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1. Introdução
Em qualquer sociedade o Direito tem como função assegurar a ordem e a segurança no
respeito pela justiça. Também o Direito Internacional tem a função de manter a paz e fornecer os
meios para a restabelecer quando ela é interrompida, estabelecendo a justiça nas relações
internacionais.
Observando os fatos ocorridos em todo século passado (século XX), nota-se que este
papel foi bem mal desempenhado, já que o século XX conheceu duas guerras mundiais e várias
centenas de conflitos localizados. Mas em nenhuma sociedade a paz é fundada unicamente no
Direito; ela é fruto de uma justiça aceite por todos os seus membros, de valores comuns, de uma
solidariedade efetiva, do sentido de interesse comum. Fundamentalmente, tanto nas ordens
nacionais como na ordem internacional, a paz não é a simples ausência de guerra: baseia-se na
justiça, conscientemente procurada pelos indivíduos e realizada objetivamente pelo Direito e pelas
instituições.
O Direito e as instituições internacionais são utilizados para prevenir os conflitos e
desempenham, a este respeito, um importante papel.
A resolução dos conflitos internacionais pode ser pacífica ou implicar o recurso à força;
apresentaremos sucessivamente estes dois modos de resolução, que são, na prática,
inextricavelmente ligados. Com efeito, o fracasso dos processos pacíficos pode conduzir ao uso
da força e, reciprocamente, este, depois de desencadeado, pode conduzir à utilização de técnicas
pacíficas; com bastante freqüência, os dois tipos de processo são utilizados simultaneamente. Os
problemas da responsabilidade internacional serão apresentados em relação com os conflitos
internacionais, dos quais eles são, habitualmente, a causa ou a conseqüência.
Logo assim como na sociedade civil, ocorrem controvérsias na sociedade internacional, e
neste trabalho tentaremos explicar esse tema da melhor maneira.
3.2.4. MEDIAÇÃO
A mediação consiste na interposição amistosa de um ou mais Estados, entre outros
Estados, para a solução pacífica de um litígio.
Na prática, nem sempre é possível distingui-la claramente dos bons ofícios. Pode-se dizer,
contudo, que a mediação se distingue dos bons ofícios em que, ao contrário do que sucede com
estes, constitui uma espécie de participação direta nas negociações entre os litigantes, enquanto
nos bons ofícios a participação é indireta. Distinguem-se também da intervenção propriamente
dita, em que o Estado mediador, ao contrário do que intervém, não procura impor a sua vontade e
procede com intuitos desinteressados: a mediação é ato essencialmente amistoso, ao passo que
a intervenção se caracteriza pela coação.
Da mesma forma que os bons ofícios, a mediação pode ser oferecida ou ser solicitada; e o
seu oferecimento ou a sua recusa não deve ser considerado ato inamistoso.
3.2.5. INQUÉRITO
Inquérito (board of injury) ou fact-finding são elementos intercambiáveis na solução das
disputas internacionais. O Board of injury é o responsável pela investigação e decisão sobre as
questões de fato relacionadas aos assuntos legais, sendo que as partes podem que as partes
podem usar esse resultado.
Em direito internacional público o uso do termo inquérito tem servido para significar um
procedimento preliminar de instância diplomática, política ou jurisdicional, sendo ele próprio um
meio diplomático de se estabelecer antecipadamente à materialidade dos fatos. O inquérito
costuma ser conduzido por comissões semelhantes às de conciliação, visto que integradas por
representantes das partes e investigadores neutros. Essas comissões não têm por encargo propor
o que quer que seja, mas tão só apurar fatos ainda ilíquidos, de modo que se prepare
adequadamente o ingresso numa das vias de efetiva solução do conflito. Parece óbvio, assim, que
não há falar em inquérito senão quando uma situação de fato reclama esclarecimento – o que não
sucede, por exemplo, se o litígio diz respeito apenas à interpretação de normas convencionais.
Os Estados em conflito podem, por sua vez, acordar na designação de uma entidade
imparcial encarregada de levar a cabo um inquérito, cujo objetivo consiste na produção de uma
pesquisa imparcial sobre os fatos em disputa, preparando, assim, o caminho para uma resolução
negociada. Muitas disputas internacionais centram-se exclusivamente em questões conflituosas
sobre fato, sendo o inquérito imparcial um excelente meio de reduzir a tensão na área de
desacordo entre as partes; embora elas não sejam obrigadas a aceitar os resultados do inquérito,
quase sempre os acatam voluntariamente.
