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Direito Constitucional I, Paulo Otero

O poder é, por definição, uma disponibilidade de meios para se alcançar um


determinado fim. O poder tem sempre uma definição unilateral e imperativa: uma
imposição unilateral de um comportamento, de uma conduta ou fiscalização. Envolve
sempre um exercício de uma autoridade. A autoridade exige do outro lado um direito
de acatamento e de obediência, logo existe sempre um exercício de autoridade e um
exercício de obediência.
Não há poder sem autoridade, nem há autoridade sem a possibilidade de
imposição de um comportamento. Quando não há obediência a autoridade fica
enfraquecida e o poder pode deixar de ser poder, pois é minado e destruído pela
desobediência. Que tipos de poder existem?

1.º distinção
Poder expresso: visível, sabe-se que existe, transparente (característico de uma
democracia).
Poder oculto: invisível, pode estar por detrás do poder expresso, manipulando.

2.º distinção
Formal: regulado pelo direito, obedece a uma forma.
Informal: não está regulado pelo direito, surge de modo factual, é assente na prática e
no uso, não é um poder de natureza jurídica. Contudo, uma revolução, p. ex., é uma
fonte de poder factual e informal, genésico do constitucionalismo, mas é geradora de
uma nova axiologia constitucional.

Por outro lado, as áreas do poder político são:


1) Poder Politico*;
2) Poder Económico – condiciona inopinadas vezes o poder político;
3) Poder Militar – a violência organizada;
4) Poder Religioso – confusão do poder político e religioso (res publica cristiana);
5) Poder Informativo – a informação é um dos grandes novos poderes. Quem tem a
informação controla a decisão – é especialmente apetecível pelo poder político e
também pelo poder económico;
6) Poder Científico/Tecnológico – as decisões são condicionadas pelas opções
científicas e tecnológicas;
7) Poder Interprivados – poder dos país em matéria de educação dos filhos menores,
relação laboral entre a entidade empregadora e os trabalhadores.

*A política é uma atividade humana que tem como objetivo e propósito a


conquista, a manutenção e o exercício do poder político. Segundo o Prof. Marcello
Caetano, o poder político é a faculdade exercida por um povo, por pura autoridade
própria – podendo não ser recebida esta faculdade de outros poderes – de instituir
órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham por ordem
jurídica, dispondo dos necessários meios de coação. Deste modo, ao poder político
compete a definição das opções essenciais da coletividade. Numa sociedade, podem-
se colocar três grandes questões:
(I) Quais os objetivos da existência de uma sociedade?
(II) Quais são as soluções e os meios para atingir a convivência?
(III) Quem define os objetivos e os meios para os atingir pela comunidade? A questão
de saber quem é o sujeito que define os objetivos e meios de uma sociedade está na
sociedade organizada, nem todos podem decidir.

Nota: Qual o processo que deve ser adotado para escolher quem vai tomar
essas decisões, seguindo a vontade da maioria? É o respeito da minoria pela vontade
da maioria que é decisivo para a estabilidade e concretização da maioria. O respeito
plasma-se na obediência e a constituição é a expressão jurídica deste equilíbrio.

Os problemas históricos do poder político são: (1) Origem do poder político; (2)
Fins do poder político; (3) Limitação do poder; (4) Legitimidade dos titulares do poder
político. Quanto à origem do poder político (1), há que ter em conta as seguintes
conceções:

(i) Conceção teológica: todo o poder vem de Deus ou do Diabo.


(ii) Conceção democrática: o poder vem do povo, enquanto coletividade,
enquanto soberania popular (pensamento de Rousseau); ou vem da nação enquanto
realidade abstrata, realidade cultural, realidade que se projeta no tempo de forma
intergeracional – soberania nacional.
(iii) Conceção de mediação: o poder é divino, mas por consentimento do povo.
(iv) Conceções sociológicas.

Fins do poder político (2): nunca se podem identificar com os interesses do


titular do poder. O bem comum e o bem público são o fim do poder político. Podemos
ter uma conceção do bem comum numa vertente personalista, a pessoa humana é o
centro justificativo do poder político e a razão de ser do poder comum ou a conceção
transpersonalista (Hegel) – mais importante o estado do que a pessoa.

Há limitação do poder político (3):

1) Anarquia: não é possível delimitar o poder político, pois este deve ser abolido.
2) Conceções que delimitam o poder, pois reconhecem a sua necessidade. O
melhor poder é sempre o poder delimitado pelo direito (Governo das leis vs.
governo dos homens): o poder faz as normas e submete-se às suas próprias
normas = está autolimitado, é o Estado de Direito Formal (a); estando também
limitado por direito superior ao do estado, emanado por outras instituições =
Estado de Direito Material, auto e heterolimitado (Por exemplo: Declaração
Universal dos Direitos dos Homens, Ius cogens) (b).
Ora, só a separação e divisão de poderes (Montesquieu) permite limitar de
forma eficaz o poder, criando ainda a interdependência deste, a ideia de freios e
contratempos.
3) Conflito permanente entre Direito e os factos. O Direito quer sempre
condicionar e regular os factos. Mas, muitas vezes, os factos não se deixam
regular pelo Direito. Acontece que os factos produzem juridicidade – as normas
jurídicas escritas podem perder efetividade, são normas desvitalizadas. Por
vezes, a norma escrita é substituída por uma norma não escrita. Nesse
momento, o facto deixa de ser facto e passa a ser direito – todo o Direito
Constitucional é uma permanente luta entre os factos e o direito.

A legitimidade dos titulares do poder político (4) quanto ao título ou quanto à


forma, conquistada pelo:

a) Poder carismático: poder alheio ao Direito, à sua margem, é o poder que se


apoia numa autoridade entendida com sagrada e prestigiada em termos
militares ou heroicos.
b) Poder de base tradicional: poder possibilitado pelo decurso do tempo,
relacionado com a tradição ou o costume.
c) Poder racional: sempre um fenómeno jurídico captado pelo Direito.

Como há regulação normativa do poder político?


1) Há uma normatividade escrita que regula o poder, mas também há uma
normatividade não escrito, ou seja, nem todo o Direito se resume à Lei escrita.
Também a regulação do poder político nem sempre é feita pela Lei escrita. Por
exemplo: A maior parte da Constituição britânica, é uma Constituição que resulta
do costume, da evolução histórica, etc.
2) Não são apenas as normas jurídicas, escritas ou não escritas, que regulam o poder:
normas técnico-científicas, normas de natureza ética (a moral) e normas de trato
social.
3) Para além do mundo jurídico, também os factos podem regular o poder político,
enquanto critérios normativos. Por exemplo: Factos reiterados, repetidos, podem
ganhar convicção de obrigatoriedade, tornando-se costume.

Suplementares
4) Ideia da conflitualidade: tensão permanente entre normas oficiais (publicadas) e
não-oficiais (não escritas). Há normas da Constituição que são normas costumeiras,
que podem ter os seguintes tipos de relacionamento com as normas escritas: as
normas não oficiais servem as normas oficiais (a norma costumeira segue a norma
escrita da Constituição) (1); o costume que vai para além da Constituição (a norma
consuetudinária acrescenta à norma escrita) (2); a norma consuetudinária
contraria a norma escrita (3) (Por exemplo: A Constituição de 1976 advogava a
transição para o socialismo e, nestas circunstâncias, Portugal aderiu à EU).
5) Todos os países têm uma Constituição.

O costume contrário à Constituição é inconstitucional? Ou tem um propósito,


tornar inaplicável a norma da Constituição escrita (norma escrita em coma jurídico,
permanece escrita sem ser chamada a ser aplicada)?
O poder político tem diversas formas de expressão, no âmbito da comunidade
internacional, por exemplo a Organização das Nações Unidas. No âmbito de
fenómenos de integração supranacional, p. ex., a União Europeia. Por fim, subsiste a
expressão no Estado, no seu plano interno, a fonte de poder político. Este está
associado a três diferentes conceitos/conceções: o Estado soberano como sujeito de
direito internacional, subordinado no plano externo (Por exemplo: Os EUA, a Rússia e a
Turquia têm realizado encontros para uma tentativa de resolução da crise israelita) (1);
o Estado como titular do poder constituinte, como realidade que agrupa o povo num
território com poder político (2); o Estado, pessoa coletiva, de direito público, como
sujeito de direito administrativo (3).

A nível da evolução histórica do conceito de Estado, subsiste:


1. Estado pré-liberal: pode ser analisado em dois grandes períodos, os Estados
anteriores ao conceito de soberania e os Estados posteriores à influência de Jean
Bodin, que identifica a soberania como critério do estado constitucional moderno.
Numa primeira fase, anterior ao século XV, é possível encontrar quatro modelos de
Estado:
Estados anteriores ao conceito de soberania
a) *1Estado oriental (do terceiro ao primeiro milénio a.C.), de ampla dimensão
territorial, de unidade entre o poder civil e religioso, de absoluta concentração
de poder.
b) Estado grego (séc. VI ao séc. III a.C.), Estado da Cidade (pólis), é aqui que surge
o conceito de democracia, a pátria, o pensamento constitucional, a própria
ideia de Direito e de Constituição.
c) Estado romano, responsável pelas principais instituições políticas modernas. É
nele que surge a distinção entre direito público e direito privado. É neste
período também que surge a ordem de valores judaico-cristãos.
d) Estado medieval ou corporativo (séc. V ao séc. XIV, a Idade Média),
caracterizado pela fragmentação do poder político, disperso; uma sociedade
fortemente estratificada em grupos distintos; surge a teoria de Jean Bodin.

