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Resumos finais freq tgpp

Teoria geral do poder público (Universidade Lusíada de Lisboa)

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A POLÍTICA E O POLÍTICO: OS USOS VOCABULARES

1. De acordo com Gomes Canotilho  existe um domínio específico do vocábulo político,


que segundo este  ilumina o objeto da disciplina de ciência política e Direito
constitucional, nas suas duas vertentes: “a ciência estuda o político, o Direito
Constitucional estuda o estatuto jurídico do político”.

➢ O vocábulo política pode ser utilizado em três formas diferentes:


• Como política= gestão  isto é, a procura das escolhas possíveis para resolver um
problema face aos meios existentes (“política de energia” ou “política de
ensino”);
• Como política=estratégia  e, assim, faz-se referência às escolhas efetuadas por
certos sujeitos (“política do partido” ou “política do primeiro ministro”)
• Como política= factos específicos do domínio político  ou seja, por referência a
uma área concreta do agir.

➢ Assim, é possível arrumar as doutrinas do político em quatro grupos:


1. Conceito ontológico-normativo: a política é o campo das decisões
obrigatórias, dotadas de autoridade e que visam uma sociedade ordenada,
pacífica e justa;
2. Conceito realista: tem sobretudo em consideração o fenómeno do poder
(político= toda a relação entre indivíduos);
3. Conceito marxista: vê o político como o campo das relações entre as
diversas práticas e o Estado;
4. Conceito antropológico: associa o político ao poder (não necessariamente ao
poder do Estado) a todas as sociedades onde exista competição entre indivíduos
e grupos.

➢ Estas teorias permitem situar a realidade política num campo vasto, onde se
misturam “normas” e “factos”.
• Componente normativa da realidade política  Direito Constitucional
• Componente fáctica  Ciência Política.
A realidade objeto da Ciência Política é o facto político.

• O FACTO POLÍTICO

➢ Marcello Caetano define o facto político  como “todo o acontecimento ligado à


instituição, existência e exercício do poder político”.
Este entende os factos políticos como factos sociais  já que estes nascem em
sociedade e nela se desenvolvem.

➢ Mundo dos factos políticos=mundo dos indivíduos nas suas relações recíprocas
que constituem a vida em sociedade  As pessoas nas suas relações interpessoais e
coletivas, não se relacionam de forma igual com toda a gente  existem diferentes
formas de relacionamento (ex: pai e filho ou aluno e professor), o que leva a que os
vínculos sociais sejam também diferentes.

➢ A família, a escola, o sindicato ou o Estado são formas de vida social  isto é, tipos
específicos de sociedade, que têm em vista para os seus membros, alcançar
determinados fins/determinados objetivos.

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Isto pode ser feito de forma inorganizada  como acontece com a família, ou com
uma classe social que não dispõe de normas e regras fixas de conduta a que devam
obediência  ou pode ser feito de forma organizada  como é feito num sindicato ou
num clube desportivo, que possuem regras disciplinares a que todos devem
obedecer, de forma a que o grupo social garanta a sua própria existência e coesão.

➢ O exercício de poder  é traduzido pela maneira de definir as normas de conduta dos


indivíduos em determinado grupo social, e de as fazer observar.
Este poder pode ser exercido pelo grupo todo, ou só por alguns membros através do
fenómeno da representação.

➢ O poder difere substancialmente de acordo com o grupo social em que é exercido:


• Se for exercido em grupos sociais simples, como a família  estamos perante o
exercício de poder social aplicado às sociedades primárias;
• Se for exercido em grupos sociais mais amplos e complexos, como o Estado
 estamos perante o poder político numa sociedade global  a que se
chama sociedade política.

1. O poder

O poder sobre os indivíduos e o poder sobre a natureza

Poder  Arte de comandar a natureza e os indivíduos  Possibilidade de atuar de


uma determinada forma, ter poder é ter autoridade sobre o outro (ex: o docente tem
poder sobre os alunos)  É um fenómeno de relação, isto é, é necessário mais que
uma pessoa para existir poder.

➢ O poder sobre a natureza  foi a primeira fonte de poder.

➢ O poder sobre a natureza e o poder sobre os indivíduos diferem


consideravelmente entre si:
• Poder sobre a natureza  deve traduzir numa partilha entre todos;
• Poder sobre os indivíduos  obtém-se pela luta, pela conquista.

➢ Karl Deutsch  considera que no poder de um individuo sobre outro observamos uma
espécie de jogo em que a pessoa que ganha consegue-o à custa do perdedor  Assim, o
que é vantajoso para o vencedor é desvantajoso para os outros parceiros.
• A esta situação dá-se o nome de “jogo soma zero”  na medida em que aquilo
que a pessoa A ganha é igual ao que a pessoa B perde.

1+ A superior
Pessoa A tem o direito de impor algo à pessoa B
2- B Inferior

➢ Maquiavel  tinha também esta visão ao afirmar que um príncipe que favorece o
poder de outro príncipe diminui o seu próprio poder.
• Embora, o poder nem sempre assuma esta forma tão radical, não deixa de ser
verdade que a luta pela sua posse é feita, geralmente, de forma mais ou
menos

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impiedosa, mesmo quando esta é travada de forma institucionalizada, como


acontece nas democracias contemporâneas.

➢ Por outro lado  o poder sobre a natureza é algo de que todos os seres humanos
podem beneficiar  Por exemplo, a descoberta de vacinas, a construção de barragens,
a invenção dos transportes (carro, avião…) vêm mostrar que o poder sobre a natureza
é, também, um jogo, mas no qual todos podem ganhar.

3.2. Tipos de poder: Aristóteles, Locke e Bobbio

➢ Aristóteles na sua obra “política” refere-se ao poder despótico (poder do senhor sobre
o escravo), ao poder paternal (poder do pai sobre o filho) e ao poder político (poder
do governante sobre os governados)  os quais distinguia com base no interesse final.
• O poder do senhor sobre os escravos  poder despótico  devido a não ter
limites e ser absoluto;
• O poder do pai sobre o filho  Poder paternal  é exercido no interesse do filho,
tendo por isso esse limite.
• O poder do governante sobre os governados  Poder político  tem como fim o
bem comum, é por isso exercido no interesse comum de todos.

➢ John Locke na sua obra “Two treatises on Government”  distinguiu o poder paternal, o
poder despótico e o poder civil  com base no fundamento subjacente a cada um desses
tipos.
• Poder paternal  funda-se na natureza das coisas;
• Poder despótico  funda-se na punição dos culpados de um crime;
• Poder civil/político  funda-se no consenso daqueles a quem se destina.

➢ Norberto Bobbio  faz a distinção entre poder económico, poder ideológico e poder
político.
• O poder económico  que “se vale da posse de certos bens, necessários numa
situação de escassez, para induzir aqueles que os não possuem a um certo
comportamento”. Isto é, quem detém os bens/serviços que me fazem falta
detém poder sobre mim.
• O poder ideológico  que passa pela “influência que as ideias formuladas por
certa pessoa revestida de autoridade e defendidas por certos meios têm no
comportamento dos comandos”. Ou seja, certas ideologias e conceitos defendidos
por pessoas que ocupam determinados cargos terem a capacidade de alterar a
nossa atitude, a influência que têm no pensamento das pessoas (ex: o papa)
• O poder político  supõe o recurso a “instrumentos através dos quais se exerce a
força física”. Assim, o Estado pode recorrer à força para impor as suas
determinações (ex: a polícia ao trabalhar para o Estado pode, em caso de
incumprimento das regras e das sanções impostas, recorrer à força). O recurso à
força é um atributo exclusivo do Estado, tirando em situações absolutamente
excecionais.
Das três formas referidas, a que exerce mais influência nos comportamentos sociais 
é o poder político.

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Distinguindo-se de Aristóteles que utilizava o critério do interesse e de Locke que tinha


como base a ideia do interesse e de Locke que tinha como base a ideia do fundamente
 Bobbio recorre à análise dos meios de que um sujeito utiliza para condicionar outro.

3.3. Poder, dominação, influência e autoridade

➢ Poder, dominação, influência e autoridade  são expressões que por vezes se


confundem.

➢ Max weber distingue dominação de poder:


• Sendo dominação  “qualquer possibilidade de fazer valer a sua vontade dentre
de uma relação social, até perante uma oposição e seja qual for a base dessa
possibilidade”;
• Define poder  como a “possibilidade de obter obediência, em certas pessoas, a
uma ordem que tenha um conteúdo determinado”.

➢ Maurice Duvenrger ensina que a dominação (superioridade) não se situa no domínio


do poder, das relações entre governantes e governados  Deste modo, designa de
dominação o facto de que num grupo social existem elementos mais fortes que
outros, que por isso impõe o seu ponto de vista (ex: indivíduo mais bem classificado
nas provas académicas ou mais bem colocados nas empresas).

➢ A dominação  é, portanto, uma qualidade do mais forte fisicamente, do mais


inteligente, do mais organizado ou do mais rico. Já o poder não é apenas um facto
material, mas sim um fenómeno de crença  O poder é admitido, assim como, a
necessidade de lhe obedecer, porém, no caso da sua legitimidade ser questionada ou de
se entender que a sua forma não é adequada é possível combatê-lo.
Por outro lado  o poder tem um caráter organizado  já que é a base da sociedade,
enquanto que a dominação é inorganizada e é resultado dos conflitos entre
governados.

➢ Contudo, existe um ponto em que a dominação e o poder se cruzam: quando existe


uma ameaça ao poder por parte de indivíduos ou grupos sociais dominantes.
▪ Existindo para esta situação duas soluções tradicionais  uma através da visão
marxista, que considera que o poder não é mais do que o reflexo das relações
de força entre classes  e outra a partir do esquema jurídico tradicional, que
concebe o poder como forma de diminuir os fenómenos de dominação social.

➢ Influência e poder não devem ser confundidos:


• Segundo Durão Barroso  “influência é a capacidade de orientar os juízos ou os
comportamentos de outrem sem recorrer à coação”  concluindo-se, assim, de
acordo com Karl Deutsch que “nem todos os que têm influência dispõem de
poder, mas todos os que têm poder têm também influência”.

➢ A autoridade e o poder trata-se de conceitos relativos a um mesmo objeto.


• A autoridade é uma forma de poder, é de acordo com Schmitter “um poder que
se faz obedecer voluntariamente”  Assim, se o poder for exercido de acordo com
os interesses dos seus destinatários e por estes aceite espontaneamente, dado a

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considerarem-no adequado, estamos perante a autoridade.  Se, por outro lado,


o seu exercício não for aceite pelos seus destinatários, que contra ele se
manifestem, e que devido a ele se sujeitem à coação em que geralmente se
traduz, estaremos apenas perante o poder e não perante um fenómeno de
autoridade.

➢ José Adelino Maltez chama a atenção  para o “erro de se considerarem


vocabularmente como autoritários regimes ditatoriais, porque só nos Estados de
legitimidade, nomeadamente nos Estados de Direito, é que pode haver efetiva
autoridade  até porque, neste nosso tempo, talvez proliferem os poderes onde há
vazios de autoridade”.

3.4. Poder: elementos constituintes

➢ Elementos que ajudam a compor a noção de poder por recurso a três ideias:
• O poder é um fenómeno biológico  é o resultado de uma determinada
superioridade, que passa pelas características pessoais dos sujeitos envolvidos
(ex: o mais forte, o mais inteligente).
• O poder é um fenómeno de força e coação  coação física (o mais forte); coação
económica (aquele que priva outro de algo, pode mais facilmente obter a sua
obediência); e a coação de outros tipos.
• O poder assenta em grande parte sobre crenças  os governados acreditam que
é preciso obedecer aos governantes e estes procuram fazer-se estimados,
através do sistema de crenças.
▪ Este problema das crenças está intimamente ligado à noção de
legitimidade, especialmente quanto à questão da legitimidade de
exercício
 ou seja, “em dado grupo social, a maior parte dos homens acredita que
o poder deve ter uma certa natureza, repousar sobre certos princípios,
revestir uma certa forma, fundar-se sobre uma certa origem é legítimo o
poder que corresponde a essa crença dominante”.

➢ Não existe uma única legitimidade, mas várias, que variam consoante os tempos
históricos e os grupos sociais  assim, quanto maior for a legitimidade do poder,
menor será o recurso à força ou à coação para o impor.

3.5. Poder Político: Primeira aproximação

➢ Em termos gerais  o poder é a possibilidade de impor aos outros um determinado


comportamento.
➢ Ainda de acordo com Marcello Caetano  o poder político é “uma autoridade de
domínio, isto é, que impõe obediência a quantos pertençam à sociedade política,
constrangendo-as à observância de normas jurídicas e quebrando resistências
eventuais.
Esta parece, a perspetiva analítica mais adequada, por agregar os dois aspetos que se
apresentem como centrais no poder político:
• O direito e a responsabilidade de tomar decisões;
• Disponibilidade nos meios para as tornar efetivas no caso do seu incumprimento.

2. O objeto da Ciência Política

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4.1. Referência às principais conceções

➢ Os factos políticos  são tudo o que se prende com o poder político.


▪ Por isso, para alguns a ciência política deve limitar-se a estudar poder
político  e, para outros existem aspetos do mundo político que fogem à
ciência política e por isso devem ser abrangidos por outras disciplinas,
como a Filosofia Política, a Sociologia Política ou a História Política.
Existem ainda outros, que veem a ciência política como a ciência do
Estado.
➢ Marcello Caetano, propõe dois conceitos de ciência política:
• Um restrito  no qual a ciência política se define por ser a disciplina que estuda as
manifestações, as formas e as regularidades dos factos políticos, em si mesmos ou
através do comportamento dos indivíduos, a partir de métodos de observação;
• O outro amplo  no qual esta englobaria todos os conhecimentos,
independentemente de qual tenha sido o método utilizado na sua obtenção,
relativos à explicação, compreensão e fundamento racional dos factos
políticos, ordenados e sistematizados em função do seu objeto.
Assim, o conceito amplo de ciência política abrangeria disciplinas e métodos de análise
muito variados, incluindo aspetos da história política, da sociologia política e da
filosofia política.

➢ Deste modo, a ciência política no sentido estrito  utilizaria os métodos cientificos da


observação, histórico e comparativo, de forma a tornar objetivos os factos políticos e
sobre eles formular regras (leis).

➢ Freitas do Amaral define a Ciência Política  como a disciplina que “estuda os


problemas do Estado e do Poder político na atualidade, através da observação
dos factos e da sua explicação racional mediante conceitos”.

➢ Formulada de forma mais ampla, a definição de Marcelo Rebelo de Sousa  entende que a
ciência política é a “disciplina cientifica que estuda o facto político na atualidade, através da
sua observação e subsequente conceptualização”  a maior amplitude desta conceção,
está no facto de Marcelo Rebelo de Sousa afirmar que a ciência política não se reduz ao
estudo dos factos políticos estaduais, abrangendo outras realidades para além dessas.

➢ Jorge Miranda  procura conciliar o estudo da teoria do Estado do Direito


Constitucional comparado e da história política, no âmbito da ciência política.

➢ Gomes Canotilho  começa por definir a ideia de “objeto político”  ocupada pelos
termos centrais de diretividade e agregação.
▪ Deste modo, o universo político será o “espaço socialmente constitutivo
de contradições e agregações de interesses, regulado pelos titulares do
poder político que dispõem do monopólio de coação física legitima” 
com base nesta noção, este discute depois as tarefas do Direito
Constitucional e da Ciência Política, sem as desligar  chama também à
atenção para o discurso crítico e construtivo que a Ciência Política
permite.

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➢ Adriano Moreira  considera que a ciência política estuda o fenómeno político


enquanto aspeto do fenómeno social  porém, o fenómeno político reduz-se “à luta
pela aquisição, uso e manutenção do poder político”.
Defende que “o poder, mais do que o Estado, tende para ser o fenómeno central da
ciência política”  daí que o seu estudo, que é no fundo o estudo do sistema político
implique saber três coisas:
• Onde está o poder (a sede do poder);
• Qual o modo da sua revelação (forma do poder);
• Quais as ideias que lhe estão subjacentes (ideologias políticas).

4.2. A Ciência Política e as restantes ciências sociais

➢ Os fundadores das ciências sociais modernas  abordavam vários aspetos da


realidade social de forma integrada e unitária.
▪ Entendia-se que o político, o económico e o jurídico  faziam parte de um
sistema de ação mais geral, o sistema da sociedade total.
▪ O desenvolvimento e a complexificação dessa sociedade  levou ao
desdobramento das várias ciências sociais ou disciplinas sociais que
existem atualmente.
▪ Esta multiplicação não deixou de ter em consideração que as ciências
sociais, onde está incluída a ciência política  têm um objeto comum:
instituições, ideias, relações práticas que se materializam no ser
humano, enquanto membro da sociedade.

➢ Do ponto de vista analítico  os fenómenos políticos não deixam de ser fenómenos


sociais.
▪ Procurando enquadrar a ciência política no contexto das outras ciências
sociais, o fenómeno social  é um único, mas essa unidade é analisada por
diversos pontos de vista como o da economia, o do direito, o da sociologia,
o da história e o da ciência política.

➢ Por outro lado  há quem entenda que se deve identificar o objeto da ciência política de
forma autónoma, já que o político tem a sua própria esfera.
▪ Neste sentido cada ciência social teria a sua própria esfera  identificada
a partir da especialidade de que se reveste.
▪ Esta conceção defende  uma superior autonomia da ciência política e facilita
a sua especialização.

4.3. O objeto da Ciência Política

➢ O objeto da ciência política flutua principalmente entre dois polos: Poder e Estado.

➢ Jellinek fazia uma associação estreita e exclusiva ao Estado na sua definição de


ciência política  “science politique, scienza politica, political science ou politics,
abrange o conjunto da ciência do Estado”  nos dias de hoje esta não parece ser a
conceção mais adequada.

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▪ A principal crítica à mesma  é a de que a ciência política assenta numa


construção meramente jurídico-formal, ligada à ideia de soberania estadual
e ao facto de aquele estar situado no topo da hierarquia dos grupos sociais.
▪ Atualmente  tende-se para uma definição realista do Estado, com base na
análise sociológica  que vê como a comunidade humana aonde a
organização política e as sanções estão mais aperfeiçoadas.

➢ Na visão sociológica  o Estado não difere das outras sociedades humanas devido a
ter uma natureza própria (conceção jurídica do Estado)  mas sim pelo seu grau de
complexidade.

➢ A ciência política é a ciência do poder  mas não de todas as formas de poder 


apenas do poder político como autoridade de domínio, que impõe obediência a
todos quantos pertençam à sociedade política  assim, o cientista político deve
isolar o poder político de modo a dar corpo ao objeto do seu estudo.

➢ A ciência política não está limitada ao estudo do Estado  pois existe poder político
em sociedades pré-estaduais e infra-estaduais, bem como na comunidade
internacional.
A ciência política não se limita a uma Teoria Geral do Estado  mas também não se
alonga por tudo o que são manifestações de poder.

➢ “A ciência política é a ciência do poder político em todas as suas formas”.

4.5. O objeto da Ciência Política e o objeto do Direito Constitucional

➢ O Direito Constitucional corresponde ao “estatuto jurídico do Político”  é um ramo


do Direito formado por normas jurídicas com características idênticas às demais
normas e é a base principal do Direito Público.
• O seu objeto é o da realidade normativa;
• Outra parte essencial do Direito Constitucional é a parte da ordem jurídica que
se reporta ao Estado.
• O mesmo é hoje consumido pelo estudo das normas e dos princípios patentes
nas constituições.

4.6. A Teoria Geral do Poder Político

➢ A teoria geral do poder político é área do saber  que estuda “o poder político em
todas as suas formas”.

➢ A teoria geral do poder político  trata do Estado e trata do poder  oferece a


dimensão jurídica do poder político, mas recupera a dimensão unicamente política
dos cidadãos como centro de qualquer regime político.

➢ Assim esta assume-se como uma designação mais adequada a explicar o estudo da
ciência política  tanto na parte da atividade pública dos cidadãos como no que toca
ao Estado Constitucional contemporâneo.

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Capítulo II

1. O Estado: Primeira aproximação

➢ O Estado é uma realidade objeto de interesse de várias ciências e de diversos


métodos de análise  dele se ocupam a ciência política, a sociologia política, a
Filosofia política ou a ciência jurídica, por exemplo.

➢ O Estado é simultaneamente  “uma ideia e um facto, uma abstração e uma


organização”.
Como refere Jimenez de Parga  é uma espécie de “organização política” ou como
sustenta Fausto Cuocolo é um ente político, territorial e soberano.
➢ Existem várias formas de encarar o Estado:
• Para Duguit  seria qualquer “sociedade humana em que existe diferenciação
entre governantes e governados, segundo a expressão consagrada, uma
autoridade política”.
• Para Mortati  é “uma ordem jurídica com objetos gerais, exercendo o poder
soberano sobre um dado território, ao qual estão subordinados, de modo
necessário, os sujeitos pertencentes aquele”.
• Kelsen  define-o como “uma ordem jurídica relativamente centralizada,
limitada no seu domínio espacial e temporal de vigência, soberana ou
imediatamente subordinada ao Direito Internacional, globalmente e em
regra eficaz”.
• Hauriou  vê-o como um “agrupamento humano, fixado num território
determinado e em que existe uma ordem social, política e jurídica, orientada
para o bem comum, estabelecida e mantida por uma autoridade dotada de
poderes de coação”.
• Marques Guedes afirma que o Estado  é a “coletividade politicamente
organizada e estabelecida em território delimitado”.
• José Carlos Moreira  considera-o como a “comunidade constituída por um
povo que, afim de realizar os seus ideais de segurança, justiça e bem-estar, se
assenhoreia de um território e nele institui, por autoridade própria, o poder
de dirigir, os destinos nacionais e de impor as normas necessárias à vida
coletiva”.

➢ A ciência política  costuma assinalar a teoria liberal, a teoria marxista e a teoria


realista.

➢ O Estado que hoje conhecemos  tem uma definição com base na “teoria dos três
elementos do Estado” que considera que este é constituído por:
• Um povo
• Um território
• Um poder político
Aproximando-se assim da definição de Marcello Caetano  que vê o Estado como “um
povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse
território institui, por autoridade própria, os órgãos que elaboram as leis necessárias à
vida coletiva e imponham a respetiva execução”.

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➢ Marcello Rebelo de Sousa  explica o porquê da delimitação do conceito jurídico de


Estado por recurso a estes três elementos fundamentais, ser a mais difundida  pode-
se dizer que se deve sobretudo a três razões:
• “A primeira de natureza didática, traduzindo a observação das
comunidades estaduais, constituiria um razoável ponto de partida para o
estuda da sua estrutura”;
• “A segunda de ordem filosófica, evitaria árduas discussões, sem prejuízo
da formulação de conceitos teóricos mais aperfeiçoados”;
• “A terceira, eminentemente prática, traduziria a relevância que
efetivamente têm o povo, o território e o poder político na definição dos
Estados contemporâneos”.

➢ Portanto, para existir um Estado é indispensável:


• Um povo  um substrato pessoal, a existência de uma comunidade que busca
uma forma conjunta de resolução dos seus problemas. Não pode existir um
Estado sem um Povo, assim como não pode existir um povo sem um Estado.
• Um território  é necessário um espaço físico geograficamente localizado, um
sítio onde os indivíduos possam instalar-se de modo a levarem a cabo as
tarefas indispensáveis à afirmação dos seus interesses coletivos.
• Poder político  é necessária a existência de um elemento de natureza
instrumental e voluntarista.
▪ Instrumental  porque é através da sua instituição que a comunidade vai
procurar resolver os desafios que se lhe colocam e alcançar os objetivos
que define.
▪ Voluntarista  devido a ter como origem uma manifestação de vontade.
O poder político:
▪ é a vontade transformada num ato;
▪ é o último dos elementos do Estado;
▪ mas é também, o elemento mais importante  já que é no momento da
sua instituição que surge o Estado  é este que vai conduzir o Estado
depois da sua criação, já que não pode existir um Estado sem alguém que
o dirija, que defina orientações para a sua atividade e os objetivos a
atingir
 daí, que só se possa considerar que o Estado surgiu, a partir do
momento em que surge o poder político, a autoridade.

➢ Alguns dos aspetos básicos que o Estado Moderno reúne são:


• Monopólio da violência legítima  como assinala Max Weber;
• O conceito de Soberania;
• A existência de uma burocracia civil e militar  que se encarrega de levar a
cabo as finalidades e funções de organização estadual;
• A homogeneização do direito  no âmbito das suas fronteiras;
• A despersonalização do poder.

2. Tipos históricos de Estado


• Estado Oriental
• Estado Grego
• Estado Romano

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• Estado Medieval
• Estado Moderno Estamental ou corporativo
Absoluto
Constitucional
➢ O Estado Moderno  é o tipo histórico característico da Idade Moderna e da Idade
Contemporânea (sec. XVI a sec. XX).
Este tipo de Estado tem como características fundamentais:
• A rápida centralização dos poderes políticos no rei;
• A definição precisa dos limites do território e o controle efetivo deste
pelos órgãos do Estado;
• A conceptualização e afirmação da ideia de Estado-Nação;
• A definição do Estado como ente soberano, ou seja, dotado de um
poder supremo na ordem interna e de um poder independente na
ordem internacional;
• A secularização do Estado;
• O culto crescente da Razão de Estado;
• Início do período constitucional, com as revoluções americana e francesa.
Estado Estamental ou corporativo  passa pela ideia de que o rei e os estamentos
(clero, nobreza e povo), desenvolvam uma relação entre si  na qual o rei deve ter
em consideração a opinião dos Estamentos, que ganham cada voz a partir de
assembleias (cortes, estados gerais, dietas)  o rei não podia determinar sozinho a
evolução dos acontecimentos políticos  necessitando de recorrer ao apoio das
outras forças estruturais, que era necessário ter em conta  assim, pode, por isso,
falar-se aqui de uma monarquia limitada pelas ordens, visível sobretudo nos
séculos XVI e XVII.
Estado absoluto  conforme o rei vai centralizando o poder  os estamentos
desvanecem-se  e passamos a um Estado absoluto dado ao monarca ter o poder
todo e consequentemente fazer a lei.
O rei afirma-se por “direito divino”  no primeiro período do absolutismo  mais
tarde o iluminismo vem introduzir o “despotismo esclarecido”  através do qual a
ação do Estado passa a assentar na conveniência e na defesa do bem público, não
na justiça ou na legalidade.
Este permitiu a unidade do Estado  a partir da elevação do papel da lei como
fonte de Direito  pela formação de exércitos e pela intervenção em áreas como a
economia.

