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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DISCENTE: Leandro Fontes Corrêa R.A.: 151220492


DOCENTE: Profa. Me. Anabella Pavão da Silva
DISCIPLINA: Assistência Humanitária Internacional

Aula 1 (09/08/2019): História da Assistência Humanitária Internacional

O texto trabalhado tem como objetivo apresentar o processo histórico no qual se


inscreve o entendimento de Intervenção Humanitária, Para tanto, o autor, sem a
pretensão de definir o significado do conceito de soberania, ou do princípio da não-
intervenção, este opta por estabelecer a relação destes com a gradativa inserção dos
Direitos Humanos no Sistema Internacional. Empreende-se aqui, portanto, lançar luz
sobre as possibilidades políticas de entendimento deste relacionamento, e, em última
análise, apontar para a institucionalidade que as legitimam.
A história das relações internacionais é marcada, senão inaugurada, pela disputa
de territórios. Neste sentido, a partir do momento que outros mecanismos de solução de
conflitos ou controvérsias sobre estas disputas, que se afastam da lógica da guerra
bélica, são colocados na ordem internacional, o conceito de soberania se torna o
epicentro deste relacionamento. O Tratado de Westfália, de 1648, por exemplo, dispõe
dos fundamentos do direito público internacional, tendo na soberania, ou seja, na
autonomia dos governos sobre seus territórios, sua pedra angular.
A soberania, contudo, se salvaguarda no princípio de não intervenção. Mas o
entendimento hegemônico que vem se construindo sobre o direito de não sofrer
ingerências, traz consigo a obrigação dos Estados em prover as condições necessárias
para a existência digna dos seus territórios e, principalmente, dos seus cidadãos. E é
justamente neste passo que há uma viragem paradigmática no pacto internacional: a
questão do território e das fronteiras dá lugar a inserção dos Direitos Humanos
Universais que, de alguma maneira, põem o conceito de soberania em xeque. Isto é,
qual o limite da soberania dos Estados? O princípio de não intervenção pode, ou deve,
ser flexibilizado quando um Estado viola, ou deixar violar, os direitos humanos?
O debate sobre Intervenção Humanitária é hoje um grande tema para as Relações
Internacionais, uma vez que desafia os limites da soberania e aponta novos horizontes
para direito internacional público. Os direitos humanos de primeira geração (direitos
civis e políticos), ou mesmo os direitos de segunda geração (direitos econômico e
sociais), pós Segunda Guerra Mundial, os de terceira gerações (direitos solidários) com
base na idéia de que existem direitos fundamentados na coletividade e na
universalidade. Em 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que
versava, principalmente, sobre o direito à vida, de forma universal, inalienável e
indivisível.
Deste modo, o conceito tradicional de soberania tem se transformado em função
da crescente institucionalização dos indivíduos como entidades portadoras de direitos
humanos. E, apesar dos indivíduos não serem capazes de postular direitos no
ordenamento jurídico internacional, estes são tutelados pelos seus Estados e por
Organizações Internacionais. A ONU, por exemplo, adquiriu uma institucionalidade
supranacional capaz de impor coerções jurídicas e políticas sobre os Estados. O
Conselho de Segurança, no pós Guerra Fria, autorizou intervenções de caráter
humanitário em países que tiveram violações de direitos humanos.
O quadro de referência até o século XIX para a intervenção sobre outro país era
a moralidade. As Convenções de Genebra, contudo, regulam o que é guerra justa e
constrói-se uma narrativa de moralidade da guerra que oferece critérios para determinar
se uma guerra é justa (jus ad bellum) e se é lutada por meios justos (jus in bello). Já a
Carta de São Francisco, da ONU, em 1945, exclui a palavra “guerra” do Direito
Internacional. Em seu lugar, passa-se a utilizar “uso da força” como última rati a
resolução de conflitos. Contudo, mesmo a Carta da ONU versa sobre apenas duas
possibilidades para o uso da força: (i) legítima defesa individual ou coletiva (art. 51);
(ii) como resultado de uma autorização do Conselho de Segurança com base no
Capítulo VII da Carta da ONU para restaurar ou manter a paz e a segurança
internacionais (art. 42).
Com vistas à evolução do direito internacional público, são notórios os esforços
em institucionalizar uma agenda de prevenção às guerras e à violação dos direitos
humanos. Entretanto, esta institucionalização ainda é bastante frágil, ao passo que é
formulada por poucos e, ainda assim, se pretende universal. Somado a isso, têm-se que
os mecanismos de solução de controvérsias, por estarem condicionado a submissão
voluntária dos Estados, ainda apresentam pouca efetividade. A intervenção dos Estados
Unidos na Nicarágua, que se estendeu de 1979 a 1990, ainda que tenha sido condenada
pela Corte Internacional de Justiça, 1986, não prosperou no sentido de resolver o
conflito. O Conselho de Segurança, o único mecanismo internacional com capacidade
coercitiva, por ser composto por membros que tem poder de veto, entre eles os EUA,
sequer admitiu o caso para discussão. Ou seja, a questão sobre a Intervenção
Humanitária, passa sim por questões de soberania, mas, principalmente, remonta a
construção e legitimação dessas soberanias no processo histórico do Sistema
Internacionais.

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