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O ESTADO MODERNO

EM NORBERTO BOBBIO
PROF. DR. ALESSANDRO DE MELO
QUEM FOI NORBERTO BOBBIO?

• Norberto Bobbio (1909-2004), cientista político, filósofo político, historiador do pensamento político, senador
vitalício italiano (1984-2004);
• Cursou Direito e Filosofia na Universidade de Turim, foi professor de Filosofia do Direito e de Ciência
Política;
• Para nós interessa o fato de ele ter sido um pensador do Direito, especialmente devoto do positivismo jurídico;
• Em geral sua crença girava em torno dos seguintes princípios:
• Crítica ao fascismo
• Crítica ao bolchevismo
• Crítica ao marxismo
• Defensor das ideias liberais clássicas (não neoliberais).
CONCEPÇÃO DE ESTADO PARA N. BOBBIO

• Estado não é um conceito universal e ahistórico, mas remete a um determinado período de


tempo e espaço: Europa, aproximadamente a partir do século XIII até os séculos XVIII e XIX,
tornando-se a forma hegemônica de organização social;
• Uma síntese de N. Bobbio sobre o que é o Estado:
“[...] em qualquer dos casos se trata de uma organização das relações sociais (poder) através de
procedimentos técnicos preestabelecidos (instituições, administração), úteis para a prevenção e
neutralização dos casos de conflito e para o alcance dos fins terrenos que as forças dominadoras
na estrutura social reconhecem como próprias e impõem como gerais a todo o país.” (Dicionário
de Política, Verbete: Estado Moderno)
ELEMENTOS QUE DIFERENCIAM O ESTADO
MODERNO
• Progressiva centralização do poder no Estado, que abrange o âmbito completo das relações
políticas;
• Territorialidade da obrigação política;
• Progressiva impessoalidade do comando político;
• Monopólio do uso legítimo da força (definição clássica de Max Weber);
• Poder mundano supera o poder da Igreja (primado da política);
• Formação de uma burocracia estatal especializada.
ESTADO E PODER

• O poder é o campo comum entre o Estado e a Política:


• As formas de governo surgem da unidade entre Kratos (força, potência) e Arché
(autoridade): democracia, monarquia, oligarquia, bem como indica as formas de poder:
burocracia, fisiocracia etc.;
• Summa potestas: o que pode o Estado em determinado território?
• Três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;
• Portanto: teoria do Estado é uma forma de teoria política, e esta é uma particularidade
da teoria do poder.
ESTADO E PODER

• Três teorias do poder:


• Substancialista (T. Hobbes. O Leviatã): “o poder é concebido como uma coisa que se possui e se usa como um
outro bem qualquer” (Bobbio, 2012, p. 77). Usa-se o poder para alcançar o que se quer, lançando mão dos meios
disponíveis: meios naturais ou adquiridos.
• Subjetivista (J. Locke. Ensaio sobre o entendimento humano): poder é a capacidade do sujeito de obter certos
efeitos, influindo nos comportamentos dos demais (ou dos súditos, se tratamos de soberanos). Está presente no direito
subjetivo: “significa que o ordenamento jurídico lhe atribui o poder de obter certos efeitos” (Bobbio, idem, p. 77-78)
• Relacional (R. Dahl. Análise política moderna): a influência se dá na relação entre atores, na qual um deles induz os
outros a agirem de um modo que, sem esta influência exercida, não o fariam.
PODER POLÍTICO E OS DEMAIS PODERES

• O que distingue o poder político?


• No período medieval, no convívio das duas potestades: Igreja e Estado, caberia ao Estado, como potestade temporal,
“[...] o direito e o poder de exercer a força física sobre um determinado território e com respeito aos habitantes deste
território [...]” (Bobbio, 2012, p. 80);
• No transcorrer do tempo, este conceito se aperfeiçoa, sem deixar seus fundamentos. O uso da força no Estado de Direito
moderno não deveria ser o primeiro instrumento, mas ser usado em última instância; E ao Estado não basta ter isso, mas
a exclusividade do uso da força (o que dá soberania);
• De Hobbes e Jean Bodin, esta definição se torna clássica em Max Weber, no século XX, para quem o Estado se define
como o detentor do monopólio exclusivo da coação física legítima;
• Kelsen vai além: “O Estado é uma organização política porque é um ordenamento que regula o uso da força e porque
monopoliza o uso da força.” (apud Bobbio, idem, p. 82)
PODER POLÍTICO, ECONÔMICO E IDEOLÓGICO

• Uma bela síntese de N. Bobbbio:


“[...] a definição de poder político como o poder que está em condições de recorrer em última instância à força
[...] O poder econômico é aquele que se vale da posse de certos bens, necessários ou percebidos como tais,
numa situação de escassez, para induzir os que não possuem a adotar certa conduta, consistente principalmente
na execução de um trabalho útil [...] O poder ideológico é aquele que se vale da posse de certas formas de saber,
doutrinas, conhecimentos [...] para exercer uma influência sobre o comportamento alheio e induzir os membros
do grupo a realizar ou não realizar uma ação [...] O que têm em comum estas três formas de poder é que elas
contribuem conjuntamente para instituir e para manter sociedades de desiguais divididas em fortes e fracos com
base no poder político, entre ricos e pobres com base no poder econômico, em sábios e ignorantes com base no
poder ideológico. Genericamente, entre superiores e inferiores” (Bobbio, 2012, p. 83 com destaques meus).
SOBRE OS LIMITES DO PODER: DIREITO E PODER

• Elementos do Estado para os juristas: povo, território e soberania;


• O poder soberano do Estado é o de criar e aplicar direito, normas vinculatórias em todo o
território e válidas para todos os seus integrantes (povo), valendo-se de mecanismos de
legitimidade produzidas pelo sistema, e tendo no uso da força em última instância seu
mecanismo de eficácia (legitimidade e eficácia);
• Importante lembrar dos limites do poder de Estado: matérias não disponíveis a
regulamentação, de ordem pessoal, da liberdade individual, de consciência (direitos civis)
etc.
SOBRE A DEMOCRACIA MODERNA

• Modernamente entende-se que a democracia se opõe a todo e qualquer regime despótico;


• Com Rousseau aprendemos que a democracia é o governo da soberania popular, fundado no consenso
e na participação de todos, bem como no ideal de igualdade;
• No século XIX, B. Constant, em seu discurso sobre A liberdade dos antigos comparada com a dos
modernos (1819) afirma que é a liberdade individual em relação ao Estado: liberdade civil e política;
• Direito de eleger e ser eleito: liberdade de votar e ampliação de instituições representativas cujos
cargos são elegíveis. E que cada voto seja igual a todos os demais;
• Garantia de que os direitos das minorias não sejam esmagados pela maioria.
ESTADO BRASILEIRO NA C.F. DE 1988:
FUNDAMENTOS REPUBLICANOS E DEMOCRÁTICOS
• Art. 1º Fundamentos do Estado Democrático de Direito:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição.
REFERÊNCIAS
BOBBIO, N. Estado, governo, sociedade. Para uma teoria geral da política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.
BOBBIO, N.; MATTEUCCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Trad. Carmen C. Varriale. 12. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2938561/mod_resource/content/1/BOBBIO.%20Dicion%C3%A1rio%20
de%20pol%C3%ADtica..pdf
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.

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