Estado Constitucional  representa a última etapa e a mais caracterizadora do


Estado Moderno  pode subdividir-se o seu percurso em três fases essenciais:
• 1ª fase  Séc. XVII  na qual prevalece a afirmação dos direitos civis
(liberdade de consciência, Liberdade de Expressão, Igualdade perante
a lei…);
• 2ª fase  Séc. XIX  afirmação dos direitos políticos (luta para o sufrágio
universal);
• 3ªfase  Séc. XX  a presença dos direitos sociais afirma-se de forma
radical (educação, saúde, reformas…).
▪ Esta fase é acompanhada de um enfoque ideológico significativo 
com o contributo do marxismo, do socialismo e da social-democracia

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 que têm em vista uma valorização do Estado como corretor das


desigualdades sociais.

3. Estados e figuras afins

➢ Apesar de em várias situações nos podermos deparar com a existência,


aparentemente, dos três elementos que definem o conceito de Estado (Povo,
Território e Poder Político)  não significa que estejamos realmente perante um 
isto é, nem todas as sociedades políticas revestem a natureza de Estado.

➢ Existem várias comunidades politicamente organizadas  mas que revelam enumeras


diferenças face ao conceito de Estado  ex: Tribos ou territórios estrangeiros sob
administração nacional  ainda mais próximas do conceito de Estado estão as regiões
autónomas e os territórios coloniais.

4. Estados Soberanos com capacidade jurídica limitada e Estados Não Soberanos


➢ Se definirmos soberania como poder supremo (na ordem interna) e poder
independente (na ordem externa)  facilmente é possível encontrar casos de Estados
com um estatuto jurídico diminuído, em menor ou maior grau face a outros Estados
que sobre eles têm algum tipo de autoridade.
➢ Existem Estados que em função das suas próprias características, de
compromissos unilateralmente assumidos ou do relacionamento que estabelecem
com outros Estados  vêm a sua capacidade de agir internacionalmente afetada
em maior ou menor grau.
• É o caso dos Estados protegidos, dos Estados neutros ou dos Estados exíguos
 que apresentam uma “capitis diminutio”  que afeta negativamente a sua
possibilidade de gozar de todos os direitos ou de ser abrangido pelo conjunto
de obrigações que o direito internacional atribui aos seus sujeitos ou ainda
dos Estados Federados que podem mesmo ser classificados como não
soberanos, visto que não têm o direito de atuar na ordem externa.

Soberanos capacidade jurídica plena


Estados capacidade jurídica limitada
(Classificação jurídico-internacional) Não Soberanos

Estados Soberanos
(classificação jurídico constitucional)
Não soberanos

5. Estado e Nação

➢ A Nação  de acordo com o sentido histórico cultural e como escreveu Renan  “é uma
alma, um princípio espiritual (…). É o coroamento de um longo passado de esforços, de
sacrifícios e de devoções; ter glórias comuns no passado, uma vontade comum no
presente, ter feito grandes coisas em conjunto e querer continuas a fazê- las, eis as
condições essenciais para ser um povo”.

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• Esta conceção agarra-se à ideia de que a pertença à comunidade é,


principalmente, um ato de vontade  a vontade política seria a base
constitucional da nação política e a legitimadora do Estado  porém, falta-lhe
resolver o problema da identidade, para o qual seria necessário construir um
conjunto de referências culturais que dessem um corpo organizado àquele
povo organizado em Estado.

➢ Deste modo, todos os indivíduos que partilham determinado conjunto de valores e


princípios e que assumem o mesmo ideal de evolução coletivo  pertencem à mesma
nação.
A ideia de nação passa pela conjugação de fatores históricos e culturais e ainda pela
partilha de uma língua comum  é então uma realidade que se formou no passado, se
consolida no presente e se projeta no futuro.

➢ A complexidade das relações entre Estado e Nação  obriga a que se identifiquem os


vários dimensionamentos em que podem desdobrar-se:
• Nação sem Estado  é uma comunidade histórico-cultural não organizada
politicamente (ex: nação judaica antes da criação do Estado de Israel);
• Nação repartida por vários Estados  situação em que a mesma comunidade
nacional se encontra dispersa por diferentes Estados, podendo nuns casos,
exercer o poder político e noutros ser apenas uma das minorias que se
encontram no seio desses Estados (ex: Nação Árabe);
• Estado sem Nação  no momento em que o Estado é criado, o mesmo não
assenta em substratos nacionais; é a ação do próprio Estado que, nestas
situações, está na génese da criação da Nação, através de um esforço continuo
de aproximação aos cidadãos, de forma, a criar no espírito de todos eles um
igual sentimento de pertença àquela comunidade (ex: EUA aquando da
independência dos estados africanos);
• Estado correspondente a várias Nações  convivem na mesma organização
estadual diversas realidades nacionais que mantém os seus traços
distintivos essenciais apesar da sua proximidade política e vivência conjunta
(ex: em Espanha o caso do País Basco e da Catalunha);
• Estado e Nação coincidentes  existe apenas um substrato nacional no
âmbito do território de um Estado, graças ao facto de a generalidade dos
cidadãos partilharem a mesma história, a mesma cultura e os mesmos ideais
de vida coletiva (ex: Portugal).

➢ Um Estado funda-se sempre numa Nação  e cada Nação corresponde a um Estado.

➢ Os cidadãos de um Estado são os intérpretes conjunturais dos interesses e anseios


da Nação  cuja defesa e o reforço é a sua primeira responsabilidade  por isso a
vontade que manifestam é a afirmação dos desígnios da Nação  que nela assumem
um papel determinante (teoria do eleitorado- função).

➢ Os titulares dos órgãos do poder político  são representantes da Nação e não apenas do
conjunto dos cidadãos cuja expressão concorreu para a sua escolha.

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➢ As constituições democráticas modernas  são mais tributárias da doutrina da


soberania nacional do que da doutrina da soberania popular.

➢ É importante sublinhar que  o Estado (como Nação jurídica)  tende a prevalecer


sobre os conflitos nacionais culturais internos; uma equivalência entre nação política e
nação jurídica é favorecida pela coesão cultural; e que a Nação política tem na sua
base a Nação cultural, envereda normalmente pela reivindicação do seu estatuto de
Estado pelo exercício do direito à autodeterminação.

6. Elementos do Estado (Povo, Território e Poder Político)


6.1. O Povo

➢ O povo é o conjunto de indivíduos  que se encontram ligados ao Estado pelo vinculo


da nacionalidade ou cidadania.
É de acordo com Cabral de Moncada  a “relação em que um indivíduo se acha para
com a sociedade politicamente organizada a que pertença”.
• É esta a noção jurídico-constitucional de povo que aparenta estar subjacente
ao artigo 4.º da Constituição da República Portuguesa  quando estipula que
são cidadãos portugueses todos aqueles que como tal sejam considerados
pela lei ou por convenção internacional.

➢ O povo e a população são dois conceitos com significados distintos:


• Povo  corresponde a uma nação jurídico-política de conteúdo preciso,
representando o conjunto de cidadãos de cada Estado.
• População  conceito económico de natureza fáctica, que designa o conjunto
de residentes em dado território, quer sejam estes cidadãos, estrangeiros ou
apátridas.

6.1.1. Cidadania (aspetos gerais)

➢ Ao conceito de povo, liga-se o de cidadania  como qualidade do individuo.


• Nacionalidade  Pertença à nação e não ao Estado.
• Cidadania  Especifica das pessoas singulares, dos seres humanos, dos
cidadãos de um Estado Democrático.

➢ Antigamente a cidadania era entendida apenas como um vínculo jurídico-político que unia
um individuo ao Estado  hoje é concebida como um verdadeiro direito de cada
individuo, revestindo a natureza de direito fundamental.

➢ A constituição portuguesa no nº.1 do artigo 26º  estabelece que a todos é garantido o


direito à cidadania.

➢ A determinação da cidadania dos indivíduos  corresponde à delimitação do povo de cada


Estado.
• Ex: O povo português  é constituído pelo conjunto de cidadãos portugueses,
independentemente de se encontrarem ou não, em território nacional.

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➢ A análise da constituição portuguesa demonstra a imprescindibilidade do conceito


de povo para a construção do Estado:
• O nº. 1 do artigo 3.º  estipula que a soberania, una e indivisível, reside no
povo  ideia sublinhada no artigo 108º., ao estabelecer que o poder político
pertence ao povo  e desenvolvida no nº. 1 do artigo 10º. segundo o qual o
poder político é exercido pelo povo através do sufrágio universal, direto,
secreto e periódico, do referendo e das demais formas previstas na
constituição.
➢ O nº. 6 do artigo 19º.  inclui o direito à cidadania no catálogo dos direitos
que não podem ser afetados (suspensos ou limitados) numa situação de
Estado de exceção.
➢ O problema da determinação dos cidadãos  é uma questão fundamentalmente
de direito interno de cada Estado.

➢ O Direito Internacional  reconhece aos Estados o direito de estabelecer os critérios


de concessão da cidadania  porém não deixa de estabelecer que a sua atribuição
deve decorrer da existência de um relacionamento real e concreto entre o individuo
e o Estado atribuinte.
• A Declaração Universal dos Direitos do Homem  estabelece que:
▪ Todo o indivíduo tem o direito a uma nacionalidade (Nº1 do Artigo 15.º);
▪ Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade, nem
do direito de mudar de nacionalidade (Nº2 do Artigo 15.º).

➢ A Convenção Europeia sobre a Nacionalidade  reforça a ideia de que cabe a cada


Estado a determinação  de acordo com o seu próprio direito, de quem são os seus
nacionais e que afirma a esse propósito três princípios essenciais:
• O de que todos os indivíduos têm direito a uma nacionalidade;
• O de que ninguém deve ser arbitrariamente privado da nacionalidade que tem;
• O de que a apatrida deve ser evitada.

➢ Existem dois critérios fundamentais para a atribuição de cidadania:


• jus sanguinis  segundo o qual ela é determinada pelos laços de sangue ou de
filiação em relação a nacionais de certo Estado;
• jus soli  de acordo com o qual o que a motiva é o local de nascimento.

➢ É possível distinguir entre:


• Aquisição originária da cidadania  eficácia reporta-se ao nascimento;
• Aquisição derivada da cidadania  apenas têm efeitos posteriores a esse
nascimento.

➢ A cidadania é um direito, porém, tal como se adquire também se pode perder através de:
• Renuncia  decisão/vontade do próprio
• Privação  decisão do Estado de retirar a cidadania a um nacional seu por
razões de origem jurídica ou política.

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➢ Diferenciação entre as situações de cidadania plena, de semi-cidadania, de


cidadania ativa e de cidadania passiva:
• Cidadania plena  envolve o reconhecimento do conjunto de direitos e
deveres que certa ordem jurídica atribui aos seus cidadãos.
• Semi-Cidadania  situações relacionadas com as sociedades colonizadas, nas
quais os súbditos não eram considerados cidadãos para efeitos do respetivo
estatuto, por isso não tinham direitos políticos.
• Cidadania ativa  consiste no exercício concreto de direitos que traduzem
uma efetiva participação na escolha e condução do poder político (ex: o
voto).
• Cidadania passiva  aquela em que os direitos políticos sofrem limitações (ex:
menores ou quem deles é privado por decisão judicial).
• Cidadania dupla ou múltipla  ocorre quando o mesmo indivíduo é
considerado cidadão por dois ou mais Estados.

➢ O vínculo da cidadania pode sofrer importantes alterações  por ocorrência do


fenómeno da sucessão de Estados, situação que se verifica quando um Estado
se substitui a outro Estado, a titulo permanente, relativamente a um território e
à população do mesmo.
Se um Estado desaparece, um Estado se cria, ou uma parte do território de um Estado
passa para a jurisdição de outro  tal facto não poderia deixar de se refletir no
estatuto jurídico dos indivíduos abrangidos por essas mutações territoriais.
• Exemplos: Timor, onde os cidadãos eram legalmente tidos como
portugueses, mas a partir de 1975 passaram a ser considerados indonésios e
desde 2002, data da sua independência, passaram a gozar da cidadania
timorense.

6.1.2. Regime Constitucional e legal da cidadania em Portugal


➢ A lei distingue  quanto aos dois grandes tipos de aquisição da nacionalidade  entre
a aquisição originária (“atribuição de nacionalidade”) e a aquisição derivada
(“aquisição da nacionalidade).

Efeito da lei (imposição)


Atribuição
Lei + Vontade
Cidadania/Nacionalidade
(permissão)

Lei + Vontade
Aquisição Adoção
Naturalização

➢ A cidadania originária  obtém-se por mero efeito da lei ou por efeito conjugado da
lei e da vontade e por virtude dos factos ligados ao nascimento  conciliando o jus
sanguinis e o jus soli.

➢ Assim  são portugueses de origem  por mero efeito da lei:


• Os filhos de pai português ou de mãe portuguesa nascidos em território
português;
• Os filhos de pai português ou de mãe portuguesa nascidos no estrangeiro, se o
progenitor português aí se encontrar ao serviço oficial do Estado português;

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• Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros, se pelo


menos um dos seus progenitores já tiver nascido em Portugal e aqui tiver a
sua residência, e isto independentemente de, ao tempo do seu nascimento,
dispor ou não de um titulo de residência legal;
• Os indivíduos nascidos em território português e que não possuam outra
nacionalidade.

➢ Por outro lado  são portugueses de origem por efeito da lei e da vontade:
• Os filhos de mão portuguesa ou de pai português nascidos no estrangeiro se
tiverem o seu nascimento inscrito no registo civil português ou declararem
que querem ser portugueses;
• Os indivíduos nascidos no estrangeiro com, pelo menos um ascendente de
nacionalidade portuguesa do 2ºgrau na linha reta que não tenha perdido essa
nacionalidade, se declararem querer ser portugueses, possuírem laços de
efetiva ligação à comunidade nacional e, verificados esses requisitos,
inscreverem o nascimento no registo civil português;
• Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros que não
se encontrem ao serviço do respetivo Estado, que não declarem não querer
ser portugueses, desde que, no momento do nascimento, um dos
progenitores aqui resida legalmente há pelo menos dois anos.

➢ Já a cidadania não originária ou derivada  adquire-se por efeito da lei e da vontade, por
adoção ou por naturalização.

➢ Podem  por isso, adquirir cidadania portuguesa  por efeito da lei e da vontade:
• Os filhos menores ou incapazes de pai ou mãe que adquiriu a cidadania
portuguesa, mediante declaração;
• O estrangeiro casado há mais de 3 anos com cidadão português, mediante
declaração feita na constância do matrimónio;
• O estrangeiro que, à data da declaração, viva em união de facto há mais de 3
anos com nacional português, após ação de reconhecimento dessa situação, a
interpor no tribunal cível;
• Aqueles que a tenham perdido por efeito de declaração prestada durante a
sua incapacidade, mediante declaração, quando tiverem readquirido a sua
capacidade jurídica.
Nestes casos  a aquisição da cidadania pode ser objeto de oposição judicial  por
parte do ministério público (nº1 Art.10º.) devido a:
• Inexistência de ligação efetiva à comunidade nacional;
• A condenação, com trânsito em julgado da sentença, com pena de prisão igual
ou superior a três anos;
• O exercício de funções públicas sem caráter predominantemente técnico ou a
prestação de serviço militar não obrigatória a Estado estrangeiro;
• A existência de perigo ou ameaça para a segurança ou a defesa nacional, pelo
seu envolvimento em atividades relacionadas com a prática do terrorismo, nos
termos da lei atinente a essa matéria.

6.1.3. A condição dos estrangeiros e apátridas

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➢ Devido à sua própria condição os estrangeiros não se encontram ou não se podem


encontrar, relativamente à ordem jurídica de um Estado terceiro, numa posição
idêntica à dos cidadãos deste  por isso, o seu estatuto assenta, desde logo, em regras
de direito internacional.

➢ A Declaração Universal dos Direitos do Homem e o Pacto Internacional dos Direitos


Civis e Políticos bem como a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954 
assentam em duas regras fundamentais:
• Os estrangeiros (e os apátridas)  devem ter uma condição jurídica
compativel com a dignidade da pessoa humana e usufruir dos direitos que daí
decorrem;
• Os estrangeiros e apátridas  podem, em princípio, não gozar de direitos
políticos no país onde se encontram.

6.1.4. A cidadania europeia

➢ A entrada em vigor do Tratado de Maastricht  veio colocar pela primeira vez, a


questão da cidadania da União  o Tratado de Amesterdão, por seu lado, clarificou a
natureza dessa cidadania e acrescentou-lhe novas dimensões, tendência que veio a
acentuar-se com a adoção do Tratado de Lisboa.

➢ Nos termos do artigo 20º. do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia  é


instituída a cidadania da União  da qual goza qualquer pessoal com a nacionalidade de
um Estado-membro.

➢ A cidadania europeia não é uma cidadania em sentido técnico-jurídico  aceita-se, porém,


a utilização do termo, tendo em conta o objetivo que se visa atingir e a dimensão específica
que, por essa via, se pretende imprimir ao processo de construção europeia. Assim se
compreende que o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia  refira que “a
cidadania da União é complementar da cidadania nacional e não a substitui”.

6.2. O Território

➢ O território é imprescindível ao conceito Estado  ou seja, não existe Estado sem


território.
Este delimita o espaço em que as normas feitas pelos órgãos do poder político são
validas  desta forma:
• No interior das fronteiras os órgãos de soberania têm competência, sendo que
as medidas ditadas por estes impõem-se a nacionais, estrangeiros e apátridas.
• A lei nacional só dentro de limitadas condições é que pode ser aplicada a
cidadãos que se encontrem fora do território, nesta situação ela, em princípio,
não vincula estrangeiros ou apátridas.

➢ Assim o território não delimita apenas as fronteiras geográficas  condiciona e delimita o


exercício da sua soberania.

➢ Território pode integrar três tipos de dimensão: a terrestre; a aérea; marítima.

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• As duas primeiras são obrigatórias e comuns a todos os Estados.


• A última é eventual pois apenas os estados costeiros possuem esta.

6.2.1. O Território terrestre


➢ Abrange todo o espaço delimitado pelas fronteiras  sempre definidas por recurso a
elementos naturais (exemplo: um rio, como acontece com o Guadiana que separa
Portugal de Espanha) ou então definidas por via exclusivamente convencional.
➢ O Estado tem poder  sobre todo o solo assim como sobre todo o subsolo a ele
subjacente.
➢ O Estado tem soberania total  sobre o território terrestre, assim sendo muitas das
vezes a entrada de estrangeiros pode estar sujeita a autorização exceto alguns casos
em que são realizadas as assinaturas de convenções internacionais que conduzem à
abolição dessas mesmas exigências (exemplo: união europeia).

6.2.2. O Território Aéreo


➢ Este engloba o espaço compreendido pelas verticais traçadas a partir das fronteiras
terrestres  podendo ainda incluir o espaço que recobre o mar territorial.
➢ O Estado exerce soberania exclusiva sobre o seu espaço aéreo  ou seja, cada Estado
só vê o seu território sobrevoado por um avião pertencente a outro Estado mediante a
necessidade de uma autorização  contudo o Estado não exerce soberania no espaço
extra-atmosférico.
➢ De modo a facilitar e incrementar o tráfego aéreo, conduziu à criação da Organização
Internacional de Aviação Civil  sendo que esta define várias liberdades de utilização
do espaço aéreo para aviões comerciais (e não militares ou de outra natureza):
• Liberdade de sobrevoar território estrangeiro sem aí aterrar.
• Liberdade de aterragem em território estrangeiro com fins não comerciais
(abastecimento ou emergência).
• Liberdade de embarque passageiros, carga e correio provenientes do país de
origem da aeronave;
• Liberdade de embarque com destino ao país de origem da aeronave;
• Liberdade de embarque de passageiros e mercadorias no território de um
Estado para desembarque noutro território.
➢ Não há limites para o exercício da soberania estadual  contudo, entre as várias teses,
a mais adequada é a que define o limite até à linha de Kármán (100km).

6.2.3. O Território Marítimo


➢ A delimitação doutrinária remonta a Grócio e aos pensadores do século XVII que
dizem que  o Estado tem domínio de uma certa extensão de mar a partir das suas
costas.
➢ Ao longo século XX, sob o impulso da ONU  houve várias conferencias com o objetivo
de definir o regime jurídico das zonas que compõem os diversos espaços marítimos.
➢ Em 1958 foi assinada uma convenção sobre o mar territorial e a zona contigua  de
acordo com a qual existia uma zona denominada mar territorial, adjacente às costas
do Estado e à qual se estendia a soberania estadual.
➢ Foram assim definidas várias zonas adjacentes ao território marítimo:
• Maré baixa: define o ponto 0;
• Primeira parcela: águas interiores que ficam antes do ponto 0.
▪ O Estado exerce aqui soberania plena pois está dentro do território
terrestre.

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▪ É o único espaço prévio das águas marítimas.


• Mar territorial: adjacente às costas do Estado e onde se estende a soberania
estadual.
▪ A sua linha de base para medir a sua largura é a linha de maré baixa,
que tem 12 milhas marítimas.
▪ O estado exerce quase plena soberania nas águas e no solo e subsolo
a si correspondente.
▪ Este espaço inclui o direito da passagem inofensiva  no qual os
navios de qualquer Estado podem passar, quer para se dirigirem às
águas interiores, a um porto ou para atravessarem  esta passagem
não deve ser prejudicial à paz, boa ordem ou segurança do Estado
Costeiro, o qual pode apenas delimitar essas rotas.
• Zona contigua: tem uma largura máxima de 12 milhas marítimas e sobre a
qual, o Estado costeiro pode exercer poder de fiscalização, emigração,
sanitária e aduaneira.
▪ A zona contigua perdeu bastante importância com a criação da Zona
Económica Exclusiva.
• Zona Económica Exclusiva: tem uma extensão de 200 milhas e é um espaço
onde o Estado costeiro detém a exploração económica total, mas com poderes
limitados.
▪ Os outros Estados têm liberdade de navegação, sobrevoo e colocação
de cabos submarinos nessa área, exceto atividades económicas sem
autorização.

6.2.4. Alterações territoriais


➢ Território de um Estado não é fisicamente imutável, podendo ser objeto de mudanças.
➢ Existem três formas de alteração territorial  a ocupação, anexação e a retificação e a
sucessão de Estados.
• A ocupação: é a aquisição de um território despovoado e não sujeito a
qualquer soberania, este é historicamente muito relevante.
• A anexação: é a integração parcial ou total do território de um Estado noutro
Estado, contra a sua livre vontade, e em geral por recurso à força. Trata-se
assim de um modo de aquisição que atualmente deve ser classificado como
ilegal.
• A retificação de fronteiras: é o acordo entre Estados contiguos para a
definição dos contornos concretos do respetivo território. É feita com recurso
a tratados internacionais e visa proceder apenas a pequenos ajustamentos,
não determinando significativas alterações, tendo por objetivo a definição de
acordo com o princípio da razoabilidade, dos limites exatos de cada território.
• Por fim a sucessão de Estados que pode ocorrer em quatro tipos de situações:
▪ Cessão: passagem de parte do território de um estado para a
soberania de outro estado, pode ocorrer a titulo gratuito ou oneroso.
▪ Descolonização: ascensão à independência de um Estado que era
anteriormente um território dependente.
▪ Unificação: União de dois ou mais estados num mesmo estado.
▪ Separação: criação de dois ou mais estados a partir do território de
um estado, independentemente do desaparecimento ou da
manutenção do anterior estado.

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6.2.5. Relevância Jurídico-Política do Território


➢ O território é bastante importante  pois tem uma condição de independência
nacional  tem também a delimitação do poder do soberano do estado  e por fim
representa um meio de atuação jurídico-política do Estado.
• A independência nacional: tem uma relação intrínseca com o território pois a
existência e manutenção deste só é possível se dispuser de um território
próprio  assim a perda por um Estado de todo o seu território iria conduzir
diretamente ao seu desaparecimento, isto é, ao fim da independência nacional
 por isso uma das tarefas fundamentais do Estado é a defesa dessa
independência nacional (alínea a do artigo 9º da constituição).
• A delimitação do poder do soberano do estado: pois embora os órgãos de
soberania exerçam o seu poder no território, o ordenamento jurídico do
estado aplica-se também no estrangeiro  ou seja, o direito de um Estado é
aplicado dentro das suas fronteiras a todos que aí residem (nacionais,
estrangeiros e apátridas)  mas também é aplicável aos seus nacionais onde
quer que estes se encontrem.
• A relevância jurídica do território: projeta-se na atuação do poder político do
Estado  na medida em que as zonas que pertencem a entes públicos são
utilizadas para os objetivos que aquele se propõe a realizar  importa no caso
do estado referir que os direitos do estado em relação ao território não são
como que com a propriedade privada  neste caso importa apenas distinguir
o domínio publico, do domínio privado:
▪ Domínio público: conjunto de coisas públicas, submetidas por lei ao
domínio de uma pessoa coletiva de direito público, tem assim uma
utilidade coletiva.
▪ Domínio privado: é composto pelos bens que o Estafo ou qualquer outro
ente público é proprietário.
• A soberania do território do Estado tem exceções  que ocorrem no caso de
imunidade diplomática ou de decisões da União Europeia (que se podem
sobrepor a leis jurídicas dos seus membros, menos à Constituição da República
Portuguesa).

6.2.6. O Território Português


➢ A Constituição da República Portuguesa  afirma que Portugal abrange o território
historicamente definido no continente europeu e os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
▪ Assim Portugal é composto pela dimensão que se encontra situada na
península ibérica de acordo com os limites fronteiriços definidos com a
Espanha, é ainda composto pelo espaço geográfico dos arquipélagos dos
Açores e da Madeira.

➢ No que toca ao território marítimo  Portugal possui um espaço de águas interiores


(aquelas que estão situadas para cá da linha de base)  possui também o mar territorial
cuja largura é de 12 milhas marítimas  temos também uma plataforma continental com
uma dimensão variável  a zona económica exclusiva tem uma largura de 200 milhas
marítimas, no qual Portugal nessa área exerce a competência de fiscalização, exploração,
aproveitamento para fins económicos…

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➢ O território aéreo  é composto pelas camadas aéreas suprajacentes ao território


terrestre nacional, bem como aquelas que se encontram sobre o mar territorial

O PODER POLÍTICO ESTADUAL


➢ O poder político pode ter várias conceções da mesma ideia.
➢ Para Marques Guedes: “O poder político é a faculdade de traçar as estruturas e os
rumos da vida comum e de impor o acatamento das diretivas e das normas para uma
e outra coisa estabelecidas”.
➢ Para Marcelo Rebelo de Sousa: “faculdade de que é titular um povo de, por
autoridade própria, instituir órgãos que exerçam, com relativa autonomia, a jurisdição
sobre um território, nele criando e executando normas jurídicas, usando os
necessários meios de coação”.
➢ Para Freitas do Amaral: “O poder é exercido em nome próprio por um povo num certo
território com o fim de garantir a sua segurança, a justiça e o bem-estar dos seus
membros de modo a regular a vida coletiva, nomeadamente através da aprovação de
leis e da imposição do seu cumprimento”.
➢ Para Marcello caetano: “faculdade exercida por um povo de, por autoridade
própria, instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e
imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação”.
➢ É necessário analisar a ideia de poder político sobre três primas diferentes, assim
os elementos que são determinantes para iluminar a ideia de poder político são:
a) O modo como surge;
b) Os objetivos que visa prosseguir;
c) A tipologia dos comportamentos em qua a sua atuação se traduz;
➢ O poder político é erigido por um povo num determinado território e é por isso uma
manifestação de vontade própria. É o funcionamento de um conjunto de órgãos aos
quais caberá o exercício da autoridade que pertence ao povo.
➢ Atualmente a ideia de poder político encontra-se associada ao funcionamento de um
conjunto de órgãos, aos quais caberá o exercício da autoridade que pertence ao povo.
➢ Poder político e órgãos do poder político são realidades conceptualmente distintas,
enquanto o primeiro é prévio ao segundo e constitui o titulo legitimador da existência
e funcionamento destes.
➢ O poder político visa como é obvio a concretização de determinados objetivos,
habitualmente designados como fins do Estado, sendo assim necessário:
a) Organização da vida coletiva;
b) Garantir a organização e estabilidade da comunidade;
c) Adequada defesa dos membros do estado;
➢ Assim o Estado age com vista a garantir os valores fundamentais cuja realização
justificou o surgimento desse Estado: segurança, bem-estar dos cidadãos e justiça.
➢ O exercício do poder estadual está sempre ligado ao funcionamento de um aparelho
de coerção que dispõe dos instrumentos para impor o cumprimento das leis. O poder
político estadual pode ser visto em três pontos de vista:
a) Exclusividade: tendência que os detentores do poder político manifestam em não
permitir a formação de grupos armados independentes.

