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5.

ª edição, revista e atualizada

Defenda os
seus direitos
160 perguntas
e respostas

DECO PROTESTE DIGITAL


INSTRUÇÕES DE NAVEGAÇÃO

ÍNDICE GERAL

A ÍNDICE REMISSIVO

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ANTERIOR SEGUINTE
DEFENDA OS SEUS DIREITOS
160 perguntas e respostas

Revisão técnica: Magda Canas, Nuno Carvalho,


Nuno Rico, Sandra Justino e Sofia Lima
Colaboraram nesta edição: António Lino
Projeto gráfico, paginação e capa: Alexandra Lemos
Fotografia da capa: iStock
Formato digital: Isabel Espírito Santo e Paula Sofia Silva
Coordenação editorial e redação: Paula Sofia Silva

Diretora e editora de publicações: Cláudia Maia

© 2021 DECO PROTESTE, Editores, Lda.


Todos os direitos reservados por:
DECO PROTESTE, Editores, Lda.
Av. Eng. Arantes e Oliveira, 13
1900-221 LISBOA  Tel. 218 410 800
Correio eletrónico: guias@deco.proteste.pt

1.ª edição: setembro de 2000


5.ª edição: dezembro de 2021
Esta edição não contempla alterações
posteriores a novembro de 2021

Depósito legal n.º 487927/21


ISBN 978-989-737-147-9

Impressão: AGIR
Rua Particular, Edifício Agir
Quinta de Santa Rosa
2680-458 CAMARATE

Esta edição respeita as normas


do Acordo Ortográfico.

Esta publicação, no seu todo ou em parte,


não pode ser reproduzida nem transmitida
por qualquer forma ou processo, eletrónico,
mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia,
xerocópia ou gravação, sem autorização prévia
e escrita da editora.

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Defenda os
seus direitos
160 perguntas
e respostas

DECO PROTESTE DIGITAL


A

Prefácio
Este guia prático não foi feito para ser lido de fio a pavio, como um romance
ou um ensaio, mas para ser consultado em função dos assuntos que interes-
sam ao leitor e dos problemas que se lhe colocam. As questões aqui tratadas
são algumas das que chegam com mais frequência ao Serviço de Informa-
ção da deco proteste. Das telecomunicações aos impostos, passando pelas
compras e garantias, meios de pagamento, arrendamento, trabalho e até
relações familiares, de trabalho e de vizinhança, em quase todas as áreas,
quase todos os dias, podem surgir dúvidas e problemas para os quais a solu-
ção não é evidente. Damos uma ajuda, explicando quais são os seus direitos
e deveres e qual a melhor via de resolução.

Apesar dos muitos casos concretos, apresentados ao longo de 160 pergun-


tas e respostas, não tivemos a pretensão de ser exaustivos. Na introdução,
explicamos-lhe que mecanismos poderá acionar na maioria dos casos, mas,
perante um problema específico, é essencial conhecer os direitos e deveres
das partes envolvidas. Se a sua situação concreta não tiver sido contemplada
ou necessitar de informações adicionais, contacte o nosso Serviço de Infor-
mação através do 218 410 858, nos dias úteis, das 9h00 às 18h00. E não
se esqueça de que, quanto mais depressa, melhor. Se deixar passar prazos
importantes, corre o risco de não poder defender os seus direitos de forma
adequada. Se quiser saber, ao certo, qual a legislação aplicável, procure essa
informação no final do livro.
A
A

Índice
Introdução Crédito 72

Livro de reclamações 10 Seguros 76


Locais onde é obrigatório 10
O que fazer no local 11
Recorrer ao livro de reclamações eletrónico 12 CAPÍTULO 4
Sanções e indemnizações 12 Propriedade e vizinhança

As estratégias de ação 13 Compra e venda de propriedades 86


A interpelação 13
Os meios de pressão 14 Obras em casa 94
O acordo entre as partes 16
Os tribunais 20 Vizinhança 98

Condomínio 103
CAPÍTULO 1
Compras e serviços Outros bens 106

Serviços essenciais 24
CAPÍTULO 5
Compras e garantias 31 Arrendamento

Viagens e turismo 38 Contratos 110

Rendas 121
CAPÍTULO 2
Responsabilidade civil Obras e outras despesas 122
e administração pública

Danos e perdas 48 CAPÍTULO 6


Trabalho
Infrações, Justiça
e Administração Pública 56 Contratos 130

Exclusividade e outras especificidades 135


CAPÍTULO 3
Bancos e seguradoras Erros e alterações do salário 139

Meios de pagamento 68 Férias, faltas e Segurança Social 140


A

Igualdade e discriminação 144

Danos e perdas 146

CAPÍTULO 7
Família

Paternidade, adoção e filhos menores 150

Filhos adultos e apoio aos pais 154

Separação e divórcio 156

Dívidas e heranças 159

Legislação em vigor 164

Índice remissivo 171


A

Introdução
A Defenda os seus direitos

Quase todos os dias somos confrontados com pequenos e, por vezes, gran-
des conflitos, em que julgamos ter razão, mas não sabemos como fazer
valer os nossos direitos. E acabamos por desistir, com a convicção de que
a única solução seriam os tribunais. Na realidade, existem muitas vezes
métodos mais simples, mais rápidos e menos dispendiosos para resolver
os diferendos com outras pessoas ou instituições. A resolução de conflitos
é simplificada sempre que existe um contrato que estipula obrigações recí-
procas, ou, ainda, quando as duas partes estão de acordo para pôr termo
ao conflito por outros meios que não os judiciais. Tratando-se de conflitos
de consumo, o primeiro passo, sempre que exista, é o livro de reclama-
ções. Se este não existir, será necessário recorrer a outras estratégias. Num
caso ou noutro, é fundamental comprovar os seus direitos. Para isso, deve
guardar todos os documentos e outros meios de prova e, ainda, interpelar
a parte contrária.

Livro de reclamações
O livro de reclamações é o primeiro meio de defesa dos consumidores, mas
nem todos os estabelecimentos estão obrigados a tê-lo. Quando existe esta
obrigatoriedade, é possível preenchê-lo de imediato, no local da ocorrência,
ou fazer a reclamação por via eletrónica em www.livroreclamacoes.pt. Num
caso como noutro, o recurso ao livro de reclamações é gratuito.

Locais onde é obrigatório


Entre outros locais, é obrigatório haver livro de reclamações em:
— estabelecimentos comerciais de venda ao público, ainda que operem à
distância (por exemplo, por telefone ou através da internet);
— empreendimentos turísticos (hotéis, pensões, etc.), alojamento local e
empresas de animação turística;
— recintos de espetáculos de natureza artística e recintos de diversões
aquáticas;
— parques de campismo e parques de estacionamento;
— restaurantes e estabelecimentos de bebidas;
— agências de viagens;
— mediadoras imobiliárias;

10
A Introdução

— estabelecimentos de venda de automóveis, oficinas e centros de inspeção


automóvel;
— escolas de condução e centros de exames de condução;
— postos de abastecimento de combustíveis;
— bancos, seguradoras, mediadoras e corretoras de seguros;
— estabelecimentos de ensino, creches, jardins-de-infância, lares de idosos
ou outros;
— agências funerárias;
— cabeleireiros, institutos de beleza, ginásios, estabelecimentos onde são
efetuadas tatuagens e aplicados pírcingues;
— prestadores de serviços de transporte, água, gás, eletricidade, telecomu-
nicações e correios;
— clínicas e hospitais privados;
— farmácias;
— unidades privadas de saúde, como laboratórios de análises clínicas ou
centros de diagnóstico, terapêutica e prevenção que utilizem radiações
ionizantes, ultrassons ou campos magnéticos; unidades privadas de diá-
lise; clínicas e consultórios dentários e unidades de medicina física e de
reabilitação.

O LIVRO AMARELO
O livro amarelo, em papel ou eletrónico (www.livroamarelo.gov.pt), é o suporte de
reclamações dos serviços prestados por entidades do setor público. Se se dirigir a um
serviço público, como um balcão da Segurança Social, e achar que tem razões para
reclamar, escreva no livro amarelo. Caso opte pela plataforma eletrónica, escolha a
opção “Reclame”, indique se o atendimento foi presencial ou online e identifique o
local visado. Preencha o formulário e submeta. Se tiver feito uma reclamação em
papel, também pode anexar cópia ao processo submetido por via digital.

O que fazer no local


Caso se sinta prejudicado pela atuação de uma entidade que é obrigada a
ter livro de reclamações, pode e deve solicitá-lo. Os funcionários terão de o
entregar a quem o solicite e fazer chegar as reclamações, no prazo de 15 dias,
ao organismo que fiscaliza a atividade. Aliás, estes estabelecimentos têm que
indicar, em local visível, que têm livro de reclamações e qual é a entidade
supervisora do setor. Se não tiverem o livro ou recusarem disponibilizá-lo,
chame as autoridades policiais (PSP ou GNR), para que ponham fim à recusa
ou tomem nota da ocorrência e a façam chegar à entidade fiscalizadora do

11
A Defenda os seus direitos

setor, a quem cabe aplicar as coimas correspondentes. Na maior parte dos


casos é a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), mas,
consoante os setores, também pode ser, por exemplo, o Instituto dos Mer-
cados Públicos e do Imobiliário, o Turismo de Portugal ou a Entidade Regu-
ladora da Saúde.

Ao preencher o livro de reclamações, comece por identificar-se, fazendo


o mesmo para a entidade contra a qual reclama e os funcionários envolvi-
dos. Descreva os factos, de forma detalhada e objetiva, e indique quando
ocorreram. Use esferográfica e escreva com letra bem legível, numa lin-
guagem clara e concisa. Se possível, recorra a testemunhas e registe os
seus contactos. Guarde toda a documentação (faturas, contratos, brochu-
ras, etc.), bem como a sua cópia da reclamação. Após o registo, destaque
uma cópia do livro: o original será enviado para a entidade fiscalizadora.
Pretendendo reforçar a sua queixa, pode ainda contactar a entidade que
regula o setor.

Recorrer ao livro de reclamações eletrónico


Se nada fizer no estabelecimento, pode ainda apresentar a sua reclama-
ção através do livro de reclamações eletrónico (www.livroreclamacoes.pt/
Pedido/Reclamacao). Preencha os campos definidos no formulário, a come-
çar pelos seus contactos e dados pessoais. A plataforma direciona a reclama-
ção para o fornecedor de bens ou prestador de serviços reclamado e para
a entidade reguladora do setor. Os primeiros estão obrigados a responder
ao consumidor por e-mail, no prazo de 15 dias úteis, e a dar conhecimento
dessa resposta à entidade reguladora. Se não o fizerem, ficam sujeitos ao
pagamento de uma coima.

Sanções e indemnizações
As entidades prevaricadoras são sancionadas, mas os organismos de fisca-
lização não têm poderes para indemnizar os prejudicados. Assim, se estes
pretenderem uma indemnização terão de recorrer aos meios extrajudiciais
de resolução de conflitos, como os centros de arbitragem, a mediação ou
os julgados de paz e, por último, aos tribunais. Contudo, a simples possi-
bilidade de aplicação de coimas é, muitas vezes, suficiente para resolver o
problema a favor do consumidor.

12
A Introdução

As estratégias de ação
A melhor estratégia de resolução do conflito pode variar consoante a situ-
ação específica. Muitas vezes, basta pressionar a parte contrária, com os
meios à disposição, para conseguir o objetivo sem recorrer a terceiros.
Mas, em muitos casos, a pessoa prejudicada não dispõe de qualquer meio
de pressão ou, se este existir, não constitui uma arma eficaz. Por exemplo,
se encomendou uma viatura e esta não é entregue na data combinada, pode,
evidentemente, deixar de pagar o carro, mas isso de pouco lhe servirá...

Em qualquer situação, não deixe de confirmar quais são, de facto, os seus


direitos, os prazos legais para reagir, as provas necessárias para ter boas
hipóteses de sucesso e a entidade junto de quem deve apresentar a reclama-
ção. Irá encontrar muitas respostas neste livro e também pode contactar-nos
a pedir a informação de que necessita (ligue para o 218 410 858 ou envie-nos
uma mensagem através do formulário disponível da nossa página na inter-
net, em www.deco.proteste.pt > Contactos > Linhas telefónicas > Serviço de
informação > Contactar por escrito).

A interpelação
Para comprovar os seus direitos, é indispensável que interpele a outra parte,
ou seja, que lhe exija o cumprimento das suas obrigações (quer se trate de
uma compra e venda, de um arrendamento ou qualquer outro conflito)
e que estabeleça um prazo para ela o fazer. Fique com uma prova do con-
tacto efetuado. A interpelação tem várias vantagens:
— a outra parte fica a saber que está disposto a defender os seus direitos;
— é um requisito fundamental para recorrer aos tribunais: sem ela, terá
menos hipóteses de ganhar uma ação judicial;
— a data da interpelação pode ser usada como referência na avaliação dos
prejuízos sofridos pela parte lesada, nomeadamente para calcular os
juros a receber, quando a indemnização é em dinheiro.

Muitas vezes, uma comunicação escrita é a chave para resolver o pro-


blema. Em certas situações, é desta forma que os responsáveis da empresa
sabem do descontentamento do cliente e, ao contrário do funcionário que
o atendeu, decidem satisfazer as suas pretensões. Pode ser conveniente
enviar também uma cópia ao representante da marca ou ao fabricante do
produto.

13
A Defenda os seus direitos

Correio eletrónico
A forma mais simples e imediata de interpelar a outra parte é enviar-lhe
uma mensagem de correio eletrónico. Mas não se esqueça, antes de enviar,
de ativar a confirmação de receção e a de leitura. As principais ferramentas
de correio eletrónico incluem estas funcionalidades, que equivalem à carta
registada com aviso de receção enquanto comprovativo de que a mensagem
foi recebida pelo destinatário. Guarde estes comprovativos juntamente com
o e-mail enviado.

Carta registada com aviso de receção


Quando a carta é entregue ao destinatário, o aviso de receção é assinado
e devolvido, o que prova o envio. É fundamental guardar o aviso de rece-
ção e uma cópia da carta enviada. Ainda que a outra parte não levante
a carta nos correios (por julgar que isso lhe permite alegar não ter sido
interpelada ou até, simplesmente, por estar ausente), considera-se que
foi interpelada.

Entregar a carta em mãos


Entregar em mãos a carta que intima a outra parte a cumprir as suas obri-
gações também é uma forma de interpelação, embora menos comum. Para
ficar com uma prova da receção da carta, é necessário que a outra parte
colabore, nomeadamente firmando, numa fotocópia da carta entregue,
a menção (de preferência com o carimbo comercial, se existir) de que a
recebeu e em que data. É claro que, se a parte intimada se recusar a fazê-lo,
a parte intimadora não terá qualquer hipótese de provar a entrega. Em alter-
nativa, quando entregar a carta faça-se acompanhar de duas testemunhas
que não sejam da sua família. Estas pessoas poderão testemunhar em tribu-
nal, se necessário, que a carta foi entregue, provando-se assim a existência
de interpelação.

Os meios de pressão
Os meios de pressão terão de ser utilizados com prudência. O seu uso deve
justificar-se, em todas as situações, e adequar-se aos prejuízos sofridos
com a conduta da outra parte, sob pena de poderem virar-se contra quem

14
A Introdução

os utiliza. Até porque a utilização abusiva de um meio de pressão pode


agravar o diferendo e incitar a outra parte a pedir em tribunal uma indem-
nização pelos prejuízos que tiver sofrido. É também indispensável guardar
todas as provas para apoiar a sua posição e, nomeadamente, ter interpe-
lado a outra parte, em tempo útil, para que cumprisse as suas obrigações,
de modo a deixar bem claro que está de boa-fé quando recorre aos meios
de pressão.

A exceção de incumprimento
Trata-se de não cumprir as obrigações contratuais, se a outra parte não cum-
prir as suas. Por exemplo, num contrato de empreitada, se o empreiteiro se
atrasa com a obra e não cumpre os prazos fixados, o dono da obra pode, por
sua vez, deixar de fazer os pagamentos a que se tinha comprometido nas
datas constantes do contrato.

A compensação
Se alguém lhe exigir um pagamento, mas estiver em incumprimento no
contrato firmado, considere deduzir da soma a pagar o montante corres-
pondente ao prejuízo que isso lhe tiver causado. Retomando o exemplo da
empreitada: se, no final do contrato, chegar à conclusão de que a obra não
tem a qualidade pretendida ou se atrasou muito para além da data com-
binada, pode deduzir ao preço final o equivalente aos prejuízos compro-
vadamente sofridos devido à falta de qualidade ou ao atraso. No entanto,
não pode definir este montante de forma unilateral: terá de chegar a
acordo com a outra parte. Na ausência deste acordo, a solução passará
pelo tribunal.

O direito de retenção
Se tiver em seu poder um bem da pessoa ou empresa com a qual celebrou
um contrato que ela não cumpriu, pode usar esse facto como argumento.
Voltando ao exemplo do contrato de empreitada: se, terminadas as obras,
o empreiteiro deixou no local material que lhe pertencia, mas não cumpriu
por completo aquilo a que se tinha comprometido (o trabalho realizado não
tem a qualidade necessária, por exemplo), o dono da obra tem legitimidade
para reter o material e só o devolver quando o empreiteiro eliminar os defei-
tos da obra.

15
A Defenda os seus direitos

O acordo entre as partes


O acordo das partes para pôr fim ao litígio pode resultar de uma negociação,
no caso da transação ou, simplesmente, da vontade manifesta de submeter
o litígio a uma terceira entidade.

A transação
A transação é um acordo, escrito ou verbal, para pôr fim a um diferendo
existente ou que pode vir a surgir. Comporta sempre concessões de ambas
as partes, sem imposições. Se, por exemplo, o seu vizinho plantar uma sebe
para separar o terreno dele do seu, sem o consultar, mas você preferisse um
muro de separação; e, por outro lado, você quisesse plantar árvores a menos
de dois metros do limite do terreno, poderiam chegar a um acordo: a sebe
mantém-se e você planta as suas árvores. É aconselhável fazer a transação
por escrito, através de uma declaração assinada por ambas as partes, para
que exista uma prova do que foi combinado. Lembre-se de que, ainda que
exista boa-fé, se um dos intervenientes falecer, o outro poderá ter dificul-
dade em provar que existia esse acordo. Se, apesar de tudo, o diferendo che-
gar aos tribunais, porque uma das partes não respeitou o acordo e a outra
exija o seu cumprimento, o juiz deve ser informado da existência prévia do
acordo. Caso este seja alcançado já com a ação em tribunal, terá mesmo de
ser feito por escrito.

A peritagem
Com pouca tradição no nosso país, esta é uma forma de resolução de con-
flitos que consiste em os intervenientes designarem, de comum acordo,
um perito da área em que surge o conflito, o qual fica encarregue de avaliar
a situação e/ou propor uma solução. Em regra, o perito não tem conheci-
mentos jurídicos. Contudo, a sua experiência profissional e prática pode
colmatar essa lacuna.

Não havendo acordo sobre o perito, cada parte pode designar o seu. Mas,
se as conclusões de um e outro divergirem, os dois peritos, por sua vez,
designam um terceiro que tomará a decisão final. Tendo em conta que os
peritos são, normalmente, remunerados, é prudente começar por perguntar
qual será o custo da peritagem. De facto, em caso de conflitos que envolvam
montantes pequenos, pode não compensar recorrer a um perito.

16
A Introdução

Cabe às partes em conflito chegarem a acordo, e de preferência por escrito,


quanto à missão do perito, que compreende, habitualmente, um ou vários
dos pontos seguintes:
— a constatação dos factos ocorridos;
— a formulação de uma opinião sobre a origem desses factos e/ou as suas
consequências;
— a determinação dos prejuízos, caso existam.

Retomando o exemplo da empreitada: o dono da obra e o empreiteiro


podem, por exemplo, recorrer a um engenheiro civil. Este verifica se exis-
tem defeitos na obra e se são devidos a negligência do empreiteiro, deter-
mina as possíveis consequências desses problemas e, finalmente, atribui um
valor aos prejuízos sofridos pelo dono da obra.

Mesmo quando não é escrito, o acordo para recorrer ao perito vincula as


duas partes. Isto significa que não é possível contestar as conclusões da peri-
tagem. Se a parte à qual o perito não deu razão recusar as conclusões da
peritagem, pode a outra parte, se necessário, recorrer a tribunal para exer-
cer os seus direitos. O tribunal só não aceitará as conclusões do perito se as
considerar insuficientes, podendo então designar outros especialistas para
analisar o problema.

A mediação
A mediação tem como objetivo alcançar um acordo amigável, com a ajuda de
um intermediário. As partes em conflito devem definir, em conjunto, quem vai
tentar alcançar o acordo e quais os limites da sua intervenção. Assim, podem
recorrer, por exemplo, aos sistemas públicos de mediação familiar, laboral ou
penal (veja mais informação sobre estes sistemas no sítio da Direção-Geral da
Política de Justiça, em https://dgpj.justica.gov.pt > Resolução de Litígios > Media-
ção > Sistemas Públicos de Mediação). A mediação pode terminar pela renúncia
de uma das partes às suas pretensões ou por uma verdadeira transação, através
da qual cada uma das partes renuncia a alguns dos direitos que reivindica.

Pode também recorrer-se:


— à associação do setor da empresa com a qual se está em conflito (por
exemplo, à antral, no caso dos táxis);
— aos provedores do cliente existentes em algumas grandes empresas;
— às ordens profissionais (dos médicos, dos advogados, dos engenheiros,
dos arquitetos, etc.);

17
A Defenda os seus direitos

— aos centros de informação autárquica ao consumidor, entidades existen-


tes em algumas câmaras municipais e que têm por missão prestar infor-
mações em matérias relativas ao direito do consumo e mediar conflitos
entre consumidores e comerciantes;
— aos centros de arbitragem de conflitos de consumo, que, além da media-
ção, podem proceder à resolução dos conflitos;
— aos julgados de paz, tribunais que podem decidir litígios de montante
até 15 mil euros em matérias como a cobrança de dívidas, conflitos entre
vizinhos e acidentes de viação, sem necessidade de recorrer a advogado.
Têm a força legal dos tribunais tradicionais, mas funcionam de forma
mais rápida e económica. Estão organizados por área de residência, mas
ainda não abrangem todos os concelhos do país. Pode verificar se existe
um na sua zona em www.conselhodosjulgadosdepaz.com.pt ou através
do Ministério da Justiça.

A arbitragem
A arbitragem, ao contrário da mediação, é vinculativa para as partes, isto
é, têm de respeitar a decisão que dela resultar. Regra geral, o árbitro é,
para todos os efeitos, um juiz, e a sua decisão é equiparada a uma sen-
tença de um tribunal judicial. As vantagens relativamente a este são a
duração do processo, que não pode exceder os 12 meses, e o custo redu-
zido. No nosso país, a arbitragem é assegurada pelos centros de arbitra-
gem de conflitos de consumo e por alguns centros específicos de deter-
minados setores, como o Centro de Arbitragem para o Setor Automóvel
(casa) ou o Centro de Informação, Mediação e Arbitragem de Seguros
(cimpas). Os centros de competência genérica atuam apenas em algumas
áreas geográficas, os restantes abrangem todo o território nacional. Se o
valor do bem ou serviço que esteve na origem do conflito de consumo for
inferior a cinco mil euros, e o consumidor optar por recorrer a um cen-
tro de arbitragem, a empresa terá de submeter-se ao processo. Consulte
a lista das Entidades de Resolução Alternativa de Litígios (ral), na sua
grande maioria centros de arbitragem, na página da Direção-Geral do Con-
sumidor (www.consumidor.gov.pt).

Centros de arbitragem de conflitos de consumo


A maioria dos centros de arbitragem de competência genérica abrange ape-
nas os litígios de consumo numa determinada área geográfica. Por exem-
plo, o âmbito do Centro de Informação de Consumo e Arbitragem do Porto
(cicap) está circunscrito à área metropolitana do Porto. Nas zonas que não
estão abrangidas por um centro específico, os consumidores podem recor-
rer ao Centro Nacional de Informação e Arbitragem de Conflitos de Consumo

18
A Introdução

CONFLITOS ALÉM-FRONTEIRAS
Caso resida em Portugal e tenha uma reclamação relativa a uma compra ou a
um serviço prestado noutro país da União Europeia, na Noruega, na Islândia ou
no Reino Unido, o Centro Europeu do Consumidor (CEC) pode prestar-lhe as infor-
mações necessárias e contactar a entidade competente nesse país, para ajudar a
resolver o litígio sem recurso aos tribunais (veja como apresentar a reclamação em
http://cec.consumidor.pt).
Tratando-se de um bem ou serviço que adquiriu através da internet, também pode
tentar resolver o litígio através da plataforma RLL (Resolução de Litígios em Linha)
da Comissão Europeia (https://ec.europa.eu > Viver, trabalhar e viajar na UE > Direi-
tos e queixas dos consumidores > Encontre uma solução para os seus problemas
enquanto consumidor > Resolução de litígios em linha).

(cniacc). Em alguns destes centros o acesso é gratuito, mas podem existir


limites relativamente ao valor dos litígios.

Centro de Arbitragem do Setor Automóvel (casa)


O casa pode dirimir litígios relacionados com a compra e venda de veícu-
los novos e usados e de peças para automóveis; assistência, manutenção e
reparação automóvel; serviços de estacionamento e venda de combustíveis,
óleos e lubrificantes. Abrange todo o país e intervém em litígios de qual-
quer valor, sendo a sua intervenção gratuita, durante a fase de mediação e
conciliação. Se pretender apenas informações sobre os seus direitos e deve-
res, também nada terá a pagar. Já a abertura de um processo de reclamação
implica o pagamento de dez euros e o acesso à arbitragem, em processos
entre particulares ou entre particulares e empresas, tem um custo entre 40 e
500 euros, dependendo do valor da reclamação. Por regra, o centro tem um
prazo máximo de 12 meses para resolver o conflito. Veja mais informação
sobre este centro em www.arbitragemauto.pt.

Centro de Informação, Mediação e Arbitragem de Seguros (cimpas)


De âmbito nacional, o cimpas (www.cimpas.pt) abrange os conflitos relacio-
nados com contratos de seguro. No que respeita ao seguro automóvel, pro-
move a resolução extrajudicial de litígios emergentes de acidentes de viação
(como, por exemplo, uma das partes não querer assumir a sua responsabili-
dade), incluindo aqueles de que resultem danos corporais, com exclusão da
morte e das incapacidades permanentes, que só podem ser resolvidos em
tribunal. Incluídos estão também outros litígios no âmbito do seguro auto-
móvel. Neste setor, não existem limites para o valor da causa. Já no que res-
peita aos contratos de outros tipos de seguro (multirriscos, responsabilidade
civil, crédito, acidentes pessoais, assistência em viagem, saúde e vida, etc.),

19
A Defenda os seus direitos

embora todos sejam elegíveis para resolução por esta via, os valores das cau-
sas de seguros multirriscos e de responsabilidade civil encontram-se limita-
dos a 50 mil euros. Valores superiores terão de seguir para tribunal judicial.
Em qualquer dos casos abrangidos pelo cimpas, se as partes optarem pela
mediação e arbitragem terão de pagar uma taxa correspondente a 3% do
valor da causa, com um mínimo de 70 euros e um máximo de 700 euros.

Os tribunais
A ida a tribunal deve ser entendida como último recurso, a acionar apenas
quando nenhuma das outras opções for válida. De facto, uma ação em tri-
bunal pode revelar-se um processo demorado e dispendioso. Nos casos em
que a única forma de fazer valer os seus direitos seja o recurso aos tribunais,
o primeiro passo é contactar um advogado, que o ajudará a reunir as provas
necessárias e encaminha o processo. As decisões do tribunal são de aplica-
ção obrigatória para todas as entidades (públicas e privadas) e prevalecem
sobre quaisquer outras autoridades.
Quem não tiver meios para custear as despesas com uma ação judicial pode
requerer proteção jurídica na Segurança Social, designadamente que lhe
seja nomeado um advogado oficioso para o representar em tribunal. Assim,
não terá de pagar a um advogado e fica dispensado das taxas de justiça e
restantes encargos com o processo. Terá, também, de comprovar a insufici-
ência económica para suportar essas despesas.

CENTRO DE ARBITRAGEM ADMINISTRATIVA (CAAD)


O centro não resolve litígios de consumo, mas os que surgem no âmbito do funcio-
nalismo público e dos contratos celebrados com entidades públicas. Estas entidades
podem aceitar a jurisdição do caad para litígios futuros ou aderir apenas para a reso-
lução de casos concretos. A título de exemplo, eis algumas situações abrangidas pela
jurisdição do caad:
— um fornecedor de uma entidade pública que considere que o contrato celebrado
não está a ser cumprido pode exigir o seu cumprimento no caad;
— um funcionário público que pretenda reagir contra uma sanção disciplinar que lhe
haja sido aplicada, por entender que a mesma é ilegal, pode igualmente utilizar o
caad para resolver o litígio com o serviço público em questão.
Poderá obter mais informações sobre este centro, e os respetivos contactos, em
www.caad.org.pt.

20
A Introdução

A página da Segurança Social na internet dispõe de um simulador que faz


os cálculos necessários e indica se há direito a apoio e, se for o caso, em que
moldes (www.seg-social.pt > Simulações > Proteção jurídica). O preenchi-
mento pode parecer um pouco complicado, à primeira vista, mas, na rea-
lidade, basta introduzir os rendimentos líquidos do agregado familiar e o
valor dos bens que detém, sem esquecer o número de membros do agregado
familiar. O restante é calculado automaticamente. Encontra o formulário
para requerer este apoio na internet (em www.seg-social.pt/formularios faça
uma pesquisa por “Requerimento de Proteção jurídica pessoa singular”).

21
A
A

Capítulo 1

Compras e serviços
A Defenda os seus direitos

Serviços essenciais
1  
Durante 20 anos, comprei botijas de gás ao mesmo fornecedor.
Recentemente, abriu uma loja perto de mim que vende botijas de outra
marca, mas mais baratas. Posso mudar sem custos adicionais?

Ao adquirir a primeira botija de gás, o consumidor paga o recipiente e o


conteúdo, mas, nas compras seguintes, paga apenas o conteúdo, ou seja,
o gás que vai consumir. A botija pode ser trocada por outra equivalente,
de qualquer marca, e todas as lojas são obrigadas a aceitar as botijas da con-
corrência, seja para efetuar a troca ou porque o cliente já não precisa delas.
No entanto, antes de mudar de marca, verifique se a peça que liga a man-
gueira à botija (o redutor) é idêntica. Se não for, será necessário trocá-la.
Algumas lojas disponibilizam-se para o fazer gratuitamente, para ganharem
um novo cliente. Neste caso, não terá nenhum custo para mudar de marca e
distribuidor. Caso surja algum problema, apresente queixa no livro de recla-
mações (veja a página 10) ou diretamente junto da Entidade Reguladora dos
Serviços Energéticos (erse), a entidade que supervisiona as questões relaci-
onadas com a distribuição e o fornecimento de gás.

2  
A minha operadora quer cobrar-me chamadas para o estrangeiro que não
efetuei e me recuso a pagar. Podem cortar-me o serviço?

Se ainda não a tiver, peça uma fatura detalhada à empresa de telecomuni-


cações. Caso detete chamadas que não efetuou, peça mais esclarecimentos.
Pode acontecer que os telefonemas tenham sido feitos por outra pessoa com
acesso ao aparelho ou, pelo contrário, existir alguma anomalia técnica ou
alguém ter conseguido aceder à sua linha e, de forma abusiva, realizado as
chamadas. Nesse caso, peça à operadora uma inspeção do equipamento e
da linha. Enquanto se apura o ocorrido, pode pagar apenas os outros mon-
tantes, ficando pendentes os relativos aos telefonemas em análise. Apresen-
tada reclamação por escrito, o serviço não pode ser suspenso, mesmo que o
consumidor não pague, até que a situação seja resolvida. Já as reclamações
verbais (presencialmente ou por telefone), não impedem a suspensão.
Se ficar provado que houve violação da linha e alguém fez telefonemas atra-
vés do seu número, não terá de suportar o custo dessas chamadas. Pode ten-
tar descobrir o autor, por exemplo, através dos números de destino. Tendo
informações que permitam identificá-lo, apresente queixa junto das autori-
dades policiais. Caso, pelo contrário, fique demonstrado que as chamadas
foram realizadas de forma legítima, sem que seja detetada anomalia técnica

24
A Compras e serviços

O QUE SÃO OS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS?


Trata-se de serviços indispensáveis para a vida quotidiana dos cidadãos, por assegura-
rem necessidades elementares: abastecimento de água, energia elétrica e gás, mas
também comunicações eletrónicas, serviços postais, recolha e tratamento de águas
residuais, gestão de resíduos urbanos sólidos e até serviços de transporte de passagei-
ros (ainda que as regras a seguir indicadas não se apliquem aos transportes). Apesar
de, por vezes, isso suscitar alguma confusão, o facto de a empresa que fornece estes
serviços ser pública ou privada não tem qualquer peso nesta classificação. Os fornece-
dores destes serviços estão sujeitos a uma legislação específica. Assim:
— não podem interromper o serviço por falta de pagamento, sem aviso prévio, salvo
caso fortuito ou de força maior. Têm de enviar uma carta ao consumidor faltoso,
alertando-o para o atraso no pagamento da fatura, indicar-lhe os meios à sua dis-
posição para pagá-la e avisá-lo de que, se não o fizer no prazo de 20 dias, lhe será
cortado o serviço. No caso das comunicações eletrónicas, este prazo é de 30 dias
e começa a contar decorridos os dez dias, após o vencimento da fatura, de que a
operadora dispõe para enviar o pré-aviso ao cliente;
— só podem exigir o pagamento dos serviços no prazo de seis meses. Passando mais
tempo desde que o serviço foi fornecido, sem que a empresa tenha tentado obter
o pagamento, perde o direito a exigi-lo. Da mesma forma, não podem corrigir con-
sumos com mais de seis meses que tenham cobrado incorretamente em seu des-
favor. Deste modo, o consumidor não precisa de guardar durante anos as faturas
relativas aos serviços públicos essenciais: se lhe exigirem o pagamento por consu-
mos com mais de seis meses, não está obrigado a pagar, mas tem de se opor ao
pagamento dessas quantias, respondendo, por escrito, que os pagamentos exigi-
dos se encontram prescritos;
— é proibida a cobrança de consumos mínimos, entendendo-se estes como todo e
qualquer valor que não corresponda a uma efetiva prestação de serviço. No entanto,
a lei refere expressamente que não constituem serviços mínimos as taxas e tari-
fas devidas pela construção, conservação e manutenção dos sistemas públicos de
água, saneamento e resíduos sólidos. Ou seja, estas terão sempre de ser pagas;
— são também proibidas as cobranças por venda, aluguer, amortização ou inspe-
ção periódica de contadores ou de outros instrumentos de medição, bem como de
qualquer taxa que não corresponda a um encargo do fornecedor do serviço, com
exceção da contribuição para o audiovisual;
— a fatura deve ser mensal, salvo se outra coisa for acordada entre as partes, e especi-
ficar de forma detalhada os valores apresentados, os serviços prestados e as respe-
tivas tarifas. Tratando-se de operadores de telecomunicações, se o cliente o solicitar
a fatura deve incluir a data em que termina o período de fidelização, caso exista,
e os encargos que terá de suportar se quiser terminar o contrato na data de emis-
são da fatura. Se a fatura incluir mais do que um serviço, não pode ser recusado o
pagamento de apenas um deles e o que for pago não pode ser suspenso devido à
falta de pagamento de outros. Nestes casos, o consumidor pode exigir um recibo
respeitante à quantia paga.

25
A Defenda os seus direitos

ou acesso de terceiros à linha, terá de pagá-las, pois é responsável pelas liga-


ções efetuadas a partir do seu aparelho. Cabe ao prestador do serviço provar
que não houve falhas no serviço ou no equipamento da sua responsabilidade.
Existindo pagamentos em atraso, o serviço só pode ser suspenso depois de o
operador enviar um pré-aviso, por escrito, nos dez dias que se seguem à data-
-limite de pagamento da fatura. Esta comunicação deve conceder um prazo
adicional de 30 dias para regularizar a situação e informar o consumidor dos
meios à sua disposição para evitar a suspensão do serviço e para o retomar,
se for essa a sua intenção. Ou seja, pagamento do valor em dívida, acordo
escrito para o plano de pagamentos ou apresentação de reclamação escrita.

3   Tenho um contrato com uma operadora de telecomunicações, que inclui o


serviço de internet. Estava a correr tudo bem, mas ultimamente o serviço
está muito lento e instável, com cortes no acesso. Contactei a operadora e, depois
de testarem a ligação, conseguiram melhorá-la. Entretanto, voltou a piorar. Não
estou satisfeita com o serviço e quero mudar para a concorrência. O que tenho de
fazer para pôr termo ao contrato?

Muna-se de provas concretas da má qualidade do serviço. Verifique qual a


velocidade contratada e meça a velocidade real com um medidor aceite no
contrato. Se a diferença entre a velocidade real e a contratada for significa-
tiva e recorrente, estaremos perante um incumprimento que lhe permite
pôr termo ao contrato com justa causa. Faça diversas medições, a horas dife-
rentes (veja no contrato ou na página de internet da operadora se é exigido
o cumprimento de algum requisito, por exemplo, um número mínimo de
medições), e guarde as capturas de ecrã com os resultados para apresentá-
-las como prova. Confirmando-se que o serviço contratado não cumpre os
requisitos, se ainda estiver no período de fidelização solicite a rescisão ante-
cipada do contrato, indicando claramente que tal se deve ao incumprimento
por parte da operadora e que, portanto, nada irá pagar por isso. Caso con-
trário, o operador cancela o serviço e envia-lhe uma fatura com o custo da
rescisão antecipada por incumprimento do período de fidelização.
Se não ficar satisfeito com a resposta, reclame junto da Autoridade Nacional de
Comunicações (Anacom). Pode fazê-lo através do livro de reclamações físico
ou eletrónico (www.livroreclamacoes.pt/Inicio) e/ou da plataforma Reclamar
da deco proteste (www.deco.proteste.pt/reclamar). Pode também recorrer
a um centro de arbitragem de conflitos de consumo ou a um julgado de paz.

4  
Sempre que preciso de contactar a linha de apoio ao cliente da minha
operadora de telecomunicações, a chamada fica muito tempo em espera e,
quando finalmente sou atendido, a questão nunca se resolve de forma célere. Sinto-

26
A Compras e serviços

-me duplamente penalizado: não só o serviço tem dado problemas, como tenho de
pagar, e não é pouco, para tentar resolvê-los. Já pensei em mudar de operadora,
mas amigos e conhecidos relatam situações idênticas com outras empresas.
As operadoras podem cobrar desta forma pelo apoio ao cliente?

Para evitar estas situações, desde 1 de novembro de 2021 que as entidades


prestadoras de serviços públicos essenciais, o que inclui as empresas de tele-
comunicações, estão obrigadas a disponibilizar uma linha de apoio telefó-
nico gratuita ou, em alternativa, um número da rede fixa (começam por 2)
ou de telemóvel (começam por 9). Os habituais números com prefixo 16 são
linhas de valor acrescentado e, embora possam mantê-las, as operadoras têm
também de disponibilizar linhas de atendimento alternativas. Nestes casos,
o valor a pagar depende do tarifário associado ao telefone de onde é feita a
chamada. Para evitar custos desnecessários, verifique os prefixos dos contac-
tos da operadora e quais estão contemplados nas chamadas gratuitas abran-
gidas pelo seu tarifário de telefone. A lei exige que o custo das chamadas
para as linhas de apoio seja comunicado de forma clara e visível. Em caso de
dúvida, se a questão não for urgente, considere fazer o contacto por outra
via, como o correio eletrónico, a aplicação para telemóvel ou tablet, a área
de cliente ou algum formulário de que a operadora disponha na internet e,
ainda, a visita presencial a uma loja, se existir uma na sua zona.

5   Aliciada por uma oferta mais barata de televisão, telefone fixo, telemóvel e
internet, decidi mudar de operadora. Nessa altura, assinei uma rescisão de
contrato que o vendedor se comprometeu a enviar à anterior operadora. Agora,
fui surpreendida com duas faturas de telecomunicações para pagar: a do antigo
fornecedor e a do novo. O que posso fazer?

Este problema surge, com alguma frequência, quando se muda de opera-


dora de telecomunicações. Para que o contrato anterior cesse, é necessário
que, no prazo aí definido, seja entregue uma declaração manifestando essa
vontade, ou seja, referindo que, a partir de determinada data, o consumidor
já não pretende receber o serviço. Se isso não for feito, o contrato mantém-
-se. Por vezes, o novo operador compromete-se a apresentar o pedido de
cancelamento do contrato anterior. No entanto, convém não esquecer que
o titular do contrato continua a ser responsável pelo seu cancelamento e
pelo cumprimento das obrigações que lhe estão associadas. Ao aceitar que
seja o novo operador a tratar do cancelamento, não está a transferir essa
responsabilidade. Se ele não apresentar o pedido de cancelamento ou o
fizer mais tarde que o combinado, o cliente poderá mesmo ter de pagar as
faturas emitidas até ao efetivo cancelamento do contrato. Para evitar estas
situações, é preferível não delegar essa tarefa ou, se o fizer, certificar-se,

27
A Defenda os seus direitos

junto da anterior operadora, alguns dias antes do termo do prazo indicado


no contrato, de que o pedido de cancelamento foi recebido. Verificando que
isso não aconteceu, trate diretamente do assunto com o antigo operador.

6   A empresa onde trabalho transferiu-me para outra localidade. Pouco tempo


antes, eu tinha celebrado um novo contrato de telecomunicações que
implicava uma fidelização de 12 meses. Solicitei a transferência do serviço, mas,
na zona para onde me mudei, apenas está disponível outro que não me interessa.
Segundo a operadora, ou eu mantenho o serviço na morada antiga, onde deixei de
residir, ou tenho de aceitar o novo serviço. Não fazendo uma coisa nem outra, terei
de indemnizá-la por não respeitar o período de fidelização. Pode fazer isto?

A fidelização é a contrapartida do consumidor, com o seu consentimento


expresso, pela oferta de condições mais vantajosas (descontos na mensa-
lidade, equipamentos mais baratos, instalação gratuita, canais extra, etc.).
Estas condições devem estar claramente identificadas e quantificadas e toda
a informação relativa ao período de fidelização, incluindo a data em que
termina, deve ser prestada por escrito. Na prática, se o consumidor cancelar
o contrato antes de terminado o período de fidelização, terá de devolver à
operadora os descontos de que usufruiu (mas não, como por vezes é exi-
gido, pagar as mensalidades até ao final do período de fidelização em vigor).
Na situação descrita, o consumidor manifestou a intenção de manter o con-
trato, mas verificou-se a impossibilidade de a empresa fornecer o serviço na
nova morada. Ou seja, na prática foi impedido de cumprir o período de fide-
lização a que se tinha comprometido, pelo que não é aceitável considerar
que houve incumprimento da sua parte. Por outro lado, também não pode
exigir-se que aceite um serviço diferente do que tinha contratado e que não
lhe interessa. Assim, deve considerar-se que tinha razão para rescindir o
contrato, sem que possa ser-lhe exigida qualquer compensação. Dado que a
alteração de circunstâncias não é da sua responsabilidade, pode apresentar
reclamação junto da operadora. Se o fizer no livro de reclamações eletró-
nico, a reclamação segue em simultâneo para a operadora e para a Anacom.
Em alternativa, se nada mais se revelar eficaz, recorra a um centro de arbi-
tragem ou ao julgado de paz que abrange a zona onde residia.

