sistema diretorial talvez se
aproxime mais desse ideal de absoluta separação entre o legislativo e o executivo.
➢ Entre os dois poderes, a ligação é assegurada pelo Governo nomeado pelo Chefe de
Estado; mas o Governo depende igualmente do poder legislativo, porque é
politicamente responsável perante o Parlamento, sendo obrigado a demitir-se quando
perca a maioria que o sustenta. A responsabilidade política constitui um traço
essencial da distinção do sistema parlamentar.
➢ O modelo atual britânico pode qualificar-se de parlamentar “monista” uma vez que
o Chefe de Estado surge como uma figura simbólica e o Gabinete não tem
necessidade senão da confiança do Parlamento.
➢ Este sistema funda-se em primeiro lugar, numa separação estrita de poderes mas
é duvidoso que os constituintes de 1787 tenham pretendido estabelecer um regime
onde a figura do Presidente se sobrepusesse aos outros poderes instituídos. Certo, é,
que estavam imbuídos de uma excessiva desconfiança que os levaria a não
estabelecerem, voluntariamente, um mecanismo capaz de criar o desequilíbrio entre
os poderes do Estado.
Por isso, pensavam que era importante encontrar um equilíbrio, o mais eficaz
possível, entre os diversos poderes de forma a que se limitassem reciprocamente
de modo, a evitar o domínio do Congresso pelo executivo, era conveniente que
este não tivesse nenhuma possibilidade de fazer pressão sobre aquele.
➢ Se o impeachement não foi objeto de grande aplicação o veto tem constituído uma
arma de grande importância nas mãos do Presidente é, com a sua utilização,
iniciada a partir do fim do Séc. XIX, que o Presidente consegue atrasar a produção
legislativa do Congresso quando dele se serve com excessiva frequência, com a
agravante de, em determinadas condições políticas, poder corresponder a um
autêntico veto definitivo.
➢ Para além do direito de veto explicitado o presidente reforça a sua posição pela
prática do chamado veto de bolso (pocket veto) no qual, o Presidente limita-se a
não assinar o texto da lei votada pelo Congresso, não lha devolvendo e aproveitando-
se do facto de o Congresso não estar em funcionamento, por força do termo da
sessão legislativa.
➢ Outro aspeto que tem contribuído para uma maior colaboração institucional entre
os diferentes órgãos de soberania é a especialização funcional dos órgãos e o
consequente monopólio pelo Congresso em matérias como a orçamental e seus
reflexos na política externa e defesa nacional.
Que pode fazer um Presidente sem crédito parlamentar, se fica privado de todas ou
quase todas as prerrogativas? Nesse contexto, deverá ter em conta as sugestões e
críticas do Parlamento. Mas, por outro lado, em que posição fica um parlamento que
não consiga ultrapassar obstáculos que o presidente coloca às propostas legislativas
dele emanadas?
O Presidente tem também uma importante influência nos trabalhos legislativos do
Congresso. É este que detém a faculdade de iniciativa ou de orientação legislativa,
através da leitura das chamadas mensagens, das quais sobressai a que é lida pelo
próprio em cada ano, mo início da sessão parlamentar e que constitui o programa da
Administração.
➢ Apesar do reforço dos poderes do Presidente, nada permite que se possa apresentar
tal sistema como de governo pessoal por várias razões: quer porque os partidos
políticos americanos não estão enfeudados a ideologias políticas rígidas e, portanto, o
Presidente é obrigado, com frequência, a reunir a maioria parlamentar, a negociar
com ela e a ter em conta as suas razões; até porque as eleições presidenciais têm
lugar de 4 em 4 anos.
➢ Dada a longevidade deste sistema de governo nos E.U.A. vários países têm tentado
aplicá-lo imitando as suas instituições, principalmente na América Latina e em
África.
• Porém, sempre com maus resultados não se alcançando de modo algum o
nível de funcionamento e a estabilidade das instituições americanas.