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b) Universalidade: A capacidade que os detentores do poder político têm de tomar


decisões apropriadas e efetivas para toda a comunidade no que toca à distribuição e
destino dos recursos não apenas económicos.
c) Inclusividade: É a possibilidade de intervir imperativamente em toda a possível
esfera de ação dos membros do grupo, direcionando-os para fins desejados
dissuadindo-os de um fim não desejado, através de um conjunto de normas primárias
e secundárias dirigidas a funcionários especializados e autorizados a intervir quando
essas são violadas.

A LEGALIDADE E LEGITIMIDADE
➢ Legalidade: Esta corresponde aos aspetos de conformidade com a lei, assumindo
como consequência o ordenamento jurídico. Assumindo desta forma que a atuação
dos poderes políticos deve ser regida por normas e por si limitadas. Esta opera no
plano normativo.
➢ Problema da legalidade segundo BOBBIO: um deles é a produção de direito através de
leis e a aplicação do direito de acordo com as leis, mas as consequências desse
conceito alargam-se a outros domínios: como o da aferição da legalidade de um
regime político, temos assim de assegurar que a respetiva escolha tenha obedecido as
normas disciplinadoras desse processo.
➢ Legitimidade: A legitimidade é um conceito com consequências jurídicas, mas sem
origem no Direito (o Direito vai recuperá-lo mais tarde). É a conformidade, a
compatibilidade e o respeito dos valores e princípios pelos quais uma sociedade se
orienta.
➢ Relação entre estes dois conceitos pode cruzar-se ao longo de quatro linhas:
a) O que é legal é legitimo (alguém escolhido de acordo com a lei e governa segundo
as regras e princípios dos cidadãos)
b) O que é ilegal é ilegítimo (alguém é escolhido de acordo com a lei, mas perde a
legitimidade de titulo porque não assume bem a sua função).
c) O que é legal é ilegítimo
d) O que é ilegal é legitimo
➢ Neste esquema, o topo representa a situação ideal (que está em conformidade com as
regras estatuídas aliando-se assim a compatibilidade com os princípios e valores
fundamentais em que a estrutura social assenta). Já a base representa o cenário mais
invejável (em que o Direito não é respeitado, como as convicções em torno das quais a
sociedade se agrega são absolutamente ignoradas.
➢ Legitimidade de titulo: quem governa, governa porque no momento da escolha isso
foi designado segundo a lei. É o momento inicial do exercício das funções.
➢ Legitimidade de exercício: alguém pode ter legitimidade de titulo, mas quando começa a
exercer perde toda essa legitimidade.

CONCEPÇÕES SOBRE A LEGITIMIDADE DO PODER


➢ Max Webber fez uma reflexão sobre o problema da legitimidade, sendo que este encarou
este assunto pelo problema da respetiva justificação, ou seja, a explicação dos motivos
pelos quais a autoridade é obedecida. Webber após considerar as várias realidades como o
costume, os interesses ou motivações de ordem racional chegou à conclusão de não serem
suficientes para compreender o fenómeno da dominação, desta forma webber avança
coma sua célebre doutrina tricotómica da legitimidade.

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➢ Na construção Weberiana existem, os seguintes tipos de dominação legítima: de


caráter tradicional, de índole carismática e de natureza racional.
➢ Legitimidade tradicional: obedece-se à pessoa chamada pela tradição ou pelo sistema
tradicionalmente determinado. Deve-se assim obediência a quem governa porque é
aquele que, segundo a lei, deve governar.
➢ Legitimidade carismática: encontra-se ligada à conjugação em certa pessoa, de
qualidades vistas com extraordinárias em virtude das quais esta pessoa é considerada
como estando na “posse de forças sobrenaturais ou sobre-humanas, portanto, como
enviado de Deus ou como exemplo a seguir, e em consequência como chefe, líder”.
➢ Legitimidade de natureza racional: baseia-se na crença da legalidade das normas
estatuídas e dos direitos de comando daqueles que são chamados por essas normas a
exercer autoridade. A legitimidade do poder/governante vem do facto de terem sido
escolhidos segundo a lei e de governarem segundo a mesma.

OS FINS DO ESTADO (A SEGURANÇA, A JUSTIÇA E O BEM ESTAR)


➢ O Estado para existir necessita de paz interna e externa. Para a existência de paz
interna é preciso que cada um dos elementos humanos da comunidade tenha
garantida a segurança da sua pessoa e dos seus bens, definida e mantida por normas
jurídicas. A paz externa prossupõe a inviolabilidade das fronteiras e a manutenção da
integridade territorial, perante as ameaças vindas do exterior. Por outro lado, um
Estado organizado, tem como objetivo substituir a justiça arbitrária por um sistema de
regras que evite a injustiça entre os cidadãos e entre estes e a coletividade. Por último
os seres humanos individualmente não são capazes de satisfazer todas as suas
necessidades materiais e espirituais, assim o Estado tem a capacidade de supri essas
necessidades, tendo como consequência o bem-estar económico e social.
➢ Segurança: traduz-se na garantia da integridade do território e na proteção da
liberdade das pessoas e dos seus bens, ou seja, a organização jurídica do poder de
acordo com normas jurídicas estáveis que levam a uma conceção de bem comum.
➢ Justiça: Esta pressupõe a existência de regras ou normas inspiradas por princípios e
por valores, de modo a que nas relações entre os membros da comunidade, não exista
desproporção entre os valores comutados (justiça comutativa) e haja também uma
remuneração adequada à contribuição década um para todo (justiça distributiva).
➢ Ainda em relação à justiça, Marcello caetano afirma que “na justiça comutativa a regra
é a igualdade das duas partes intervenientes na permuta, ao passo que na justiça
distributiva a regra da desigualdade para remunerar cada qual segundo os seus
méritos”.
➢ Existe ainda um terceiro tipo de justiça a justiça social que assenta na ideia de que cada um
deve contribuir para a realização do bem comum, através de uma prestação proporcional
para obter um determinado benefício.
➢ O Estado tem ainda a função de manter o bem-estar económico e social, na medida em
que promove a afetação de bens económicos, sociais e culturais, de modo a satisfazer as
necessidades coletivas e a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

OS FINS DO ESTADO NA CONSTITUIÇÃO DE 1976


➢ O entendimento aprovado quanto aos fins do Estado torna-se mais claro se analisarmos os
“fins do Estado” tal como se encontravam consagrados na constituição de 1933 (artigo nº6),
por comparação com as “tarefas fundamentais do Estado” que se ocupa do artigo nº9 da
atual constituição.

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➢ O teor do artigo nº6 da constituição de 1933 era a seguinte (incumbe ao Estado):


a) Promover a unidade moral estabelecer a ordem jurídica da Nação, definindo e
fazendo respeitar os direitos e garantias resultantes da natureza ou da lei, em
favor dos indivíduos, das famílias, das autarquias locais e das corporações
morais e económicas.
b) Coordenar, impulsionar e dirigir todas as atividades sociais, fazendo prevalecer
uma justa harmonia de interesses, dentro da legítima subordinação dos
particulares ao geral.
c) Zelar pela melhoria de condições das classes sociais mais desfavorecidas,
obstando a que aquelas desçam abaixo do mínimo de existência humanamente
suficiente.
➢ As obrigações do Estado Novo reconduziam-se assim ao modelo abstrato dos fins do Estado
que foram evidenciados anteriormente. Estes transportavam também uma carga ideológica
hierárquico-corporativa, assente nos grupos intermédios entre o individuo e o Estado
(família, organismos corporativos, igreja, autarquias).
➢ A matéria dos fins do Estado na constituição de 1976 contemplados no artigo nº9 pode
também reconduzir-se em termos globais, aos fins abstratos antes identificados, com a
singular particularidade de todos eles se encontrarem interligados, mas ao mesmo
tempo pressupõe um entendimento democrático e liberal da sociedade e do Estado,
assente no primado da pessoa humana, assim:
a) A segurança encontra-se presente no objetivo da defesa da independência
nacional (alínea a) do artigo nº9 e nº3 do artigo 5. Dimensão da defesa das
fronteiras contra a ameaça externa, quer na afirmação da identidade nacional
e da melhoria da qualidade de vida dos portugueses (alíneas a), e) e f) do
artigo 9º) …
b) A justiça e o bem-estar estão patentes em várias dimensões, através da
promoção do bem estar e qualidade de vida do povo e a igualdade real entre
os portugueses, na igualdade entre homens e mulheres na proteção do
património cultural, preservação dos recursos naturais, no correto
reordenamento urbano do território, no desenvolvimento harmonioso de
todo o território, na modernização das estruturas económicas e sociais de
modo a construir uma sociedade livre, justa e solidária (artigo 1º e alíneas e),
g) e h) do artigo 9º)
➢ Do texto constitucional em vigor não resulta uma qualquer preponderância dos fins do
Estado abstratamente considerados ou mesmo de qualquer das tarefas ou objetivos
definidos, sendo que se justifica efetuar uma leitura interrelacionada de todos eles (a
sociedade “livre, justa e solidária”) - do artigo 1º.

AS FUNÇÕES DO ESTADO
1. A realização dos fins do Estado implica que este desenvolva, um rol alargado de
atividades (recolher impostos, resolver litigios, punir ações criminosas).
2. Podemos dizer que as funções do estado são atividades específicas ou diferenciadas,
duradouras, cujo exercício coordenado por parte de um ou mais órgãos do Estado se
dirige à prossecução de um ou mais dos seus fins.
3. São especificas ou diferenciadas, porque podem ser identificadas pelos elementos
caracterizadores de cada uma.
4. São duradouras porque se prolongam no tempo, embora se desdobrem em vários
atos localizados em momentos concretos.

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5. As funções do estado são por natureza, funções jurídicas que as qualificam e


enquadram o respetivo desenvolvimento.
6. Esta matéria das funções do Estado prende-se particularmente, com as teorias de
separação e divisão de poderes e, por esta via, com a das formas de governo.
7. As funções do Estado remetem para uma separação de poderes: legislativo, executivo
e judicial. Esta separação tinha em vista a ideia de proteger a liberdade do povo.
8. Para Locke, havia fundamentalmente dois poderes, o legislativo que era o essencial e o
executivo que compreendia dois domínios distintos (o da administração e o da justiça)
sendo estes exercidos por vários órgãos. Este imaginava ainda um terceiro poder o
federativo para aquilo que atualmente chamamos relações externas que inclui a
guerra e a paz.
9. Visão dos poderes do estado e separação dos poderes do estado, ganhou então
consistência na obra de Montesquieu, este individualizou os três poderes, atribuindo
cada um deles a órgãos específicos, independentes entre si e reciprocamente
fiscalizáveis (entre o legislativo e o executivo- faculdades de estatuir e impedir).
10. Mais tarde a separação dos poderes foi confrontada com a sua realização prática nos
alvores do constitucionalismo, quer através do modelo federalista (patente na
constituição norte-americana), quer nas primeiras constituições escritas no continente
europeu (emergem na revolução francesa- todas assentes na separação de poderes).
11. Segundo Montesquieu a ideia de soberania estaria dividida pelos três poderes do
estado- legislativo, executivo e judicial- deforma a que nenhum deste tivesse a
totalidade de soberania e assim a exercesse, de forma tirânica, sobre todo o povo.
Assim cada órgão do estado deveria exercer um e só um dos poderes assinalados.
12. A evolução da conceção do princípio de estado de direito, não se pode limitar a uma
“simples” limitação de poderes e impondo adicionalmente uma clara diferenciação das
tarefas alocadas a cada órgão de soberania, uma vez que as competências são, apenas,
a expressão instrumental necessária à adequada prossecução daquelas.
13. Assim o princípio da separação dos poderes impõe uma repartição adequada e de
competências que permita traçar a área de intervenção de cada um dos órgãos e como
consequência estabelecer o alcance, os termos e condições da atuação que lhe é
autorizada. Desse mesmo modo o princípio de separação dos poderes impõe: a
definição das funções, instituição dos órgãos e por fim a atribuição das
competências.

TIPOLOGIA PROPOSTA DE FUNÇÕES DO ESTADO


1. Função constituinte: Está por detrás da Constituição. Os poderes são constituintes
porque são criados pela constituição e por isso têm de estar em conformidade com a
constituição. Poder constituinte originário: elabora a Constituição a partir do zero;
Poder constituinte derivado: revê, muda e altera a Constituição.
2. Funções no exercício de poderes constituídos:
3. Função política: traduz-se na definição primária do interesse público, na
interpretação dos fins do Estado e na escolha dos meios adequados para os atingir.
4. Função legislativa: está subordinada à função política, pois num primeiro momento
existe uma opção política e num segundo momento a sua tradução legislativa.
5. Função jurisdicional: visa dirimir os conflitos públicos ou privados, como punir a
violação da Constituição ou das leis, interpretando e aplicando o direito.

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6. Função administrativa: prática de atos aptos a satisfazer as necessidades coletivas.


Podem ser atos normativos ou não normativos e estão subordinados às opções
políticas e legislativas do Estado.
7. VER FIGURA 12 DA PÁGINA 206.

AS FUNÇÕES DO ESTADO NA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA DE 1976


1. Quanto às funções do Estado na Constituição da República Portuguesa de 1976, estão-
lhe submetidas as seguintes funções:
a) Função política: prática de atos de natureza política que definem as opções
essenciais da coletividade e que estão reservadas a vários órgãos do Estado. O
Presidente da República convoca referendos, resolve e antecipa problemas,
mas não governa.
b) Função legislativa: constituição da lei, decreto-lei e decreto legislativo
regional pela Assembleia da República, Governo e Assembleias Legislativas
Regionais.
c) Função jurisdicional: resolução de interesses públicos e privados pelos
tribunais.
d) Função administrativa: produção de atos de conteúdo normativo e não
normativo, com o objetivo de satisfazer as necessidades públicas, pelo
Governo, órgãos das Regiões Autónomas, poder local e pessoas coletivas da
Administração Pública.
2. A separação de poderes pode ser feita de modo:
a) Horizontal: os poderes do Estado não dependem de si, ou seja, não há um
mais importante que outro.
b) Vertical: forma como os poderes do Estado se distribuem entre o centro e a
periferia

OS ORGÃOS DO ESTADO
1. Marcello caetano definiu o tema do órgão político do estado  dizendo que este era
um cargo singular  que tem competências para participar no processo de
manifestação de uma vontade funcional imediata ou mediatamente aplicável ao
Estado-coletividade.
2. Por esta definição conseguimos ver a existência de vários tipos de órgãos  que o
órgão compreende um conjunto de elementos constitutivos  em que existe uma
relação entre órgão e estado (relação jurídica) que permite transformar a vontade
psicológica dos titulares do poder em vontade do próprio estado.

A VONTADE FUNCIONAL
1. O conceito de órgão de estado  é determinante para se entender a dinâmica do
estado e a sua articulação com a coletividade.
• Pois este permite explicar o funcionamento do estado como se tratasse de
uma grande empresa, com vontade própria. Porque a dualidade entre a
vontade dos que ocupam o poder (vontade psicológica) e a vontade do estado
(vontade funcional), apenas se consegue ultrapassar através da densificação
do conceito de órgão de estado.
2. Quando o estado legisla, este emite sentenças ou formula atos administrativos, isso é
então resultado inicial da atividade de determinadas pessoas físicas a quem é atribuída
a competência para decidir.

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• Essa vontade psicológica transforma-se através da responsabilidade, em


vontade funcional do estado (ou do órgão de estado).

ELEMENTOS
1. Instituição: ideia de obra ou de realização que perdura no tempo e na comunidade
como uma realidade aceite.
2. Competência: complexo de poderes funcionais que dizem respeito à participação no
exercício de uma ou mais funções do Estado.
3. Titular: pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que tornam efectiva a vontade do
órgão político. É temporário e os modos da sua designação são por efeito do Direito
(sucessão hereditária, sorteio, rotação, antiguidade e inerência) ou por efeito do
Direito e da vontade (cooptação, nomeação, concurso e eleição).
4. Cargo: relação concreta que se estabelece entre o titular e o Estado.

A COMPETÊNCIA E A DOUTRINA DOS PODERES IMPLÍCITOS


1. A competência decorre diretamente da norma jurídica que a fixa, não sendo assim
admissível assumir os poderes que não estão previstos na norma. A constituição
portuguesa é clara, sendo que estabelece no artigo 111º, nº2, que diz que a
competência dos órgãos de soberania estão nela definidas.
2. Os órgãos de estado vinculam-se ao princípio da prescrição normativa da
competência, esta afirma que apenas podem agir no exercício dos poderes previstos
nas normas que a eles se referirem e nos termos por elas definidos. Desse mesmo
modo que se um órgão de estado exercitar uma competência que não lhe está
atribuída ou extravase dessa mesma competência, esse ato é invalido, podendo ser
qualificado como incompetência do poder.
3. Associado ao princípio da prescrição normativa, encontra-se o princípio da
indisponibilidade da competência e ainda o princípio da tipicidade das competências,
todos levam de que as competências dos órgãos constitucionais são como
anteriormente dito as regras que se enumeram na constituição e na qual não é
possível transferir essas mesmas competências para outros órgãos.
4. Fica ainda a pergunta sobre as competências não estritas, se estas são admissíveis à
luz do que se vem sustentando. Assim para se esclarecer essa questão é necessário a
distinção entre:
a) Competências constitucionais escritas expressas;
b) Competências constitucionais implícitas;
c) Competências não escritas;
5. A doutrina das competências implícitas decorre dos últimos grupos e, nos Estados
Unidos da América, desenvolveu-se a seguinte tipologia:
a) Poderes decorrentes ou emergentes que resultariam de uma leitura de todos,
ou alguns poderes, conferidos, expressa e especificamente, pela constituição;
b) Poderes Implícitos como poderes não expressamente mencionados na
constituição, mas adequados e necessários à prossecução global dos poderes
atribuídos ao órgão de Estado pela lei fundamental;
c) Poderes inerentes ou essenciais, isto é, que sejam indispensáveis ao exercício
de funções essenciais de soberania.

ORGÃO E TITULAR
1. O órgão do Estado é permanente e exerce as suas competências de modo continuo.

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2. O titular, por seu lado, é temporário por natureza, quer em virtude da vida humana
ou das suas capacidades, quer por força das regras jurídicas que apontam para a
renovação dos titulares dos cargos políticos (artigo 118º da constituição). Neste último
caso, prevalece o princípio da renovação, de evidente filiação republicana, que impede
a vitalidade dos cargos políticos.
3. Existem assim vários modos de designação dos titulares dos órgãos do Estado, sendo
assim usual distinguir-se entre:
a) Os que funcionam por mero efeito do direito- herança, sorteio…
b) Os que dependem da conjugação do direito e da vontade- nomeação,
concurso, eleição…
4. Assim independentemente das várias especificidades de cada um dos órgãos, todos
eles resultam de regras jurídicas que estão definidas na constituição ou na lei, sendo
que a designação dos titulares de órgãos do estado, em especial dos órgãos de
soberania assumem o vínculo da representatividade democrática, assentando
atualmente na eleição.
5. São inúmeras as relações que se podem estabelecer entre órgãos de soberania ou
entre titulares de órgãos de soberania, são esses:
a) Supletividade: quando a constituição ou a lei indica um titular habilitado a agir
em vez de outro, que esta impedido ou ausente (exemplo: o presidente da
assembleia da república, substitui o presidente da república- artigo 132º, nº2).
b) Interinidade: quando a constituição ou a lei consentem que o titular impedido
ou ausente seja substituído por outro que ele próprio escolheu (exemplo: caso
da substituição do PM, quando inexista vice-primeiro-ministro- artigo 185º,
nº1).
c) Delegação: quando a constituição ou a lei permitem a transferência do
exercício de poderes para outro titular, ainda que sem impedimento;
d) Substituição: quando um órgão de hierarquia superior é autorizado a agir em
vez de outro órgão (substituído).
e) Prorrogação: quando um órgão se mantém em funções transitoriamente e,
eventualmente, com contenção dos seus poderes, enquanto o sucessor não é
investido (exemplo: artigo 186º, nº5).

TIPOLOGIA DOS ORGÃOS DO ESTADO


1. Marcello caetano apresentou uma proposta de definição em relação à variedade dos
órgãos, que tinha variadas distinções: órgãos de soberania, órgãos de estado que não
são de soberania, órgãos singulares ou colegiais, órgãos simples ou complexos e
órgãos consultivos ou deliberativos.
2. Órgãos de soberania: são imediatamente instituídos e regidos pela constituição, são
dotados de poderes de auto-organização (exceto aos tribunais), não estão também
subordinados a quaisquer outros e exercem o poder superior do estado, quer na sua
dimensão externa, quer interna. são ainda essenciais à caracterização da forma de
governo.
3. As relações entre órgãos de soberania são de paridade. Desta forma não há qualquer
relação de superioridade entre os órgãos. Mas este quadro não exclui que pelo
acolhimento constitucional há relações de controlo e interdependência (exemplo: os
poderes presidenciais de dissolução do parlamento, de demissão do governo…).

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4. Órgãos singulares e colegiais: no primeiro caso há um titular e no segundo há uma


pluralidade. O segundo é um regime de convocação, funcionamento e deliberação dos
órgãos colegiais.
5. Órgãos simples ou complexos: atribuição meditada da vontade funcional, primeiro ao
órgão simples e depois ao composto. Ou seja, nos órgãos complexos, para efeito de
formação da vontade, há um desdobramento em dois ou mais órgãos.
6. Órgãos deliberativos (deliberam por si só) ou consultivos (participam no processo que
culmina a vontade funcional e por isso dão apenas pareceres).

ORGÃOS DO ESTADO NA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA DE 1976


1. A constituição Portuguesa não contem todos os órgãos do estado português, nem
todas as regras sobre estes. Deste modo a distinção mais relevante seja então entre
órgãos constitucionais e órgãos de estado que não revestem a natureza de órgãos
constitucionais.
2. Órgãos constitucionais: encontramos todos os que têm referência constitucional como
os órgãos de soberania (exemplo: PR, assembleia da república, governo, tribunais-
artigo 110º). Neste mesmo conjunto podemos ainda identificar várias categorias: os
eletivos (PR); os não eletivos (governo ou os representantes da república); simples
(PR); complexos (assembleia da república ou o governo); deliberativos (assembleia da
república); consultivos (conselho de estado).
3. Os órgãos de soberania: são aqueles que estão ligados de forma direta à soberania do
estado e que dispõem de poder de auto-organização interna e que são imediatamente
e fundamentalmente constituídos pela constituição. Podemos verificar isso mesmo no
artigo 110, nº2, que diz que as suas competências e funções decorrem essencialmente
da constituição. Traduzindo dessa mesma forma para a configuração da forma ou
sistema de governo.
4. Órgãos de estado: são aqueles que não tem referência constitucional, sendo que o
regime de criação decorre da lei, se bem que estes se encontrem sujeitos ao regime
constitucional comum a todos os órgãos do estado (exemplo: artigo 3, nº3).
5. Ainda em relação a estes, são particularmente importantes as regras relativas aos
órgãos colegiais que demonstra o funcionamento e as deliberações (artigo 116º). O
quórum deliberativo, ou seja, o número mínimo de titulares presentes na reunião
para que o órgão possa validamente decidir (ficou fixado na maioria do número legal
dos seus membros). Por outro lado, a regra de deliberação é da “pluralidade de
votos”, isto é, a maioria simples em que não contando a abstenção há mais votos a
favor do que contra. Mas a constituição não deixa de consagrar várias exceções a essa
regra:
a) Assunção de poderes extraordinários de revisão constitucional: impõe uma
maioria de 4/5 dos deputados em efetividade de funções (artigo 284º, nº2).
b) As leis de revisão constitucional: exigem maioria de 2/3 dos deputados em
efetividade de funções (artigo 286º, nº1).
c) Leis orgânicas: necessitam de maioria absoluta na votação final global (artigo
168º, nº5).
d) Leis que requerem dupla maioria: 2/3 dos deputados presentes, desde que
superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (artigo
286º, nº1).

