Você está na página 1de 3

Estudo de

Caso

Proteção Jurídica da Cidadania

Professoras: Drª. Daniela Menengoti Ribeiro e


Me. Simone Fogliato Flores
Unicesumar Unicesumar
2 3

estudo de estudo de
caso caso

CASO: Caso Nottebohm, julgado pela Corte Internacional de Justiça (Liechtenstein vs A Corte Internacional cuidou do argumento da nacionalidade e, nele, fundou sua decisão
Guatemala), em 06 de abril de 1955. final. Reconheceu que o Liechtenstein, como todo Estado soberano, regula, por sua própria
Na jurisprudência internacional sobre nacionalidade, destaca-se o famoso caso Nottebohm, lei, a aquisição de sua nacionalidade, mas, para o exercício da proteção do cidadão pelo
julgado pela Corte Internacional de Justiça de Haia. Friedrich Nottebohm nasceu em Hamburgo, Estado, perante uma jurisdição, deve-se atentar para o direito internacional, a fim de deter-
em 26 de setembro de 1881, sendo um nacional alemão. Imigrou para Guatemala em 1905, minar se o Estado tem realmente qualidade para exercer essa proteção e pleitear em favor
fixando, ali, domicílio, e se dedicou à atividade comercial na qual foi muito bem-sucedido. do cidadão perante a Corte:
Nottebohm costumava viajar para a Alemanha a negócios, para vários outros países
para gozar férias, e ao Liechtenstein para visitar um irmão que lá vivia. Em 1939, ano em “À época de sua naturalização, aparentava Nottebohm estar mais ligado a Liechtenstein do que a
qualquer outro Estado no que concerne à sua tradição, seu estabelecimento, interesses, laços fa-
que eclodiu a 2ª Guerra Mundial, no dia 1° de setembro, Nottebohm visitava a Europa e, de
miliares e intenções para o futuro mediato?”, indaga à Corte. E prossegue: “À data quando requereu
passagem por Liechtenstein, conseguiu adquirir a nacionalidade desse país, regressando à sua nacionalização, Nottebohm era nacional alemão desde a época de seu nascimento. Sempre
Guatemala, onde continuou vivendo. manteve seus contatos com os membros de sua família que haviam permanecido na Alemanha
Em 1943, como resultado de intervenção norte-americana, foi preso e deportado para os e sempre manteve relações comerciais com aquele país. Seu país estava em guerra há mais de
Estados Unidos enquanto cidadão de país inimigo, permanecendo preso por mais de dois um mês e não há indicação de que o pedido de naturalização foi motivado pelo desejo de se
desassociar do governo do seu país. Estabelecera-se, na Guatemala, há 34 anos, lá conduzindo
anos, sem julgamento. Terminada a guerra, Nottebohm teve seu regresso à Guatemala recu-
suas atividades; era o principal local de seu interesse. Para lá regressou pouco após sua naturali-
sado, momento em que o governo confiscou as suas propriedades, em 1949, e os tribunais zação, e ali manteve o centro de seus interesses e de suas atividades [...]” (CORTE INTERNACIONAL
não conheceram as medidas judiciais que impetrava para reaver seus bens. DE JUSTIÇA. Nottebohm Case (Liechtenstein vs Guatemala). Julgamento de 06 de abril de 1955).
Assim, Nottebohm foi viver em Liechtenstein e o governo assumiu a defesa de seus direitos,
processando a Guatemala perante a Corte Internacional, em 1951, pleiteando Liechtenstein E Corte afirmou ainda mais:
de que a Guatemala pague indenização pela detenção e expulsão de seu nacional, e devolva
os bens confiscados. A naturalização foi solicitada não com o objetivo de obter o reconhecimento legal de Nottebohm
como membro da população de Liechtenstein, mas com o fim de substituir seu status de nacio-
Guatemala se defendeu alegando falta de negociação diplomática, falta de esgotamen-
nal de país beligerante, pelo de nacional de país neutro, com o objetivo exclusivo de se submeter
to das vias de recursos internos, e, principalmente, a ilegitimidade de Liechtenstein, por não assim à proteção de Liechtenstein, sem se ligar a suas tradições, interesses, maneira de viver [...]
ser autêntica a nacionalidade de Nottebohm, uma vez que foi falha sua a aquisição da na- (CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Nottebohm Case (Liechtenstein vs Guatemala). Julgamento
cionalidade de Liechtenstein. de 06 de abril de 1955).
Unicesumar
4

estudo de
caso

Portanto, definiu, assim, a Corte Internacional: “a nacionalidade é um laço jurídico que tem na
sua base um fato social de conexão, uma solidariedade efetiva de existência, de interesses, de
sentimentos, ligados a uma reciprocidade de direitos e deveres” (CORTE INTERNACIONAL DE
JUSTIÇA. Nottebohm Case (Liechtenstein vs Guatemala) Julgamento de 06 de abril de 1955).
Ora, os laços de Nottebohm com Liechtenstein, conclui a Corte, são extremamente tênues,
concedida que foi a sua naturalização, sem atenção à ideia que se tem do instituto da na-
cionalidade nas relações internacionais. Assim, Guatemala não é obrigada a reconhecê-la,
pelo que a Corte – em uma decisão tomada em 6 de abril de 1955, da qual divergiram três
eminentes de seus membros – rejeita a pretensão de Liechtenstein, sem exame do mérito
da questão.
Para fins internacionais, a nacionalidade é importante, porque, para qualquer viola-
ção dos direitos de um nacional (Nottebohm) perpetradas por outro Estado (Guatemala),
não é o afetado que recorre à Corte Internacional de Justiça, mas o Estado, em seu nome
(Principado de Liechtentein), ao que poderia ser chamado de “proteção diplomática em um
estado estrangeiro”.
O caso apresentado tem sido de suma importância para o Direito Internacional Privado,
servindo como precedente para outras decisões referentes à nacionalidade.
É importante destacar que a Corte deixou claro ao decidir que não consideraria a vali-
dade da naturalização de Nottebohm em relação à legislação doméstica de Liechtenstein.
A análise teve, como foco, os efeitos gerados pela decisão no plano internacional, perante
os demais Estados.
Portanto, o aspecto mais importante analisado foi se o ato unilateral do Estado em con-
ceder a nacionalidade é passível de oposição perante outro Estado no plano internacional,
garantindo, assim, inclusive, o exercício da proteção diplomática pelo Estado do seu nacional.

Você também pode gostar