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Faculdade de Letras e Ciência Sociais

Licenciatura em Administração Pública

Pós Laboral

Disciplina: Direitos Humanos e Cidadania

Discentes:

BERNARDO, Fernando Moisés

Docente: Nobre Canhanga

Maputo, Junho de 2023


1 Índice
2 Introdução.................................................................................................................. 3

3 Breve Evolução Histórica dos Direitos Humanos ..................................................... 4

3.1 Categoria dos Direitos Humanos ....................................................................... 7


4 Bibliografia.............................................................................................................. 10

2
2 Introdução
A expressão “direitos humanos” frequentemente usada, quer no discurso científico, quer
no discurso político, quer, sobretudo, no contexto da defesa dos direitos dos cidadãos na
sua relação com o Estado ou com outros poderes. Pode até dizer que a expressão “direitos
humanos” popularizou-se pelo seu constante uso, mas, também, desgastou-se pelo
excessivo abuso.

Então, o que são afinal os direitos humanos? Num sentido geral, os direitos humanos
constituem o núcleo de direitos que protegem a vida e a dignidade da pessoa humana 1.
Porém, a simplicidade desta afirmação contrasta com a dificuldade de explicação do seu
conteúdo, na medida em que é difícil definir a dignidade humana.

1
Manfred Nowak. Introduction to the International Human Rights. Martinus Nijhoff Publishers. 2002, pg.
1

3
3 Breve Evolução Histórica dos Direitos Humanos
A evolução histórica dos direitos humanos coincide com a história da limitação do poder
estadual em vários quadrantes do mundo.

Como muito bem refere Flavia Piovesan,2 inicialmente, os direitos humanos foram
pensados pelos filósofos do mundo antigo, enquanto simples expressões de pensamentos
individuais, serviam apenas como propostas de actuação do Estado.
Com efeito, as origens dos direitos humanos podem ser encontradas tanto na filosofia
grega quanto nas várias religiões do mundo.

De acordo com a Flávia Piovesan, somente quando ocorre a positivação destas teorias
filosóficas de direitos humanos, enquanto limitação ao poder estatal, é que se pode falar
de direitos humanos, enquanto um autêntico sistema de direitos no sentido escrito da
palavra, isto é, enquanto direitos positivos ou efectivos.

No entanto, somente por volta dos séculos XI ao século XII (Idade Média) é que ganha
força o ideal de limitação do poder dos governantes, pela consagração de direitos comuns
a todos os indivíduos. Nesta época temos as primeiras declarações, codificando direitos e
liberdades individuais, podendo destacar-se desde logo a Magna Charta Libertatum de
1215 e mais tarde ainda Habeas Corpus Act de 1679 e o Bill of Rights de 1689,
instrumentos que, no entanto, pecavam por não conter uma filosofia abrangente de
direitos humanos, sendo que as liberdades eram muitas vezes vistas como direitos
conferidos aos particulares ou grupos de indivíduos em função de sua posição ou status
social.

As primeiras Declarações de direitos humanos, com filosofia de direitos humanos


claramente definida e abragente, foram as do Estado americano de Virgínia, em 1776 e,
posteriormente, a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789, tendo, o termo
“direitos humanos” ou “direitos do homem” aparecido, pela primeira vez, nesta
Declaração, no contexto da revolução francesa.
A partir destes acontecimentos, os direitos humanos deixam de ser meras intenções e
tornaram-se direitos positivos e exigíveis3.