UMA CLASSIFICAÇÃO BIPOLAR: ESTADO SIMPLES OU UNITÁRIO E ESTADO COMPOSTO OU


COMPLEXO

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1. O Estado simples ou unitário é o Estado onde há unidade de poder político, de


ordenamento jurídico e de Constituição. Foi a concentração e aglomeração dos
poderes intermédios do antigo Regime que deu origem, na Europa, ao Estado
Moderno. Significava um povo, um território e um poder político unificado. E desta
forma pondo fim às diferenças jurídicas de nascimento…
2. O Estado unitário pode compreender vários modelos, que se reconduzem ao
maior ou menor grau de descentralização administrativa e política, sem que,
todavia, deixe de existir um único centro de poder, um só ordenamento jurídico e
apenas uma Constituição. O Estado unitário pode ser dividido em:
a) Estado unitário centralizado: nenhuma das coletividades que o
compõem podem fazer valer um direito próprio para regular aquilo
que lhes diz respeito. Pode ainda compreender um ou vários graus de
desconcentração administrativa (fenómeno que se traduz na
transferência de competências de um órgão superior para um órgão
inferior, ou de um órgão central para um órgão periférico, e envolve
uma adaptação da Administração à complexidade do Estado moderno
de forma a que as decisões da administração central sejam mais
rápidas e eficazes): Sem desconcentração administrativa, com
desconcentração administrativa.
b) Estado descentralizado: transferência de poderes para entidades
territoriais locais, que passam a ter competências e funções próprias,
podendo o povo escolher livremente quem os exercerá. Pode ser ainda
uma descentralização: Administrativa- é sempre uma descentralização
territorial e implica confiar a função administrativa do Estado a outras
entidades de base territorial. Implica também autonomia, liberdade e
democracia. Pode ser também Administrativa e política – nem sempre
é fácil fazer a distinção, daí que o critério seja a existência de poderes
legislativos próprios, de estatuto político também próprio e de
autogoverno.
c) Estado unitário regional: Este tipo de estado pressupõe a existência de
uma, várias ou todas as regiões, dotadas de descentralização política,
ou seja, regiões com autonomia política, legislativa e institucional.
Assim este não é reconduzível a um único modelo, podendo assim
falar-se de Estados regionais integrais, no sentido em que todo o seu
território está dividido em regiões (exemplo: Espanha). E em estados
parciais, nos quais só parte do território se organiza dessa forma
(exemplo: Portugal, Dinamarca). Em relação aos poderes exercidos
pelas estruturas que o integram, a divisão é feita entre Estados
regionais homogéneos que atenta a substancial identidade do
estatuto jurídico das regiões (como Portugal) ou heterogéneos onde
tal identidade não existe e prevalecem estatutos diferenciados entre
elas (como Espanha e Itália). O grau de descentralização política varia
bastante, pois há regiões com estatutos elaborados pelo poder central
e outras em que os seus próprios órgãos tem participação ativa na
elaboração e revisão. Em suma: Estes não detêm poder constituinte,
regendo-se assim por estatuto aprovado pelo poder central; não
participam na elaboração e revisão da constituição do estado; podem

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aprovar normas jurídicas com valor de lei, no quadro das suas


competências; gozam de autonomia política, mas não de soberania.

ESTADO COMPOSTO OU COMPLEXO: O ESTADO FEDERAL


1. Estado Federal: Resulta claramente de uma fórmula de compromisso, na qual se
cruzam elementos unitários e elementos diferenciadores. O federalismo consiste na
coexistência de Estados particulares e de uma autoridade central. Reconhece a
supremacia da Constituição federal e das leis federais sobre as Constituições dos
Estados, mas atribui a estes direitos e deveres concretos.
2. Os elementos unitários são:
a) Constituição Federal: poder constituinte único, que determina a aplicação do
direito federal a todo o território e a todo o povo, sem intermediação de
nenhum tipo.
b) Cidadania Federal: delimitação do conceito de nacionalidade ao nível de
Federação, com a consequente atribuição desse estatuto, em condições de
igualdade, aos cidadãos de qualquer dos Estados federados.
c) Homogeneidade político-constitucional: Estado composto de unidades
territoriais da mesma natureza, que compartilham os mesmos princípios de
organização social e política.
3. Os princípios diferenciadores são:
a) Existência política das unidades territoriais integradoras, com vontade política
autónoma e Constituição própria.
b) Poder legislativo próprio, exercido através de uma assembleia eleita de cidadãos.
c) Autonomia económica, traduzida em poder tributário próprio ou fontes de
recurso constitucionalmente garantidas.
4. Esta estrutura de poder, politicamente descentralizada, ou seja, com uma pluralidade
de centros de poder, mas ao mesmo tempo com unidade na titularidade do poder
(assim o estado federal é unitário), necessitou de resolver vários problemas:
a) Divisão das competências legislativas entre a federação e os estados
federados.
b) Distribuição de recursos tributários, por forma a que a sobrevivência dos
estados federados não ficasse em causa, mas que simultaneamente, a
federação dispusesse de receitas próprias.
c) Participação das unidades territoriais na formação da vontade da federação.

ESTRUTURA JURÍDICA DO ESTADO FEDERAL


1. O ponto central na estrutura jurídica do estado federal, que permite fazer a distinção
entre a sua constituição e a de um estado unitário, reside na separação de poderes:
aqui uma única de tipo horizontal; ali uma dupla divisão de poderes- horizontal no
âmbito da federação vertical para as relações entre a federação e os estados
federados.
2. O estudo do estado federal obriga a superentender vários momentos:
a) O da unificação do poder
b) O da distribuição do poder
c) O da coordenação dos poderes.
3. A constituição federal consagra quais as competências do estado federal. Deixando as
matérias não reservadas aos Estados membros. Na articulação dessas competências é

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usual, utilizarem-se dois critérios: o critério das matérias exclusivas e o critério das
matérias concorrentes.
4. Critério das matérias exclusivas:
a) Matérias da competência exclusiva da federação;
b) Matérias da competência exclusiva dos Estados membros;
c) Matérias cuja legislação corresponde à federação e à execução dos estados
membros;
d) Muito raramente, matérias cuja aprovação sob a forma de lei corresponde aos
estados membros e a execução à federação.
5. Critério das matérias correntes:
a) Autorização da federação aos estados membros para que estes últimos
regulem certas questões;
b) Matérias cuja regulação está confiada aos Estados membros, mas em que a
federação pode intervir, se entender dever tratá-las de forma unitária.
6. A distribuição do poder tributário, atualmente leva a uma concorrência de fontes
fiscais entre a federação e estados federados, o que levou a uma tendencial
equiparação em termos de participação nas origens dos rendimentos.
7. O momento de coordenação entre a federação e os estados membros envolve dois
níveis distintos: relações de supremacia e subordinação e as relações de participação.
8. Relações de supremacia e subordinação:
a) Supremacia da constituição federal;
b) Prevalência do direito federal;
c) Fiscalização federal sobre os estados membros;
d) Justiça federal;
9. Relações de participação:
a) Na vontade da federação por parte dos estados federados, por intermédio da
criação de uma segunda câmara legislativa de natureza territorial;
b) Dos estados membros no procedimento de reforma constitucional, de tal
modo que, para a sua concretização, se torna necessária a aprovação por
maioria qualificada deles.

DISTINÇÃO ENTRE O ESTADO UNITÁRIO REGIONAL E O ESTADO FEDERAL, QUANTO AOS


PODERES E NATUREZA DAS ENTIDADES TERRITORIAIS
1. Estado Federal foi historicamente a primeira manifestação de descentralização
política. Como já foi visto anteriormente existe uma multiplicidade de modelos, quer
federais, quer regionais havendo variadas diferenças são de salientar então as
seguintes:
a) As regiões ou comunidades autónomas não gozam de poder constituinte,
enquanto que os estados federados o têm e dessa forma elaborando e
revendo as suas próprias constituições.
b) Os estados federados participam enquanto tal, na revisão da constituição
federal, não acontecendo o mesmo com as regiões.
c) O estatuto da autonomia regional deve ser aprovado pelo parlamento central,
enquanto que a constituição do estado federado é aprovada por este, tendo
como único e natural limite o respeito pela constituição federal.

ESTADOS COMPOSTOS E ASSOCIAÇÕES DE ESTADOS


1. Federação norte-americana nasceu da confederação e da constatação das suas
insuficiências, certo é que a matriz confederal não é a única a evoluir para o

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federalismo, pois como já foi dito anteriormente os estados unitários como o brasil e a
Áustria deram lugar a estados federais. Fala-se assim de um federalismo centrípeto
que resulta da associação livre de estados originalmente independentes e soberanos e
de um federalismo centrífugo em que os estados unitários dão origem a estados
federais.
2. Como formas de estado composto, o estado federal ou a união real compartilham de
aspetos das associações de estados, como as organizações supranacionais ou as
confederações podendo mesmo dizer-se que são formas mais intensas dessa figura,
dando origem a um novo estado.
3. A distinção entre confederação e federação parece clara.
4. Confederação: cada estado membro conserva a sua soberania e independência. Trata-
se no fundo de uma aliança entre estados, que em regra respeita a assuntos
internacionais e que é instituída por um tratado. Os órgãos confederais têm poderes
delegados pelos estados e não poderes próprios, sendo que a execução das decisões
da confederação há-de faze-se através dos órgãos internos dos estados e não
mediante ação direta da confederação.
5. Federação (união europeia): embora partilhem elementos comuns (exemplo: de a sua
instituição ocorrer por via do recurso a um instrumento de direito internacional, são
mais relevantes os elementos distintivos, em que podemos destacar duas:
a) O facto de a união europeia dispor de mais poderes e em áreas mais
numerosas do que uma confederação.
b) A existência nela de uma complexa estrutura orgânica, dotada de poderes
muito mais alargados do que os que se encontram na órbita de um congresso
confederal, uma vez que esta delibera por unanimidade e aquela, por via de
regra, por maioria qualificada.

A FORMA DO ESTADO PORTUGUÊS NA CONSTITUIÇÃO DE 1976: ESTADO UNITÁRIO REGIONAL


1. A partir da constituição portuguesa de 1976, conseguimos concluir que Portugal é um
Estado unitário regional.
2. Portugal é um estado unitário regional pois só tem um poder político soberano, só tem
uma constituição e órgãos de soberania nacional, mas ao mesmo tempo concentram
vários níveis de descentralização, sendo o mais importante o “regime autonómico
insular” (artigo 6, n1 CRP) que se traduz na existência de regiões autónomas que
participam no exercício da função legislativa, aprovando decretos legislativos e de
direção política próprios e um estatuto político-administrativo.

O REGIME AUTONÓMICO INSULAR


1. Constitui uma das mais significativas alterações na estrutura do Estado português em
toda a sua História Constitucional. As regiões autónomas não são Estados e a sua
existência não poe em causa a integridade da soberania, por controvertida que seja
esta noção, designadamente a faculdade de celebração de convenções internacionais
ou o estabelecimento de relações diplomáticas. As regiões autónomas têm, segundo a
Constituição de 1976, as seguintes funções:
a) Podem legislar em matérias de âmbito regional enunciadas no respetivo
estatuto político-administrativo que não estejam reservados aos órgãos de
soberania.
b) Têm competência para regulamentar a legislação regional e as leis emanadas
dos órgãos de soberania.
c) Podem exercer iniciativa estatuária e legislativa.

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d) Têm poder executivo.


e) Têm poder tributário próprio.
f) Superintendem nos serviços, empresas e institutos públicos que exerçam a
sua atividade exclusivamente na região.
g) Assumem determinadas atribuições estaduais com as correspondentes
transferência de serviços periféricos do Estado.
h) As assembleias legislativas das regiões autónomas são eleitas por sufrágio
universal, direto e secreto e o Governo Regional é responsável perante
aquelas.
i) Consagra-se a existência de um Representante da República em cada uma das
regiões autónomas, que não é, contudo, um órgão próprio da região.
OS ESTATUTOS POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS
1. Os estatutos político-administrativos são leis da Assembleia da República, sujeitas,
contudo a um processo legislativo diverso do comum e com um valor legislativo
reforçado. As regiões autónomas não têm autonomia estatuária, e por isso não podem
livremente aprovar o documento-guia. Ao invés, a Assembleia da República também
não tem iniciativa da lei nesta matéria e de igual forma não pode desencadear uma
revisão do estatuto em vigor (artigo 226.º da CRP).
2. As leis estatuárias regionais são parâmetros constitucionais de aferição da legalidade
de normas emanadas dos órgãos regionais ou de normas emanadas dos órgãos de
soberania do Estado (artigo 280.º e 281.º da CRP).

OS ORGÃOS DE GOVERNO REGIONAL


1. São órgãos do governo próprio das regiões autónomas a Assembleia Legislativa e o
Governo Regional. A Assembleia Legislativa é um órgão colegial de tipo assembleia,
eleito por sufrágio universal, direto e secreto, de acordo com o sistema eleitoral
proporcional pelo método de Hondt. Nestas são admitidas candidaturas de partidos
políticos e só destes que se adota a solução constitucional aplicável às eleições para a
assembleia da república.
2. As assembleias legislativas, para além das funções de fiscalização política da atuação
do governo regional, concentram os poderes legislativos das regiões, tendo assim
competência exclusiva na aprovação dos decretos legislativos das regiões, isto é, têm
competência exclusiva. Têm ainda são ainda exclusivamente competentes para o
exercício do poder tributário próprio, para a criação e extinção de autarquias locais,
para a mera ordenação social…
3. Compete ainda regulamentar as leis emanadas dos órgãos de soberania, regulamentar
os decretos legislativos regionais.
4. Esta pode ser dissolvida pelo PR, ouvidos o conselho de estado e a assembleia da
república (nº1 do artigo 234º). Esta dissolução obriga à realização de novas eleições a
efetuar no prazo de 60 dias, de acordo com a lei eleitoral vigente ao tempo da
dissolução (nº6 do artigo 113º).
5. O Governo Regional, este é composto pelo presidente, nomeado pelo Representante
da República (tendo em conta os resultados eleitorais) e pelos secretários e
subsecretários regionais, que por sua vez são nomeados e exonerados pelo presidente
do Governo Regional e tomam posse perante a Assembleia Legislativa.
6. A estrutura e funcionamento do sistema de governo regional, nomeadamente dos
Açores e da Madeira, pode ser qualificada como um sistema parlamentar, dado que o

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governo regional apenas responde politicamente perante a Assembleia Legislativa


Regional.
7. Os estatutos regionais concretizam esta responsabilidade política, fazendo avultar três
momentos: a apreciação do programa do governo, a solicitação de um voto de
confiança ou a votação de uma moção de censura. Em qualquer um dos casos um
voto negativo da assembleia legislativa regional nessas situações implica a demissão
do governo regional. E nem o facto de a dissolução poder ocorrer por motivos
políticos, e não apenas por comportamentos questionantes da lei fundamental, parece
assim poder colocar em causa aquela qualificação, na medida em que, no exercício das
suas funções, o governo regional não responde perante o PR e se não vislumbra a
possibilidade de este intervir diretamente no funcionamento do sistema político
regional, a não ser por circunstâncias excecionais de grave crise política.
8. O governo regional, é competente no que toca à sua própria organização e
funcionamento, que se concretiza na aprovação de decreto governamental, sujeito a
assinatura ou ao veto do Representante da República, cabendo-lhe ainda praticar um
conjunto vasto de acros que decorrem da Constituição ou do respetivo estatuto. Cabe-
lhe, assim, representar o Estado nas regiões, sendo nomeado e exonerado pelo
Presidente da República, ouvido o governo. O seu mandato está atualmente limitado
temporalmente, acompanhando o do PR, o que faz com que haja um reforço da
ligação institucional entre ambos, facto reforçado por a sua nomeação deixar de
ocorrer por proposta do governo, mas exigir, apenas a audição deste.
9. Compete-lhe ainda exercer funções que, no quadro do estado unitário, são do PR
(nomeação do presidente do governo regional ou assinatura e veto dos diplomas).

A DESCENTRALIZÃO ADMINISTRATIVA: O PODER LOCAL


1. Outro nível relevante de organização do estado português diz respeito à autonomia
das autarquias locais, sendo que estas representam formas de descentralização
administrativa de base territorial.
2. A descentralização enquanto princípio constitucional, está presente em muitos outros
pontos da constituição portuguesa (SNS, Segurança social…). Podemos assim afirmar
que a ordem constitucional de 1976 toma a descentralização como um “processo de
realização da liberdade” e assim, como uma componente da própria democracia
constitucional.
3. Para Freitas do amaral uma autarquia local é uma “pessoa coletiva pública de
população e território nacional e que assegura a prossecução dos interesses comuns
resultantes da vizinhança, mediante órgãos próprios, representativos dos respetivos
habitantes”.
4. O conteúdo essencial da autonomia das autarquias locais assenta, em primeiro lugar,
na sua própria existência implicando a garantia de órgãos do governo próprios,
escolhidos pelas populações respetivas, a garantia da prossecução de interesses
próprios, através do exercício de determinadas competências, por forma isolada ou
em cooperação com a administração central ou regional.
5. O sentido constitucional da “autonomia local” (liberdade/autonomia) - significa
claramente “poderes próprios mais órgãos próprios”. Sendo que isto explica a
proibição constitucional dos órgãos de soberania (o governo) de poderem dar ordens
às autarquias ou mesmo de avaliarem o mérito das suas ações. Sendo que desta forma
cabe à tutela a verificação da legalidade dos atos dos poderes locais, mas não pode
significar uma fiscalização de mérito dos seus atos ou a sua substituição ou revogação.

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6. A constituição de 1976 reconhece três tipos de autarquias locais: freguesias,


municípios e região administrativa. As regiões administrativas são as únicas
autarquias supramunicipais previstas na Constituição de 1976 são autarquias locais,
regem-se pelo próprio direito administrativo do Estado ao invés de possuírem estatuto
próprio, têm apenas poderes administrativos e regulamentares, têm órgãos
administrativos, a dissolução das regiões administrativas compete ao Governo e há um
representante do Governo nomeado em Conselho de Ministros.
7. A estrutura orgânica das autarquias locais assenta num mesmo modelo, que
compreende um órgão deliberativo (assembleia de freguesia, assembleia municipal e
assembleia regional) e um órgão executivo colegial (junta de freguesia, camara
municipal e junta regional).
8. No caso das freguesias e dos municípios, a assembleia é eleita por sufrágio universal,
direto e secreto dos cidadãos recenseados na área da respetiva autarquia. Quanto ao
executivo a constituição remete para a lei a sua composição e eleição, sendo que, em
todo o caso o presidente do órgão executivo colegial há-de ser o primeiro candidato
da lista votada para a assembleia ou para o executivo.
9. As assembleias das autarquias exercem o poder de aprovar as opções do plano e o
orçamento, encontrando-se quanto ao resto, a repartição de competências entre o
executivo e o órgão de fiscalização nas mãos do legislador. Este de acordo com a lógica
que faz repousar na assembleia autárquica a genuidade da representação eleitoral
local, conferiu-lhes a competência para aprovar as questões essenciais da vida
autárquica e o poder regulamentar.
10. A autarquia tem ainda o poder de convocar o referendo local, por iniciativa dos
cidadãos ou dos órgãos das autarquias. As autarquias não podem criar impostos, mas
podem determinar uma determinada taxa a aplicar às coletas de impostos que
venham a ser considerados impostos autárquicos.

FORMAS DE GOVERNO: REGIMES POLÍTICOS E SISTEMAS DE GOVERNO


1. As sociedades encontram-se organizadas de acordo com um determinado modelo de
estruturação do poder político. A forma de como este se organiza pode se distinguir
em duas áreas fundamentais: o regime político e o sistema de governo.
2. O regime político: definia-se considerando as conceções fundamentais das relações
entre o individuo e a sociedade política.
3. Sistema de governo: era determinado atendendo à titularidade e estruturação do
poder político, de modo a determinar quem é considerado o titular deste e quais os
órgãos estabelecidos para o seu exercício.
4. Na opinião de Marcello caetano o regime político e o sistema de governo estavam
ligados pois estes dois juntos levam à definição da forma política do estado.

TIPOLOGIA SOBRE FORMAS DE GOVERNO


1. Existem várias tipologias clássicas de formas de governo, quase todas se proponham
apresentar modelos teóricos do que deve ser uma sociedade política bem organizada.
2. Aristóteles: a este deve-se a primeira classificação de formas de governo, assente na
estrutura organizativa e em considerações de ordem ética. Para este existiriam formas
puras, eram então aquelas em que o poder seria exercido para o bem comum,
podendo esse residir num homem só (monarquia) ou em vários (aristocracia) ou em
todos (politeia). No reverso da medalha, teríamos a tirania e anarquia.

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3. A teoria das formas de governo orientou-se, desde cedo, sobretudo pela busca da
forma perfeita e da natureza cíclica da sucessão das diversas formas. Aristóteles
sustenta que a conciliação entre “politeia” e aristocracia poderia oferecer uma maior
estabilidade. Mas acaba por ser cícero e Políbio como defensores do “governo misto”.
4. São Tomás de Aquino: A classificação das formas de governo arranca da tipologia
tripartida de Aristóteles, mas com as seguintes particularidades:
a) As formas de governo variam consoante o ideal e os fins que as
inspiram. Esses fins reconduzem-se à virtude, riqueza e liberdade.
b) As formas de governo são quarto: monarquia, aristocracia, oligarquia
e democracia. A tirania é, na sua perspetiva, uma forma de tal modo
violenta e perversa que não merece ser catalogada como forma de
governo.
c) Adere também às formas mistas, defendendo como regime ou forma
perfeita a conciliação entre monarquia, aristocracia e democracia.
5. Maquiavel: faz a distinção entre república e Monarquia, por prevalência da virtude,
por referência à defesa da coisa pública (interesse público) e em oposição ao interesse
privado. As monarquias para este podem ser herdadas ou conquistadas e as repúblicas
podem ser aristocráticas, democráticas ou mistas. Para este a república é a única
forma de governo onde prevalece o bem comum e a única que permite garantir a
liberdade e afastar a tirania.
6. Montesquieu: Estuda a natureza das formas de governo à luz do padrão liberal de
limitação do poder político. Assinala três formas de Governo: república (o povo em
conjunto ou só uma parte dele tem o poder soberano; é a virtude), monarquia
(governa um só, mas com leis fixas e estabelecidas; está subordinada à honra) e
despotismo (governa um só sem lei e sem regra tudo arrastando por sua vontade; está
subornado ao medo).

ALGUMAS TIPOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS


1. Reinhold Zipellius: este tal como Aristóteles divide as formas de governo em
monarquia (poder está num), oligarquia (poder está em alguns) e democracia (poder
está em muitos). Distingue também as ditaduras em dois tipos: ditaduras previstas
pelas leis (limitados no tempo e destinados a resolver uma emergência) e a autarquia
(baseia-se na omnipotência do ditador sem prévio limite de tempo ou outras
condicionantes).
2. Maurice duverger: Analisa os sistemas políticos dividindo-os em dois: regimes liberais
e regimes autoritários e regimes capitalistas e regime socialistas. Deste cruzamento
resultam quatro modelos: democracias capitalistas, ditaduras socialistas, regimes
autoritários e capitalistas e democracias socialistas (sendo que esta última, segundo o
autor, hoje já não funciona).
3. Friedrich e Brzezinski: Consideram o totalitarismo como uma nova forma de governo
incluída na classificação mais geral das ditaduras, um sistema em que instrumentos
tecnologicamente avançados de poder político são exercidos sem controlo por uma
liderança centralizada de uma elite e com o objetivo de efetuar uma revolução social
total. O totalitarismo tem como características:
a) a ideologia oficial do Estado
b) o partido único
c) a polícia política
d) o monopólio estatal dos órgãos de comunicação social

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e) controlo de todas as organizações socias, políticas e culturais e subordinação


total das forças armadas ao poder político.
4. O conceito de forma de governo autoritária, por contraponto ao totalitarismo, foi
estudado por Juan Linz que o identifica como o sistema caracterizado por pluralismo
limitado, sem uma ideologia orientadora clara e onde o líder, ou um pequeno grupo,
exerce o poder no quadro dos limites constitucionais e legais. Linz e stepan
propuseram uma classificação de regimes não democráticos quadripartida: regimes
totalitários, regimes pós-totalitários e regimes sultânicos.

TIPOLOGIAS DE AUTORES PORTUGUESES


1. Marcello caetano: este desenvolveu o conceito de forma política do estado, no qual
integrava o regime político e o sistema de governo. Quanto ao regime político este
identifica-os com as conceções básicas relativas ao individuo e ao estado: a
personalista e a transpersonalista. Relativamente ao primeiro, este vê as relações
entre o individuo e o Estado como forma de facilitar a realização dos fins da pessoa
humana, daí que o poder tenha como limites os direitos dos indivíduos. A segunda
parte do princípio de que a pessoa humana não é um valor em si, mas um mero
elemento do todo, e o individuo só conta como elemento desse todo. É a conceção
que reporta ao regime totalitário. Mas há variantes, já que o regime liberal pode ir de
um extremo individualista até às restrições ao exercício dos direitos por razões de
ordem geral. O regime totalitário pode ir do extremo em que não se admitem
quaisquer iniciativas individuais (comunismo) até formas quase-totalitárias.
2. Jorge Miranda: distingue entre tipos de estado, formas de estado, e sistemas de
governo. Constatamos que a forma de governo “tem que ver com a relação política
fundamental, a relação entre governantes e governados e modo como se estabelece
essa relação. O sistema de governo centra-se na estrutura interna do poder, nas
instituições e no estatuto dos governantes. Assim com base nesta análise o autor
propõe várias formas de governo modernas (monarquia absoluta, governo
representativo clássico ou liberal, democracia jacobina ou radical…) ver quadro da
página 299.
3. Marcelo Rebelo de Sousa: diz que, para uma visão global da estruturação do poder
político do estado, é necessário considerar três realidades: o regime económico,
político e o sistema de governo. O regime económico é definido como a forma de
organização do processo de produção numa sociedade política concreta, envolvendo a
propriedade dos meios de produção e a sua gestão e controlo social, inclui assim três
tipos diferenciado: o regime económico capitalista (em que o modo social de
produção dominante é o capitalista, embora possam existir elementos secundários de
outros modos de produção); O regime económico socialista (em que o modo social de
produção é socialista, embora possam permanecer elementos residuais de outros
modos de produção); Regime económico de transição entre capitalismo e o
socialismo (coexistem elementos específicos do modo de produção capitalista com
outros modo de produção socialista e em que existe um desígnio político-
constitucional de mutação do regime económico de capitalista em socialista).
4. Quanto aos regimes políticos, este considera a existência de regimes democráticos e
regimes ditatoriais. Já no que respeita ao sistema de governo, defende tratar-se de
um conceito amplo que se encontra estritamente ligado ao regime político. Divide-os
da seguinte forma:

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a) Sistemas de governo ditatoriais: podem ser monocráticos (sistemas cesaristas


se assentarem na legitimidade de um homem alheia a qualquer forma
democrática da expressão da vontade popular e monárquicos se
corresponderem a formas clássicas da monarquia absoluta) e autocráticos.
b) Sistemas de governos democráticos: que se dividem em democráticos diretos,
democráticos semidirectos e democráticos representativos, subdividindo-se
estes últimos em sistemas de concentração de poderes e com separação de
poderes (parlamentar, presidencial e semipresidencial).

REGIMES POLÍTICOS
1. O regime político pode definir-se como a relação existente entre os cidadãos e o poder
político. Esta relação deve ser encarada de diversos pontos de vista entre eles:
a) A participação dos cidadãos ou de grupos de cidadãos nas tomadas de decisão
políticas e na atividade política geral;
b) O maior ou menor número de restrições ao exercício de direitos fundamentais
e a amplitude da sua proteção;
c) O grau de controlo por parte dos cidadãos do poder político e a efetiva
possibilidade de alternância de cidadãos ou grupos no exercício do poder;
2. Marcelo Rebelo de Sousa considera o regime político atendendo a três elementos
cumulativos primordiais:
a) A assunção pelo poder político de uma filosofia de estado constitucional ou
legalmente consagrada como dominante, e como tal politicamente imposta
ou, em alternativa, o reconhecimento de um pluralismo de inspiração
ideológica;
b) A existência ou não de um aparelho político colocado ao serviço da filosofia do
Estado, exclusiva ou dominante, com sacrifício, nos princípios e na prática
constitucional dos direitos fundamentais dos cidadãos, em particular dos seus
direitos políticos;
c) A adoção de formas não democráticas de designação dos governantes, bem
como de controlo do exercício do poder político.
3. Regime democrático: É aquele em que é respeitado o pluralismo, quer no plano das
conceções filosóficas, quer no domínio institucional. Ao mesmo tempo quer a ordem
constitucional, quer a prática confirmam a efetiva salvaguarda dos direitos
fundamentais dos cidadãos, que participam na designação e controlo dos governantes.
4. Regime ditatorial: reside na imposição dogmática de uma filosofia de estado, na sua
aplicação sistemática através de um aparelho político civil ou militar, que subordina a
garantia dos direitos fundamentais à lógica da linha ideológica exclusiva ou dominante
e à conveniência do aparelho político que zela pela sua observância.