Haveria Estado? Porquê? Existia uma fragmentação do poder político entre o rei, a
nobreza, a igreja e os concelhos/municípios, não estava concentrado no rei, o que fez
surgir a questão de Estado. Há duas respostas:

1) Em Portugal havia Estado, a centralização régia do poder começou muito cedo.


Existia uma visão da sociedade em que o pluralismo do centro político
correspondia a um pluralismo de fontes de direito, só existiam direitos privados,
não existia uma regra geral = Organização da sociedade em corporações, que
representavam os interesses das profissões. De início, o rei aliou-se à burguesia
para neutralizar o poder da nobreza, sendo que o reino estava na base de um
governo religioso e régio.
2) No séc. XV, surge o Moderno Estado Europeu de Jean Bodin – surge o conceito de
soberania. Dentro do Estado não há poder superior ao rei, fora do estado não há
poder superior ao Estado, este pensamento dita o fim da República.
Estados posteriores à influência de Jean Bodin
a) Estado renascentista ou barroco (séc. XV ao XVII): intervenção económica do
Estado com o mercantilismo, monopólios da coroa; expansão ultramarina, que
coloca dois problemas:
 Qual a estrutura administrativa para governar os novos territórios? Questão à qual
um poder político fora do território europeu é admitido.
 Qual o direito que deve reger estas novas povoações? Ora, ou defende-se a
regência dos próprios povos (proteção do próprio Direito) ou que o direito das
novas povoações deve ser submeter-se ao direito do Estado metrópole.
Existe ainda um renascer do Direito Romano, recuperação da autoridade do rei
dentro das estruturas políticas. Esta recuperação alterou todo o poder jurisdicional,
poder de satisfazer necessidades coletivas, pertencendo exclusivamente ao rei. Esta
ideia preparou ideologicamente o Estado para iluminismo.
b) Estado iluminista ou absolutista (séc. XVIII ao séc. XIX): o primeiro traço
caracterizador é que o Estado é o rei absoluto (“o Estado sou eu”, Luís XIV), o
segundo é que o rei não só tem um poder absoluto, como tem um poder
superior a todos os outros e à lei, inclusive. Persiste um forte intervencionismo
no Estado, presente no campo da economia, da cultura, etc., sendo este o
modelo que antecedeu as revoluções liberais.

2. Estado liberal: tem fundamentalmente cinco inovações – a separação de poderes


(1); a supremacia da lei (expressão da vontade geral), significa também a
supremacia do parlamento e da legitimidade democrática relativamente ao rei
(expressão da legitimidade monárquica) (2); a igualdade de todos perante a lei (3);
a importância dos direitos fundamentais (4) e o abstencionismo do Estado (5). O
Estado liberal conhece fundamentalmente dois momentos de tensão (evolução do
estado liberal):
1) Tensão com a legitimidade monárquica digna do antigo regime (D. Miguel
contra os liberais, D. Pedro = Monarquia absoluta vs. Monarquia Constitucional);
2) Tensão entre Parlamento e Rei (a vitória liberal na guerra civil em 1834 não
resolveu o problema desta tensão, que vai continuar até ao dia 5 de outubro de
1910 com a República).

Fases do Liberalismo
1.º O predomínio da legitimidade democrática (fase revolucionária): base da
Revolução Liberal e base da Constituição Portuguesa de 1822.
2.º O predomínio da legitimidade monárquica: base da Carta Constitucional de
1826 em Portugal – Rei: poder base do poder constituinte e fonte de legitimidade.
3.º O equilíbrio entre a legitimidade democrática e a legitimidade monárquica:
o equilíbrio entre o rei e o parlamento (base da Monarquia de julho francesa).
4.º O predomínio da legitimidade democrática: muitas vezes, com a supressão
da própria monarquia – “fase exclusiva da legitimidade democrática”.

O Estado liberal coloca algumas questões políticas, como:


 Modelos distintos de liberalismo: o francês, caracterizado pelo predomínio da
legitimidade democrática, na base da Constituição portuguesa de 1822; e o inglês,
modelo misto, de equilíbrio entre o Rei e o Parlamento (1).
 Primeiro processo de descolonização (da América) (2).
 Princípio das nacionalidades, segundo o qual a cada nação deve corresponder um
Estado (3).
 Discussão da Questão Social (4). Surgem duas conceções para dar resposta a esta
questão de forma mais satisfatória, a doutrina social da Igreja e o socialismo
marxista-leninista.

3. Estado antiliberal: consiste na crítica ao liberalismo, existem dois modelos de


Estado antiliberal, (1) os modelos políticos totalitários dentro do contexto da
economia de mercado (Por exemplo: O Estado fascista e nazi), (2) os modelos,
soviético e chinês, que resultam do pensamento marxista. Nega-se a separação de
poderes (1), o abstencionismo do Estado (2) e a tutela dos direitos (3). Aposta-se
no intervencionismo do Estado nos campos sociais, culturais e económicos.

4. Estado pós-liberal: conhece duas manifestações, o Estado social e o Estado


neoliberal. O Estado social (1) é o Estado de bem-estar, caracterizado pela herança
liberal das liberdades, dos direitos e da separação de poderes. E, simultaneamente,
pela tutela dos direitos fundamentais, não apenas dos direitos e liberdades básicos,
mas também daqueles de matriz especial; daí este ser um Estado intervencionista.
Já o Estado neoliberal (2), é o regresso ao liberalismo com as privatizações, “menos
estado, melhor estado”. Contudo, há que notar que o neoliberalismo sofreu dois
grandes retrocessos no século XXI, com a crise financeira de 2008, que fez com que o
Estado tivesse um novo papel de regulação, designadamente de mercado, e com a
pandemia do Covid-19, sendo que, nesta altura, assegurou-se uma segurança mais
eficiente a nível da saúde, verificada pelo Estado de emergência.

O Estado é uma associação formada por um povo, dotado de um poder político


original e fixado num determinado território. Logo, é necessário povo, território e
poder político.
a) O conceito de povo é distinto do conceito de população (de natureza estatística, a
população é o conjunto de residentes num determinado território). Povo (conceito
jurídico) vs. Pátria (relação afetiva, até, p. ex., um português pode considerar a sua
pátria o Brasil).
Enquanto que a expressão “nacionalidade” é um conceito fundamentalmente
operativo em relação às pessoas coletivas, à cidadania, à aquisição da nacionalidade,
estão subjacentes dois grandes princípios: compete a cada Estado definir quem são os
seus cidadãos, há dois principais critérios para definir quem é cidadão, um critério
baseado no sangue (1) jus sanguinis, alicerça-se na filiação, e um critério baseado no
solo (2) jus solis, que define cidadão português enquanto pessoa nascida em Portugal.
No entanto, também é possível a atribuição da nacionalidade (Artigo 6.º da CRP),
ato pelo qual o Estado concede a nacionalidade a alguém que não nasceu
originariamente dentro daquele povo. Existem também critérios para a nacionalidade
superveniente: a residência e o matrimónio.
A perda da cidadania portuguesa implica a vontade expressa do sujeito, nunca
pode existir como sanção pela prática ilícita. Mais: para além da perda de cidadania
não poder ser uma pena, nunca é irreversível. Simultaneamente, se um português se
naturalizar cidadão do Estado x, ele não passa por isso a perder a cidadania
portuguesa; contudo, a lei do Estado x pode fazer o cidadão perdê-la (mas isso não é
um problema definido pela lei portuguesa, segundo a ideia de que cada Estado define
quem são os seus cidadãos).

Nota: Como é que alguém com duas cidadanias deve ser tratado em Portugal?
Artigos 27.º e 28.º da Lei da Nacionalidade, CRP. Depende se:
 Há dupla cidadania, mas uma delas é portuguesa: só pode ser tratado como
português, p. ex., não pode recusar-se ao cumprimento de deveres fiscais por ser
francês também.
 Há dupla cidadania, mas nenhuma das duas é portuguesa: ele deve ser tratado de
acordo com o Estado em que tem residência habitual. Quando nenhuma das
nacionalidades de certo sujeito correspondem à sua residência, deve atender-se à
nacionalidade com a qual ele tem uma proximidade mais estreita.
Os portugueses que residem em Portugal podem ter mais direitos do que os
portugueses que não residem em Portugal, porque há direitos que são incompatíveis
com a ausência do território; mas a CRP consagra direitos especiais para os
portugueses que vivem no estrangeiro.

O regime dos estrangeiros (Artigo 15.º) aplica-se aos apátridas. A condição


jurídica dos estrangeiros em Portugal resume-se nos seguintes termos: vigora o
princípio da equiparação (1. Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou
residam em Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão
português); mas há exceções, p. ex., o n.º 2, segundo o qual o exercício das funções
públicas que não tenham carácter predominantemente técnico e os direitos e deveres
reservados pela Constituição e pela lei exclusivamente aos cidadãos portugueses, logo,
criando uma reserva a favor dos cidadãos portugueses.
Ainda que o n.º 3 vá criar uma exceção da exceção, admitindo que Aos cidadãos
dos Estados de língua portuguesa com residência permanente em Portugal são
reconhecidos, nos termos da lei e em condições de reciprocidade, direitos não
conferidos a estrangeiros, salvo o acesso aos cargos de Presidente da República,
Presidente da Assembleia da República, Primeiro-Ministro, Presidentes dos tribunais
supremos e o serviço nas Forças Armadas e na carreira diplomática, que o n.º 4 amplia
em relação a outros estrangeiros, de acordo com determinadas condições.

b) O território é a fonte de identidade de uma comunidade internacional (1), o objeto


do poder do Estado, o limite à autoridade do Estado, a área de exercício pleno da
ordem jurídica do Estado. Há que ter em conta o fenómeno da extraterritorialidade
(2) (p. ex., embaixada, consulado, territórios do Estado fora do Estado), segundo o
qual não é possível as forças de segurança ou as forças militares portuguesas ou de
outros Estados entrarem e violarem os seus direitos, sendo que as famílias dos
diplomatas gozam também de imunidade, por vezes.

