Você está na página 1de 7

O presente trabalho tem como objetivo a apresentação das ideias contidas no

capítulo XX, O Recurso aos Meios Diplomáticos, de Carreau e Bichara, bem como uma
análise sobre o conteúdo exposto que perpassa pelos conceitos apresentados ao longo do
semestre na disciplina de Direito Internacional Público.

A figura do embaixador é proveniente de uma prática que ocorria na


antiguidade, na qual existia o envio de pessoas, enquanto no papel de representar o seu
soberano, a países estrangeiros. Portanto, dizia respeito a uma missão de tornar clara e
evidente a vontade de um monarca a outro monarca. Todavia, ressalta-se que não se
tratava de um conceito totalmente elaborado, mas que foi melhor elaborado e delimitado
com o passar do tempo. A esse respeito, as missões diplomáticas na Itália do século XV
foram importantes para a aprimoração do conceito.

O instituto da diplomacia tem um salto qualitativo a partir do momento em que


há a adoção do Règlement de Viena e do Protocolo de Aix-la-Chapelle, na qual ocorreu
a transcrição de normas que antes eram consuetudinárias. Destarte, o cerne da matéria
de direito diplomático está contido na Convenção de Viena de 1961 e 1963 – versam
sobre as relações diplomáticas e consulares entre Estados.

A diplomacia é um conceito complexo, mas pode ser geralmente definida como


a prática e a arte de conduzir as relações entre os Estados e outras instituições
internacionais por meio de negócios, diálogo e representação. Existem diversos meios
para resolução de conflitos, a título de exemplo pode-se citar o controle preventivo,
controle repressivo, a medidas de coerção. Entretanto, cabe focar no objeto deste
trabalho, logo, traz-se à luz do debate os meios diplomáticos de resolução de
controvérsias – que está presente no artigo 33 da Carta das Nações Unidas. Esses dizem
respeito a vontade dos Estados de observarem e fazerem cumprir uma solução
encontrada na perspectiva política. Nas palavras do autor, “na manifestação de vontade
soberana de colocar um fim a um litígio pelo diálogo diplomático”. Frisa-se que podem
existir variadas modalidades, na qual o autor cita a negociação e a mediação. Diante
dessa situação poderia questionar se a soberania do Estado não restaria prejudicada ao
passar por esse processo. Entretanto, tal concepção não é razoável, pois os meios
apresentados contam com o consentimento das partes presentes. Ademais, o
consentimento pode ser implícito e explícito. Este, sendo formalizado por um acordo
prévio e, que não prejudique a soberania do Estado que o realizar.
Portanto, Carreau e Bichara afirmam que “esses meios diplomáticos de
resolução de controvérsias se caracterizam pelo aspecto não obrigatório das soluções
alcançadas, ao contrário da arbitragem ou jurisdição internacional”. Ou seja, existe um
teor não obrigatório nas soluções que são alcançadas, já em contrapartida na arbitragem
ou jurisdição internacional há um caráter obrigatório das soluções alcançadas.

Deve-se trazer à luz do debate que a aplicação do direito internacional tem


evoluído de forma significativa ao longo dos anos, demonstrando uma clara
superioridade em relação ao direito interno dos Estados. Esse progresso pode ser
observado através de diferentes aspectos, desde a consolidação de princípios e normas
internacionais até a adoção cada vez mais frequente dos meios diplomáticos para a
resolução de conflitos.

Em primeiro lugar, a evolução do direito internacional demonstra sua


superioridade em relação ao direito interno dos Estados. É importante destacar que o
direito interno é aplicado apenas dentro das fronteiras de cada país e pode variar de
acordo com a vontade soberana de cada Estado. Já o direito internacional institui
normas e princípios que se aplicam a todos os Estados, sem fazer distinção de suas
diferenças políticas e culturais. Em outras palavras, a universalidade reflete a
necessidade de um conjunto comum de regras para lidar com questões que transcendem
as fronteiras nacionais, como direitos humanos, proteção ambiental e comércio
internacional.

O artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, afirma que as fontes


do direito internacional são as convenções internacionais, os costumes internacionais e
os princípios gerais do direito. De outra parte, a doutrina e a jurisprudência são meios
auxiliares, não constituindo fontes em sentido técnico. É notório que a aplicação do
direito internacional tem sido fortalecida por meio da consolidação desses princípios e
normas mencionados e outros. Ademais, os tratados e convenções internacionais têm
seu papel de importância na efetivação do princípio da primazia do direito internacional
sobre o direito interno, pois são celebrados para regular uma ampla gama de questões,
desde o direito do mar até o direito humanitário internacional. Portanto, esses
instrumentos jurídicos estabelecem direitos e obrigações para os Estados, criando um
arcabouço legal que permite a cooperação internacional e a resolução de disputas.
No entanto, a evolução da aplicação do direito internacional vai além da mera
criação de normas e tratados. Uma das características mais marcantes dessa evolução é
o crescente recurso aos meios diplomáticos para a resolução de conflitos entre os
Estados. A diplomacia tem se mostrado uma alternativa eficaz à violência e à guerra,
permitindo que as nações envolvidas em disputas encontrem soluções negociadas e
enfrentadas. Dessa forma, os Estados devem resolver seus desentendimentos de maneira
justa e equitativa, evitando assim a escalada do conflito. Nesse sentido, a aplicação do
direito internacional tem evoluído para se tornar um meio privilegiado de resolução de
disputas e promoção da cooperação entre os Estados. A comunidade internacional
reconhece cada vez mais a importância da busca pela paz e pela justiça através de
controles legais e diplomáticos. Essa mudança de paradigma reflete uma compreensão
compartilhada de que a aplicação do direito internacional não apenas fortalece as
relações entre os Estados, mas também contribui para a estabilidade global e o bem-
estar da humanidade como um todo.

Em resumo, a evolução da aplicação do direito internacional evidencia sua


superioridade em relação ao direito interno dos Estados, destacando a necessidade de
normas e princípios comuns que transcendem as fronteiras nacionais. A confirmação
dessas normas e o recurso cada vez mais frequente aos meios diplomáticos para a
resolução de disputas são sinais claros desse avanço.

No tocante à temática central do presente trabalho, aponta-se que há uma


distinção entre os recursos aos meios puramente informais e os recursos aos meios
institucionalizados. Entretanto, focar-se-á primeiramente a aquele. Nesse interim,
observa-se que há dois casos para que se ocorra o recurso aos meios puramente
informais, os quais são quando as partes decidem resolver diretamente entre si seus
conflitos e quando decidem submetê-los a uma terceira parte. Consoante, o autor tem-se
que na resolução direta, os Estados em litígio buscam uma solução pacífica negociada
que será realizada por meio do canal das representações diplomáticas.

Destarte, esse procedimento é bastante flexível e aberto, uma vez que todos os
sujeitos do direito internacional podem dispor desse tipo de negociações. Há a
classificação referente aos sujeitos que participarem do processo. As diplomáticas são
aquelas que procedem entre Estados ou organizações internacionais. Já as que
ocorrerem entre pessoas privadas serão denominadas de simples “negociações” ou
“discussões”.
As chancelarias, os altos funcionários dos ministérios, os próprios ministros e
reuniões de cúpula dos chefes do Estado são as vias oficiais, logo, quando se tratar
formal e materialmente de negociações diplomáticas, estas se desenrolarão pelas vias
oficiais mencionadas.

É importante frisar que na negociação direta a solução pode advir de três meios.
A primeira é a transigência que diz respeito a ocorrência de concessões mútuas e
recíprocas, logo, cada Estado desiste de uma pretensão para que haja o fechamento do
litígio. A segunda, trata-se da desistência, na qual há a renúncia de uma das partes sobre
sua reivindicação. Por fim, a terceira é a aquiescência, que se resume ao momento em
que um Estado reconhece as pretensões do outro.

Ademais, cabe discorrer acerca das múltiplas formas que o procedimento pode
dispor, pois esse procedimento de resolução direto poder ser realizado em todos os
níveis. A esse respeito, pode ocorrer desde o chefe de Estado até os representantes
diplomáticos locais e passa pela constituição de comissões ad hoc. O autor salienta que
“esse procedimento pode inclusive ser implementado dentro das organizações
internacionais em que constitui uma fase essencial daquilo que se convencionou chamar
de diplomacia parlamentar”. Outrossim, trata-se de um procedimento que tem a
vantagem de ser discreto, quiçá permanecer secreto. A esse respeito, o Carreau e
Bichara citam como exemplo a situação de que no final dos anos 1960 e início de 1970
ocorreram muitas reuniões secretas em Paris. Essas reuniões tinham como assunto o
Vietnã e os Estados Unidos, o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul para ser oficializada só
no final na última fase das negociações.