2
In Direitos Humanos, Volume I, Jurua Editora, 2006, p.56
3
Flávia Piovesan, ob.cit; p.57

4
Contudo, a concepção contemporânea dos direitos humanos veio a surgir no século XX
como resultado das duas grandes guerras mundiais que banalizaram a dignidade da pessoa
humana. Trata-se de período histórico em que os direitos humanos ganham protagonismo
na arena internacional.
Assim, logo após o final da Primeira Guerra Mundial, foi criada a Liga (ou Sociedade)
das Nações, em 1919, na sequência das negociações sobre o Tratado de Versalhes que
culminram com o acordo de paz, assinado após a Primeira Guerra Mundial, no grande
Palácio de Versalhes em França, entre a Alemanha e os Aliados. Os objetivos do acordo
incluíam, de entre outros, o desarmamento, prevenção da guerra através da segurança
colectiva, resolução de conflitos entre países, por meio da diplomacia e negociação e por
fim a melhoria do bem-estar global.
No entanto, a Liga das Nações fracassou por defeitos de origem. Desde logo, ela não
dispunha de um poder forte, nem contava com representantes da União Soviética e dos
Estados Unidos – a nação de seu idealizador (Woodrow Wilson). Consequentemente, já
em 1923, tornou-se evidente a fraqueza da Liga, quando os franceses invadiram a região
alemã da Renânia, para cobrar reparações de guerra. A invasão da Manchúria pelo Japão,
em 1931, foi também uma prova do fracasso da Liga das Nações. Condenado um ano e
meio depois pelo acto de agressão, o Japão abandonou a organização. A Alemanha seguiu
o mesmo caminho a 14 de Outubro de 1933. Outras invasões posteriores como as invasões
da Abissínia pela Itália, em 1935, e da Finlândia, pela União Soviética, em 1939,
revelaram que a Liga das Nações não passava de uma organização morribunda e sem
capacidade de acção.
Com a Liga das Nações quase morribunda não foi possível evitar o eclodir da Segunda
Guerra Mundial cujas consequências em relação aos direitos humanos foram muito mais
graves do que as verificadas na I Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial violou
todas as formas da dignidade da pessoa humana.
As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, fizeram o mundo
repesentar um novo modelo de protecção dos direitos humanos como forma de evitar um
novo acontecimento trágico. Houve necessidade de se estabelecerem marcos
inderrogáveis de direitos a serem observados por todos os Estados no pós-guerra,
marcando o fim do ideal segundo o qual os Estados eram supremos em decidir a forma
como deviam tratar os seus cidadãos.

5
Nesse contexto, a adopção da Carta das Nações Unidas4 em 1945, surge como a premissa
maior do reconhecimento internacional da necessidade de se envidar todos os esforços
para a protecção internacional dos direitos humanos.
A Carta, distintamente, menciona o papel das Nações Unidas na promoção e estímulo do
respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de todos, sem distinção
de raça, sexo, língua ou religião.5 A ideia de promulgar uma “carta internacional dos
direitos humanos” foi também considerada por muitos como basicamente implícita na
Carta.

Dois anos após a aprovação da Carta, foi estabelecida a Comissão das Nações Unidas
para os Direitos Humanos (Comissão) e, posteriormente, surge a Declaração, adoptada a
10 de Dezembro de 1948 em São Francisco, que significou um patamar elevado na
consagração da universalidade dos direitos humanos.
A Declaração é formada por um preâmbulo e 30 artigos que enumeram os direitos
humanos e liberdades fundamentais de que são titulares todos os homens e mulheres, sem
qualquer discriminação.
A Declaração surgiu como um código moral ‘universal’, porque não possui um carácter
impositivo ou imperativo. Delineou as linhas gerais dos direitos civis e políticos, bem
como dos direitos económicos, sociais e culturais. Tais colocações são consideradas
actuais, mesmo que estejam longe de serem postas em prática por todas as nações do
mundo. E tornou-se a base de grande parte do direito internacional e da carta internacional
dos direitos humanos.
Concebida como “ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações”, a
Declaração tornou-se um padrão por meio do qual se mede o grau de respeito e
cumprimento das normas internacionais de direitos humanos, sendo, até o presente a mais
importante e ampla de todas as declarações das Nações Unidas e uma fonte de inspiração
fundamental para os esforços nacionais e internacionais destinados a promover e proteger
os direitos humanos e liberdades fundamentais.

4
A Carta das Nações Unidas é o tratado de fundação das Nações Unidas. Foi assinada no Centro de Ciencias
de San Francisco, em San Francisco, Estados Unidos, a 26 de Junho de 1945. Entrou em vigor em 24 de
Outubro de 1945, após ser ratificado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das
Nações Unidas: a República da China (mais tarde substituído pela República Popular da China), a França,
a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (mais tarde substituído pelo Rússia), o Reino Unido e os
Estados Unidos, e a maioria dos outros signatários.
5
Carta das Nacoes Unidas, Art 1 (3)

6
Embora muito se discuta a questão da eficácia das normas da Declaração, considerado,
por exemplo, que ela não dispõe de um órgão ou instituição próprio criado para velar pela
sua implementação, não se pode deixar de notar que vários pactos e convenções
internacionais devem a sua existência ., de entre os quais se destacam desde logo o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, ambos aprovados pela Assembleia-Geral da ONU, em
Nova York, aos 16 de Dezembro de 1966, que surgiram, pois, com a finalidade de conferir
uma dimensão jurídica e quiçá eficácia à Declaração, tendo o primeiro pacto
regulamentado os artigos 1.º ao 21 da Declaração, e o segundo os artigos 22 a 28.

3.1 Categoria dos Direitos Humanos


Em Junho de 1993 realizou-se a Segunda Conferência Mundial sobre Direitos Humanos,
que se tornou um ponto de referência no discurso internacional dos direitos humanos, ao
reafirmar a noção de indivisibilidade dos direitos humanos, cujos preceitos devem
aplicar-se tanto aos direitos civis e políticos, quanto aos direitos económicos, sociais e
culturais, tendo ainda sido enfatizados os chamados direitos humanos de terceira geração,
tais como o direitos de solidariedade, o direito à paz, o direito ao desenvolvimento e os
direitos ambientais.