• Naturalmente, por razões diversas em particular as atinentes ao estádio do
desenvolvimento económico, social e político, resultando rapidamente num
governo ditatorial, em que só a forma corresponde ao modelo presidencial.
• Nesses países não existe efetivamente qualquer divisão de poderes mas
antes sobressaem os primados jurídico e político decorrentes da
omnipotência presidencial.
• É degradação do sistema traduzindo-se naquilo a que se designa de
presidencialismo num sentido degenerado da expressão presidencial.
houver nada contra, pode entrar imediatamente em plenas funções após esta
discussão.
Livro 2
Capítulo I- Eleições e sistemas eleitorais
➢ O vínculo da representação envolve uma lógica dual isto é, por um lado, a existência de
representados e de representantes, por outro e, por isso, pressupõe a existência de um
mandato, que é, em termos gerais, o titulo com base no qual são atribuídos poderes, por
uma ou mais pessoas, a outra ou outras, com o fim de que estas desempenhem uma
função em nome e por conta daquelas.
• Deste modo, mandato e representação política são
conceitos inseparavelmente relacionados.
2. As funções eleitorais
➢ As funções das eleições democráticas desdobram-se em quatro planos
conceptualmente distintos:
1. Proporcionar participação política;
2. Produzir representação;
3. Gerar governo;
4. Oferecer legitimação.
➢ Direito eleitoral e sistema eleitoral são conceitos que traduzem leituras diversas do
mesmo fenómeno.
• Por Direito eleitoral entende-se o conjunto de comandos jurídicos,
positivos ou consuetudinários que regulam a designação, por sufrágio, de
representantes para cargos políticos.
• Já o sistema eleitoral compreende a totalidade das normas, das técnicas e
dos procedimentos que se aplicam desde a abertura do processo eleitoral até
à proclamação dos resultados incluindo os modos de distribuição dos
assentos parlamentares.
• Porém, há um significativo campo de sobreposição entre ambos desde logo
porque quase sempre subjazem às questões relativas ao sistema eleitoral
postulados de índole jurídico-constitucional.
➢ Os tipos de votação variam muito de Estado para Estado e, até, no interior de cada
um daí que se possa falar em eleições nacionais, em eleições regionais, em
eleições locais (autárquicas) e em eleições referendárias (sufrágio referendário).
➢ Nos atos de caráter nacional, cumpre separar, quanto aos titulares do poder político
a designar as eleições para as assembleias representativas e as eleições para
Presidente da República.
➢ Nas eleições regionais, também se pode colocar a questão da divisão dos círculos,
sempre e quando aí seja necessário proceder à sua delimitação (ex: designação
dos deputados à assembleia legislativa regional dos Açores) já no que diz
respeito às eleições locais, o problema encontra-se solucionado “ex natura”, por
força da circunstância de cada autarquia corresponder a um círculo.
➢ Porém, estas não são as únicas formas de o cidadão se recusar a tomar parte
na decisão eleitoral é, também, possível evitar expressar qualquer
preferência e intervir à mesma no processo através do voto branco e do voto
nulo.
• O voto em branco corresponde ao boletim que não tenha sido objeto de
qualquer tipo de marca.
• O voto nulo é uma expressão irregular de vontade, porque é concretizado
em desconformidade com a lei eleitoral, podendo traduzir o erro ou a
ignorância do eleitor ao votar, mas também uma forma de protesto de
quem, sabendo como se vota, decide conscientemente invalidar o boletim
(ex: ao assinalar várias opções quando apenas uma é autorizada ou ao
efetuar desenhos ou rasuras).
Assim, a abstenção ativa principalmente no caso do voto branco e do voto nulo
(quando este assume forma de protesto), constitui um modo de expressar a rejeição
do regime político, das eleições ou das várias listas ou partidos concorrentes mas
não se pode esquecer, que nalguns países, os votos brancos/nulos apesar de serem
considerados para a totalidade dos sufrágios não são contabilizados para efeito do
apuramento dos resultados, dado a serem incluídos na categoria de sufrágios que não
se consideram validamente expressos (ex: votos brancos nas eleições presidências –
n.º 1 do art. 126.º da constituição).