7   Os serviços municipalizados exigem-me o pagamento da água que consumi


há um ano. Tenho ideia de que não podem exigir o pagamento de consumos
ocorridos há mais de seis meses. Estou errado?

De facto, as empresas fornecedoras de serviços públicos essenciais (veja a


caixa da página 25) não podem exigir o pagamento de faturas respeitantes

28
A Compras e serviços

a serviços com mais de seis meses. Isso só é possível se, nesse período, além
de terem tentado a cobrança, sem sucesso, tiverem proposto uma ação em
tribunal com esse objetivo. Ainda que tenha sido faturado um valor inferior
ao devido, isso só pode ser corrigido até seis meses depois da data em que
foi pago o montante incorreto. No entanto, a prescrição da dívida não é auto-
mática, tem de ser o consumidor a invocá-la. Assim, se receber uma comu-
nicação para pagar algo mais antigo ou o fornecedor avançar para tribunal
depois de decorridos os seis meses, responda por escrito que não vai pagar,
já que, ao abrigo da lei, a dívida se encontra prescrita (veja a minuta da página
seguinte).

8  A companhia de eletricidade exige-me o pagamento dos últimos três meses,


com base numa estimativa do que gastei nos três meses anteriores. Não me
parece correto, até porque o consumo energético em minha casa varia bastante.
O que posso fazer?

Para saber qual o consumo efetuado, o operador da rede de distribuição


deve fazer regularmente a leitura do contador, num intervalo máximo de
três meses. O cliente também pode, por sua iniciativa, verificar e comuni-
car esses valores. Se, durante seis meses, não houver leituras do contador,
por responsabilidade do cliente, o comercializador pode solicitar uma lei-
tura extraordinária, que comporta custos para o consumidor, combinando
com ele o dia e a hora. Na falta de acordo, o abastecimento de eletricidade
pode ser interrompido, desde que o cliente seja avisado com a antecedência
mínima de 20 dias.
Na ausência de leituras, a faturação é feita por estimativa, tendo por base
o consumo habitual do cliente ou, se não existir esse histórico, o valor
médio de outros consumidores com o mesmo perfil ou um valor fixo pre-
viamente acordado. Se, numa leitura posterior, vier a verificar-se que
a cobrança foi insuficiente ou excessiva, face aos consumos reais, será
feito o acerto na fatura seguinte. Tratando-se de um acerto superior à
média de consumo dos últimos seis meses, o comercializador deve fra-
cionar o pagamento por vários meses. Não o fazendo, pode ser o cliente
a requerê-lo. Recorde-se que as empresas de serviços públicos essenci-
ais, como a eletricidade, não podem faturar serviços prestados há mais
de seis meses. Também não podem fazer cobranças por estimativa se,
devido a avarias no equipamento, não houver forma de medir o consumo
efetivo. Não sendo possível provar-se o que foi consumido, o cliente nada
tem a pagar.
Nos restantes casos, a faturação por estimativa é permitida e, para a evitar,
o ideal é comunicar a leitura até à data indicada em cada fatura. Alguns con-
tadores fazem a leitura e enviam os dados de forma automática.

29
A

CARTA A INVOCAR A PRESCRIÇÃO DO PAGAMENTO


E SERVIÇOS PRESTADOS HÁ MAIS DE SEIS MESES

(Nome e morada do consumidor)


(N.º Cliente e NIF)
(Designação e morada do
fornecedor)
(Localidade e data)

Carta registada com aviso de receção

Assunto: Prescrição de consumos

Exmos. Senhores,

Após ter sido interpelado(a) por V. Exas. para proceder ao pagamento da


fatura n.º       , de (data), no valor de €     , verifiquei que se
encontram faturados consumos efetuados há mais de 6 meses.

Ora, de acordo com o disposto no art. 10.º n.º 1 da Lei dos Serviços Públicos
Essenciais, o consumo de serviços fornecidos há mais de 6 meses encontra-se
prescrito, não podendo ser cobrado. Assim, serve a presente missiva para
me opor ao pagamento do valor acima indicado, invocando expressamente a
prescrição para todos os efeitos legais.

Aguardo resposta por escrito da parte de V. Exas., a anular os valores


prescritos e a regularizar a faturação, no prazo máximo de 8 dias. Recordo que,
durante este período, não podem proceder à interrupção do fornecimento do
serviço.

Com os melhores cumprimentos,

(Assinatura)
A Compras e serviços

Compras e garantias
9  
Em que casos posso beneficiar de um prazo de reflexão para renunciar a uma
compra ou a um serviço?

A lei estabelece que o consumidor pode pôr fim ao contrato de compra e


venda, sem ter de apresentar uma justificação e sem que o comerciante
possa opor-se, nas seguintes situações:
— compra de um bem em que a iniciativa partiu do vendedor, fora do esta-
belecimento comercial;
— vendas ao domicílio;
— vendas por correspondência e através da internet;
— compra de direitos reais de habitação periódica (mais conhecidos por
time-sharing) e de cartões de férias;
— crédito ao consumo;
— seguros de vida, acidentes pessoais e de saúde com duração superior a
seis meses, exceto nos seguros de grupo;
— outros seguros contratados à distância, com exceção dos seguros com
duração inferior a um mês e dos seguros de viagem ou bagagem.

Independentemente do tipo de bem ou serviço, sempre que o vendedor


não informou o consumidor ou o fez de forma incompleta, incorreta ou
ambígua e, por isso, este não conseguiu fazer uma utilização adequada do
que adquiriu, dispõe de um prazo de sete dias úteis, a contar da data em
que recebeu o bem ou celebrou o contrato de prestação de serviços, para
lhe pôr fim.
Em todas estas situações, o consumidor tem de pôr termo ao contrato por
carta, preenchimento de formulário que lhe seja fornecido ou outro meio
escrito que demonstre inequivocamente essa vontade. As partes devolvem
uma à outra o que receberam (bens comprados e dinheiro pago).
Nas vendas à distância ou fora do estabelecimento comercial (por cor-
respondência, na internet, ao domicílio), o contrato tem de mencionar a
possibilidade de o consumidor o fazer cessar no prazo de 14 dias seguidos,
exercendo o direito de resolução. Quando o exerce, o consumidor tem de
devolver os bens no prazo de 14 dias a contar da data em que comunicou
a intenção de pôr fim ao contrato. O vendedor ou fornecedor de serviços,
por seu lado, tem igual prazo, a contar do dia em que é informado da inten-
ção do consumidor, para reembolsá-lo de tudo o que recebeu. Se não cum-
prir este prazo, tem de entregar ao consumidor, no prazo de 15 dias úteis,
o dobro dos montantes que lhe foram entregues.

31
A Defenda os seus direitos

CARACTERÍSTICAS DO PRAZO DE REFLEXÃO


Tipo de venda ou serviço Duração Início do prazo Obrigações das partes
– por correspondência, cupão 14 dias celebração do contrato, o vendedor terá de
publicado em jornal ou revista seguidos receção do bem ou início devolver tudo o que lhe
ou anúncio transmitido pela do serviço tiver sido entregue pelo
rádio ou TV; consumidor
– por telefone, por fax ou pela
internet;
– no domicílio do consumidor
ou no seu local de trabalho;
– numa reunião ou excursão,
num salão ou exposição ou por
contacto do vendedor
crédito ao consumo 14 dias celebração do contrato o consumidor terá de
seguidos ou, se posterior, entrega devolver o capital e
do contrato e de toda a pagar os juros entretanto
informação obrigatória ao vencidos
consumidor
direitos reais de habitação 14 dias celebração do contrato ou, o vendedor terá de
periódica ou de habitação seguidos se posterior, entrega do devolver tudo o que lhe
turística (time-sharing), cartões formulário de resolução ao tiver sido entregue pelo
de férias consumidor consumidor
seguros de vida, acidentes 30 dias receção da apólice ou o consumidor terá de
pessoais e saúde com duração seguidos assinatura do contrato, se, pagar a parte do prémio
superior a seis meses nesta data, o consumidor correspondente ao período
já tiver ao seu dispor toda já decorrido e o custo dos
a informação relevante que exames médicos, se estes
deve constar da apólice estiverem a seu cargo
outros seguros contratados 14 dias receção da apólice ou o consumidor terá de
à distância, com exceção dos seguidos assinatura do contrato, se, pagar a parte do prémio
seguros com duração inferior nesta data, o consumidor correspondente ao período
a um mês e dos seguros de já tiver ao seu dispor toda já decorrido e o custo dos
viagem ou bagagem a informação relevante que exames médicos, se estes
deve constar da apólice estiverem a seu cargo

10   Recebi em casa um produto que não encomendei e agora querem que o


pague. Tenho de fazê-lo?

Se não pediu o produto, não está obrigado a pagá-lo. Pode ficar com ele,
ou, se quiser, devolvê-lo, devendo ser reembolsado das despesas com a
devolução até 30 dias depois de as ter efetuado. Convém comunicar ao
destinatário o montante dos encargos, para que este possa fazer o reem-
bolso. E é importante guardar os comprovativos das despesas, que servirão
de prova num eventual litígio. O vendedor não pode assumir que o silêncio
do consumidor significa que concorda com a compra e que está disposto
a pagar o bem.

32
A Compras e serviços

11  Levei o meu computador a reparar e informei o empregado de que só estaria


interessado na reparação até ao valor de 50 euros. Uma semana depois,
telefonaram-me da loja, dizendo que o aparelho estava pronto e que a reparação
custava 100 euros. Isto vai contra o que foi combinado e não estou na disposição de
pagar. O que posso fazer?

A loja efetuou um serviço que o cliente não solicitou, pelo que não tem de
pagá-lo. Tendo em conta as indicações dadas ao empregado, no momento
da entrega, a loja apenas estava autorizada a efetuar a reparação até ao valor
de 50 euros. Ultrapassando-o, só poderia avançar depois de autorizada pelo
cliente. Nesta situação, apresentam-se duas opções: ou o cliente leva o com-
putador como se encontra e paga apenas os 50 euros que se tinha mos-
trado disposto a gastar; ou, não chegando a acordo com a loja, esta terá de
desfazer o trabalho realizado e, eventualmente, retirar as peças que tiver
colocado, para lhe devolver o aparelho nas condições em que foi entregue.

12  
Comprei uma máquina fotográfica e só quando cheguei a casa constatei que
não tinha instruções em português. Telefonei de imediato para a loja e fui
informado de que o importador tinha decidido não traduzir o manual. Assim, não
consigo utilizar todas as potencialidades do aparelho. O que posso fazer?

Todos os bens e serviços comercializados em Portugal têm de disponibilizar


informação em português, nomeadamente no que se refere a rótulos, emba-
lagens, prospetos, catálogos e manuais de instruções. A única exceção são os
bens adquiridos pela internet a fornecedores que não estejam no mercado
nacional. Por isso, se pretender manter o negócio contacte novamente a loja
e dê-lhe um prazo para lhe disponibilizar toda a informação de que necessita
em português. De preferência, faça-o através de carta registada, com aviso
de receção, para guardar prova. Se a loja não atender o seu pedido, pode
devolver a máquina e exigir o montante pago, uma vez que se considera que
o vendedor não está a cumprir a sua parte no contrato.
A ausência de instruções em português deve ser denunciada à Autoridade
de Segurança Alimentar e Económica (asae), entidade competente para fis-
calizar e sancionar o fabricante do produto, o importador, o distribuidor,
o vendedor ou outro interveniente na transação. A reclamação pode ser
apresentada diretamente àquele organismo, mas também através do livro
de reclamações existente na loja ou eletrónico.

13  Comprei uma saia, mas, ao vesti-la pela primeira vez, apercebi-me de que
tinha um defeito que nem eu nem a vendedora tínhamos visto na loja. Como
o defeito não tem arranjo e não existia outra saia igual, a vendedora propôs-me

33
A Defenda os seus direitos

que levasse um vale no valor da saia. Posso recusar o vale e exigir a devolução
do dinheiro?

Sim. Quando um bem tem defeitos o vendedor deve arranjá-lo ou substituí-


-lo, de acordo com o que seja mais razoável. Mas, quando nenhuma destas
alternativas é possível, o cliente pode exigir a anulação do negócio, devol-
vendo o bem e recebendo o valor que pagou por ele. A entrega de um vale
nesse montante, para futura utilização na loja, é geralmente a solução apre-
sentada ao cliente. No entanto, não pode ser imposta. Se este não for cliente
habitual da loja ou, por qualquer razão, não estiver interessado no vale,
pode exigir a devolução do dinheiro. A única exceção seria se a vendedora
tivesse avisado a cliente da existência do defeito e esta, ainda assim, tivesse
mantido o interesse em comprar a saia. Neste caso, já não poderia exigir a
troca nem a devolução do dinheiro. Por vezes, encontram-se à venda produ-
tos com defeito a preços apetecíveis. Se isso estiver devidamente anunciado,
o cliente não pode depois reclamar devido à existência do defeito.

14  
Encomendei um artigo através da internet, mas já passaram cinco semanas e
ainda não o recebi. O que posso fazer?

Tratando-se de uma empresa sediada na União Europeia, se nada ficar acor-


dado em contrário o vendedor deve fazer chegar o bem ao consumidor no
prazo máximo de 30 dias (noutros países, o prazo varia). Não o fazendo, este
pode pôr fim ao contrato e pedir a devolução das quantias pagas. Quando
o vendedor perceba que não vai cumprir o contrato, devido a indisponi-
bilidade do bem, tem de informar o comprador e reembolsá-lo no prazo
máximo de 30 dias, a contar do dia seguinte ao da encomenda. Decorrido
este prazo sem que efetue o reembolso, fica obrigado a entregar, no prazo de
15 dias, o dobro do que o consumidor pagou. Pode, até, ter de indemnizá-lo
por danos causados. Na situação em análise, como já passaram os 30 dias,
pode pedir a restituição do que pagou. No entanto, se continuar interes-
sado no produto, contacte a empresa para esclarecer o atraso. Dê-lhe um
prazo (por exemplo, oito ou 15 dias) para que a entrega seja feita. Indique
ainda que, findo esse prazo, deixa de ter interesse no negócio e este fica sem
efeito, pelo que solicita o reembolso.

15  
Comprei uma máquina de lavar louça que avariou. O que posso exigir do
vendedor para que corrija a situação?

Desde 1 de janeiro de 2022 que os bens móveis, como os eletrodomés-


ticos, beneficiam de um período de garantia de bom funcionamento de

34
A Compras e serviços

três anos. Se o problema surgir nos primeiros 30 dias e o comunicar ao


vendedor nesse prazo, o consumidor pode escolher entre a substituição
por outro bem igual ou equivalente e a anulação do negócio, sem encargos
de qualquer espécie para si, com a consequente devolução do dinheiro ao
comprador e do artigo ao vendedor. Decorridos os 30 dias, mantém-se a
possibilidade de substituição e acresce a de reparação, exceto se esta for
impossível ou, comparativamente, impuser custos desproporcionados ao
vendedor (por exemplo, porque ultrapassam o valor do bem). Se nenhuma
destas opções for viável, restam uma redução proporcional do preço ou
a rescisão do contrato, para a qual o consumidor devolve a máquina e
recebe o reembolso do montante pago. Sempre que houver uma repara-
ção, durante os três anos de garantia, a máquina beneficia de um prazo
de garantia adicional de seis meses, por reparação, até ao limite de quatro
reparações.

16  O frigorífico que comprei deixou de funcionar poucos meses depois. A loja


enviou-me um técnico que rapidamente resolveu o problema e nada cobrou
pela reparação, mas pediu-me 15 euros pela deslocação. Tenho de pagar?

Não. O técnico agiu de forma correta ao não cobrar pela reparação do frigo-
rífico, dado que este tinha menos de três anos e, portanto, estava no prazo
mínimo de garantia definido por lei. Mas a cobrança do custo de deslocação
não é legítima. É certo que o técnico teve de suportar algumas despesas com
a ida a casa do cliente. No entanto, esta deslocação só foi necessária porque
o frigorífico deixou de funcionar. Como a avaria ocorreu no prazo de garan-
tia, a reparação é da inteira responsabilidade da loja, sem qualquer custo
para o cliente, incluindo as despesas de transporte, mão-de-obra e material.
A lei é bem clara quanto a este aspeto.

17  
Comprei, em segunda mão, um carro ao qual o vendedor atribuiu a garantia
de seis meses. A garantia não deveria ter uma duração maior?

À semelhança do que acontece com os bens novos, também os usados têm


um prazo de garantia de bom funcionamento de três anos a partir da data da
entrega. A única exceção são as vendas efetuadas por particulares, em que
só existe garantia se ainda decorrer o período de que beneficiava quem
agora está a vender. No entanto, mesmo quando o carro vendido por um
particular já não tinha garantia, tem de servir para o fim a que se destina.
Se apresentar problemas graves pouco depois da venda, o comprador pode
anular o negócio por ter sido enganado. Mas terá de provar que houve dolo
ou má-fé do vendedor.

35
A Defenda os seus direitos

Desde 1 de janeiro de 2022, a garantia dos bens vendidos em segunda mão


por um profissional pode ser de apenas 18 meses, se houver acordo entre as
partes. Na falta de acordo, prevalece o prazo de três anos. Não pode, pois,
ser o vendedor a impor algo diferente no contrato. Se o fizer, não será válido.
Ocorrendo uma avaria durante o período de garantia, numa primeira fase o
comprador tem direito a que o bem seja substituído ou a anular o negócio,
com devolução integral do montante pago (veja também a resposta à per-
gunta n.º 15). Se, após a denúncia do defeito, o vendedor nada fizer, o con-
sumidor dispõe de dois anos para fazer valer os seus direitos em tribunal.
Para que seja possível comprovar o local e a data em que o bem foi adqui-
rido, será útil guardar o comprovativo do pagamento (de preferência a fatura
ou talão de compra, mas também pode ser o talão de Multibanco). Na sua
ausência, verifique se tem ficha de cliente ou se deixou outros registos na
loja, como o número de identificação fiscal ou de telemóvel, através dos
quais seja possível identificar a transação. Ao comprar um carro usado, exija
também o livro de revisões do veículo, para verificar se estas foram feitas
com a regularidade indicada pelo fabricante e para comparar os quilómetros
nele inscritos com os que constam do conta-quilómetros. Por vezes, estes
dados são falsificados para obter um melhor preço de venda, prática que
pode constituir um crime de burla, cuja pena de prisão vai até três anos.

18  
Que impostos tenho de pagar ao comprar um carro novo?

Em Portugal, a aquisição de um carro novo está sujeita ao pagamento de dois


impostos: o Imposto Sobre Veículos (ISV), que favorece os veículos menos
poluentes, e o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). A taxa de ISV cor-
respondente à cilindrada e à componente ambiental do veículo é aplicada
ao preço-base. Quanto ao IVA (23%), deveria ser calculado da mesma forma,
mas incide sobre o preço-base já acrescido de ISV. Ou seja, o montante do
ISV também paga IVA. Além dos impostos, as despesas associadas à compra
de um automóvel incluem o seguro e os custos administrativos (por exemplo,
despesas de registo). Embora não seja pago no momento da aquisição, con-
vém ainda ter em conta que, ao longo da utilização do veículo, terá de pagar
anualmente, no mês da matrícula, o Imposto Único de Circulação (IUC).

19  
Tenho um grau de incapacidade superior a 60% e ouvi dizer que isso me
permitia pagar menos impostos na compra de carro. É assim?

Sim, é verdade. Algumas pessoas estão isentas do pagamento do Imposto


sobre Veículos (ISV). É o caso de quem:

36
A Compras e serviços

— tendo mais de 18 anos, sofra de incapacidade motora igual ou superior a


60% e tenha muitas dificuldades em deslocar-se na via pública sem ajuda
e em utilizar transportes públicos;
— seja considerado multideficiente profundo, ou seja, além dos problemas
abrangidos na alínea anterior, apresente outro tipo de limitações que lhe
confiram um grau de incapacidade igual ou superior a 90%, esteja impe-
dido de conduzir e disponha de um atestado que o comprove;
— se mova exclusivamente em cadeira de rodas e apresente um grau de
incapacidade, pelo menos, de 60%;
— apresente deficiência visual igual ou superior a 95%;
— seja deficiente das Forças Armadas, com uma incapacidade igual ou supe-
rior a 60%.

Os graus de incapacidade estão definidos na Tabela Geral de Incapacidades,


publicada em Diário da República. Para provar à Autoridade Tributária que
reúne estas condições, precisa de apresentar uma declaração emitida há
menos de cinco anos por uma junta médica. Por norma, só pode ser pedida
uma isenção a cada cinco anos. O pedido de isenção do imposto é entregue
no Portal das Finanças (www.portaldasfinancas.gov.pt > Serviços Aduaneiros
> IEC/ISV > Declaração Aduaneira de Veículos).
O veículo pode ser conduzido pelo próprio, se tiver capacidade para
isso, pelo unido de facto ou pelo cônjuge que com ele viva em econo-
mia comum. Havendo autorização da Direção-Geral das Alfândegas e dos
Impostos Especiais sobre o Consumo, e desde que a pessoa com deficiên-
cia seja um dos ocupantes, podem ainda conduzir a viatura ascendentes
e descendentes em 1.º grau que com ele vivam em economia comum e
por outras pessoas por ele designadas, até ao máximo de duas. Quando
não for conduzido pelo próprio, o automóvel não pode afastar-se mais do
que 60 quilómetros da sua residência habitual (ou, eventualmente, de uma
segunda residência). Se for encontrada a uma distância superior, a viatura
pode ser apreendida.

A isenção aplica-se apenas a automóveis ligeiros com um baixo nível de


emissão de CO2 (nedc até 160 g/km ou wltp até 184 g/km) e não pode ultra-
passar 7800 euros. Ou seja, se o imposto devido superar este valor, terá de
ser o proprietário a pagar a diferença. Por exemplo, se o ISV do veículo for
de 8100 euros, paga 300 euros. O limite de emissões de CO2 é mais elevado
(nedc até 180 g/km ou wltp até 207 g/km) quando, por imposição da decla-
ração de incapacidade, o veículo a adquirir tenha mudanças automáticas.
Não há limite para os veículos especialmente adaptados ao transporte de
pessoas que se deslocam em cadeira de rodas. O beneficiário só pode pedir
nova isenção para comprar outro veículo passados cinco anos, a menos que
o carro tenha um acidente que o inutilize, seja alvo de furto ou roubo e não

37
A Defenda os seus direitos

apareça num prazo de seis meses ou se revele inadequado à incapacidade


do proprietário se esta se agravar e não for possível adaptá-lo. Durante um
ano, não pode vender o automóvel e se, passado esse prazo, o fizer antes de
completados os cinco anos, terá de pagar a parte proporcional do imposto.
Por exemplo, se a venda for feita ao fim de dois anos, há a pagar o corres-
pondente a 3/5 do imposto.

20  
Fui contactado pelo Fisco para pagar o imposto único de circulação de um
carro que vendi há vários anos. O que devo fazer?

Por vezes, o Fisco notifica, para pagarem o iuc referente a anos anteriores,
proprietários que já venderam o automóvel ou o deram para abate e, por-
tanto, não têm qualquer obrigação de pagamento. Isso deve-se a problemas
relacionados com os registos do Instituto da Mobilidade e dos Transportes
(imt). Pode ter acontecido que o contribuinte se tenha esquecido de atuali-
zar a situação do carro ou de cancelar o registo. Se assim for, terá de provar
que já não é proprietário da viatura, através do documento de compra e
venda ou do certificado de abate. Neste último caso, é importante que se
certifique junto do imt de que a matrícula já foi cancelada.
Quando um particular vende um carro, o novo proprietário tem 60 dias
para alterar o registo. Por isso, assim que passarem dois meses sobre a
venda, consulte o Portal das Finanças e verifique se o carro ainda está em
seu nome. Se assim for, contacte o comprador para proceder à atualização.
Caso este nada faça, pode pedir a apreensão do veículo, por falta de regu-
larização da propriedade. É possível fazê-lo, mediante o pagamento de dez
euros, na conservatória do registo automóvel, num balcão do imt ou através
do portal www.automovelonline.mj.pt. O veículo será apreendido pela polí-
cia. No entanto, se, ao fim de seis meses, o registo continuar por fazer ou o
carro não tiver sido apreendido, solicite à polícia um documento que ateste
que o carro não foi encontrado. Na posse deste documento, peça o cancela-
mento da matrícula no imt.

Viagens e turismo
21  A publicidade ao hotel que reservei para as férias anunciava a existência de
piscina e quartos com vista para o mar. Quando lá cheguei, o quarto que
me foi destinado tinha vista para a autoestrada e a piscina estava encerrada para

38
A Compras e serviços

obras. O hotel declinou qualquer responsabilidade e tive de pagar o preço previsto.


Sinto-me prejudicado e gostaria de saber o que posso fazer para ser compensado.

A informação dirigida aos consumidores deve ser leal, completa e não


recorrer a artifícios que possam induzir em erro. Considera-se que toda a
publicidade faz parte da proposta contratual, significando isso que obriga
o hotel. Se apresentar imagens de quartos com determinadas característi-
cas e equipamentos disponíveis para todos os hóspedes (piscina, campo de
ténis, ginásio, parque infantil, etc.) terá de disponibilizá-los, ainda que, para
a utilização de alguns, possa exigir um pagamento adicional. Mas tudo tem
de estar claramente indicado nas condições apresentadas ao consumidor.
No caso presente, é necessário começar por apurar se o hotel garantia que
todos os quartos, ou apenas alguns, tinham vista para o mar. Em certos
estabelecimentos, os quartos com essas características até têm um custo
superior. Se o consumidor foi induzido em erro, terá direito a ser compen-
sado, uma vez que o serviço fornecido não correspondeu ao anunciado. E o
mesmo pode dizer-se quanto à impossibilidade de utilizar a piscina, que
só não daria origem a compensação se o hotel tivesse avisado que esta se
encontrava indisponível durante o período reservado pelo cliente.
Perante as falhas indicadas, solicite um desconto no preço pago (ou a pagar,
se ainda não o tiver feito). Se o hotel não aceitar, tratando-se de um esta-
belecimento localizado em Portugal, registe o sucedido no livro de recla-
mações, presencialmente ou na internet (www.livroreclamacoes.pt/inicio/
reclamacao). O assunto será apreciado pela asae. Se o diferendo não for
resolvido, pode recorrer aos centros de arbitragem de conflitos de consumo
e, em última análise, aos tribunais. Para estabelecimentos situados num dos
países da União Europeia, na Noruega ou na Islândia, pode recorrer, já em
território nacional, ao Centro Europeu do Consumidor. Para mais detalhes
sobre estas formas de resolução do problema, veja a introdução deste livro,
a partir da página 10.

22  
Durante a nossa estada num hotel, o meu casaco de couro e algumas
joias da minha mulher desapareceram. O hotel diz que não é responsável.
Será mesmo assim?

Os estabelecimentos hoteleiros devem ter um serviço de guarda de valo-


res ao dispor dos clientes. Além disso, em cada quarto deve estar afixada
informação a referir que o hotel não se responsabiliza pelo dinheiro, joias
e outros objetos que sejam deixados no quarto. Portanto, a menos que
os tenha deixado à guarda do hotel ou no cofre e, ainda assim, os obje-
tos tenham desaparecido, dificilmente conseguirá responsabilizar o hotel.
Sendo isto verdade em relação às joias, é, no entanto, de difícil aplicação a

39
A Defenda os seus direitos

peças de roupa, que nem cabem num cofre nem são deixadas à guarda do
hotel. Neste caso, será mais fácil defender que o furto só ocorreu porque o
hotel não cumpriu as normas de segurança a que está obrigado.
Cabe ao estabelecimento controlar o acesso aos quartos. Por isso,
a entrada de um intruso resulta, normalmente, de negligência ou falha no
sistema de segurança, má qualidade das fechaduras ou até falta de inte-
gridade do pessoal do hotel, por exemplo. Já podem, pois, ser-lhe pedidas
contas se o cliente conseguir provar que houve falha do hotel, embora,
na ausência de testemunhas (por exemplo, outros hóspedes a quem tenha
acontecido o mesmo), possa ser difícil provar o que alega. Quaisquer que
sejam as circunstâncias, apresente queixa do furto às autoridades locais,
fornecendo todas as informações úteis: características dos objetos, inclu-
indo o seu valor, local onde se encontravam, hora aproximada do furto,
durante quanto tempo esteve fora do quarto, testemunhas que possam
comprovar o que alega, etc. O furto é um dos crimes abrangidos pelo Sis-
tema Queixa Eletrónica, o serviço online que facilita a apresentação de
queixas e denúncias às autoridades, pelo que pode tratar de tudo em
queixaselectronicas.mai.gov.pt.

23  
Uma semana depois de ter reservado uma viagem ao Brasil, a agência
comunicou-me que, afinal, esta não se realizaria. A reserva que fiz não
tem valor?

Existindo uma reserva, se a viagem não chegar a efetuar-se o cliente tem


direito a ser indemnizado. Será sempre reembolsado dos montantes que
adiantou e, mesmo que ainda não tenha pago nada, poderá sê-lo se provar
que sofreu prejuízos por não ter feito a viagem. Por exemplo, que, tendo
de marcar nova viagem, acabou por gastar mais. No entanto, tratando-se
de uma viagem organizada, a agência pode cancelá-la se não for atingido
o número mínimo de participantes. Nestes casos não pode ser responsa-
bilizada, desde que tenha informado o cliente, quando este fez a reserva,
de que a realização da viagem estava dependente deste fator e da data-
-limite para comunicar um eventual cancelamento. Terá, também, de fazer
a comunicação por escrito e no prazo definido. Havendo cancelamento nes-
tas condições, o cliente terá direito ao montante que adiantou ou, se pre-
ferir, a outra viagem de valor idêntico. Se a viagem de substituição for mais
barata, receberá a diferença de preço; caso seja mais cara, terá de pagar o
excesso.

As viagens organizadas são as que incluem, pelo menos, uma noite de dor-
mida ou excedem 24 horas de duração e combinam dois destes serviços:

40
A Compras e serviços

transporte, alojamento, ida a eventos desportivos, religiosos ou culturais que


constituam parte significativa da viagem. Se, em vez de uma viagem orga-
nizada, o cliente apenas tiver reservado o voo, em caso de cancelamento,
em princípio, terá de resolver a questão diretamente com a transportadora.
Na maior parte dos casos, pode exigir o reembolso do bilhete e de todas
as despesas relacionadas com o cancelamento (por exemplo, deslocação
para o aeroporto) ou optar por ser transferido para outro voo, na primeira
oportunidade ou noutra data que lhe seja conveniente. Se nenhuma destas
opções for adequada, poderá exigir, em substituição, que lhe seja pago um
transporte alternativo para o seu destino.

Enquanto estiver no aeroporto, devido a atraso superior a três horas ou


ao cancelamento do voo, o cliente tem direito a receber assistência: cha-
madas telefónicas gratuitas, refeições, bebidas e, se necessário, alojamento
em hotel, bem como transporte entre o local de alojamento e o aeroporto.
Finalmente, poderá ter direito a indemnização, de acordo com os requi-
sitos indicados na tabela abaixo. Esta indemnização só não será paga se a
transportadora provar que o cancelamento se deveu a circunstâncias extra-
ordinárias (mau tempo, riscos de segurança, agitação política ou greve) ou
o consumidor tiver sido informado do cancelamento com uma antecedên-
cia de:
— pelo menos, duas semanas;
— sete dias a duas semanas, se lhe tiver sido oferecida alternativa que lhe
permitisse partir até duas horas antes do programado e chegar ao destino
até quatro horas depois do previsto;
— menos de sete dias, tendo-lhe sido disponibilizada viagem que lhe permi-
tisse partir até uma hora antes do previsto e chegar até duas horas depois
do programado.

COM OU SEM INDEMNIZAÇÃO?


Valor da
Distância do voo Outros requisitos
indemnização
ATÉ 1500 KM Apenas para voos com atraso 250 euros
superior a 3 horas ou que nunca
partiram
• MAIS DE 1500 KM, NO ESPAÇO Apenas para voos com atraso 400 euros
ECONÓMICO EUROPEU superior a 3 horas ou que nunca
• ENTRE 1500 E 3500 KM, PARA partiram
OUTROS DESTINOS
MAIS DE 3500 KM, NOS VOOS COM Apenas para voos com atraso 600 euros
PARTIDA OU CHEGADA FORA DO superior a 4 horas ou que nunca
ESPAÇO ECONÓMICO EUROPEU partiram

41
A Defenda os seus direitos

24  Fiz uma viagem organizada por uma agência, com alojamento em hotéis de
quatro estrelas. Porém, em Sevilha, dormimos num de três estrelas. Posso
exigir um reembolso parcial à agência?

Sim. Se ficou num hotel de três estrelas, tendo pago um de quatro, tem
direito a receber a diferença. Quando, no decurso da viagem, não for pos-
sível prestar alguns dos serviços contratados, a agência tem de assegurar,
sem aumento de preço, serviços equivalentes. Porém, se tal inviabilizar a

DEVER DE INFORMAÇÃO DA AGÊNCIA DE VIAGENS


Antes de vender uma viagem, a agência tem de informar o consumidor que pretenda
deslocar-se ao estrangeiro sobre o que é imprescindível para viajar: documento de
identificação ou passaporte válido (atenção à validade exigida pelo país ou países de
destino), vistos e prazos para os obter, formalidades sanitárias e, se viajar na União Euro-
peia, documentos de que necessita para ter assistência médica ou hospitalar em caso de
doença ou acidente, nomeadamente o cartão europeu de seguro de doença. Tratando-
-se de uma viagem organizada, a agência deve disponibilizar o programa. Além dos
elementos referidos no parágrafo anterior, o programa deve conter informação sobre:
— nome, endereço e número de registo da própria agência;
— identificação da seguradora e número da apólice do seguro de responsabilidade
civil que a agência está obrigada a contratar;
— preço da viagem, modalidades de pagamento, condições e prazos em que é possí-
vel haver alterações, bem como impostos, taxas ou outros encargos que não este-
jam incluídos no preço;
— número mínimo de participantes de que dependa a concretização da viagem, se for
o caso, e data-limite para comunicar ao viajante que não foi atingido este número;
— origem, itinerário e destino da viagem, períodos e datas de estada;
— meios de transporte a utilizar e quando;
— características e regime dos alojamentos a utilizar;
— visitas, excursões ou outros serviços incluídos no preço;
— procedimentos a adotar se quiser reclamar por os serviços não terem sido presta-
dos nas condições acordadas, incluindo as formalidades para recorrer ao fundo de
garantia de viagens e turismo.

Há ainda outras informações que devem ser fornecidas ao viajante, como, por exem-
plo, os contactos dos representantes locais da agência ou, quando não existam,
um meio que lhe permita contactar a agência em caso de necessidade.
A lei apenas admite alterações do preço numa viagem organizada quando ainda fal-
tarem mais de 20 dias para a partida e desde que resultem de variação no custo
dos transportes ou combustíveis, de impostos e taxas aplicáveis ou de flutuação do
câmbio das moedas. O contrato tem, igualmente, de prever de forma expressa esta
possibilidade, indicando as regras para calcular a alteração.

42
A Compras e serviços

continuação da viagem ou não for, justificadamente, aceite pelo cliente,


a agência tem de fornecer-lhe um meio de transporte que lhe permita regres-
sar ao local de partida ou a outro por ele pretendido, restituindo-lhe a dife-
rença entre os serviços prestados e aqueles que haviam sido contratados.
Terá, ainda, de responder por danos que lhe tenha causado.
Na situação em análise, o consumidor aceitou pernoitar no hotel de catego-
ria inferior. Assim sendo, a agência terá de devolver-lhe a diferença de preço
relativamente ao hotel reservado. Numa viagem organizada, o viajante deve
começar por tentar resolver o problema junto de quem não está a prestar um
bom serviço (transportador, hotel), mas pode sempre pedir contas à agência,
que terá de responder pelos danos causados. Se não ficar satisfeito com a res-
posta da agência, apresente uma reclamação por escrito. A questão poderá ser
decidida pelo Provedor do Cliente das Agências de Viagens e Turismo ou por
uma comissão arbitral composta por representantes do Turismo de Portugal,
da Direção-Geral do Consumidor, da Associação Portuguesa das Agências de
Viagens e Turismo (apvt) e da associação de defesa do consumidor indicada
pelo viajante, em regra, a deco. Caso a agência se recuse, injustificadamente,
a indemnizar o consumidor, pode ser acionado o Fundo de Garantia de Via-
gens e Turismo, através de requerimento ao Turismo de Portugal.

25   Tive de anular uma viagem organizada por uma agência, apenas dois dias
antes da partida. Tenho de indemnizá-la?

O cliente pode, sem ter de invocar um motivo, rescindir o contrato em qual-


quer altura. Será reembolsado pela agência dos montantes pagos, mas esta
pode deduzir os encargos que tenha comprovadamente suportado e até 15%
do preço do serviço. Se cobrar algum montante, alegando que já efetuou
pagamentos a outras entidades, a agência terá de apresentar os comprova-
tivos das despesas.
Existe, ainda, a possibilidade de o cliente ceder a sua posição a outra pessoa,
desde que suporte eventuais encargos adicionais motivados pela alteração
ou o seu substituto o faça. Para isso, terá de informar a agência, pelo menos,
sete dias antes da data prevista para a partida, ou 15 dias, tratando-se de
um cruzeiro ou de uma viagem aérea de longo curso. Não cumprindo estes
prazos, poderá mesmo perder os montantes atrás indicados.

26  
A companhia aérea em que viajei perdeu a minha bagagem. Que
indemnização posso exigir?

Quando a bagagem é perdida, danificada ou chega com atraso, o passageiro


tem direito a uma indemnização até 1400 euros. Se transportar artigos de

43
A Defenda os seus direitos

valor, a compensação pode ser superior, desde que os tenha declarado à


companhia aérea antes de registar a bagagem, através de formulário próprio
e mediante o pagamento da respetiva taxa. Nestes casos, pondere subscre-
ver um seguro de viagem.
A companhia aérea não pode ser responsabilizada pela perda, dano ou
atraso se tiver tomado as precauções adequadas para os evitar ou se tiver
sido impossível fazê-lo. Também não terá de indemnizar os passageiros se
os prejuízos decorrerem de defeitos da própria bagagem.

Quando a bagagem é danificada, o passageiro tem sete dias, desde que a


recebe, para apresentar queixa escrita à companhia aérea. Se receber a baga-
gem com atraso, o prazo máximo para reclamação é de 21 dias. No entanto,
se detetar o problema no aeroporto, deve desde logo denunciar a situação.
Em qualquer dos casos, convém que conserve as cópias da reclamação. Não
conseguindo resolver o problema com a companhia aérea, recorra a um cen-
tro de arbitragem ou a um julgado de paz. Tratando-se de uma companhia
estrangeira, pode recorrer ao Centro Europeu do Consumidor. Num caso
como noutro, para dar entrada de uma ação em tribunal, tem dois anos a
partir da data em que recebeu a bagagem.

27  
Qual o limite de bebidas e de cigarros que é possível trazer para Portugal
aquando de uma viagem ao estrangeiro?

Nas viagens entre países da União Europeia, é permitido o transporte de


tabaco e bebidas alcoólicas para uso pessoal, mas não para revenda. Cada
pessoa pode transportar, sem ter de provar que se trata de bens para uso
próprio nem ficar sujeita ao pagamento de impostos especiais de consumo
ou a que os produtos lhe sejam confiscados:
— 90 litros de vinho (dos quais, no máximo, 60 litros de espumante);
— 10 litros de bebidas espirituosas (aguardente, uísque, vodka, rum);
— 20 litros de vinhos generosos (vinho do Porto, moscatel);
— 110 litros de cerveja;
— 800 cigarros (40 maços);
— 400 cigarrilhas (com peso máximo de três gramas por unidade);
— 200 charutos;
— um quilo de tabaco de cachimbo ou para enrolar.

Também existem limites à entrada das fronteiras comunitárias. Quem vier


de outros países ou territórios onde não são aplicáveis as regras da UE nesta
matéria (é o caso das Ilhas Canárias e de Gibraltar, por exemplo), não terá
de pagar IVA nem impostos especiais de consumo se respeitar os limites
estipulados:

44
A Compras e serviços

— quatro litros de vinho tranquilo;


— 16 litros de cerveja;
— um litro de bebidas espirituosas com mais de 22% de volume de álcool
OU um litro de álcool desnaturado a 80% OU 2 litros de vinhos generosos
ou de espumante. Cada uma destas alternativas representa 100% do total
autorizado nesta categoria, ou seja, também pode trazer, por exemplo,
meio litro de uma bebida espirituosa e uma garrafa de espumante (50%
+ 50%);
— 200 cigarros;
— 100 cigarrilhas;
— 50 charutos;
— 250 gramas de tabaco de cachimbo ou para enrolar.

28  De férias em Espanha, parti uma perna. Fui tratado no hospital, mas tive de
pagar uma conta bastante elevada. O facto de ser beneficiário da Segurança
Social em Portugal não é, por si só, suficiente para não ter de pagar a conta
hospitalar?

Quem viaja para um país do Espaço Económico Europeu (abrange os países


da União Europeia, a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega), para a Suíça
ou para o Reino Unido deve levar consigo o Cartão Europeu de Seguro de
Doença (cesd). Trata-se de um cartão individual, com um prazo de validade
de três anos, e que pode ser solicitado à Segurança Social e aos serviços dos
subsistemas de saúde, como a adse. Permite que, em caso de doença ou
acidente no estrangeiro, pague o mesmo que os cidadãos desse país. O cesd
não cobre cuidados de saúde prestados no sistema privado nem outras des-
pesas, como o custo de repatriamento ou indemnizações por bens perdidos
ou roubados. Contudo, pode ser utilizado em cuidados de saúde privados
abrangidos pelo sistema de Segurança Social ou de saúde do Estado-mem-
bro onde se encontra.
Ninguém lhe negará assistência médica se não tiver o cartão, mas pode
ter de pagá-la na totalidade. Guarde todos os comprovativos das despesas
para pedir o reembolso à Segurança Social ou ao seu subsistema de saúde,
quando regressar a Portugal. Se viajar para países não mencionados no iní-
cio desta resposta, confirme junto da embaixada ou do Departamento de
Acordos Internacionais da Segurança Social (driss@seg-social.pt) se existe
algum acordo de proteção na saúde com o país ou países onde vai estar. Não
se esqueça, também, de verificar se dispõe de algum seguro que permita
cobrir os encargos com um acidente ou com um problema de saúde. Por
exemplo, o seguro de assistência em viagem do seu automóvel, que pode
ser acionado mesmo que não viaje de carro, ou um seguro associado ao seu
cartão de crédito.

45
A
A

Capítulo 2

Responsabilidade civil
e administração
pública
A Defenda os seus direitos

Danos e perdas
29  
Ao tentar tirar um quadro da prateleira de uma loja de antiguidades,
derrubei e parti uma jarra antiga. Tenho de pagar o prejuízo?

Tudo depende da forma como a jarra e o quadro estavam arrumados.


De facto, só não terá de a pagar se estivesse colocada de tal forma que a sim-
ples tentativa de remoção de um objeto próximo provocasse a sua queda.
Se o quadro estivesse devidamente arrumado, permitindo ao cliente retirá-
-lo sem dificuldade, e resultando a queda da jarra do seu mau jeito ou azar,
deve indemnizar a loja. Assim, terá de pagar o valor da jarra, e pelo preço
de venda que esta tinha afixado, já que o prejuízo da loja corresponde à
impossibilidade de obter pela jarra partida o seu preço de venda ao público.