ALGUMAS QUESTÕES TERMINOLÓGICAS


1. Democracia: Sinónimo de governo da população e, por definição, significa uma
ameaça aos valores fundamentais de uma sociedade civilizada e ordeira. Hoje, a
democracia não passa do regime/governo representativo.
2. República: trata-se de um termo que resulta da combinação de duas palavras latinas:
res que significa “coisa” e publica. A coisa pública, significaria então, na conceção
clássica, tudo o que tem que ver com os assuntos da comunidade. Nesta perspetiva,
república poderia ser sinónimo de Estado. que significaria, na conceção clássica, tudo
o que tivesse a ver com os assuntos da comunidade.

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3. Despotismo: Significa, etimologicamente, o tipo de poder que o senhor exercia sobre


os escravos. Por outro lado, também significa qualquer forma de governo absoluto,
muitas vezes sinónimo de ditadura, tirania ou autocracia.
4. Ditadura: Em Roma, significava uma forma de governo excecional e temporária, com
um conteúdo positivo. Na república romana, assumia essa natureza excecional e
temporária para preservar a integridade e permanência da república. A ditadura atual
designa a classe dos governos antidemocráticos ou não democráticos.
5. O regime político é a relação existente entre os cidadãos e o poder político. Para o
poder analisar é necessário ter em conta:
a) A participação dos cidadãos/grupos de cidadãos nas tomadas das decisões e
na atividade política geral.
b) O maior ou menor número de restrições ao exercício de direitos
fundamentais e amplitude da sua proteção.
c) O grau de controlo por parte dos cidadãos do poder político e a possibilidade
de alternância de cidadãos ou grupos no exercício do poder.
Estes aspetos caracterizam um regime político porque permitem identificar
uma determinada filosofia subjacente ao poder político do Estado.

REGIME POLÍTICO DEMOCRÁTICO


1. A palavra democracia inclui tradições históricas, teorias e práticas de funcionamento
das instituições nos estados modernos.
2. Para definir regime político democrático, é necessário ter em conta alguns conceitos.
Assim, o regime político democrático pode ser:
a) O regime em que os cidadãos se governam a si mesmos, diretamente ou por
meio de representantes, e possuem todos os recursos, direitos e instituições
para o fazerem.
b) O regime que pressupõe a existência de responsabilidade dos governantes
perante os governados, que se traduz na existência de eleições nas quais estes
últimos controlam os primeiros.
c) O regime definido pelo pluralismo, a concorrência livre de elites e a
responsabilidade.
d) O regime que talvez não sirva para eleger os melhores governantes, mas para
expulsar os piores com custos sociais e humanos mínimos.
3. Para poder analisar este conceito tem de se ter em consideração três etapas:
a) Teoria contemporânea: É o resultado da evolução histórica do Estado
moderno, com a afirmação do Estado liberal, no século XIX.
b) Teoria aristotélica: Aristóteles vê a democracia como um governo de todos,
mas também como a forma impura em que o detentor de poder governa no
seu interesse e não no da comunidade. Com o passar do tempo, passou a
entender-se a democracia como o governo da maioria.
c) Teoria medieval do poder popular: Marsílio de Pádua sustentava que há uma
contraposição entre o poder que vem do povo e se torna representativo e o
poder que vem do príncipe e se transmite por delegação do superior ao
inferior.
d) Conceção de Maquiavel: Com a dicotomia entre monarquia e república diz
que república não se identifica com democracias. A sua conceção republicana
torna-se oposta à monarquia e ao despotismo. Contudo, ao longo do tempo,
república e democracia vão-se sobrepondo onde confluem até se fundirem.

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FORMULAÇÕES TEÓRICAS DE DEMOCRACIAS


1. Teoria liberal: Locke e Bentham encararam a democracia como um modelo protetor
da liberdade individual do cidadão perante o Estado. Assenta nos seguintes
pressupostos:
a) Direitos civis;
b) Divisão de poderes;
c) Divisão territorial de poderes;
d) Controlo da legalidade dos atos do governo e da administração;
e) Consentimento dos governados;
f) Controlo dos representantes, através de eleições e da publicidade das decisões;
g) Representação no Estado dos interesses dos cidadãos para evitar os excessos de
participação direta;
h) Desenvolvimento da representação política com o alargamento do sufrágio;
• Teoria elitista: Defende qua a democracia é uma competição pelo poder entre grupos,
um regime político no qual se adquire poder de decisão através de uma luta
competitiva entre elites plurais para conseguir o apoio da população. A democracia
pluralista competitiva é uma democracia onde há vários grupos competindo pela
conquista do poder, que se pode resumir como:
a) Um regime para eleger elites preparadas e para autorizar os governos;
b) Um regime de seleção de elites que se traduz na competição entre dois ou
mais grupos, normalmente partidos, que disputam o voto dos cidadãos
periodicamente;
c) Um regime onde o papel dos votantes é eleger pessoas que adotam questões
políticas.
• Tipologia de regimes democráticos: Lijphart considera que as democracias se
reconduzem a dois grandes modelos: modelo maioritário OU DE WESTMINSTER e
modelo consensual.
• MODELO MAIORITÁRIO OU DE WESTMINSTER: caracteriza-se pelos seguintes
pressupostos:
a) Concentração do poder executivo em governos monopartidários e de maioria
relativa.
b) Sistema bipartidário.
c) Sistema eleitoral maioritários.
d) Pluralismo de grupos de interesses.
e) Sistema de governo unitário e centralizado.
f) Concentração do poder legislativo numa assembleia de uma só câmara.
g) Constituição flexível.
• MODELO CONSENSUAL: caracteriza-se pelos seguintes pressupostos:
a) Partilha do poder executivo.
b) Equilíbrio dos poderes legislativo e executivo.
c) Sistema multipartidários.
d) Representação proporcional.
e) Corporativismo de grupos de interesse.
f) Federalismo e governo descentralizado.
g) Forte bicameralismo.
h) Constituição rígida.
• Para poder falar-se de democracias são necessárias algumas regras:

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1. Órgão político legislativo deve ser composto por membros eleitos pelo povo, direta
ou indiretamente.
2. Todos os cidadãos adultos devem ter direito ao voto e a serem eleitos.
3. Todos os cidadãos devem ter voto igual e serem livres de votar segundo a sua
opinião formada.
4. Os cidadãos devem ter fontes alternativas e plurais de informação.
5. Os cidadãos devem ter direito a formar associações políticas, partidos e grupos de
pressão independentes.
6. O princípio da maioria numérica aplica-se tanto para as eleições de cargos políticos
como para as decisões dos órgãos políticos.
7. Nenhuma decisão tomada pela maioria deve limitar os direitos das minorias.
8. O órgão de governo deve gozar da confiança do parlamento ou do chefe do poder
executivo, por sua vez eleito pelo povo.
9. Os titulares de cargos políticos devem poder exercer os seus direitos constitucionais
sem interferências ou oposições invalidantes por parte dos poderes fácticos.

REGIME POLÍTICO DITATORIAL


1. O regime político ditatorial define-se por oposição à democracia. A ditadura perfeita
ou ideal será o regime onde não existir nenhuma das características da democracia.
2. Hoje, as ditaduras ainda são maioritárias no mundo embora tenham regredido de
forma apreciável após o desmoronamento dos regimes comunistas. Continuam então
a existir ditaduras de muitos tipos variáveis, não tao opressivas e sanguinárias como as
já registadas, mas igualmente ofensivas da dignidade da pessoa humana e causadoras
de um rasto de violência e morte assinaláveis.
3. As ditaduras podem surgir em estados com ou sem Constituição, revestir formas
monárquicas ou republicanas, federais ou centralistas com sistemas parlamentares,
presidenciais ou ditatoriais. Podem manifestar-se de várias formas:
a) Garantia mínima dos direitos humanos.
b) Recurso à força para conquistar o poder.
c) Inexistência de eleições livres.
d) Negação da participação dos cidadãos no controlo do poder e a proibição e
perseguição da oposição.
e) Exercício do poder de forma totalmente arbitrária com marginalização ou
perseguição de grupos étnicos/religiosos.
f) Assunção de uma ideologia ou religião oficial do Estado, com negação do
pluralismo, da liberdade de consciência e qualquer tipo de divergência.
4. As ditaduras são constituídas por dois pontos permanentes: reduzir ou eliminar o
pluralismo político e controlar e recorrer à força para atribuir e repartir o poder
político.
5. Segundo Gianfranco Pasquino, nenhum regime ditatorial pode durar tanto quanto as
antigas democracias. As ditaduras são sempre realidades frágeis e precárias, ainda que
poderosas e agressivas. Podemos dividir estes regimes em quatro: AUTORITÁRIOS:
a) PLURALISMO: Limitado - são poucas as organizações autoritárias a exercer o
poder político, que têm apesar de tudo de ser legitimadas pelo líder, com
esferas de autonomia circunscritas e sem concorrência eleitoral.
b) IDEOLOGIA: Mentalidades – as mentalidades autoritárias mais comuns para
todos os regimes é “Deus, Pátria e Família”.

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c) MOBILIZAÇÃO: Mínima – têm relutância ou incapacidade para uma


permanente e alargada mobilização, que atinge níveis máximos pela exigência
da revolução permanente ou da luta constante com o inimigo.
d) LIDERANÇA: Fundadora – há uma componente personalista, com a existência
de um líder que muitas vezes é o fundador do regime
6. TOTALITÁRIOS:
a) PLURALISMO: Inexistente.
b) IDEOLOGIA: Rígida e forte – apresentam ideologias rígidas, principalmente no
regime comunista.
c) MOBILIZAÇÃO: Capilar.
d) LIDERANÇA: Carismática.
e) PÓS-TOTALITÁRIOS: Significa a evolução sofrida pelos antigos regimes
totalitários no que respeita ao pluralismo, à ideologia, mobilização e liderança
f) PLURALISMO: Emergente.
g) IDEOLOGIA: Desgastada.
h) MOBILIZAÇÃO: Ritual.
i) LIDERANÇA: Burocrática/colegial.
j) SULTÂNICOS: Não têm ideologia elaborada e coerente.
k) PLURALISMO: Disperso – não existe, pois, a tomada do poder pelo sultão e a
distinção entre público e privado desaparece no que concerne à atividade e
património do líder.
l) IDEOLOGIA: Arbitrariedade.
m) MOBILIZAÇÃO: Manipulada.
n) LIDERANÇA: Personalista – é nas características peculiares do líder que o
sultanismo se diferencia do autoritarismo.

Sistemas de Governo
Introdução
➢ O sistema de governo não se desliga do regime político  dado que um influencia o
outro.
É seguro que, se o regime político assume de conteúdo ditatorial, igualmente o sistema
de governo tenderá a configurar-se como ditatorial  já que, não são duas realidades
que possam funcionar independentes uma da outra.
Contudo, o sistema de governo strictu sensu  define-se em termos meramente
técnicos  podendo definir-se como a “forma como entre si se relacionam os diversos
órgãos do poder político soberano”, quer do ponto de vista do seu modelo e
estruturação normativa, quer do ponto de vista das situações fácticas concretamente
desenvolvidas (da prática constitucional).

➢ É importante averiguar a prática constitucional  face às prescrições constitucionais,


para melhor se poder qualificar um concreto sistema de governo  porém, esta
asserção, não pode legitimar que a prática do sistema constitucional seja erigida a
fator determinante da própria qualificação do sistema de governo.

➢ Perante a variedade de regimes  é possível configurar uma grande diversidade de


sistemas de governo  vamos, contudo, focar-nos na análise dos tipos fundamentais
que coexistem com regimes democráticos e que apresentam maior relevo

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contemporâneo: em primeiro lugar os sistemas parlamentar, presidencial e diretorial,


em seguida, o sistema semipresidencial, enquanto sistema hibrido, que busca as suas
raízes nos dois primeiros sistemas de governo e que, está presenta na Constituição
Portuguesa de 1976.

4.2. A divisão de poderes


➢ A teoria da separação/decisão de poderes não se constitui  porém, no único critério
de referência para arrumar os sistemas de governo.
Segundo DOMINIQUE CHAGNOLLAUD  a separação de poderes é sobretudo um
“mito fundador” da classificação dos sistemas de governo  existem seguramente
outros critérios, como a posição do Chefe de Estado, a forma monística/ dualista do
Governo ou a relação entre Governo e Parlamento  porém, análise dos sistemas de
governo não pode prescindir do enquadramento histórico e das evoluções modernas
do referido princípio, para se compreenderem melhor os esquemas organizatórios e
funcionais dos sistemas de Governo.

➢ “A separação de poderes é um princípio relativamente aberto com contantes


e variáveis”.

➢ O princípio da separação de poderes  visava assegurar a liberdade, defendendo os


direitos dos governados contra o eventual espírito arbítrio dos governantes.
MONTESQUIEU explica que a liberdade dos indivíduos é precária, porque todo o
homem (ou titulares dos órgãos) que possui o poder, tem tendência para dele abusar.
Para defender a liberdade contra o abuso do poder é preciso encontrar um travão que
o torne impossível, porém, o poder soberano está, por definição, acima de tudo,
sendo que nenhum travão é poderoso o suficiente para o deter. MONTESQUIEU
conclui que não se pode limitar o poder senão pelo poder: é preciso partilhar e
atribuir as diversas funções a titulares diferentes que mutuamente as exerçam com
equilíbrio. Sem esta separação não se poderia garantir a liberdade.

➢ A ideia é a de que o Estado deva ser organizado em três ramos  pelo que a teoria da
separação conduz à distinção de três poderes:
• O poder legislativo  que faz as leis;
• O poder executivo  que assegura a sua execução;
• O poder judicial  que aplica as leis e salvaguarda-as, julgando os diferendos.
Cada um destes poderes encontrar-se ia em sede de órgãos e titulares diferentes e
jamais reunidos sob o controlo de um só homem ou órgão  nenhum deles teria o
poder de coagir ou se sobrepor a qualquer um dos outros dois  tornando-se assim
imprescindível existir um acordo entre os três poderes para que um ato de governo
pudesse ser executado.

➢ Pode dizer-se que o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial,


distinguidos por MONTESQUIEU, estavam já presentes na obra de LOCKE, “Two
Treatises of Government”  para o qual existiam fundamentalmente dois poderes:
• O poder essencial (o legislador) e o poder executivo, que compreendia os
domínios da administração e da justiça, sendo exercidos por órgãos
distintos.
• Contudo, visionava ainda aplicar um terceiro poder  para a aplicação das
regras de Direito Internacional.

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➢ LOCKE entendia que os três poderes não podiam estar isolados uns dos outros: pelo
contrário  a harmonia constitucional exigia que cada um estivesse na “dependência”
dos outros e se controlassem mutuamente  de modo a que os abusos de poder não
corressem o risco de se manifestar  só assim os direitos naturais dos indivíduos
seriam preservados.

➢ Também para MONTESQUIEU  os órgãos do poder deviam exercer um equilíbrio


mútuo  controlando-se reciprocamente e permitindo igualmente agir uns sobre os
outros.
• Segundo este, cada um dos órgãos essenciais (executivo e legislativo) é
detentor de duas faculdades: a faculdade de estatuir no domínio das suas
atribuições e a faculdade de impedir no domínio dos atos de outros
poderes, controlando-os ou, eventualmente, paralisando-os.

➢ Hoje em dia  a divisão de poderes encontra a sua essencial razão de ser em ideias de
estabilização e delimitação do poder estadual e na garantia da liberdade através da
organização jurídica dos limites dos órgãos, com o consequente controlo recíproco
(checks and balances).
A Constituição da República Portuguesa no art. 111.º  refere em relação ao princípio
da divisão de poderes que o mesmo “radica em duas direções: por um lado, na de que
a função legislativa é atribuída em princípio ao Parlamento, a função executiva ao
Governo, a função judicial aos Tribunais; por outro lado, na de que os órgãos do
Legislativo, do Executivo e do Judiciário se controlam ou limitam mutuamente de tal
forma que o poder do Estado resulte atenuado e a liberdade das pessoas protegida…”
“A Constituição não refere jamais, nem entre os seus princípios fundamentais nem
entre os princípios gerais de organização do poder político, o da separação de poderes.
Pelo contrário estabelece o princípio da separação e interdependência dos órgãos de
sobernais e o da divisão de competências (arts. 114.º e 113.º) garantindo por essa
forma que a Assembleia e o Governo se limitem e controlem mutuamente.”

➢ Hoje, o princípio da separação ou divisão de poderes constitui uma aquisição


essencial ao Estado de Direito  e, por consequência, é garantia da liberdade e dos
direitos fundamentais dos cidadãos.

4.3. Divisão de poderes e sistemas de governo

➢ Uma outra conceção sobre o princípio da separação de poderes é chamada


“separação flexível”  que significa que os diversos poderes do Estado devem
concertar-se, trabalhar em colaboração em determinados aspetos, ter relações e laços
que impossibilitem a oposição entre eles.

➢ A separação rígida de poderes, configura-se como sendo uma realizada com o sistema
presidencial  no qual se pode distinguir, por um lado, o poder executivo nas mãos do
Presidente e, do outro lado, o poder legislativo detido pelo Parlamento, não existindo
entre os dois, quaisquer ligações orgânicas  contudo, o sistema diretorial talvez se
aproxime mais desse ideal de absoluta separação entre o legislativo e o executivo.

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➢ Como sistema presidencial-tipo  apresenta-se o dos Estados Unidos, o qual se


caracteriza por dois traços essenciais: o Presidente é detentor do poder executivo e é
irresponsável perante o Parlamento, o qual não pode ser dissolvido pelo Presidente.
No entanto, os diversos órgãos não se encontram de costas uns para os outros: o
Presidente, sobretudo, detém poderes substanciais, que invadem as áreas do
legislativo (ex: poder de vetar suspensivamente as leis, fazendo-as baixar ao
Congresso). Por sua vez, o Congresso exerce alguma fiscalização sobre o Executivo e
os Tribunais exercem a fiscalização dos outros dois poderes.

➢ A chamada separação flexível de poderes  realiza-se com o sistema parlamentar. No


qual, de um lado se encontra o poder executivo nas mãos do Chefe de Estado e do
Governo (presidente ou monarca); de outro lado, o poder legislativo a cargo do
Parlamento. Nesta fórmula, o Legislativo e o Executivo são chamados a colaborar um
com o outro.

➢ Entre os dois poderes, a ligação é assegurada pelo Governo nomeado pelo Chefe de
Estado; mas o Governo depende igualmente do poder legislativo, porque é
politicamente responsável perante o Parlamento, sendo obrigado a demitir-se quando
perca a maioria que o sustenta. A responsabilidade política constitui um traço
essencial da distinção do sistema parlamentar.

➢ Em suma, a maneira diversa como a divisão de poderes se concretiza dá lugar a duas


modalidades: o sistema presidencial e o sistema parlamentar. Mais recentemente,
um novo tipo de sistema de Governo, apelidado de semipresidencial, obteve
consagração em algumas ordens constitucionais após 1919.

4.4. O sistema de governo parlamentar

4.4.1. Génese do sistema

➢ O sistema parlamentar é fruto de uma longa evolução  que se delineou


historicamente muito antes do sistema de governo presidencial, o qual foi
buscar àquele o seu modelo de instituições.

➢ O sistema constitucional britânico  apresenta-se como paradigma e a sua


característica principal reside no facto de o Governo ser formado em conformidade
com o Parlamento, do qual depende, respondendo politicamente apenas perante
ele. Neste quadro o Governo dependerá exclusivamente do Parlamento, tanto na
sua formação, como na sua manutenção, e na sua composição traduzirá o reflexo
dos partidos políticos com assento no órgão representativo.

➢ O parlamentarismo  desenvolveu-se a par da necessidade de sujeitar o Executivo à


fiscalização do Parlamento.

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➢ Os contornos da forma característica do moderno parlamentarismo, o chamado


Governo de Gabinete  começaram-se a definir na Inglaterra a partir da revolução de
1688.
Sucessivamente, começam a aparecer os elementos definidores do sistema
parlamentar:
• Entre 1721 e 1742  com o Governo de WALPOLE  destaca-se pela primeira
vez a figura do primeiro-ministro e que como consequência levou a que
passasse a ser prática que o rei constituísse o Gabinete chamando os chefes
do partido dominante;
• A partir de 1742  o rei passou a confiar a formação do novo Gabinete,
apenas, a personalidades afetas à Câmara Baixa;
• A partir de 1782  o parlamentarismo criou os traços ainda hoje considerados
essenciais à caracterização de um sistema parlamentar. Foi nesse ano que
apareceu a primeira moção de desconfiança, contra o primeiro-ministro lord
NORTH, que teve de se retirar devido à perda das colónias da América do
Norte.

➢ Ao mesmo tempo  desenhou-se a noção de responsabilidade política do Executivo


perante o Parlamento.

➢ O modelo atual britânico pode qualificar-se de parlamentar “monista”  uma vez que
o Chefe de Estado surge como uma figura simbólica e o Gabinete não tem
necessidade senão da confiança do Parlamento.

➢ Muitos dos elementos característicos do parlamentarismo inglês integraram ou


influenciaram outros sistemas de Governo  especialmente na Europa e em certos
países da “Commonwealth” (Ex: Canadá e Austrália).

4.4.2. Traços fundamentais do sistema de governo parlamentar


➢ Um dos princípios fundamentais do sistema Parlamentar  reside no controlo do
Governo pelo Parlamento e na colaboração mútua entre estes  daí que uma das
características essenciais deste sistema consista na responsabilidade política
exclusiva do Governo perante o Parlamento.
• O Chefe do Estado é a mais alta autoridade do país. Apesar de este nomear e
exonerar os ministros, está condicionado a fazê-lo de acordo com as
indicações do Parlamento e o Gabinete não responde politicamente perante
si, embora o Chefe de Estado e o Governo sejam as partes componentes do
Executivo- Diarquia do Executivo.
O chefe do Estado é politicamente irresponsável, por isso, não lhe dizem
respeito os conflitos entre o Governo e o Parlamento. Em consequência, não
pode praticar a generalidade dos atos políticos, senão com referenda
ministerial;
• O Governo não pode iniciar ou continuar em funções sem a confiança do
Parlamento (consequência da responsabilidade política). Os ministros saem
do próprio órgão representativo, onde o Governo tem de estar
permanentemente presente para justificar as suas opções políticas, bem como
sujeitar-se às interpelações e à censura parlamentar;

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• O parlamento pode ser dividido em duas Câmaras, de acordo com alguma


doutrina, de forma a impedir o excesso de poderes num Parlamente que se
confronta com um Executivo dividido em dois órgãos: Chefe do Estado e
Chefe do Governo.

4.4.3. Desenvolvimento do sistema de governo parlamentar

➢ O Governo no sistema parlamentar  não pode subsistir sem a confiança do


Parlamento ou, no caso deste ser bicameral, sem a confiança da Câmara Baixa ou,
até das duas como acontece em Itália.
A inexistência de confiança efetiva  faz funcionar os mecanismos da
responsabilidade política, que se traduzem, em regra, na perda do poder.
Os meios clássicos para verificar se o Governo mantém a confiança do Parlamento 
são a moção de confiança e a moção de censura.

➢ Numa vertente oposta e como contrapartida à responsabilidade política do Governo


 este pode exercer uma pressão sobra o Parlamento que lhe permite ultrapassar
eventuais situações de ausência do necessário apoio parlamentar  essa pressão,
constituindo um importante elemento de equilíbrio do sistema, traduz-se no direito de
dissolução do Parlamento, utilizado pelo Chefe de Estado, mas, na realidade, da
iniciativa do Governo  assim, se o Executivo se vê confrontado com uma oposição
maioritária no Parlamento ou entende por ser politicamente oportuna uma renovação
do mandato popular  a dissolução deste faz deslocar a resolução do conflito para as
mãos dos eleitores.
➢ Sobressaindo deste modo um dos aspetos essenciais do sistema de
governo parlamentar: o equilíbrio entre os poderes.

4.4.4. A responsabilidade política do Governo

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➢ O aspeto que é considerado mais característico do sistema parlamentar  é a


responsabilidade política do Governo perante o parlamento  que é também um
produto da evolução histórica do sistema britânico.

➢ A responsabilidade política  funda as suas origens no chamado processo penal de


impeachement  que consistia numa acusação contra um ou vários ministros pela
Câmara dos Comuns perante a Câmara dos Lordes (constituída em tribunal).
O processo foi inicialmente utilizado para reprimir crimes ou delitos previstos na lei
penal  no sec. XVII foi alargado às faltas consideradas graves, mesmo que não
previstas na lei penal, dando origem a um novo conceito de crime, infração difusa,
cujos limites ultrapassavam as prescrições da lei.

➢ Atualmente, a responsabilidade política do governo não é mais aferida pela prática de


qualquer infração penal  mas, pelo contrário, revela de elementos de natureza
subjetiva, decorrentes de uma ação de controlo e assente na apreciação que o
Parlamento efetua sobre a atividade desenvolvida pelo Governo  este tem de prestar
contas sobre a sua atuação política, sendo essa precisa atuação que a Assembleia
pode discutir e pôr em causa, mesmo considera-la errada, ainda que se haja
desenvolvido no respeito das prescrições constitucionais e legais.

➢ A conceção de responsabilidade política pode tomar-se em dois sentidos:


• Em sentido amplo  traduz-se num acervo de mecanismos em que se
traduzem as relações de confiança ou desconfiança do Governo face
ao Parlamento.
Ex: são manifestações de responsabilidade política, neste sentido, não só as
moções de censura ou confiança, mas também as interpelações parlamentares
ao governo.
• Em sentido estrito  conexiona-se com a continuação ou demissão do
governo.
Ex: aqui, os meios adequados para a efetivar serão, principalmente a moção de
censura e a moção de confiança, mas não uma simples interpelação.

➢ A sanção da responsabilidade política não assume qualquer feição penal  pelo


contrário caracteriza-se pela perda do poder.

4.4.5. Responsabilidade política, responsabilidade institucional e solidariedade institucional

➢ Exige-se uma precisão dos mecanismos de efetivação da responsabilidade política 


com vista à salvaguarda da separação e interdependência no sentido moderno  bem
como a impedir a rigidez na divisão de poderes  e, concomitantemente, a
supremacia de qualquer dos órgãos de soberania.