5. Características do sufrágio
• a universalidade;
• a igualdade;
• o secretismo;
• a liberdade;
• o caráter direto;
• a periodicidade.
5.1. Universalidade
➢ A par da herança (designação por sucessão ex: monarquias), da cooptação (alguns dos
titulares de um órgão são designados pelos demais titulares desse mesmo órgão ex: os
3 juízes do Tribunal Constitucional que são designados pelos 10 que foram eleitos pela
assembleia da República), da nomeação (designação do titular de um órgão pelo
titular de outro órgão ex: o Primeiro-Ministro que é escolhido pelo Presidente da
República) e da inerência (a qualidade de titular de um órgão surge como efeito
automático da titularidade noutro órgão ex: o Presidente da Assembleia da República,
o Primeiro- Ministro, entre outros, são também membros do Conselho de Estado) a
eleição aparece como uma das mais correntes formas de designação de titulares de
cargos políticos caracterizando-se pelo facto de a escolha ser feita através da
expressão dos votos de uma pluralidade de pessoas.
➢ Saber quem pode exercer o direito de voto é determinar o corpo ou colégio eleitoral
contudo, o universo dos eleitores é variável, uma vez que cada Estado edita a sua
própria legislação, de modo a determinar a respetiva latitude.
Assim, a reivindicação da universalidade do sufrágio, desenvolvida em paralelo com a
luta pela democracia representativa e pelo constitucionalismo traduziu a exigência
daqueles que se encontravam excluídos da participação política ou dela beneficiavam
em termos muito limitados porém, isso não impede que se deva reconhecer que,
tratando-se de uma escolha jurídico-legal, a sua maior ou menor extensão depende
também dos interesses daqueles que, em cada momento, exercem o poder político
e só tendo isso em conta é que é possível compreender porque é que tal
alargamento foi, várias vezes contrabalançado por mecanismos que previam eleições
em mais de um grau (indiretas), retirando assim poder real ao eleitor de base.
➢ Acontece que, por um lado a maioria dos cidadãos vivia numa situação de pobreza ou
de limitadas posses económicas e por outro, o analfabetismo atingia níveis bastante
elevados pelo que a exigência de um determinado índice de rendimento ou de
educação condicionava o número daqueles que podiam votar.
5.2. Igualdade
➢ O sufrágio igual significa que todos os votos devem ter a mesma eficácia jurídica, isto
é, o mesmo peso (“uma pessoa um voto”) e surge como corolário de uma das traves
mestras do Estado de Direito Democrático, “in casu” o princípio da dignidade humana.
5.3. Secretismo
5.4. Liberdade
5.6. Periocidade
➢ O exercício do sufrágio deve assumir natureza regular uma vez que a necessidade
de impedir a perpetuação no poder dos respetivos titulares se encontra inscrita no
código genético do regime democrático.
6. O sufrágio em Portugal
➢ A Constituição Portuguesa estabelece que o poder político se exerce, entre outras
formas através do sufrágio universal, igual, direto, secreto e periódico (n.º 1 art.
10.º).
➢ No que diz respeito à igualdade do valor do voto ela surge como consequência
direta do princípio geral da igualdade consagrado no art. 13.º da Constituição.
A igualdade de resultado levou à consagração da proibição das cláusulas-barreira
nas eleições para a Assembleia da República (n.º 1 do art. 152.º da Constituição).
➢ O caráter direto é imposto em todos os atos eleitorais uma vez que em nenhum é
prevista a constituição de corpos intermédios, assegurando assim a existência de
uma relação imediata de designação entre representantes e representados.
7. Os círculos eleitorais
critérios subjetivos e políticos já que a sua delimitação concreta tem sido palco de
manipulações frequentes.
8. Sistemas eleitorais
➢ Na análise dos sistemas eleitorais é necessário considerar pelo menos, os círculos
eleitorais, as formas de candidaturas, os modos de expressão do voto, as barreiras
eleitorais da exclusão e as fórmulas eleitorais.