3.2.6. SISTEMA CONSULTIVO
A consulta é a troca de opiniões entre dois ou mais governos, envolvidos num litígio
internacional. Essa troca de opiniões tanto pode ser direta como indireta.
Foi só, porém, no continente americano que esse sistema se desenvolveu e adquiriu o
caráter preciso de meio de solução pacífica de controvérsias e também o de meio de cooperação
pacifista internacional, tanto que o sistema consultivo está presente na Carta da Organização dos
Estados Americanos (OEA).
3.3.1. ONU
No sistema da ONU, tanto o Conselho de Segurança quanto a Assembléia Geral podem
intervir nos conflitos entre Estados, objetivando uma solução pacífica.
As controvérsias tratadas na ONU têm de ser sérias e de caráter internacional. O que se
entende por controvérsia séria é aquela que possa vir a constituir uma ameaça à paz
internacional. E essa controvérsia deve ser uma controvérsia internacional, porque a ONU não
pode intervir nos assuntos de jurisdição nacional (assuntos domésticos).
Antes de recorrerem ao Conselho de Segurança da ONU as partes devem buscar pela
solução pacífica.
3.4.4. Conciliação (Meio jurídico para Adherbal Meira Mattos e Hildebrando Accioly)
Adherbal Meira Mattos e Hildebrando Accioly, ao contrário de J. F. Rezek e Hee Moon Jo,
consideram a conciliação como meio jurídico, enquanto aqueles a consideram meio diplomático.
Logo segundo Adherbal Meira Mattos, a conciliação se assemelha às comissões de
inquérito. Aliás, a denominação é uma só: comissões internacionais de inquérito e conciliação.
Destinam-se a solucionar conflitos internacionais, por meio de investigações e de um exame
imparcial e consciencioso do impasse. Seu papel também é meramente consultivo, visando,
sempre, à proposição de um acordo para a solução de controvérsias.
3.4.5. ARBITRAGEM
A arbitragem pode ser definida com o meio de solução pacífica de controvérsias entre os
Estados por uma ou mais pessoas livremente escolhidas pelas partes, geralmente através de um
compromisso arbitral que estabelece as normas a serem seguidas e onde as partes contratantes
aceitam, de antemão, a decisão a ser adotada. Consiste na criação de um julgador não
pertencente à jurisdição normal, escolhido pelas partes conflitantes, para dirimir divergências entre
elas. É a escolha de um juiz não togado, ou de um tribunal não constituído por desembargadores,
mas de advogados avulsos ou de pessoas consideradas capazes de conhecer e decidir uma
questão que esteja prestes a ser submetida à Justiça. As controvérsias são, essencialmente, de
natureza jurídica, mas também podem-se revestir de caracteres políticos.
A arbitragem tem como características: é estabelecida pelo acordo entre as partes e elas
são quem definem o objeto do litígio e o direito aplicável a ele; a entrega da solução dos litígios
aos árbitros livremente escolhidos pelas partes; compromisso das partes para o acatamento da
decisão arbitral, segundo o princípio do pacta sunt servanda; podem as partes estabelecer um
prazo para a sentença arbitral; e podem as partes exigir o procedimento arbitral com sigilo.
O árbitro, em princípio, é um juiz, razão por que suas sentenças devem ser respeitadas.
Podem ser árbitros os chefes de Estado, o Papa (muito comum no passado), diplomatas,
jurisconsultos etc. São sempre livremente escolhidos pelas partes. Quando estas não chegam a
um acordo definitivo, nomeiam dois árbitros, os quais escolhem um superárbitro, que podem,
também, ser uma terceira potência, de comum acordo designada pelas partes.
Dois tipos de arbitragem distinguem-se: a voluntária ou facultativa e a permanente ou
obrigatória. A arbitragem voluntária ou facultativa surge do compromisso entre as partes, para a
solução de um problema que já surgiu. Não há um acordo anterior entre as partes, pois o
problema não foi previsto. A convenção arbitral para a instauração desse tipo de julgamento é
chamada de "compromisso". É também chamada de arbitragem ad hoc, por ser criado um juízo
arbitral para aquele caso.
A arbitragem permanente ou obrigatória decorre de um ajuste prévio entre as partes,
prevendo que, se houver divergência entre elas, será submetida a uma solução arbitral. Já são
previstos os potenciais problemas a resolver, razão pela qual o acordo antecede a eles, ao
contrário da arbitragem voluntária, em que o acordo surge após os problemas a serem resolvidos.