Subsiste o princípio do respeito pela integridade territorial, previsto no Artigo


2.º/4 da Carta das Nações Unidas, em que todos os Membros deverão evitar em suas
relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a
dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os
Propósitos das Nações Unidas.
O território é o espaço, no qual o Estado exerce um direito de jurisdição, um
poder indivisível, inalienável e exclusivo, uma vez que é um espaço de soberania.
Questiona-se até se um estado pode conceder a outro estado meios de defesa do
território (Ex:. Portugal poderia ou não conceder a Espanha meios de proteção, mas
perderia direito de exclusividade sobre as ilhas selvagens?).

Contudo, existem três diferentes níveis de território: marítimo (i), terrestre (ii) e
aéreo (iii), que não permite a circulação de aeronaves estrangeiras sem autorização.
Quanto ao território marítimo (i), o Estado tem poderes de intervenção limitados,
porque na zona económica exclusiva, o estado não pode impedir a liberdade de
situação de outros navios, de outros Estados, porque vigora o princípio da liberdade
em alto mar. O Estado tem, todavia, direitos em matéria económica, mas pode apenas
explorar até aos limites das suas necessidades económicas. (1) A partir da zona
económica exclusiva, há uma área de alto mar; (2) Ideia de que há uma continuidade
de território terrestre, composta pelo solo e pelo subsolo do mar, denominada
plataforma continental.

Nota: Após a zona económica exclusiva, o solo e o subsolo corresponde aos


fundos marítimos internacionais, nenhum Estado se pode apropriar destes fundos. Há
uma autoridade internacional a quem compete a exploração destes recursos, em
benefício de toda a humanidade.
Anotações históricas
1) O princípio da liberdade em alto mar é contrário ao Tratado de Tordesilhas;
2) Surge, através de uma declaração norte-americana, uma apropriação da
plataforma continental: a ideia base, ao longo das décadas seguintes, foi limitar a
apropriação individual dos fundos marítimos, ius cogens.

O território terrestre (ii) pode estar sujeito a dois regimes jurídicos distintos: há
zonas do território terrestre em que o Estado tem poderes regidos pelo Direito público
(domínio público) e zonas em que o Estado tem poderes regidos pelo Direito privado
(domínio privado). Por exemplo- 1. Se alguém morre sem herdeiros e sem testamento,
o último herdeiro é o Estado, sendo que esta capacidade está prevista no seu domínio
privado; 2. Propriedades do Estado afetas ao exercício das funções do Estado,
reguladas pelo direito público (domínio público). Os bens do domínio público do
Estado são inaliáveis, ou seja, não podem ser vendidos, pelo que, se o Estado quer
vender um bem do seu território, só o pode fazer dentro do seu domínio privado.

O poder político (c) implica cinco ideias principais:


1) Todo o poder político está ligado ao Estado, simplesmente o poder político ligado
ao Estado não esgota a dimensão desse poder político, p. ex., nas Nações Unidas,
na União Europeia.
2) O poder político ligado ao Estado tem uma justificação jurídica: a Constituição é o
ato jurídico que institucionaliza o poder político do Estado. A constituição em
sentido instrumental (1), em sentido formal (2) e material (3).
3) O Estado e o poder político está limitado pelo Direito. Neste sentido, todo o Estado
é um Estado de Direito, limitado por uma ordem jurídica, contudo: este pode ser
um estado de direito formal, é a situação de poder político limitado pelo próprio
Estado (p. ex., a Rússia estalinista); ou um estado de direito material, em que o
direito limita o Estado, independentemente da sua vontade (p. ex., o ius cogens,
exemplo da hétero-vinculação do Estado).
4) No poder político, diferencia-se entre a titularidade e o exercício do poder. Na
democracia, o titular do poder é o povo, que o exerce através dos seus
representantes. Nota: Poder constituinte (poder de fazer e modificar a
Constituição) vs. Poderes constituídos (criados pela Constituição).
5) O poder político é dotado de soberania, mas a soberania atualmente é uma
soberania internacionalizada, vinculada desde logo a respeitar o ius cogens, e
europeizada. É também uma soberania descentralizada, pelas outras entidades
públicas existentes.

Elementos formais de existência de um Estado


1) Designação do Estado: todos os Estados têm um nome, cujo objetivo é identificar o
estado, os cidadãos desse estado e a designação do Estado, logo, há que obedecer
a um princípio de não repetibilidade. É possível um Estado mudar de nome, sofrer
evoluções (Ex:. O Paquistão oriental tornou-se Bangladesh). Na designação do
Estado, é ainda possível elementos complementares que apontam para a forma de
Estado ou para o regime ou para uma conceção religiosa. Pode também acontecer
que o Estado possua duas designações (Ex:. Suíça = Confederação Helvética).
2) Reconhecimento internacional do Estado: um Estado tem de ser acolhido pelos
outros membros da comunidade internacional (Ex:. Portugal só foi reconhecido
pelo Papa em 1179, apesar de em 1128 ter declarado a sua independência, após a
batalha de S. Mamede). Na Idade Média, quando Portugal surgiu o
reconhecimento era claramente constitutivo, mas no século XIX e XX, com os
movimentos de descolonização, o reconhecimento passa a adquirir um
reconhecimento declarativo. (Reconhecimento declarativo vs. Reconhecimento
constitutivo).
3) Símbolos nacionais: a bandeira e o hino, irrepetíveis.

As formas de Estado consistem em como o Estado dispõe do seu poder no


âmbito do seu território.

1) Estado simples ou unitário: pode existir um poder político para todo o território,
tem uma unidade homogénea em todo o território. Sucede que o estado unitário
poderá ser centralizado – se o Estado é a única pessoa coletiva existente, p. ex.,
num modelo de estado absolutista – ou descentralizado – abaixo do Estado
existem outras entidades coletivas, pode haver então uma descentralização
político-legislativa (Por exemplo: Regiões autónomas) ou uma descentralização
meramente administrativa (Por exemplo: Autarquias locais).

2) Estado composto: modelo de estado onde o poder político está fragmentado ao


nível do território. Existem essencialmente dois modelos. 1º Caso Federação: há
um estado que tem soberania no plano internacional (poder de celebrar
convenções internacionais, poder de enviar e receber diplomatas, poder de ter
assento das Nações Unidas; poder de, em caso de legítima defesa, desencadear a
guerra), que é o Estado federal, e há, simultaneamente, um conjunto de Estados
federados, que apenas possuem soberania no plano interno e um poder
constituinte próprio subordinado a outra Constituição, a do Estado federal.
a) Cada cidadão é simultaneamente sujeito de duas ordens jurídicas: a do Estado
federado onde reside, onde se encontra, mas está também sujeito à ordem
jurídica da Federação, pelo que a Constituição tem um duplo papel. Ex:. Um
cidadão da Califórnia tem um vínculo de cidadania para com a Constituição da
Califórnia e com a Constituição dos EUA.

b) A Constituição federal é o parâmetro de validade, pauta normativa, pelo que


subordina todas as constituições dos Estados federados. Mais: a constituição da
federação é a garantia da autonomia dos estados, traçando a fronteira entre o
que é competência da Federação e dos Estados federados.
c) Define, ainda, um princípio de igualdade entre todos os Estados. O parlamento
americano é composto por duas câmaras: a Câmara dos Representantes e a
Câmara do Senado, sendo que, no Senado, cada estado tem o mesmo número
de senadores, independentemente dos seus fatores internos diferenciais.
As principais decisões políticas estão nas mãos do Senado e não na Câmara dos
Representantes, logo, os Estados têm uma posição fulcral nas deliberações políticas, p.
ex., ao participarem na modificação da Constituição.
d) A dualidade da soberania, sendo que a soberania no plano internacional,
pertence à federação, enquanto a soberania interna a cada estado membro ou
federado.
e) A supremacia da Constituição federal e, em particular a supremacia dos órgãos
jurisdicionais, os tribunais da federação. Dentro destes, a supremacia reside no
Supremo Tribunal da Federação.

vs. Confederação: há uma divisão da soberania no plano internacional, entre a


Confederação e os Estados confederados, que são caracterizados por uma
semissoberania. = Federação (há um Estado que retirou a soberania aos Estados
federados) / Confederação (associação de Estados que partilham entre si poderes
soberanos, p. ex., a União Europeia). A Confederação normalmente ou desaparece ou
evolui para Federação, como aconteceu com os EUA. Ex: Suíça = Confederação
Helvética (falsa designação); contudo, a Suíça é uma federação, uma vez que os
cantões suíços não têm soberania.

2.º Caso União real: caracteriza-se como uma monarquia, tendo vários órgãos
autónomos de soberania para cada parte do território, havendo órgãos comuns que
unem os vários territórios. Nota: Diferença principal entre Federação e União real. Na
federação, criam-se órgãos novos; na união real, aproveitam-se órgãos dos Estados
anteriores para darem origem ao novo Estado.

vs. União pessoal (menor importância): conjunto de estados independentes e


soberanos que têm em comum o mesmo monarca. Distingue-se por não constituir um
verdadeiro Estado. Não há um Estado composto, o que ocorre é que, pelas regras da
sucessão, há um mesmo titular que tem em si a chefia de dois Estados (Ex: 1. Entre
1580 e 1640, em Portugal, existiu uma união pessoal, na época do reinado filipino; 2.
Quando morre D. João VI, D. Pedro é simultaneamente imperador do Brasil e rei de
Portugal).