➢ A forma de candidatura pode ser unipessoal (singular) ou por lista mas, para a
representação ser proporcional tem de ser feita pela segunda forma (por lista).
➢ Existe uma distinção fundamental, nos modos de expressão dos votos entre o voto
categórico (no qual o eleitor só pode votar num candidato ou num partido) e o voto
ordinal (em que o eleitor pode votar em candidatos de diversos partidos políticos e
até ordenar as suas preferências).
Situada no plano político existe também a distinção entre voto sincero (no qual
aludimos às situações em que o eleitor manifesta o seu apoio ao candidato ou à lista
que constitui a sua verdadeira escolha) e o voto estratégico (em que o voto é atribuído
ao candidato ou à lista que menos lhe desagrada).
O voto estratégico pode ser determinado por três tipos de situações:
• Porque, num sistema eleitoral de duas voltas, aquele em que
inicialmente votou não se apurou para esta fase;
• Porque, por força da própria configuração do sistema eleitoral, o eleitor é
fortemente condicionado a escolher a hipótese que menos contribua para
a desvalorização do seu voto (como acontece no sistema maioritário de
uma volta);
• Porque numa leitura racional, o eleitor opta por uma escolha que valorize a
força política que mais hipótese tem de atingir um resultado sólido (é aquilo
que se designa por voto útil).
➢ Só no caso de, na primeira volta, nenhum candidato atingir a maioria absoluta é que
se procederá a uma segunda volta a esta terão acesso os dois candidatos mais
votados na primeira, de forma a garantir que o vencedor obtenha a maioria absoluta
dos sufrágios expressos.
Exemplo:
Primeira volta
Sufrágios expressos 75 000
Votos obtidos:
Reis-32 000 Devido ao resultado obtido, prosseguem para
a Rosário-25 000 segunda volta os candidatos Reis e Rosário,
Resende- 18 000 sendo dela excluído o candidato Resende.
Segunda volta
Sufrágios expressos- 75 000
Votos obtidos:
Rosário- 38 000 Face a este resultado, Rosário é o candidato
Reis- 37 000 eleito, apesar de na primeira volta ter
ficado
em segundo lugar, podendo assim concluir-se
que, a sua vitória foi devido ao facto de
agregar um maior número de segundas
escolhas do candidato Resende que foi
retirado após a primeira volta.
➢ Assim, o sistema a duas voltas envolve por regra, apenas o apuramento das duas
candidaturas mais votadas para a segunda volta porém, há situações em que a
todos os que no primeiro escrutinio obtenham um determinado mínimo dos
sufrágios expressos (12,5%) é assegurada a passagem à segunda volta (ex: sistema
francês). Contudo, por razões políticas a pratica tem demonstrado ser mais frequente
que a segunda volta seja disputada apenas pelas duas candidaturas mais votadas.
Constata-se que o partido da Direita elege 2 deputados com 48 mil votos enquanto
o partido da Esquerda, apesar de registar um número superior de preferências,
obtém apenas 1 deputado.
diversos concorrentes, outorgando naturalmente mais lugares aos mais votados, mas
permitindo, ao mesmo tempo, que os que atingem um resultado mais modesto
possam, apesar de tudo assegurar representação daí que os sistemas proporcionais
sejam apenas compativeis com o sufrágio de lista e, simultaneamente com a existência
de círculos plurinominais de apuramento, não podendo, por isso, a eleição para cargos
singular ocorrer desta forma.
➢ Esta funciona a nível nacional estando por isso ligada à existência de uma única
circunscrição eleitoral.