O parágrafo 5.º da Declaração e Programa de Ação de Viena, aprovada na referida


Conferência Mundial sobre Direitos Humanos em 1993, dispoe que:
"Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-
relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma
global, justa e eqüitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora
particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como
diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e
proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus
sistemas políticos, econômicos e culturais".
Deste modo, com a Declaração e Programa de Acção de Viena, afasta-se a visão
fragmentária e hierarquizada das diversas categorias de direitos humanos, e procura-se
encontrar uma concepção mais contemporânea dos direitos humanos. Como destaca
Carlos Weis, insistir na idéia de supremacia ou hierarquia de direitos, “além de consolidar
a imprecisão da expressão em face da noção contemporânea dos direitos humanos, pode
se prestar a justificar políticas públicas que não reconhecem indivisibilidade da dignidade
humana e, portanto, dos direitos fundamentais, geralmente em detrimento da

7
implementação dos direitos econômicos, sociais e culturais ou do respeito aos direitos
civis e políticos previstos nos tratados internacionais já antes citados".6
No entanto, embora se tenha afirmado, desde a Declaração e Programa de Acção de
Viena, a tese da universalidade dos direitos humanos, ainda hoje, existem posições
divergentes a argumentar em favor do relativismo cultural dos direitos humanos.
Desse modo, as críticas dirigidas à concepção universalista dos direitos humanos podem
ser resumidas em 7 grandes categorias:

✓ As noções de “direitos” inerentes aos direitos humanos contrapõem-se à noção de


“deveres” proclamada por muitos povos. Assim, tem-se indicado que toda a
tradição dos direitos humanos se cinge à ideia primordial de “direito”, deixando
de lado a concepção de “deveres”, que é defendida primordialmente por outras
tradições como a Islâmica, por exemplo.
✓ O conceito de direitos humanos é fundado numa visão antropocêntrica do mundo,
que não é compartilhada por todas as culturas. O fato é que, se a doutrina ocidental
dos direitos humanos não se preocupa com as questões metafísicas relacionadas
ao sentido da vida como, por exemplo, “quem é o ser humano” ou “por que está
aqui”, a visão corânica não compreende qualquer noção do ser humano, seus
direitos e responsabilidades, sem analisá-las.
✓ A visão universal de direitos humanos nada mais é do que uma visão ocidental
que se pretende geral, traduzindo, portanto, certa forma de imperialismo; Assim,
um dos argumentos que se tem levantado, prende-se com o facto de, por exemplo,
na elaboração dos documentos internacionais tais como a Declaração ou os Pactos
de Direitos Civis e Políticos e o dos Direitos Económicos Sociais e Culturais,
terem sido elaborados por países do Ocidente e sem uma representatividade
global.
✓ O universalismo analisa um homem descontextualizado, sendo que o homem se
define por seus particularismos (língua, cultura, costumes, valores...); Assim, para
a visão relativista, é importante que se tenha em consideração as particularidades,
dos homens.
✓ A falta de adesão formal por parte de muitos Estados dos tratados de direitos
humanos e/ou a falta de políticas comprometidas com tais direitos são indicativos
da impossibilidade de universalismo;

6
Wei, Carlos. Direitos humanos contemporâneos. São Paulo: Malheiros Editores, 1999. Pag 43

8
✓ É preciso um grande desenvolvimento económico para efectivamente proteger e
implementar direitos humanos, e essa realidade não se verifica em muitos países
“subdesenvolvidos”, o que faz fracassar o discurso universal dos direitos humanos
frente às disparidades e dificuldades económicas.

Esses são os principais argumentos apresentados. No entanto, tais argumentos


apresentados pelos defensores da teoria relativista contrários à afirmação da
universalidade dos direitos humanos também se revelam contraditórios em alguns
aspectos. Por exemplo, não é de ignorar o risco, ainda que mínimo, de o argumento
relativista, possa ser usado para legitimar actos atentatórios à dignidade da pessoa
humana, sob a veste de que quaisquer práticas seriam legítimas desde que compartilhadas
por uma comunidade ou grupo., como por exemplo algumas práticas culturais nocivas.

9
4 Bibliografia
Direitos Humano. (2006) Volume I, Jurua Editora

Wei, Carlos. (1999) Direitos humanos contemporâneos. São Paulo: Malheiros Editores

Manfred Nowak. (2000) Introduction to the International Human Rights. Martinus


Nijhoff Publisher.

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