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Introdução
É verdade que não se pode esquecer o trabalho empreendido pelos tribunais ad hoc,
constituídos para reprimir crimes específicos e contribuíram consideravelmente para a
criação de um Tribunal penal internacional permanente.
É nesse contexto que o presente trabalho de pesquisa tem como tema: Justiça Penal
Internacional; tem como objectivo Geral: Compreender a justiça penal internacional;
por conseguinte, tem como objectivos específicos: Descrever os antecedentes da
criação do Tribunal Penal internacional; Identificar a jurisdição do Tribunal Penal
internacional; Explicar a relevância da justiça penal internacional para a humanidade;
A elaboração desta pesquisa justifica-se pelo facto de ser um tema de grande relevância
para a humanidade, e irá de certa forma contribuir no incremento do conhecimento
sobre a responsabilização penal internacional de crimes cometidos nos mais diversos
conflitos do mundo à comunidade estudantil em geral.
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2. Justiça Penal Internacional
Direito Internacional Penal é o ramo do Direito penal que trata dos crimes
essencialmente internacionais, ou dos crimes com natureza internacional, isto é,
estariam abrangidas as infrações de estrutura puramente internacional. Nesse direito o
crime tem originariamente uma natureza internacional, é originariamente previsto nos
tratados por recobrir prática de factos que ofendem valores da comunidade internacional
no seu todo, tem de ocorrer na sociedade internacional e devem ser julgados e punidos
por Tribunais internacionais.
Neste direito o tipo de crime contem descrição de factos accão ou omissão que se proíbe
no território dos Estados, mas que pela natureza, podem ocorrer nos territórios de dois
ou mais Estados. A origem e a natureza do crime é nacional, mas internacionaliza-se
através de acordos de cooperação judiciária entre os Estados destinados a combate-los
transnacionalmente que permitem que os tribunais do Estado em cujo território o crime
foi praticado seja o competente para julgar os autores da prática do crime. (Brito &
Freitas 2018, p. 2)
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internacional uma vez que o enfoque do presente trabalho será a responsabilização de
crimes de natureza internacional.
A ideia de uma jurisdição penal internacional esteve presente ao longo de todo o século
XX. Houve muitas tentativas de criação de uma corte internacional permanente.
Após esta frustrada tentativa de Moynier, veio uma outra, mais forte, visando o
estabelecimento de uma jurisdição penal internacional com o Tratado de Versalhes em
1919, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial.
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Os tribunais penais militares internacionais de Nuremberg e Tóquio tinham o
objetivo de processar e julgar os principais responsáveis, na Alemanha e no Extremo
Oriente, pelas atrocidades cometidas na Segunda Guerra Mundial.
Esse é um breve resumo dos antecedentes da criação do TPI. Ver-se-á, a seguir, uma
amostra mais detalhada da atuação dos tribunais penais que antecederam o Tribunal
Penal Internacional, desde o final da Segunda Guerra Mundial até o fim da Guerra Fria.
Imputou-se aos acusados a prática dos seguintes ilícitos penais: crimes contra a
paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, sendo estes os de mais difícil
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definição, pois não faziam parte de nenhum tratado anterior, diferentemente dos crimes
de guerra, previstos na Convenção de Haia, de 1907, e na Convenção de Genebra
relativa ao tratamento dos prisioneiros de guerra, de 1929.
Este tribunal foi vítima de muitas contestações e críticas uma vez que estes tribunais,
pelo seu funcionamento, ignoraram o princípio fundamental da legalidade dos crimes e
das penas e, pela sua composição, aplicaram o direito e a justiça dos vencedores sobre
os vencidos.
Mas apesar disso, pode-se concluir que não existia qualquer outra alternativa!
O tribunal de Tóquio também tinha competência para julgar crimes contra a paz, crimes
contra as Convenções de guerra e crimes contra a humanidade. Toda a base de atuação
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deste Tribunal era semelhante ao seu precursor, o Tribunal de Nuremberg, com
pequenas distinções a saber:
Como ocorrera com o de Nuremberg o tribunal de Tóquio também sofreu duras críticas
uma vez que nem todos os acusados foram condenados, muitos criminosos de guerra
foram libertados pelos americanos sem sequer serem processados, penas foram
reduzidas, enfim, houve um desvirtuamento do objetivo principal que era a punição
efetiva dos que haviam atentado contra a paz e segurança internacionais.
O tribunal da Jugoslávia surge face a pressão da comunidade internacional que por meio
da Resolução nº 808, de 22 de fevereiro de 1993, tomando por base o relatório desta
comissão, no qual ficaram evidenciadas as detenções e violações sistemáticas, massivas
e organizadas de mulheres, em particular mulheres muçulmanas, decidiu submeter à
aprovação um estatuto para criação de um Tribunal Penal ad hoc para julgar os
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principais responsáveis pelas graves violações ao Direito Internacional Humanitário
cometidas no território da ex-Jugoslávia desde 1991. E logo em seguida em 25 de maio
de 1993, foi estabelecido o Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia, por
meio da Resolução nº 827 do Conselho de Segurança da ONU, com sede em Haia.