3) Ao lado do Estado unitário e composto, questiona-se se existe um Estado regional.


Os estatutos das regiões autónomas não são uma constituição aprovada pela
região, são uma lei do Estado. Ao invés das constituições dos estados federados, as
regiões autónomas não têm poder constituinte próprio, pelo que não têm
soberania no plano interno ou internacional. Ex:. Em Espanha, as comunidades
autónomas espanholas têm mais poder do que alguns Estados federados
existentes, logo, estão a meio-caminho entre um poder federal e unido.

Que tipos internacionais de estado podemos encontrar?

a) Estado soberano: caracterizado por uma soberania europeizada, globalizada. Um


estado soberano é um estado com personalidade e competência internacional em
termos de direito de legação, de receber e enviar representantes diplomáticos,
tem direito de celebrar tratados e acordos internacionais, tem direito de
reclamação internacional, tem direito a estar representado na ONU e tem o direito
de fazer a guerra, em legítima defesa.

b) Estado não soberano: corresponde a um Estado que não goza de soberania no


plano internacional. Ex: Estados Federados e Estados-membros de uma União Real.
c) Estados Semi-Soberanos: consistem em Estados que gozam de soberania no plano
internacional, mas onde a mesma está reduzida ou limitada por fatores jurídicos,
materiais ou políticos.
(i) Estado vassalo: é aquele que, tendo personalidade internacional, está
ligado por certas obrigações (vínculo feudal) a um Estado suserano, o que
implica que o exercício de uma competência internacional dependa de uma
autorização do suserano.
(ii) Estado protegido: é aquele que só pode exercer os correspondentes
direitos através de outros Estados (ditos protetores), que se comprometem
a protegê-lo. É um protetorado em termos financeiros.
(iii) Estado exíguo: é aquele que, pela diminuta extensão do território e
consequente escassez da população, não está em condições de exercer
plenamente a soberania, encontrando-se numa situação especial face ao
Estado limítrofe. Ex:. Casos do Mónaco e Andorra.
(iv) Estado confederado: é aquele que por ser membro de uma confederação
fica com uma soberania internacional limitada ao que tiver sido
estabelecido no tratado.
(v) Estado neutralizado (+): aquele cujo estatuto internacional o impede de
participar em conflitos armados, salvo caso de em legítima defesa. Ex:.
Áustria.
d) Falsos Estados: podem esconder uma realidade colonial (Goa, Damão, Dio).

Os fins do Estado podemos dizer que são as necessidades coletivas que estão na
base da existência do poder político. O Estado existe para garantir três fins:
i. A segurança, no sentido em que o Estado resulta da agregação das pessoas para
garantir os seus bens, os seus valores, etc. A segurança convoca a paz, a
estabilidade e a própria segurança. A segurança proíbe a retroatividade das leis
que sejam exíguas, assegura a proteção da confiança e a previsibilidade da
mudança.

Pressupõe paz, estabilidade e proteção da confiança. 1. Paz: tem uma vertente


interna e uma vertente externa, sempre com o recurso à forca na sua base. 2.
Estabilidade: a segurança envolve a ideia de existência de normas jurídicas que
garantam continuidade. Isto é, a continuidade da ordem jurídica confere estabilidade.
As leis que lesem liberdades e direitos dos cidadãos não podem ser de natureza
retroativa. Se beneficiarem os cidadãos, podem ser retroativas. 3. Proteção da
confiança: corresponde ao entendimento da previsibilidade gera segurança. Não é
possível a frustração de expectativas, caso contrário deverá haver uma indemnização.
O Estado deve ser o primeiro garante da proteção da confiança, através das normas
que o emanam, mas também através dos tribunais.
ii. A justiça é uma consequência da segurança, está intimamente ligada à igualdade,
sendo que a igualdade implica dois conceitos: o de justiça comutativa (1), que
consiste no tratamento dos entes em caso de situação de equidade, e o de justiça
distributiva (2), consiste em tratar de forma diferente o que é diferente.
iii. O bem-estar.

A simples existência do Estado não garante a concretização dos seus fins. Para
que os fins do Estado sejam realizados, é necessário que este desenvolva uma
atividade: as funções do Estado – a prossecução deste para atingir os seus fins. A
atividade do Estado garante os fins do Estado através das suas funções, logo, há uma
instrumentalidade das funções (o Estado em ação) relativamente aos fins.
Contudo, há que ter em conta que nem toda a atividade do Estado se
desenvolve na prática de atos jurídicos. Ex:. Ida a uma consulta, a um exame médico, a
uma intervenção cirúrgica, não é em si um ato jurídico, apesar de se prender com a
atividade do Estado.
1) Funções jurídicas do Estado (p. ex., fazer uma lei, emanar um ato jurídico):
subdividem-se em função constituinte (1), que se traduz na feitura ou na
modificação da Constituição, podendo distinguir-se a função constituinte originária
e a função constituinte derivada; sendo que, pela função constituinte originária
(criação da Constituição), passam as funções político-jurídicas de uma sociedade,
enquanto que a função constituinte derivada pauta-se por regras da Constituição,
dependendo da função constituinte originária.

E, também, funções constituídas (legislativa, jurisdicional e administrativa) (2), que


têm fundamento jurídico na Constituição. Função legislativa (i): traduz em direitas
opções políticas subordinadas aos parâmetros constitucionais, leis ordinárias. Função
jurisdicional (ii): procura resolver litígios e controvérsias entre interesses, assegurando
a justiça e a paz jurídica. Mais: a função jurisdicional é protagonizada em exclusivo
pelos tribunais, órgãos que decidem os litígios numa posição de neutralidade ou de
“terceira idade”, sendo terceiros na resolução de litígios. Função administrativa (iii):
compreende toda a atividade jurídica desenvolvida pelo Estado que é residual, que não
é julgada ou legislada.

2) Funções não jurídicas do Estado: traduzem-se na prática de atos não jurídicos


levados a cabo pelo Estado, e existem duas: a função política e a função técnica. A
função política (1) define as linhas de orientação sobre as opções essenciais da
sociedade, envolve a conservação e manutenção do poder. Têm, por isso mesmo,
este cunho não jurídico, que se substância, por exemplo, na organização de
eleições. A função técnica (2) apela a conhecimentos de natureza especializada, em
termos científicos que permitem exercer atividades pelo Estado, p. ex., dar uma
aula, construção de uma ponte, consulta médica.

Ideias complementares
 No desenvolvimento das funções jurídicas há sempre, em maior ou menor grau,
uma componente não jurídica, integrada na função política ou na função técnica:
fazer uma lei que consubstancie o exercício de funções de natureza jurídica
envolve uma técnica ou a forma como se estrutura uma sentença de tribunal,
também ela tem uma técnica. Simultaneamente, apesar das soluções jurídicas não
se identificarem com as soluções políticas, elas não vivem de forma separada.
As funções jurídicas têm muitas vezes a persecução de fins de natureza política e de
natureza técnica. Outro exemplo vigente: quando o PR dissolve o Parlamento, está a
tomar uma decisão de função jurídica, mas com clara carga de natureza política. Há um
cunho político nos juízes, de inconstitucionalidade: saber se a lei é conforme ou não
com a CRP, baseia-se na função jurídica, no entanto, é claro que emana também a
natureza política.

 Também no desenvolvimento das funções não jurídicas há sempre uma


componente jurídica quanto ao fundamento de quem exerce a função não jurídica.
Ex:. Um médico ou professor, no seu local de trabalho, tem sempre de ter um título
jurídico para o efeito.
A prática de uma atividade não jurídica pode produzir também efeitos jurídicos, p.
ex., pode acontecer que sejam produzidos danos, é o caso do médico que opera a
perna errada; do professor que lecionou línguas espanholas, não castelhano, mas
catalão, sendo que os alunos se inscreveram para a matéria x e acabaram por ser
lecionados a matéria y.

Para que as funções sejam desenvolvidas, têm de estar distribuídas por vários
órgãos. A persecução das funções do Estado prossupõe um sistema de separação de
poderes, retomado o pensamento de Montesquieu de que esta é a melhor forma de
limitar o poder do Estado. Contudo, o Estado baseia-se não só num sistema de
separação de poderes, mas também num sistema de separação de poderes com a sua
respetiva interdependência, consagrada no artigo 111.º Separação e interdependência
da CRP.

Matriz norte-americana vs. francesa


No caso norte-americano, há uma conjugação entre os diferentes poderes para
a realização da mesma função. Os tribunais podem fazer cessar a vigência de uma lei
que é inconstitucional, por exemplo. Quer os tribunais, quer o PR, quer o Congresso,
têm diferentes poderes associados ao poder legislativo. Não há nenhum poder sem
interdependência, um órgão tem o poder de estatuir, no entanto, os restantes órgãos
têm o poder de limitar e condicionar essa mesma deliberação/estatuição.
No caso francês, há uma perspetiva oposta, inspirada em Rousseau
(concentração de poderes). Os tribunais não controlam a constitucionalidade das leis
com o fundamento de que, se o fizessem, violavam o princípio da separação dos
poderes. Ora, segundo o Prof. Paulo Otero: “Não há estado de direito se os tribunais
não tiveram o monopólio da decisão jurisdicional”. A separação de poderes é
atualmente entendida como uma separação com interdependência, é a “vitória” do
modelo norte-americano face ao modelo francês.