30  
Escorreguei numa laranja esmagada quando andava às compras num
supermercado. Da queda resultou uma fratura no braço e alguns danos
materiais. Quem é responsável?

A responsabilidade pelo acidente é do supermercado. É certo que a laranja


pode ter caído apenas alguns segundos antes do acidente, não dando tempo
aos funcionários do estabelecimento para a detetar e remover. Também
é verdade que, num local onde passam centenas ou até milhares de pes-
soas, mesmo que os artigos estejam bem acondicionados e os funcionários
estejam atentos e sejam rápidos a removê-los, a queda de objetos é quase
inevitável. Por se tratar de um risco previsível, o supermercado tem de con-
tar com estas ocorrências e assumir a responsabilidade pelos prejuízos daí
resultantes. Geralmente, os supermercados têm seguros que contemplam
este tipo de acidentes, mas, mesmo quando isso não acontece, são sempre
responsáveis pelos prejuízos.

31  Fiz uma sessão de depilação a laser num centro de estética. Durante a sessão,
queixei‑me do calor excessivo, mas a esteticista não ligou. No final, tinha as
pernas muito vermelhas e com sinais de queimadura. Uma semana depois, como a
situação persistia, dirigi‑me novamente ao centro, mas nada fizeram. O que posso
fazer para responsabilizar o centro de estética?

Comece por registar a situação no livro de reclamações, presencialmente


ou online. Quando há sequelas físicas, o lesado tem direito a mais do que a
mera devolução dos montantes pagos. Envie uma carta registada com aviso

48
A Responsabilidade civil e administração pública

de receção para a empresa, neste caso o franchising e o dono do franchi-


sing, junte fotografias e todos os detalhes do processo, incluindo que lhe
foi recusada a devolução do dinheiro. Peça uma indemnização que cubra,
pelo menos, as despesas efetuadas no tratamento das lesões (junte cópia dos
comprovativos) e todas as que estejam relacionadas com o processo. Se não
obtiver uma resposta satisfatória, verifique se o centro de estética aderiu a
um centro de arbitragem. Se a resposta for positiva, esta será a forma mais
rápida e barata de resolver o problema. De contrário, restam os julgados de
paz e os tribunais judiciais.

32  
Mandei limpar o meu melhor fato numa lavandaria, que o devolveu
deformado e cheio de manchas. O que posso exigir da lavandaria para
reparar a situação?

Pode exigir uma indemnização pela roupa estragada. Caso seja nova ou com
muito pouco uso, considere o preço pelo qual a comprou. Se já tiver algum
uso, desconte um valor que corresponda ao desgaste. Será mais fácil fazer
prova do valor se ainda tiver o recibo da compra. Caso surjam problemas,
use o livro de reclamações, presencialmente ou online.
Quando se deixa uma peça de roupa numa lavandaria, celebra-se um acordo
(quase sempre verbal) através do qual a loja se compromete a efetuar o ser-
viço pedido, mediante um preço. Ao confiar a roupa à lavandaria, o cliente
espera que ela lhe seja devolvida limpa e em bom estado. Se vier estragada,
a responsabilidade é da lavandaria, salvo algumas exceções. Por exemplo,
se a lavandaria seguiu à risca as instruções da etiqueta colocada pelo fabri-
cante e, apesar disso, a lavagem ou a limpeza da peça de roupa a danifica,
a responsabilidade pelos danos não é da lavandaria, mas sim do fabricante.
Se for o caso, poderá ter de o contactar para resolver o problema.

33  
Casei‑me há uma semana e, após o copo‑d’água, vários convidados sofreram
intoxicações alimentares. Posso processar o restaurante e exigir uma
indemnização?

Pode. Ao contratar um serviço de fornecimento de refeições, o cliente espera


que a empresa apresente um produto de qualidade, não só quanto ao sabor
dos alimentos, mas também quanto à sua frescura. Se estes requisitos não
forem preenchidos, causando desconforto e outros problemas mais graves
aos comensais, a responsabilidade é, obviamente, da empresa contratada.
Nessa medida, os noivos têm todo o direito de exigir uma indemnização,
se necessário recorrendo ao julgado de paz ou através de um processo judi-
cial, por todos os incómodos causados e pelo facto de o seu casamento,

49
A Defenda os seus direitos

que deveria ser lembrado como algo alegre e feliz, ter ficado ensombrado
pelos acontecimentos. Também os convidados podem, isoladamente ou
em conjunto, exigir uma indemnização à empresa, pelos prejuízos sofridos.
A reclamação e a denúncia da situação podem ser feitas a várias entidades.
O preenchimento do livro de reclamações é uma das vias, através da qual a
reclamação chegará ao Turismo de Portugal, IP (veja, a este respeito, o título
Livro de reclamações, na página 10). E, como os problemas resultaram da
deterioração dos alimentos, o caso deve ser denunciado à Autoridade de
Segurança Alimentar e Económica (asae). É a esta entidade que compete
verificar a qualidade dos alimentos usados pela empresa, cujos responsá-
veis, se considerados culpados, podem ficar sujeitos a coimas.

34  O meu médico operou‑me a uma apendicite, mas depois verificou que as


minhas dores resultavam, afinal, de um problema na vesícula. Que ações
posso tomar contra ele por me ter sujeitado a esta operação desnecessária?

O diagnóstico e tratamento errado de uma doença pelo médico é um com-


portamento grave, pelas consequências que pode ter na saúde do doente.
Se o diagnóstico errado se deveu a negligência do médico, por não ter cum-
prido os deveres a que está obrigado nem agido com os cuidados exigidos
pela situação, ele é responsável pelo resultado e o doente tem ao seu dispor
diversos mecanismos de reclamação (veja o esquema A atuação do médico
teve consequências graves?). Se as consequências não forem muito graves, e o
ato médico tiver ocorrido num hospital ou numa clínica, pública ou privada,
pode exigir o livro de reclamações ou preenchê-lo mais tarde, via internet.
Tratando-se de um estabelecimento público, também é possível apresentar
o caso ao respetivo Gabinete do Utente. Outras opções são recorrer à Enti-
dade Reguladora da Saúde (ers), que pode ter um papel ativo na mediação
do conflito, ou apresentar queixa na Ordem dos Médicos, a qual, após averi-
guação dos factos, decide se deve ou não aplicar sanções, que, em situações
muito excecionais e graves, podem ir até à suspensão do exercício da medi-
cina. Os erros com consequências graves podem mesmo dar origem a uma
indemnização. Nestes casos, pode começar por uma tentativa de acordo,
apresentando uma reclamação junto do médico ou da instituição em causa,
procurando uma compensação financeira para os danos sofridos. Esta será
paga, em princípio, pelo seguro de responsabilidade civil profissional que o
médico está obrigado a contratar.

Por fim, há a possibilidade de recorrer aos tribunais para obter uma indem-
nização por danos sofridos. Se optar por esta via, terá desde logo de consul-
tar um advogado e expor-lhe o sucedido. O prazo para dar entrada à ação
em tribunal é de três anos, a contar da data em que teve conhecimento do

50
A

A ATUAÇÃO DO MÉDICO TEVE CONSEQUÊNCIAS GRAVES?

Não. Por isso, não Sim. Por isso, acho


pretendo avançar que vale a pena levar
para tribunal. o caso a tribunal.

Peça o livro de
reclamações ou
preencha-o online.
Tratando-se de um
estabelecimento público, Aparentemente,
Aparentemente,
pode ainda apresentar a responsabilidade
a responsabilidade é
queixa junto do Gabinete é do médico e do
só do médico.
do Utente. Se preferir, hospital.(2)
contacte diretamente
a Entidade Reguladora
da Saúde, para efeitos
de reclamação ou de
mediação do litígio.
Querendo que o
médico seja punido
disciplinarmente, recorra à
Ordem dos Médicos. (1) Pretendo,
simultaneamente,
que o médico seja
Pretendo apenas
condenado pela
uma indemnização
prática de um crime
e me pague uma
indemnização

Dê entrada a uma ação no Dê entrada a uma


tribunal criminal, com o auxílio ação no tribunal
de um advogado. O pedido de cível, com o auxílio
indemnização pode ser feito de um advogado.
durante o processo-crime,
ficando dispensada uma ação
especificamente para este
efeito.
(1) Mesmoque o lesado resolva recorrer ao tribunal, pode utilizar estes meios como complemento.
(2)
Ainda que a responsabilidade seja, quer do hospital, quer do médico, também é possível avançar com um processo-crime
apenas contra este último.
A Defenda os seus direitos

erro. Tratando-se de um menor, são os pais, em sua representação, a propor


a ação. Se estes nada fizerem, o filho tem um ano, a partir da data em que
atingir a maioridade, para dar entrada à ação.
Caso os tratamentos médicos ou as intervenções cirúrgicas sejam realizados
sem o consentimento do doente, o médico pode ser condenado a pena de
prisão até três anos ou a uma pena de multa. Excetuam-se as situações de
risco de vida ou outro perigo grave para a saúde do paciente que não per-
mitam esperar por esse consentimento e aquelas em que, tendo o consenti-
mento sido dado para uma determinada intervenção ou tratamento, venha
a revelar-se vital efetuar outro diferente e nada indique que seria recusado.
Também um médico que se recuse a tratar um doente quando este tem a
vida ou a integridade física em perigo pode ser condenado em pena de pri-
são até cinco anos. Se dessa recusa de auxílio resultar morte ou ofensa grave
à integridade física, a pena será agravada.

35  
Os CTT perderam correspondência valiosa que me era endereçada. O que
posso fazer para ser compensado pelo prejuízo?

Tudo depende do tipo de correspondência em causa. Aliás, se não tiver sido


registada nem tiver valor declarado, não pode fazer nada. Por isso, mais
vale tomar as devidas precauções sempre que se trate de algo importante.
Tratando-se de correspondência registada sem valor declarado, a indemni-
zação deve corresponder ao prejuízo sofrido e tem o limite de 20 vezes o
montante pago pelo registo. Se a carta extraviada tiver um valor declarado,
a indemnização nunca pode exceder a importância declarada. E o mesmo
se aplica às encomendas postais. Se estas forem registadas, os limites são de
20 vezes a taxa de registo paga, para encomendas até cinco quilos, 30 vezes,
para encomendas de cinco a dez quilos de peso, e 40 vezes a taxa de registo,
se pesarem mais. O cliente lesado (que pode ser o remetente, o destinatá-
rio ou ambos) tem um ano para reclamar, tratando-se de correio nacional,
ou seis meses, se for internacional. Pode fazê-lo no balcão dos correios onde
foi registada ou entregue a correspondência ou através do livro de reclama-
ções eletrónico. Se não obtiver uma resposta satisfatória, recorra ao Prove-
dor dos CTT e, caso o prejuízo o justifique, a tribunal, para exigir o valor dos
danos comprovadamente sofridos.

36  
De vez em quando, vou passear o cão de uma vizinha idosa. Serei
responsável por eventuais danos causados pelo animal durante o passeio?

A responsabilidade pelos danos causados pelo animal é, antes de mais,


do dono. Assim, cabe-lhe suportar os prejuízos daí resultantes. Mas também

52
A Responsabilidade civil e administração pública

é importante saber se quem passeava o animal tinha o necessário controlo


sobre ele e se agiu com cuidado. Se, por exemplo, um cão normalmente
pacífico ataca um transeunte e lhe rasga as calças, a responsabilidade será
do dono e não de quem passeava o animal e o deixou aproximar-se da outra
pessoa. Mas se quem o passeava sabia que ele era perigoso e não tomou
as medidas necessárias para evitar o ataque (por exemplo, pondo-lhe o
açaime e a trela), então também é responsável. A pessoa lesada pode, neste
caso, exigir uma indemnização do proprietário e de quem passeava o cão.
Se necessário, esse pedido será feito em tribunal.

Embora só seja obrigatório para cães perigosos e potencialmente perigosos


(veja a caixa), é sempre conveniente contratar um seguro de responsabili-
dade civil que cubra os danos causados a terceiros pelos animais domésti-
cos. Se não estiver obrigado a ter um seguro específico, antes de contratar
verifique se não tem já esta cobertura no multirriscos-habitação ou na res-
ponsabilidade civil familiar. Convém ainda saber que todos os cães têm de
ter identificação eletrónica (microchip). Assim, se fugirem e provocarem, por
exemplo, um acidente de automóvel, o dono será responsabilizado.

REGRAS ESPECIAIS PARA CÃES PERIGOSOS


Os donos de cães que já tenham atacado pessoas ou animais ou sejam de raças con-
sideradas perigosas (cão de fila brasileiro, dogue argentino, pit bull terrier, rottweiller,
staffordshire terrier americano, staffordshire bull terrier, tosa inu e cruzamentos destas
com outras raças) estão obrigados a contratar um seguro de responsabilidade civil
para animais perigosos.
Além do microchip de identificação, estes cães devem ter uma licença da junta de
freguesia e seguro de responsabilidade civil com capital mínimo de 50 mil euros. E só
podem ir à rua com açaime e trela com o máximo de um metro de comprimento e
na companhia de maiores de 16 anos. O desrespeito por estas regras implica o paga-
mento de uma coima entre 750 euros e cinco mil euros. Outro requisito obrigatório
para quem tem cães destas raças é frequentar, com aproveitamento, a formação para
detentores de cães perigosos ou potencialmente perigosos e promover o seu treino,
de preferência entre os seis e os 12 meses de idade.

37  Levei o carro à lavagem automática e, quando saiu da máquina, apercebi‑me


de que tinha sido riscado em vários pontos. Tenho direito a ser compensado?

Os sistemas de lavagem automática de automóveis pressupõem que, a partir


de certo ponto — normalmente à entrada da máquina — o condutor desligue
o motor e não tenha qualquer intervenção no veículo. É a própria máquina
que conduz todo o processo, levando o veículo até à saída, depois de o fazer

53
A Defenda os seus direitos

passar pelas escovas, jatos e chuveiros que efetuam a lavagem, ou, estando o
veículo imobilizado, faz passar ao longo dele essas escovas, jatos e chuveiros.
Contudo, por vezes surgem problemas com as máquinas e algumas das suas
partes metálicas roçam nos veículos e podem riscá-los ou danificá-los. Se o
condutor cumpriu todas as instruções do operador, não há razão para que
este tipo de acidente ocorra, pelo que tal resultará, então, de algum pro-
blema com o mecanismo. Assim sendo, o proprietário do veículo tem direito
a ser indemnizado pelos prejuízos sofridos. Caso a entidade operadora da
máquina se recuse a indemnizá-lo, contacte a deco proteste, um julgado de
paz ou um advogado. É também aconselhável usar o livro de reclamações
do estabelecimento onde a lavagem foi efetuada ou preencher o livro de
reclamações eletrónico. Paralelamente ou como último recurso, pode ainda
dirigir-se aos tribunais, para obter uma sentença que imponha o pagamento
da indemnização pelos prejuízos resultantes do deficiente funcionamento
do mecanismo de lavagem automática.

38  
Deixei o meu automóvel na oficina, juntamente com as chaves, para que
procedessem às reparações necessárias. O carro ficou na rua e foi roubado.
O seguro não tem cobertura para furto e os responsáveis da oficina dizem que não
cometeram qualquer falta. De quem é a responsabilidade, afinal?

Quando se entrega um automóvel a uma oficina de reparações, para uma


revisão ou outra intervenção mecânica, é costume deixar as chaves aos
mecânicos. Estes podem movimentá-lo dentro da oficina e, se necessário,
sair para a via pública, para verificarem melhor os problemas que surgi-
rem. Mas, como a entrega de um veículo na oficina nem sempre implica que
ele fique guardado nas instalações, o cliente deve informar-se previamente
sobre este aspeto. Aquilo que pode exigir caso o carro seja roubado depende
deste fator. Se o automóvel ficar na via pública, devidamente fechado, e for
roubado, a oficina não é responsável pelo prejuízo causado ao proprietário.
Se o mecânico que arrumou o carro atuou com diligência, com o mesmo
cuidado que o dono teria, não é possível responsabilizar a oficina por algo
que poderia ter sucedido ao próprio dono, nas mesmas condições.
A situação muda de figura se o carro for roubado das instalações da ofi-
cina. Ela terá, então, uma responsabilidade concreta nos prejuízos sofridos
pelo proprietário do veículo, já que este, ao entregá-lo na condição de que
ficasse guardado no interior das instalações, espera deixá-lo em segurança.
Assim, se não conseguir provar que tomou todas as precauções para evitar
que isso acontecesse, terá de o indemnizar pelo valor do carro. E será tam-
bém responsável se um mecânico sair com o veículo para o experimentar
e sofrer um acidente que o danifique. Para precaver essas situações, as ofi-
cinas costumam ter um seguro que cobre os danos sofridos pelos carros

54
A Responsabilidade civil e administração pública

que os mecânicos têm de conduzir na via pública. Se tal não acontece e do


acidente resultarem prejuízos para um terceiro, será o seguro do proprietá-
rio do automóvel a suportar as despesas, embora ele possa depois exigir o
pagamento destas à oficina cujo mecânico atuou com negligência.

39  Tive um acidente com o meu carro, no parque de estacionamento de um


supermercado, porque outro veículo, que se apresentava pela minha
esquerda, não parou. O condutor desse veículo diz que naquele local não se aplicam
as regras do código da estrada. Será mesmo assim?

Não. O trânsito nos parques de estacionamento obedece, de facto, às regras


gerais do código da estrada. Os condutores estão obrigados a respeitar a
sinalização e as regras de prioridade. Assim, se não existia qualquer sinal
de paragem obrigatória ou de cedência de prioridade, impondo essa para-
gem, a regra aplicada é a de que os condutores que se apresentam num
cruzamento ou entroncamento pela direita têm prioridade sobre os outros.
Portanto, o proprietário do veículo que embateu no seu é responsável pelos
danos que lhe causou.

40  Ao conduzir numa via municipal, uma das rodas do meu carro passou sobre
um enorme buraco, não assinalado, o que danificou a suspensão. Posso
exigir que a câmara municipal me indemnize pelos prejuízos sofridos?

De facto, a câmara municipal, enquanto proprietária da via, terá de assu-


mir a responsabilidade pelos danos e indemnizar o proprietário do veículo
pelos prejuízos. Nem sempre é fácil, no entanto, saber ao certo a quem per-
tence a via onde se circula. Em caso de dúvida, contacte a câmara municipal
onde está situada a via. Se esta disser que a estrada não é municipal, então a
indemnização terá de ser pedida à Infraestruturas de Portugal, o organismo
responsável pelas estradas nacionais.
Por vezes, as câmaras atribuem a responsabilidade por ocorrências deste
tipo ao empreiteiro contratado para realizar uma obra e que não tomou os
cuidados necessários para evitar acidentes. Contudo, para a pessoa prejudi-
cada, é irrelevante que o buraco na estrada tenha resultado da negligência do
empreiteiro. A câmara municipal, enquanto dona da obra, é responsável por
todos os danos causados durante os trabalhos ou devidos a uma má conclu-
são dos mesmos. Se o empreiteiro não atuou com os cuidados devidos, e isso
acaba por provocar danos a terceiros, a responsabilidade dele é para com
a câmara municipal. Esta, por sua vez, responde perante o prejudicado e
indemniza-o pelos danos sofridos, podendo, então, exigir que o empreiteiro
lhe pague os custos da indemnização e outros que tenha tido de suportar.

55
A Defenda os seus direitos

O cidadão prejudicado deve entregar um requerimento ao presidente da


câmara municipal, expondo os factos e exigindo a indemnização pelos pre-
juízos que sofreu. Se a resposta for negativa ou não for dada num prazo razo-
ável, como, por exemplo, 15 dias úteis, a seguir à entrega do requerimento,
pode pôr uma ação em tribunal, para obter a indemnização.

Infrações, Justiça
e Administração Pública

41  
Há já algum tempo, contactei a operadora de telecomunicações de que
fui cliente, pedindo que apagasse dos registos os meus dados pessoais.
No entanto, continuo a receber ofertas promocionais da dita empresa. Poderá ela
manter os meus dados pessoais, apesar de eu ter pedido expressamente a sua
eliminação?

Não. A lei dá-lhe o direito de não permitir que a empresa conserve os seus
dados pessoais, pelo que esta terá de os eliminar. É o direito ao esquecimento.
De igual modo, se detetar que alguns dos seus dados foram obtidos de forma
ilícita ou enganosa por qualquer entidade, pode exigir a sua eliminação.
Para se opor ao tratamento dos seus dados pessoais para efeitos de marke-
ting, envie uma carta para a empresa em causa, manifestando a sua recusa
em ser contactado e dando um prazo razoável para os seus dados serem
retirados da base de dados. Se, mesmo assim, os contactos não pararem,
apresente queixa à Comissão Nacional de Proteção de Dados. Esta Comis-
são fiscaliza o cumprimento da lei e é aqui que todos os ficheiros de dados
devem ser registados. É também esta entidade que aprecia as reclamações
dos particulares ou de quem os represente, no prazo de três meses. Se não
pretender, em geral, receber publicidade no seu domicílio, seja por correio
ou telefone, pode solicitar que o seu nome, morada e contactos telefónicos
ou eletrónicos sejam incluídos na designada “lista Robinson”, a cargo da
Associação Portuguesa de Marketing Direto. Os responsáveis pela violação
da lei podem ser condenados a pena de prisão até dois anos.

A recolha e posterior tratamento de dados pessoais não pode incluir ele-


mentos relativos às convicções filosóficas ou políticas, filiação partidária
ou sindical, fé religiosa, vida privada e origem racial ou étnica, saúde e

56
A Responsabilidade civil e administração pública

vida sexual, salvo quando o cidadão o consinta ou prevaleça o interesse


público (por exemplo, para fins de investigação médica). A recolha e o
tratamento só são legítimos quando a pessoa que fornece os seus dados é
devidamente informada de que eles serão ou poderão vir a ser tratados e
inseridos numa base de dados, e lhe é dada a opção de permitir ou recu-
sar. Muitos questionários preveem a possibilidade de, através da resposta
a uma pergunta específica, não autorizar o tratamento e a posterior trans-
missão desses dados a outras empresas. Mesmo quando a pessoa autoriza
o tratamento dos seus dados, deve ser-lhe dada a possibilidade de os con-
sultar e corrigir.

42  Fui autuado por excesso de velocidade, mas conduzia a velocidade inferior ao


limite. Como posso contestar?

Perante a coima, tem duas opções: pagar ou contestar, em ambos os casos


no prazo de 15 dias úteis. O que não deve de todo fazer é “deixar andar”,
já que o mais provável é que a despesa aumente de forma substancial.
Optando por contestar, tem 48 horas para depositar o valor da coima.
Na prática, paga a coima e contesta, sendo esse montante devolvido se não
houver condenação. Se não chegar a contestar, no prazo de 15 dias, o depó-
sito converte-se automaticamente em pagamento. Também pode contes-
tar sem efetuar o depósito, mas, se a contestação não for aceite, irá pagar
mais. Para contestar, envie uma carta registada com aviso de receção ao
presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), para
a morada que consta da notificação. Também pode entregá-la em mão na
Secção de Contraordenações do Comando Distrital da PSP ou no Gabinete
de Atendimento ao Cidadão do Comando Distrital ou no Destacamento de
trânsito da sua área de residência. Apresente os seus argumentos, eventu-
ais meios de prova e o máximo de três testemunhas. Terá de provar que a
velocidade a que conduzia era inferior ao limite máximo, o que não é fácil,
até porque a aplicação das sanções se apoia na medição efetuada por um
radar. No entanto, os radares nem sempre fazem uma medição correta e,
portanto, poderá sempre contestar a coima. Por outro lado, tenha em conta
que também os velocímetros dos automóveis não são exatos: o valor apre-
sentado raramente corresponde à velocidade real, existindo, por vezes,
diferenças que podem aproximar-se dos 10%. Assim, pode acontecer que o
condutor, julgando circular dentro dos limites, afinal conduza a velocidade
superior à permitida.
Se a contestação não for aceite, terá de pagar as despesas processuais e o
montante da coima pode aumentar. Caso lhe seja dada razão, se tiver feito
o depósito vai reaver esse montante. E o mesmo acontece se a ANSR não
responder até dois anos depois de a infração ter sido cometida: as infrações

57
A Defenda os seus direitos

rodoviárias têm um prazo de prescrição de dois anos. Decorrido este perí-


odo desde que foram cometidas, sem que tenha sido iniciado um processo
em tribunal, prescrevem. Por isso, solicite o reembolso à ANSR, alegando a
prescrição. Mas não se esqueça de ter em conta eventuais períodos de sus-
pensão de prazos de prescrição, como ocorreu, num curto espaço de tempo,
durante a pandemia de covid-19.

43  
Rebocaram o meu carro, que estava estacionado em cima de um passeio,
onde não incomodava ninguém. Tenho de pagar a coima e o reboque?

Terá mesmo de os pagar. É certo que os lugares de estacionamento escas-


seiam em muitas vilas e cidades e que um condutor apressado, muitas vezes,
não tem alternativa a deixar o carro num local onde o estacionamento ou
até a paragem são proibidos. Mas, se o fizer, terá de assumir o pagamento
das coimas e das despesas inerentes ao reboque do veículo. Para o efeito,
é irrelevante que o local onde estacionou não constitua incómodo para nin-
guém. O que, aliás, não é o caso dos passeios, os quais são exclusivamente
destinados à circulação de peões, neles transitando pessoas com carrinhos
de bebé ou cadeiras de rodas, por exemplo, para os quais a presença de um
automóvel é um enorme obstáculo.
O Código da Estrada prevê uma coima entre 60 e 300 euros para quem esta-
cionar num passeio, impedindo a passagem de peões. O montante a pagar
pelo reboque varia com o tipo de viatura e a localização do estacionamento
e do depósito dos veículos rebocados.

44  
Fui surpreendido com a invasão da minha casa por um agente de execução,
assistido por um agente da PSP, para anotar os bens que possuía, pois iam
penhorá‑los no âmbito de um processo em tribunal. Ora, nunca fui notificado
de qualquer ação contra mim. Poderão, mesmo assim, entrar em minha casa e
proceder ao inventário dos meus bens para penhora?

Este tipo de atuação é bastante comum. A entrada de um agente de execu-


ção (ou, eventualmente, de um oficial de justiça) numa casa para penhorar
os bens que nela se encontram é legal. Decorre de uma ação em tribunal,
em que alguém exige do visado o pagamento de uma quantia e possui um
título executivo (veja em que consiste na resposta à próxima pergunta) que
lhe permite avançar diretamente com este procedimento. Os bens penho-
rados podem ficar a cargo do visado ou ser levados para um depósito, até à
sua venda (cujo produto servirá para pagar ao credor) ou até que o devedor
pague a dívida.

58
A Responsabilidade civil e administração pública

Quando existe um título executivo, isso significa que o visado (o executado,


em linguagem jurídica), de alguma forma tem consciência de ter uma dívida
para com o credor. Deste modo, não se justifica a lei atribuir-lhe muitos
meios de defesa: se o executado sabe que deve, a existência de uma ação
judicial para obter o pagamento da dívida não será uma surpresa. Este tipo
de procedimento destina-se, assim, a acelerar a cobrança de dívidas para
proteção do credor, que, de contrário, teria de esperar muito mais tempo
para ver satisfeitos os seus direitos e poderia mesmo correr o risco de o
devedor fazer desaparecer os seus bens.

45  
No âmbito de uma penhora, disseram‑me que existia um título executivo
no processo, o qual permitia a execução dos meus bens. O que é este título
executivo?

As ações executivas destinam-se a tornar efetiva a reparação de um direito


violado, por meio das providências adequadas a obter o pagamento de uma
quantia, a entrega de uma coisa ou a realização de uma conduta. Estas ações
são propostas com base num documento, o título executivo, que define os
fins e os termos da ação. São títulos executivos:
— as sentenças emitidas numa ação declarativa, em que o tribunal tenha
condenado uma das partes;
— os documentos notariais ou autenticados (por notário ou advogado, por
exemplo) que constituem ou reconhecem uma obrigação;
— títulos de crédito, isto é, documentos devidamente assinados que cons-
tituem ou reconhecem obrigações pecuniárias (por exemplo, cheques,
letras, livranças, notas de encomenda, etc.);
— o requerimento de injunção ao qual não tenha sido apresentada oposição
pelo devedor ou que o tribunal tenha considerado válido. Tal requeri-
mento é apresentado online, através de mandatário, ou nas secretarias de
injunção, sem necessidade de recorrer a um advogado;
— outros documentos a que a lei expressamente atribua força executiva. É o
caso, por exemplo, da ata da assembleia de condóminos exigindo o paga-
mento das quotas em atraso, onde conste o valor da quota mensal dos con-
dóminos faltosos, o montante em dívida, o prazo e o modo de pagamento.

Os meios de defesa da parte contra a qual é pedida a execução são redu-


zidos, porque não tem sentido dar demasiadas possibilidades de resposta
quando já se possui um título executivo. Sendo uma sentença, a pessoa a
quem é dirigida já teve oportunidade de se defender durante a ação decla-
rativa; tratando-se de outro título, como uma letra, por exemplo, quem a
assinou sabe que ela existe e que tem de a pagar.

59
A Defenda os seus direitos

46  
Pedi a um advogado que me representasse num litígio com um vizinho e ele
limitou‑se a escrever‑lhe uma carta, pela qual me cobrou 400 euros. Tenho
mesmo de pagar uma quantia tão exorbitante por tão pouco?

Quando contrata um serviço a um profissional liberal ou a uma empresa, con-


vém que o cliente se informe previamente do custo do serviço, para não ter
surpresas desagradáveis. Neste caso, admitindo que não existiu esse cuidado,
o cliente foi surpreendido por uma nota de honorários que considerou exor-
bitante tendo em conta o serviço prestado. Para resolver conflitos relativos a
honorários de advogados, contacte o conselho distrital da Ordem dos Advoga-
dos em que o profissional está inscrito, expondo a situação e pedindo que esta
entidade se pronuncie sobre o valor dos honorários. A Ordem dos Advogados
solicitará ao seu membro todos os elementos relevantes (nota de honorários,
cópia da carta enviada) que possam justificar os valores pedidos. Como não
existe uma tabela para os honorários dos advogados, a sua fixação tem de obe-
decer a uma série de critérios, entre os quais avultam a complexidade técnica
e a urgência do assunto, o resultado da intervenção, o tipo de cliente (particu-
lar ou empresa), o tempo despendido e os montantes normalmente cobrados
na comarca onde o advogado tem o seu escritório. São também consideradas
as despesas que suporta para manter o escritório, normalmente mais elevadas
nas grandes cidades. A Ordem dos Advogados emite então o seu parecer, que
é comunicado aos interessados e tem em conta todos estes fatores.

47  
O meu nome causa‑me alguns embaraços, pelo que gostaria de o mudar.
Poderei fazê‑lo?

A alteração do nome é possível, mas terá de ser autorizada pelo Conserva-


dor dos Registos Centrais, na sequência de um requerimento entregue, pelo
interessado, na Conservatória do Registo Civil. O novo nome terá de seguir
as regras aplicáveis à atribuição de nomes, que estipulam, por exemplo,
um máximo de dois nomes próprios e de quatro apelidos. Obtida a autori-
zação, o nome é alterado, gratuitamente, por averbamento no Registo Civil.
A autorização do Conservador dos Registos Centrais é dispensada, proce-
dendo-se de imediato à alteração do nome, quando:
— é estabelecida a filiação ou adoção;
— se retifica um registo errado;
— alguém se casa;
— se pretendem intercalar ou suprimir partículas de ligação entre os vocá-
bulos que compõem o nome;
— alguém renuncia aos apelidos adotados por casamento;
— o registado perde o direito ao nome, na sequência de divórcio em que o
outro cônjuge o requeira ao tribunal;

60
A Responsabilidade civil e administração pública

— o menor cujo pai não seja identificado no nascimento recebe o apelido do


padrasto e, após a maioridade, decide renunciar a esse apelido;
— esteja confirmado que o nome escolhido pelos pais é aceite, para efeitos
do assento de nascimento, tendo existido dúvidas nesta matéria;
— a alteração do nome próprio resultar da mudança da menção do sexo.

48  Perdi os meus documentos. O que devo fazer para obter outros novos e para
me precaver de intuitos pouco honestos de quem possa encontrá‑los?

Para não se esquecer de nada, faça uma lista dos documentos que tinha
na carteira. Caso saiba onde os perdeu, dirija-se à esquadra de polícia
mais próxima. Pode até ter a sorte de terem sido entregues. Em alter-
nativa, verifique o portal do Ministério da Administração Interna, em
perdidoseachados.mai.gov.pt. Se não tiverem aparecido, comunique de ime-
diato a perda e guarde a participação da ocorrência, para evitar problemas
decorrentes de roubo de identidade e de falsificações em que os seus dados
sejam usados. Faça o mesmo se os documentos tiverem desaparecido de
qualquer outra forma ou se souber que alguém anda a utilizar os seus dados
indevidamente. Para maior segurança no que respeita ao risco de fraude
financeira com recurso ao seu cartão de cidadão, bilhete de identidade, car-
tão de contribuinte, passaporte, autorização ou título de residência, comuni-
que também a perda ao Banco de Portugal através do formulário disponível
em clientebancario.bportugal.pt/formulario-extravio e junte cópia da par-
ticipação à polícia. Assim que possível, cancele todos os documentos junto
das entidades que os emitem e peça outros novos. Pode mesmo cancelar o
cartão de cidadão por telefone (210 990 111), 24 horas por dia e 7 dias por
semana, ou através da internet, em eportugal.gov.pt. Para tratar da substi-
tuição de vários documentos de uma só vez, faça agendamento no Balcão
Perdi a Carteira, na Loja de Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa, através do
300 003 990 ou do endereço eletrónico info.cidadao@ama.pt.
Normalmente, enquanto os documentos definitivos não são entregues,
os comprovativos dos pedidos são aceites em muitas situações, podendo,
inclusive, servir de prova perante as autoridades. Se, juntamente com os
documentos, tinha também na carteira cartões de débito e de crédito, veja a
resposta à pergunta 58, para saber como deve proceder.

49  Um amigo meu, alemão, pretende vir viver para Portugal. De que
documentos necessita para permanecer no nosso país?

Dentro da União Europeia, existe liberdade de circulação de pessoas. Isto


significa que qualquer cidadão de um Estado-membro pode visitar, sem

61
A Defenda os seus direitos

grandes burocracias, outro país da UE e aí, inclusivamente, residir. Nenhum


cidadão da União Europeia pode ser impedido de entrar ou de residir num
dos Estados-membros, seja para estudar ou trabalhar. Contudo, liberdade
de circulação não significa total ausência de burocracia. Se pretender ficar
menos de três meses, só precisa de ter consigo um documento de identifica-
ção (cartão de cidadão ou passaporte) válido por um período superior ao da
estada. Quem pretenda permanecer no nosso país por mais de três meses
terá de formalizar o seu direito de residência através de um certificado de
registo durante o 4.º mês de permanência em território nacional. Este certi-
ficado tem a duração máxima de cinco anos, findos os quais os interessados
podem pedir um certificado de residência permanente. Além dos cidadãos da
União Europeia, estão também abrangidos por estas normas os nacionais
da Islândia, Noruega, Liechtenstein e Suíça. Com o Brexit, o direito de livre
circulação deixou de ser válido para os cidadãos britânicos.

Para solicitar o certificado de registo, são necessários os seguintes


documentos:
— documento de identificação válido (normalmente, o passaporte);
— declaração de que exerce uma atividade profissional em Portugal ou de
que dispõe de recursos financeiros suficientes para si próprio e para os
seus familiares;
— se for estudante, declaração de um estabelecimento de ensino reconhe-
cido a atestar que está inscrito;
— se tal for exigido no Estado-membro de origem (no caso, a Alemanha) aos
cidadãos portugueses, comprovativo de estar protegido por um seguro
de saúde;
— para que também os familiares mais próximos possam residir em Portu-
gal, são ainda necessários os respetivos documentos de identificação e
um comprovativo da relação familiar ou de que se encontram a cargo do
titular do certificado de registo.

50  Entreguei na câmara municipal da zona onde resido um requerimento para


obter a devolução de taxas que considero terem sido erradamente cobradas.
Já decorreram vários meses e nada sei do processo. O que posso fazer?

A atividade administrativa, em que intervêm órgãos do Estado, das regiões


autónomas, das autarquias locais, dos institutos e associações públicas e
outras entidades que exercem a autoridade deve decorrer com transparên-
cia. Para que não haja dúvidas acerca da correção dos processos seguidos
pela administração pública, os cidadãos gozam de várias garantias, como
a possibilidade de recorrerem dos atos por ela praticados. Para exercerem

62
A Responsabilidade civil e administração pública

este direito, devem os cidadãos ter acesso a todos os elementos que leva-
ram a uma tomada de decisão sobre um assunto em que são diretamente
interessados ou intervenientes. Assim, podem consultar todos os proces-
sos que lhes digam respeito, ou até encarregar outras pessoas (advoga-
dos, normalmente) de o fazer. No caso das taxas municipais, pode haver
lugar a reembolso das que não eram devidas, tiverem sido pagas por quem
estava isento, em duplicado ou em valor superior ao devido. Se considerar
estar numa destas situações, comece por fazer um pedido de consulta, por
escrito, à câmara municipal. Esta terá dez dias úteis, após a apresentação do
pedido, para disponibilizar a consulta do processo ou comunicar as razões
da recusa. Os órgãos da administração pública apenas podem recusar mos-
trar os ditos processos quando:
— a pessoa que requeira a consulta não seja diretamente interessada;
— a consulta ponha em causa segredos comerciais, industriais ou relativos à
vida interna das empresas;
— possam ser violados direitos de autor ou de propriedade intelectual ou a
sã concorrência;
— os documentos estejam abrangidos pelo segredo de justiça ou de Estado;
— as informações tenham caráter médico e o requerente não se faça acom-
panhar do seu médico.

Autorizado o pedido de consulta, poderá também obter cópias dos docu-


mentos. Caso a entidade à qual foi pedida a consulta de documentos se
recuse a disponibilizá-los ou não se pronuncie nos dez dias úteis de que dis-
põe, o cidadão pode reclamar para a Comissão de Acesso aos Documentos
Administrativos (cada), no prazo de 20 dias, e, se necessário, recorrer aos
tribunais.

51  
Enganei‑me a preencher a declaração de rendimentos e só me apercebi disso
já depois de a ter enviado. O que devo fazer para corrigir este engano?

A correção de um erro cometido pelo contribuinte ao preencher a declara-


ção de IRS passará sempre pela entrega de uma declaração de substituição.
Mas convém que o faça o mais rapidamente possível, já que, quanto mais
tempo passar, maior será a probabilidade de ter de pagar uma coima ele-
vada. Pior ainda se nada fizer e for o Fisco a detetar o erro: a coima poderá
ser até quatro vezes superior à indicada no esquema da página seguinte.

52  
Durante muitos anos tive isenção de IMI, mas, quando recebi a primeira
notificação para pagamento, constatei que o valor era de tal forma elevado

63
A

O ERRO COMETIDO PELO CONTRIBUINTE É DETETADO…

… antes do … até 30 dias … mais de


prazo final depois de 30 dias após a
de entrega da terminado o prazo data-limite para a
declaração entrega

a correção a correção
implica que o implica que o
contribuinte pague contribuinte pague
menos imposto do mais imposto do que
que o previsto o previsto

ao apresentar se entregar a entregue uma a declaração de


a declaração declaração de declaração de substituição terá
de substituição, substituição substituição até de ser entregue
a primeira é neste período, 150 dias depois de até 60 dias antes
anulada e não poderá ter receber a nota de do prazo de
terá de pagar de pagar liquidação de IRS. Não caducidade. A coima
mais pela uma coima, paga penalização, varia entre 37,50
alteração no mínimo, mas terá de pagar e 112,50 euros
de 25 euros o imposto na (mas poderá pagar
totalidade. Para obter quatro vezes mais
o reembolso do que se nada fizer e for
pagar a mais, terá o Fisco a detetar o
ainda de apresentar erro)
uma reclamação
graciosa
A Responsabilidade civil e administração pública

que não podia estar correto. Como poderei confirmar o valor que tenho a pagar e,
se for o caso, reduzi‑lo?

Comece por confirmar, na caderneta predial atualizada, se o preço por


metro quadrado e o coeficiente associado à idade do imóvel estão corre-
tos. De facto, estas são as duas variáveis que, mais frequentemente, infla-
cionam indevidamente o montante de IMI a pagar. No primeiro caso, saiba
que, desde 2019, o valor de constru-
ção a considerar é de 615 euros por
metro quadrado. Por isso, a menos IDADE DO IMÓVEL
que, entretanto, este valor mude, é o Coeficiente
Anos completos
que deve constar na caderneta predial. de vetustez
Pode descarregar a sua caderneta pre- Menos de 2 1
dial no Portal das Finanças, em Cida- 2a8 0,90
dãos > Serviços > Prédios > Caderneta 9 a 15 0,85
Predial > Obter Comprovativo. Para 16 a 25 0,80
verificar se o coeficiente de vetustez 26 a 40 0,75
do imóvel está atualizado, consulte o
41 a 50 0,65
quadro Idade do imóvel. Basta o coefici-
51 a 60 0,55
ente de vetustez descer, por exemplo,
de 1 para 0,9, para o valor do imposto Mais de 60 0,40
a pagar descer 10%.

No entanto, o cálculo do valor patrimonial tem em conta muitas outras variá-


veis e, embora seja menos comum, também essas podem estar erradas (veja
a caixa As contas do Fisco, na página seguinte). Poderá confirmá-las uma a
uma ou, para simplificar e calcular de imediato se está a pagar o valor cor-
reto de IMI, consultar o nosso simulador em www.deco.proteste.pt/imi. Para
verificar o coeficiente de localização, vá ao Portal das Finanças, em Cidadãos
> Serviços > Prédios > Simulador de Valor Patrimonial.

De uma forma ou de outra, caso conclua que está a pagar IMI a mais, peça
uma avaliação do imóvel. Para o efeito, preencha o modelo 1 do IMI e entre-
gue-o num serviço de Finanças ou através do Portal das Finanças, em Cida-
dãos > Serviços > Imposto Municipal sobre Imóveis > Entregar Declaração.
Claro que, se entretanto o imóvel tiver sofrido melhorias (como a construção
de uma garagem numa moradia, por exemplo), o mais provável é que o IMI
aumente. Por outro lado, tenha em conta que o pedido de avaliação só será
possível se a última avaliação tiver sido feita há três anos ou mais.
Feita a nova avaliação, se não concordar com o valor patrimonial tributário
atribuído, pode pedir uma segunda avaliação no prazo de 30 dias a con-
tar da data de notificação. O pedido de segunda avaliação não está sujeito
ao pagamento prévio de qualquer taxa. No entanto, sempre que o valor

65
A Defenda os seus direitos

contestado se mantenha ou aumente, ficam a cargo do contribuinte as des-


pesas de avaliação efetuadas a seu pedido, nomeadamente a remuneração e
transporte dos avaliadores.