Como a maior parte dos países africanos, iniciou seu processo de independência no
início dos anos 60, em decorrência do processo de descolonização. Desse momento em
diante, esta região da África se viu composta por povos de diferentes etnias e
historicamente rivais, situação que, somada às dificuldades econômicas e políticas,
resultou em inúmeros conflitos, como o de Ruanda.
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Apesar desses tribunais terem sido extremamente importantes para a criação do actual
tribunal internacional e de terem alcançado vários aspectos positivos, criação destes
tribunais ad hoc foi objecto de duras críticas segundo Deyra (2001):
Todavia, o contributo dos TPI, embora limitado, não deverá ser negligenciado, tanto no
que diz respeito às questões de procedimento como às questões substanciais (papel do
costume no DIH). A experiência destes dois tribunais permitiu progredir em termos da
vontade de cumprir a obrigação de punir os criminosos de guerra.
O Tribunal Penal Internacional (TPI), uma das principais instituições internacionais que
foram criadas no final do século XX, é hoje um dos actores fundamentais na proteção
dos direitos humanos, em particular quando as violações desses direitos atingem um
patamar de gravidade que constituem crimes internacionais.
Este tribunal foi criado por um tratado internacional multilateral, o tratado de Roma em
1998. De lembrar que Em 1996, a Assembleia Geral decidiu convocar a Conferência
diplomática de plenipotenciários das Nações Unidas sobre a criação de um tribunal
penal internacional, que teve lugar em Roma, de 15 a 17 de Julho 1998.
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“O objectivo era muito ambicioso: tratava-se de lutar contra o fenómeno da impunidade
dos criminosos de guerra e genocidas, pondo fim à necessidade de estabelecer tribunais
repressivos numa base circunstancial.” (Deyra 2001, p. 154)
O Tribunal penal internacional tem a sua sede em Haia e é composto por dezoito juízes
de várias nacionalidades.
Para Brandão (2006) O fundamento legal do TPI pode se estabelecer de duas formas:
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Naturalmente que as duas primeiras teriam uma atuação fraca em relação a ultima,
surgindo assim a ideia estabelecer um meio-termo entre as três propostas que culminou
com a definição de um sistema complexo, de jurisdição restrita e complementar, ou seja,
prevalece a regra do esgotamento dos procedimentos internos como condição para que
se dê início à jurisdição internacional.
A jurisdição deste Tribunal pode ser analisada sob os critérios material, pessoal,
Temporal e territorial, lembrando que a regra geral é a aceitação de pleno direito da
jurisdição do Tribunal a partir do momento em que o Estado se torna parte no Estatuto.
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g) Estupro;
h) Escravidão sexual, prostituição compulsória, gravidez imposta, esterilização
forçada ou outros abusos sexuais graves;
i) Perseguição de um grupo ou coletividade com identidade própria, por motivos
políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais ou religiosos;
j) Desaparecimento de pessoas;
k) Apartheid; e
l) Outras práticas que causem grande sofrimento ou atentem contra a integridade
física ou saúde mental das pessoas.
4.2.3 Crimes de Guerra
Homicídio doloso;
Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas;
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prepara, inicia ou realiza um acto de agressão que por suas características, gravidade e
escala constitua uma violação manifesta da Carta das Nações Unidas.
Por “acto de agressão” se entenderá o uso da força armada por um Estado contra a
soberania, a integridade territorial ou a independência política de outro Estado, ou em
qualquer outra forma incompatível com a Carta das Nações Unidas. De conformidade
com a resolução 3314 da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 14 de dezembro de
1974, qualquer dos atos seguintes, independentemente de que se tenha ou não
declaração de guerra, se caracterizará como ato de agressão:
A competência do TPI pode ser exercida quando um Estado passa a ser parte do
Estatuto, ou seja, ele aceita a competência do TPI sobre os crimes mencionados acima.
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Um estado que não seja parte no Estatuto pode fazer uma declaração aceitando a
competência do tribunal.
Todos os estados que não ractificaram o Estatuto poderão fazer uma declaração em caso
de necessidade aceitando a competência do TPI.
De acordo com o disposto no art.º. 110 do Estatuto de Roma, o Tribunal pode impor à
pessoa condenada por um dos crimes acima citados as seguintes penas:
O princípio de complementaridade
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De acordo com o mesmo, a Corte somente atua se o Estado que tem jurisdição
sobre determinado caso não iniciou o devido processo ou, se o fez, agiu com o
intuito de subtrair o acusado à justiça ou de mitigar-lhe a sanção. Justifica-se porque
compete em primeiro lugar aos Estados o dever de reprimir os crimes capitulados no
estatuto do Tribunal, até para que a repressão se faça de modo mais eficaz. A Corte,
pois, atua apenas subsidiariamente, agindo sobretudo na hipótese em que ocorre “a
falência das instituições nacionais
Ao contrário dos tribunais ad hoc, que são concorrentes e têm primazia sobre as cortes
nacionais, o Tribunal Penal Internacional tem caráter excepcional e complementar e
somente aplicar-se-á aos crimes de extrema gravidade nele definidos: o crime de
genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão.