A ordem jurídica atribui personalidade às pessoas singulares e coletivas. O tema


dos órgãos é importante, porque as pessoas coletivas (p.ex., as regiões autónomas, o
Estado, as universidades públicas), precisam de órgãos para expressar uma vontade,
enquanto a pessoa singular expressa-a por si só́.
O órgão é um centro institucionalizado que expressa uma vontade e, essa
vontade, é imputada à pessoa coletiva. É de frisar a importância da noção de órgão e
da sua distinção de outras designações, como a designação de titular, a pessoa física
que ocupa a função no respetivo órgão, e a designação de agente, aquele que ajuda à
formação da vontade, previamente ou posteriormente à função do órgão.

O órgão envolve cinco ideias:

1) Ideia de instituição: o órgão é diferente do titular que é temporário, enquanto o


órgão, em principio é permanente. Contudo, há órgãos de natureza temporária.
2) Ideia de competência: é a parcela de poder público de área de decisão a cargo
daquele órgão. São os poderes que os órgãos têm para decidir sobre determinada
matéria, a fronteira da vontade que este pode expressar. A competência justifica a
ação do órgão, mas também a limita; ainda a propósito, há duas grandes
dicotomias que importa ter em conta em matérias de órgãos: a que separa órgãos
singulares, de um único titular, de órgãos coletivos/colegiais (1); a que separa os
órgãos representativos, todos aqueles que resultam direta ou indiretamente de um
processo eleitoral, dos órgãos não representativos, constituídos por titulares que
foram nomeados sem esta nomeação resultar direta ou indiretamente de um
processo eleitoral (2).

Em geral, a competência não se presume, a competência é sempre a resultante da


norma jurídica que a estipula. Todavia, o facto de a competência não se presumir não
afasta a possibilidade do reconhecimento de competências estabelecidas de forma
implícita na norma (a doutrina dos poderes implícitos é particularmente importante no
constitucionalismo norte-americano). Ex:. Se a lei atribui competência para revogar,
está implícita também uma competência para suspender, uma vez que, quem pode
revogar, pode também suspender (menor efeito).
Os órgãos podem ainda ter vicissitudes relacionadas com a competência do órgão
(ampliada ou restringida), por mais que a competência conferida pela Constituição só
pode ser alterada pela própria Constituição. Por conseguinte, as vicissitudes do titular
podem resultar na sua destituição ou demissão (por falecimento, p. ex.): nestes casos,
o Direito conta sempre com mecanismos de substituição, para evitar o vazio político.
3) Ideia de titular: é a pessoa física que ocupa o órgão num determinado período. Na
república, é sempre temporário e, na democracia, afirma-se que deve ser votado
por sufrágio universal direto. O titular tem ainda aspetos que lhe geram deveres
(princípio da responsabilidade), sendo responsáveis pelos atos que na respetiva
atividade determinem prejuízos a terceiros.
4) Ideia de cargo/mandato: traduz a relação do titular com o estado/entidade pública.
São situações ativas ou passivas, funcionais que estabelecem um nexo entre o
titular e o respetivo órgão. Esta relação é traduzida pelo respetivo cargo. Ex:. A
presidência da Républica é um órgão, cujo titular é o Prof. Marcelo Rebelo de
Sousa.
5) Ideia de imputação: a ideia de atribuir os efeitos; quem age é o órgão, mas os
efeitos são imputados à pessoa coletiva na qual ele se encontra.

Regras básicas dos órgãos colegiais


 Para funcionarem, dependem do quorum (½ + 1), um numero mínimo de
membros.

 Qual é a maioria exigida para deliberar? A regra no direito português é a da


maioria simples: é obtida através da proposta que tem o maior número de votos
(opõe-se à maioria absoluta). No caso de aprovação da Constituição, é necessária
a maioria reforçada, que se verifica em, pelo menos, 2/3.
 Todos os órgãos colegiais têm o poder de auto-organização interna, ou seja,
podem elaborar normas que disciplinem o seu funcionamento interno.
 A diferença entre o voto de desempate e o voto de qualidade: o voto de
desempate (1) significa que o presidente do órgão só vota quando há empate,
sempre fundamentando a sua decisão. No caso do voto de qualidade (2), o
presidente do órgão colegial vota conjuntamente com os outros, em caso de
empate, ganha a que o presidente votou.

O sistema maioritário, proporcional e misto


Sistemas eleitorais

a) Sistema maioritário: o candidato ou a lista que vence uma determinada


circunscrição exclui/afasta a representação dos vencidos (“Quem ganha, leva
tudo”), pelo que se sacrifica a expressão das outras listas concorrentes, p. ex., no
sistema norte-americano. Qual é a vantagem do sistema maioritário? Há maior
estabilidade governativa, há maior identificação entre os eleitores e os eleitos, há
maior responsabilidade política do eleito perante o respetivo eleitorado. Há duas
modalidades:
(i) Sistema maioritário pode funcionar em sufrágio uninominal, o que significa
que cada círculo eleitoral só elege um deputado, sendo que, neste modelo
uninominal, podem existir duas formas de sistema maioritário: um
maioritário a uma volta e um maioritário a duas voltas. Ora, no sistema
uninominal a uma volta, é eleito deputado aquele que tem o maior número
de votos (modelo britânico, essencialmente bipartidário, em que os
eleitores tendem a votar ou à esquerda trabalhista ou à direita
conservadora), enquanto no sistema uninominal a duas voltas (sistema
francês), são necessários ½ + 1 dos votos expressos, sendo que, caso isto
não se verifique, há uma 2.ª volta, em que é eleito aquele mais votado,
através do sistema da maioria simples.
(ii) Ou em sufrágio plurinominal, segundo o qual são eleitos vários deputados
por cada círculo, podendo isto conduzir à diminuição do pluralismo. É
maioritário com vários grandes eleitores, sendo o seu colégio eleitoral
constituído pelo número de senadores de cada Estado (2) mais x
representantes, em função da dimensão territorial e populacional do
Estado em causa (exemplo dos Estados Unidos da América, com exceção de
alguns Estados federados, que apresentam um sistema proporcional).

b) Sistema proporcional: parte da ideia-base de que tem de haver uma


correspondência entre o número de votos e os eleitos. Só funciona quando há
vários deputados a eleger, ou seja, quando existem círculos plurinominais, logo,
corresponde a um sufrágio necessariamente plurinominal. Qual é a vantagem do
sistema proporcional? Há uma maior representação de todas as correntes
presentes numa sociedade.
Afinal, ao contrário do sistema maioritário, garante a representação dos vencidos e
das maiorias, e pressupõe a suscetibilidade de existir um multipartidarismo assente
numa representação pluripartidária. No entanto, enquanto o sistema maioritário é
perigoso por não representar as minorias, o sistema proporcional conduz a
instabilidade governativa devido ao multipartidarismo, que leva a bloqueios à ação do
governo por via legislativa.

Por exemplo: O sistema eleitoral português é plurinominal, pressupõe a


concorrência de diversos deputados a uma mesma circunscrição eleitoral e é um
sistema proporcional, já que garante a representação dos vencidos e das minorias, pois
o “vencedor não leva tudo”, ao contrário do sistema maioritário, havendo neste caso
uma correspondência entre o voto popular e a eleição, segundo o método de
representação proporcional de Hondt.

c) Sistema misto: existe um duplo voto, num vota-se no deputado que servirá para
uma circunscrição eleitoral (é um círculo uninominal), e o outro voto, a nível
nacional, que é plurinominal (sistema alemão). Há uma complementaridade entre
características do sistema maioritário e do sistema proporcional. Prevê também a
representação das minorias e dos vencidos.

O sistema eleitoral determina o sistema partidário existente. Por exemplo, o caso


britânico, preponderantemente bipartidário (Conservadores e Trabalhistas), devido ao
sistema eleitoral a uma volta, de eleição direta de 1 deputado por cada circunscrição
eleitoral. Cria pouco espaço para a representação parlamentar de partidos não
tradicionais. O sistema eleitoral português, baseado na eleição de listas à AR, com
vários deputados por cada circunscrição, eleitos com representatividade nacional,
segundo o método de Hondt, determina um pluralismo partidário.
O sistema eleitoral norte-americano, para o presidente, por via do colégio
eleitoral, determina uma competição entre Democratas e Republicanos para esse
cargo, verificando-se que os Third Party Candidates usualmente não têm
representatividade no colégio eleitoral, já que não há proporcionalidade entre o voto
popular e o número de delegados eleitos, verificando-se que esses candidatos, por não
terem nunca a maioria de votos num Estado, não terão representação no colégio
eleitoral.