AS CONTAS DO FISCO
O valor do IMI a pagar é calculado pela aplicação de uma taxa, que, consoante o
município, poderá variar entre 0,3% e 0,45%, ao valor patrimonial tributário do imó-
vel. Este não corresponde forçosamente ao valor de mercado (pode ser inferior ou
superior) e resulta da multiplicação de uma série de fatores considerados pelo Fisco:

CALCULAR
o valor patrimonial
tributário do imóvel

Valor Valor de Área bruta Coeficiente Coeficiente Coeficiente Coeficiente


patrimonial construção Soma, com de afetação de localização de qualidade de vetustez
tributário Valor fixado diferentes Fim a que se Fixado pelo e conforto Aplicado em função
Valor do imóvel anualmente ponderações, destina o imóvel, município a cada Há critérios da idade do imóvel,
para o Fisco. pelo Fisco das várias áreas como habitação, 3 anos. Varia de agravamento, depende do número
Resulta da do imóvel. comércio ou entre 0,4 e 3,5. como a inteiro de anos
multiplicação Inclui terraço, serviços. Pode diferir de rua existência de decorridos desde a
de um conjunto garagem, Na habitação, para rua piscina, ou de data da licença de
de critérios arrecadação, o coeficiente é, redução, como utilização ou da data
transversais a arrumos, em regra, de 1,00 a ausência de de conclusão das
todos os imóveis estacionamento elevador em obras de edificação
e terrenos prédios com mais (a que for mais
de 3 pisos antiga)

66
A

Capítulo 3

Bancos e
seguradoras
A Defenda os seus direitos

Meios de pagamento
53  
Para facilitar os pagamentos mensais, dei o meu IBAN a várias entidades
e agora tudo é feito por débito direto. Há algum risco de serem feitos
levantamentos indevidos da minha conta?

Muitos consumidores usam os débitos diretos para pagar contas regulares,


como água, luz, gás ou seguros, por exemplo. Mas convém ter algumas
precauções. A título preventivo, estabeleça um limite para os valores que
cada entidade pode debitar, tendo por referência aquilo que costuma pagar.
Assim, se houver um erro ou uma cobrança muito acima do habitual, será
notificado de que o pagamento não foi possível e pode verificar o que se
passa antes de pagar por outra via. Consulte regularmente os movimentos
no seu extrato bancário e a lista de autorizações de débito direto ativas. Pode
fazê-lo através da internet, se tiver acesso online à conta bancária, mas tam-
bém numa caixa Multibanco: selecione a opção “Consultas” e “Autorizações
de débito”. Outra possibilidade é ir ao balcão do seu banco. Caso detete um
débito de uma entidade não autorizada por si, contacte de imediato a institu-
ição bancária e denuncie a situação. Tem um prazo de 13 meses para o fazer.
O banco é responsável pelos débitos não autorizados e deverá restituir-lhe a
quantia debitada indevidamente. Se verificar que um débito validado por si
foi efetuado pelo valor errado, reclame junto da entidade prestadora do ser-
viço a quem deu autorização. Essa reclamação pode ser feita até oito sema-
nas após a cobrança. Exija a devolução do dinheiro debitado a mais ou o
acerto de contas na próxima fatura. Se quiser desativar uma autorização de
débito direto (porque entretanto mudou de prestador de serviço, por exem-
plo), também pode fazê-lo pelos mesmos meios. No Multibanco, selecione a
autorização em vigor e mude o seu estado para “inativo”.

54  Instalei recentemente o MB Way, para fazer pagamentos através do


telemóvel, mas entretanto ouvi dizer que tem havido algumas burlas por
esta via. Em que consistem e como posso proteger-me?

As burlas através do MB Way têm surgido, sobretudo, no contexto das ven-


das online entre particulares. A vítima põe um bem à venda e é contactada
por um comprador, que se dispõe a fazer o pagamento por esta via. Se o ven-
dedor não tiver a aplicação nem souber ao certo como funciona, mas aceitar
seguir as instruções do “comprador” para fechar o negócio, estará a morder
o isco para ser burlado. Na prática, o burlão convence-o a dirigir-se a uma
caixa Multibanco e a aderir ao MB Way, dando-lhe os seus dados (contacto

68
A Bancos e seguradoras

telefónico e um código) para associar à conta bancária. Em vez de fazer o


pagamento, o burlão fica com acesso ao saldo disponível na conta. Mesmo
que já tivesse a aplicação instalada, o vendedor não estaria forçosamente
a salvo. Por vezes, os burlões conseguem que revele códigos de segurança
associados à app, como o PIN de acesso ou os códigos gerados pela aplica-
ção, a pedido do utilizador, para levantar dinheiro no Multibanco sem car-
tão. A melhor forma de se proteger é não seguir as indicações de alguém que
não conhece para fazer algo que não percebe. Em caso de dúvida, informe-
-se junto do banco, peça ajuda a alguém da sua confiança ou recuse os paga-
mentos por esta via. Se não for possível fazer a transação presencialmente,
a melhor opção é dar o seu IBAN para lhe fazerem a transferência bancária.
Neste caso, ainda que consigam aceder à sua conta, se não tiver dado auto-
rização a responsabilidade terá de ser assumida pelo banco (veja a resposta
à pergunta anterior).
Se, apesar de tudo, for vítima de burla, a primeira coisa a fazer é alterar o
código de acesso do MB Way numa caixa Multibanco ou na própria aplica-
ção. Pode também telefonar para o banco e cancelar o cartão. De seguida,
apresente queixa às autoridades. Neste caso, reclamar junto do banco não
dará frutos. Uma vez que é o próprio cliente a facultar os seus dados a tercei-
ros, ainda que involuntariamente, toda a responsabilidade lhe é imputada.
Por outro lado, a SIBS, entidade gestora do MB Way, também não responde
pelas perdas dos utilizadores já que, ao aceitarem as condições gerais do
serviço, estão a declarar-se responsáveis por manterem as informações pes-
soais confidenciais.

55  Tentei levantar 50 euros numa caixa Multibanco, mas apenas recebi 30.
No entanto, o talão registou um levantamento de 50 euros. O que devo fazer
para receber, ou para que não me sejam debitados, os restantes 20?

O cliente pode receber da caixa automática um valor inferior ao que lhe é


debitado. Isto acontece porque a máquina, por vezes, não contabiliza corre-
tamente as notas a entregar. O principal problema reside, depois, na prova
de que não recebeu a totalidade do dinheiro pedido. Se a caixa se situar
numa dependência bancária e esta estiver aberta, o melhor é entrar de ime-
diato e tentar resolver a situação. Caso contrário, contacte o seu banco, logo
que possível, relatando os factos. O banco contacta, por sua vez, a entidade
bancária que tem a guarda da caixa automática ou a empresa que gere o
sistema, que é, atualmente, a Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS),
para que verifiquem a máquina. Para detetar a diferença entre o que foi
pedido e o efetivamente recebido, é necessário proceder a uma contagem
do dinheiro existente na máquina e compará-lo com o que tinha sido intro-
duzido na abertura, descontando todas as quantias entretanto depositadas.

69
A Defenda os seus direitos

Confirmados estes montantes, basta analisar os levantamentos feitos pelos


clientes para se chegar à conclusão de que haverá dinheiro a mais na caixa
automática, correspondente, neste caso, aos 20 euros não entregues.

56  
Quais os meios de pagamento mais aconselháveis para usar em viagem e
quais os cuidados a ter?

Nalguns países, os estabelecimentos comerciais e as caixas automáticas acei-


tam melhor os cartões Visa do que os Mastercard ou vice-versa. Em caso de
dúvida, peça informações ao seu banco sobre a aceitação do cartão no estran-
geiro ou consulte a página da respetiva rede na internet. Durante a sua estada
no estrangeiro, é provável que utilize mais o cartão. Para não esgotar o plafond,
peça ao seu banco um aumento temporário, válido pelo período acordado.
Verifique também quais os limites diários para levantamentos e pagamentos.
Use o cartão de débito para fazer levantamentos nas caixas automáticas (ATM),
já que tem menos custos do que o de crédito. Fora da zona euro, evite reti-
rar pequenas quantias de cada vez, pois é mais caro. Esta operação implica
uma comissão fixa. Quanto mais vezes recorrer à máquina, mais paga. É ainda
cobrada uma comissão variável sobre o valor da transação, à qual acresce
imposto do selo. Se, por algum motivo, não puder levantar dinheiro no Mul-
tibanco, resta-lhe a alternativa mais cara: levantar com o cartão de crédito ao
balcão de um banco (cash-advance). Na zona euro, as comissões são uniformes,
mas, fora dela, o banco pode cobrar taxas específicas, que variam com o país.
Regra geral, o cartão é válido por dois, três ou quatro anos. A data-limite é
indicada na frente, com mês e ano. Por exemplo, “Válido até 11/24”. Neste
caso, o cartão pode ser utilizado até ao último dia de novembro de 2024.
A partir do primeiro dia de dezembro é recusado em qualquer operação.
Se vai de viagem no final de novembro ou início de dezembro, certifique-se
junto do banco de que recebe o novo cartão a tempo. Leve consigo os núme-
ros da entidade emissora, o que é útil para pedir o cancelamento do cartão
em caso de perda ou roubo, e da assistência médica ou seguradora, que figu-
ram no contrato de adesão. Poderá precisar destes contactos para o repatri-
amento médico ou para ativar um eventual seguro de perda de bagagem.

57  
Evito usar o meu cartão de crédito, porque tenho receio que os dados vão
parar às mãos erradas e eu acabe por ser roubado. Como posso assegurar
uma utilização segura e evitar as fraudes?

Os cartões de crédito podem ser utilizados presencialmente, com uma sim-


ples assinatura do titular, ou sem essa assinatura, nas vendas à distância,
através da internet ou por telefone. Até final de 2020, nestes casos, bastava

70
A Bancos e seguradoras

fornecer o número do cartão e o código indicado no verso (CVV2). Este sis-


tema comportava alguns riscos, pois muitas pessoas podiam ter acesso a
esses dados e fazer uma utilização fraudulenta. Por isso, no início de 2021,
as regras da autenticação forte, já utilizadas no homebanking, passaram
a aplicar-se também às transações efetuadas à distância. Assim, além do
número e do código que constam do cartão, a operação é confirmada atra-
vés da aplicação para telemóvel da instituição gestora do cartão ou da intro-
dução de um código enviado por SMS.
Esta segurança adicional não dispensa o titular do cartão de cuidados nem
o isenta de responsabilidades. Por isso, reduza ao mínimo a transmissão
dos seus dados a terceiros. Se detetar utilizações indevidas ou der por falta
do cartão, contacte de imediato o banco ou a entidade que o emitiu. Se não
tiver tido um comportamento negligente, a sua responsabilidade pelas
utilizações indevidas, mesmo as anteriores à comunicação, fica limitada a
50 euros. Não se esqueça de cancelar o cartão, de imediato, para que a uti-
lização fraudulenta não se repita. O banco também pode cancelá-lo, pre-
ventivamente, caso detete utilizações suspeitas, como, por exemplo, duas
compras presenciais em dois países diferentes num curto espaço de tempo.

58  
Ontem, roubaram-me a carteira onde tinha os cartões de débito e crédito.
O que posso fazer para assegurar que a minha conta bancária não é
movimentada?

Quase todos os bancos têm um número de telefone específico para cancelar


cartões bancários, que convém guardar na memória do telemóvel e ligar
assim que se der conta de que já não tem os cartões. Também pode telefo-
nar para a Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS), através do número
808 201 251 ou do (+351) 217 918 780, se estiver no estrangeiro. Outra possi-
bilidade é dirigir-se, de imediato, a uma esquadra da polícia e comunicar a
ocorrência. Se não tiver consigo o número de telefone da entidade emissora
dos cartões, cujo serviço funciona 24 horas por dia, a polícia poderá mesmo
estabelecer o contacto. Além disso, alguns bancos exigem, juntamente com
a comunicação, uma cópia da participação à polícia. Depois, envie um
e-mail ao seu banco, para confirmar o cancelamento dos cartões. Esta é a
melhor forma de fazer a confirmação, já que, além de ser rápida, lhe per-
mite ficar com uma prova de a ter feito. É importante que a comunicação da
perda ou furto de cartões aos bancos seja rápida, para limitar os montantes
movimentados. A responsabilidade do titular de um cartão de crédito cessa
imediatamente a partir da comunicação da perda ou roubo. No caso dos car-
tões de débito, a responsabilidade por todos os levantamentos é sempre do
titular, até ao momento da comunicação ao banco ou à entidade emissora.
E lembre-se de que o larápio poderá usá-lo, mesmo sem o código secreto,

71
A Defenda os seus direitos

por exemplo, nas portagens. As coisas complicam-se se o titular tiver escrito


o código no próprio cartão ou em qualquer sítio da carteira furtada ou per-
dida: a ausência dos cuidados indispensáveis para evitar o uso ilegítimo do
cartão é considerada conduta negligente e responsabilizam-no pelos mon-
tantes levantados. Mas o ladrão também pode conseguir, através de meios
tecnológicos, obter o código secreto. Neste caso, o titular terá que provar ao
banco que não fez o pagamento nem levantou a quantia em questão, o que
nem sempre é fácil. Pode ainda suceder que a pessoa que roubou ou encon-
trou um cartão bancário consiga utilizá-lo antes de o titular descobrir que
já não o tem. Se tiver tomado as devidas precauções, a responsabilidade do
titular fica, geralmente, limitada ao montante de 50 euros, até à altura em
que comunica a perda ou furto. E deixa de ser responsável pela utilização
abusiva do cartão a partir da comunicação, cabendo, a partir daí, à entidade
emissora diligenciar para impedir o seu uso. A maioria dos bancos cobra a
substituição do cartão e a sua colocação na lista negra. Se também tinha na
carteira outros documentos, veja ainda a resposta à pergunta 48.

59  
Recebi em casa um cartão de crédito enviado pelo meu banco, que não
solicitei nem estou interessado em possuir. Terei de o pagar?

Nada terá de pagar e não é obrigado a ficar com um cartão de crédito que
não pediu. A lei determina que o destinatário de bens ou serviços não
solicitados pode ficar com eles, sem ter de os pagar (veja a resposta à per-
gunta 10). Neste caso, contudo, essa legislação não se aplica, porque, para
usar o cartão de crédito, é necessário celebrar um contrato com a instituição
emitente. Sem este contrato, o cartão não passa de um pedaço de plástico
sem valor. Ainda assim, se receber em casa um cartão que não solicitou e a
instituição lhe cobrar algum tipo de comissão, exija a devolução dos mon-
tantes indevidamente cobrados.

Crédito
60  Assinei letras em branco, no âmbito de um contrato de crédito. Quais podem
ser as consequências, se tiver problemas no pagamento da dívida?

A exigência de assinatura de letras ou livranças em branco, aquando da cele-


bração de um contrato de crédito ao consumo, é bastante vulgar. Muitas

72
A Bancos e seguradoras

vezes, essas letras e livranças são apenas mais um entre os muitos documen-
tos apresentados ao cliente para assinar, sem que lhe seja explicado o que
significam. Por isso, este não deve assinar nada sem se informar sobre os
documentos que lhe são apresentados e respetivas consequências.
As letras e as livranças são meios de pagamento autónomos, que permitem
ao portador exigir as importâncias que aí figuram a quem é indicado como
devedor. A principal distinção entre letras e livranças é que, nas primeiras,
intervêm três partes (quem se compromete a pagar uma quantia, quem a
recebe e a entidade que faz o pagamento) e nas livranças apenas duas (o cre-
dor e o devedor). O problema das letras e livranças em branco é que quem as
possui pode preencher os dados em falta, normalmente o montante a cobrar
e/ou a data desse pagamento. E como a lei permite que o portador de um
título executivo (veja o que é na resposta à pergunta 45) avance diretamente
para tribunal, o devedor tem poucos meios de defesa.
Outra característica importante destes meios de pagamento consiste no
risco de serem transmitidos a outras pessoas que nada têm a ver com o
negócio original. Ora, quando tal sucede, quem se comprometeu a pagar a
letra ou a livrança não pode defender-se do pedido do novo portador com
base nalguma falta do vendedor do bem ou serviço. Terá de pagar a esse
terceiro e só depois pode exigir do vendedor aquilo que este estava obrigado
a fazer ou a entregar. Para evitar este tipo de problemas, a legislação sobre
crédito ao consumo proíbe a entidade financiadora de transmitir a tercei-
ros as letras ou livranças que receba, para que situações como as descritas
não se verifiquem. Em concreto, a letra ou a livrança deve conter a expres-
são “não à ordem”, que impede a sua transmissão a terceiros pela entidade
financiadora. Deste modo, se esta emitiu letras ou livranças que transmitiu a
terceiros, o cliente pode invocar a proibição legal para nada pagar, devendo,
se necessário, contactar uma associação de defesa do consumidor ou um
advogado.

61  
Recorri a um crédito bancário para fazer um adiantamento de um tratamento
dentário, mas, entretanto, a clínica fechou. O que posso fazer?

É relativamente comum que, quando precisam de produtos ou serviços mais


dispendiosos, os consumidores recorram a créditos para fazer face aos paga-
mentos e respetivos adiantamentos. Embora menos comum, pode também
acontecer que a empresa envolvida feche as portas antes de ter entregue o
bem ou terminado o serviço pelo qual recebeu antecipadamente, deixando
o consumidor numa situação difícil, a pagar as prestações do crédito con-
traído por algo de que já não vai usufruir. Mas nem tudo está, necessaria-
mente, perdido. À partida, para financiar o adiantamento do tratamento
dentário foi celebrado um contrato de crédito ao consumo coligado. Ou seja,

73
A Defenda os seus direitos

o serviço a financiar está identificado no contrato de crédito e forma com ele


uma unidade económica. Desta forma, se o contrato de compra e venda ou
de prestação de serviços coligado ao contrato de crédito não for cumprido,
o mesmo acontece a este. Se, depois de interpelar o vendedor, o consumi-
dor não obtiver deste o cumprimento adequado das suas obrigações, pode
reclamar junto da entidade financeira no sentido de:
— recusar-se a cumprir a sua obrigação enquanto o fornecedor ou prestador
de serviço não cumprir a sua;
— pedir uma redução do crédito correspondente ao serviço que não foi
prestado;
— anular o contrato de crédito.

Caso a entidade financeira não colabore, recorra a um centro de arbitragem


ou peça a nossa ajuda em www.deco.proteste.pt/reclamar.

62  
Quis celebrar um contrato de crédito para comprar um carro, mas fui
surpreendido pelo facto de o vendedor exigir também a assinatura da minha
mulher. Ora, não tem sentido eu pedir-lhe a assinatura, quando o nosso carro novo
era uma surpresa que queria fazer-lhe. Será mesmo necessário ela assinar?

A assinatura da sua esposa não é essencial neste tipo de negócios, mas pode
vir a ser útil ao vendedor, caso o leitor se veja impossibilitado de pagar a
dívida e os seus bens não sejam suficientes para a saldar. A entidade finan-
ciadora terá querido certificar-se de que poderia também recorrer aos bens
dela, se o leitor deixasse de cumprir as suas obrigações.
Quando a dívida é contraída para satisfazer os encargos da vida familiar (des-
pesas de alimentação, saúde, educação, etc.) ou é assumida por um cônjuge
com o consentimento do outro, a responsabilidade pelo pagamento é de
ambos. O cônjuge que contrai determinada dívida só é o único responsável
pelo pagamento se ela não se destina a satisfazer um encargo da vida familiar
ou ao proveito do casal. Por exemplo, se gastar uma pequena fortuna ao jogo
ou comprar joias para uso pessoal. Se um dos membros do casal comete um
ato ilegal, que o obriga a pagar uma multa ou uma indemnização, apenas ele
é responsável por esse pagamento. E, sempre que um dos cônjuges contrai
uma dívida, o credor que pretender executar os bens comuns terá de provar
em tribunal que esta foi assumida no interesse de ambos — daí a exigência da
entidade financiadora. Por isso, se o banco não prescindir da assinatura da
sua esposa, não poderá recusá-la. Há apenas uma exceção: se for comerci-
ante, presume-se sempre que as dívidas que contrai são em proveito do casal.
Assim, se a dívida não for paga, para a sua esposa não perder a parte dela dos
bens comuns, terá de provar que a dívida não tinha essa finalidade. Neste
caso, o banco já não terá argumentos para exigir a assinatura.

74
A Bancos e seguradoras

63  Dirigi-me a um banco, a fim de obter um empréstimo para a compra de


um apartamento. O funcionário que me atendeu disse-me que o banco só
o concederia se eu subscrevesse um seguro multirriscos-habitação, para cobrir
eventuais acidentes domésticos. Eu, no entanto, apenas pretendo um seguro contra
incêndio, que é mais barato. Poderá o banco impor-me a contratação de um seguro
multirriscos-habitação?

Por lei, só o seguro de incêndio é obrigatório, e apenas para os edifícios


constituídos em propriedade horizontal, ou seja, com várias frações organi-
zadas num condomínio. No entanto, no âmbito dos créditos para compra de
habitação, a maioria dos bancos exige a contratação de um seguro multirris-
cos e, nestes casos, trata-se de uma condição inegociável para concederem
o crédito. Com um conjunto alargado de coberturas, este seguro defende os
interesses do proprietário — e, indiretamente, os do banco que lhe empres-
tou dinheiro —, protegendo o imóvel contra uma série de eventualidades
desastrosas.
Os riscos cobertos por este seguro variam de seguradora para seguradora,
mas, além do de incêndio, explosão e queda de raio, regra geral incluem o
de inundação ou danos provocados por tempestades, o aluimento de ter-
ras e os danos por água, podendo optar-se pela cobertura de fenómenos
sísmicos, etc. O custo e a abrangência também variam, mas, na relação
preço/coberturas oferecidas, um seguro multirriscos-habitação será sempre
mais favorável do que um simples seguro contra incêndio: por pouco mais
dinheiro, obterá mais vantagens.
O banco não pode impor ao futuro cliente a contratação do seguro numa
determinada companhia, mas muitos bancos concedem reduções no spread
do empréstimo se optar pela apólice da seguradora pertencente ao mesmo
grupo financeiro ou com a qual têm protocolo. Compare as condições do
seguro que lhe é proposto com os de outras companhias e veja qual é o
mais vantajoso para si, em termos de custo e das coberturas incluídas. Regra
geral, o seguro multirriscos-condomínio é a opção mais vantajosa, já que
todo o prédio fica segurado pela mesma companhia, reduzindo os custos e
facilitando o processo em caso de sinistro.

64  
Pretendo mudar o crédito à habitação para outro banco que me dá melhores
condições. Que cuidados devo ter?

Mesmo que o banco para onde quer mudar o crédito lhe ofereça, por exem-
plo, uma taxa de juro mais baixa, convém fazer algumas contas para ter a
certeza de que a mudança é, de facto, vantajosa para si. Em primeiro lugar,
a amortização do empréstimo que já possui, através do novo crédito, terá
decerto custos acrescidos: normalmente, os bancos preveem penalizações

75
A Defenda os seus direitos

pela amortização antecipada, seja ela total ou parcial. Estas penalizações


consistem numa percentagem do montante em dívida, que não pode ultra-
passar os 0,5%, nos créditos com taxa variável, e os 2%, nos de taxa fixa.
O valor total das comissões cobradas, incluindo a penalização por amortiza-
ção antecipada, não pode ultrapassar os limites atrás referidos. Conte ainda
com os custos notariais da nova escritura, assim como os custos iniciais do
novo financiamento. O ideal é que o banco que vai receber o crédito suporte
todos os custos relacionados com a transferência.

Seguros
65  
Como é calculado o valor de uma casa, para efeitos de seguro
multirriscos‑habitação?

Para segurar um bem contra certos riscos, é necessário atribuir-lhe um valor.


Ao segurado cabe definir, tão exatamente quanto possível, o valor da casa e
comunicá-lo à companhia de seguros. Isto é fundamental porque, em caso
de sinistro, o reembolso da seguradora terá em conta o valor real e não o
valor definido pelo segurado. Assim, mesmo que o valor seguro seja supe-
rior ao real, isso não o beneficia: em caso de acidente, a companhia apenas
indemniza até ao valor real do bem, aferido pelos peritos, e o segurado terá
pago prémios elevados em vão. Se, pelo contrário, definir um valor inferior
ao real, o segurado também fica prejudicado, porque a companhia apenas
o indemniza até ao valor máximo seguro e na mesma proporção: aplica a
regra proporcional, segundo a qual o prejuízo só é coberto proporcional-
mente à relação entre o valor real da casa e o que está contratado. Exemplifi-
cando: se a casa vale 150 mil euros, mas está segura em apenas 112 500 euros
(75% daquele montante), um dano de 10 mil euros só será comparticipado
em 75% pela companhia, isto é, em 7500 euros.

É certo que nem sempre é fácil definir o valor de uma casa, principalmente
quando já não é nova. Mas há uma regra fundamental: em caso de sinistro,
interessa-lhe receber a quantia necessária para reconstruir a sua casa (valor
de reconstrução). Tratando-se de uma fração de um prédio em regime de
propriedade horizontal, deverá ainda incluir o valor proporcional das par-
tes comuns, tais como o telhado, a entrada e os elevadores. Ora o valor de
reconstrução do imóvel é determinado com base no custo da mão-de-obra e

76
A Bancos e seguradoras

das matérias-primas e é, geralmente, bastante inferior ao valor de mercado.


Para o calcular, são utilizados como referência os valores divulgados pela
Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros (aprose), que publi-
camos na tabela abaixo. Assim, basta apurar a área do imóvel e das partes
comuns e multiplicá-la pelo preço por metro quadrado naquele concelho.
Como estes valores consideram construções de qualidade média, se o edi-
fício apresenta, por exemplo, acabamentos de qualidade superior, convém
adicionar uma margem de 20% ou 30%, por exemplo, ao resultado desse
cálculo. Outra possibilidade é recorrer ao simulador da Associação Portu-
guesa de Seguradores (APS), em https://scrim.apseguradores.pt/simulator.
Este simulador calcula o custo de reconstrução de imóveis para habitação,
em Portugal, tendo em vista determinar o capital a segurar nas apólices de
seguros de incêndio e multirriscos-habitação.

VALOR DE RECONSTRUÇÃO POR METRO2 EM 2022 (1)


ZONA I – Capitais de distrito e Regiões Autónomas; 830,03 euros
– Concelhos de Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Gondomar,
Loures, Maia, Matosinhos, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Póvoa
de Varzim, Seixal, Sintra, Valongo, Vila do Conde, Vila Franca de
Xira e Vila Nova de Gaia.
ZONA II Abrantes, Albufeira, Alenquer, Caldas da Rainha, Chaves, Covilhã, 725,56 euros
Elvas, Entroncamento, Espinho, Estremoz, Figueira da Foz,
Guimarães, Ílhavo, Lagos, Loulé, Olhão, Palmela, Peniche, Peso
da Régua, Portimão, Santiago do Cacém, São João da Madeira,
Sesimbra, Silves, Sines, Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Vila
Real de Santo António e Vizela.
ZONA III Restantes concelhos do Continente. 657,35 euros
(1) Valores divulgados pela Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros (aprose).

O valor dos bens muda ao longo do tempo. Por isso, o capital seguro é atua-
lizado todos os anos de forma automática, com base nos índices publicados
trimestralmente pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pen-
sões (ASF). Esses três índices visam refletir a variação dos preços em função
da inflação e aplicam-se:
— ao valor do recheio da habitação;
— ao valor do edifício;
— ao valor conjunto da habitação e do recheio, quando estas coberturas são
contratadas em simultâneo.

Caso sejam feitas obras no imóvel que alterem significativamente o custo de


reconstrução, cabe ao tomador do seguro comunicar essa alteração à segu-
radora e corrigir o capital seguro.

77
A Defenda os seus direitos

No que respeita ao capital seguro para o recheio, como, ao longo dos anos,
se vão comprando outros móveis, utensílios, eletrodomésticos, etc., é acon-
selhável fazer um inventário dos bens a cada quatro ou cinco anos e verificar
se o capital seguro cobre os custos de reposição, em caso de sinistro. Poderá
ser necessário atualizar alguns dos valores mais antigos. Comunique tam-
bém à seguradora, se desejar que fiquem cobertos pelo seguro, a compra de
objetos de valor.

66   Tive um acidente com o meu carro, que tem cinco anos, e a seguradora
propôs-me uma indemnização em dinheiro, correspondente ao valor venal
do carro, alegando que o custo de reparação é superior. Tenho de aceitar esta
proposta, quando apenas quero ver o meu carro arranjado? Como é calculado o
valor venal?

O seguro deve repor a situação anterior ao acidente. Contudo, quando a


reparação é demasiado dispendiosa ou põe em causa a segurança do veí-
culo, a seguradora pode declarar perda total e indemnizar o lesado em
dinheiro. Por lei, a perda total pode ser declarada quando o valor da repara-
ção, somado ao dos salvados (o que resta do carro) ultrapassa 100% ou 120%
do valor comercial do veículo antes do acidente, consoante tenha menos
de dois anos ou mais, respetivamente. Nesses casos, a seguradora paga a
totalidade do valor seguro, depois de deduzida a franquia contratada, se o
segurado estiver a ativar a sua própria cobertura de danos próprios, ou o
valor venal do veículo (o valor de mercado), quando é o seguro de responsa-
bilidade civil de um terceiro a ser acionado.
Cabendo à seguradora indemnizar o seu próprio segurado, o valor do veículo
corresponde ao capital do seguro de danos próprios. Ou seja, resulta da aplica-
ção, ao valor de aquisição, das tabelas de desvalorização mensal previstas na
apólice. Sendo acionado o seguro de responsabilidade civil de outrem, o valor
do veículo é o indicado na Eurotax, as tabelas para profissionais, e tem em
conta o modelo e a data de matrícula. Para ter uma ideia deste valor, recorra a
um simulador de seguro automóvel: ao introduzir a matrícula, é-lhe indicado o
capital a segurar na cobertura de danos próprios, o que corresponde ao valor
do veículo naquele momento. Independentemente de quem está a indemnizar,
a seguradora pode ficar com os salvados ou entregá-los ao lesado. Neste último
caso, desconta o valor dos salvados à indemnização e tem de indicar uma enti-
dade que se comprometa a adquiri-los pelo valor da avaliação.

A partir de uma certa idade dos veículos, o valor de mercado é tão reduzido
que qualquer sinistro, por menores que sejam os danos, facilmente leva à
perda total. Nesses casos, poderá ser difícil adquirir um veículo idêntico,
ainda em condições de circular, com o montante dado pela seguradora.

78
A Bancos e seguradoras

Recomendamos que analise o mercado de usados e solicite orçamentos para


a aquisição de um veículo do mesmo ano e com características semelhantes
ao acidentado. Apresente-os à seguradora, exigindo-lhe uma indemnização
próxima daqueles valores.

Quando a responsabilidade é de um terceiro, cabe à seguradora daquele pôr


à disposição do lesado um veículo de substituição equivalente ao aciden-
tado, a partir do momento em que assume a responsabilidade pelo acidente
e até pagar a indemnização. Em alternativa, terá de reembolsá-lo das des-
pesas com transportes (táxis, por exemplo) que prove ter feito, com razo-
abilidade, desde que o veículo ficou imobilizado. Se a responsabilidade do
acidente for do próprio, só terá direito a veículo de substituição se tiver con-
tratado esta cobertura ou levar o veículo a uma oficina recomendada pela
sua seguradora. Geralmente, estas disponibilizam um veículo de cortesia aos
clientes durante o período da reparação.

67  
O que é o sistema IDS? Ouvi dizer que permitia agilizar o pagamento, pelas
seguradoras, das indemnizações relacionadas com acidentes de viação, mas
não sei como funciona.

A Indemnização Direta ao Segurado (ids) é um sistema que facilita a resolu-


ção dos acidentes de viação. Para terem acesso ao ids, os intervenientes no
acidente têm de preencher uma declaração amigável, através da aplicação
e-segurnet (www.e-segurnet.pt) ou do documento que deve andar sempre
no carro e onde são identificados os condutores, os veículos envolvidos e
as respetivas seguradoras, tendo ainda de incluir uma breve descrição do
acidente e dos danos provocados (não é necessário definir quem é o culpado
no acidente). Se existirem testemunhas, convém registar os seus dados pes-
soais. A declaração em papel é preenchida em duplicado e assinada pelos
dois intervenientes, ficando cada um com uma cópia. No prazo de oito dias
após o acidente, o segurado envia a declaração amigável à sua seguradora.
Através do ids, a seguradora do lesado indemniza o seu próprio segurado e,
mais tarde, reclama esse valor à seguradora do condutor responsável. Deste
modo, a reparação ou indemnização é, geralmente, mais rápida. No entanto,
nem tudo são vantagens. Para regularizar o sinistro, a seguradora recorre à
Tabela Prática de Responsabilidades (tpr), um conjunto de acidentes tipifi-
cados através dos quais são definidos os graus de responsabilidade de cada
interveniente (veja a ilustração, na página seguinte). O processo é simpli-
ficado, mas o resultado poderá nem sempre ser tão justo como se tivesse
existido uma análise individualizada da situação. Se não concordar com a
atribuição de responsabilidades, o lesado pode recorrer ao Centro de Infor-
mação, Mediação e Arbitragem de Seguros (cimpas).

79
A Defenda os seus direitos

Ainda que simplifique e acelere o processo de regularização do sinistro, a tpr não contempla uma
série de variáveis que poderiam ser relevantes para a atribuição de responsabilidades, como, por
exemplo, a velocidade a que circulavam os veículos.

Por outro lado, nem todos os acidentes são abrangidos por este sistema.
Para recorrer ao ids, é necessário que:
— estejam envolvidas apenas duas viaturas, ambas de matrícula portuguesa,
e tenha existido contacto direto entre elas;
— o acidente tenha ocorrido em Portugal;
— não existam feridos que necessitem de assistência hospitalar;
— os dois veículos tenham seguro automóvel em companhias que aderiram
ao sistema ids;
— os danos materiais não excedam 15 mil euros por viatura. Em caso de dúvida
sobre os montantes envolvidos, não deixe de preencher a declaração.

Quando estas condições não estejam reunidas, é ainda assim possível usar
a declaração amigável para comunicar a ocorrência à seguradora do outro
veículo, juntando os elementos de prova que sejam relevantes.

68  O que fazer, num acidente de viação, se uma das partes envolvidas se recusar
a assinar a declaração amigável?

Contactar de imediato as autoridades policiais (psp ou gnr), para que tomem


conta da ocorrência. Os agentes deslocam-se ao local do acidente e regis-
tam os dados relevantes: identificação dos condutores e respetivas viatu-
ras, estado e dimensões da via, localização dos veículos e respetivos danos,
marcas de travagem, etc. Por isso, os intervenientes não devem deslocar os
veículos sem autorização das autoridades. Posteriormente, cada um con-
tacta a companhia de seguros do outro e participa o sucedido, com todos os
pormenores. Para o efeito, podem utilizar o verso da declaração amigável.

80
A Bancos e seguradoras

As seguradoras analisam os factos, confrontam as declarações dos interve-


nientes com o documento elaborado pelas autoridades policiais (o auto de
notícia) e pronunciam-se quanto à atribuição de responsabilidades na ocor-
rência. Se as companhias não chegarem à mesma conclusão e a reconsti-
tuição do acidente, com recurso a três peritos (um de cada seguradora e
um terceiro, que fará o relatório) for ineficaz, o impasse daí resultante terá,
porventura, de ser resolvido em tribunal.

69  
Emprestei o meu carro a um amigo e ele teve um acidente, pelo qual foi
responsável. A seguradora pode recusar-se a pagar os danos?

Em regra, não. Mas há exceções. O carro pode ser conduzido por outros con-
dutores, além do declarado na apólice. No entanto, é provável que a segura-
dora queira saber se o seu amigo é condutor habitual do carro ou se foi algo
fortuito. Isto é particularmente importante se o condutor declarado na apó-
lice e o que teve o acidente tiverem perfis muito diferentes. Por perfil do con-
dutor entende-se, sobretudo, a idade, os anos de carta e o histórico de sinis-
tralidade. É frequente, por exemplo, os pais emprestarem o carro aos filhos
recém-encartados que, por terem um nível de risco superior, pagam normal-
mente mais pelo seguro. Os limites variam com as seguradoras, mas a norma
é os prémios sofrerem agravamentos se o condutor tiver menos de 25 anos
de idade, carta de condução há menos de dois anos e residir em Lisboa ou
no Porto (zonas de maior risco). Algumas companhias preveem nos contratos
de seguro a possibilidade de duplicarem o valor da franquia (o limite abaixo
do qual não pagam indemnização), ou de nada pagarem se, de acordo com
as condições contratuais em vigor, o condutor acidentado tiver um nível de
risco superior ao do condutor declarado. Na prática, tudo vai depender do
que estiver previsto no contrato, embora, se se sentir prejudicado, o tomador
do seguro possa recorrer ao Centro de Informação, Mediação e Arbitragem
de Seguros (cimpas) e, eventualmente, a tribunal. Convém ainda ter em conta
que nem sempre justifica declarar o sinistro ao seguro. De facto, as participa-
ções vão agravar o prémio a pagar nos anos seguintes. Para sinistros de valor
reduzido, pode ser mais vantajoso chegar a acordo com o outro condutor e
resolver a questão amigavelmente, pagando os danos do próprio bolso.

70  Quero mudar o meu seguro automóvel para outra companhia. Como não
tenho acidentes há muitos anos, os bónus entretanto acumulados podem
transitar para a nova seguradora?

Apesar de cada companhia apresentar sistemas diferentes, todas privilegiam


os bons condutores, concedendo-lhes bónus que reduzem os prémios do

81
A Defenda os seus direitos

seguro. A aplicação destes bónus, cuja contrapartida é o agravamento do


prémio aos condutores que causaram acidentes, tem em conta o historial do
segurado, em regra, nos últimos cinco anos, noutras companhias de segu-
ros. Assim, ao mudar de seguradora, continua a beneficiar das vantagens
ligadas ao facto de não ter participado acidentes ao abrigo das coberturas de
responsabilidade civil, choque, colisão ou capotamento nos anos anteriores.
Por vezes, as participações por furto ou roubo, ou, mais raramente, por
fenómenos da natureza ou vandalismo, também são contabilizadas. As segu-
radoras podem consultar o histórico de sinistralidade dos condutores na
Segurnet, uma base de dados que visa combater a fraude no setor automóvel
e acelerar o processo de aceitação dos contratos. Ainda assim, mantém-se
a obrigação legal de entregarem um certificado de tarifação ao segurado,
sempre que ele pretenda mudar o seguro para outra companhia. Este docu-
mento enumera os sinistros participados em que foi atribuída responsabili-
dade ao segurado, podendo a nova companhia determinar o prémio a pagar
em função das suas características como condutor.

71  
Comuniquei à minha seguradora que desejava rescindir o seguro, depois de
ter recebido o aviso para pagamento do prémio, mas esta respondeu que,
ainda assim, teria de o pagar. Não tenciono renová-lo e, por isso, não percebo essa
obrigatoriedade.

A companhia de seguros está obrigada a comunicar ao cliente, por escrito,


o montante do prémio e a data em que o pagamento é devido, até 30 dias
antes da data de vencimento, se a periodicidade for trimestral ou abranger
períodos mais longos (para os pagamentos mensais, por exemplo, a comuni-
cação não é obrigatória). Se não quiser renovar o contrato, o cliente deve avi-
sar a seguradora, por escrito, até 30 dias antes de terminar a anuidade. Mas,
na prática, também pode pôr termo ao seguro simplesmente não pagando o
prémio até à data-limite. Neste caso, o contrato é automaticamente anulado
e não voltará a vigorar. Portanto, nada há que o obrigue a satisfazer a exigên-
cia da seguradora para pagar o prémio.

72  
Vou reformar-me este ano e, por isso, deixarei de beneficiar do seguro
de saúde proporcionado pela empresa onde trabalho. Contactei várias
seguradoras, mas, até agora, nenhuma aceitou fazer-me o contrato. Há limites de
idade para contratar ou beneficiar de um seguro de saúde?

Quase todas as seguradoras definem um limite de idade para a contrata-


ção do seguro de saúde que, regra geral, se situa nos 60 anos. Pode tam-
bém ser definido um limite de permanência, a partir do qual a pessoa é

82
A Bancos e seguradoras

automaticamente excluída, por norma a partir dos 65 ou 70 anos. A mai-


oria das apólices, contudo, não impõe limite máximo de permanência
quando o seguro é contratado antes dos 55 anos de idade da pessoa segura.
No entanto, como todos os contratos têm uma duração anual, nada impede
as seguradoras de recusarem a renovação do contrato em qualquer altura.
Neste caso, têm de suportar, pelo prazo de dois anos, todas as despesas
com doenças contraídas durante a vigência do seguro e comunicadas à segu-
radora até 30 dias depois do termo da apólice, até que esteja esgotado o
capital seguro. Existem seguros específicos para as faixas etárias mais ele-
vadas, de forma a resolver a questão dos limites de idade. No entanto, por
norma, são pouco interessantes. Além de serem caros, os capitais seguros
nas coberturas de internamento hospitalar e ambulatório são muito baixos
e as comparticipações são reduzidas. À data, a melhor opção é o protocolo
da deco proteste com a mgen.
Outra opção são os cartões de saúde. Não estabelecem limites de idade,
franquias e períodos de carência, e são mais baratos do que os seguros.
No entanto, só proporcionam descontos nas clínicas e consultórios que
integram a rede de prestadores, a qual, fora dos grandes centros urbanos,
poderá nem sempre oferecer muitas alternativas. Além disso, o utilizador
pagará sempre mais por estes serviços do que se tivesse um seguro.

83
A
A

Capítulo 4

Propriedade
e vizinhança
A Defenda os seus direitos

Compra e venda de propriedades


73  
Na semana passada, assinei a reserva de uma casa que tencionava comprar,
pelo que paguei um montante de mil euros. Entretanto, encontrei uma casa
muito mais interessante. A reserva que assinei obriga‑me a avançar com o negócio?

Pode desistir do negócio, mas, se o fizer, só não perderá o dinheiro já entre-


gue se o documento da reserva referir que, se, por qualquer motivo, não
houver lugar à compra e venda da habitação, este montante será devolvido
a quem está interessado em comprar. Bem entendido, se o negócio não
se fizesse por desistência do vendedor, teria esse direito mesmo que não
existisse esta cláusula. Em qualquer caso, a sanção ao potencial comprador
nunca pode ultrapassar este montante.
O comprador deve estar atento ao facto de este documento consistir numa
promessa unilateral, em que manifesta o seu interesse em comprar o imóvel.
De facto, o proprietário ou o seu representante (geralmente, uma imobi-
liária) não se obriga a vender a habitação. O direito de propriedade sobre
o imóvel só fica salvaguardado com a celebração do contrato-promessa de
compra e venda. Em suma, enquanto garantia para o comprador, a ficha de
reserva é apenas um mecanismo de prioridade existente na agência imo-
biliária (embora também possa ser usado por particulares), impedindo a
agência de vender aquele imóvel a terceiros, por se encontrar reservado.

74   Celebrei um contrato‑promessa de compra e venda de uma casa, pensando


que não teria problemas em conseguir empréstimo para a adquirir. Contudo,
o meu banco recusou‑me o crédito e tenho receio que o mesmo aconteça noutras
instituições. Poderei perder o dinheiro do sinal que entreguei?