O acordo ou convenção entre as partes para a instauração desse tipo de arbitragem é chamado
de "clausula compromissória", visto ser uma cláusula inserida num contrato.
A sentença arbitral é a decisão tomada pelo juízo arbitral. Se houver árbitro único, deve
ser assinada por ele se houver um tribunal, todos os membros deverão assinar, o presidente
deverá certificar a ausência da assinatura na própria sentença. Deverá trazer a sentença à data e
o local em que foi proferida, pois a cláusula compromissória e o compromisso arbitral
normalmente indicam prazo para ela e, se for proferida após o prazo, estará sujeita a anulação.
4.2. RETORSÃO
A retorsão é um ato por meio do qual um Estado ofendido aplica ao Estado que tenha sido
o seu agressor as mesmas medidas ou os mesmos processos que este empregou ou emprega
contra ele. É, pois, uma espécie de aplicação de pena de talião.
Assim a retorsão constitui um meio de se opor a que um Estado exerça seus direitos me
prejuízo de outro Estado. Inspira-se no princípio da reciprocidade e no respeito mútuo, que toda
nação deve ter para com as demais. Não é ato de injustiça, nem violação de direito; mas, também,
não pretende ser punição.
Como causas legítimas de retorsão, indicam-se as seguintes: o aumento exagerado, por
um Estado, dos direitos de importação ou trânsito estabelecido sobre os produtos de outro Estado;
a concessão de certos privilégios ou vantagens nacionais de um Estado, simultaneamente com a
recusa dos mesmos favores aos nacionais de outro Estado.
4.3. REPRESÁLIAS
As represálias compreendem atos de coerção de um Estado contra outro, em hipóteses de
violação de direitos.
Teoricamente, ocorrem em hipóteses de flagrante violação do Direito Internacional, como
recurso extremo, por meio de atos do agredido contra o agressor, cessando após a obtenção da
reparação. Legalmente, entretanto, também não foram admitidas pela Carta da ONU, que só
cogita da legítima defesa, individualmente, aos Estados.
As três formas mais comuns por que se apresentam, na prática, as represálias, são o
embargo, o bloqueio pacífico e a boicotagem.
4.3.1. EMBARGO
O embargo é uma forma especial de represália que consiste, em geral, no seqüestro, em
plena paz, de navios e cargas de nacionais de um Estado estrangeiro, ancorados nos portos ou
em águas territoriais do Estado que lança mão desse meio coercitivo.
4.3.3. BOICOTAGEM
A boicotagem é a interrupção de relações comerciais com um Estado considerado ofensor
dos nacionais ou dos interesses de outro Estado. É recurso de que, em geral, este último ou seus
nacionais lançam mão de obrigar o primeiro a modificar uma atitude considerada agressiva ou
injusta. Essa medida pode ser adotada por ato oficial de um governo ou pode ser obra de meros
particulares.
5. CONCLUSÃO
A sociedade internacional vem desenvolvendo várias formas de solução de disputa entre
os Estados. Entretanto, existem vários problemas devido à falta de sistematização do mecanismo
internacional de solução de conflitos e à falta de cortes especializadas. A resistência contra a
sistematização hierárquica é grande, principalmente por parte dos Estados industrializados, já que
isso causaria a restrição do exercício do poder político internacional. Entretanto, a criação de
cortes especializadas em várias áreas sociais internacionais, como direito do mar, direito aéreo,
direito econômico, propriedade intelectual, direito humano etc., é necessária e está sendo feita
constantemente conforme a necessidade da sociedade internacional. Conseqüentemente, é
importante a criação de uma ordem hierárquica das cortes internacionais, já que o conflito entre as
normas internacionais é cada vez mais evidente, e esse é o único meio eficaz para a consolidação
da sociedade internacional legal.
6. BIBLIOGRAFIA
ALBUQUERQUE MELLO, Celso de. Curso de Direito Internacional Público. Rio de
Janeiro : Renovar, 2000.
MATTOS, Adherbal Meira. Direito Internacional Público. Rio de Janeiro : Renovar, 1996.
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REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo : Saraiva, 1995.
ROQUE, Sebastião José. Direito Internacional Público. São Paulo : Hemus, 1997.
TOUSCOZ, Jean. Direito Internacional. Lisboa : Publicações Europa-América, 1993.