➢ Nesse contexto, a noção de responsabilidade política  obrigará o governo a


responder perante o Parlamento e perante o Presidente da República  por uma
maior ou menor amplitude de efeitos e orientações políticas, resultantes da sua
governação.
Em consequência  pode-se dizer, que a responsabilidade política pode variar de grau
 mas ela existirá sempre que um órgão responde perante outro pelos efeitos

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resultantes da sua atividade, dispondo o último de mecanismos sancionatórios, como


por exemplo, a demissão.

➢ RESCIGNO começou por distinguir responsabilidade política difusa da responsabilidade


institucional  considerando que na primeira, responsabilidade significa a situação em
que se encontram os aspirantes ao poder político ou os seus detentores, porque
dependentes de fatores que condicionam o acesso a esse poder, enquanto a segunda
assinala, objetivamente, os mecanismos de que dispõe o titular de um órgão de
soberania para impor a outro consequências políticas negativas, como a demissão ou a
exoneração do cargo.
➢ Mais tarde, o mesmo autor distingue três tipos de responsabilidade:
• Responsabilidade em sentido estrito  caracterizada pela existência, no órgão
controlante, de poderes jurídicos reais, capazes de produzir efeitos negativos,
como a demissão, no órgão controlado;
• Responsabilidade em sentido lato  que consiste na possibilidade de crítica de
um órgão relativamente a outro órgão;
• Responsabilidade difusa  correspondente àquela primeira versão de
responsabilidade política difusa. Como refere Gomes Canotilho, “a
responsabilidade institucional é sempre, como se vê, uma
responsabilidade política”.

➢ A noção de solidariedade institucional pouco terá haver com a noção


de responsabilidade política.

➢ É possível distinguir-se duas modalidades de solidariedade institucional.


• De acordo com a primeira modalidade  existirá solidariedade institucional 
quando dois ou mais órgãos do poder, conjuntamente, estão empenhados na
prossecução e no desenvolvimento de uma dada política governamental  é a
solidariedade institucional em sentido estrito, a qual não estará presente
sempre que, por qualquer circunstância, se verifique uma absoluta autonomia
governamental, da qual resulta só o governo ser responsável e interessado
direto pelos resultados da política que persegue.
• A segunda modalidade  solidariedade institucional em sentido lato 
identificada com a manutenção do regime, caracteriza-se pela necessidade da
conjugação de esforços de todos os órgãos de soberania, no sentido de serem
assegurados os mecanismos e os equilíbrios conducentes à perdurabilidade
do regime  pode, neste sentido, dizer-se que a solidariedade institucional
vincula, uns aos outros, todos os órgãos de soberania de um determinado
regime.
Este último perfil do conceito de solidariedade institucional  parece estar
presente no artigo 111.º da atual Constituição  pois, à observância do
princípio da separação de poderes estabelecido na Lei fundamental, se obriga
a uma interdependência dos órgãos o que, nesse contexto, se entenderá como
um modo de preservação da estabilidade do regime político, unindo os órgãos
de soberania por esse laço solidário.

4.5. O sistema de governo presidencial


4.5.1. Génese do sistema

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➢ O sistema presidencial nasceu com a independência dos Estados Unidos  no fim do


século XVIII, num momento em que a própria teoria do parlamentarismo não se
encontrava ainda perfeitamente delineada  por isso, tem sido definido por referência
ao sistema constitucional dos EUA e por oposição ao sistema parlamentar.

➢ Este sistema funda-se  em primeiro lugar, numa separação estrita de poderes  mas
é duvidoso que os constituintes de 1787 tenham pretendido estabelecer um regime
onde a figura do Presidente se sobrepusesse aos outros poderes instituídos. Certo, é,
que estavam imbuídos de uma excessiva desconfiança  que os levaria a não
estabelecerem, voluntariamente, um mecanismo capaz de criar o desequilíbrio entre
os poderes do Estado.
Por isso, pensavam que era importante encontrar um equilíbrio, o mais eficaz
possível, entre os diversos poderes  de forma a que se limitassem reciprocamente
 de modo, a evitar o domínio do Congresso pelo executivo, era conveniente que
este não tivesse nenhuma possibilidade de fazer pressão sobre aquele.

4.5.2. Traços do sistema de governo presidencial

➢ No sistema presidencial o poder legislativo e o poder presidencial mostram-se,


em absoluto, separados:
• Ao Parlamento (Congresso)  cabe o encargo de elaborar e votar as leis e ao
Presidente o de as executar, bem como de orientar a política do país, no
âmbito do quadro jurídico delineado por o mesmo;
• O Poder Executivo é entregue ao próprio Presidente (órgão singular)  que
escolhe os seus Secretários, não respondendo nem um nem os outros perante
o Parlamento, logo não dependendo de qualquer dos partidos com assento
no Congresso. O chefe de Estado (Presidente da República) é,
simultaneamente, o chefe do governo;
• O Presidente é eleito por sufrágio universal indireto, em duas fases (em rigor 4
fases, mas apenas 2 estão consagradas na constituição)  podendo a sua
escolha resultar de uma maioria político-partidária não coincidente com a do
Congresso;
• Pelo facto de o Presidente e os seus Secretários não carecerem da confiança
do Congresso  este não pode forçar, nem um, nem outros, a demitirem-se.
Por seu lado, o Presidente não tem poderes para dissolver o Congresso.

➢ MAURICE DUVERGER  descreve a posição dos diversos poderes no sistema


presidencial com a seguinte expressão  “Cada qual tem as mãos livres no seu
domínio, mas tem que se acomodar com a presença de outro. É um casamento
sem divórcio nem separação de corpos e que obriga a compromissos permanente”.

4.5.3. Atenuação/flexibilização da divisão de poderes

➢ Ao mecanismo da separação de poderes consagrada na Constituição de 1787  o


devir encarregou-se de introduzir alguns corretivos, resultantes da prática
constitucional.

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➢ Flexibilizou-se a separação de poderes  passando a efetivar-se a responsabilidade


penal do Presidente pelo processo do impeachement.
Porém, esta ação contra o presidente tem um alcance pouco considerável  trata-se
de um processo penal que apenas pode ser aplicado em caso de traição, corrupção ou
outros crimes e delitos, não estando estes últimos definidos na Constituição  por
outro lado, é necessária a acusação pela Câmara dos Representantes e uma maioria
de dois terços dos senadores presentes para que a condenação possa ser pronunciada
pelo Senado  estas serão as razões pelas quais o processo conducente ao
impeachement é tão pouco utilizado ou, quando o é, raramente chega ao termo.
Por sua vez, o Presidente pode opor o veto a uma lei do Congresso, a qual precisa, para
ser aprovada em segunda votação, de uma maioria de dois terços.

➢ Se o impeachement não foi objeto de grande aplicação  o veto tem constituído uma
arma de grande importância nas mãos do Presidente  é, com a sua utilização,
iniciada a partir do fim do Séc. XIX, que o Presidente consegue atrasar a produção
legislativa do Congresso  quando dele se serve com excessiva frequência, com a
agravante de, em determinadas condições políticas, poder corresponder a um
autêntico veto definitivo.

➢ Para além do direito de veto explicitado  o presidente reforça a sua posição pela
prática do chamado veto de bolso (pocket veto)  no qual, o Presidente limita-se a
não assinar o texto da lei votada pelo Congresso, não lha devolvendo e aproveitando-
se do facto de o Congresso não estar em funcionamento, por força do termo da
sessão legislativa.

➢ Outro aspeto que tem contribuído para uma maior colaboração institucional entre
os diferentes órgãos de soberania  é a especialização funcional dos órgãos e o
consequente monopólio pelo Congresso em matérias como a orçamental e seus
reflexos na política externa e defesa nacional.

➢ O equilíbrio entre órgãos de soberania e a flexibilização na separação de poderes 


são imperativos hoje indispensáveis.

Que pode fazer um Presidente sem crédito parlamentar, se fica privado de todas ou
quase todas as prerrogativas? Nesse contexto, deverá ter em conta as sugestões e
críticas do Parlamento. Mas, por outro lado, em que posição fica um parlamento que
não consiga ultrapassar obstáculos que o presidente coloca às propostas legislativas
dele emanadas?
O Presidente tem também uma importante influência nos trabalhos legislativos do
Congresso. É este que detém a faculdade de iniciativa ou de orientação legislativa,
através da leitura das chamadas mensagens, das quais sobressai a que é lida pelo
próprio em cada ano, mo início da sessão parlamentar e que constitui o programa da
Administração.

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➢ O Supremo Tribunal de Justiça  tem um papel importante  é um tribunal que goza


de avultado prestigio nos E.U.A e que controla de modo eficaz a conformidade, com a
Constituição, dos atos jurídicos emanados dos diferentes órgãos do Estado.
Constitui uma espécie de árbitro entre os poderes  mas é, sobretudo, o garante do
exercício das liberdades e dos direitos fundamentais.

➢ A prática do funcionamento dos órgãos  introduziu significativas alterações de


ordem política, que mais contribuíram para a flexibilização do sistema, e
simultaneamente, para a proeminência institucional do Presidente, pois que a
evolução dos poderes daquele, o qual detém a autoridade que lhe advém da
eleição por sufrágio universal, embora indireto, através de um colégio de grandes
eleitores.
O Presidente, crescentemente, tem-se apresentado como motor da vida política do
país  arrastando com frequência o Congresso para a defesa dos seus pontos de vista.

➢ A praxis política levou, ainda, ao estabelecimento do chamado “parlamentarismo


corredor”  que se traduziu nos contactos estabelecidos entre os Secretários de
Estado e o Congresso  contatos oficiosos, mas eficazes, e que foram atenuando a
rigidez do modelo primitivo.

➢ Apesar do reforço dos poderes do Presidente, nada permite que se possa apresentar
tal sistema como de governo pessoal  por várias razões: quer porque os partidos
políticos americanos não estão enfeudados a ideologias políticas rígidas e, portanto, o
Presidente é obrigado, com frequência, a reunir a maioria parlamentar, a negociar
com ela e a ter em conta as suas razões; até porque as eleições presidenciais têm
lugar de 4 em 4 anos.

➢ Dada a longevidade deste sistema de governo nos E.U.A.  vários países têm tentado
aplicá-lo  imitando as suas instituições, principalmente na América Latina e em
África.
• Porém, sempre com maus resultados  não se alcançando de modo algum o
nível de funcionamento e a estabilidade das instituições americanas.
• Naturalmente, por razões diversas  em particular as atinentes ao estádio do
desenvolvimento económico, social e político, resultando rapidamente num
governo ditatorial, em que só a forma corresponde ao modelo presidencial.
• Nesses países não existe efetivamente qualquer divisão de poderes  mas
antes sobressaem os primados jurídico e político decorrentes da
omnipotência presidencial.
• É degradação do sistema  traduzindo-se naquilo a que se designa de
presidencialismo num sentido degenerado da expressão presidencial.

➢ “O Presidencialismo está para o Sistema Presidencial como a Monarquia Absoluta


está para a Monarquia Constitucional”  CLAUDE LECLRC.

➢ É comum utilizar as expressões presidencial e presidencialismo  para designar a


forma presidencial de governo dos Estados Unidos da América.

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Sistema presidencial  ver Figura 21 página 364

4.6. O sistema de governo directorial

➢ O sistema de governo directorial (deve o seu nome à Constituição Francesa de 1795)


 realiza-se com sucesso na Confederação Helvética, através da sua Constituição de
1848 e mantém-se hoje, na Constituição de 1999.
➢ Os traços essenciais deste sistema de governo  assentam em quatro aspetos (ver
Fig.22 P.366):
• Existência de um executivo composto por sete membros  designado
Conselho Federal, eleito pela Assembleia Federal (bicameral) por um
período de quatro anos  sendo que esse órgão – autêntico directório – é o
verdadeiro governo do país; cada um dos membros do Directório chefia um
departamento federal com amplas atribuições dado que cada departamento
constitui, em rigor, um verdadeiro super ministério;
• A chefia de Estado – Presidente da Confederação  é exercida rotativamente
através de um mandato atual  por um dos membros do directório (Conselho
Federal), que preside às reuniões e é eleito pela Assembleia Federal;
• O Directório  não pode ser demitido pela Assembleia Federal, através de
votos ou moções de censura; aliás, raras são as situações de demissão do
Directório (ou de algum dos seus membros), por sua iniciativa, e todas
elas ligadas a maus resultados referendários;
• A Assembleia Federal, que não pode ser dissolvida pelo Directório  é
composta por duas câmaras: o Conselho Nacional, eleitos pelo sistema
proporcional por quatro anos e o Conselho dos Estados, órgão representativo
dos Estados (Cantões) e composto por 46 representantes (2 por cada um dos
20 cantões e 1 por cada um dos seis semicantões), eleitos de acordo com o
sistema eleitoral vigente em cada cantão (mas que no geral é o maioritário); a
Assembleia Federal é o órgão com competência legislativa, mas a iniciativa da
lei pode resultar do Conselho Federal ou, muito frequentemente, dos
cidadãos, no quadro das várias figuras de democracia direta existentes.

➢ A realidade política da Suíça, que exemplifica bem um modelo de democracia


consensual  ajuda a que o sistema directorial tenha tido sucesso ao longo dos anos.
• A Suíça é uma realidade composta por vários Estados federados  apelidados
de Cantões  cada cantão possui Constituição própria e goza de uma muito
ampla autonomia política e legislativa.
• Por outro lado, a Confederação Helvética  é uma sociedade fragmentada do
ponto de vista cultural  constituída por população heterogénea de língua
francesa, alemã e italiana (e uma minoria que fala romanche), que por sua
vez professa várias religiões, sendo predominantes os cultos católicos e
protestantes.
• Os partidos políticos procuram representar estas particulares clivagens 
sendo o seu espectro composto tradicionalmente por quatro forças políticas
 socialistas, democratas cristãos, liberais e conservadores (nas últimas
eleições federais com um total de 200 deputados mais de dois terços ficaram
distribuídos por estes partidos).

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• O sistema político é estável, com votações aproximadas entre estas quatro


grandes forças políticas, que registam variações não muito acentuadas entre
si de eleição para eleição.
• Por outro lado, o governo da suíça (Conselho Federal/Directório)  traduz-se
num executivo de coligação (pelo menos desde 1959)  em que os quatro
maiores partidos distribuem entre si os sete lugares em presença, com muito
discretas alterações dos lugares de eleição para eleição (“fórmula mágica).
• O sistema político suíço complementa-se através de uma prática sistemática
de recurso a instituições de democracia direta  como o referendo, a
iniciativa popular e o “recall”  existindo mesmo alguns raros espaços de
governo popular direto, ao modo ateniense, em que os cidadãos decidem
na praça pública discutindo e votando os assuntos da comunidade.
• Desde 1858 que, só a nível federal  se realizaram cerca de 600 referendos,
quer sobre leis ou tratados internacionais  em relação às iniciativas
populares e a outras formas de democracia direta estão também bastante
presentes na vida política dos cantões.

➢ Em suma, o êxito do sistema directorial suíço  deve-se muito mais às características


culturais e políticas da sociedade suíça, do que às virtudes do modelo consagrado na
Constituição.

4.7. O sistema de governo semi-presidencial


4.7.1. Génese do sistema de governo semi-presidencial

➢ A necessidade prática de responder às novas exigências da sociedade e a


impossibilidade prática de qualquer um dos sistemas de governo já referidos
geradores de instabilidade e incapazes de dar resposta aos complexos problemas
do Estado hodierno  estão na origem do desenvolvimento de um novo modelo de
sistema de governo  que foi buscar, ao sistema parlamentar e presidencial, alguns
dos seus elementos característicos essenciais  o sistema de governo
semipresidencial.

➢ Apesar deste sistema sintetizar a convergência do parlamentarismo e do


presidencialismo  a sua origem resultou muito mais do primeiro do que do segundo.
Foi graças à incapacidade do sistema parlamentar que historicamente se projetou o
sistema semipresidencial  do qual foi precursor a Constituição alemã de Weimar
(1919). Esta consagra os traços que mais tarde a doutrina  veio chamar de sistema
semipresidencial.
A par de um governo responsável perante o Parlamento  consignava a eleição do
Presidente por sufrágio universal direto, a quem atribuía importantes poderes
efetivos de participação no exercício da função de direção política  o seu mandato
era de sete anos e só podia ser demitido, precedendo voto da Assembleia, por
referendo popular  para além daquela função, outros poderes incondicionais lhe
cabiam:
• A dissolução da Assembleia  embora apenas uma vez pelo mesmo motivo;
• A nomeação e demissão do Chanceler  e, sob proposta deste, dos ministros;
• O veto e submissão  a referendo das leis vetadas;

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• A suspensão, total ou parcial, de determinados direitos fundamentais  bem


como a possibilidade de ordenação de medidas de emergência no caso de
perturbação ou ameaça grave à segurança e ordem pública;
• A nomeação e demissão dos funcionários do Estado  salvo disposição da lei
em sentido diverso.

➢ Na linha da Constituição de Weimar  encontramos a da Áustria (1929), a da Islândia


(1944), a da Irlanda (1937), a da França (1958) e a de Portugal de 1976, sendo que a
Finlândia manteve um sistema semipresidencial até 2000.
Contudo, a vaga democratizadora que se desenvolveu no início dos anos 90 na Europa,
levou à consagração de Constituições com sistemas desse tipo  a influência do
semipresidencialismo português foi significativa em boa parte dos países de língua
oficial portuguesa, como por exemplo Angola, Guiné-Bissau, São Tomé ou Timor Leste.
Todas elas introduziram a eleição por sufrágio universal do Presidente da República 
consagrando uma estrutura dualista com dois órgãos possuidores do mesmo grau de
legitimidade: o Presidente da República e o Parlamento.

➢ A este respeito  há quem prefira falar em três vagas semipresidenciais:


• Uma primeira  após a I Guerra Mundial, com as constituições de Weimar,
Finlândia, Áustria, Irlanda e Islândia;
• A segunda  com as Constituições da França (após a revisão de 1962) e de
Portugal;
• A terceira  após a queda do muro de Berlim, que incluiria, entre outras, as
Constituições da Polónia, Roménia, Ucrânia, Lituânia e Bulgária.

➢ A generalidades destas Constituições atribuem importantes poderes ao Presidente da


República  embora a respetiva extensão se veja frequentemente confrontada com as
particularidades do sistema partidário e da vida política do respetivo país.

4.7.2. Esboço de definição do sistema


4.7.3. Concretização do sistema
➢ Diferentemente do sistema de governo presidencial  neste o Executivo responde
perante o Parlamento e perante o Presidente da República.
➢ Ao contrário do sistema parlamentar  este último é eleito por sufrágio universal, ao
mesmo tempo que o Governo é também responsável perante ele.
➢ Em suma, para além do Parlamento e do Governo  existe um Presidente da
República eleito por sufrágio universal e com prerrogativas que ultrapassam o mero
caráter representativo, concomitantemente com um Governo dele não diretamente
dependente  mas perante quem também responde, a par do Parlamento, e
dispondo aquele de diversos poderes exercitáveis por si só, nomeadamente o
direito de dissolução do Parlamento.
➢ As características essenciais do sistema presidencial são:
• A eleição do Presidente da República através de sufrágio universal,
à semelhança do Parlamento;
• A dupla responsabilidade política do Governo, ou do primeiro ministro,
perante o Presidente da República e perante o Parlamento e a diarquia
do Executivo com distinção de funções entre o aquele e o chefe de
governo;

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• A atribuição de uma amplitude de poderes reais ou dominantes ao


Presidente, decorrentes da legitimidade adveniente do método de eleição,
especialmente o direito de dissolução do Parlamento;
• A formação do Governo em função dos resultados eleitorais, dependendo
a sua constituição e sobrevivência da confiança parlamentar;
• A possibilidade, por parte do Presidente da República, de controlar a
atividade do Governo.

➢ Perante estes aspetos podemos concluir que o sistema semipresidencial  não é um


sistema misto, pois não é possível a coexistência do governo presidencial e do
governo parlamentar num mesmo sistema.

➢ O sistema semipresidencial  insere-se nos sistemas de separação flexível ou de


colaboração de poderes.
Deve ser considerado como um novo tipo de sistema de governo  e não como um
sistema misto parlamentar/presidencial pois dada a expressão contraditória de ambos
isso não seria possível.

➢ Pode definir-se o sistema de governo semipresidencial como  o “sistema de governo


em que, da conjugação do mesmo grau de legitimidade do Presidente da República e
do Parlamento, porque ambos eleitos por sufrágio universal, neles se consubstancia a
faculdade de exercerem os poderes jurídicos que a Constituição lhes atribui, no
sentido de, em maior ou menor grau, controlarem a ação do Governo, de molde a
qualquer deles, mesmo que indiretamente, possa fazer cessar as funções daquele”.

➢ Da legitimidade popular do mandato do Presidente da República decorre a


característica dualista do poder  efetivando-se a responsabilidade do Governo em
duas vertentes  isto é, a sua subsistência depende da confiança do órgão
representativo parlamentar e do próprio Presidente da República.
O modelo é complementado ainda  pelo conjunto de poderes e mecanismos que
permitem o controlo real da atividade do Governo  com especial relevo para aqueles
que se inscrevem na esfera do Presidente da República (ver fig. 23 p.375).

4.7.3. Concretização do sistema


➢ O equilíbrio de poderes estabelecido no sistema semipresidencial difere do dos
outros sistemas  porque em situações de crise, podem encontrar-se no seu seio
esquemas alternativos suscetiveis de impedir roturas ou bloqueios graves para a
estabilidade do sistema de Governo e do próprio regime.
Maurice Duverger “pai” do semipresidencialismo enquanto categoria autónoma 
reconhece importância à prática de cada país, a qual permite concluir que textos
constitucionais semelhantes possam desenvolver-se em termos deveras díspares.
Exemplos disso mesmo, é a constatação de que a prática política de certos países,
como a Áustria, a Irlanda e a Islândia, caminhou num sentido parlamentar ou que a
França se apresenta com um Presidente que de facto detém enormes poderes  daí
que para esses três países se fale de um “semipresidencialismo aparente”, guardando
a real designação de semipresidencialismo para Weimar, Finlândia, França e Portugal.

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➢ Duverger não deixa de chamar a atenção para o facto do semipresidencialismo 


permitir um modelo de análise que explica o funcionamento do sistema em países
com diversas culturas.
Esse modelo parte de três variáveis  os poderes que a Constituição reconhece ao
Presidente da República, a presença ou ausência de maioria parlamentar e a posição
do Presidente em relação a essa maioria.
Na verdade, basta verificar a situação da França e da Finlândia (até 2000), países
em que o Presidente da República é a sede orgânica preponderante do sistema
político, como resultado da sua posição perante o sistema de partidos  ou, em
sentido contrário, o conjunto dos diversos países que consagram o mesmo tipo de
governo, cuja evolução tendeu para o parlamentarismo.

➢ Duverger procedeu à ordenação das diversas experiências constitucionais (ver


fig.24, p.379).
De acordo com o primeiro critério e por ordem decrescente, elas estariam assim
ordenadas: 1. Finlândia; 2. Islândia; 3. Weimar; 4. Portugal; 5. Áustria; 6. França; 7.
Irlanda.
Contrariamente pela prática constitucional, com a efetivação ou não dos poderes do
Presidente, a distribuição apresenta-se nestes termos: 1. França;2. Finlândia; 3.
Weimar; 4. Portugal; 5. Áustria; 6. Islândia; 7. Irlanda.

➢ As prerrogativas inabituais ou mesmo excecionais do Presidente da República só


devem ser utilizadas se o sistema o requerer  assim, deverá ter-se em conta que
muitas das prerrogativas jurídicas se encontram na reserva, podendo vir a ser
utilizadas se tal se verificar necessário, não significando por isso que essas tenham
caído em desuso.

5. O sistema de Governo na Constituição da República Portuguesa de 1976

➢ O projeto de Constituição partidários apresentado à Assembleia Constituinte  é


apelidado de semipresidencialismo.

➢ Com o 25 de Abril de 1974  houve a necessidade de prover à estruturação dos


diversos órgãos de poder político emergentes da Revolução  até vir a ser aprovada
pela Assembleia Constituinte a nova Constituição  a escolha do sistema de governo
plasmado na Constituição resultou assim de um Pacto entre o MFA e os partidos.

➢ A Constituição originária alberga os vários poderes do Presidente da República,


nomeadamente:
- Poder de dissolução da Assembleia da República.
- Poderes de nomeação e exoneração do primeiro-ministro.
- Poder de veto sobre as leis.
- Poder de iniciativa nos processos de fiscalização da constitucionalidade.

➢ No semipresidencialismo português estão presentes as seguintes características:


- Presidente da República é eleito por sufrágio universal e directo.
- Dupla responsabilidade do Governo perante a Assembleia da República e o
Presidente da República.

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- Largos poderes dos dois órgãos no confronto com o executivo: o Presidente


da República nomeia e exonera o Governo e a Assembleia da República aprecia
o Programa de Governo.
- Amplos e reais poderes do Presidente da República face ao Governo e à
Assembleia da República, como o direito de veto, dissolução do Parlamento e a
iniciativa de fiscalização preventiva de constitucionalidade.

➢ A Constituição originária também veio consagrar como órgão de relevantes poderes


jurídico-constitucionais  o Conselho da Revolução, criado com excecionais condições
revolucionárias.
Contudo, esta constituição sofreu várias revisões:
1ª (1982) – Esvaziamento dos poderes do Presidente da República; eliminação do
Conselho da Revolução; introdução de um Conselho de Estado (órgão político de
consulta do Presidente da República com funções meramente consultivas); equilíbrio
entre as componentes parlamentares e presidenciais.
2ª (1989) – Organização económica e aprofundamento de alguns direitos
fundamentais.
3ª (1992) – De natureza extraordinária, determinada pela assinatura do Tratado de
Maastricht.
4ª (1997) – Reforço dos mecanismos de participação dos cidadãos e aumento dos
poderes da Assembleia da República.
5ª (2001) – Exigência da ratificação do Tratado sobre o Tribunal Penal Internacional.
6ª (2004) – Relacionamento entre os órgãos da Republica e as regiões autónomas, com
o aumento das competências legislativas das respectivas Assembleias Legislativas e o
reforçado papel do Presidente da República no regular funcionamento das instituições
democráticas regionais e na nomeação dos Representantes da Republica.
7ª (2005) – Introduzir um novo normativo para permitir a realização de referendos
sobre tratados europeus.

➢ A atual Constituição de 1976 tem as seguintes características:


- Presidente da República é eleito por sufrágio universal e direto.
- Dupla responsabilidade do Governo perante a Assembleia da República e o
Presidente da República.
- Atribuição de importantes poderes de arbitragem ao Presidente da
República, incluindo a dissolução do Parlamento, direito de veto sobre leis e
decretos-lei, nomeação e exoneração do Governo, etc.
- Formação e manutenção do Governo de acordo com a maioria parlamentar
que lhe dá vida e que o pode derrubar.