De facto, arrisca-se a que isso aconteça. Quando é celebrado um contrato-


-promessa de compra e venda, é comum entregar-se uma quantia ao promi-
tente-vendedor (a pessoa que se compromete a vender), que serve de sinal e
é abatida ao preço final. O sinal tem como função vincular as partes ao con-
trato, para que não sejam tentadas a deixar de cumpri-lo. Se ambas as partes
incumprirem, em princípio a solução passa pela devolução do montante.
O promitente-comprador que não quer ou não pode cumprir o que combi-
nou arrisca-se a que a outra parte se desvincule da promessa e fique com
o sinal. Por isso, quem estiver dependente de financiamento para comprar
deve propor a inclusão de uma cláusula no contrato-promessa a especificar
que a não obtenção de crédito para a aquisição dará lugar à restituição do
sinal. Se não existir esta cláusula, o promitente-comprador só pode anular o

86
A Propriedade e vizinhança

contrato sem perder o sinal se faltar um elemento formal essencial a este tipo
de negócio, ou seja, se, por exemplo, faltar a assinatura de uma das partes
(veja também a caixa Requisitos do contrato-promessa, na página 89). Caso o
promitente-vendedor não aceite a cláusula, o promitente-comprador pode
ainda negociar a entrega de um sinal baixo, para que o prejuízo seja menor,
na eventualidade de não efetuar a compra. Mas o vendedor pode recusar
um sinal demasiado baixo ou, ainda que o aceite, sentir-se tentado a faltar
ao prometido e a vender a casa a outrem por um preço mais elevado. Se isso
acontecer, também terá consequências (veja a resposta à próxima pergunta).
Outra possibilidade, para evitar estas situações, é esperar, pelo menos, pela
pré-autorização do crédito e fazer algumas contas. Antes de assinar o con-
trato-promessa, tente obter uma resposta do banco. Perante os dados de que
dispõe (rendimentos do agregado familiar, montante pedido, etc.), o banco
avalia, com algum grau de segurança, se irá aprovar o crédito. Havendo uma
pré-aprovação, ainda pode acontecer que, perante a avaliação do imóvel
feita pelo banco, lhe emprestem menos dinheiro do que precisa. É por isso
que, nestas circunstâncias, não é aconselhável avançar com a assinatura do
contrato-promessa se não tiver alguns capitais próprios: pelo menos, o equi-
valente a 20% do valor de venda do imóvel, para precaver uma avaliação
inferior e, ainda, o necessário para pagar o Imposto Municipal sobre as Trans-
missões Onerosas de Imóveis (IMT), os custos notariais e os de avaliação.

75  Assinei um contrato‑promessa de compra e venda de uma casa e entreguei o


sinal. Agora, o proprietário diz que já não ma quer vender, porque encontrou
outro comprador que lhe dá mais dinheiro por ela. O que poderei fazer para que
cumpra o contrato?

Quando o promitente-vendedor não cumpre aquilo a que se comprometeu,


o promitente-comprador pode optar, de entre as seguintes possibilidades,
pela que lhe for mais favorável:
— impor a celebração do contrato de compra e venda, por meio de uma
ação em tribunal (execução específica);
— exigir a devolução do sinal, acrescido de uma indemnização de valor
idêntico. Isto é, se entregou três mil euros, recebe seis mil.

76  O contrato‑promessa de compra e venda que celebrei, para comprar uma


casa, não prevê a quem compete marcar a data da escritura. Como o
prazo‑limite já foi excedido, poderei marcá‑la e avisar o construtor?

Sim, pode fazer a marcação. Definir quem se encarrega de marcar a data


e o local de assinatura do contrato de compra e venda (muitas vezes feito

87
A Defenda os seus direitos

por escritura pública) é um dos requisitos dos contratos-promessa. Geral-


mente, é aos promitentes-compradores que cabe fazer essa marcação e
informar, com a devida antecedência, os promitentes-vendedores. Se o con-
trato-promessa não indica uma data-limite ou quem irá fazê-lo (ou a pessoa
indicada nada fizer), qualquer das partes pode escrever à outra, dando-lhe
um prazo máximo para a marcação do negócio ou tomando a iniciativa de
o marcar, dentro de um prazo razoável, que permita à outra parte reunir
a documentação para finalizar o processo. Caso ela nada responda, pode
considerar-se que existe incumprimento do contrato-promessa, com as con-
sequências referidas nas respostas às perguntas 74 e 75. Quando tal acon-
tece, convém enviar uma carta registada com aviso de receção (veja também
o título A interpelação, a partir da página 13), insistindo para que a outra
parte cumpra o combinado, comparecendo no dia, hora e local agendados,
e prevenindo-a de que, se não o fizer, será considerada faltosa e se sujeita às
consequências que decorrem da lei e do próprio contrato.
Contudo, nem sempre o atraso é culposo. Quem não cumpriu a data defi-
nida no contrato-promessa pode manter a intenção de vender ou comprar
a casa. Por exemplo, é comum os promitentes-compradores encontrarem
algumas dificuldades em obter financiamento bancário, o que pode atra-
sar o negócio. Se a data-limite for ultrapassada, tal não significa necessari-
amente que houve incumprimento definitivo e o promitente-vendedor não
pode limitar-se a ficar com o sinal e procurar outros compradores. Trata-se
aqui de avaliar a posição da outra parte, segundo critérios de bom senso e
razoabilidade. Não se pode ficar eternamente à espera, mas também não é
um pequeno atraso que permite, de imediato, considerar que a outra parte
está em falta.

77  
Assinei o contrato‑promessa para comprar um apartamento ainda antes
de iniciadas as obras de construção. Pensava que poderia habitá‑lo este
ano, mas tudo indica que as obras vão prolongar‑se muito além do previsto. O que
poderei exigir ao construtor?

É possível combinar-se a venda de um imóvel quando este ainda não está


construído, existindo apenas em planta, isto é, nos desenhos técnicos ela-
borados pelos projetistas. Os negócios celebrados nestas condições são
válidos, visto que os contratos-promessa se referem a prédios ou frações
que não existem ainda, mas que se prevê estarem concluídos numa data
definida. Para evitar problemas, caso a conclusão das obras venha a atra-
sar-se, convém definir no contrato-promessa as penalizações para o não
cumprimento do prazo de assinatura do contrato de compra e venda. Por
exemplo, por cada dia ou semana de atraso, é deduzida uma determinada
quantia ao preço que se prometeu pagar, o que compensa o comprador pela

88
A Propriedade e vizinhança

REQUISITOS DO CONTRATO-PROMESSA
Este contrato consiste num acordo, através do qual o promitente-vendedor (o pro-
prietário) se compromete a vender o imóvel ao promitente-comprador, que, por sua
vez, se compromete a comprá-lo. Além de indicar quem marca a data e o local de
assinatura do contrato de compra e venda e a data-limite para o fazer, existem outros
requisitos essenciais, sem os quais qualquer das partes pode pôr termo ao negócio:
— identificação das partes – todos os intervenientes no negócio são identificados pelo
nome, morada e números de identificação civil e fiscal. Se o comprador e/ou o
vendedor forem casados, o contrato terá de ser assinado pelos dois membros do
casal. Isto só não é necessário se estiverem casados em regime de separação de
bens, caso em que bastará a assinatura do futuro proprietário da casa;
— identificação do imóvel – o imóvel transacionado é identificado através dos ele-
mentos jurídicos (descrição na Conservatória do Registo Predial, inscrição da matriz
no serviço de Finanças, número da licença de habitação, caso exista) e práticos
(morada, número de polícia e, eventualmente, área, número de assoalhadas, etc.);
— objeto do negócio – ambas as partes se comprometem reciprocamente a vender e
a comprar o imóvel identificado no contrato;
— preço e modo de pagamento – o valor de aquisição do imóvel e o modo de paga-
mento devem constar do contrato-promessa;
— sinal – o(s) comprador(es) entregam ao vendedor uma quantia que serve de sinal
e princípio de pagamento do imóvel e que consta no contrato-promessa;
— reforço de sinal – elemento não essencial, mas de menção necessária quando o(s)
promitente(s)-comprador(es) se comprometa(m) a, ainda antes da assinatura do
contrato de compra e venda, entregar mais alguma quantia ao promitente-vende-
dor, quantia essa que assume também a natureza de sinal e princípio de pagamento;
— data-limite de celebração do contrato de compra e venda – como a transferência de
propriedade só se verifica com o contrato de compra e venda, convém fixar uma
data-limite para a sua celebração;
— menção de que o imóvel será vendido livre de ónus ou encargos – se não constar do
contrato e recaírem ónus ou encargos sobre o imóvel (por exemplo, uma hipoteca
ou quotas do condomínio em atraso), o promitente-vendedor não pode ser respon-
sabilizado, pelo que a pessoa interessada na compra deve estar particularmente
atenta a este ponto e exigir que esta menção seja incluída;
— tradição do imóvel – se o comprador receber as chaves antes de o contrato de com-
pra e venda ser assinado (ato designado por tradição), isso deve ser mencionado,
referindo-se a data e as condições em que ocorre. Caso isto só seja acordado depois
do contrato-promessa também deve ser formalizado, através de um aditamento ao
contrato ou de outra forma (documento ou testemunhas, por exemplo);
— local e data da assinatura do contrato-promessa – o contrato é datado e assinado
por compradores e vendedores, que devem rubricar todas as páginas no canto
superior direito. As assinaturas são reconhecidas no notário ou por um advogado,
pelo que todos os intervenientes terão de deslocar-se pessoalmente, munidos dos
cartões de identificação e da licença de habitação do imóvel emitida pela câmara
municipal da área onde se situa, ou, em alternativa, nomear um procurador.

89
A Defenda os seus direitos

impossibilidade de usar a casa. Se, no seu caso, isto não foi previsto, só lhe
resta esperar que a casa seja concluída, se ainda estiver interessado, ou pôr
termo ao contrato. Se assinou o contrato-promessa na condição de poder
habitá-la na data aí definida e, ao chegar a essa data, as obras não estão
terminadas, pode considerar que o construtor não cumpriu a sua parte do
acordo, o que lhe permite pôr termo ao contrato e exigir o dobro do sinal
entregue. Este poderá ser o único meio de se ser compensado pelos atra-
sos, pelo que, ao comprar uma casa em planta, convém que o sinal seja ele-
vado. No entanto, para evitar outros riscos, como a eventual insolvência da
empresa construtora, por exemplo, também não é conveniente que entre-
gue a totalidade do montante a pagar.

78  Tenciono comprar uma casa para habitar que custa 200 mil euros, mas
gostaria de saber quanto vou pagar de imposto pela aquisição. Como poderei
obter essa informação?

O Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT)


é pago sempre que há uma transação de um imóvel e pode envolver quan-
tias elevadas. Por isso, é prudente confirmar o montante a pagar antes de
chegar a acordo com o vendedor, não vá o negócio encarecer a tal ponto que
perca o interesse para si. Sem o pagamento do imposto, o negócio não pode
ser efetuado. E cabe ao comprador fazê-lo, através do Portal das Finanças,
no serviço de Finanças da área onde se situa o imóvel, nos CTT ou recor-
rendo aos serviços bancários. Quando o imóvel a comprar é um prédio rús-
tico, a taxa de IMT é sempre de 5% sobre o valor de venda. Tratando-se de
um imóvel para habitação, o cálculo é feito com base no maior dos seguintes
valores:
— valor patrimonial tributário do imóvel determinado pelas Finanças. Se o
imóvel nunca tiver sido avaliado, a Autoridade Tributária determina o
valor tendo por base o preço de construção por metro quadrado e a loca-
lização, entre outros fatores. Caso já tenha sido avaliado, o valor pode ser
atualizado aquando da transmissão;
— valor indicado no contrato de compra e venda do imóvel.

Na maioria das situações, o valor usado para o cálculo será o de compra e


venda. No caso das permutas (troca de uma casa por outra), o IMT incide
sobre a diferença entre o valor que cada proprietário atribui ao seu imóvel
ou os valores patrimoniais tributários, se estes forem superiores. Para saber
quanto irá pagar de IMT, terá de verificar qual é a taxa aplicada, em fun-
ção do valor considerado, da localização do imóvel (Portugal continental
ou Açores e Madeira) e do tipo de imóvel (habitação própria e permanente
ou secundária; terreno urbano ou rústico). Em alternativa, consulte o nosso

90
A Propriedade e vizinhança

simulador de IMT em www.deco.proteste.pt/imt. Em resposta à sua ques-


tão específica, e como pode verificar na tabela abaixo, o IMT para o imóvel
mencionado será de 4912,81 euros ou de 2949,71 euros, consoante esteja
localizado no continente ou nos arquipélagos dos Açores e da Madeira.

IMT PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO PRÓPRIA


E PERMANENTE (DESDE ABRIL DE 2020)
Valor do imóvel para Taxa a aplicar (%) Parcela a abater
efeitos de IMT (euros) (euros)
Portugal continental
Até 92 407 0 0
92 407,01 a 126 403 2 1848,14
126 403,01 a 172 348 5 5640,23
172 348,01 a 287 213 7 9087,19
287 213,01 a 574 323 8 11 959,32
574 323,01 a 1000 000 Taxa única de 6%
Superior a 1000 000 Taxa única de 7,5%
Açores e Madeira
Até 115 509 0 0
115 509,01 a 158 004 2 2310,18
158 004,01 a 215 435 5 7050,29
215 435,01 a 359 016 7 11 358,99
359 016,01 a 717 904 8 14 949,15
717 904,01 a 1000 000 Taxa única de 6%
Superior a 1000 000 Taxa única de 7,5%
Por exemplo, um imóvel de 200 mil euros pagaria 4912,81 euros de imposto no
continente e 2949,71 euros nos Açores e na Madeira:
– Portugal continental: 200 000 euros x 7% = 14 000 euros – 9087,19 euros =
4912,81 euros;
– Açores e Madeira: 200 000 euros x 5% = 10 000 euros – 7050,29 euros = 2949,71 euros.

79  Para vender a antiga casa dos meus avós, contratei uma imobiliária em
regime de exclusividade. A imobiliária encontrou um interessado e foi
celebrado um contrato-promessa de compra e venda, no qual ficou acordado que
seria o promitente‑comprador a obter a licença de utilização do imóvel. Acontece
que a Câmara Municipal recusou a licença, pelo que a venda não foi concretizada.
Ainda assim, a mediadora pretende ser remunerada. É mesmo assim?

Por norma, a remuneração da mediadora depende da concretização do


negócio. E este caso não é exceção. Assim, ter encontrado um interessado e
efetuado as diligências necessárias à celebração do contrato não lhe confere,

91
A Defenda os seus direitos

por si só, o direito a recebê-la. O contrato-promessa de compra e venda esti-


pulava, como condição para a venda, que fosse obtida a licença junto da
câmara municipal, o que não aconteceu. Por isso, o contrato fica sem efeito
e, como o vendedor não pode ser responsabilizado pelo facto, a imobiliária
não tem direito à remuneração. Só poderia exigi-la se tivesse sido o vende-
dor a inviabilizar o negócio (por exemplo, porque não apresentou um docu-
mento essencial ou não o fez dentro do prazo) ou se, tendo encontrado um
interessado na compra, pelo preço e nas condições definidas pelo cliente,
este tivesse entretanto feito negócio com outra pessoa.

80  
Comprei recentemente uma casa que estava arrendada, mas o inquilino não
sai. O que posso fazer?

Sempre que haja intenção de comprar uma casa que está arrendada a
outrem, todos os cuidados são poucos. De facto, a compra não altera os
termos do contrato de arrendamento em vigor. A grande diferença é que o
senhorio passa a ser outro: o inquilino mantém-se na casa, com os mesmos
direitos e deveres do contrato original, e só o local e a forma de pagamento
da renda podem ser alterados. Assim, antes de avançar com o negócio,
certifique-se de que proprietário e inquilino chegaram a acordo para que
este saia ou negoceie isso diretamente com ele. Em qualquer dos casos,
convém ter um documento assinado por ambas as partes em que estejam
definidas as condições desse acordo (data de saída, indemnização paga,
etc.). Se nada disto tiver sido feito e, apesar de tudo, tiver comprado a
casa, poderá ir a tribunal para anular a compra. Mas, para isso, terá de
provar que o antigo proprietário não lhe disse que a casa estava arrendada.
Caso isto também não seja viável, porque tinha conhecimento do arren-
damento, terá de esperar pela data a partir da qual pode opor-se à reno-
vação, tratando-se de um contrato a prazo certo, ou aguardar dois anos
para denunciar o contrato, se este for por tempo indeterminado. Só assim
poderá pôr fim ao contrato de arrendamento (veja, a este respeito, a res-
posta à pergunta 103).

81  As paredes da minha casa têm infiltrações de água. Comprei‑a há apenas


um ano, ao anterior (e primeiro) proprietário, e agora o construtor diz‑me
que, apesar de o prédio ainda não ter cinco anos, não está obrigado a reparar os
defeitos, porque já não sou o comprador original. É mesmo assim?

De maneira nenhuma. A garantia de um imóvel novo e destinado a habi-


tação é válida nos cinco anos a seguir à entrega, independentemente de o
primeiro comprador o ter, entretanto, vendido a outras pessoas. Durante

92
A Propriedade e vizinhança

esse período, o construtor está obrigado a eliminar, gratuitamente, todos os


defeitos detetados. Se a reparação ou substituição não for feita, nos casos
em que o imóvel tiver sido comprado ao construtor, o proprietário pode
também exigir uma redução proporcional do preço ou a resolução do con-
trato. Tratando-se de um defeito relacionado com elementos estruturais,
desde janeiro de 2022 que a garantia é de dez anos.
Enquanto proprietário, deve enviar ao construtor uma carta registada com
aviso de receção dando-lhe um prazo para iniciar as obras de reparação.
Mas atenção: se o construtor nada fizer até três anos depois de lhe serem
comunicados os defeitos do imóvel, deixa de estar obrigado a repará-los.
Por isso, se este prazo estiver a chegar ao fim e o construtor não resolver a
questão, contacte um advogado e avance com uma ação em tribunal para
o obrigar a efetuar a reparação e obter uma indemnização pelos prejuízos
sofridos.
Se os defeitos forem tão graves que não podem esperar pela decisão do tri-
bunal (chove dentro de casa, por exemplo), e tiver meios financeiros para
isso, pode repará-los e, depois, exigir ao construtor o reembolso das despe-
sas efetuadas e comprovadas por fatura. Se o construtor fizer a reparação,
mas o problema voltar a surgir, pode reiniciar o processo, ainda que o prazo
de garantia já tenha sido ultrapassado.

82  
Pretendo vender um terreno rústico de que sou proprietário, mas ouvi dizer
que preciso de dar conhecimento das condições do negócio aos donos dos
terrenos contíguos. Terei mesmo de o fazer?

Depende. A primeira coisa a fazer é verificar qual a unidade de cultura que


vigora na zona onde se situa o terreno (veja o quadro As unidades de cultura,
na página seguinte). Em seguida, verifique se o seu terreno ou qualquer um
dos que com ele fazem fronteira possuem uma área inferior à da unidade
de cultura. Se todos excederem essa área, não existe direito de preferência,
ou seja, pode vender o terreno sem ter de contactar os proprietários dos
terrenos vizinhos. Mas basta que um dos terrenos (o que se pretende vender
ou um dos outros) tenha uma área inferior à unidade de cultura para existir
preferência. Esta obrigação de dar preferência de compra visa possibilitar a
união de terrenos que, de outro modo, teriam uma viabilidade económica
muito reduzida, devido à sua pequena dimensão. Se o terreno que pretende
vender tiver uma área superior à unidade de cultura, só têm de ser notifi-
cados os donos dos terrenos vizinhos cuja área seja inferior a essa unidade,
mas, se for inferior, o projeto de venda terá de ser comunicado a todos,
independentemente das respetivas áreas. Nesse sentido, terá de enviar car-
tas registadas com aviso de receção a todos os vizinhos que podem exer-
cer o direito de preferência, informando-os de que pretende vender as suas

93
A Defenda os seus direitos

terras, de qual o comprador interessado, do preço que este vai pagar e de


outras condições relevantes (o montante do sinal entregue, o prazo máximo
de celebração do contrato de compra e venda, etc.). Se algum dos vizinhos
pretender comprar, terá de o fazer nas mesmas condições propostas pelo
comprador que já chegou a acordo com o vendedor. Esse vizinho terá,
então, oito dias para declarar o seu interesse na compra e para efetuar o
pagamento na Caixa Geral de Depósitos, o que obriga o vendedor a celebrar
o negócio com ele. Se houver mais de um interessado em comprar o terreno,
podem abrir uma licitação entre eles e a propriedade será atribuída a quem
oferecer o preço mais elevado, tendo sempre em conta que a base de licita-
ção será o montante oferecido pelo comprador que inicialmente chegara a
acordo com o dono do terreno.

AS UNIDADES DE CULTURA (em hectares)


Terrenos de regadio
Tipo de terreno
Distrito Terrenos
Arvenses Hortícolas
de sequeiro
Aveiro, Braga, Coimbra, Leiria, Porto, Viana
2 0,50 2
do Castelo e Viseu
Bragança, Castelo Branco, Guarda e Vila Real 2 0,50 3
Lisboa e Santarém 2 0,50 4
Beja, Évora, Setúbal e Portalegre 2,50 0,50 7,50
Faro 2,50 0,50 5

Obras em casa
83  
Contratei um ladrilhador para substituir os azulejos da minha casa de banho.
O serviço deveria já estar concluído, mas ainda nem sequer foi iniciado.
Poderei contratar outro profissional?

Nem sempre se celebra um contrato escrito quando se contratam os serviços


de um profissional da construção civil — embora isso seja desejável, para
que não subsistam dúvidas quanto aos deveres e direitos de cada uma das
partes. Contudo, mesmo que só exista um acordo verbal, isso não significa
que as partes possam desobrigar-se das responsabilidades assumidas. Assim,

94
A Propriedade e vizinhança

se o ladrilhador se atrasa no trabalho e não liga às tentativas do cliente para


o apressar, este, que é o dono da obra, pode contratar outro profissional
para substituir o primeiro, que não cumpriu o acordado. Como medida
de precaução, deve interpelá-lo (veja o título A interpelação, na página 13),
informando-o de que põe termo ao contrato, de que essa medida se deve ao
atraso da obra e das eventuais penalizações que vai aplicar. Como as obras
não foram sequer iniciadas, a penalização consistirá no não pagamento do
preço combinado, podendo também ter em conta os custos da contratação
de um novo profissional. Esta comunicação deve ser feita por escrito, de pre-
ferência em carta registada com aviso de receção, para que não haja dúvidas
sobre o envio e quando ocorreu.

84  
Chamei um canalizador para instalar uma torneira. O serviço foi feito em
meia hora e foram‑me cobrados 50 euros. Como me pareceu excessivo,
recusei‑me a pagar esse montante. Tinha o direito de o fazer?

Se não tiver perguntado antecipadamente qual o custo do serviço, terá


mesmo de pagar a quantia pedida. A não ser que pretenda discutir os hono-
rários do canalizador num julgado de paz, num centro de arbitragem de
conflitos de consumo ou, em último caso, ir a tribunal.
Tanto as empresas como os profissionais independentes estão obrigados a
informar os clientes sobre o valor dos serviços que prestam. Cabe também
ao cliente ter o cuidado de se informar do custo dos serviços, para não ser
surpreendido com valores exorbitantes. Subentende-se que, se ele não o faz
e encarrega um profissional de realizar um determinado trabalho, aceita
implicitamente os valores que este venha a cobrar. A melhor forma de evitar
estas situações é pedir sempre um orçamento. Este pode até ser só aproxi-
mativo, pois é natural que o próprio profissional nem sempre tenha possi-
bilidade de prever com exatidão o custo do trabalho a efetuar. No entanto,
deste modo o cliente pode ter uma ideia do custo do serviço e de todos os
elementos relevantes, o que lhe permite decidir se contrata aquele profissi-
onal ou se procura outro.

85  
A fatura apresentada pelo empreiteiro, após a conclusão dos trabalhos de
remodelação da minha casa, ultrapassa largamente o orçamento inicial.
Os empreiteiros podem aumentar assim os preços?

Antes de ser contratada a obra, o empreiteiro deve elaborar um orçamento,


documento que define, em concreto, todos os trabalhos a realizar e o res-
petivo custo. O orçamento pode ser complementado com um contrato de

95
A Defenda os seus direitos

empreitada, que refere em detalhe os materiais a usar, os prazos a respeitar,


as datas dos eventuais pagamentos intercalares, as penalizações pelos atra-
sos na obra, etc. E deve também deixar claro se os valores apresentados já
incluem ou não o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). Se, durante a
realização da obra, se chega à conclusão de que são necessários mais traba-
lhos do que os inicialmente previstos, é conveniente elaborar um orçamento
apenas para esses trabalhos ou adicionar o custo destes ao orçamento ini-
cial, depois de aprovados pelo dono da obra. É essencial que exista um
documento em que as obrigações de ambas as partes estejam claramente
definidas, para não subsistirem dúvidas ou equívocos. Como é lógico, os pre-
ços definidos no orçamento obrigam o empreiteiro e o dono da obra. Isso
significa que, não havendo trabalhos extra, os preços inicialmente defini-
dos são aqueles que o dono da obra terá de pagar. O empreiteiro não pode
argumentar ter já passado algum tempo (meses ou anos) sobre a data em
que o orçamento foi elaborado ou ter havido aumento do custo dos mate-
riais. Essas variações só teriam alguma influência no preço final se o orça-
mento ou o contrato de empreitada previssem expressamente essa possibi-
lidade. Se tal não acontece, o empreiteiro não tem legitimidade para exigir
um aumento do preço, podendo o dono da obra recusar-se a pagar esse
aumento. Se o empreiteiro continuar a exigir valores adicionais, o dono da
obra deve escrever-lhe uma carta registada com aviso de receção, referindo
a sua vontade de pagar o montante que consta do orçamento (e juntando o
respetivo cheque, caso o pagamento ainda não tenha sido efetuado) e nada
mais além desse valor, porque não foram executados quaisquer outros tra-
balhos que justifiquem pagamentos adicionais. Se necessário, pode recorrer
a uma associação de defesa do consumidor ou a um centro de arbitragem de
conflitos de consumo.

86   O orçamento que me foi apresentado pelo empreiteiro que contratei


continha a descrição dos trabalhos pedidos, bem como o preço, que
totalizava três mil euros. Terminadas as obras, paguei‑lhe este montante, mas
ele diz que ainda lhe devo 690 euros do IVA. Ora o orçamento nada diz sobre este
imposto. Tenho mesmo de pagar esta quantia?

Sim. Um orçamento deve discriminar todas as parcelas que são cobradas.


No caso do IVA é usual recorrer às expressões “a este montante acresce o
IVA à taxa de x%” ou “os valores propostos já incluem o IVA à taxa de x%”,
que não deixam quaisquer dúvidas aos clientes. No entanto, em situa-
ções como a explicitada, os tribunais têm entendido que, sendo o IVA um
imposto que onera o consumidor final, o dono da obra está, em princípio,
obrigado a entregar ao empreiteiro o montante correspondente, mesmo

96
A Propriedade e vizinhança

quando há omissão de qualquer referência ao IVA no orçamento. Sendo


o IVA um imposto devido ao Estado e não ao empreiteiro, este acresce
ao valor dos serviços mencionados no orçamento, salvo se expressamente
indicar que o IVA já está incluído. Ao cliente restará apenas exigir a emis-
são da fatura com o seu número de contribuinte e o total dos montantes
pagos, para que possa declarar essas despesas no IRS e assegurar que o
IVA por si suportado será entregue ao Estado. Se, ao fim de dois meses,
a fatura não tiver sido registada no e-Fatura pelo empreiteiro, o contribu-
inte pode fazer esse registo. Caso sinta que foi enganado ou induzido em
erro, reclame. Pode fazê-lo no livro de reclamações (em papel ou eletró-
nico), junto da Direção-Geral do Consumidor ou na Plataforma Reclamar
da deco proteste (www.deco.proteste.pt/reclamar). Caso pretenda uma
indemnização, pode recorrer à arbitragem, aos julgados de paz ou até aos
tribunais.

87  
O empreiteiro que contratei para fazer obras em minha casa faliu. Já lhe
entreguei metade do preço combinado e agora a obra está parada. Como
poderei resolver o problema?

Quando se contrata um empreiteiro, deve ter-se o cuidado de obter refe-


rências sobre o seu trabalho, para minimizar os riscos. Contudo, mesmo
quando se usa da maior cautela, podem verificar-se situações inesperadas,
em que o empreiteiro abandona a obra, por desinteresse, incapacidade de
a completar ou qualquer outra razão. Para prevenir este tipo de ocorrên-
cias, o melhor é acordar pagamentos faseados, ou seja, o dono da obra vai
pagando à medida que determinadas fases da obra são concluídas. Desta
forma, conseguirá, pelo menos, minimizar o valor dos prejuízos. Não tendo
existido esta precaução, e tendo sido adiantada uma quantia substancial,
o abandono da obra representa, geralmente, um problema sério. Quando
isso acontece, é indispensável enviar ao empreiteiro uma carta registada
com aviso de receção, dando-lhe um prazo curto para retomar os traba-
lhos, de acordo com o combinado. Se estes não forem reiniciados, o dono
da obra considera o abandono definitivo e fica livre para contratar outro
empreiteiro e exigir ao anterior uma indemnização por todos os prejuízos
sofridos. Se a indemnização não for paga voluntariamente, consulte um
advogado e, se necessário, avance para tribunal. A ação em tribunal é par-
ticularmente importante quando o empreiteiro entra em processo de falên-
cia, pois dá ao dono da obra alguma esperança de vir a recuperar, se não
a totalidade dos prejuízos, pelo menos uma parte do seu valor, através da
penhora do património do empreiteiro, que terá de repartir com outros
eventuais credores.

97
A Defenda os seus direitos

Vizinhança
88  
Tenho um litígio com um vizinho, que regularmente me invade a propriedade
alegando estar nas suas terras. Como sei exatamente quais são os limites do
meu terreno, posso erguer um muro de separação?

Sim. O direito de demarcação pode ser exercido a qualquer momento e


consiste na possibilidade de o proprietário de um terreno o delimitar dos
terrenos vizinhos, podendo, nalguns casos, ir a tribunal para obrigar os
donos desses terrenos a, com ele, suportarem as despesas daí decorren-
tes. A demarcação concretiza-se, muitas vezes, pela colocação de marcos
— elementos de pedra ou cimento — nos ângulos de uma propriedade.
Mas pode também ser feita através de valas e sebes ou da construção de
muros. Não sendo possível a construção conjunta do muro de separa-
ção, com o seu vizinho, ainda assim este pode ser obrigado a tornar-se
comproprietário dele, pagando metade do seu valor e metade do valor
do solo em que esteja implantado. Terá de contribuir para a sua con-
servação, podendo, caso se recuse, ser obrigado a pagar a parte que lhe
compete por meio de ação judicial. O tribunal é também a via a seguir se
os vizinhos não chegarem a acordo quanto às fronteiras das respetivas
propriedades.

89  Os ramos das árvores do meu vizinho pendem para a minha propriedade
e, como a minha casa está junto ao muro que separa os terrenos, fico com
pouca luz. Já alertei o vizinho para resolver o problema, mas ele nada fez. Posso ser
eu a cortar os ramos por minha iniciativa?

Sempre que os ramos de árvores de um quintal vizinho pendem para uma


propriedade, ultrapassando o plano vertical do muro que delimita os terre-
nos, é possível proceder ao corte dos mesmos. De facto, sucede muitas vezes
que esses ramos, pelo seu tamanho e folhagem, tapam a luz aos quintais e
casas vizinhas, com os incómodos daí resultantes. O proprietário prejudi-
cado poderá, então, solicitar que o dono das árvores corte os ramos que
pendem para fora do seu terreno ou, se ele se recusar a fazê-lo, enviar-lhe
uma carta registada com aviso de receção, dando-lhe um prazo de três dias
para proceder ao corte. Se, no prazo definido, o vizinho nada fizer, o pro-
prietário prejudicado pode proceder diretamente ao corte dos ramos que
entram na sua propriedade, não tendo de pagar qualquer indemnização.
Poderá mesmo pedir ao dono das árvores que lhe restitua os montantes
eventualmente despendidos com essa operação.

98
A Propriedade e vizinhança

90  
Posso passar pelo terreno do meu vizinho para chegar à minha propriedade,
que não tem acesso pela via pública?

Em princípio, sim. Mas só se as regras estabelecidas para a servidão do ter-


reno forem respeitadas. A servidão é uma obrigação que o dono de uma
propriedade tem para com o dono de uma outra propriedade que faz fron-
teira com a sua. A mais importante das servidões é a de passagem. Sempre
que exista uma propriedade sem comunicação ou com comunicação insufi-
ciente para a via pública e não existam condições para a estabelecer, o seu
proprietário pode exigir a passagem por um terreno vizinho, no lugar e da
maneira que permitam fazê-lo com o mínimo de inconvenientes. O proprie-
tário deste último terreno não pode opor-se a isso, embora lhe esteja reser-
vada a possibilidade de ser indemnizado pelos prejuízos que vier a sofrer.
Assim, é necessário verificar no local qual a melhor forma de proporcio-
nar o acesso, com o mínimo de complicações e prejuízos para os vizinhos.
Em caso de litígio, o tribunal definirá o local e os meios mais adequados,
estabelecendo também que o proprietário ou os proprietários dos terrenos
obrigados a permitir a passagem sejam indemnizados pelos prejuízos daí
resultantes.

91  
Um vizinho ocupou parte do meu quintal, sem que eu lhe desse autorização,
e não acatou as minhas exigências para o abandonar. Poderá aquela parte
do quintal passar a pertencer‑lhe, se eu deixar passar demasiado tempo sem fazer
mais nada?

Sim, de facto, existe o risco de o seu vizinho adquirir essa parte do quintal
por usucapião. A posse de determinada coisa (móvel ou imóvel), mantida
por certo tempo, permite ao possuidor a aquisição efetiva do direito de pro-
priedade. Como, na maioria das vezes, a posse de uma coisa se determina
pelo facto de alguém se comportar, aos olhos da comunidade, como seu
proprietário, ao fim de certo tempo essa pessoa passa a ser o proprietário
efetivo, mesmo que a coisa pertencesse originalmente a outrem. É a isto
que se chama aquisição por usucapião. Para que essa aquisição do direito de
propriedade se verifique, é necessário que:
— exista uma posse e que esta seja pública e pacífica, ou seja, que ninguém
a conteste de forma formal (envio de carta, ação em tribunal);
— o direito à posse possa ser adquirido por esta via (por exemplo, o direito
de usar uma habitação não admite a usucapião);
— a posse se tenha mantido pelos prazos definidos na lei.

Algumas regras variam consoante se trate de bens móveis ou imóveis (veja o


esquema Quando se aplica a usucapião?, nas páginas seguintes). No entanto,

99
A Defenda os seus direitos

num caso como noutro, existindo posse violenta ou oculta (se algo foi rou-
bado, por exemplo, mas não se souber por quem), os prazos só começam
a contar a partir do momento em que a violência cesse ou a posse se torne
pública. Tratando-se de bens móveis, se passarem para a posse de terceiros
que desconhecem como foram obtidos, podem adquirir o direito de posse:
— quatro anos após a data indicada no título de propriedade, se este existir;
— sete anos após terem comprovadamente recebido o bem, se não existir
título de propriedade.

QUANDO SE APLICA A USUCAPIÃO?

Bens
imóveis

O novo
proprietário Não há título
tem um título de posse, mas é Não há título nem é
de aquisição do possível determinar a possível provar a data
imóvel registado na data a partir da qual de início da posse
conservatória do ela existe
registo predial

10 anos 15 anos após 5 anos após 10 anos 15 anos após 20 anos após
após a data após a data de posse de posse a data em a reivindicação
do registo, do registo, continuada, continuada, que é feita a da posse,
se estiver de se estiver havendo em caso de reivindicação em caso de
boa-fé (por de má-fé ou boa-fé má-fé da posse, má-fé
exemplo, tiver existido havendo
se não souber negligência boa-fé
que o imóvel grosseira (por
pertencia a exemplo, não
outra pessoa) tentou saber
se a coisa
pertencia a
outra pessoa)

100
A Propriedade e vizinhança

Sempre que não exista título de aquisição nem registo de posse, esta pode
ser provada por testemunhas. Caso estas também não existam, não é possí-
vel provar a posse e, então, quem alega a usucapião não terá direitos sobre
o bem em causa. Deve também ter-se em conta que, tanto para imóveis
como para bens móveis, quando é invocada a usucapião, os seus efeitos
contam a partir da data de início da posse. Assim, quem seja confrontado
com a possibilidade de perder um bem de que é proprietário, porque
alguém o ocupa ou o tem em seu poder, deve consultar de imediato um

Bens
móveis…

… sujeitos a registo … não sujeitos a


(automóveis, barcos e registo (todos os
aeronaves) outros)

Existe
título de Não há
aquisição e registo de
registo deste posse

2 anos após a 4 anos após a após 10 anos de posse 3 anos após a 6 anos após
data do título, data do título, continuada, independen- data do título, o início da
havendo em caso de temente de boa-fé e da havendo boa-fé posse, se não
boa-fé má-fé existência de título e justo título existir título

101
A Defenda os seus direitos

advogado, para que este o apoie na queixa às autoridades policiais e no


processo subsequente.

92  
Os latidos do cão dos meus vizinhos acordam‑me frequentemente durante a
noite. O que posso fazer?

Estando a ser prejudicado pelo comportamento ruidoso dos vizinhos ou dos


seus animais, tente resolver o problema dialogando com os próprios e com o
senhorio destes, no caso de serem inquilinos da casa onde habitam, ou com
o administrador do condomínio. Se o diálogo não for eficaz, recorra à PSP,
à GNR ou à polícia municipal. Em último caso, pode recorrer aos tribunais
para obrigar os faltosos a encontrarem uma forma de resolver o problema.
A lei determina que, entre as 23h00 e as 7h00, não podem ser emitidos
ruídos que incomodem os vizinhos, e que quaisquer obras só podem ser
realizadas nos dias úteis, entre as 8h00 e as 22h00. No entanto, isto não
significa que, fora destes horários, se possa fazer todo e qualquer ruído.
Assim, independentemente do horário em que estes ocorram, poderá recor-
rer a todos os meios atrás indicados para pôr termo a ruídos persistentes e
incomodativos.
Se, em vez do ruído associado ao uso habitacional e às atividades que lhe são
inerentes, estiver em causa o que é produzido por estabelecimentos notur-
nos devidamente licenciados, e estes cumprirem as regras a que estão obri-
gados no que respeita à hora de fecho e eventual insonorização do espaço,
pouco ou nada poderá fazer a não ser apresentar uma reclamação à câmara
municipal. Em princípio, só em caso de desordem pública ou de alguma
outra situação atípica valerá a pena chamar a polícia.

93  
A minha vizinha do andar de cima tem o hábito de fazer grelhados num
suporte por cima do estendal e já por várias vezes me estragou roupa
estendida. Apesar de lhe ter chamado a atenção para o facto, continua a fazê‑lo,
sem sequer me avisar. O que posso fazer para a impedir?

Lançar detritos sobre as varandas dos vizinhos, e ainda ignorar as chamadas


de atenção de quem se sente lesado, é uma enorme falta de civismo. A lei
proíbe esta violação da propriedade alheia, tal como a emissão de fumo,
vapores, ruídos, cheiros e outras ações que prejudiquem a vizinhança.
Em caso de danos, pode mesmo puni-las e, justificando-se, atribuir uma
indemnização ao lesado que faça prova dos prejuízos sofridos. Assim, guarde
a prova desses danos (a roupa estragada, neste caso) e, se outras pessoas
tiverem presenciado a ocorrência, pergunte-lhes se estão disponíveis para
testemunhá-lo, caso tal se revele necessário. Recorra ao julgado de paz da

102
A Propriedade e vizinhança

área do prédio, se existir, ou aos tribunais. Para evitar estas situações, mui-
tos regulamentos de condomínio incluem normas sobre o que (não) pode
fazer-se e as sanções a aplicar a quem provoque danos nas partes comuns
ou na propriedade de outros vizinhos. Todos os residentes no prédio, pro-
prietários ou inquilinos, devem obediência ao regulamento aprovado em
assembleia de condóminos.

Condomínio
94  
Uma das arrecadações do prédio onde habito é usada para armazenar
recipientes com gasolina. Isto é legal?

Por evidentes questões de segurança, não é permitido armazenar em


prédios de habitação (incluindo as respetivas garagens e arrecadações)
líquidos e combustíveis que inflamem a temperaturas inferiores a 21ºC.
É o caso da gasolina. Se tal acontecer, o responsável pode ser alvo de um
processo criminal. Assim, a primeira coisa a fazer é contactar o proprietá-
rio e enviar-lhe uma carta registada com aviso de receção, para que este
proceda à sua remoção imediata. Se o proprietário não acatar o pedido,
ou existir urgência, o condomínio deve contactar as autoridades policiais
(GNR ou PSP).
Também é possível recorrer ao julgado de paz da área ou dar entrada de
uma ação em tribunal, para obrigar o proprietário da fração a retirar os
materiais e a indemnizar os restantes condóminos pelos prejuízos sofridos,
em que podem incluir-se os custos da ação e os honorários do advogado.

95  
Moro num rés‑do‑chão, razão pela qual nunca utilizo o elevador. Assim
sendo, terei de contribuir para as suas despesas de manutenção?

O critério para atribuição destas despesas é a possibilidade de uso. Assim,


os proprietários de frações situadas no rés-do-chão só não pagarão as des-
pesas de manutenção e conservação dos elevadores se não puderem utilizá-
-los como forma de acesso à respetiva fração — quando a entrada desta se
situa ao nível da parte inferior do percurso dos elevadores — nem existirem
garagens ou terraços. Mas, se puderem utilizar o elevador para acederem
a um terraço de cobertura ou a uma arrecadação ou garagem, mesmo que
aleguem fazê-lo sempre pela escada, já terão de pagar.

103
A Defenda os seus direitos

96  
Como são repartidas as despesas de condomínio pelos vários condóminos?

Regra geral, a divisão das despesas comuns de um prédio constituído em


propriedade horizontal é feita de acordo com a permilagem. Ou seja, cada
condómino paga-as na proporção do valor da sua fração. No título consti-
tutivo da propriedade horizontal consta, geralmente, a permilagem ou per-
centagem de cada fração, que é calculada em relação à área total do edifício.
Este documento contém os dados relativos a cada prédio e pode ser consul-
tado na conservatória do registo predial da zona do edifício. Se o prédio for
antigo, a permilagem das frações pode não estar identificada. Nesse caso,
é preciso medir a área de cada fração e a área total do prédio. Se uma fração
tem, por exemplo, 67,5 m2 e o prédio tem um total de 2250 m2, a permila-
gem dessa fração será de 30‰, de acordo com o seguinte cálculo:

67,5 × 1000 = 67 500
2250 ÷ 67 500 = 0,03 (ou seja, 30 por mil)

Este condómino terá de pagar uma proporção de 30‰ das despesas totais.
Ou seja, se a despesa for de quatro mil euros, o condómino paga 120 euros
(4000 × 0,03). Nada impede, no entanto, que se estabeleçam esquemas de
pagamento diferentes. A lei admite que tanto as despesas de conservação
e manutenção das partes comuns (pintura da fachada, arranjo do telhado,
etc.) como as relacionadas com os serviços de interesse comum (por exem-
plo, elevadores, porteira, limpeza de escadas) sejam suportadas em partes
iguais. Porém, para que isso aconteça, deve estar expressamente previsto no
regulamento do condomínio ou, em alternativa, numa ata da assembleia de
condóminos que especifique claramente os critérios que levaram à reparti-
ção das despesas. Para serem válidos, tanto o regulamento como a ata que
estipulem algo diferente da regra geral devem ter sido aprovadas por um
grupo de condóminos que represente, pelo menos, dois terços do valor
do prédio, sem qualquer voto em contrário. Ou seja, alguns condóminos
podem abster-se, mas nenhum pode votar contra.