Por fim, traz-se à tona que se trata de um procedimento prévio a qualquer


recurso para um outro tipo de regulamentos dos conflitos. Ou seja, a negociação direta
configura-se como um pressuposto. Em concordância com esse entendimento, deve-se
citar que tal situação está consagrada em diversos instrumentos internacionais.

Dessa forma, no âmbito da OMC o Entendimento Relativo as Normas e


Procedimento sobre Solução de Controvérsias prevê em seu artigo 3°, 7 e artigo 4° (2,3
e 5) que

antes de apresentar uma reclamação, os Membros avaliarão a utilidade de


atuar com base nos presentes procedimentos. O objetivo do mecanismo de
solução de controvérsias é garantir uma solução positiva para as
controvérsias. Deverá ser sempre dada preferência à solução mutuamente
aceitável para as partes em controvérsia e que esteja em conformidade com
os acordos abrangidos. Na impossibilidade de uma solução mutuamente
acordada, o primeiro objetivo do mecanismo de solução de controvérsias será
geralmente o de conseguir a supressão das medidas de que se trata, caso se
verifique que estas são incompatíveis com as disposições de qualquer dos
acordos abrangidos. Não se deverá recorrer à compensação a não ser nos
casos em que não seja factível a supressão imediata das medidas
incompatíveis com o acordo abrangido e como solução provisória até a
supressão dessas medidas. O último recurso previsto no presente
Entendimento para o Membro que invoque os procedimentos de solução de
controvérsias é a possibilidade de suspender, de maneira discriminatória
contra o outro Membro, a aplicação de concessões ou o cumprimento de
outras obrigações no âmbito dos acordos abrangidos, caso o OSC autorize a
adoção de tais medidas. (CARREAU, Dominique; BICHARA, Jahyr-Philippe.
Direito Internacional. ? edição. P.661 e 662)

Portanto, percebe-se que foi instituída a regra geral de uma ‘solução


mutualmente aceitável’ que advém de uma negociação direta, conforme os artigos
supramencionados, bem como o estabelecimento de um sistema de consulta entre as
partes litigantes. Nessa perspectiva, é cabível mencionar sobre o caso do MERCOSUL,
no qual o Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias segue o mesmo
entendimento. Em seu artigo 4° está disposto que “os Estados Parte numa controvérsia
procurarão resolvê-la, antes de tudo, mediante negociações diretas”. Ou seja, a regra
infere que deve existir uma negociação prévia entre os Estados numa desavença antes
de se instaurar um processo de resolução.

Outrossim, o caso de Mavrommatis é de suma importância, pois existiu a


influência dessa regra na jurisprudência, posto que, na decisão Mavrommatis, fora
imposta a negociação direta como condição para a submissão do litígio à CPJI.

A CIJ, como o principal tribunal de arbitragem internacional, analisou os


argumentos apresentados por ambas as partes e emitiu um julgamento importante. A
corte decidiu que a Turquia, de fato, violou o direito internacional ao expropriar as
propriedades de Mavrommatis sem justa compensação. Além disso, a CIJ estabeleceu
princípios importantes sobre a natureza dos direitos de propriedade e a aplicação do
direito internacional nesses casos.

O caso Mavrommatis é amplamente considerado como um marco no


desenvolvimento do direito internacional, particularmente no que diz respeito aos
direitos de propriedade e à proteção dos direitos dos indivíduos nos tratados
internacionais. Ele também demonstrou a importância da Corte Internacional de Justiça
como um tribunal de arbitragem independente para resolver disputas entre nações.
Outro caso bastante interessante que teve como um dos meios de resolução de conflito a
negociação direta foram as tratativas que antecederam o Tratado de Petrópolis. Que
após várias tensões e conflitos entre o Brasil e a Bolívia, incluindo a chamada
Revolução Acreana, as negociações diretas foram iniciadas para buscar uma solução
pacífica e definitiva para a disputa. Ambos os países reconheceram a importância de
resolver a controvérsia por meio do diálogo e da diplomacia, evitando assim um conflito
armado.

As negociações diretas culminaram na assinatura do Tratado de Petrópolis, que


estabeleceu os termos da paz e definiu a nova fronteira entre os dois países. De acordo
com o tratado, o Brasil recebeu a posse da região do Acre e concedeu à Bolívia uma
compensação financeira e territorial.
REFERÊNCIAS:

CARREAU, Dominique; BICHARA, Jahyr-Philippe. Direito Internacional. ? edição.


Lumen Juris, Rio de Janeiro. 2015.

Você também pode gostar