Atividade Decisória do Estado


Os princípios da atividade decisória e regras de atuação, são:

1) Princípio da juridicidade: quem decide, tem de decidir subordinado ao direito, que


o Estado cria (ideia de um Estado de Direito formal), mas também a um direito que
heterovincula o Estado (ideia de um Estado de Direito material). Este princípio
baseia-se na subordinação do decisor público, quer à legalidade, quer à
constituição; neste aspeto, há duas ideias nucleares: este só pode decidir dentro da
sua esfera de competência, que resulta sempre de uma norma (i), sendo a forma
como o faz é também um limite (ii). Por conseguinte, este princípio funciona como
fundamento, como limite e como critério de decisão de todos os poderes públicos.
2) Princípio do respeito pelos direitos e pelos interesses dos cidadãos: quem decide
tem de decidir em prol do bem comum e no respeito pelos direitos dos cidadãos.
Estes funcionam como razão de ser e limite do poder. Não é possível agir se for em
confronto com os direitos, a menos que seja em sentido de extrema necessidade.
Quando os direitos forem violados/lesados numa atuação ilícita da administração,
haverá responsabilidade por ato ilícito do poder.
3) Princípio da igualdade: significa que todos somos iguais perante a lei, não pode
haver discriminações arbitrárias (Artigo 13.º da CRP), sendo que o artigo 9.º da CRP
tem a ver com uma ideia de materialidade da igualdade.
4) Princípio da justiça: a ordem jurídica deve ser axiologicamente justa, baseada em
normas justas nunca desrespeitando os direitos fundamentais. Muitas vezes, a
justiça de braço dado com o Estado social, com o princípio do bem-estar,
fundamenta a existência de discriminações alicerçadas num fundamento racional:
tratar com igualdade o que é desigual, pode originar uma profunda injustiça.
Também se conecta à ideia de boa-fé: se não há segurança e proteção da
confiança, a justiça está posta em causa.
5) Princípio da proporcionalidade: como decide o poder público? (Ex:. Estado de
emergência). A relevância do princípio da proporcionalidade é aferida a três níveis:
 Proibição do excesso: as medidas agressivas que colocam em causa direitos
fundamentais, em nome do interesse legalmente protegido, não podem ir para
além do que é indispensável. Só se justificam estas restrições em casos especiais e
nunca para além do que é o necessário (proporcionalidade).
 Ideia de adequação: estabelece uma relação entre os meios e os fins. Os meios têm
de ser idóneos para alcançar os fins. O meio e o fim têm de estar diretamente
conectados: se o meio não leva àquele fim, a medida não é adequada, podendo até
originar uma medida arbitrária. (Ex:. Em caso de pandemia, todos têm de usar a cor
azul).
 Princípio da razoabilidade: apela à ponderação de interesses em causa. Deve ser
feita à luz do balanço: custo vs. vantagens. (Ex:. Se está em causa a construção de
um aeroporto, irá escolher-se uma localização que traga os menores custos para a
população, e o máximo de vantagens possíveis).
6) Princípio da imparcialidade: envolve dois sentidos diferentes, um sentido negativo,
que significa distância e neutralidade de interesses entre quem decide e os
interesses ou destinatários envolvidos na decisão; e um sentido positivo, que
remete para o facto de todos os interesses relevantes deverem estar
representados, das decisões do poder público terem de tomar em consideração
todos os fatores relevantes para a melhor decisão possível para o bem-comum.
7) Princípio da participação ou da colaboração dos interesses: quando o poder
legislativo, p. ex., trata das matérias sobre as autarquias locais, as associações
representativas dos autarcas devem ser ouvidas, de modo a uma decisão
harmonizada com os interesses dos destinatários dessas mesmas decisões
legislativas. A manifestação dos interesses dos destinatários está inerente a uma
democracia participativa, logo, pressupõe-se que todo aquele que é destinatário de
uma situação lesiva, tem de ser previamente ouvido (direito à audiência prévia).
8) Princípio do procedimento adequado: a decisão é o ponto de chegada, mas, para
se chegar, há que seguir certa via. Ex:. 1. O exercício da função legislativa, isto é, a
feitura de uma lei obedece a um procedimento legislativo. 2. As decisões da
administração estão sujeitas a um processo administrativo.

Ainda a propósito da atividade decisória do Estado, esta exerce-se por autoridades


públicas. Contudo, a atividade do Estado também pode ser desenvolvida por entidades
privadas (exercício privado de soluções públicas): impossível de ocorrer na função
legislativa, mas passível de acontecer na função administrativa (p. ex., na gestão
privada de hospitais públicos), na função judicial (p. ex., é o caso dos tribunais
arbitrários) e na função política (p. ex., é o caso dos partidos políticos) (i). Também há
uma regulação da atividade do Estado através de Direito privado (p. ex., por parte das
empresas públicas).

Como se exterioriza a decisão do poder?


Formas unilaterais de decisão: só intervém a vontade do Estado e podem ser
gerais, se as decisões se aplicam a uma pluralidade de destinatários e situações, p. ex.,
as leis, ou individuais, se não tiverem natureza normativa, sendo os seus destinatários
identificáveis, p. ex., as sentenças dos tribunais.
vs. Formas bilaterais: a vontade do poder conjuga-se com outros interesses, p.
ex., as convenções internacionais, ou as convenções de Direito externo, onde existe
uma partilha de interesses. Também há formas bilaterais de decisão quanto ao direito
regulador: formas de Direito privado e formas de Direito público.

O sistema parlamentar e presidencial


Sistemas de governo

O sistema parlamentar assenta em três características: existência de um


governo que é um órgão autónomo, em relação ao chefe de Estado e em relação ao
Parlamento (1); o governo é formado tendo em conta a composição política do
Parlamento (2); o governo é responsável politicamente perante o Parlamento, ou seja,
se o Parlamento retirar, em termos expressos, a confiança política ao Governo, isto
determina a sua demissão.
Principia na Grã-Bretanha, no século XXI, a figura do Gabinete, um órgão
colegial que reúne os principais ministros, inclusive posteriormente o Primeiro-
Ministro, sendo que é este quem assume responsabilidade pela mediação entre o Rei e
os restantes ministros, uma vez que o Rei desconhecia a língua inglesa. Os ministros
tornam-se responsáveis pelas ilegalidades, ao contrário do Rei, que os nomeia (1),
sendo que estes, para evitar a prisão, passaram a apresentar a sua demissão (2), a
responsabilidade criminal é substituída por uma política. Deste modo, o poder político
passa do Rei para os ministros que, sendo responsáveis, vão querer tomar as decisões
pelas quais são responsáveis (3), criando-se posteriormente um Primeiro-Ministro que
presta contas perante a Assembleia: o sistema político assenta, a partir daí, na relação
entre o Parlamento e o Governo e, sobretudo, no controlo e na regência do Governo
pelo Parlamento.

Sistema parlamentar monista


segundo o qual o Governo só é responsável politicamente perante o Parlamento
1) Sistema parlamentar de gabinete : é de gabinete, porque o gabinete do Primeiro-
Ministro é quem domina todo o sistema (1), como resultado do sistema eleitoral. O
sistema eleitoral, para a Câmara dos Comuns, é um sistema maioritário uninominal
a uma volta, ou seja, onde é eleito apenas um deputado em cada um dos 650
círculos (uninominais), o candidato que tiver mais votos (first-past-the-post
system). Por sua vez, a escolha dos Ministros é entre os membros do Parlamentos,
sendo que o 1.º Ministro (já chefe de governo) é eleito pelos membros do
Parlamento do partido maioritário (aquele que reuniu um maior número de
deputados), coincidindo, em geral, com o líder do partido maioritário (2).
Juridicamente, o Governo depende do Parlamento; mas, politicamente, a maioria
do Governo depende do Primeiro-Ministro. O Governo depende da confiança do
Parlamento, que o pode derrubar; em contrapartida, não faltam ao Governo meios de
ação sobre o Parlamento. = O Governo desempenha a função política, administrativa e,
sob delegação do Parlamento, legislativa.
Pressupõe, em regra, o bipartidarismo (3), o que significa que a representação
política-parlamentar tende a esgotar-se em dois partidos. Logo, quando ganha o
partido x, normalmente fá-lo por maioria absoluta, gerando estabilidade, havendo
também uma ideia de disciplina partidária associada a este sistema (o líder quer, o
partido obedece). Por conseguinte, há uma separação entre a maioria e a oposição, ou
seja, entre a maioria e o Governo-sombra (Shadow Cabinet) (4), composto por pessoas
estratégicas para cada lugar, caso haja uma rebelião dentro do partido maioritário,
capazes de substituir o governo em crise.

2) Sistema parlamentar de assembleia: vigorou na III República francesa e postula a


supremacia do Parlamento em relação ao Governo (1), que mal dispõe de poderes
de intervenção efetiva junto do primeiro, sendo este que domina a vida política,
com a inerente instabilidade governativa (2); o multipartidarismo (3), que origina
governos fracos; e o ascendente do Parlamento em relação ao chefe de Estado (4),
que elege e destitui, apenas recorrendo à dissolução do Parlamento em caso de
esgotamento das soluções alternativas.

3) Sistema parlamentar racionalizado: a racionalização do sistema de governo


parlamentar visa responder à instabilidade governativa, o propósito é disciplinar a
ação do Parlamento. Às vezes, os partidos entendem-se para derrubar o Governo,
mas não conseguem reunir uma plataforma mínima de acordo para criar outro
governo (maiorias negativas).
Durante a Républica de Weimar, os partidos entendiam-se sistematicamente para
derrubar governos, mas não para os formular, pelo que a moção de censura
construtiva (primeiro e mais importante instrumento da racionalização do
parlamentarismo) é uma realidade que nasceu na Alemanha (apesar de existir
exclusivamente em Espanha), e, tendo o propósito de derrubar o governo, tem de
simultaneamente conter um nome, de substituição, de quem vai formular o novo
governo (o nome do 1.º Ministro). Por exemplo, sendo Portugal um parlamentarismo
racionalizado, segundo o Professor Paulo Otero, existem instrumentos de
racionalização expressos na Constituição Portuguesa:
(i) Exigência de um intervalo de tempo entre a apresentação da moção de
censura, a sua discussão e a respetiva votação (Artigo 194.º).
(ii) Limitação da iniciativa da apresentação de uma moção de censura a um
determinado n.º de deputados, sendo que, se a moção for rejeitada, esses
mesmos deputados não podem apresentar de novo a moção de censura
(Artigo 192.º/3).
(iii) No artigo 192.º, Apreciação do programa do Governo, n.º 3, se até ao
encerramento do debate, nenhum grupo parlamentar propor a rejeição do
programa o Governo solicitar a aprovação de um voto de confiança, o Governo
entra em funções.
Por consequência, um governo para entrar em funções em Portugal não
necessita de um voto expresso de confiança, sendo que, depois, para derrubar, apenas
através da moção de censura. Mais: a aprovação de uma moção de censura exige o
voto positivo da maioria absoluta dos deputados.
(iv) O Chefe do Estado pode ainda dissolver o Parlamento, de modo a evitar
abusos parlamentares, conferindo racionalidade ao sistema.