97  O meu terraço, que só eu uso, mas serve de cobertura às frações situadas por
baixo, tem infiltrações. Os vizinhos não querem comparticipar nas despesas
de reparação, alegando que, como sou o único utilizador, só eu tenho de suportar
esses custos. Será mesmo assim?

Esse raciocínio só é válido para determinar o valor das quotas de condo-


mínio a pagar, as quais, como vimos na questão anterior, têm em conta a
permilagem de cada fração no total do edifício, ou seja, a área total de cada

104
A Propriedade e vizinhança

proprietário. No entanto, as despesas com a conservação dos terraços de


cobertura devem ser suportadas por todos os condóminos. De facto, estes
terraços protegem todas as frações que se encontram por baixo e são con-
siderados partes comuns, ainda que sejam de uso exclusivo de um condó-
mino. Nesse sentido, havendo infiltrações ou outros danos que ponham em
risco a proteção do edifício, as obras necessárias à sua impermeabilização
ou reparação são da responsabilidade de todos. O condómino com uso
exclusivo só terá de suportar sozinho as despesas relativas à manutenção
do piso (por exemplo, limpeza ou colocação de azulejos decorativos) e aos
danos que tiverem sido provocados por uma utilização indevida.

98  O administrador do condomínio onde habito é incompetente: não paga


as contas a tempo, não exige o pagamento das contribuições para a
conservação das partes comuns, etc., o que já trouxe prejuízos a todos os
condóminos. Como podemos responsabilizá‑lo pela sua inércia?

O administrador de um prédio constituído em propriedade horizontal tem


uma série de obrigações:
— cobrar as receitas e pagar as despesas comuns;
— exigir dos condóminos a sua contribuição para as despesas;
— conservar as partes comuns;
— convocar a assembleia de condóminos;
— executar as deliberações da assembleia;
— representar o condomínio perante terceiros;
— elaborar um orçamento das despesas e receitas;
— efetuar e manter em dia o seguro contra incêndios do edifício ou assegu-
rar-se de que todos os condóminos seguraram a sua fração.

Na sua atividade, o administrador deve atuar com zelo e diligência, dedi-


cando a estas funções o tempo necessário para que o condomínio seja bem
gerido. Infelizmente, nem sempre o administrador corresponde às expec-
tativas dos condóminos. A sua atuação pode desagradar-lhes ou até ser
prejudicial aos seus interesses. Quando isso acontece, a solução pode pas-
sar pela exoneração, ou seja, a destituição do administrador. Nesse caso,
o procedimento é, de certa forma, semelhante ao que leva à sua designa-
ção. Primeiro é necessário convocar a assembleia de condóminos, sendo
que a intenção de exonerar o administrador e designar outro deve constar
da ordem de trabalhos. Esta assembleia pode ser convocada por um grupo
de condóminos que representem, pelo menos, 1/4 do valor investido no edi-
fício (para fazer o cálculo, é necessário verificar a permilagem de cada um
na escritura de constituição do prédio em propriedade horizontal). Depois,
bastará votar favoravelmente a proposta de exoneração, por maioria simples

105
A Defenda os seus direitos

dos presentes, e registar o resultado na ata. Se não for possível reunir um


número de condóminos suficiente para fazer a convocatória, qualquer con-
dómino, isoladamente, tem legitimidade para requerer ao tribunal que
afaste o administrador faltoso. Se ficar demonstrado que o administrador
praticou irregularidades ou agiu com negligência no exercício das suas fun-
ções, o próprio tribunal pode decretar a exoneração e, em certas circunstân-
cias, obrigá-lo a indemnizar o condomínio.

Outros bens
99  
Emprestei a minha bicicleta todo‑o‑terreno a um amigo, que se recusa a
devolvê‑la. Como poderei reavê‑la?

Comece por enviar-lhe uma carta registada com aviso de receção, dando
um prazo curto para que a devolução seja feita: podem ser cinco ou 15 dias,
por exemplo. A fixação do prazo depende apenas das circunstâncias em que
a entrega pode ter lugar. Assim, se o seu amigo pode fazê-lo rapidamente,
não vale a pena dar um prazo longo. E se, mesmo assim, ele não devolver
a bicicleta, apresente uma ação no julgado de paz da sua área de residên-
cia ou, em alternativa, na do seu amigo. Se não existir um em nenhuma
destas áreas, pode, eventualmente, recorrer ao tribunal. Para ir a tribunal,
se não tiver meios económicos para custear as despesas do processo, pode
requerer apoio judiciário na Segurança Social. Assim, não terá de pagar os
honorários do advogado nem as custas judiciais. Caso tenha recursos eco-
nómicos para suportar todas as custas, mas a bicicleta for de valor muito
inferior ao que teria de despender, considere se vale ou não a pena avançar
com o processo. Claro que, depois de este estar concluído, será reembol-
sado pela parte faltosa. Ainda assim, tendo em conta o tempo que tudo irá
provavelmente demorar, pode não valer a pena. Independentemente destas
diligências, se vier a encontrar a bicicleta na rua, porque o alegado amigo a
esqueceu por momentos, pode levá-la consigo.

100  
Encontrei um relógio na rua. Como não tem qualquer identificação, poderei
ficar com ele?

Quem encontra um objeto que não sabe a quem pertence deve divulgar o
achado e avisar as autoridades. Se, no prazo de um ano a contar do anúncio,

106
A Propriedade e vizinhança

ninguém reclamar o objeto, este pode ficar para quem o achou. Mas, se o
proprietário vier a reclamá-lo, o achador tem direito a uma compensação
relativa a eventuais prejuízos ou despesas. Por outro lado, se alguém des-
cobre um bem perdido por uma pessoa que é possível identificar e não lho
comunica, com a intenção de ficar com ele para si, arrisca-se a que o pro-
prietário venha a saber e exija a sua restituição, se necessário, através do
tribunal. O proprietário do bem achado e não devolvido pode também apre-
sentar queixa a qualquer entidade policial (PSP ou GNR) ou ao Ministério
Público, num tribunal, já que tal conduta poderá configurar um crime.

107
A
A

Capítulo 5

Arrendamento
A Defenda os seus direitos

Contratos
101  
O senhorio pede-me para ambos definirmos, no contrato de arrendamento,
o estado da casa que pretendo arrendar. O que devo fazer e quais as
consequências?

Os contratos de arrendamento nem sempre mencionam o estado da casa


(ou estado do locado). Contudo, esta menção é muito útil, porque permite
saber, a qualquer momento, em que condições o senhorio a entregou ao
inquilino. A descrição do estado da casa pode ser feita em termos genéricos,
como “bom estado de conservação”, “estado razoável” ou “a necessitar de
pequenas reparações”. Mas, havendo algo a salientar, pode ser aconselhá-
vel fazer uma descrição mais detalhada do estado das paredes, pavimentos,
tetos, canalizações, loiças sanitárias e instalação elétrica, além de eventuais
móveis ou equipamento de cozinha. Devem indicar-se, sempre que existam,
as falhas de pintura ou estuque, os buracos nas paredes resultantes de pre-
gos ou de outros objetos, os canos com roturas e humidades várias. Para
que não restem dúvidas sobre a interpretação de algum defeito, pode ser
útil tirar fotografias, ficando uma cópia para o senhorio e outra para o inqui-
lino, o que permitirá identificar facilmente a natureza, local e extensão dos
defeitos.
Todos os documentos referentes ao estado do locado devem ser anexados ao
contrato de arrendamento, mencionando-se que passam a fazer parte inte-
grante deste. Assim, o senhorio não pode vir a responsabilizar o inquilino
por qualquer defeito que já existisse antes de este ter ido morar para a casa.
Do mesmo modo, se o senhorio, ao inspecioná-la, verificar que o inquilino
provocou algum dano, disporá de um meio para provar que esse defeito não
existia quando o contrato se iniciou. Trata-se, portanto, de um documento
extremamente útil, que beneficia senhorio e inquilino. Na sua ausência, pre-
sume-se que o imóvel estava em boas condições no momento do contrato.
Se tal não era o caso, será necessário provar quais os defeitos então existen-
tes, o que poderá ser, senão impossível, pelo menos muito difícil.

102  
Quais são as minhas obrigações como senhorio?

O senhorio tem vários deveres, dos quais se destacam entregar as chaves ao


inquilino, passando este a ser o único utilizador do espaço, instalar as estru-
turas necessárias ao uso do imóvel (água, luz e gás) e realizar as obras de
manutenção e conservação necessárias (veja, a este respeito, as perguntas

110
A

Imóvel sito em Rua dos Eucaliptos, n.º


62, 3.º Dto., concelho de Caldas da Rainh
a.
Características do imóvel:
Número de divisões: 4
Garagem
Arrecadação
(a ser o caso, indicar as restantes áreas
)
Quartos    Bom estado de cons
ervação.
Soalho
Paredes
Teto
Janelas (caixilharia, por exemplo)
Roupeiro
Instalação elétrica

Sala
Soalho    Verniz danificado em vários
pontos.
Paredes
Teto
Janelas (caixilharia, por exemplo)
Instalação elétrica

Cozinha
Soalho
Paredes    A requerer pintura.
Teto
Janelas (caixilharia, por exemplo)
Lava-louça
Bancadas

Casas de banho
Soalho
Paredes    Dois azulejos rachados
junto à bacia.
Teto
Janelas (caixilharia, por exemplo)
Louças sanitárias

Varandas    Bom estado de cons


ervação.
Soalho
Paredes

Caldas da Rainha, 6 de dezembro de 2021

(Assinaturas)
A Defenda os seus direitos

118 e 119). Se a casa apresentar defeitos de tal ordem que comprometam a


sua normal utilização (canalizações que não funcionem, problemas elétri-
cos, infiltrações de água quando chove, etc.) e o senhorio não conseguir
demonstrar que os desconhecia ou que o inquilino sabia da sua existência,
o contrato fica sem efeito e tem de devolver ao inquilino todas as quantias
entretanto pagas, incluindo as rendas e outras despesas que tenha tido com
o imóvel. O mesmo é válido se o problema vier a surgir devido à incúria do
senhorio, por exemplo, por não ter procedido a reparações que evitariam a
situação, sabendo da iminência do problema.

103  
Como senhorio, queria pôr fim a um contrato de arrendamento que celebrei
há alguns anos. Quando poderei fazê-lo?

A lei protege o inquilino e, nesse sentido, visa a estabilidade dos contra-


tos de arrendamento. Por regra, os prazos definidos nos contratos para
habitação ou comércio, indústria, profissões liberais ou atividades não
lucrativas são de renovação automática. O que significa que, uma vez
terminados, se renovam por períodos de igual duração, a menos que as
partes cheguem a acordo quanto ao fim do contrato, o inquilino deixe de
cumprir as suas obrigações (veja a caixa Quais são os deveres do inquilino?,
na página seguinte) morra ou lhes ponha termo nos prazos legais.
Nos contratos de prazo certo, o senhorio não pode opor-se à renovação
do contrato nos primeiros três anos e, decorrido este período, só pode
fazê-lo depois de comunicar a sua intenção por escrito, com uma antece-
dência mínima que varia em função da duração do contrato ou da reno-
vação (veja o quadro abaixo). Se não respeitar o prazo legal, o contrato é
renovado.

PRAZOS LEGAIS PARA CESSAÇÃO DO CONTRATO A TERMO


CERTO PELO SENHORIO
Duração do contrato ou da renovação Antecedência mínima da notificação
6 anos ou mais 240 dias
1 a 6 anos 120 dias
6 meses a 1 ano 60 dias
Inferior a 6 meses 1/3 do prazo de duração inicial ou da renovação

Já os contratos de duração indeterminada podem cessar quando o senhorio


pretenda demolir o prédio ou realizar obras que obriguem à desocupação
do imóvel e alterem as suas características (o número de divisões, por exem-
plo). Se o contrato de arrendamento que celebrou é deste tipo, também

112
A Arrendamento

poderá terminá-lo se necessitar da casa para sua habitação própria ou para


ser habitada por um filho. Terá de ser proprietário, comproprietário ou usu-
frutuário há mais de dois anos e não ter, há mais de um ano, na mesma loca-
lidade (ou, tratando-se de Lisboa ou Porto, na mesma comarca e zonas limí-
trofes), casa própria que satisfaça essas necessidades de habitação. O prazo
de dois anos só não se aplica se tiver herdado o imóvel. A cessação do con-
trato não é imediata e tem custos: terá de avisar o inquilino, pelo menos,
seis meses antes da data pretendida para a desocupação, e pagar-lhe uma
compensação equivalente a um ano de renda. Além disso, terá de a ocupar

QUAIS SÃO OS DEVERES DO INQUILINO?


Se o inquilino não cumprir os seus deveres, o senhorio pode pôr fim ao contrato.
Dependendo do incumprimento em causa, terá de recorrer ao tribunal, através de
uma ação de despejo, ou apenas ao Balcão Nacional de Arrendamento. Designada-
mente, o inquilino não pode:
— deixar de pagar a renda;
— usar o imóvel para fins diferentes dos previstos no contrato de arrendamento;
— usar o local arrendado de forma imprudente, desrespeitando a lei, os bons costu-
mes ou a ordem pública;
— danificar o imóvel ou realizar obras sem o consentimento do senhorio, exceto se
estas forem manifestamente urgentes;
— ter contratos de hospedagem com mais de três pessoas;
— subarrendar ou ceder gratuitamente o imóvel, sem consentimento do senhorio;
— cobrar ao subarrendatário uma renda 20% superior à que é paga ao senhorio;
— nos casos em que existe prestação de serviço, deixar de prestar ao senhorio os ser-
viços pessoais determinantes da ocupação da casa (enfermagem ou lida da casa,
por exemplo);
— manter a casa desabitada por mais de um ano ou nela não ter residência perma-
nente, exceto se a ausência se dever a casos de força maior ou doença, ao cumpri-
mento de deveres militares ou profissionais do próprio, do cônjuge ou da pessoa
com quem viva em união de facto e não durar por mais de dois anos. A ausência
do inquilino também não fundamenta o despejo se a casa estiver a ser utilizada por
um membro do agregado familiar, ou por qualquer outra pessoa autorizada pelo
senhorio, há mais de um ano ou, ainda, se dever à prestação de apoios continua-
dos a pessoas com um grau de incapacidade superior a 60%;
— recusar ao senhorio a inspeção do imóvel e a realização das obras necessárias, bem
como desrespeitar as restrições que, nos prédios constituídos em propriedade hori-
zontal, tenham sido definidas pelos condóminos relativamente ao uso da fração e
das partes comuns. Se a realização das obras implicar que saia da casa, o proprie-
tário terá de indemnizá-lo pelas despesas que isso provocar ou pagar-lhe a estadia
numa habitação alternativa;
— restituir a casa no fim do contrato.

113
A Defenda os seus direitos

no prazo máximo de três meses após a saída do inquilino e aí permanecer,


pelo menos, durante dois anos. Não sendo estes os fundamentos para pôr
fim ao contrato, resta-lhe comunicar ao inquilino a intenção de denunciar o
contrato com uma antecedência de cinco anos.

104  
Comprei duas garagens, que arrendei a particulares. Posso pôr termo a estes
contratos quando quiser?

A lei define que as regras relativas à duração, denúncia e oposição à reno-


vação dos contratos para fins não habitacionais são livremente estipuladas
pelas partes. A título exemplificativo, podem definir que o contrato tem a
duração de dois anos e que, para o denunciar, bastará que qualquer das
partes envie à outra uma carta registada, com a antecedência de dois meses.
Do mesmo modo, senhorio e inquilino podem, e devem, estabelecer o
regime aplicável às rendas — se não o fizerem, as rendas serão atualizadas
de acordo com o coeficiente publicado anualmente em Diário da República,
por norma em outubro. Se o contrato nada disser quanto à sua duração,
considera-se que é de prazo certo pelo mínimo de cinco anos. Independen-
temente do prazo, o senhorio não pode opor-se à renovação durante os pri-
meiros cinco anos, mas o inquilino pode denunciá-lo depois de decorrido o
primeiro ano. Não acontecendo uma coisa nem outra, o contrato renova-se
automaticamente, também pelo mínimo de cinco anos ou, se o prazo inicial
for superior, por períodos de igual duração.

105  
O senhorio quer obrigar-me a mostrar a casa onde moro a potenciais
inquilinos, desde que lhe comuniquei que ia mudar de casa. Não estou
disponível para isso nas horas que ele exige. Posso recusar-me a fazê-lo nessas
condições?

Quando o senhorio ou o inquilino põem termo ao contrato, o inquilino fica


sujeito a determinadas obrigações. Nomeadamente, tem de desocupar a
casa e entregá-la ao senhorio depois de reparar eventuais danos que tenha
causado. Outra obrigação imposta ao inquilino é facilitar a colocação de
anúncios na varanda ou na janela a indicar que a casa está disponível para
arrendamento.
Nos três meses que antecedem a desocupação, o inquilino deve mostrar a
casa a quem esteja interessado em arrendá-la. Essas visitas terão lugar no
horário combinado entre senhorio e inquilino. Se não chegarem a acordo
sobre os horários de visita, o inquilino é obrigado, por lei, a mostrar a casa
entre as 17h30 e as 19h30, nos dias úteis, e entre as 15h00 e as 19h00, aos
sábados, domingos e feriados.

114
A Arrendamento

106  
Sou inquilino e pretendo sair da casa onde habito. O que devo fazer para pôr
termo ao contrato?

Independentemente do tipo de contrato que tiver, não está obrigado a ficar


na casa durante o período previsto e só terá de pagar a renda até ao final
do último mês em que aí residir. Para terminar o contrato, basta comuni-
car ao senhorio a data em que pretende fazê-lo, através de carta registada
com aviso de receção. No entanto, o prazo para fazer esta comunicação já
depende do tipo de contrato. Se este for de prazo certo, por exemplo, com
a duração de um ano ou superior, mas inferior a seis anos, terá de enviar a
carta, pelo menos, 90 dias antes do final do contrato (veja os restantes pra-
zos no quadro abaixo). O termo só será possível depois de decorrido 1/3 do
prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação e ocorrerá sempre
no último dia do mês.
Nos contratos de duração indeterminada, o inquilino pode pôr fim ao arrenda-
mento após seis meses de duração efetiva, sem ter de apresentar uma justifica-
ção. Mas terá de comunicar a sua intenção ao senhorio, pelo menos, 120 dias
antes do termo pretendido, se, à data da comunicação, o contrato durar há um
ano ou mais, ou de 60 dias, se este tiver durado menos de um ano. Também
aqui terá de pagar a renda até ao final do mês em que terminar o prazo.
Tanto nos contratos a prazo certo como nos de duração indeterminada,
se não respeitar a antecedência a que está obrigado, só não terá de pagar
os meses de pré-aviso em falta excecionalmente, se a urgência de terminar
o contrato se dever a desemprego involuntário, incapacidade permanente
para o trabalho ou morte do inquilino ou de quem com ele vivesse em eco-
nomia comum há mais de um ano.

PRAZOS LEGAIS PARA CESSAÇÃO DO CONTRATO A TERMO


CERTO PELO INQUILINO
Duração do contrato ou da renovação Antecedência mínima da notificação
6 anos ou mais 120 dias
1 a 6 anos 90 dias
6 meses a 1 ano 60 dias
Inferior a 6 meses 1/3 do prazo de duração inicial ou da renovação

107  
Separei-me do meu namorado e ele saiu da casa onde morávamos, que era
arrendada. O contrato está apenas em nome dele. Poderá o senhorio exigir
que eu saia?

Pode. Na união de facto, que só é reconhecida legalmente se durar há mais


de dois anos, convém que o contrato de arrendamento seja assinado pelos

115
A Defenda os seus direitos

dois membros do casal. Se iniciarem a vida em comum na casa onde um


deles já era inquilino, este pode propor que o outro seja incluído no con-
trato, para ficarem ambos com direitos sobre o imóvel. Para fazer a altera-
ção, será necessária uma renegociação do contrato, possivelmente com um
aumento da renda.
Sendo ambos inquilinos, se um deles deixar a casa, o contrato permanece
inalterado em relação ao que ficou. Mas, se o contrato estiver apenas em
nome de um, o outro fica desprotegido, podendo ter mesmo de sair, se o
senhorio assim o entender e uma eventual ação em tribunal não alterar esse
desfecho. Excetuam-se as situações em que o casal tem filhos, já que o con-
trato poderá ser-lhes transmitido. Se o inquilino falecer, o companheiro tem
direito a transmissão do arrendamento, mas só se habitar na casa há mais
de um ano e o inquilino não fosse casado com outra pessoa (veja a próxima
questão).

108  Tenho um andar arrendado a um senhor de idade, que está muito doente e,
segundo me disseram as pessoas que com ele habitam, poderá falecer em
breve. Se isso acontecer, o contrato de arrendamento termina?

Depende das circunstâncias. Quando morre o inquilino, o contrato pode ter-


minar por caducidade. É o que acontece se aquele vivesse sozinho na habita-
ção ou, vivendo com outras pessoas, estas não tiverem direito à transmissão
do arrendamento (neste caso, podem tentar negociar um novo contrato com
o senhorio). Para que o arrendamento seja transmitido às pessoas que habi-
tavam com o inquilino, é necessário que isso esteja previsto no próprio con-
trato ou que a lei determine que a isso têm direito. E a lei difere consoante
o contrato seja anterior ou posterior a 28 de junho de 2006, data em que foi
publicado o Novo Regime do Arrendamento Urbano (nrau).

Nos contratos mais recentes, o arrendamento pode ser transmitido às


seguintes pessoas e pela ordem indicada:
— cônjuge sobrevivo com residência no imóvel ou pessoa que com o inqui-
lino vivesse em união de facto há mais de um ano;
— pessoa que vivesse em economia comum com o inquilino há mais de um
ano. Havendo mais do que uma, terá prioridade o parente ou afim mais
próximo ou, por fim, a mais velha das pessoas com quem vivesse em eco-
nomia comum.

Já nos contratos anteriores a 28 de junho de 2006, a transmissão é efetuada


pela seguinte ordem de prioridades:
— cônjuge sobrevivo com residência no imóvel ou pessoa que com o

116
A Arrendamento

inquilino vivesse em união de facto há mais de dois anos e residisse no


imóvel há mais de um ano;
— ascendentes (pai ou mãe) que vivessem com o inquilino há mais de um
ano;
— filhos ou enteados com menos de um ano ou que vivessem com o inqui-
lino há mais de um ano, se forem menores de idade. Se frequentarem
o 11.º ou o 12.º ano de escolaridade ou um estabelecimento de ensino
médio ou superior, bastará que tenham menos de 26 anos;
— filhos ou enteados que vivessem com o inquilino há mais de um ano e
tenham um grau de deficiência igual ou superior a 60%;
— filhos ou enteados, com 65 anos ou mais e baixos rendimentos, que vives-
sem com o inquilino há mais de cinco anos.

O contrato será transmitido exatamente nas mesmas condições do original,


incluindo a data em que se iniciou e o valor da renda. Quem preencher as
condições referidas e pretender a transmissão do arrendamento terá de
comunicar ao senhorio o falecimento do inquilino e a sua pretensão à trans-
missão. Deve fazê-lo por carta registada com aviso de receção, até três meses
depois do óbito, e juntar a certidão de óbito, uma prova do parentesco
com o falecido (por exemplo, certidão de casamento ou de nascimento) e,
se necessário, indicação de testemunhas que atestem que viviam em econo-
mia comum. Se não respeitar este prazo, poderá ter de indemnizar o senho-
rio pelos danos derivados da omissão. Se o inquilino falecer e não houver
transmissão do contrato, os herdeiros têm seis meses, após a sua morte,
para levantarem os bens que ele tinha em casa.

109  Sou inquilino da fração onde habito há já 20 anos. Agora o senhorio


comunicou-me que vai vender a casa a um familiar. Será que também posso
fazer uma proposta de compra da casa?

Sim. Até porque bastaria ser inquilino há mais de dois anos para ter direito
de preferência na venda da habitação. Quando o senhorio pretende vender
uma casa que está arrendada, tem de informar o inquilino, por escrito, das
condições e termos da venda acordada com o potencial comprador. O inqui-
lino tem 30 dias, a contar da data em que recebeu a carta, para lhe comu-
nicar se quer comprar a casa. Se for o caso e cumprir as condições acorda-
das com o potencial comprador, pode exercer o direito de preferência. Se o
senhorio não respeitar esse direito, o inquilino tem seis meses, desde a data
em que recebeu a carta, para pôr uma ação em tribunal que o obrigue a
fazê-lo. Até 15 dias depois de ter proposto a ação, terá de depositar o valor
da venda do imóvel à ordem do tribunal.

117
A Defenda os seus direitos

110  
A inquilina da casa onde sou hóspede, há sete anos, vai partir para o
estrangeiro e terminar o contrato de arrendamento. O senhorio pode
despejar-me, quando isso acontecer?

No contrato de hospedagem, o morador disponibiliza parte da casa onde habita a


outras pessoas e presta-lhes alguns serviços (cozinhar, lavar e passar a roupa, por
exemplo), mediante retribuição. Nas casas arrendadas, são permitidos até três
hóspedes. Se este limite for ultrapassado, o inquilino arrisca-se a que o senhorio
ponha termo ao contrato, através de uma ação em tribunal. Este tipo de relação
contratual não transforma o hóspede em arrendatário ou em subarrendatário.
Por isso, se o contrato de arrendamento celebrado entre senhorio e inquilino
terminar por qualquer motivo (por ação judicial, por morte deste ou apenas
porque resolveu pôr termo ao contrato), também terminam os contratos entre
o inquilino e os seus hóspedes. No entanto, estes podem tentar negociar com
o senhorio um novo contrato de arrendamento e assumir a posição de inquili-
nos. Caso venha a verificar-se que o novo contrato não é possível, os hóspedes e
outros moradores terão de abandonar a casa sem qualquer compensação.

111  
O meu senhorio é o usufrutuário da casa.
Terei problemas se ele falecer?

Pode vir a ter. Nalguns contratos, o senhorio não é o proprietário da casa, mas
alguém a quem foram dados poderes de administração ou o direito de usufruto.
Nestas situações, quando se celebra o contrato de arrendamento, é necessário
indicar que o senhorio é administrador ou usufrutuário, para que o inquilino
fique ciente desse facto. Se isso não tiver sido feito, o inquilino pode invocá-lo em
sua defesa, para evitar, por exemplo, ter de celebrar um novo contrato de arren-
damento ou ter de abandonar a casa por morte do senhorio. De facto, quando
morre o senhorio administrador ou usufrutuário, o contrato de arrendamento
termina e o inquilino tem seis meses para sair do local arrendado. Durante este
período, tem direito de preferência na celebração de um novo contrato. Isto sig-
nifica que, caso o proprietário pretenda arrendar o local a outra pessoa, terá de
informá-lo das condições dessa proposta. Estando interessado, o antigo inqui-
lino poderá continuar a sê-lo, desde que aceite os termos da proposta.

112  
O meu contrato de arrendamento termina no final do ano, mas o senhorio
não quer devolver-me a caução que paguei quando o contrato foi assinado.
Como poderei reaver esse dinheiro?

É muito comum o senhorio exigir que o inquilino entregue uma cau-


ção quando o contrato de arrendamento é celebrado. A caução é uma

118
A Arrendamento

garantia para cobrir eventuais danos na casa provocados pelo inquilino.


Assim, se não existirem danos, no final do contrato o senhorio não tem
motivos para reter a caução. A lei não considera a caução como uma
renda, embora possa existir alguma confusão a esse respeito, já que é
usual terem o mesmo valor. Se assim for, ao celebrar um contrato de
arrendamento, o inquilino paga três vezes o valor da renda combinada:
a renda do primeiro mês em que o contrato vigora, a renda do mês
seguinte (segundo o princípio de que no primeiro dia útil de cada mês
paga a renda do mês seguinte) e um montante equivalente a um mês de
renda, a título de caução.
Se o senhorio comunicar ao inquilino que não lhe devolve a caução, e não
houver danos ou outras dívidas que o justifiquem, este pode optar por
acertar as contas não pagando a renda relativa ao último mês de contrato,
ou seja, a que iria pagar dois meses antes de sair. Tomemos o seguinte exem-
plo: se o inquilino pretende sair no dia 31 de maio, deveria ainda pagar a
renda de maio no início de abril. Mas, se o valor da caução for igual a um
mês de renda, não precisa de o fazer. Na prática, a caução serve para pagar
a renda do último mês. Se esta alternativa não for viável, por já ter efetuado
o último pagamento devido, terá de recorrer aos tribunais para obter a devo-
lução da caução.

113  
Sou fiador num contrato de arrendamento, mas desentendi-me com a pessoa
que me pediu esse favor. Posso deixar de ser fiador?

Não será fácil. A fiança é uma das garantias mais importantes dos contratos
de arrendamento. Os senhorios recorrem a ela para garantirem o pagamento
das rendas (e eventuais indemnizações), caso os inquilinos não possam ou
não queiram liquidá-las. Por isso, quem intervém como fiador deve intei-
rar-se dos termos do contrato e refletir bem antes de dar este passo, pois
pode vir a ter de assumir dívidas significativas. Caso se verifiquem proble-
mas de pagamento, o senhorio pode optar por exigir que seja o fiador a
pagar a dívida do inquilino. Mas terá de notificá-lo no prazo de 90 dias após
o atraso. E este terá mesmo de pagar, ainda que possa exigir esse montante
ao inquilino.
Muitas vezes, o contrato de arrendamento refere que o fiador renuncia ao
benefício de excussão, segundo o qual só quando o devedor já não tiver bens
se poderão penhorar os bens do fiador. Se o contrato de arrendamento nada
referir nesta matéria, o fiador a quem seja pedida a liquidação das dívidas
do inquilino só terá de assumir essa obrigação quando este já não tenha
bens que permitam satisfazer as exigências do senhorio. Mas, se o fiador
renunciou ao benefício de excussão, o senhorio pode exigir-lhe, de imediato,
a liquidação da dívida do inquilino.

119
A Defenda os seus direitos

O fiador só poderá libertar-se da fiança se:


— o senhorio já tiver obtido uma sentença contra o fiador, devido ao incum-
primento do inquilino;
— os riscos da fiança se agravarem muito além do que seria legítimo pensar.
Será o caso, por exemplo, do inquilino que, de repente, deixe de ter ren-
dimentos ou bens que, normalmente, lhe permitiriam fazer face aos seus
compromissos;
— o inquilino abandonou o país, sendo praticamente impossível cobrar-lhe
qualquer dívida;
— o inquilino se comprometeu a pôr termo à fiança, num dado prazo ou em
determinadas condições, e esse prazo ou condições já se tiverem verifi-
cado, sem que tenha havido qualquer ato nesse sentido da parte daquele.
Convém que este tipo de acordo seja feito por escrito;
— tiverem decorrido cinco anos sobre a celebração do contrato e este tiver
duração superior.

O fiador que se encontre numa destas situações terá de comunicar ao senho-


rio que não pretende continuar a sê-lo. Se este não quiser abdicar da garan-
tia, pode recorrer aos tribunais para obter uma sentença que o liberte de
continuar a prestar fiança.

114  Sou médico e arrendei um espaço para consultório, num prédio de habitação,
que não tem licença camarária para esse efeito. Será que posso fazer alguma
coisa para regularizar isto? Quais os riscos que corro nesta situação?

Compete ao senhorio tratar da documentação que permita, junto da câmara


municipal da área do imóvel, obter a licença para exercício de profissão libe-
ral. Nomeadamente, serão necessárias as plantas do local, caderneta predial
e certidão do registo predial e, nos prédios constituídos em propriedade hori-
zontal, a autorização dos restantes condóminos para mudar o uso da fração.
Tal poderá ser dificultado pelos vizinhos, que talvez não gostem das idas e
vindas que geralmente caracterizam os consultórios médicos. Aliás, e uma
vez que não existe licença para esta atividade, eles podem mesmo recorrer
aos tribunais para obter uma sentença que imponha o fecho do consultório.
Se o senhorio não conseguir obter esta licença, o inquilino pode pôr termo
ao contrato de arrendamento, com fundamento na inexistência da licença
para o exercício da sua atividade. Além disso, pode eventualmente exigir-
-lhe uma indemnização pela sua incapacidade em obter tal documento junto
da câmara municipal. O senhorio está também sujeito a pagar uma coima
correspondente a, pelo menos, um ano de renda, por ter permitido o fun-
cionamento de um consultório numa fração que não estava licenciada para
esse efeito.

120
A Arrendamento

Rendas
115  
Arrendei um apartamento no final do ano passado e o senhorio já anda a
falar em aumentar a renda. Quais são as regras para o aumento da renda?

Por regra, o senhorio tem a possibilidade de aumentar a renda anualmente.


Este aumento é feito de acordo com o coeficiente publicado no Diário da
República, em outubro de cada ano, e, se todos os procedimentos forem
respeitados, pode entrar em vigor a partir de janeiro do ano seguinte. Nome-
adamente, o senhorio terá de enviar ao inquilino uma carta registada com
aviso de receção (ou entregá-la em mãos, contra a assinatura do inquilino),
comunicando o valor da nova renda, o coeficiente usado no cálculo e a data
a partir da qual pretende iniciar a sua cobrança, com uma antecedência
mínima de 30 dias. Assim, se a carta for enviada em meados de dezembro,
a nova renda só poderá ser cobrada em fevereiro. No entanto, o senhorio
tem um prazo de três anos para aplicar o coeficiente. Ou seja, se não aumen-
tar a renda durante três anos, no ano seguinte pode atualizá-la partindo
dos valores que deveriam ter sido pagos nos anos anteriores. No seu caso,
o coeficiente a ter em conta para um aumento da renda em 2022 é de 1,0043.
Para saber quanto irá pagar, basta multiplicar o valor da renda por este coe-
ficiente. Se a renda atual for de 500 euros, por exemplo, a atualizada será
de 503 euros, ou seja:

500 euros × 1,0043 = 502,15 euros

É preciso ter em conta que a atualização da renda é sempre arredondada


para a unidade de euro imediatamente superior. Daí a nova renda ser de
503 euros. A atualização da renda só pode ocorrer quando o contrato vigora
há mais de um ano. Além disso, cada nova atualização só pode ser feita um
ano depois da anterior. Se existir algum erro no cálculo do senhorio ou este
tiver aplicado um coeficiente incorreto, o inquilino pode contestá-la recor-
rendo aos julgados de paz ou aos tribunais.

116  
O inquilino a quem arrendei o meu apartamento não paga a renda.
O que posso fazer?

O pagamento da renda de casa é uma das obrigações do inquilino (veja a


caixa Quais são os deveres do inquilino?, na página 113). Na falta de acordo
em contrário, a renda relativa a um determinado mês é paga no primeiro
dia útil do mês anterior, mas há ainda um prazo de oito dias para efetuar

121
A Defenda os seus direitos

esse pagamento sem penalizações. Se o inquilino não pagar a renda neste


prazo, o senhorio pode exigir, além do valor da renda, uma indemnização
correspondente a 20% desse montante. E, se o inquilino continuar sem
pagar por um período igual ou superior a três meses, ou se se atrasar por
períodos superiores a oito dias, mais de quatro vezes, num período de
12 meses, o senhorio pode pôr termo ao contrato. Neste caso, terá de infor-
mar o inquilino após o terceiro atraso no pagamento, por carta registada
com aviso de receção, de que pretende terminar o contrato. Se, apesar de
todas as tentativas do senhorio, o inquilino não pagar, resta-lhe recorrer ao
Balcão Nacional de Arrendamento (bna.mj.pt) para acionar o despejo com
justa causa. O inquilino terá de abandonar o local arrendado e de pagar as
rendas e indemnizações em atraso.

Obras e outras despesas


117  
O meu contrato de arrendamento diz que tenho de suportar as despesas de
condomínio da fração onde habito. Apesar de ter assinado o contrato, tenho
dúvidas quanto à legalidade de tal imposição.

Normalmente, as partes no contrato de arrendamento nada definem sobre


este tipo de despesas, mas podem fazê-lo. E nada impede que as despesas
de condomínio, por regra suportadas pelo proprietário, sejam transferidas
para o inquilino. Este terá de as pagar, embora não possa intervir na sua
fixação, uma vez que continuará a ser o senhorio a participar nas reuniões
de condóminos. Caso o inquilino não pague as despesas a que está obrigado
pelo contrato, o senhorio pode pôr termo ao contrato, nos mesmos moldes
que se aplicam à falta de pagamento das rendas (veja a pergunta 116).

118  
O telhado da casa onde habito tem infiltrações, mas o meu senhorio recusa-
-se a repará-lo. O que posso fazer para resolver esta situação?

A reparação do telhado de uma casa arrendada compete ao senhorio ou,


tratando-se de um prédio em propriedade horizontal, ao condomínio. Neste
último caso, cabe também ao senhorio levar a questão à assembleia de con-
dóminos e procurar que se resolva com a maior brevidade. No entanto,
é bastante comum que as obras desta natureza sejam muito dispendiosas.
Por isso, muitos senhorios tentam fugir às suas responsabilidades. Sendo

122
A Arrendamento

este o caso, o inquilino que optar por fazer as obras terá direito a ser reem-
bolsado. Mas também pode recorrer à câmara municipal da área do prédio,
para que esta vistorie o edifício e, confirmada a necessidade de obras, obri-
gue o senhorio a fazê-las ou as realize (veja Quem paga as obras?, nas pági-
nas 124 e 125). Quando o proprietário não iniciar as obras a que está obri-
gado ou não as concluir dentro dos prazos que lhe forem fixados, a câmara
municipal pode tomar posse administrativa do imóvel, a fim de as executar
de imediato. São as chamadas obras coercivas. Em último caso, o inquilino
pode levar o caso a tribunal.

119  
De quem é a responsabilidade pelas obras e reparações
numa casa arrendada?

As obras de conservação ordinárias (por exemplo, as reparações necessárias


no prédio) ou extraordinárias (corrigir defeitos de construção, entre outras)
são, por regra, da responsabilidade do senhorio. Cabe-lhe manter o imóvel
em bom estado de conservação. Pela sua parte, o inquilino só pode fazer
obras se tal estiver previsto no contrato, tiver autorização escrita do senho-
rio ou em caso de urgência, para prevenir danos iminentes ou maiores.
As obras e reparações só serão da responsabilidade do inquilino se resul-
tarem de danos que tenha provocado ou quando existir, entre senhorio e
inquilino, um acordo para que ele as faça, contra uma redução do montante
da renda. O inquilino tem de manter o imóvel em bom estado de conser-
vação, utilizando-o de forma prudente, embora possa provocar pequenas
deteriorações (por exemplo, pregar um prego na parede para pendurar um
quadro). Também é necessário ter em conta que o uso da casa comporta,
inevitavelmente, algum desgaste. Qualquer outro dano pode ser conside-
rado uso imprudente por parte do inquilino, que terá de suportar os custos
da reparação. O senhorio pode impor a realização das obras enquanto o
contrato ainda vigora ou fazê-lo apenas no seu termo. Se necessário, no final
do contrato recorre à caução entregue pelo inquilino. É também importante
que o inquilino, quando pretender fazer obras, obtenha o acordo prévio
do senhorio, para que depois não seja acusado de ter feito obras não auto-
rizadas. E, se as obras alterarem substancialmente a estrutura do imóvel,
é indispensável a autorização escrita do senhorio, do condomínio (tratando-
-se de um prédio em propriedade horizontal) e da câmara municipal. Caso
contrário, o inquilino arrisca-se a ter de ir a tribunal.
Quanto às obras de beneficiação, não se enquadram nas condições anterio-
res, mas, com exceção das benfeitorias voluptuárias (veja a caixa O que são as
benfeitorias?, nas página 126), também é o senhorio que deve fazê-las. Estas
só são obrigatórias se forem impostas pela câmara municipal (por exemplo,
a instalação de uma casa de banho num imóvel que a não possua).

123
A

O inquilino faz
as obras por sua
QUEM PAGA AS OBRAS? (1) iniciativa

As obras não
As obras podem
podem ser
ser retiradas
retiradas

O inquilino Não
poderá ter Aumentam beneficiam a
de removê­ o valor da casa casa e apenas
‑las quando e beneficiam o satisfazem os
abandonar a senhorio gostos pessoais
casa do inquilino

O senhorio terá O senhorio nada


de pagar o custo tem a pagar
das obras ao
inquilino

(1) Exceto se outra coisa ficar combinada no contrato.


A O
inquilino
comunica
ao senhorio a
necessidade
das obras

O senhorio faz
as obras
O senhorio
nada faz

As obras
não são As obras
urgentes são urgentes

O
inquilino O inquilino
pede uma faz as obras
vistoria à e, depois de o
câmara comunicar ao
senhorio e juntar
A comprovativos
A câmara
câmara das despesas,
impõe a
não impõe a desconta o valor
realização das
realização das do investimento
obras
obras às rendas a pagar
O senhorio
não faz as
obras
O inquilino
apenas poderá
O senhorio faz fazê-las se as
as obras pagar e obtiver
autorização do
A câmara
senhorio
toma posse
administrativa do
imóvel e realiza
as obras

As obras são pagas pelo


senhorio através das rendas.
Até o pagamento estar
concluído, a câmara poderá
ficar com uma parte ou a
totalidade das rendas mensais
A Defenda os seus direitos

O QUE SÃO AS BENFEITORIAS?


As benfeitorias são as obras destinadas a impedir a deterioração da casa ou que,
mesmo não sendo indispensáveis à sua conservação, lhe aumentam o valor. Distin-
guem-se três tipos:
— as benfeitorias necessárias, que se destinam a evitar a perda, destruição ou deterio-
ração do imóvel (por exemplo, a reparação de uma parede em ruínas);
— as benfeitorias úteis, que, não sendo indispensáveis para conservar o imóvel, lhe
aumentam o valor (por exemplo, a substituição de uma alcatifa por soalho de
madeira);
— as benfeitorias voluptuárias, que servem apenas para recreio de quem as utiliza
(por exemplo, a instalação de luzes coloridas num quarto).

Se for o inquilino a realizar estas obras, no final do contrato o senhorio apenas terá de
o indemnizar pelo valor das benfeitorias necessárias e pelas benfeitorias úteis que não
possam ser levantadas. Quanto às benfeitorias voluptuárias, o inquilino que as fez não
tem direito a reembolso.

120  
Arrendei recentemente uma casa, da qual o anterior inquilino saiu sem
pagar as faturas da água e da eletricidade. O proprietário quer que seja eu a
pagá‑las. Tenho mesmo de o fazer?