Princípio da Universalidade
Segundo o qual o indivíduo responde pessoalmente por seus atos, sem prejuízo da
responsabilidade do Estado.
Exige que todos os chefes militares, mesmo que não estejam fisicamente presentes no
local dos crimes, envidem todos os esforços ao seu alcance para evitá-los, sob pena de
neles ficarem implicados.
Princípio da imprescritibilidade
De acordo com o qual a ação criminosa jamais terá extinta a punibilidade pelo decurso
do tempo, embora ninguém possa ser julgado por delitos praticados antes da entrada em
vigor do Tratado
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4.6. Limitações do TPI
Apesar da competência do TPI ser mais ampla do que os tribunais ad hoc, os seus
poderes são infinitamente mais restritos.
Isso nos remete a ideia de que o sistema de repreensão baseado apenas no direito
internacional apresentava graves deficiências, especialmente por não garantir o
julgamento de indivíduos. Portanto, sentia-se a necessidade de adoptar novas normas e
criar instituições capazes de garantir punições efectivas para os crimes internacionais,
introduzindo, sobre tudo, o individuo nas questões penais internacionais.
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A justiça penal internacional é a tentativa da comunidade internacional de julgar e punir
as pessoas que cometem crimes contra a humanidade, tendo, portanto o objectivo de
evitar impunidade. O impacto da atuação da justiça penal internacional sobre tudo do
TPI tem sido um mecanismo extremamente poderoso na contenção de novos
genocídios, crimes contra humanidade, crimes de guerra e agressão que tem
atormentado a humanidade durante o curso do seculo XXI.
Mas apesar disso vários sectores da sociedade civil, principalmente nos Estados Unidos,
tem-se manifestado contra alegando que o TPI ainda não esta suficientemente
organizado.
Apesar de uma parcela considerável da população mundial não ter ratificado, mais de
dois terços dos Estados que integram a ONU subscreveram o tratado de Roma.
Seja como for, a relevância histórica do Tratado não pode ser subestimada, pois a mera
existência do Tribunal, terá o condão de limitar o darwinismo no campo das relações
internacionais, onde prevalece a lei dos Estados mais fortes em face das nações mais
débeis. Mas a maior contribuição que a justiça penal internacional (TPI) poderá dar para
consolidar a paz, a segurança e o respeito aos direitos humanos no mundo será fazer
com que ele transite de uma cultura de impunidade para uma cultura de
responsabilidade. (Lewandowski 2002, p. 195)
Nos últimos anos, o TPI assistiu a um nível de actividade judicial sem precedentes. Esta
tendência deverá continuar. Estão a ser realizados exames preliminares em dez
situações distintas em todas as regiões do mundo (incluindo no Afeganistão, Colômbia,
Iraque/Reino Unido, Palestina e Ucrânia), existem dez investigações em curso
(incluindo na Geórgia) e três julgamentos foram concluídos em 2016.
Apesar disso, nos últimos anos o TPI tem atravessado momentos delicados do ponto de
vista político, sofrendo críticas da maioria dos países africanos e da União africana em
particular. Primeiro pelas contradições e obstáculos constitucionais que o estatuto de
Roma e a legislação da maior parte dos países africanos possui.
O desempenho do TPI tem sido objecto de críticas, acusações e cada vez mais
desconfiança, nomeadamente de individualidades com alta responsabilidade política e
social, no contexto africano e lusófono em parte alimentadas pela constatação de que a
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maior parte dos processos que têm merecido a atenção deste tribunal internacional têm
como suspeitos personalidades africanas, mais precisamente da África Negra.
Fruto dessas desconfianças, Burundi, África do Sul e Gâmbia, tendo estes dois últimos
subsequentemente «retirado a sua retirada» no início de 2017).
Muitos países africanos apesar da pressão para que ratifiquem o tratado de Roma ainda
enfrentam problemas de incompatibilidade entre a constituição e as normas do TPI,
como o caso de Moçambique.
De lembrar que, apesar de Moçambique não ter ractificado, impede de cooperar com o
tribunal.
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7. Conclusão
Do que foi exposto, algumas ideias são destacadas como sendo mais relevantes,
assumindo, descarte, as vestes de “conclusões”.
A maior contribuição que a justiça penal internacional poderá trazer para consolidar a
paz, a segurança e o respeito dos direitos humanos no mundo será fazer com que ele
transite de uma cultura de impunidade para uma cultura de responsabilidade.
Pode-se concluir que a corte penal internacional é uma vitória para a humanidade
porque vem suprir as maiores lacunas institucionais existentes. Evidentemente que a
justiça penal internacional veio ampliar e melhorar o sistema do Direito internacional.
No entanto, não resta dúvida sobre a relevância deste, sendo que para uma efectiva
legitimidade do TPI, seria necessário a ratificação de seu estatuto por parte da maioria
das nações, o que lhe garantiria uma autoridade de facto.
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8. Referência Bibliográficas
Brandão, RC (2006). Tribunal Penal internacional: uma nova realidade do Direito penal
internacional para a garantia da segurança dos Direitos Humanos. Brasil, Rio de Janeiro:
Universidade Gama Filho
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