Contudo, os críticos do Prof. Paulo Otero defendem que Portugal não é um


sistema parlamentar racionalizado, desde logo, porque o Presidente é eleito
diretamente e não existe uma moção de censura construtiva.

Sistema parlamentar dualista


segundo o qual o Governo é responsável politicamente perante o Parlamento e perante
o Chefe de Estado
1) Sistema orleanista: nascido com a revisão da Carta constitucional francesa em
1830, assenta numa conciliação da legitimidade monárquica com a legitimidade
democrática, havendo dupla responsabilidade política do Governo, perante o Rei e
perante o Parlamento. Logo, se o Rei retirasse confiança política ao Governo, o
Governo estava demitido; e vice-versa, caso isto sucedesse com a confiança do
Parlamento no Governo.
2) Sistema semipresidencial: teorizado em França, neste sistema, coabitam duas
realidades políticas, ambas democráticas: a componente parlamentar e a
componente presidencial. Diz-se misto, por ter atributos do presidencialismo e do
parlamentarismo, ao qual são adicionadas algumas características próprias. Nota:
O Presidente da República em França pode retirar o tapete político ao Parlamento,
como líder do partido a que pertence o Primeiro-Ministro.

 Dupla responsabilidade política do Governo perante dois órgãos, o Parlamento e o


Presidente da República.
 Disposição do Chefe de Estado de amplos poderes, entre os quais o poder de veto,
de dissolução do Parlamento e de demissão do Governo por quebra de confiança
política.

O sistema presidencial assenta em três características: o presidente é


simultaneamente Chefe de Estado e Chefe de Governo (1); não há, no
presidencialismo puro (norte-americano), um Governo como órgão autónomo (2), uma
vez que este não depende do Parlamento e é formado pelo próprio presidente; por
sua vez, nem o Presidente pode dissolver o Congresso, nem o Congresso pode demitir
o Presidente (3) = “Casamento sem divórcio”, Paulo Otero, à exceção da possibilidade
de impeachment (razões criminosas/jurídicas, não políticas).
O sistema presidencial nasceu nos Estados Unidos da América, na Constituição
de 1887, que ainda vigora, sendo a figura do Presidente nos EUA, no âmbito do
sistema presidencial, inspirada na figura do Rei britânico do século XVII. Ainda em
termos históricos, o presidencialismo norte-americano conjuga-se com outras duas
realidades:
1) Modelo de separação de poderes baseado nas indicações de Montesquieu, que
envolve um sistema de freios e contrapesos (checks and balances), de partilha e
interdependência entre os diferentes órgãos: chegam ao ponto de fazer com que o
poder executivo penetre o legislativo, é o Vice-Presidente dos Estados Unidos que
vai presidir o Senado.

a) O poder executivo está nas mãos do Presidente, com duas intervenções


limitavas: o Presidente deve executar as leis que vêm do Congresso, com o
poder legislativo, e o poder judicial está atribuído exclusivamente aos Tribunais
(juízes).
b) Enquanto o poder de impedir é partilhado pelo Presidente e pelos tribunais, o
poder de estatuir encontra-se apenas nestes últimos. (A “faculdade de estatuir”
deve ser interpretada como o poder de ordenar ou corrigir o que foi por outro
ordenado; enquanto a “faculdade de impedir” consiste no poder de tornar nula
a ação efetuada por outrem).
c) Veto presidencial das leis, superável, por sua vez, por uma maioria de 2/3, que
obriga o Presidente a aceitar a lei.
d) Poderes de mensagem e de impulso legislativo do Presidente.
e) Submissão da prática de certos atos do Presidente (especialmente as
nomeações de secretários e juízes, por exemplo) a parecer do Senado.
f) Dependência orçamental do Presidente.
g) Existência de comissões de inquérito.
h) Fiscalização da constitucionalidade das leis.
i) Poder de veto de bolso do Presidente, nos diplomas que são enviados para o
Presidente promulgar.

Atualmente, quanto ao sistema de governo, a França é um


hiperpresidencialismo, segundo o Prof. Paulo Otero, uma vez que o eixo da vida
política é o Presidente, de quem na prática o Governo depende, ainda que,
formalmente, o Governo seja apenas responsável perante a Assembleia Nacional
(hiperpresidencialismo francês); isto, uma vez que prevalece um cenário de
confluência entre a maioria presidencial e parlamentar, em que o Presidente tem uma
maior legitimidade e um maior protagonismo político ao ganhar as eleições
presidenciais e, o seu partido, as parlamentares.

Daqui resulta que o PR escolhe o Governo que quiser, porque o seu partido vai
sempre aceitar esse Governo, sendo o 1.º Ministro mero ajudante do Presidente,
preservando-a do contacto direto com a política do dia-a-dia. É, nesta circunstância,
que o Presidente da República em França pode retirar o tapete político ao Parlamento,
como líder do partido a que pertence o Primeiro-Ministro. Quando o 1.º Ministro
perde credibilidade, o Presidente muda-o, tendo em conta que só depois de o ter feito
sucessivamente, acabando ele por perder credibilidade, é destituído, dando lugar a
novas eleições em França. Como o Chefe de Estado controla o Governo e o
Parlamento, este é um sistema menos compatível com a separação de poderes, sendo
o mais comum em França, o que tem prevalecido nos últimos anos.
Contudo, face a um cenário de coabitação, em que a maioria presidencial é
distinta da parlamentar, e, por consequência, o Governo é escolhido pelo Parlamento
e não pelo Presidente, logo, este coabita com um Governo que não controla, pode
existir um sistema semipresidencial em França, com um Presidente “árbitro”.

O sistema diretorial tem a sua origem na constituição francesa de 1795 e, ainda


hoje, é o modelo vigente na Suíça. É semelhante ao sistema presidencial, no sentido
em que há um casamento sem divórcio entre o órgão executivo e o órgão parlamentar
ou legislativo, nem o Parlamento pode demitir o Diretório, nem o Diretório pode
dissolver o Parlamento. Contudo, há uma diferença: no sistema presidencial, o
executivo é singular, o Presidente; no diretorial, o executivo está atribuído a um órgão
colegial, o Diretório. Mais: os membros do Diretório são eleitos pelo Parlamento.

O sistema convencional tem por base o pensamento de Rousseau e a ideia de


democracia totalitária. É caracterizado pela sua origem histórica na Constituição de
1793, na Convenção, não obstante esta constituição não ter entrado em vigor. Este
sistema de governo é caracterizado pela rejeição da separação de poderes, porque
prefere a concentração de poderes numa Assembleia, a Convenção, em coerência com
o pensamento de Rousseau.
Esta exerce todos os poderes, à exceção do judicial, com uma dupla
particularidade: o facto de os membros da Assembleia serem entendidos como
delegados do povo (1); o exercício em concreto dos poderes pertence a um órgão
colegial mais restrito eleito pela Assembleia, um Conselho Executivo dela dependente
(2).

Outro modelo de sistema convencional que, ao contrário do francês de 1793 (sistema


jacobino), chegou a vigorar, foi o modelo soviético, que assentou na ideia de
concentração de poderes no Soviete Supremo (bicameral). De facto, o regime era
convencional, mas, na prática real, invertia-se o controlo do poder, tendo em conta
que quem controlava o Soviete Supremo era o líder do Partido Comunista.

Monarquia Limitada, Cesarismo e Governo de Chanceler


Sistemas de governo de raiz pré-liberal

1) Monarquia limitada: inaugurada com a Carta constitucional francesa de 1814,


corresponde à síntese entre o pensamento revolucionário que está na base da
Revolução Francesa e das restantes revoluções liberais, e o modelo anterior de
Estado, pré-liberal. Benjamin Constant é o grande protagonista desta síntese,
sendo que, extraídas da Revolução Francesa e das restantes revoluções liberais, há
três ideias essenciais: a separação de poderes (1), os direitos das pessoas (2) e a
legitimidade democrática expressa no Parlamento (3), baseada no sufrágio
censitário; enquanto, simultaneamente, há a consagração da legitimidade
monárquica, que anima instituições governativas.
Há, de facto, um texto constitucional escrito consagrador do princípio da separação
de poderes, circunscrevendo a atuação do monarca a limites normativos escritos.
Contudo, a Constituição é a expressão da vontade do rei, do princípio monárquico,
sendo outorgada (p. ex., a Carta Constitucional francesa de 1814 e a Carta
Constitucional portuguesa de 1826). Afinal, o poder constituinte reside no Rei, pelo
que todas as constituições são um produto de uma autolimitação dos poderes do Rei
pelo Rei.
a) O centro do poder político, da decisão constituinte, está no Rei.
b) Contudo, o rei tem uma constituição escrito limitativa do seu poder: na sua
atuação quotidiana, encontrando-se dependente da separação de poderes,
logo, tendo de contar com a atuação paralela dos tribunais e do Parlamento.
Ainda assim, o princípio democrático domina a Carta Constituinte de 1814 em
França e 1826 em Portugal.
c) O Parlamento é composto por duas Câmaras, a Câmara baixa, baseada no
sufrágio direto (legitimidade democrática), e a Câmara alta, cujos titulares são
designados pelo Rei.
d) O poder executivo pertence ao Rei com os seus ministros, por outras palavras,
ao Rei e ao Governo, não sendo este politicamente responsável perante o
Parlamento, é apenas perante o Rei (que os pode nomear e demitir).
e) O poder de veto do Rei é absoluto: a lei é sempre uma expressão conjugada
entre duas legitimidades, porque às Cortes compete aprovar as leis, mas as leis
só se tornam leis após a aprovação do Rei, daí que o veto do Rei seja absoluto.
f) Os tribunais também aplicam o direito em nome do Rei, sendo que, das
decisões dos tribunais, cabe recurso último ao Rei.
g) No silêncio da Constituição, pertence ao Rei tudo aquilo que não está atribuído
a outros órgãos; entende-se que o Rei é titular de uma competência residual.
Logo, retoma-se aqui como o Rei é o titular da raiz de todos os poderes, ou
seja, o titular do poder constituinte.
h) Benjamin Constant vem criar outro poder para o Rei: a “chave” dos demais
poderes, o poder moderador. É o poder moderador que permite ao Rei, p. ex.,
dissolver as Cortes, que justifica que o Rei seja o fiel garante do funcionamento
das instituições.