Não tem de pagar essas despesas. Por norma, os contratos de serviços públi-
cos essenciais (fornecimento de água, eletricidade, gás e telecomunicações)
são celebrados em nome do inquilino. Contudo, também podem ficar em
nome do senhorio e estar previsto no contrato que os consumos estão englo-
bados na renda ou que será o inquilino a pagá-los. Neste último caso, se o
inquilino não pagar as faturas, as empresas que fornecem os serviços exi-
gem a liquidação das dívidas ao senhorio, que terá de pagá-las, sob pena de
corte do fornecimento. Mas o senhorio não pode exigir que o novo inquilino
pague dívidas de que não foi responsável. Se o senhorio não pagar e, mesmo
assim, celebrar um contrato de arrendamento com um inquilino que, des-
conhecendo a situação, se vê impossibilitado de usar o serviço, este novo
inquilino pode exigir ao senhorio que proceda ao pagamento. Se este nada
fizer, aquele pode pôr termo ao contrato e exigir-lhe uma indemnização
pelos prejuízos sofridos, recorrendo, se necessário, aos tribunais.
Se os contratos de fornecimento de serviços públicos essenciais foram cele-
brados pelo anterior inquilino, isso em nada altera a situação. As empresas
não podem impedir o novo inquilino de celebrar contratos em seu nome,
mesmo que as dívidas relativas ao imóvel estejam por pagar. O princípio
que aqui se aplica é o mesmo: o novo inquilino não é responsável pelo
pagamento das dívidas que resultaram do incumprimento de um terceiro,

126
A Arrendamento

pelo que as empresas envolvidas terão de recorrer aos meios ao seu alcance
(nomeadamente, os tribunais) para obter a liquidação dessas dívidas,
estando, portanto, obrigadas a celebrar novos contratos com quem se pro-
põe fazê-lo. Não o fazendo, o inquilino pode denunciar a situação à entidade
reguladora do setor (por exemplo, a erse, tratando-se de um contrato de
abastecimento de eletricidade, ou a ersar, no caso da água). Outra opção
são os julgados de paz ou, como último recurso, o tribunal.

127
A
A

Capítulo 6

Trabalho
A Defenda os seus direitos

Contratos
121  
A empresa onde trabalho ameaça constantemente despedir‑me e, como
não tenho contrato assinado, receio que isso aconteça a qualquer momento.
O que posso fazer?

Algumas empresas julgam que a ausência de contrato escrito lhes permite


pôr termo à relação quando lhes convier, mas, na prática, existe um con-
trato de trabalho sem termo. Estes contratos não têm um prazo definido
para vigorarem, o que confere estabilidade à relação entre o trabalhador e
a entidade patronal. Não necessitam de ter forma escrita, podendo os seus
elementos principais retirar-se da lei e da prática das relações entre o traba-
lhador e a empresa. Ou seja, a existência do contrato de trabalho pode ser
provada pelas características da relação: valor da retribuição, horário de
trabalho diário e semanal, local de trabalho, propriedade dos instrumentos
e equipamentos de trabalho, subordinação às ordens de quem recebe o ser-
viço, duração das férias, etc. Se a empresa o despedir, o trabalhador deve
denunciar a situação à Autoridade para as Condições do Trabalho. Também
pode impugnar o despedimento em tribunal.
Acontece, muitas vezes, que o contrato de trabalho esteja sob a capa de
prestação de serviços: apesar de haver uma verdadeira subordinação,
quem presta o serviço passa um recibo (o chamado recibo verde), não
recebe subsídio de férias ou de Natal, fica sem retribuição se gozar férias
e não é abrangido pelo seguro de acidentes de trabalho contratado pelo
empregador, tendo de contratar o seu próprio seguro. Também nesses
casos, se for dispensado, o trabalhador pode provar que existia um con-
trato de trabalho e, além de contestar essa dispensa, pedir que o empre-
gador seja condenado a pagar-lhe todas as quantias a que teria direito se
a sua situação estivesse devidamente regularizada, como os já referidos
subsídios e retribuições.

122  
Devido à pandemia de covid‑19, passei a estar muito tempo em teletrabalho.
Numa primeira fase, correu bem, mas a empresa tem vindo a atribuir‑me
cada vez menos tarefas e já disse que vai passar a pagar‑me apenas pelos trabalhos
que eu fizer, pelo que deixarei de ter um salário fixo. Isto é possível?

Não. O teletrabalho consiste no desempenho das tarefas previstas no con-


trato, fora das instalações da empresa, através do recurso a tecnologias
de informação e de comunicação. Fora de casos excecionais, como o que
se verificou durante a pandemia, para haver teletrabalho é necessário um

130
A Trabalho

acordo entre as partes. Ou seja, em regra, o empregador não pode impô-lo


ao trabalhador, nem este àquele. Excecionalmente, as vítimas de violência
doméstica a os trabalhadores com filhos até três anos de idade podem pedir
para passar a este regime, desde que a empresa disponha de meios. Quem
está em teletrabalho mantém os mesmos direitos dos colegas que perma-
necem nas instalações da empresa, incluindo, entre outros, o salário e a
antiguidade.
A alteração de regime de trabalho deve constar de um documento escrito,
assinado por ambas as partes, que contenha a sua identificação e residên-
cia (ou sede), a atividade a prestar pelo trabalhador, com menção de que o
faz no regime de teletrabalho, a retribuição, o período normal de trabalho,
a propriedade dos instrumentos de trabalho e quem é responsável pela sua
instalação e manutenção e pelo pagamento das despesas de consumo e uti-
lização. Se nada for dito, presume-se que tais instrumentos e responsabi-
lidades são do empregador. Para não haver dúvidas, deve igualmente ser
identificado a quem reporta o trabalhador e quem deve contactar em caso
de necessidade.
Em suma, o empregador não pode, por sua iniciativa, transformar o con-
trato de trabalho numa prestação de serviços. Isso corresponde a um des-
pedimento ilícito. Assim, comunique ao empregador que recusa a proposta,
referindo que, se a empresa persistir nessa intenção, apresentará o caso à
Autoridade para as Condições do Trabalho.

123  
A empresa onde trabalho há dez anos, em Setúbal, vai mudar‑se para Aveiro.
Fui também informado de que, depois da mudança, passarei a ter outras
funções, que não me interessam. Tenho de aceitar estas alterações?

Começando pela mudança de cidade, a transferência permanente do local


de trabalho tem de ser comunicada com uma antecedência mínima de
30 dias. Só não exige o acordo do trabalhador quando:
— o interesse da empresa imponha a transferência e não haja prejuízo sério
para o trabalhador;
— se verifique uma mudança total ou parcial do estabelecimento onde o
trabalhador desempenha as suas funções (o que acontece nesta situação).

Se a mudança lhe provocar um prejuízo sério, o trabalhador pode rescindir


o contrato. Tem direito à indemnização prevista nos casos de despedimento
coletivo, por extinção do posto de trabalho ou por inadaptação, que varia
consoante a data de início do contrato (o valor mais baixo, relativo a con-
tratos posteriores a 1 de outubro de 2013, corresponde a 12 dias de retribui-
ção-base e diuturnidades por cada ano completo de trabalho, mas existem
limites). Se aceitar a transferência, a empresa tem de suportar os custos de

131
A Defenda os seus direitos

deslocação e mudança de residência. A lei permite, ainda, a transferência


temporária, que só pode durar mais de seis meses devido a exigências impe-
riosas do funcionamento da empresa. Deve ser comunicada com o mínimo
de oito dias de antecedência e as despesas adicionais com deslocação e alo-
jamento são suportadas pelo empregador.

Quanto à alteração de funções, a empresa não pode, por sua iniciativa, alte-
rar a categoria profissional do trabalhador. Este só pode ser colocado numa
categoria inferior devido a uma necessidade premente sua ou da empresa
e terá de dar o seu acordo. Se isso implicar redução salarial, terá de ser
obtida autorização da Autoridade para as Condições do Trabalho. O traba-
lhador deve exercer funções no âmbito da atividade para que foi contratado,
embora isto inclua tarefas com ela relacionadas e para as quais tenha qua-
lificação, desde que não impliquem desvalorização profissional. A empresa
pode encarregá-lo, temporariamente, de funções que não estejam abrangi-
das na atividade contratada, quando o seu interesse o justifique, sem redu-
ção na retribuição e desde que isso não implique alteração substancial da
posição do trabalhador. Portanto, a menos que as alterações propostas pela
empresa cumpram estes requisitos, não poderá efetuá-las. Se entender que
está perante uma ilegalidade, o trabalhador deve apresentar o caso à Auto-
ridade para as Condições do Trabalho.

124  
Pretendo sair da empresa onde trabalho porque me dão melhores condições
noutro lado. Com que antecedência devo comunicar que me vou embora?

O trabalhador pode, em qualquer altura, fazer cessar o contrato de trabalho


por sua iniciativa, sem ter de explicar o motivo, embora tenha de comunicar
essa intenção com antecedência. Se trabalhar na empresa há menos de dois
anos, terá de avisar a entidade patronal, no mínimo, 30 dias antes da data
em que pretende que o contrato termine. Caso a antiguidade seja maior,
o pré-aviso terá de ser de, pelo menos, 60 dias. Não respeitando estes pra-
zos, se a empresa o exigir, terá de indemnizá-la num montante correspon-
dente à retribuição do período de pré-aviso em falta. Ou seja, se, por exem-
plo, trabalhar na empresa há quatro anos e apenas comunicar a sua saída
30 dias antes, poderá ter de compensar a empresa com o correspondente a
um mês de salário.
Neste caso, a cessação do contrato não concede ao trabalhador qualquer
tipo de indemnização ou compensação. Apenas terá direito aos montan-
tes devidos pelo trabalho prestado, incluindo os relativos a férias do ano
anterior ainda não gozadas e os proporcionais de férias, subsídio de férias
e subsídio de Natal pelo período em que trabalhou no ano em curso (veja a
pergunta 133).

132
A Trabalho

125  
O meu chefe veio ter comigo e disse‑me que arrumasse as minhas coisas, pois
estava despedida, uma vez que tinha chegado atrasada três dias seguidos.
Pode fazer isto?

Não. Despedir um trabalhador requer uma série de formalidades, sob a


forma de procedimento disciplinar, em caso de justa causa, ou de um pro-
cesso administrativo, se a entidade patronal optar por um despedimento
coletivo, por extinção do posto de trabalho ou por inadaptação. Não é
sequer possível a rescisão com aviso prévio, permitida ao trabalhador (veja
a pergunta anterior).
Quando a entidade patronal entende que há justa causa para despedir o
trabalhador, tem de desencadear um procedimento disciplinar, no prazo de
60 dias, a contar do momento em que tem conhecimento dos factos, e até

O PROCEDIMENTO DISCIPLINAR

Factos praticados pelo


trabalhador

60 dias para instaurar


procedimento disciplinar
desde que tem
conhecimento dos factos
e antes de decorrido 1 ano
sobre a sua prática
PRAZOS DO TRABALHADOR
PRAZOS DO EMPREGADOR

10 dias úteis para apresentar


defesa

30 dias para apresentar


decisão por escrito

5 dias úteis para apresentar


providência cautelar em
tribunal e pedir suspensão
do despedimento

60 dias para requerer ao


tribunal que o despedimento
seja considerado ilícito

133
A Defenda os seus direitos

um ano depois de estes ocorrerem. Mas poderá ter mais tempo para o fazer,
se estiver em causa a prática de um crime com um prazo de prescrição supe-
rior. A empresa começa por comunicar ao trabalhador a instauração do pro-
cesso e a intenção de despedi-lo, enviando em anexo a nota de culpa, que
descreve os factos de que é acusado. A partir deste momento, o trabalhador
pode ser suspenso, mas continua a receber o salário. Tem dez dias úteis para
apresentar a sua defesa por escrito e solicitar as diligências que entenda
necessárias, como a audição de testemunhas. Estas diligências só não ocor-
rerão se a empresa entender que o trabalhador apenas quer empatar o pro-
cesso, mas terá de fundamentar esta opinião por escrito. Apresentados os
argumentos por ambas as partes, o empregador tem 30 dias para comuni-
car, por escrito, a sua decisão. Se não concordar com ela, o trabalhador
pode apresentar uma providência cautelar em tribunal, a pedir a suspensão
do despedimento, no prazo de cinco dias úteis. Dispõe, ainda, de 60 dias
para impugnar o despedimento em tribunal, ou seja, para tentar que seja
considerado ilícito. Nas situações em que a entidade patronal não cumpra
as formalidades legais, limitando-se, por exemplo, a uma mera comunica-
ção oral, o prazo para recorrer ao tribunal é de um ano. Se o tribunal lhe
der razão, o trabalhador tem direito a receber todos os salários desde que

DISSE JUSTA CAUSA?


O despedimento com justa causa só é possível quando seja insuficiente aplicar ao
trabalhador outra sanção disciplinar, como a repreensão, a perda de dias de férias ou
a suspensão, ou seja, nos casos em que, perdida a confiança no trabalhador, não seja
exigível que o empregador mantenha o contrato. Isso acontece, entre outras situa-
ções, quando o primeiro:
— desobedece injustificadamente a ordens superiores;
— provoca repetidamente conflitos com os colegas ou viola os seus direitos e garantias;
— agride, insulta ou comete outras ofensas punidas por lei sobre os colegas, elemen-
tos dos corpos sociais ou seus delegados e representantes;
— pratica crimes contra a liberdade das pessoas referidas na alínea anterior (por
exemplo, sequestro);
— demonstra desinteresse pelo cumprimento das suas tarefas;
— lesa gravemente o património da empresa;
— desrespeita de forma culposa as regras de higiene, segurança e saúde no trabalho;
— apresenta demasiadas faltas injustificadas (mais de cinco consecutivas ou dez inter-
caladas) ou, mesmo que seja só uma, isso causa danos graves à empresa;
— apresenta falsas declarações para justificar faltas ao trabalho;
— não cumpre ou opõe-se ao cumprimento de decisões judiciais ou atos
administrativos;
— apresenta reduções anormais de produtividade.

134
A Trabalho

foi despedido e a ser reintegrado no seu posto de trabalho ou, se não optar
pela reintegração, a receber uma indemnização de 15 a 45 dias de retribui-
ção-base e diuturnidades por cada ano de antiguidade na empresa. Será o
tribunal a definir este montante.
Em suma, sem procedimento disciplinar que cumpra todos estes requisitos,
o despedimento com justa causa é ilegal. E também o será se o fundamento
invocado não for verdadeiro ou o tribunal entender que a sua gravidade não
justifica a aplicação da sanção disciplinar mais grave.

Exclusividade e outras
especificidades
126  
Trabalho a tempo inteiro numa empresa, mas sou frequentemente solicitado
para trabalhos ocasionais, como profissional independente. O meu chefe
pode impedir‑me de fazê‑los?

A empresa pode exigir exclusividade, por querer que o trabalhador se con-


centre apenas nas tarefas que lhe atribui. Se o contrato tiver uma cláusula
nesse sentido, o trabalhador não pode colaborar com outras entidades,
a não ser que demonstre que desconhecia a cláusula ou que foi forçado a
aceitá-la contra a sua vontade. Por outro lado, se não existir uma cláusula
de exclusividade, pode complementar as suas tarefas diárias na empresa
com trabalhos como profissional independente ou em serviços esporádicos,
desde que não seja posta em causa a sua lealdade e produtividade. Ou seja,
se cumprir todos os seus deveres para com a empresa e a sua atividade
externa não entrar, de nenhuma forma, em concorrência direta com a que
aí desempenha, o seu chefe não poderá impedi-lo de utilizar o seu tempo
livre da forma que entender.

127  
Que direitos tenho enquanto trabalhador‑estudante?

Quem trabalha e estuda ao mesmo tempo tem uma série de direitos que
lhe permitem prosseguir a sua formação escolar ou profissional, qualquer
que seja o nível de ensino, o tipo de vínculo à empresa e a natureza desta
(privada ou pública). O horário de trabalho deve ser ajustado, para que o

135
A Defenda os seus direitos

trabalhador-estudante possa frequentar as aulas. Se isso não for possível,


tem direito a redução do horário semanal, sem perda de retribuição ou
outras regalias, de acordo com a sua carga horária:

DIREITOS DO TRABALHADOR-ESTUDANTE
Trabalho semanal (em horas) Redução semanal (em horas)
20 a 29 3
30 a 33 4
34 a 37 5
38 ou mais até 6

Em época de testes, exames ou outras provas de avaliação, o trabalhador-


-estudante pode, sem perda de retribuição ou outras regalias, faltar ao tra-
balho no dia da prova e na véspera. Se tiver provas em dias seguidos ou mais
de uma no mesmo dia, os dias anteriores serão tantos quanto o número de
provas. Ou seja, caso tenha uma prova na quinta-feira e outra na sexta, além
destes dois dias poderá faltar terça e quarta-feira.

Tem ainda direito a licença sem retribuição, até ao máximo de dez dias, mas
precisa de avisar a empresa com a antecedência de:
— 48 horas, se quiser aproveitar apenas um dia;
— 8 dias, se aproveitar dois a cinco dias;
— 15 dias, para uma licença superior a cinco dias.

O trabalhador-estudante pode marcar as férias de acordo com os afazeres


escolares, sendo-lhe permitido gozar 15 dias de forma repartida, a menos
que isso seja incompatível com necessidades imperiosas de funcionamento
da empresa. Não pode ser-lhe exigido trabalho suplementar (o que vai além
do horário normal), a não ser por motivo de força maior, nem tem de traba-
lhar em regime de adaptabilidade, banco de horas ou horário concentrado
se isso coincidir com o horário escolar ou com provas de avaliação. No esta-
belecimento de ensino, está dispensado de frequentar um número mínimo
de aulas, disciplinas ou cadeiras e não tem restrições quanto ao número
de exames a realizar na época de recurso. Para usufruir destas regalias,
tem de informar a entidade patronal e fazer prova da inscrição nas aulas,
do horário escolar e da data dos testes ou exames. Se não tiver aprovei-
tamento escolar num ano, perde direito à redução do horário semanal e
a beneficiar das regras relativas à marcação de férias. Quanto aos restan-
tes direitos, como a possibilidade de faltar dois dias para realizar exames,
deixa de os ter se reprovar dois anos seguidos ou três intercalados. Caso a

136
A Trabalho

entidade patronal coloque entraves à aplicação destas regras, o trabalha-


dor-estudante deve apresentar a situação à Autoridade para as Condições
do Trabalho.

128  Tendo atingido a idade prevista na lei, reformei‑me há cerca de um ano.


Entretanto, surgiu‑me a possibilidade de ganhar algum dinheiro com outra
atividade. Posso trabalhar sem pôr em risco a minha pensão?

Pode. Apesar de já ter passado à reforma, recebendo uma pensão corres-


pondente ao tempo que trabalhou e aos rendimentos que auferiu, nada o
impede de voltar a trabalhar, continuando a receber a pensão. Pode fazê-lo
como independente ou por conta de outrem (inclusive, para a anterior enti-
dade patronal), a tempo inteiro ou parcial, não havendo restrições quanto à
atividade a exercer, ao montante da retribuição ou à duração da vida ativa.
Só estaria limitado se a pensão de velhice resultasse da transformação de
uma pensão de invalidez absoluta, pois esta é, naturalmente, incompatível
com uma atividade profissional.
Ao voltar a trabalhar, desconta para a Segurança Social e, no início do ano
seguinte, a sua pensão aumenta 1/14 de 2% do total das remunerações regis-
tadas no ano anterior. Se, por exemplo, receber 21 mil euros (1500 x 14),
o aumento é de 30 euros. Enquanto estiver a trabalhar, mantêm-se estas
atualizações anuais.

129  
Tenho um contrato como trabalhador temporário. Quais são os meus
direitos?

O trabalho temporário tem características diferentes dos contratos a termo.


Envolve sempre três entidades: o utilizador, que necessita provisoriamente
de alguém ao seu serviço, a empresa de trabalho temporário e o trabalhador.
Apesar de este prestar os seus serviços ao primeiro, de acordo com as regras
que nele vigoram, é com a segunda que tem uma relação contratual e é
quem lhe paga o salário e exerce o poder disciplinar.
A retribuição não pode ser inferior à que é paga pela empresa utilizadora aos
seus trabalhadores que estão em posição equivalente (iguais funções e expe-
riência, por exemplo). O trabalhador tem direito a férias, subsídio de férias
e de Natal na proporção correspondente à duração do contrato. Na maior
parte das questões, aplicam-se as regras que regem as relações entre traba-
lhadores e entidades patronais.

O contrato de trabalho temporário só é possível em situações de necessidade


pontual de mão-de-obra, como, por exemplo, as seguintes:

137
A Defenda os seus direitos

— substituir trabalhador ausente ou em relação ao qual exista uma ação em


tribunal para decidir se houve justa causa para despedimento;
— realizar tarefas sazonais;
— preencher um posto de trabalho vago, enquanto decorre o processo de
recrutamento;
— fazer face a acréscimo temporário ou excecional de atividade da empresa;
— realizar uma tarefa ocasional ou um serviço bem definido de curta ou
média duração;
— suprir necessidades intermitentes de mão-de-obra devidas a flutuações de
atividade durante dias ou partes de dias;
— realizar projetos temporários, por exemplo, na instalação e reestrutura-
ção de empresas ou estabelecimentos.

O contrato tem de ser feito por escrito. Se, passados dez dias sobre o prazo
de trabalho definido, o trabalhador temporário ainda estiver ao serviço do
utilizador, considera-se que passa a ter com este um contrato sem termo.

O TRIÂNGULO DO TRABALHO TEMPORÁRIO

TRABALHADOR
o
lh

Pr
ba

es
tra

ta
do

se
de

na

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to

iço
de

or
ra

or

de
nt

o
Co

ns
ga
Pa

EMPRESA Contrato de utilização


DE TRABALHO EMPRESA
TEMPORÁRIO UTILIZADORA
Paga o serviço

No trabalho temporário, não há qualquer contrato entre o trabalhador e a empresa


que utiliza os seus serviços. Mas existe um contrato entre o trabalhador e a empresa de
trabalho temporário e outro entre esta e a empresa utilizadora.

138
A Trabalho

Erros e alterações do salário


130  
Trabalho há cerca de um ano na mesma empresa. Recentemente, fui
contactado pelos serviços de contabilidade, que me disseram ter havido,
ao longo de meses, um erro na minha folha de salário. Exigem que lhes devolva,
de imediato, 1600 euros. Não tenho este dinheiro disponível, nem me sinto obrigado
a devolvê‑lo, pois o erro não é da minha responsabilidade. Como devo proceder?

Em primeiro lugar, importa apurar a natureza do engano, o que o originou,


se é desculpável e/ou admissível e até que ponto o trabalhador não foi indu-
zido em erro quando celebrou o contrato. Numa primeira fase, serão as par-
tes, empresa e trabalhador, a analisar a questão. Se não chegarem a acordo,
podem apresentar o caso à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT)
ou, então, recorrer à mediação laboral e, por fim, a tribunal. Supondo que
houve mesmo um engano a seu favor, e que ganhou injustificadamente mais
do que deveria, estaremos perante aquilo que a lei classifica como enrique-
cimento sem causa. Isto é, recebeu algo que não se justificava. Assim, terá de
devolver o que lhe foi entregue a mais, mas não é aceitável que o faça de uma
só vez. Estabeleça um plano de pagamentos com a empresa, para que a devo-
lução ocorra gradualmente. Na falta de acordo entre as partes, a empresa não
poderá, em cada mês, retirar-lhe mais de 1/6 do salário.

131  
Parte do meu salário é paga em subsídio de refeição e gasolina. A empresa
comunicou‑me que deixará de fazer estes pagamentos, devido à má
conjuntura que atravessa. O que posso fazer?

De acordo com a lei, prestações regulares como os subsídios de transporte


e de refeição são consideradas retribuição, sobretudo se estiverem previstas
no contrato de trabalho ou num instrumento de regulamentação coletiva.
E a lei não permite que o empregador reduza a retribuição paga aos traba-
lhadores, a menos que se trate de uma situação excecional que obrigue a
reduzir ou suspender a atividade. Normalmente, estes subsídios são pagos
apenas quando o trabalhador presta trabalho efetivo (não o são, por exem-
plo, nas férias) e a empresa não pode recusar-se a pagá-los, pois fazem parte
das suas obrigações contratuais.
Este é o princípio geral, mas, em situações de crise, em que a empresa neces-
site de reduzir despesas para não ter de dispensar trabalhadores, pode admi-
tir-se que corte no pagamento de subsídios — os referidos ou outros — de
forma temporária ou definitiva. Estando em risco os postos de trabalho,
e sendo isso claro para os trabalhadores, é aceitável um acordo que preveja

139
A Defenda os seus direitos

reduções na retribuição. Portanto, deve haver um conhecimento efetivo das


circunstâncias e acordo dos trabalhadores. Quando a empresa aplique cor-
tes sem os consultar, os trabalhadores devem apresentar o caso à Autori-
dade para as Condições do Trabalho e, se necessário, recorrer aos tribunais.
Podem, também, considerar a rescisão do contrato, com justa causa, por
falta de pagamento das retribuições, pedindo uma indemnização de 15 a
45 dias de salário por cada ano de trabalho completo, com um mínimo de
três meses. No entanto, antes de avançar para esta opção, consulte um advo-
gado especializado em questões laborais, para avaliar as possibilidades de
êxito.

Férias, faltas e Segurança Social


132  
O meu patrão não quer que eu goze as férias deste ano, alegando que a
empresa tem muito trabalho. Pode fazer isto?

O direito a férias é irrenunciável, o que significa que, por princípio, não pode
prescindir dele. Só excecionalmente pode ser substituído por uma compen-
sação financeira e, mesmo assim, o trabalhador tem de gozar, no mínimo,
20 dias úteis de férias. A entidade patronal também não pode, em regra,
impedir o trabalhador de tirar férias, mesmo que tenha faltado muitas vezes
durante o ano. Existem apenas duas exceções a esta regra:
— no decorrer de um procedimento disciplinar, o empregador pode aplicar
como sanção a perda de dias de férias. No entanto, tem de ficar sempre
garantido que o trabalhador goza um mínimo de 20 dias úteis de férias;
— o trabalhador pode prescindir de alguns dias de férias, por exemplo, para
compensar dias de falta com perda de retribuição, mas sem deixar de
aproveitar, pelo menos, os tais 20 dias de férias.

Se, fora destas situações, a entidade patronal impedir o trabalhador de ter


férias, total ou parcialmente, terá de indemnizá-lo, pagando-lhe o triplo da
retribuição correspondente aos dias de férias que ficaram por gozar. O tra-
balhador deve, ainda, usufruir dos dias de férias em falta até 30 de abril do
ano seguinte.
As férias são marcadas por acordo entre a empresa e o trabalhador. Na falta
de entendimento quanto às datas, cabe àquela a marcação, mas fica circuns-
crita ao período entre 1 de maio e 31 de outubro. As datas podem ser, mais
tarde, alteradas ou interrompidas pelo empregador, mas apenas devido a

140
A Trabalho

A QUANTOS DIAS DE FÉRIAS TEM DIREITO?


Anualmente, cada trabalhador tem direito a 22 dias úteis de férias, que pode aprovei-
tar em conjunto ou por diversas vezes. No entanto, um dos períodos não pode durar
menos de dez dias úteis. No ano em que é contratado, tem direito a dois dias úteis de
férias por cada mês de trabalho efetivo, com o máximo de 20 dias úteis, mas só pode
aproveitá-los ao fim de seis meses de contrato. Se o ano terminar antes de decorridos
esses seis meses, pode ter férias até final de junho do ano seguinte, mas, neste ano,
não pode, no total, gozar mais de 30 dias úteis de férias. Um contrato de duração
inferior a seis meses dá direito a dois dias de férias por cada mês de trabalho, a gozar
imediatamente antes de terminar o contrato.
As férias devem ser gozadas no ano a que respeitam, embora seja possível fazê-lo até
30 de abril do ano seguinte, acumulando ou não com as desse ano, se houver acordo
entre entidade patronal e trabalhador ou este pretender gozar férias com um familiar
residente no estrangeiro.

exigências imperiosas do seu funcionamento. Terá, todavia, de indemnizar


o trabalhador por eventuais danos, como, por exemplo, os decorrentes do
cancelamento de uma viagem que já estava marcada. O adiamento ou inter-
rupção, com remarcação das férias, também pode acontecer por causas rela-
cionadas com o trabalhador, como doença ou acidente (do próprio ou de um
familiar). A nova marcação é feita por acordo, mas, se isso não for possível,
compete à empresa fazê-lo, desta vez sem restrições.

133  Vou deixar o meu emprego e este ano não tive férias. Posso ainda gozá‑las e
receber o subsídio de férias?

Quando o contrato chega ao fim, o trabalhador tem direito a receber a retri-


buição e o subsídio relativos às férias vencidas e não gozadas, ou seja, aque-
las a que ganhou direito a 1 de janeiro, respeitantes ao trabalho prestado no
ano anterior. No entanto, não pode exigir gozar as férias antes de terminar
o contrato, pelo que isso só acontecerá, total ou parcialmente, se tiver o
acordo da empresa. Além destes valores, recebe ainda férias, subsídio de
férias e subsídio de Natal proporcionalmente ao período em que trabalhou
no ano em curso. Ou seja, supondo que o contrato termina em abril, sem
que o trabalhador tenha gozado férias, tem direito a receber o equivalente
a três salários: o mês de férias e respetivo subsídio, pelo trabalho prestado
no ano anterior, e a soma dos proporcionais de férias, subsídio de férias e
subsídio de Natal, pelo período de trabalho no ano em que termina o con-
trato (4 ÷ 12 x 3).

141
A Defenda os seus direitos

134   Estive um dia em casa com enxaqueca, mas entretanto o mal‑estar passou
e não cheguei a ir ao médico. Agora, a empresa considera que faltei
injustificadamente, porque não tenho atestado médico que comprove a doença,
e não quer pagar‑me o dia. Terei direito a esse pagamento?

Um dos motivos que justificam as faltas é a doença. Portanto, à partida,


a falta é justificada. No entanto, coloca-se a questão da comunicação à enti-
dade patronal, que deve ser feita assim que o trabalhador sabe que vai fal-
tar, e da prova apresentada. Na situação descrita, em que não existe baixa
médica nem atestado e o período de ausência se resumiu a um dia, é impor-
tante o tipo de relação existente entre a entidade patronal e o trabalhador.
Se existir confiança mútua e a empresa aceitar a justificação, não será pre-
ciso mais nada e o trabalhador até pode não perder o direito à retribuição.
Caso a entidade patronal exija a apresentação de um documento que com-
prove a doença, o trabalhador terá mesmo de apresentá-lo, em princípio sob
a forma de um atestado médico. Não o fazendo, a falta pode ser considerada
injustificada, com a consequente perda da retribuição.

135  
Estou de baixa por doença. Posso sair de casa durante este período?

Em princípio, só pode sair de casa para efetuar tratamentos médicos. É isso


que consta do certificado de incapacidade temporária para o trabalho (CIT),
embora exista a possibilidade de, no mesmo documento, o médico autorizar
a saída do domicílio entre as 11h00 e as 15h00 e entre as 18h00 e as 21h00.
Se sair de casa sem autorização, a infração for detetada pela Segurança
Social e não conseguir justificar a ausência, o subsídio pode ser suspenso.
Quando receber a comunicação da suspensão, dispõe de cinco dias úteis
para justificar a ausência à Segurança Social (por exemplo, esteve a receber
tratamento ou necessitou de ir ao médico).

136  Tive um acidente no local de trabalho e, agora, a empresa diz que não me
inscreveu na Segurança Social nem contratou o seguro de acidentes de
trabalho. Assim sendo, estou desprotegida?

Duas das principais obrigações da entidade patronal são a inscrição dos tra-
balhadores na Segurança Social, para que possam contribuir e beneficiar das
respetivas prestações (por exemplo, subsídio de doença ou por ausência para
assistência aos filhos), e a subscrição de um seguro que cubra as despesas
decorrentes de acidentes de trabalho. Infelizmente, nem sempre as empre-
sas cumprem e só quando adoece ou sofre um acidente é que o trabalhador

142
A Trabalho

O QUE É O CIT?
O certificado de incapacidade temporária para o trabalho (CIT) é o documento apre-
sentado à Segurança Social, para que esta pague o subsídio de doença. As entidades
com competência para o emitir são os centros de saúde e os hospitais. O subsídio é
pago apenas a partir do quarto dia de baixa, a menos que haja internamento hos-
pitalar ou o doente sofra de tuberculose, casos em que o é desde o primeiro dia.
Se desconfiar da validade da baixa médica, o empregador pode requerer à Segurança
Social que o trabalhador seja submetido à avaliação de uma comissão de verificação
de incapacidade temporária.

A autorização para sair de casa durante a baixa, quando existe, consta do certificado de
incapacidade temporária passado pelo médico.

143
A Defenda os seus direitos

descobre essa falha. Claro que não deixará de ser assistido nos centros de
saúde e hospitais. Mas pode ter de suportar as despesas que ficariam a cargo
da seguradora ou ver negados os subsídios da Segurança Social e as compen-
sações ou indemnizações a que tem direito se ficar incapacitado devido a um
acidente de trabalho. É verdade que a entidade patronal terá de compensar e
indemnizar a trabalhadora, substituindo-se à seguradora que não contratou.
No entanto, é provável que, para o conseguir, tenha de recorrer aos tribunais,
através do Ministério Público ou contratando um advogado.
Se a empresa não a tiver inscrito, tratando-se do primeiro emprego,
ou comunicado a sua contratação (em ambos os casos, nas 24 horas anteri-
ores ao início do contrato), apresente a situação à Segurança Social. A falta
de pagamento das contribuições pode levar à condenação do empregador
por crime de abuso de confiança, caso tenha descontado o montante do
salário, sem o entregar à Segurança Social, ou por crime de fraude contra
a Segurança Social, quando, por não pagar as contribuições, ganhar ilicita-
mente mais de 7500 euros. Os dois crimes são punidos com prisão até três
anos ou multa até 360 dias (a cada dia corresponde um valor entre cinco e
500 euros), embora as circunstâncias possam determinar penas mais ele-
vadas. Outra possibilidade é rescindir o contrato, com justa causa, e pedir
uma indemnização, no mínimo, entre 15 e 45 dias de salário por cada ano
completo de antiguidade. Se conseguir provar que sofreu danos de maior
monta, a indemnização será mais elevada.

Igualdade e discriminação
137  Numa entrevista de seleção para um emprego, perguntaram‑me se sou
casada, se tenho filhos e se estou grávida ou pretendo engravidar nos
próximos anos. Recusei‑me a responder, por entender que se trata de questões
pessoais, mas estou convencida de que perdi qualquer hipótese de conseguir o
lugar. Este tipo de perguntas é permitido?

A lei proíbe qualquer tipo de discriminação, quer no local de trabalho,


quer nos processos de seleção de candidatos a emprego. É visada em par-
ticular a discriminação sexual, estando as empresas obrigadas a manter,
durante cinco anos, registo do recrutamento efetuado, com separação de
sexos e que contenha todos os elementos que permitam uma fiscalização
adequada.

144
A Trabalho

A lei também protege os direitos de personalidade, nomeadamente a intimi-


dade da vida privada de trabalhadores e candidatos a emprego. Só podem
ser solicitadas informações sobre saúde ou possível gravidez se forem rele-
vantes para avaliar a capacidade de exercer as funções atribuídas. Nestes
casos, a empresa terá de apresentar uma justificação escrita à candidata ou
trabalhadora. As informações são fornecidas pela própria a um médico, que
apenas comunica à empresa se a trabalhadora está apta ou não para as tare-
fas em causa. Portanto, embora estas questões possam surgir num processo
de seleção para um emprego, não podem ser os próprios entrevistadores a
colocá-las nem ter acesso às respostas. Se sentir que houve intromissão de
quem conduziu a entrevista ou entender que foi vítima de discriminação,
por ser casada, querer ter filhos, ser mãe de crianças pequenas ou outro
motivo, apresente o caso à Comissão para a Igualdade no Trabalho e no
Emprego.

138  Na secção em que trabalho, somos apenas dois funcionários e


desempenhamos as mesmas tarefas. O meu colega entrou para a empresa
poucos meses antes de mim e temos a mesma produtividade. No entanto, todos
os anos ele tem aumentos salariais superiores, verificando‑se já um certo desnível
entre os nossos ordenados. Não estarei a ser vítima de discriminação?

Todos os trabalhadores devem receber tratamento igual do empregador,


sem discriminação em razão do sexo, da idade, da religião, da raça ou de
outros fatores. Os trabalhadores têm todos os mesmo direitos, particular-
mente em aspetos como o acesso a formação, a progressão na carreira e a
retribuição. Quanto a esta, existe mesmo o princípio “para trabalho igual,
salário igual”, entendendo-se que trabalho igual é aquele que tem a mesma
quantidade (em duração e intensidade), natureza (idêntico grau de dificul-
dade, penosidade ou perigosidade) e qualidade (a mesma exigência quanto
a conhecimentos, mérito e capacidade).
A empresa não está impedida de, tendo em conta fatores como a produti-
vidade, mérito, capacidade de trabalho, competência, assiduidade ou anti-
guidade, pagar mais a um trabalhador do que a outro. Porém, se este tiver
fundamentos para afirmar que, pelo contrário, se trata de uma situação
de trabalho igual e que a diferença salarial é ditada por mera discrimina-
ção, pode denunciar o caso à Autoridade para as Condições do Trabalho
ou recorrer aos tribunais, para que a entidade patronal seja condenada
a pagar-lhe salário igual ao colega que faz o mesmo. Se a discriminação
for ditada pelo género do trabalhador ou pela sua orientação sexual, o
caso deve ser reportado à Comissão para a Igualdade no Trabalho e no
Emprego.

145
A Defenda os seus direitos

Danos e perdas
139  Sou vendedor e desloco‑me habitualmente no carro da empresa. Ontem tive
um acidente de viação, que foi da minha responsabilidade. Quem paga os
prejuízos que causei na viatura?

Sendo o carro um instrumento de trabalho que é propriedade da empresa,


e estando o trabalhador ao seu serviço, a regra é a responsabilização da
empresa. No entanto, é admissível que o regulamento interno ou o con-
trato de trabalho prevejam regras para as situações em que a negligência ou
outros comportamentos graves do trabalhador estejam na origem de aciden-
tes da sua exclusiva responsabilidade (por exemplo, condução sob o efeito
do álcool, excesso de velocidade ou desrespeito pela sinalização de trânsito).
As despesas também podem estar cobertas pelo seguro automóvel contra-
tado pela empresa: se tiver a cobertura de danos próprios (ou “contra todos
os riscos”), será a seguradora a suportar os encargos decorrentes do sinistro.
No entanto, podem existir franquias, a cargo da empresa ou do trabalha-
dor, ou dar-se o caso de a seguradora, face às circunstâncias, não assumir
a responsabilidade (por exemplo, o acidente ter sido originado pelo estado
de embriaguez do condutor). Outra hipótese é o trabalhador receber da
empresa algum subsídio ou abono especial que tenha como contrapartida
ser ele a pagar eventuais danos da sua responsabilidade. Assim sendo, a res-
posta depende das circunstâncias do acidente e do que esteja definido no
contrato, no regulamento da empresa e em eventuais outras fontes de direi-
tos e deveres do trabalhador. Em caso de dúvida, contacte a Autoridade para
as Condições do Trabalho (ACT).

140  
O meu patrão quer que o reembolse pelas falhas de caixa que ocasionei, num
montante que ultrapassa o meu salário mensal. Tem esse direito?

Os trabalhadores que lidam com dinheiro ou outros meios de pagamento


estão sujeitos a cometer erros que prejudicam a entidade patronal. Por
vezes, é-lhes atribuído um subsídio, chamado abono para falhas, que se des-
tina a fazer face a estas situações. Não se trata de uma imposição legal, mas
de um pagamento que fica ao critério de cada empresa. O mais provável
é que algo esteja previsto sobre esta questão no regulamento da empresa,
no contrato ou até em instrumentos de regulamentação coletiva de traba-
lho. Perante erros ou omissões do trabalhador, a empresa pode assumir as
consequências, como um risco da sua atividade, ou solicitar que ele reponha
a quantia em falta. Em princípio, esta última opção só deveria aplicar-se

146
A Trabalho

quando o trabalhador recebe o abono para falhas, mas também é possível


nos restantes casos. A empresa deve ter em conta vários fatores, nomea-
damente o comportamento habitual do trabalhador, as circunstâncias em
que ocorreram as falhas, eventuais reincidências, o montante em causa,
etc. Quanto à quantia que o empregador pode descontar mensalmente,
para repor os valores em falta, não deve ultrapassar 1/6 da retribuição do
trabalhador.
Estamos, evidentemente, a pensar em situações em que a diferença entre
o dinheiro em caixa e o que deveria existir se deve a erro ou descuido do
trabalhador, e não àquelas em que ele, propositadamente ou por manifesta
negligência, contribui para o desaparecimento de quantias da entidade
patronal. Neste caso, o trabalhador será sempre responsabilizado, podendo
até ser alvo de um procedimento disciplinar e, em situações de maior gravi-
dade, ser despedido com justa causa.

147
A
A

Capítulo 7

Família
A Defenda os seus direitos

Paternidade, adoção
e filhos menores

141  
Tive uma relação ocasional, da qual resultou um filho, mas a mãe recusa‑me
o direito de assumir a paternidade e ver a criança. O que posso fazer?

Acontece, por vezes, que a mãe, sabendo quem é o pai da criança, recusa
reconhecê-lo como tal e, ao registá-la na conservatória do registo civil, não
identifica o progenitor. Pode ainda fazer falsas declarações ou omitir factos
importantes, inviabilizando a investigação da paternidade. Se tiver conhe-
cimento da situação e quiser assumir a paternidade, o pai pode fazê-lo
em qualquer altura através da perfilhação, que consiste numa declaração
dizendo que é o pai e pode ser feita no registo civil, por escritura pública
num notário ou por testamento. Esta será válida se ninguém a contestar.
A paternidade também pode ser assumida na sequência de uma ação de
investigação da paternidade, um processo que corre em tribunal e é desen-
cadeado pelo próprio, pela mãe, pelo filho ou pelo tribunal, quando haja
registo de um bebé apenas com a identificação da mãe.

Também é possível que a criança já esteja registada como sendo filha de


outro homem. Por exemplo, a lei assume que, quando uma mulher casada
dá à luz, o seu marido é o pai da criança. Nestes casos, quem se apresenta
como pai terá de avançar com uma ação de impugnação de paternidade e,
no mesmo processo, solicitar que seja feita a investigação e reconhecida e
registada a sua paternidade. Para o efeito, terá de entregar um requerimento
ao delegado do Ministério Público, mas, tratando-se de uma mulher casada,
tem um prazo de 60 dias a contar do registo da criança. Depois disso, para
tentar impugnar a paternidade, terá de avançar com uma ação por sua ini-
ciativa, e já não através do Ministério Público. Em princípio, isso pode acon-
tecer enquanto o filho for menor ou até dez anos depois de atingir a maiori-
dade ou ser emancipado pelo casamento.

A partir do momento em que o tribunal determina que é o pai, pode pedir


a regulação das responsabilidades parentais e assumir a paternidade, par-
ticipando na educação da criança e estando com ela por períodos mais ou
menos longos (fins de semana, feriados, aniversários, férias). Em suma, o pai
poderá estreitar a sua relação com o filho e contribuir para a sua segurança,
saúde, educação e sustento.

150
A Família

142  
O pai do meu filho recusa‑se a reconhecer a paternidade. O que posso fazer
para que assuma as suas responsabilidades?

Quando uma criança é registada sem que o pai seja identificado, o tribu-
nal é informado desse facto, ouve a mãe e, caso esta indique quem é o
pai, também este é ouvido. Se a identidade do pai não for confirmada, o
Ministério Público, entidade que representa o Estado em tribunal, pode
dar início a uma ação de investigação da paternidade. Também a mãe
pode iniciar um processo nesse sentido, em nome do filho menor. Terá
oportunidade de indicar quem é — ou julga ser — o pai da criança, o que
será sujeito a confirmação, se necessário, através de exames genéticos.
Em regra, os tribunais não admitem a recusa do presumível pai em sub-
meter-se a esses exames e, nas raras exceções em que o fazem, entendem
que há uma inversão do ónus da prova. Significa isto que terá de ser ele a
provar que não é o pai da criança. Não conseguindo fazê-lo, passa a ser
considerado como tal. Identificada a paternidade, se, mesmo assim, o pai
não assumir as suas responsabilidades, a mãe pode recorrer ao tribunal,
para que este o obrigue, pelo menos, a contribuir para as despesas básicas
do filho.