Exemplo: uma situação em que o número de votos expressos é de 10 000 000, o
número de representantes a eleger de 250 e a repartição dos votos é a seguinte:
Exemplos:
Uma determinada circunscrição elege oito representantes e os sufrágios expressos
(30 000) distribuem-se pelas listas concorrentes da seguinte forma:
Partido A – 95 000
Partido B – 80 000
Partido C – 55 000
Partido D – 47 500
Partido E – 22 500
Ao dividir os votos pelo QE apenas se conseguiu a alocação de seis dos oito mandatos
do círculo em causa ao mesmo tempo, uma significativa parte dos sufrágios (75 000)
não gerou qualquer representação por isso, numa segunda fase, proceder-se-á à
atribuição dos mandatos ainda em falta elencando, de forma decrescente, os restos
não utilizados e como são apenas dois os lugares remanescentes, é a esses que
serão atribuídos os lugares em falta ou seja, um lugar caberá ao partido E (22 500) e
outro ao partido A (20 000) em consequência disso o resultado final será o seguinte:
Partido A- 3
Partido B- 2
Partido C- 1
Partido D- 1
Partido E- 1
Terceira fase
Partido A – 95 000 ÷ (3+1) = 23 750
Partido B – 80 000 ÷ (2+1) = 26 666
Partido C – 55 000 ÷ (1+1) =27 500
Partido D – 47 500 ÷ (1+1) = 23 750
Partido E – 22 500 ÷ (0+1) = 22 500
A opção pelo método da maior media afeta só por si a distribuição dos mandatos e
a representatividade relativa dos partidos políticos.
1 2 3 4 5 6 7 8
A 95 000 47 500 31 666 23 750 19 000 15 833 13 571 11 875
B 80 000 40 000 26 666 20 000 16 000 13 333 11 428 10 000
C 55 000 27 500 18 333 13 750 11 000 9 166 7 857 6 875
D 47 500 23 750 15 833 11 875 9 500 7 916 6 785 5 937
E 22 500 11 250 7 500 5 625 4 500 3759 3 214 2 812
➢ Para além da divergência no que toca á fórmula de conversão dos votos em mandatos
todos os sistemas eleitorais se podem diferenciar também por força da dimensão
do círculo, dos assentos parlamentares suplementares, das cláusulas-barreira e da
estrutura do boletim de voto.
• Dimensão do círculo da dimensão do círculo eleitoral depende o grau de
proporcionalidade do resultado.
• Assentos Parlamentares Suplementares de forma a corrigir os desvios de
proporcionalidade, causados por uma pequena dimensão dos círculos
territoriais, podem ser reservados lugares parlamentares suplementares para
um círculo eleitoral mais alargado – seja nacional, seja num quadro
geográfico mais limitado.
• Cláusulas-barreira impondo níveis mínimos de representatividade e
colocando obstáculos à representação das minorias, a sua previsão dificulta,
quando não inviabiliza, a presença de forças partidárias mais pequenas no
Parlamento. A sua existência traduz, assim, uma assumida vontade do
legislador interferir diretamente na composição do quadro eleitoral e, por essa
via, no comportamento do próprio eleitor.
• Estrutura do boletim de voto os boletins podem variar na sua estrutura
interna, impondo ao eleitor que escolha apenas uma lista partidária ou
permitindo-lhe que divida a sua opção entre os candidatos, do mesmo
partido ou de diferentes partidos. Asa opção por uma ou outra estrutura tem
diretas consequências sobre o grau de liberdade de conformação das
escolhas por parte do eleitor.
➢ O sistema eleitoral em vigor em Portugal tem a sua origem nas decisões prévias à
adoção da Constituição de 1976 mais especificamente no Decreto-Lei n.º 621-c/74,
de 15 de novembro, que aprovou a regulação do sufrágio para a Assembleia
Constituinte aí se estabelecia, o voto singular de lista, a aplicação do método de
Hondt e a natureza fechada e bloqueada das listas e aprovou a regulação do sufrágio
para a Assembleia Constituinte.
➢ Nas eleições para a Assembleia da República a fixação que a própria Constituição faz
de um método concreto dentro do sistema proporcional leva a que só em sede da
sua revisão a eventual alteração dessa escolha possa concretizar-se; no caso das
demais leis eleitorais, decorrendo a escolha do método de Hondt de decisão do
legislador ordinário, nada impede que este proceda à sua modificação, se o considerar
necessário.