➢ A formação de governo em Portugal é feita por nomeação e não por eleição  o


governo é nomeado pelo Presidente de acordo com os resultados eleitorais e na deve
ser precedida uma audição dos partidos políticos representados na Assembleia (artigo
187º, nº1)  os resultados eleitorais têm de ser interpretados para o Presidente da
República poder nomear e publicar os nomes no Diário da República.

➢ Após a nomeação e publicação no Diário da República  o governo toma a posse e


tem 10 dias para apresentar o seu programa à Assembleia da República  uma vez
apresentado, este programa tem de ser discutido (obrigação constitucional) e, se não

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houver nada contra, pode entrar imediatamente em plenas funções após esta
discussão.

➢ Contudo, o programa também pode sofrer uma votação  a votação não é um


procedimento obrigatório mas pode ser solicitada pelo próprio governo ou pela
oposição  se houver votação pode acontecer duas coisas:
- A oposição apresenta uma moção de rejeição (apreciação do conteúdo do
programa do governo), e o governo pode cair esta for apresentada por 116
deputados.
- O governo pede um voto de confiança à Assembleia da República, o qual tem
de ser aprovado e ter mais votos a favor do que contra, independentemente
da abstenção. Se o voto for rejeitado, o governo é demitido.

➢ A demissão do Governo por qualquer razão  não leva necessariamente à dissolução


da Assembleia e à marcação de novas eleições  gera, em vez disso, uma restrição das
suas normais funções, ficando assim com poderes diminuídos (artigo 186º, nº5) 
após isto, o Presidente da República fica obrigado a nomear um novo Primeiro-
Ministro, sem prazo afixado pela Constituição, ou dissolver a Assembleia e convocar
novas eleições  enquanto um novo Primeiro-Ministro não for nomeado, o Governo
fica numa situação de “Governo de Gestão”.

➢ A Assembleia da República é composta por 230 deputados  no máximo, eleitos em listas


plurinominais partidárias  através do sistema de representação proporcional pelo
método da média mais alta de Hondt (artigo 149º) e com um mandato parlamentar livre
(artigo 152º, nº2)  a Assembleia da República é eleita por quatro anos (artigo 171º),
durando cada sessão legislativa 1 ano – 15 de Setembro a 15 de Junho (artigo 174º), fora
deste tempo funciona uma Comissão Permanente, com amplos poderes (artigo 179º)  a
Assembleia da República é presidida pelo Presidente da Assembleia da República, eleito
pelos seus pares e também pode ser constituída não só por deputados mas também por
grupos parlamentes, que tem poderes próprios (artigo 156º e 180º)  é um órgão com
competência legislativa; um órgão de soberania a quem por excelência compete legislar,
orientar e fiscalizar a política.

Livro 2
Capítulo I- Eleições e sistemas eleitorais

1. O Princípio da democracia representativa e a soberania popular


➢ Quase todos os regimes políticos atuais assentam no conceito de representação  uma
vez que reclamam uma determinada caução popular como fonte da legitimidade do poder
 incluindo os de natureza ditatorial, que geralmente instituem eleições como titulo,
ainda que artificial e falso, da legitimação dos seus dirigentes ou, pelo menos, de alguns
deles (ex: ditaduras de Salazar, de Fraco ou com a grande parte dos regimes comunistas).
Porém, a verdadeira representação é a que se opera nas democracias  nas quais o
mandato representativo se impõe como elemento chave e os partidos políticos
assumem o principal papel no funcionamento desse mecanismo, fazendo do Estado
contemporâneo um “Estado de Partidos”  dado que, como afirma Manuel Garcia-

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Pelayo, “só a interação entre o sistema de partidos e o sistema estadual pode


proporcionar a este uma legitimidade e funcionalidade democráticas”  e daí também
a importância de se proceder ao estudo das eleições em democracias, englobando
nele todos os procedimentos prévios ao ato eleitoral e os modelos teóricos de
conversão de votos em mandatos.

➢ O vínculo da representação envolve uma lógica dual  isto é, por um lado, a existência de
representados e de representantes, por outro  e, por isso, pressupõe a existência de um
mandato, que é, em termos gerais, o titulo com base no qual são atribuídos poderes, por
uma ou mais pessoas, a outra ou outras, com o fim de que estas desempenhem uma
função em nome e por conta daquelas.
• Deste modo, mandato e representação política são
conceitos inseparavelmente relacionados.

➢ Em termos gerais, o mandato representativo (ou não imperativo)  é delimitado em


função de quatro elementos essenciais: a generalidade, a liberdade, a independência e a
irrevogabilidade.

➢ Em Portugal  a Constituição vigente adere à conceção do mandato não imperativo


 como se pode verificar através da presença conjugada dos quatro principais fatores
delimitadores do exercício do cargo de Deputado:
• A função de representação de todo o país  e não apenas do círculo pelo qual
foi eleito (n.º2 do art. 152.º da Constituição);
• A inexistência de vinculação jurídica ao cumprimento dos seus
compromissos eleitorais  traduzida na ideia de liberdade na forma como
conduz a sua atuação (n.º1 do art. 155.º da Constituição);
• A natureza irrevogável do mandato que exerce  pois, a sua perda só pode
decorrer da superveniência de incapacidades ou incompatibilidades, da
circunstância de não tomar assento no Parlamento ou de exercer o limite
pelo qual foi apresentado a sufrágio, da condenação judicial por crime de
responsabilidade no exercício da função ou por participação em organizações
racistas que perfilhem a ideologia fascista (art. 160.º da Constituição);
• A irresponsabilidade, civil, criminal ou disciplinar  pelos votos e opiniões que
emitir no quadro das suas funções (n.º1 do art.157.º da Constituição).

2. As funções eleitorais
➢ As funções das eleições democráticas  desdobram-se em quatro planos
conceptualmente distintos:
1. Proporcionar participação política;
2. Produzir representação;
3. Gerar governo;
4. Oferecer legitimação.

1. Em primeiro lugar  as eleições proporcionam a participação política dos


cidadãos.
• Nas democracias modernas  o sufrágio generalizou-se  o que significa
poderem nele envolver-se todos os cidadãos maiores de idade, o que

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possibilita um grau de participação política muito amplo e que é justamente


uma das diferenças assinaláveis por comparação com regimes ditatoriais, onde
tal participação não existe ou se encontra severamente limitada e
condicionada.
• A competição eleitoral é então  o momento em que o eleitorado expressa as
suas preferências  escolhendo determinados programas políticos e aqueles
que os protagonizam.
• As eleições também exercem influência na agenda política, motivando e
condicionando os temas para debate público. Os eleitores podem introduzir
novas questões nesse debate e o resultado eleitoral não deixa de criar
alguma margem de vinculação política dos decisores quanto à prossecução
das políticas sufragadas maioritariamente, ainda que, bastante frequente,
demasiado aquém do que seria exigível.
• As eleições condicionam ainda o modo de funcionamento interno e externo
dos partidos políticos  configurando o sistema partidário.
• O exercício do sufrágio é naturalmente visto como o elemento principal em
que a participação política se traduz  porém, esta tem um grau de
abrangência muito mais amplo, podendo incluir os mecanismos de
democracia direta, a iniciativa legislativa popular, a participação em
campanhas eleitorais, os vários modos de pressão sobre os representantes
eleitos, a participação e militância em partidos, associações políticas e grupos
de interesses, o exercício dos direitos de reunião, de manifestação e de
expressão ou, até, a desobediência civil ( e o direito de resistência, como
formas de “participação não convencionais”).

2. Em segundo lugar, as eleições produzem representação  já que só este


mecanismo permite resolver a distância entre a titularidade do poder,
que pertence ao povo, e o exercício do poder em seu nome.
• Até devido à complexidade das tarefas que os Estados modernos são
chamados a desenvolver  que, evidentemente, não permitem a participação
diária e imediata dos cidadãos nas decisões políticas  porém, nada impede
de que pontualmente recorram a instrumentos como o referendo ou a
iniciativa legislativa.
• Como os eleitos tomam decisões em nome do povo  as eleições cumprem,
também, uma tarefa relevante no processo de seleção e renovação dos
representantes políticos, no recrutamento das elites políticas e na expressão
institucional do pluralismo político da sociedade, na medida em que
refletem, de forma pacífica, interesses heterogéneos e conflituais.

3. Em terceiro lugar, as eleições geram governo  isto é, permitem que um


determinado grupo ou grupos, correspondentes a correntes de opinião política
(um partido ou vários partidos coligados) assumam a direção do poder
executivo.
• Nos sistemas parlamentares  a eleição dos deputados determina quem
acederá ao poder executivo; nos sistemas presidências  é escolhido o chefe
do governo (também chefe do Estado), que depois com maior ou menor
grau de liberdade, formará a sua equipa; nos sistemas semi-presidencialistas
 geralmente, é exigida a intervenção na instituição do governo dos dois
órgãos que gozam de legitimidade democrática direta: o chefe do Estado e o

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parlamento  assim, pode dizer-se que as funções do Estado são levadas a


cabo por representantes escolhidos pelo povo, de forma direta ou indireta.
• Com a escolha de uma maioria  as eleições também identificam uma
minoria, que cumpre o papel da oposição ao executivo, controlando-o e
fiscalizando-o  a democracia assenta igualmente na ideia de alternância, ou
seja, na possibilidade real de virem a ser poder aqueles que antes eram
oposição através de novas eleições.
• Por último  as eleições determinam uma orientação global quanto às
políticas públicas a prosseguir  já que a definição de orientações, mais
conservadoras ou mais progressistas, de conteúdo mais liberal ou mais
socializante, de maior ou menor intervencionismo estatal  decorre das
escolhas então produzidas pelos cidadãos.

4. Em quarto lugar  as eleições oferecem legitimação.


• A vontade política manifestada por via eleitoral, que pressupõe a decisão
livre e informada da maioria dos cidadãos  é a única via legitimadora do
poder político.
• “O objeto fundamental dos sistemas eleitorais á a legitimação do poder
político, a concessão a esse poder de uma auctoritas suficiente que legitime
o exercício da sua potestas” – Juan Hernandez Bravo.
• Nos dias de hoje, esta função tem maior alcance  devido aos meios de
comunicação  que oferecem um espaço público de confrontação de opiniões
 proporcionando uma visão mais ampla da ação política entre duas eleições
 e isto graças ao processo de interação que aqui se abriu, mediatizado pelos
órgãos de comunicação social, por vezes com recurso a sondagens ou
interpretando os movimentos sociais, entre os cidadãos (via opinião pública) e
as elites políticas (governantes) , que permite legitimar (ou não) essa ação.
• Todos estes fatores contribuem, de forma decisiva, para o processo de
socialização política  ou seja, funcionam como modo de incorporação numa
dada sociedade política dos valores e princípios democráticos que a regem.

3. Eleições, direito eleitoral e sistema eleitoral

➢ Direito eleitoral e sistema eleitoral  são conceitos que traduzem leituras diversas do
mesmo fenómeno.
• Por Direito eleitoral  entende-se o conjunto de comandos jurídicos,
positivos ou consuetudinários  que regulam a designação, por sufrágio, de
representantes para cargos políticos.
• Já o sistema eleitoral  compreende a totalidade das normas, das técnicas e
dos procedimentos que se aplicam desde a abertura do processo eleitoral até
à proclamação dos resultados  incluindo os modos de distribuição dos
assentos parlamentares.
• Porém, há um significativo campo de sobreposição entre ambos  desde logo
porque quase sempre subjazem às questões relativas ao sistema eleitoral
postulados de índole jurídico-constitucional.

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➢ Os tipos de votação variam muito de Estado para Estado  e, até, no interior de cada
um  daí que se possa falar em eleições nacionais, em eleições regionais, em
eleições locais (autárquicas) e em eleições referendárias (sufrágio referendário).

➢ Nos atos de caráter nacional, cumpre separar, quanto aos titulares do poder político
a designar  as eleições para as assembleias representativas e as eleições para
Presidente da República.

➢ Em relação ao fracionamento de territorial  distinguem-se as eleições no quadro


nacional e as eleições no contexto de círculos ou circunscrições eleitorais.
• No primeiro caso  é considerada como único círculo eleitoral a totalidade do
território do Estado (pode-se, no entanto, admitir-se circunscrições fara dele,
para votação de nacionais residentes no estrangeiro).
• No segundo caso  é necessária uma delimitação de critérios claros e
transparentes, visto que “a divisão do Estado em circunscrições eleitorais
provoca inevitavelmente desigualdades de representação relativamente
à repartição de lugares entre as mesmas” - Cotteret e Emeri.

➢ Para que a representação fosse teoricamente perfeita  cada eleito deveria


representar exatamente o mesmo número de eleitores.
Ex: Num círculo eleitoral que elege 5 deputados, com a participação de 500 cidadãos,
cada eleito representa 100 pessoas  mas, se um representante é eleito por 50
pessoas, enquanto no círculo eleitoral ao lado é escolhido por 150 pessoas, é
evidente que o primeiro grupo de cidadãos se encontra três vezes melhor
representado do que o segundo.

➢ Nas eleições regionais, também se pode colocar a questão da divisão dos círculos,
sempre e quando aí seja necessário proceder à sua delimitação (ex: designação
dos deputados à assembleia legislativa regional dos Açores)  já no que diz
respeito às eleições locais, o problema encontra-se solucionado “ex natura”, por
força da circunstância de cada autarquia corresponder a um círculo.

➢ Os processos referendários que podem também apresentar uma configuração


nacional, regional ou local  são formas de decisões de temas concretos que
envolvem a direta participação dos eleitores  pela especificidade que reveste, trata-
se de instituto merecedor de tratamento autónomo.

➢ A democracia prossupõe a celebração das eleições que se concretizam


primacialmente pelo sufrágio, que pode ser definido como o ato da escolha através
do voto, o qual deve ser visto como um direito político fundamental, mas também
como uma expressão sociológica das opções e preferências dos cidadãos.

4. O direito de sufrágio e a abstenção eleitoral

➢ A capacidade eleitoral  é um conceito que se desdobra em duas dimensões distintas:


uma ativa, que traduz a possibilidade de participar no sufrágio  e outra passiva, que
tem a ver com a suscetibilidade se ser candidato e, eventualmente, eleito.

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➢ A abstenção eleitoral  relaciona-se com a capacidade eleitoral ativa e traduz-se na


ausência do exercício do direito de voto por parte dos cidadãos que dele gozam  e a
sua ocorrência, com taxas cada vez mais significativas, funda-se em razões muito
variadas:
• Pode ser devido a atitude consciente e deliberada do cidadão  por não
concordar com as eleições, por manifestar reservas face ao sistema
democrático, por não ter qualquer interesse na vida política ou por não
se rever em nenhuma das propostas eleitorais que lhe são apresentadas.
▪ É a chamada abstenção voluntária, frequente manifestação daquilo
que tem vindo a ser qualificado como apatia política;
• Pode ser traduzida por circunstâncias alheias à vontade do cidadão  porque
o recenseamento eleitoral está incompleto ou errado ou porque, na data das
eleições, uma qualquer impossibilidade insuperável, de natureza objetiva ou
de índole subjetiva, inviabiliza o voto (acidente, doença, cataclismos naturais,
causas laborais), ao menos sempre que nestes últimos casos, não sejam
admitidas soluções que permitam votar antecipadamente, por representação
ou por correspondência.
▪ É aquilo que se designa por abstenção técnica.

➢ Porém, estas não são as únicas formas de o cidadão se recusar a tomar parte
na decisão eleitoral  é, também, possível evitar expressar qualquer
preferência e intervir à mesma no processo através do voto branco e do voto
nulo.
• O voto em branco  corresponde ao boletim que não tenha sido objeto de
qualquer tipo de marca.
• O voto nulo  é uma expressão irregular de vontade, porque é concretizado
em desconformidade com a lei eleitoral, podendo traduzir o erro ou a
ignorância do eleitor ao votar, mas também uma forma de protesto de
quem, sabendo como se vota, decide conscientemente invalidar o boletim
(ex: ao assinalar várias opções quando apenas uma é autorizada ou ao
efetuar desenhos ou rasuras).
Assim, a abstenção ativa  principalmente no caso do voto branco e do voto nulo
(quando este assume forma de protesto), constitui um modo de expressar a rejeição
do regime político, das eleições ou das várias listas ou partidos concorrentes  mas
não se pode esquecer, que nalguns países, os votos brancos/nulos apesar de serem
considerados para a totalidade dos sufrágios não são contabilizados para efeito do
apuramento dos resultados, dado a serem incluídos na categoria de sufrágios que não
se consideram validamente expressos (ex: votos brancos nas eleições presidências –
n.º 1 do art. 126.º da constituição).

➢ A abstenção ativa  permite monitorizar a evolução dos processos democráticos e


apurar o grau e consistência da crise da representação partidária.

5. Características do sufrágio

➢ Os contornos que atualmente caracterizam, em termos gerais, o sufrágio democrático


são:

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• a universalidade;
• a igualdade;
• o secretismo;
• a liberdade;
• o caráter direto;
• a periodicidade.

5.1. Universalidade
➢ A par da herança (designação por sucessão ex: monarquias), da cooptação (alguns dos
titulares de um órgão são designados pelos demais titulares desse mesmo órgão ex: os
3 juízes do Tribunal Constitucional que são designados pelos 10 que foram eleitos pela
assembleia da República), da nomeação (designação do titular de um órgão pelo
titular de outro órgão ex: o Primeiro-Ministro que é escolhido pelo Presidente da
República) e da inerência (a qualidade de titular de um órgão surge como efeito
automático da titularidade noutro órgão ex: o Presidente da Assembleia da República,
o Primeiro- Ministro, entre outros, são também membros do Conselho de Estado)  a
eleição aparece como uma das mais correntes formas de designação de titulares de
cargos políticos  caracterizando-se pelo facto de a escolha ser feita através da
expressão dos votos de uma pluralidade de pessoas.

➢ Saber quem pode exercer o direito de voto é determinar o corpo ou colégio eleitoral
 contudo, o universo dos eleitores é variável, uma vez que cada Estado edita a sua
própria legislação, de modo a determinar a respetiva latitude.
Assim, a reivindicação da universalidade do sufrágio, desenvolvida em paralelo com a
luta pela democracia representativa e pelo constitucionalismo  traduziu a exigência
daqueles que se encontravam excluídos da participação política ou dela beneficiavam
em termos muito limitados  porém, isso não impede que se deva reconhecer que,
tratando-se de uma escolha jurídico-legal, a sua maior ou menor extensão depende
também dos interesses daqueles que, em cada momento, exercem o poder político
 e só tendo isso em conta é que é possível compreender porque é que tal
alargamento foi, várias vezes contrabalançado por mecanismos que previam eleições
em mais de um grau (indiretas), retirando assim poder real ao eleitor de base.

➢ No sec. XIX  apenas uma pequena parte da população podia votar.


O sufrágio era restrito com base em quatro tipos de fundamentos:
• De estatuto económico  por implicar a propriedade de bens de raiz ou a
perceção de uma renda (sufrágio censitário);
• De nível de conhecimentos  por exigir um determinado grau de instrução,
excluindo, por exemplo, os que não soubessem ler e escrever (sufrágio
capacitário);
• De género por ser atribuído só aos cidadãos do sexo masculino maiores (e
negado às mulheres, alegando que o combate político é próprio dos
homens);
• De raça  por ser limitado a pessoas brancas, dele banindo as demais.

➢ Acontece que, por um lado a maioria dos cidadãos vivia numa situação de pobreza ou
de limitadas posses económicas  e por outro, o analfabetismo atingia níveis bastante
elevados  pelo que a exigência de um determinado índice de rendimento ou de
educação condicionava o número daqueles que podiam votar.

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E foi a pressão da classe trabalhadora (levada a cabo pelos sindicatos e pelos


partidos com maior influência nos meios operários) que acabou por conduzir a um
progressivo recuo, no plano eleitoral  deste tipo de discriminações socialmente
fundadas.

➢ A situação só começou a evoluir  a partir da segunda metade do séc. XIX com


significativos avanços e recuos.
A constituição francesa de 1793  reconheceu o sufrágio universal masculino e só
depois da Iª Guerra Mundial é que o mesmo se veio a estender pela europa.
Já a introdução do voto feminino ocorreu bem mais tarde  e com várias restrições
por comparação com o voto masculino  hoje em dia, e no contexto dos regimes
democráticos, são virtualmente inexistentes as situações de discriminação sexual
quanto ao direito de voto.
Também no que diz respeito às discriminações em função de características étnicas
 o avanço foi bastante lento  por exemplo, no caso dos EUA, a questão só ficou
resolvida em 1965, com a adoção do “Voting Rights Act”.

➢ No que toca à idade  a tendência é a de equiparar a maioridade civil à maioridade


eleitoral.

➢ Em suma, a regra geral, hoje  é a de que o sufrágio é universal.


Contudo, isto não significa que todos possam votar  o sufrágio diz-se universal
quando o conjunto dos cidadãos tem direito de voto, sem que ninguém possa ficar
excluído por razões arbitrárias ou discriminatórias  porém, a verdadeira
universalidade implicaria o reconhecimento da capacidade eleitoral a todos sem
qualquer tipo de restrição, o que não é possível devido ao facto de existirem pessoas
que não têm capacidades para votar  como por exemplo os menores e aqueles que
apesar de maiores são afetados pelas incapacidades eleitorais.
Assim, nos Estados Modernos subsistem apenas restrições objetivamente fundadas
 como é o caso da alienação mental judicialmente reconhecida, da incapacidade civil
genérica, também se confirmada pelos tribunais, da condenação pela prática de crime
ou delito grave ou da comissão de certos ilícitos eleitorais.

5.2. Igualdade

➢ O sufrágio igual  significa que todos os votos devem ter a mesma eficácia jurídica, isto
é, o mesmo peso (“uma pessoa um voto”) e surge como corolário de uma das traves
mestras do Estado de Direito Democrático, “in casu” o princípio da dignidade humana.

➢ A igualdade pode e deve ser encarada na perspetiva da igualdade substancial  ou seja, a


de “igual valor do resultado”  isto quer dizer que o objetivo pretendido deve ser que
cada eleito, represente de forma proporcional, o mesmíssimo número de eleitores, algo
que ainda assim não pode nunca ser atingido, principalmente por razões de ordem prática
 e que se encontra à partida excluída nos sistemas políticos que optam pela consagração
das chamadas cláusulas-barreira, prevendo que a atribuição de mandatos, especialmente
parlamentares fica dependente da obtenção de uma percentagem eleitoral mínima.

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5.3. Secretismo

➢ O secretismo do sufrágio  constitui “conditio sine qua non” para garantir a


genuinidade da eleição  protegendo assim a autonomia de decisão de cada cidadão
e evitando a manipulação ou influência de terceiros, que o voto público facilita 
pois cada um deve poder dar plena expressão às suas convicções no ato de votar, sem
receios nem constrangimentos.

5.4. Liberdade

➢ A ideia de liberdade  relaciona-se aqui com a margem de discricionariedade reconhecida


ao cidadão no que toca à participação no ato eleitoral  significa que não pode ser
exercida qualquer pressão sobre os eleitores, quer no sentido de votarem, quer de se
absterem de o fazer, deixando-os optar pela opção que considerem mais adequada.
Contudo, há países, como é o caso da Austrália ou da Bélgica  onde existem
ordenamentos jurídicos que impõem a comparência do eleitor às urnas sob pena de
sanções pecuniárias ou meramente cívicas, é o chamado sufrágio obrigatório  trata-
se de uma tentativa de resolver o fenómeno do absentismo eleitoral  mas que
apresenta sérios inconvenientes, originando um retrato ilusório da participação
eleitoral.

➢ A liberdade de voto  prende-se com a sua natureza pessoal  já que, se trata de um


requisito assente em quase todas as legislações e que implica o seu exercício pelo
respetivo titular  vedando em consequência o recurso a qualquer tipo de
mecanismos de representação, seja ela legal ou voluntária.

➢ O voto presencial  exige que o cidadão compareça pessoalmente na assembleia de


voto  porém, apesar de essa ser a solução normal, existem exceções, como é o caso
do voto antecipado  ao qual se pode recorrer no caso de existir uma impossibilidade
inultrapassável de comparência na assembleia de voto no dia do sufrágio e do voto
por correspondência.

5.5. Natureza direta

➢ O conceito de sufrágio direto  envolve a ideia de que cabe ao primeiro eleitor


escolher os representantes que quer ver designados  excluindo a instituição de
qualquer instância intermédia com o direito de decidir em definitivo quem
aqueles são.

5.6. Periocidade

➢ O exercício do sufrágio deve assumir natureza regular  uma vez que a necessidade
de impedir a perpetuação no poder dos respetivos titulares se encontra inscrita no
código genético do regime democrático.

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6. O sufrágio em Portugal
➢ A Constituição Portuguesa  estabelece que o poder político se exerce, entre outras
formas  através do sufrágio universal, igual, direto, secreto e periódico (n.º 1 art.
10.º).

➢ A universalidade é consagrada  no n.º 1 do artigo 49.º da Constituição  que


confere o direito de voto a todos os cidadãos, maiores, de dezoito anos  nesses termos
fica delimitada tanto a capacidade eleitoral ativa, quanto a passiva, exceto no caso das
eleições presidenciais, uma vez que esta é estabelecida aos 35 anos (art. 122.º).

➢ A lei fundamental permite a consagração de incapacidades eleitorais  que o


legislador ordinário veio a impor:
• Aos que apresentem notoriamente limitação ou alteração grave das
funções mentais  ainda que não sujeitos a acompanhantes, quando
internados em estabelecimento psiquiátrico ou como tal declarados por
uma junta de dois médicos;
• Aos que estejam privados de direitos políticos  por decisão judicial
transitada em julgado.

➢ As incapacidades eleitorais passivas  dividem-se em dois grupos:


• As gerais  que impedem a candidatura em quaisquer circunstâncias;
▪ Incluem-se, para além daqueles que não gozam de capacidade
eleitoral ativa  o Presidente da República, os magistrados judiciais e
do Ministério Público em efetividade de funções, bem como os demais
juízes em exercício de funções, os militares e os elementos das forças
militarizadas do quadro permanente que se encontrem no ativo, os
diplomatas em efetividade de funções ou aqueles que exerçam
funções diplomáticas à data da apresentação.
• E especiais  que apenas a vedam em situações em que o hipotético
candidato pudesse, em função do estatuto que goza, beneficiar
indevidamente de uma específica capacidade de influência.
▪ Impede-se a eleição, mas apenas no círculo eleitoral onde exerceram
a sua atividade  dos diretores e chefes de repartição de finanças,
bem como dos ministros de qualquer religião ou culto que aí
detenham poderes de jurisdição.