2) Cesarismo: há uma concentração de poderes políticos numa única pessoa, na sua


base, a figura de Napoleão. O cesarismo alinha a concentração de poderes numa
pessoa ao plebiscito (vs. referendo, há quem entende que este é para textos
normativos), considerado para pessoas, não servindo este para legitimar quem vai
para o poder, mas para quem já está no poder: legitimação à posteriori.

3) Governo de Chanceler: é uma inovação alemã, tem a sua origem na Constituição


alemã de 1871, a Constituição que vem consagrar a unificação alemã. É
caracterizado por uma concentração do poder executivo no monarca. Contudo, o
Rei não exerce este poder diretamente, ele designa um ministro da sua confiança,
o chanceler, a quem delega os seus poderes; o chanceler executa a política do Rei.
Este não é politicamente responsável perante o Parlamento, apenas perante o Rei,
sendo demitido por este último quando falha; deste modo, os outros ministros
respondem politicamente perante o chanceler, sendo nomeados por este último,
enquanto o chanceler responde perante o Chefe de Estado. (O Parlamento não
determina a cessação dos governos, por isso, o sistema não é parlamentar).
Por exemplo- 1. A Alemanha manteve-se como um Império tanto tempo,
exatamente porque o imperador não estava diretamente sujeito ao desgaste devido à
escolha do chanceler. 2. Durante a vigência da Constituição Portuguesa de 1973, na
época de Salazar e Marcelo de Caetano, o Estado Novo regeu-se por este sistema, com
a diferença de que o Chefe de Estado era o Presidente da República, não o Rei.

+ Temas: 1- Limites do poder do Estado; 2- Mecanismos de controlo do poder.

Limites ao poder do Estado


A própria existência do Direito, já é, por si só, uma limitação ao poder do Estado. Já
sabemos que todos os princípios acima referidos, que pautam a atividade decisória,
também são limites.
O enquadramento histórico da limitação do poder, pode ter três configurações:

1- É impossível limitar o poder. Historicamente confirmado por uma razão: Se o poder


tem como base a soberania, a soberania é insuscetível de ser limitada, porque se o for,
deixa de ter o sentido amplo que a descreve. Quem concorda com esta concessão,
afirma que podia haver limites, mas só de carácter religioso e moral aos titulares dos
órgãos do governo. Foi assim até à Revolução Francesa. Antes, o rei conhecia a ideia de
autolimites: O governante cria para si os seus próprios limites. O rei podia assumir um
certo compromisso deliberado por si e para si. Contudo, ninguém o podia fiscalizar e, a
qualquer momento, poderia suspender ou até acabar com este mesmo compromisso.

2- É desnecessária a limitação do poder. É a tese de Platão: O governante é o sábio,


não precisa de leis, muito menos de ser limitado. Porque sendo sábio, sabe o que é o
correto, não necessita de qualquer limite. Foi este pressuposto de Platão, que originou
os modelos totalitários do século XX. Rousseau também vem a contribuir para esta
ideia: a autoridade está exposta através da expressão da maioria. A maioria não tem
de estar limitada. Há também, aqui, o risco de um modelo totalitário.

3- É necessária a identificação do direito com o Estado: Conceção do pensamento de


Kelsen. O Estado deve a sua existência ao Direito. A questão da limitação do poder é
aqui uma falsa questão. O poder escolhe sempre as suas limitações: o Estado de
Direito Formal. O direito é uma própria autodeterminação do poder. O que importa
para Kelsen, não é se o direito é ou não justo, mas se uma certa norma deriva da
competência de uma outra norma. Uma concessão formal: Direito cego à justiça.

Como resolver o problema da limitação do poder do Estado?


1. O Estado está limitado por princípios jurídicos fundamentais, que transcendem o
mesmo, e que por isso, são indisponíveis pelo Estado. O Estado não tem o monopólio
da criação do Direito, cinge-se a princípios supra positivos. Aqui reside a ideia de que
se houver leis injustas, estas não o são (leis), pois violam princípios fundamentais. Em
casos de direito injusto, surge o direito a desobedecer ao mesmo. Mesmo que a
decisão seja feita a partir da constituição, se for o caso de uma norma inconstitucional,
a deliberação não é válida.

2. Apesar do Estado estar limitado ao direito que o transcende, a verdade é que o


Estado também tem uma margem para poder criar Direito. Pode criar normas que
disciplinem a sociedade: direito da expressão de vontade do estado, que serve como
autolimite, logo, podem ser reversíveis. A relevância da vontade do Estado subdivide-
se na criação de normas constitucionais, ou ao abrigo da CRP, criar leis que espelhem
essa mesma vontade. Pode ainda, em terceiro, criar normas regulamentares no
exercício da função administrativa que visam pormenorizar as soluções legislativas de
convenções internacionais. Logo, o Estado exerce a vontade, e ao fazê-lo, está limitado
no exercício das suas funções. Estes limites podem ser criados exclusivamente por si,
ou pelo Estado e um Terceiro (UE): Hétero-vinculação, contudo com base de auto-
vinculação.
3. Não são apenas limitações jurídicas, há limitações não-jurídicas. Há
fundamentalmente, quatro grandes limitações deste tipo:
 Os partidos políticos (em especial os de oposição);
 Os grupos de interesses (sindicatos querem influenciar a população);
 A opinião pública: Eleições e/ou inquéritos de estatística/sondagens;
 Os meios de comunicação social e as redes sociais: denunciar situações de
irregularidade, crimes, servindo como um debate generalizado de ideias.

O problema dos limites aos limites não jurídicos: O uso de notícias falsas, deve ser
admitida como liberdade de expressão, ou deve ser um limite? Se for um limite, quem
o controla e impõe? Não será́ isto um ato de censura? Como se pode então limitar
juridicamente as limitações não jurídicas?

É este o maior desafio da atualidade.

Mecanismos de controlo do poder


1. Mecanismos intraorgânicos: Dentro dos próprios órgãos de decisão. Há casos em
que cada órgão, tem dentro de si mecanismos intraorgânicos. Intra, por estarem
dentro do próprio órgão limitarem a sua deliberação.

No parlamento, temos o caso da existência de um bicameralismo (2 câmaras no


parlamento). No modelo britânico ou no modelo norte americano. Há aqui controlo do
próprio poder, porque necessita da conformidade de vontade de ambas as partes, por
exemplo, no que toca à matéria legislativa.
A exigência de maiorias qualificadas. Quanto maior for a maioria exigida para aprovar
um determinado diploma, mais importante é alargado o consenso, logo maior é o
controlo. A maioria tem de ser previamente decidida, porque há variadíssimas formas
de maioria.
O executivo pode também ter mecanismos de limitação. A existência de um executivo
dualista: chefe de estado e um governo. Logo, tem de haver uma articulação entre
ambos. Existe uma obrigatoriedade de convergência de vontades. Ou quando há um
governo de coligação: os partidos em causa limitam-se mutuamente na deliberação de
governar. A existência de tribunais colegiais (pluralidade de juízes).

2. Mecanismos interorgânicos: Controlo entre diferentes órgãos. Podem ser


mecanismos de controlo político ou mecanismos de controlo jurídico.
 Controlo político: Controlo do governo pelo parlamento. O parlamento pode
tirar a confiança política do governo, pela aprovação de uma moção de
censura, ou no presidencialismo, o parlamento pode destituir o presidente pelo
impeachment, ou a existência de meios ordinários de controlo do governo pelo
parlamento: inquéritos e nomeações.
Pode também existir o contrário: O governo controlar o parlamento. O governo pode
condicionar a atuação do parlamento na questão do orçamento. O parlamento diz sim
ou não. Mas o processo de desencadear é exclusivo ao governo. O governo pode
também solicitar à rainha a dissolução do parlamento (No caso Britânico).
 Controlo jurídico: O controlo pode incidir em termos internos, ou pode ser
proveniente de termos externos. Quanto aos termos internos, se for sobre
atos, pode se verificar na fiscalização dos atos praticados pelo poder.
É também o exemplo disto mesmo, a condição de responsabilidade civil por parte do
titular. Quanto aos termos externos, pode ser verificado pelo tribunal da EU
(mecanismo internacional de controlo externo).

Não há mecanismos de limitação do poder, fora dos órgãos?


Há e são os chamados mecanismos extraorgânicos de controlo. Exemplo: Através do
eleitorado, ou através da opinião pública (redes sociais por exemplo). Mecanismos
estes que estão fora do poder. Quando já́ não é possível a existência de mecanismos
de limitação do poder, sobra-nos o direito de resistência. O direito de não se
subordinar a determinadas decisões e/ou comandos, que entram em confronto com
determinados direitos fundamentais: Artigo 21o da CRP.

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