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Juliana de Oliveira
Douglas Damião de Souza Antunes
Resumo: A presente pesquisa tem como propósito analisar se o Tribunal Penal Internacional (TPI),
instituído pelo Estatuto de Roma, incorporado à legislação brasileira através do Decreto n. 4.388,
de 25 de setembro de 2002, é uma forma encontrada pela comunidade internacional de garantir os
direitos humanos e a dignidade da pessoa humana ou se é um tribunal que afronta os ditames da
Constituição Federal, ferindo a soberania nacional brasileira.
Palavras-chave: Estatuto de Roma. Tribunal Penal Internacional. Soberania nacional. Direitos hu-
manos.
Abstract: This research aims to analyze whether the International Criminal Court (ICC), established
by the Rome Statute incorporated into Brazilian law through Decree No. 4.388 of September 25,
2002, it is a way found by the international community to ensure human rights and dignity of the hu-
man person or are an affront court that the dictates of the Constitution, injuring the Brazilian national
sovereignty.
Keywords: Rome Statute. International Criminal Court. National sovereignty. Human rights.
1. introdução
A presente pesquisa foi desenvolvida em três títulos. O primeiro irá tratar
de um conceito histórico de como e quais as razões do surgimento do Tribunal
Penal Internacional. O segundo estudará os atos desenvolvidos pelo Estado
brasileiro em relação ao Tribunal Penal Internacional, com intenção de imple-
mentar sua efetividade em relação a nosso ordenamento jurídico. Trataremos
no terceiro título especificamente sobre aspectos da legislação brasileira refe-
rentes ao Tribunal Penal Internacional. Dando sequência, serão elencadas algu-
mas divergências entre a legislação brasileira e o Estatuto de Roma, concluindo
os temas com alguns aspectos de extrema relevância em relação à soberania
nacional e à soberania do Estado. Finalmente, a conclusão será no seguinte
sentido: que a ideia do estabelecimento de uma corte internacional para o jul-
gamento de crimes graves contra o ser humano é válida. Porém, necessita de
ajustes em relação à legislação de alguns países-membros e em alguns pontos
herança que partilham e preocupados com o fato deste delicado mosaico poder
vir a quebrar-se a qualquer instante, tendo presente que, no decurso deste século,
milhões de crianças, homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades inimagi-
náveis que chocam profundamente a consciência da humanidade, reconhecendo
que crimes de uma tal gravidade constituem uma ameaça à paz, à segurança e ao
bem-estar da humanidade, afirmando que os crimes de maior gravidade, que afe-
tam a comunidade internacional no seu conjunto, não devem ficar impunes e que
a sua repressão deve ser efetivamente assegurada através da adoção de medidas
em nível nacional e do reforço da cooperação internacional, decididos a pôr fim à
impunidade dos autores desses crimes e a contribuir assim para a prevenção de
tais crimes [...]. Determinados em perseguir este objetivo e no interesse das gera-
ções presentes e vindouras, a criar um Tribunal Penal Internacional com caráter
permanente e independente, no âmbito do sistema das Nações Unidas, e com
jurisdição sobre os crimes de maior gravidade que afetem a comunidade interna-
cional no seu conjunto, sublinhando que o Tribunal Penal Internacional, criado pelo
presente Estatuto, será complementar às jurisdições penais nacionais, decididos a
garantir o respeito duradouro pela efetivação da justiça internacional [...].
5. Conclusão
Em linhas gerais, é possível, de forma contundente, citar que segura-
mente a criação do Tribunal Penal Internacional com caráter independente e
permanente, com o seu Estatuto reconhecido por vários Estados, representa
um grande avanço da humanidade e por que não dizer um enorme ganho para
toda a comunidade internacional de uma forma geral, na tentativa de garantir a
valoração dos direitos humanos em caráter universal e do combate à impunida-
de, com relação aos crimes de genocídio, contra a humanidade, dos crimes de
guerra e de agressão.
O conceito de complementaridade do TPI, por sua vez, garante aos Esta-
dos o direito de investigar, processar e julgar os indivíduos que venham a come-
ter tais crimes, legando tão somente ao TPI o poder de atuar apenas nos casos
em que os Estados apresentem falta de interesse, de condições materiais, ou
ainda irregularidades na consecução do processo e julgamento do acusado pela
Justiça do seu país. Porém, não pode ser deixado de lado o fato de que a defini-
ção clara da falta de interesse e irregularidade é extremamente difícil, podendo
inclusive levar a ingerências da Corte Internacional em assuntos de interesse
exclusivo do Estado.
O Estatuto de Roma, do Tribunal Penal Internacional, como está escrito
hoje, possui diversos pontos conflitantes com a legislação de diversos países,
dentre eles o Brasil. Os pontos de contradição ou incoerência em face da nossa
legislação dizem respeito à aplicação da pena de prisão perpétua, à extradição
de nacionais e à imprescritibilidade de crimes. Por hora, presume-se que even-
tuais decisões e sentenças no que se refere a esses três assuntos poderiam
contrariar a Constituição Federal brasileira, caracterizando uma intromissão do
TPI em assuntos internos do Brasil, ferindo assim a nossa soberania e gerando
uma insegurança jurídica para todos os cidadãos protegidos por nossa carta
magma.
Pode-se concluir, então, que a ideia do estabelecimento de uma corte
internacional para o julgamento de crimes graves contra o ser humano é válida
e representa um enorme ganho e um avanço na área jurídica para toda a comu-
nidade internacional. Porém, não se deve esquecer que ajustes na legislação de
alguns países-membros e em alguns pontos do Estatuto de Roma, tornando-os
compatíveis, são necessários e não só podem como devem ser feitos. Assim,
é possível enfatizar que só assim o Tribunal Penal Internacional poderá fazer
justiça de forma universal em prol dos direitos humanos, sem ferir a soberania
de nenhum dos Estados que fazem parte dessa organização internacional.
Nesse sentido, quando o Brasil passou a submeter-se à jurisdição penal
do TPI, nada mais fez do que seguir a “moda internacional” de cooperação entre
os povos e de vedação de submissão aos tribunais de exceção, bem como de
garantia dos direitos humanos e preservação da dignidade da pessoa humana.
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