➢ No que diz respeito à igualdade do valor do voto  ela surge como consequência
direta do princípio geral da igualdade  consagrado no art. 13.º da Constituição.
A igualdade de resultado  levou à consagração da proibição das cláusulas-barreira
nas eleições para a Assembleia da República (n.º 1 do art. 152.º da Constituição).

➢ O secretismo também é acolhido  já que não é autorizado qualquer modo de


identificação do sentido do voto.

➢ O n. º2 do art. 49.º da Constituição  define o direito de sufrágio como um dever


cívico  sendo assim o seu exercício livre, configurando-se como um verdadeiro
direito e não como uma obrigação legal.

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➢ A pessoalidade do voto é consagrada no n.º 2 do art. 49.º da Constituição  excluindo


deste modo o voto por representação.

➢ A presencialidade do voto é requerida, pelo menos como regra geral não


impedindo em situações excecionais a previsão do voto antecipado ou que por razões
de incremento da participação, se acolha o voto por correspondência (embora isto só
seja possível no caso dos cidadãos residentes no estrangeiro e apenas no sufrágio da
Assembleia da República).

➢ O caráter direto é imposto em todos os atos eleitorais  uma vez que em nenhum é
prevista a constituição de corpos intermédios, assegurando assim a existência de
uma relação imediata de designação entre representantes e representados.

➢ O princípio republicano  acolhido pela nossa lei fundamental, apresenta como


corolário lógico  a insusceptibilidade do caráter vitalício dos mandatos e impõe, por
isso, a sua renovação periódica (5 anos no caso do Presidente da República e 4
quando se trate dos deputados).

7. Os círculos eleitorais

➢ A eleição pode ter como referência um círculo nacional  como acontece em


Portugal com as eleições para o Presidente da República e para o Parlamento
Europeu.

➢ Contudo, a solução mais comum é a instituição de vários círculos  traduzindo a


existência de um conjunto de eleitores normalmente ligados a uma unidade
territorial pelo critério da residência, que constitui o universo regra do exercício do
direito de voto e que serve de base à organização do processo eleitoral e à
distribuição dos mandatos.
Tais círculos podem ser  uninominais (quando designam apenas 1 deputado)  ou
plurinominais (quando designam no mínimo 2 deputados).

➢ Os círculos eleitorais agrupam e distribuem o corpo ou colégio eleitoral  que resulta da


soma de todos os que têm capacidade eleitoral ativa e se encontrem inscritos no registo
pertinente para votar  daí que o recenseamento eleitoral seja uma condição necessária
para o exercício do direito de voto  este pode ser promovido pelo Estado oficiosamente
ou depender da vontade dos cidadãos  em Portugal, a constituição qualifica o
recenseamento como oficioso, obrigatório, único e permanente para todas as eleições 
a revisão operada pela Lei n.º 47/2018 passou a determinar a inscrição oficiosa e
automática de todos os cidadãos maiores de 17 anos possuidores do cartão de cidadão 
ainda assim, os cidadãos residentes no estrageiro podem a qualquer momento solicitar o
cancelamento da inscrição no recenseamento automático.

➢ A divisão em círculos eleitorais deve assentar em fatores objetivos  quer sejam de


ordem demográfica, de natureza geográfica ou índole administrativa, mas nunca em

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critérios subjetivos e políticos  já que a sua delimitação concreta tem sido palco de
manipulações frequentes.

➢ Para evitar situações que frustram a justiça e a igualdade da representação  o


legislador deve:
a) Respeitar a geometria dos círculos eleitorais (de forma a evitar a
delimitação arbitrária ou a grandeza desigual);
b) Fazer uma repartição equitativa entre todos eles (devido ao princípio
da igualdade de voto na sua dimensão de resultado);
c) Aceitar e estrutura natural dos seus contornos (que deve assentar
em realidades geográficas ou administrativas pré-existentes).

➢ Um círculo pequeno  não deverá atingir valores superiores a 5 mandatos e um


círculo grande deverá designar 10 ou mais mandatos.
A distribuição dos mandatos por círculo deve ser equitativa  pois a dimensão dos
círculos está diretamente relacionada com a proporcionalidade do resultado eleitoral.
Uma circunscrição pequena  traduzirá um resultado não proporcional  e, por outro
lado, uma circunscrição maior  tenderá traduzir um resultado mais proporcional.

➢ A LEAR estabelece a coincidência entre  os círculos eleitorais do continente e os


distritos e define ainda dois círculos correspondentes às Regiões Autónomas (Açores
e Madeira) e outros dois respeitantes aos eleitores fora do território nacional (um
abrangendo o território europeu e outro todos os restantes países).

➢ A Constituição fixa  como coração da geometria dos círculos eleitorais  a regra da


proporcionalidade entre o número de Deputados por círculo e o número de cidadãos
eleitores nele inscrito.
Porém existem dois casos em que a proporcionalidade não se aplica: quando se trata
de um círculo nacional  e quando se trata dos círculos do estrangeiro, os quais
elegem sempre 2 deputados, independentemente do número concreto de eleitores
recenseados.

8. Sistemas eleitorais
➢ Na análise dos sistemas eleitorais é necessário considerar  pelo menos, os círculos
eleitorais, as formas de candidaturas, os modos de expressão do voto, as barreiras
eleitorais da exclusão e as fórmulas eleitorais.

➢ A forma de candidatura  pode ser unipessoal (singular) ou por lista  mas, para a
representação ser proporcional tem de ser feita pela segunda forma (por lista).

➢ As candidaturas por lista  podem assumir três modalidades distintas:


• Fechadas e bloqueadas  nas quais o eleitor não pode alterar a ordenação
pré-estabelecida, fazendo-se a atribuição dos mandatos pela ordem de
inscrição dos candidatos (Ex: Espanha ou Alemanha);
• Fechadas e não bloqueadas  caso em que o eleitor pode modificar total ou
parcialmente a ordem constante da lista em que vota, que através do voto

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preferencial, que pela colocação de um número de ordem em todos os


candidatos (Ex: Finlândia, Áustria, Holanda, Bélgica);
• Abertas  que permitem ao eleitor compor o seu voto, selecionando
candidatos de diferentes partidos e estabelecendo a preferência entre eles
(Ex: Suiça ou Luxemburgo).

➢ Existe uma distinção fundamental, nos modos de expressão dos votos  entre o voto
categórico (no qual o eleitor só pode votar num candidato ou num partido) e o voto
ordinal (em que o eleitor pode votar em candidatos de diversos partidos políticos e
até ordenar as suas preferências).
Situada no plano político existe também a distinção  entre voto sincero (no qual
aludimos às situações em que o eleitor manifesta o seu apoio ao candidato ou à lista
que constitui a sua verdadeira escolha) e o voto estratégico (em que o voto é atribuído
ao candidato ou à lista que menos lhe desagrada).
O voto estratégico  pode ser determinado por três tipos de situações:
• Porque, num sistema eleitoral de duas voltas, aquele em que
inicialmente votou não se apurou para esta fase;
• Porque, por força da própria configuração do sistema eleitoral, o eleitor é
fortemente condicionado a escolher a hipótese que menos contribua para
a desvalorização do seu voto (como acontece no sistema maioritário de
uma volta);
• Porque numa leitura racional, o eleitor opta por uma escolha que valorize a
força política que mais hipótese tem de atingir um resultado sólido (é aquilo
que se designa por voto útil).

➢ As cláusulas barreira  são frequentemente instituídas no âmbito dos sistemas


proporcionais, sendo variável o seu concreto limiar.

➢ A fórmula eleitoral  é a análise dos modos de escrutinio e da conversão dos votos


em mandatos.

8.1. Os sistemas maioritários


➢ Os sistemas maioritários  passam por um raciocínio muito simples: a eleição de quem
tiver ficado em primeiro lugar, ou seja, de quem tenha obtido o maior número de votos.
No entanto, o funcionamento do sistema pode implicar a realização de uma ou duas
voltas  consoante o que é pretendido, se é que a eleição seja legitimada apenas por
obtenção de maioria relativa ou se a mesma deve tender para a maioria absoluta.

➢ Em ordem a que cada voto apresente um peso idêntico ou similar  o território


nacional deve ser dividido em circunscrições aproximadamente iguais  por força disso
em número bastante significativo e de âmbito relativamente reduzido.

8.1.1. Sistema maioritário a uma volta


➢ O sistema maioritário a uma volta  também conhecido por maioria relativa é o
menos complexo de todos  na medida em que se traduz na designação direta do
candidato mais votado, independentemente da relação que se estabeleça entre o

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número de votos conseguidos e a dimensão do colégio eleitoral  é vigente, por


exemplo, nas eleições para a Câmara dos Comuns no Reino Unido.
A ideia é a de eleger quem ganha, sem olhar à respetiva representatividade relativa.
Exemplo:
Sufrágios- 75 000

Votos obtidos: Assim, é designado o candidato Silva


Silva- 30 000 por ter obtido a maioria relativa,
Sousa- 25 000 apesar de o apoio de 60% do colégio
Saraiva- 20 000 eleitoral (isto é, os outros 45
000 eleitores) lhe ter sido
recusado

8.1.2. Sistema maioritário a duas voltas


➢ Nenhum sistema maioritário envolve por natureza  o recurso a duas voltas.
Até aqueles que apontam nesse sentido se podem satisfazer com a realização de um
só escrutinio  caso neste o candidato mais votado obtenha logo a maioria absoluta
dos sufrágios expressos.

➢ Só no caso de, na primeira volta, nenhum candidato atingir a maioria absoluta é que
se procederá a uma segunda volta  a esta terão acesso os dois candidatos mais
votados na primeira, de forma a garantir que o vencedor obtenha a maioria absoluta
dos sufrágios expressos.
Exemplo:
Primeira volta
Sufrágios expressos 75 000

Votos obtidos:
Reis-32 000 Devido ao resultado obtido, prosseguem para
a Rosário-25 000 segunda volta os candidatos Reis e Rosário,
Resende- 18 000 sendo dela excluído o candidato Resende.

Segunda volta
Sufrágios expressos- 75 000
Votos obtidos:
Rosário- 38 000 Face a este resultado, Rosário é o candidato
Reis- 37 000 eleito, apesar de na primeira volta ter
ficado
em segundo lugar, podendo assim concluir-se
que, a sua vitória foi devido ao facto de
agregar um maior número de segundas
escolhas do candidato Resende que foi
retirado após a primeira volta.

➢ Assim, o sistema a duas voltas envolve  por regra, apenas o apuramento das duas
candidaturas mais votadas para a segunda volta  porém, há situações em que a
todos os que no primeiro escrutinio obtenham um determinado mínimo dos
sufrágios expressos (12,5%) é assegurada a passagem à segunda volta (ex: sistema
francês). Contudo, por razões políticas a pratica tem demonstrado ser mais frequente
 que a segunda volta seja disputada apenas pelas duas candidaturas mais votadas.

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➢ O sistema maioritário pode funcionar também através do recurso ao voto alternativo


ou preferencial (ex: eleição da câmara baixa na Austrália)  nestes casos, o eleitor
vota num candidato, mas ordena os restantes de acordo com a sua preferência 
assim, se em dado círculo eleitoral, um candidato entre 4 concorrentes, por
exemplo, obtiver a maioria absoluta de votos, a designação fica imediatamente feita
 mas, se esse patamar não for atingido, procede-se, numa segunda fase, à
exclusão do candidato que registou o menor número de apoio, transferindo-se os
votos por ele obtidos para as segundas preferências manifestadas pelos eleitores
que o colocaram em primeiro lugar  e, se necessário, assim sucessivamente até
que um candidato alcance a maioria absoluta.

➢ As vantagens do escrutinio maioritário  passam pela evidente simplicidade do modo


como funciona  e que, por isso, contribui para a estabilidade governamental, na
medida em que gera mais facilmente a obtenção de maiorias absolutas, aproxima os
candidatos dos eleitores (o eleito representa realmente os seus eleitores que ficam a
saber quem é o “seu” deputado) e diminui a influência dos partidos na designação
dos eleitos.
Contudo, tem também relevantes aspetos negativos  já que em determinadas
situações este sistema pode ser considerado injusto e imoral, sobretudo quando de
trata do modelo a uma só volta  por exemplo: um país imaginário repartido em três
círculos eleitorais, em que só dois partidos concorreriam – O Partido da Direita e o
Partido da Esquerda:

Partidos Círculos Resultados


A B C
Direita 20.000 10.000 18.000 2
Esquerd 15.000 25.000 17.000 1
a

Constata-se que o partido da Direita elege 2 deputados com 48 mil votos  enquanto
o partido da Esquerda, apesar de registar um número superior de preferências,
obtém apenas 1 deputado.

Também ao escrutinio com duas votações se apontam aspetos negativos  como o


facto de a segunda volta ser muitas vezes objeto de negociações pouco claras  em
que certos candidatos “vendem” as suas desistências pela maior oferta política  e
também, tende a gerar menor participação política, já que muitos eleitores não se
disponibilizam a participar num sufrágio em que já não está presente o candidato da
sua preferência e pode ainda gerar diversas injustiças.

8.2. O sistema proporcional

➢ Diferentemente do que acontece com os sistemas maioritários  os proporcionais


radicam na atribuição a cada partido ou lista concorrente de um número de
mandatos determinado em função direta da respetiva expressão eleitoral, ou seja,
dos votos conseguidos  assim, enquanto os primeiros assentam no conceito de
exclusão dos vencidos, os segundos propiciam uma repartição mais equitativa dos
manda entre os

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diversos concorrentes, outorgando naturalmente mais lugares aos mais votados, mas
permitindo, ao mesmo tempo, que os que atingem um resultado mais modesto
possam, apesar de tudo assegurar representação  daí que os sistemas proporcionais
sejam apenas compativeis com o sufrágio de lista e, simultaneamente com a existência
de círculos plurinominais de apuramento, não podendo, por isso, a eleição para cargos
singular ocorrer desta forma.

➢ Assim como sucede com os sistemas maioritários  os proporcionais também podem


ser construídos por recurso a modos de cálculo distintos  quatro das soluções
concretas a que se pode recorrer no cálculo da transformação de votos em mandatos
são: a representação proporcional integral, o método do maior resto, o método da
maior média e o método da média mais alta de Hondt.

8.2.1. Representação proporcional integral

➢ Esta funciona a nível nacional  estando por isso ligada à existência de uma única
circunscrição eleitoral.
Exemplo: uma situação em que o número de votos expressos é de 10 000 000, o
número de representantes a eleger de 250 e a repartição dos votos é a seguinte:

Partido A- 4 000 000


Partido B- 3 400 000
Partido C- 2 000 000
Partido D- 600 000

Na atribuição de mandatos o primeiro passo consiste em determinar o quociente


eleitoral (QE)  procedendo-se, para isso, à divisão do número de sufrágios expressos
(NSE), pelo número de representantes a eleger (NRE):

QE= NSE + NRE = 10 000 000 ÷ 250 = 40 000

Encontrado o quociente eleitoral  a fase seguinte consistirá, muito simplesmente, na


divisão do número de sufrágios de cada partido por esse quociente, atribuindo-se
consequentemente a quantidade de mandatos que decorrer dessa operação:

Partido A - 4 000 000 ÷ 40 000 = 100


Partido B - 3 400 000 ÷ 40 000 = 85
Partido C - 2 000 000 ÷ 40 000 = 50
Partido D - 600 000 ÷ 40 000 = 15

Na prática a representação proporcional integral  é estatisticamente inaplicável, uma


vez que pressupõe que as divisões operadas não gerariam restos, o que nunca sucede.

8.2.2. Método do maior resto

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➢ Diferentemente da representação integral  os restantes métodos pressupõem um


número variável de círculos  pelo que o cálculo da distribuição dos mandatos terá de
ser feito em relação a cada um deles.
Assim, nestes exemplos recorreremos sempre aos mesmos valores quantitativos 
pois isso permitirá compreender, de forma mais próxima, como os resultados da
conversão de votos em mandatos podem ser influenciados pela simples mudança de
cálculo.

Exemplos:
Uma determinada circunscrição elege oito representantes e os sufrágios expressos
(30 000) distribuem-se pelas listas concorrentes da seguinte forma:

Partido A – 95 000
Partido B – 80 000
Partido C – 55 000
Partido D – 47 500
Partido E – 22 500

O passo inicial  será a determinação do quociente eleitoral, em termos semelhantes


aos da proporcionalidade integral:

QE= NSE + NRE = 300 000 ÷ 8 = 37 500

Em seguida, procede-se à divisão do número de votos registados por cada lista


pelo quociente eleitoral obtido  atribuindo-se também um mandato por cada vez
que esse quociente seja atingido:

Partido A – 95 000 ÷ 37 500 = 2 (resto -20 000)


Partido B – 80 000 ÷ 37 500 = 2 (resto -5 000)
Partido C – 55 000 ÷ 37 500 = 1 (resto -17 500)
Partido D – 47 500 ÷ 37 500 = 1 (resto -10 000)
Partido E – 22 500 ÷ 37 500 = 0 (resto -22 500)

Ao dividir os votos pelo QE apenas se conseguiu a alocação de seis dos oito mandatos
do círculo em causa  ao mesmo tempo, uma significativa parte dos sufrágios (75 000)
não gerou qualquer representação  por isso, numa segunda fase, proceder-se-á à
atribuição dos mandatos ainda em falta elencando, de forma decrescente, os restos
não utilizados  e como são apenas dois os lugares remanescentes, é a esses que
serão atribuídos os lugares em falta  ou seja, um lugar caberá ao partido E (22 500) e
outro ao partido A (20 000)  em consequência disso o resultado final será o seguinte:
Partido A- 3
Partido B- 2
Partido C- 1
Partido D- 1
Partido E- 1

8.2.3. Método da maior média

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➢ A diferença deste método em relação ao anterior é que não se procede à


distribuição dos lugares sobrantes pelos maiores restos  mas sim à procura de uma
nova média, que é calculada adicionando uma unidade ao número de lugares obtidos
na primeira fase.
Exemplo:
Primeira fase Segunda fase
Partido A – 95 000 ÷ 37 500 = 2 Partido A – 95 000 ÷ (2+1) = 31 666
Partido B – 80 000 ÷ 37 500 = 2 Partido B – 80 000 ÷ (2+1) = 26 666
Partido C – 55 000 ÷ 37 500 = 1 Partido C – 55 000 ÷ (1+1) =27 500
Partido D – 47 500 ÷ 37 500 = 1 Partido D – 47 500 ÷ (1+1) = 23 750
Partido E – 22 500 ÷ 37 500 = 0 Partido E – 22 500 ÷ (0+1) = 22 500

Com base neste apuramento  avança-se para a administração de um lugar, através


da escolha da maior média que é, neste caso, a do partido A (31 666).
Contudo, continua em falta o oitavo mandato e para resolver esse problema 
recorre-se novamente ao processo seguido na segunda fase, dividindo-se de novo o
número de votos de cada partido pelo número de representantes já eleitos, incluindo
o apurado na fase anterior.

Terceira fase
Partido A – 95 000 ÷ (3+1) = 23 750
Partido B – 80 000 ÷ (2+1) = 26 666
Partido C – 55 000 ÷ (1+1) =27 500
Partido D – 47 500 ÷ (1+1) = 23 750
Partido E – 22 500 ÷ (0+1) = 22 500

Aplicando-se o mesmo critério da maior média, o lugar remanescente caberá


ao partido C (média de 27 500), dando lugar ao seguinte apuramento final:
Partido A – 3
Partido B – 2
Partido C – 2
Partido D – 1
Partido E – 0

A opção pelo método da maior media  afeta só por si a distribuição dos mandatos e
a representatividade relativa dos partidos políticos.

8.2.4. Método da média mais alta de Hondt

➢ No método de Hondt  determina-se um repartidor que permita, “através da divisão


do número de votos de cada partido por esse número repartidor, a obtenção direta
do número de lugares que deve ser afetado a cada partido”  e, para o definir,
procede-se à divisão dos votos de cada lista, sucessivamente, de 1 até n, sendo n o
número de lugares que cabe a cada circunscrição eleitoral.
Exemplo:
Recorrendo ao exemplo anterior, neste caso teremos de fazer a divisão dos
votos registados por cada lista desde 1 até 8, por ser este o número n, isto é, o
total de representantes que cabem ao círculo em causa.

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1 2 3 4 5 6 7 8
A 95 000 47 500 31 666 23 750 19 000 15 833 13 571 11 875
B 80 000 40 000 26 666 20 000 16 000 13 333 11 428 10 000
C 55 000 27 500 18 333 13 750 11 000 9 166 7 857 6 875
D 47 500 23 750 15 833 11 875 9 500 7 916 6 785 5 937
E 22 500 11 250 7 500 5 625 4 500 3759 3 214 2 812

Em seguida  procede-se à ordenação, por ordem decrescente, das médias obtidas


até à oitava: 95 000, 80 000, 55 000, 47 500, 40 000, 31,666 e 27 500. Este último
número corresponde ao repartidor a utilizar para determinar a distribuição dos
mandatos, prosseguindo-se então para a divisão por ele dos votos de cada lista:
Partido A – 95 000 ÷ 27 500 = 3
Partido B – 80 000 ÷ 27 500 = 2
Partido C – 55 000 ÷ 27 500 = 2
Partido D – 47 500 ÷ 27 500 = 1
Partido E – 22 500 ÷ 27 500 = 0

➢ Uma alternativa muito simples é a de proceder diretamente à hierarquização de


todas as médias assim obtidas  correspondendo as 8 primeiras aos mandatos a
preencher, permitindo ao mesmo tempo descobrir o número alcançado por cada
lista.

➢ O sistema proporcional funciona  geralmente, através de listas fechadas, razão pela


qual a ordenação de lugares no interior da lista escapa ao eleitor, que fica à mercê
das decisões partidárias, que podem impor candidatos com pouco apoio popular.
Esta situação pode ser corrigida através do voto preferencial.

➢ O sistema proporcional tem como vantagens  a equidade que reveste, a


possibilidade da representação das minorias, o facto de favorecer o escrutinio de
ideias em vez da escolha de pessoas e a honestidade que apresenta, na medida em
que a ausência de uma segunda votação exclui as negociações que esta normalmente
envolve.
Contudo, também são diversas as desvantagens que contra ele podem ser invocadas
 a instabilidade governativa que induz, a pulverização partidária que facilita, o facto
de potenciar o domínio da oligarquia partidária na elaboração das listas eleitorais, o
afastamento entre eleitores e eleitos que ocasiona e a fragmentação da opinião
pública que propicia.

8.3. Sistemas mistos

➢ O reconhecimento de que tanto os sistemas mistos como os sistemas proporcionais


apresentam aspetos negativos e positivos  tem levado à construção de soluções
híbridas, conhecidas como os sistemas mistos  que procuram valorizar as vantagens
de ambos os sistemas e ao mesmo tempo evitar os seus inconvenientes.

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➢ Existem sistemas mistos de predominância  de prevalência proporcional e de


natureza equilibrada.

➢ Os sistemas mistos  apresentam prós e contras.


Como prós  têm a conciliação da proporcionalidade do voto com a aproximação
entre deputados e eleitores, a facilitação da criação de maiorias e a maior abertura à
possibilidade de candidaturas independentes.
Os contras  passam pela dificuldade em constituir o círculo nacional (ou círculos
estaduais), em ordem a favorecer o surgimento de maiorias sem prejudicar os partidos
pequenos, o eventual estabelecimento de uma distinção entre deputados de primeira
(eleitos a nível local) e de segunda (a nível nacional) e o acréscimo de dificuldades que
o seu funcionamento envolve, quer para os eleitos, quer para o apuramento dos votos.

8.4. Apreciação global


➢ Temos de um lado países como Portugal, Espanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca,
Finlândia, Islândia, Israel, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Suécia e Suíça  do outro,
Estados como o Canadá, os E.U.A., o Reino Unido, a França e a Austrália  ou seja, as
democracias atuais dos países desenvolvidos parecem inclinar-se para a
representação proporcional, deixando o sistema maioritário reduzido aos países de
influência britânica, com exceção da França (embora com presença relevante de
elementos maioritários no quadro dos sistemas mistos).

➢ Para além da divergência no que toca á fórmula de conversão dos votos em mandatos
 todos os sistemas eleitorais se podem diferenciar também por força da dimensão
do círculo, dos assentos parlamentares suplementares, das cláusulas-barreira e da
estrutura do boletim de voto.
• Dimensão do círculo  da dimensão do círculo eleitoral depende o grau de
proporcionalidade do resultado.
• Assentos Parlamentares Suplementares  de forma a corrigir os desvios de
proporcionalidade, causados por uma pequena dimensão dos círculos
territoriais, podem ser reservados lugares parlamentares suplementares para
um círculo eleitoral mais alargado – seja nacional, seja num quadro
geográfico mais limitado.
• Cláusulas-barreira  impondo níveis mínimos de representatividade e
colocando obstáculos à representação das minorias, a sua previsão dificulta,
quando não inviabiliza, a presença de forças partidárias mais pequenas no
Parlamento. A sua existência traduz, assim, uma assumida vontade do
legislador interferir diretamente na composição do quadro eleitoral e, por essa
via, no comportamento do próprio eleitor.
• Estrutura do boletim de voto  os boletins podem variar na sua estrutura
interna, impondo ao eleitor que escolha apenas uma lista partidária ou
permitindo-lhe que divida a sua opção entre os candidatos, do mesmo
partido ou de diferentes partidos. Asa opção por uma ou outra estrutura tem
diretas consequências sobre o grau de liberdade de conformação das
escolhas por parte do eleitor.

9. O sistema eleitoral português

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➢ O sistema eleitoral em vigor em Portugal tem a sua origem nas decisões prévias à
adoção da Constituição de 1976  mais especificamente no Decreto-Lei n.º 621-c/74,
de 15 de novembro, que aprovou a regulação do sufrágio para a Assembleia
Constituinte  aí se estabelecia, o voto singular de lista, a aplicação do método de
Hondt e a natureza fechada e bloqueada das listas e aprovou a regulação do sufrágio
para a Assembleia Constituinte.

➢ O legislador nacional decidiu que a conversão de votos em mandatos se devia fazer


em harmonia com o principio da representação proporcional  e determinou depois
que, em relação à Assembleia da Republica, a eleição deveria obedecer ao método da
representação proporcional e ser feito de acordo com o método da média mais alta
de Hondt  e que, no caso das eleições para as Assembleias legislativas das Regiões
Autónomas e para os órgãos autárquicos, seria seguido o principio da representação
proporcional.

➢ Nas eleições para a Assembleia da República  a fixação que a própria Constituição faz
de um método concreto dentro do sistema proporcional  leva a que só em sede da
sua revisão a eventual alteração dessa escolha possa concretizar-se; no caso das
demais leis eleitorais, decorrendo a escolha do método de Hondt de decisão do
legislador ordinário, nada impede que este proceda à sua modificação, se o considerar
necessário.

➢ A eleição para o Presidente da República é necessário o recurso ao método maioritário


 com eventual realização de segunda volta, devido à natureza unipessoal que este
cargo implica.

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