143  
Tenho 55 anos e sou solteiro. Posso adotar um menor, para que ele tenha
todos os direitos de um filho natural?

A diferença de idades entre adotante e adotado não pode ser superior a


50 anos. Só não existe este limite se se tratar do filho do cônjuge ou noutras
situações excecionais, como, por exemplo, serem adotados vários irmãos e a
diferença máxima de idades só não ser respeitada em relação a algum deles.
Portanto, no caso presente, apenas lhe é permitido adotar uma criança que
não tenha menos de cinco anos.
Existem, ainda, outros limites de idade: o adotante não pode ter mais de
60 anos nem menos de 30, exceto se o adotado for o filho do cônjuge ou
for um casal a adotar, situações em que o limite de idade desce para 25.
Além deste requisito, os casais que pretendam adotar terão de estar casados
ou viver em união de facto há mais de quatro anos e não estar separados
judicialmente ou de facto, bem como de respeitar os limites máximos atrás
referidos: pelo menos um deles ter até 60 anos e uma diferença máxima de
50 anos para o adotando.
O processo de adoção decorre na Segurança Social. A criança poderá ser
entregue para um período de pré-adoção que será acompanhado pela Segu-
rança Social durante algum tempo e será esta entidade que avalia se o can-
didato a adotante cumpre ou não os requisitos necessários.

151
A Defenda os seus direitos

144  
O meu sogro, com quem eu e a minha mulher estamos de relações cortadas,
ameaça recorrer a um advogado e levar‑nos a tribunal, se não puder ver
regularmente os netos. O que poderá daí resultar?

A lei determina que os pais não podem impedir o convívio dos filhos com
os avós, a não ser que razões graves aconselhem essa medida, por existirem
riscos para a saúde, segurança e desenvolvimento físico e moral das crian-
ças. Perante esta regra, discute-se se existe o direito de visita da parte dos
avós e tem havido tribunais que consideram que sim e outros que entendem
que não, apenas existindo o direito dos netos a conviverem com os avós.
Este, sim, é indiscutível. Já houve decisões judiciais a considerar que, não
havendo da parte dos netos vontade de estar com os avós — tratando-se,
evidentemente, de jovens já com idade para exprimir livremente essa von-
tade —, o convívio não pode ser-lhes imposto, uma vez que o direito é seu,
e não dos avós.
Independentemente destes considerandos, os avós que sintam que estão,
de forma injustificada, privados do convívio com os netos podem recorrer
aos tribunais para que estes reconheçam o direito a essa relação. E, em regra,
os tribunais só não atendem o pedido dos avós se houver razões fortes que
o desaconselhem.

145  
Depois do divórcio, o meu ex‑marido ficou com a guarda dos nossos filhos.
Agora, não me deixa vê‑los. O que posso fazer?

No processo de divórcio, seja por mútuo consentimento ou não, tem de


ficar definida a guarda dos filhos comuns que sejam menores de idade. Por
acordo ou através de decisão judicial, recorrendo à mediação familiar ou a
um advogado, determina-se quem fica com as responsabilidades parentais
(só um ou ambos), com quem ficam a viver, quando estarão com o outro
progenitor, quem assume e em que medida as despesas de educação, saúde,
alimentação e vestuário, com quem passam os fins de semana, as férias, etc.
Fixadas pela conservatória do registo civil, depois de consultado o Ministé-
rio Público, ou pelo tribunal, as regras quanto às responsabilidades paren-
tais têm de ser cumpridas. Se o ex-marido, a quem foram confiados os filhos
menores, deixa de permitir que a mãe os veja, quando está obrigado a
fazê-lo, isso constitui uma violação do acordo. A mãe pode, então, recor-
rer ao tribunal, para que este obrigue o pai a permitir as visitas nos termos
definidos. Se ele não o fizer, estará a cometer um crime de desobediência,
punível com pena de prisão até um ano ou multa até 120 dias (a cada dia
corresponde um valor entre cinco e 500 euros). Se existirem circunstâncias
agravantes, a pena pode ir até aos dois anos de prisão ou 240 dias de multa.

152
A Família

A mãe tem, ainda, a possibilidade de solicitar uma alteração do regime, pas-


sando, por exemplo, a assumir a guarda dos filhos.
A menos que o pai fundamente a recusa, provando que a presença da mãe
é nociva — por exemplo, surge constantemente embriagada, agride os filhos
ou não zela pela sua segurança —, o tribunal dará razão à mãe, nunca esque-
cendo que o fator mais importante é o interesse e bem-estar dos menores.

146  
O meu filho de 12 anos comprou uma consola de jogos com dinheiro que
tinha guardado. Eu e o meu marido tínhamo‑lo proibido. A compra é válida?
Podemos desfazer o negócio e exigir o reembolso ao vendedor?

O negócio não é válido, pelo que podem devolver a consola e exigir a devo-
lução do montante pago. Os menores de 18 anos não têm capacidade para
celebrar negócios jurídicos, como a compra e venda de bens. Esta regra tem
exceções. Por um lado, estão autorizados a celebrar contratos que corres-
pondam a atos próprios da vida corrente e impliquem pequenas despesas.
Será assim com a compra de uma garrafa de água, uma pastilha elástica
ou um gelado ou até um livro ou um disco. Por outro lado, quem já tenha
16 anos pode comprar o que quiser com o produto do seu trabalho.
Como a compra da consola por um jovem de 12 anos não se enquadra em
nenhuma destas exceções, o vendedor deveria ter atuado com cautela,
pedindo-lhe que voltasse à loja acompanhado pelos pais. Não o tendo feito,
estes podem dirigir-se à loja para anular a compra. Se o vendedor não aceitar
o pedido, devem solicitar o livro de reclamações. Simultaneamente, podem,
num julgado de paz ou no tribunal, pedir a anulação daquele negócio e a
devolução do montante gasto pelo menor.

147  
O meu filho de dez anos partiu a montra da mercearia quando estava a jogar
à bola. O proprietário exige‑me que pague o prejuízo. Tenho de o fazer?

Em princípio, sim. Os pais têm um dever de vigilância em relação aos filhos


menores e são responsáveis pelos atos que eles pratiquem. Não exercendo
este dever de forma adequada, são responsáveis pelos danos por eles causa-
dos, a menos que demonstrem que nada poderiam ter feito para os evitar.
E é irrelevante que a criança não o tenha feito intencionalmente, que o pre-
juízo tenha resultado de um descuido ou de um acidente. No caso apresen-
tado, os pais têm de pagar o estrago porque o filho estava a jogar à bola num
local não adequado.
Em certas situações, a responsabilidade pode ser partilhada com quem
tivesse o filho à sua guarda, como um professor ou um monitor desportivo.

153
A Defenda os seus direitos

Em princípio, um acidente na escola responsabiliza a própria escola.


No entanto, pode verificar-se, por exemplo, que o menor não obedeceu a
professores ou funcionários da escola ou atuou à sua revelia, revelando um
comportamento pouco correto. Nesse caso, também os pais poderão ser
chamados a responder.
Os tribunais tendem a considerar aspetos como a educação dada pelos pais
ou a preocupação que demonstram com a sua segurança e desenvolvimento.
Também é importante a idade do filho, pois um jovem de 15 anos não exige
o mesmo tipo de acompanhamento de uma criança de quatro anos. Para
minorar os prejuízos em situações desta natureza, é aconselhável contra-
tar um seguro de responsabilidade civil familiar que cubra eventuais danos
resultantes da atuação dos filhos menores. Bastará pagar entre 25 e 50 euros
anuais para ter um capital seguro de 100 mil euros. Ou seja, em cada ano,
o seguro cobre despesas até este valor.

Filhos adultos e apoio aos pais


148  
A minha filha será em breve maior de idade. O que é que isso altera,
a nível jurídico?

Ao fazer 18 anos, a sua filha atinge a plenitude de direitos e deveres. Já não


existem as responsabilidades parentais, a que antes se chamava poder pater-
nal, pelo que pode tomar as suas próprias decisões. Nomeadamente, passa
a poder comprar ou alugar bens, tal como vender, emprestar, dar ou hipote-
car aqueles de que seja proprietária, sem precisar de autorização. Por outro
lado, os pais já não serão responsabilizados pelos atos dela.
Apesar destas mudanças, o papel dos pais não termina aqui. Enquanto a
filha não completar a formação escolar e profissional, têm de continuar a
sustentá-la e suportar as despesas com a sua segurança, saúde e educação.
Como é evidente, esta obrigação não é eterna. Não pode exigir-se que os pais
continuem a financiar os estudos de um filho boémio que pouco ou nada liga
aos seus estudos universitários (veja também a próxima pergunta). Em caso
de separação ou divórcio, o progenitor que ficar obrigado a pagar pensão
de alimentos terá de fazê-lo até aos 25 anos de idade dos filhos, sempre que
estes, depois de atingirem a maioridade, continuam a sua formação.
Com a maioridade, vem também a possibilidade de votar nas eleições
para cargos públicos e de se apresentar como candidato a esses mesmos

154
A Família

cargos — à exceção das eleições para Presidente da República, em que os


candidatos não podem ter menos de 35 anos.

149  
O meu filho de 21 anos decidiu sair de casa, mas não tem meios
que garantam a sua subsistência. Tenho obrigação de lhe pagar
as despesas?

Mesmo depois de os filhos atingirem a maioridade, os pais continuam a ter


de prestar-lhes o apoio económico necessário para cobrir as despesas de
alimentação, vestuário, saúde e educação, até completarem a sua formação
escolar e profissional. Mas esse apoio depende das necessidades concretas
dos filhos e das possibilidades dos pais, devendo adequar-se aos rendimen-
tos destes. Se o maior, ainda estudante, pretender sair de casa, os pais não
estão obrigados a custear os encargos com o alojamento, a menos que o
filho tenha de prosseguir os estudos noutra cidade, afastada da residência
dos pais, e estes tenham a possibilidade de suportar a despesa. Se a decisão
de sair de casa dos pais se dever a uma mera vontade de autonomia, nada
tendo que ver com necessidades de estudo ou formação profissional, não
têm de suportar os encargos daí resultantes.

150  Os meus pais são idosos e recebem apenas uma pequena pensão, que não
lhes permite uma vida condigna. Tento ajudá‑los, na medida das minhas
possibilidades, mas os meus rendimentos também são baixos. Poderei obrigar o
meu irmão, que tem meios para tal, a contribuir?

Para que isso aconteça, têm de ser os seus pais a tomar a iniciativa de o exi-
gir ao seu irmão. A menos, claro, que estejam de tal forma debilitados que
não tenham capacidade para fazê-lo. Nesse caso, podem ser representados
por outros filhos. Quando os pais não dispõem de meios que lhes permi-
tam uma sobrevivência condigna, os filhos que tenham essa possibilidade
devem ajudá-los no que seja indispensável para o seu sustento, habitação e
vestuário, de forma a viverem com um mínimo de conforto. Não o fazendo
voluntariamente, os pais podem avançar com uma ação judicial, para que o
tribunal imponha uma prestação de alimentos.
Apesar de ser comum falar-se da obrigação de prestação de alimentos ape-
nas relativamente aos filhos e ao ex-cônjuge, há outras situações em que a
lei considera que ela existe. É assim com os pais, avós, irmãos ou sobrinhos,
por exemplo. Havendo pessoas com essa necessidade, o tribunal condenará
os familiares a contribuírem para o seu sustento, por ordem de proximidade
e de acordo com a capacidade financeira de que disponham.

155
A Defenda os seus direitos

Separação e divórcio
151  Estou separada há dois anos, mas o meu marido continua a recusar o
divórcio. Isso impossibilita‑me de casar com o meu novo companheiro. O que
posso fazer para resolver a situação?

Terá de contratar um advogado e propor em tribunal uma ação de divórcio


sem o consentimento do seu marido. É necessário fundamentar o pedido,
o que neste caso é simples, pois já se encontram separados de facto há
mais de um ano. Quando não existe mútuo consentimento para o divórcio,
é necessário apresentar um dos seguintes fundamentos:
— separação de facto durante um ano;
— ausência de um dos cônjuges, sem notícias, há pelo menos um ano;
— alteração das faculdades mentais do cônjuge durante, pelo menos,
um ano, comprometendo a vida em comum;
— outro facto que demonstre a rutura definitiva do casamento.

Já no divórcio por mútuo consentimento, tudo é mais simples. Além de não


exigir a apresentação de um motivo, dispensa o recurso a advogado, decorre
na conservatória do registo civil e só é necessário apresentar um requeri-
mento conjunto, indicando também o que acontece à casa da família (quem
nela fica a viver), com quem ficam os filhos menores e se algum cônjuge fica
obrigado a pagar uma pensão de alimentos ao outro.

152  
A minha mulher deixou‑me, levando consigo todos os móveis. Terei direito a
exigir que mos devolva?

A resposta depende do regime em que foi celebrado o casamento e de quem


comprou os móveis. Se casaram no regime de separação de bens, os móveis e
todos os outros bens comprados por cada um após o casamento pertencem
àquele que os adquiriu — salvo os adquiridos em conjunto, que pertencem a
ambos. Aquilo que cada um já tinha antes do casamento continua a ser ape-
nas seu. No regime de comunhão geral de bens, quase todos os bens perten-
cem a ambos, incluindo os que já existiam antes do casamento. As exceções
são as roupas, recordações de família (fotografias, por exemplo) e objetos de
uso pessoal, como relógios, anéis, etc.
No regime da comunhão de bens adquiridos, que, atualmente, é o adotado
se, quando casam, os cônjuges nada disserem em contrário, cada um deles
conserva como seus os bens que:

156
A Família

— já tinha antes do casamento;


— recebeu por sucessão ou doação, depois do casamento;
— adquiriu depois do casamento em consequência de um direito próprio
anterior (por exemplo, a compra de um carro na sequência de um con-
trato-promessa celebrado ainda antes do casamento);
— o produto da venda de bens próprios.

Portanto, a sua mulher terá de devolver os bens que, de acordo com o


regime adotado, são seus, bem como a sua parte do património comum.
Se ela não o fizer voluntariamente, resta-lhe propor uma ação em tribunal.
Caso não pensem avançar já para o divórcio, será aconselhável procederem
à divisão dos bens comuns, através de uma separação judicial de bens, para
evitar mais problemas deste tipo. Trata-se de uma ação em tribunal, para a
qual irá necessitar de um advogado.

153  
O meu marido desapareceu há vários anos e tudo indica que tenha morrido.
Como poderei regularizar a situação, do ponto de vista jurídico?

O procedimento a seguir depende do que pretender. Caso apenas queira pôr


fim ao casamento, pode avançar com uma ação de divórcio. Já se quiser que
seja efetivamente considerado morto, terá de requerer a declaração de morte
presumida. A ausência do cônjuge, sem notícias, durante um ano, permite
pôr termo ao casamento, por meio de uma ação em tribunal. Se for isto que
pretende, contacte um advogado, para propor uma ação de divórcio sem con-
sentimento de um dos cônjuges, com este fundamento. O ausente é notificado
para a última morada conhecida. Podem também ser colocados editais, para
notificação adicional. Se houver necessidade de se dispor ou de administrar
os bens comuns do casal, enquanto a questão não se resolve em tribunal,
o cônjuge, qualquer outro herdeiro ou mesmo o Ministério Público podem
requerer que seja nomeado um curador, para administrar os bens comuns
e, eventualmente, os da pessoa ausente. Normalmente, o curador será o
cônjuge ou o herdeiro que propôs a ação.

A declaração de morte presumida tem os efeitos jurídicos da morte. Permite,


por exemplo, que os herdeiros partilhem os bens do ausente e, se este era
casado, que o cônjuge volte a casar, sem divórcio. A declaração pode ser pedida
ao tribunal, por um herdeiro da pessoa desaparecida, quando tiverem passado:
— 10 anos sobre a data das últimas notícias;
— 5 anos sobre a data das últimas notícias, se, entretanto, o ausente tiver
completado 80 anos de idade;
— 5 anos sobre a data em que atingiria a maioridade, se o desaparecido fosse

157
A Defenda os seus direitos

menor. Ou seja, a morte presumida nunca será declarada antes da data


em que completaria 23 anos de idade.

Caso o ausente regresse ou haja conhecimento de que está vivo e do seu


paradeiro, os bens terão de ser devolvidos. Se o cônjuge tiver, entretanto,
casado, o casamento anterior é considerado dissolvido por divórcio, na data
em que foi declarada a morte presumida do ausente.

154  
A minha ex‑mulher, a quem pago uma pensão de alimentos, vive agora com
o novo namorado. Terei de continuar a pagar a pensão?

A obrigação de pagar a pensão de alimentos após o divórcio cessa quando


quem a recebe casa ou começa a viver em união de facto com outrem. Para
regularizar a situação, e havendo concordância de quem recebia, o ideal
é declararem por escrito que chegaram a acordo para que a pensão deixe
de ser paga. Esta declaração é entregue no tribunal ou na conservatória do
registo civil, consoante o local onde decorreu o processo de divórcio. Caso
a sua ex-mulher não esteja de acordo, pode simplesmente deixar de pagar,
embora seja aconselhável comunicar-lhe por escrito porque o faz, ou seja,
dizer expressamente que ela deixou de ter direito à pensão por estar a viver
em união de facto com outra pessoa. Se assim o entender, ela poderá quei-
xar-se em tribunal da falta de pagamento. Da sua parte, bastará que funda-
mente a decisão. Outra opção é formalizar desde logo a questão, recorrendo
ao tribunal para alterar o regime fixado, devido à circunstância referida.
Esta não é a única circunstância a implicar mudanças no pagamento da pen-
são de alimentos. Com efeito, a pensão é determinada porque quem a recebe
demonstrou necessitar dela. O seu valor terá em conta, além dessa necessidade,
os meios de que dispõe quem tem de a pagar. Ora a situação pode alterar-se,
levando a um aumento do valor da pensão, à sua redução ou até à sua supres-
são. Quem não tinha dificuldades de subsistência (e, portanto, não necessitava
de alimentos) pode passar a exigi-los, se sofrer uma drástica redução dos seus
rendimentos, ou, pelo contrário, as condições de vida de quem deles necessi-
tava melhorarem ao ponto de deixar de precisar deles. Por outro lado, quem
presta alimentos pode deixar de ter rendimentos que lhe permitam pagá-los.

155  
Por decisão do tribunal, o meu ex‑marido está obrigado a pagar‑me uma
pensão de alimentos, mas há vários meses que não o faz. Como devo
proceder para o fazer cumprir a sua obrigação legal?

Comece por enviar-lhe uma carta, questionando o não pagamento da pen-


são e exigindo que pague tudo o que está em falta até uma determinada

158
A Família

data. Se não resultar, recorra ao tribunal, que poderá mesmo ordenar que
lhe sejam penhorados os bens: por exemplo, decidir que uma parte do
salário do seu ex-marido ficará retida, mensalmente, para lhe ser entregue
a si. Se ele não tiver rendimentos ou bens que possam ser utilizados para
pagar a dívida, o processo será mais difícil, mas isso não significa que perca
o direito à pensão. Só assim será se o seu ex-marido conseguir provar em
tribunal que, tendo as circunstâncias mudado (veja a resposta à pergunta
anterior), deixou de fazer sentido que a obrigação de pagamento da pensão
se mantenha.
Sendo injustificada, a falta de pagamento da pensão é crime. Se o atraso for
superior a dois meses, pode ser punido com multa até 120 dias (a cada dia
corresponde um valor entre cinco e 500 euros). Caso isso aconteça com fre-
quência, além da multa, fica sujeito a uma pena de prisão até um ano. Final-
mente, se a obrigação não for cumprida e, com isso, quem deveria recebê-la
ficar em risco de não satisfazer as suas necessidades mais básicas, a pena vai
até dois anos de prisão ou 240 dias de multa. No entanto, se o incumpridor
não tiver meios para pagar, nunca será condenado pela prática de um crime.

Dívidas e heranças
156  
A minha mulher deixou‑me há mais de um ano, mas sou frequentemente
contactado para pagar dívidas que tem vindo a contrair desde então. Tenho
de pagá‑las?

Em princípio não, mas irá depender do entendimento do tribunal se for


posta uma ação nesse sentido. As dívidas responsabilizam ambos os cônju-
ges quando são contraídas por ambos ou por um com o consentimento do
outro, quando se destinam a satisfazer encargos da vida familiar (alimenta-
ção, educação, saúde, etc.) ou são contraídas em proveito comum do casal.
Se a sua mulher for comerciante e não tiverem casado em regime de separa-
ção de bens, também se presume que foram feitas em proveito comum do
casal e terá de ser o senhor a provar que assim não foi. Em todas as restantes
situações, as dívidas responsabilizam apenas quem está na sua origem.
No caso presente, estando os cônjuges separados, será mais difícil os cre-
dores provarem que, tendo sido assumidas só por um, as dívidas foram
contraídas para proveito comum ou para encargos da vida familiar. No
entanto, os tribunais têm entendido que a separação de facto não impossibi-
lita a existência de dívidas comuns, pelo que poderá ser incomodado pelos

159
A Defenda os seus direitos

credores e, num processo em tribunal, talvez seja chamado a responder pelo


pagamento. Para evitar situações destas, os cônjuges que já não vivem jun-
tos, mas ainda não se divorciaram, devem proceder à separação dos bens
comuns, que pode ser feita por escritura notarial ou em processo judicial.

157  
Vivo em união de facto há três anos. Devo contribuir para o pagamento das
dívidas da minha companheira?

Na união de facto, cada um é responsável pelas dívidas que contrai. Ao con-


trário do que acontece no casamento, não são considerados o proveito
comum ou aos encargos familiares. Assim, se um dos membros do casal
compra uma casa, um carro ou qualquer outro bem, não só é o único pro-
prietário desse bem como também assume sozinho as dívidas com ele rela-
cionadas. Portanto, e respondendo à sua pergunta, só contribuirá para o
pagamento das dívidas da sua companheira se assim o entender.
No entanto, os unidos de facto podem, ainda assim, ter dívidas comuns.
Será o caso se, por exemplo, pedirem um empréstimo ao banco em nome
dos dois. Ou seja, ambos terão de responder por essa dívida. Por outro lado,
se vierem a casar, as dívidas contraídas por um, antes do casamento, para
fazer face aos encargos da vida em comum, passam a ser da responsabi-
lidade de ambos. Tendo em conta as regras aplicadas às uniões de facto,
é conveniente que os encargos para benefício de ambos sejam assumidos
pelos dois. Por exemplo, se contraírem um empréstimo para comprar um
carro que será utilizado pelo casal, convém que ambos constem do contrato.
Se assim não for, aquele que ficar como único devedor arrisca-se a ter de
arcar sozinho com uma dívida que deveria ser suportada pelos dois.

158  
Não mantenho contacto com os filhos que resultaram do meu primeiro
casamento e não desejo que sejam meus herdeiros após a minha morte.
Posso deserdá‑los?

Os filhos são herdeiros legais e, mesmo na ausência de uma relação efetiva,


terão sempre direito à sua parte da herança por morte dos pais. Só existe
a possibilidade de os deserdar em casos graves. Assim será se o filho tiver:
— sido condenado por um crime praticado intencionalmente contra o pai
ou o cônjuge, os seus bens ou a sua honra, bem como de algum dos seus
descendentes, ascendentes, adotante ou adotado, desde que o crime seja
punido com uma pena superior a seis meses de prisão;
— sido condenado por denúncia caluniosa ou falsas declarações contra
essas pessoas;
— recusado, sem motivo, prestar alimentos ao pai ou ao seu cônjuge.

160
A Família

A deserdação é feita por testamento e pode ser impugnada pelos herdeiros


implicados, através de uma ação em tribunal proposta no prazo máximo de
dois anos a contar da abertura do testamento.

159  
A minha mãe faleceu e desconfio que o meu irmão está a tentar subtrair
alguns dos bens. O que devo fazer para evitar que isso aconteça?

Quando alguém morre, os familiares mais próximos devem comunicá-lo à


conservatória do registo civil, no prazo de 24 horas. Habitualmente, isso é
feito pela agência funerária. Depois, têm até ao final do terceiro mês após o
do falecimento para comunicar o óbito ao serviço de Finanças, fornecendo
a habilitação de herdeiros efetuada no notário ou no Balcão Heranças e a
relação dos bens deixados pelo falecido. Em relação aos imóveis e aos bens
móveis registados nas Finanças, como os automóveis, a apropriação inde-
vida está dificultada, uma vez que entram diretamente na relação de bens.
O mesmo acontece com as contas bancárias, já que os bancos terão de pas-
sar uma declaração para se entregar nas Finanças, com os valores deposi-
tados à data do óbito e à data em que foi pedida a declaração. Se existirem
contas em nome do falecido e de algum herdeiro que possa, entretanto,
movimentá-las, esses movimentos não passarão despercebidos. Em caso de
dúvida sobre as contas bancárias existentes, os herdeiros podem obter essa
informação através do Banco de Portugal, já na posse do assento de óbito e
da habilitação de herdeiros. Para averiguarem da existência de seguros de
vida, poderão contactar a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de
Pensões (ASF). Em relação a outros bens, nomeadamente objetos pessoais,
será mais difícil saber ao certo o que existia, a menos que as pessoas mais
próximas do falecido tivessem conhecimento disso.

Feita a relação de bens, procede-se à partilha dos bens pelos herdeiros,


de acordo com as regras definidas na lei e, se existir e respeitar estas regras,
num eventual testamento. Faltando o acordo entre os herdeiros para a par-
tilha, deve optar-se pelo processo de inventário, no notário ou no tribunal.
Se algum dos herdeiros conseguir apoderar-se de algo que (ainda) não é seu,
os restantes podem sempre recorrer aos tribunais para que seja condenado
a devolver o que levou e até para anularem negócios que, eventualmente,
tenha levado a cabo com esses bens (uma venda, por exemplo). Mesmo
depois da partilha, se algum herdeiro vier a ter conhecimento de que exis-
tiam outros bens, pode requerer ao tribunal que os redistribua.
Enquanto não há lugar à divisão da herança, cabe ao cabeça-de-casal admi-
nistrar os bens do falecido e efetuar os procedimentos necessários à parti-
lha. Identificado como tal na habilitação de herdeiros, por norma o cabeça-
-de-casal será o familiar mais próximo do falecido.

161
A Defenda os seus direitos

160  
O meu pai faleceu recentemente. Como tinha muitas dívidas, gostaria de
saber se poderei recusar‑me a receber a herança.

Pode, de facto, recusar a herança, não tendo sequer de preocupar-se com


as dívidas que o seu pai deixou. Mas é importante saber que, aceitando,
só estará obrigado a pagar as dívidas com os bens da herança. Os bens que já
eram seus, por princípio, não podem ser usados para as pagar. No entanto,
para evitar situações em que se torne necessário provar que os bens já eram
seus, para os salvaguardar dos credores, havendo dúvidas sobre o deve e
o haver da herança é mais prudente aceitá-la a benefício de inventário. Por
outras palavras, é aberto um processo de inventário, no notário ou no tri-
bunal, durante o qual são apurados todos os bens da herança, bem como as
dívidas do falecido. Com estes dados, o herdeiro poderá tomar uma deci-
são mais fundamentada. Se nada disser no prazo que lhe for dado para o
fazer, pressupõe-se que aceita. A decisão tomada é irrevogável, ou seja,
não é possível voltar atrás. As suspeitas podem não se confirmar e, afinal,
o património ser superior ao esperado, pelo que aceitar a herança acabará
por ser compensador. Quando não for o caso, o melhor é mesmo recusá-la
ou, utilizando a terminologia legal, repudiá-la. O repúdio é feito através de
documento particular, se a herança apenas contiver bens móveis, ou por
escritura pública, se existirem bens imóveis. Estes documentos terão de ser
entregues ao cabeça-de-casal. O direito dos herdeiros a aceitar ou repudiar
a herança caduca dez anos depois da data em que são chamados à herança.
Ou seja, se, terminado esse prazo, chegarem à conclusão de que, afinal, acei-
tam a herança, há o risco de já ter revertido para os outros herdeiros ou,
se não existirem, para o Estado.

162
A

Legislação
em vigor
A Defenda os seus direitos

Às áreas do direito abrangidas neste guia aplicam-se regras com diferentes


origens, do código civil, código da estrada ou do trabalho, etc., a leis, decre-
tos-leis e outros diplomas legais. A resposta a uma questão concreta implica,
por vezes, a análise de um ou mais diplomas e, dentro destes, de diversos
artigos, além dos princípios gerais do direito. Estes diplomas estão em cons-
tante evolução. Assim, não seria possível listar aqui toda a legislação em
vigor para as várias áreas. Mas deixamos-lhe a mais relevante para os temas
de cada capítulo. Caso necessite de indicações mais precisas e atualizadas,
contacte o nosso Serviço de Informações através do 218 410 858 (chamada
para a rede fixa nacional). Também pode consultar a legislação em vigor no
Diário da República Eletrónico (dre.pt). Sempre que estiver disponível uma
versão consolidada, isso significa que o diploma original foi alterado, pelo
que deve consultar esta versão, que engloba todas as atualizações.

Introdução
• Arbitragem voluntária
Lei n.º 63/2011, de 14 de dezembro
• Julgados de paz
Lei n.º 54/2013, de 31 de julho
• Lei de Defesa do Consumidor
Lei n.º 24/96, de 31 de julho

Capítulo 1
Compras e serviços
• Agências de viagens e turismo
Decreto-Lei n.º 17/2018, de 8 de março
• Bagagem
Decreto n.º 96/81, de 24 de julho — aprova os protocolos de Montreal, que
alteram a Convenção de Varsóvia relativa a regras de transporte aéreo
internacional
• Cartão Europeu de Seguro de Doença
— Regulamento (CEE) n.º 1408/71 do Conselho, de 14 de junho, com as alte-
rações introduzidas pelo Regulamento (CE) n.º 631/2004 do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 31 de março
— Decisão n.º 2003/751/CE, de 18 de junho
— Regulamento (CE) n.º 859/2003 do Conselho, de 14 de maio
— Portaria n.º 1359/2009, de 27 de outubro
• Cauções nos serviços públicos essenciais
Decreto-Lei n.º 195/99, de 8 de junho

164
A Legislação em vigor

• Código do Imposto sobre Veículos (ISV)


• Código do Imposto Único de Circulação (IUC)
Lei n.º 22-A/2007, de 29 de junho
• Lei das Comunicações Eletrónicas
Lei n.º 5/2004, de 10 de fevereiro
• Crédito ao consumo
— Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de junho
— Decreto-Lei n.º 42-A/2013, de 28 de março
— Instrução n.º 12/2013 do Banco de Portugal
— Aviso n.º 10/2014 do Banco de Portugal
— Decreto-Lei n.º 74-A/2017, de 23 de junho
• Direito de livre resolução nos seguros de vida, de acidentes pessoais
e de saúde
Decreto-Lei n.º 72/2008, de 16 de abril
• Direitos dos passageiros de transportes aéreos em caso de recusa de
embarque, cancelamento ou atraso
Regulamento (CE) n.º 261/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 11 de fevereiro
• Garantia dos bens de consumo
Decreto-Lei n.º 84/2021, de 18 de outubro
• Garantias
Código Civil, artigos 913.º a 921.º
• Lei de Defesa do Consumidor
Lei n.º 24/96, de 31 de julho
• Importação de mercadorias sem caráter comercial
— Diretiva 2007/74/CE, de 20 de dezembro
— Diretiva (UE) 2017/2455 do Conselho, de 5 de dezembro
— Diretiva (UE) 2019/1995 do Conselho, de 21 de novembro

LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PARA SETORES


DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS
• Regulamento n.º 406/2021, de 12 de maio
Regulamento da Qualidade de Serviço dos Setores Elétrico e do Gás
• Regulamento n.º 1129/2020, de 30 de dezembro
Regulamento das Relações Comerciais dos Setores Elétricos e do Gás
• Regulamento n.º 629/2017, de 2 de dezembro
Regulamento da Qualidade de Serviço do Setor Elétrico e do Setor do Gás Natural
• Decreto-Lei n.º 194/2009, de 20 de agosto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 92/2010,
de 26 de julho, e pela Lei n.º 12/2014, de 6 de março
Regime Jurídico dos Serviços Municipais de Abastecimento Público de Água, de sanea-
mento de águas residuais e de gestão de resíduos urbanos

165
A Defenda os seus direitos

• Informação em português
Decreto-Lei n.º 238/86, de 8 de agosto
• Serviços públicos essenciais
Lei n.º 23/96, de 26 de julho
• Time-sharing
Decreto-Lei n.º 37/2011, de 10 de março
• Vendas à distância e fora do estabelecimento comercial
Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro

Capítulo 2
Responsabilidade civil e Administração Pública
• Acesso aos documentos da Administração
Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto
• Estatuto da Ordem dos Advogados
Lei n.º 145/2015, de 9 de setembro
• Proteção de dados pessoais
— Lei n.º 67/98, de 26 de outubro, com a retificação n.º 22/98, de 28 de
novembro
— Constituição da República Portuguesa, artigos 17.º e seguintes, 26.º e 35.º
— Regulamento (EU) 2016/679 do Parlamento e do Conselho, de 27 de abril
(Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados)
— Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto (Lei da Proteção de Dados Pessoais)
• Regime jurídico da habitação periódica
Decreto-Lei n.º 275/93, de 5 de agosto
• Regras de trânsito e veículos
Código da Estrada (Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de maio
• Responsabilidade civil
Código Civil, artigos 483.º a 510.º
• Responsabilidade da Administração Pública
Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro
• Serviços postais
Lei n.º 17/2012, de 26 de abril
• Título executivo
Código de Processo Civil (Lei n.º 41/2013, de 26 de julho), artigos 53.º a
58.º e 703.º a 877.º

166
A Legislação em vigor

Capítulo 3
Bancos e seguradoras
• Comissões por amortização antecipada e vendas associadas no cré-
dito à habitação
Decreto-Lei n.º 74-A/2017, de 23 de junho
• Lei uniforme relativa às letras e livranças
Decreto-Lei n.º 26556, de 30 de abril de 1936
• Meios de pagamento
Decreto-Lei n.º 91/2018, de 12 de novembro
• Regime jurídico do contrato de seguro
Decreto-Lei n.º 72/2008, de 16 de abril
• Uso de cartões
Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de junho
Decreto-Lei n.º 91/2018, de 12 de novembro

Capítulo 4
Propriedade e vizinhança
• Condomínio
Código Civil, artigos 1414.º a 1438.º-A
• Contrato-promessa
Código Civil, artigos 410.º, 442.º e 830.º
• Depósito e empreitada
Código Civil, artigos 1185.º a 1230.º
• Códigos do Imposto Municipal sobre Imóveis e do Imposto Municipal
sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis
Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de novembro
• Posse e usucapião
Código Civil, artigos 1251.º a 1300.º
• Propriedade e vizinhança
Código Civil, artigos 1302.º a 1402.º
• Regime da urbanização e edificação
Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro
• Regulamento geral do ruído
Decreto-Lei n.º 9/2007, de 17 de janeiro

167
A Defenda os seus direitos

Capítulo 5
Arrendamento
• Locação
Código Civil, artigos 1022.º a 1113.º, 1417.º e 1682.º-B
• Novo Regime do Arrendamento Urbano
Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro
• Obras em prédios arrendados
Decreto-Lei n.º 157/2006, de 8 de agosto
• União de facto
Lei n.º 7/2001, de 11 de maio

Capítulo 6
Trabalho
• Alteração das funções do trabalhador
Código do Trabalho, artigos 115.º a 120.º
• Alteração do local de trabalho
Código do Trabalho, artigos 193.º a 196.º
• Cessação do contrato por iniciativa do trabalhador
Código do Trabalho, artigos 394.º a 403.º
• Crimes contra a Segurança Social
Lei n.º 15/2001, de 5 de junho, artigos 106.º e 107.º
• Despedimento
— Código do Trabalho, artigo 338.º e artigos 351.º a 393.º
— Código de Processo do Trabalho, artigos 33.º-A a 43.º, 98.º-B a 98.º-P e
156.º a 161.º
• Exclusividade e dever de lealdade
Código do Trabalho, artigo 128.º
• Falta por doença
Código do Trabalho, artigo 249.º
• Férias
Código do Trabalho, artigos 237.º a 247.º
• Igualdade e não discriminação
Código do Trabalho, artigos 23.º a 32.º
• Pagamento de contribuições à Segurança Social
Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança
Social, aprovado pela Lei n.º 110/2009, de 16 de setembro. Em particular,
os artigos 29.º a 33.º e 37.º a 48.º
• Pensão de reforma e rendimentos de trabalho
Decreto-Lei n.º 187/2007, de 10 de maio, artigos 43.º e 62.º

168
A Legislação em vigor

• Proteção de dados pessoais e da intimidade do trabalhador


Código do Trabalho, artigos 14.º a 22.º
• Retribuição
Código do Trabalho, artigos 258.º a 280.º
• Seguro de acidentes de trabalho
— Código do Trabalho, artigo 283.º
— Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, artigo 79.º
• Subsídio de doença
Decreto-Lei n.º 28/2004, de 4 de fevereiro
• Trabalhador-estudante
Código do Trabalho, artigos 89.º a 96.º
• Trabalho temporário
Código do Trabalho, artigos 172.º a 192.º

Capítulo 7
Família
• Aceitação da herança
Código Civil, artigos 2050.º a 2061.º
• Administração da herança
Código Civil, artigos 2079.º a 2096.º
• Adoção
— Código Civil, artigos 1973.º a 1991.º
— Lei n.º 143/2015, de 8 de setembro
• Convívio com os avós
Código Civil, artigo 1887-A.º
• Declaração do óbito
Código do Registo Civil, artigos 192.º a 201.º
• Deserdação
Código Civil, artigos 2166.º e 2167.º
• Dívidas dos cônjuges
Código Civil, artigos 1690.º a 1697.º
• Divórcio
Código Civil, artigos 1773.º a 1793-A.º
• Incapacidade dos menores
Código Civil, artigos 122.º a 133.º
• Indignidade
Código Civil, artigos 2034.º a 2038.º
• Morte presumida
Código Civil, artigos 114.º a 119.º
• Obrigação de prestação de alimentos
Código Civil, artigos 2003.º a 2014.º

169
A Defenda os seus direitos

• Paternidade
Código Civil, artigos 1826.º a 1873.º
• Pensão de alimentos a ex-cônjuge
Código Civil, artigos 2016.º a 2019.º
• Repúdio da herança
Código Civil, artigos 2062.º a 2067.º
• Responsabilidades parentais
Código Civil, artigos 1877.º a 1926.º
• União de facto
Lei n.º 7/2001, de 11 de maio
• Violação da obrigação de alimentos
Código Penal, artigo 250.º

170
Índice remissivo

Índice remissivo
A B
Abono para falhas��������������������������������������� 146 Bagagem����������������������������������������������� 43, 164
Ação de despejo������������������������������������������113 Baixa médica����������������������������������������������� 142
Acidentes Balcão Nacional de Arrendamento��������������113
de trabalho����������������������������� 130, 142, 169 Bebidas alcoólicas�����������������������������������������44
de viação����18, 19, 54, 55, 78, 79, 80, 81, 146 Benefício de
domésticos ����������������������������������������� 75, 76 excussão ��������������������������������������������������119
em lojas�����������������������������������������������������48 inventário ����������������������������������������������� 162
em viagem ���������������������������������������� 42, 45 Benfeitorias����������������������������������������� 123, 126
na escola������������������������������������������������� 154 Bens não solicitados�������������������������������32, 72
no supermercado �������������������������������������48 Botija de gás�������������������������������������������������24
Acordo������������������������������������������������������16-20
Administração pública �������������������������62, 166 C
Administrador do condomínio������������������� 105 Cabeça-de-casal ������������������������������������������161
Adoção ������������������������������������������60, 151, 169 Caderneta predial�����������������������������������������65
Advogados�������������������������������������� 20, 60, 166 Cães perigosos ���������������������������������������������53
Agências de viagens������������������10, 40-43, 164 Caixa multibanco �����������������������������������69, 70
Água ��������������������������������������25, 110, 126, 165 Carta registada��������������������������������������������� 14
Amortização antecipada������������������������75, 167 Cartão
Animais domésticos �����������������������52, 53, 102 de crédito��������������������������45, 70, 71, 72, 167
Anulação da compra������������������������ 34, 35, 43 de débito�������������������������������������� 70, 71, 167
Aquisição por usucapião����������������������� 99, 167 de férias����������������������������������������������� 31, 32
Arbitragem �������������������������������������� 18-20, 164 de saúde���������������������������������������������������83
Arrendamento������������������������� 92, 110-127, 168 Europeu de Seguro de Doença���������45, 164
Assembleia de condóminos ����������������������� 105 Cash-advance�������������������������������������������������70
Associação Portuguesa Categoria profissional��������������������������������� 132
de Marketing Direto ���������������������������������56 Cauções���������������������������������������� 118, 123, 164
Ausência do inquilino����������������������������������113 Centro
Autenticação forte������������������������������������������71 de arbitragem administrativa�������������������20
Auto de notícia��������������������������������������������� 81 de arbitragem de conflitos
Automóvel de consumo ������������������������������������������� 18
da empresa��������������������������������������������� 146 de arbitragem do setor automóvel����������� 19
emprestado����������������������������������������������� 81 de informação, mediação
lavagem�����������������������������������������������������53 e arbitragem de seguros ����������������������� 19
oficina������������������������������������������������� 19, 54 de informação autárquica
reboque�����������������������������������������������������58 ao consumidor��������������������������������������� 18
resolução de litígios���������������������������������� 19 europeu do consumidor��������������������������� 19
usado���������������������������������������������������35, 38 nacional de informação e arbitragem
veículo de substituição�����������������������������79 de conflitos de consumo ������������������������� 18

171
Defenda os seus direitos

Certificado de de crédito���������������������������������������������� 72-76


incapacidade temporária para de empreitada�������15, 17, 55, 94, 95, 97, 167
o trabalho������������������������������������� 142, 143 de hospedagem �������������������������������113, 118
residência �������������������������������������������������62 de seguro������������������������������������������������� 167
tarifação ���������������������������������������������������82 de telecomunicações��������������������������� 25-28
Chamadas de trabalho���������������������������������������130-147
de valor acrescentado������������������������������� 27 -promessa de compra e venda���������� 86-89,
telefónicas não efetuadas�������������������������24 91, 167
Cheque ���������������������������������������������������������59 Contribuição para o audiovisual�������������������25
Cigarros���������������������������������������������������������44 Correio eletrónico����������������������������������������� 14
Cobrança por estimativa�������������������������������29 Correios��������������������������������������11, 25, 52, 166
Código da estrada���������������������������55, 58, 158 Crédito���������������������31, 32, 72-76, 86, 165, 167
Coeficiente de Custo de deslocação�������������������������������������35
afetação�����������������������������������������������������66
localização������������������������������������������ 65, 66 D
qualidade e conforto���������������������������������66 Dados pessoais����������������������� 56, 61, 166, 169
vetustez���������������������������������������������� 65, 66 Danos ����������������������������������������������������� 48-56
Coima Débitos diretos ���������������������������������������������68
de estacionamento�����������������������������������58 Declaração
por excesso de velocidade������������������������� 57 amigável�������������������������������������������� 79, 80
Comissão de rendimentos���������������������������������� 63, 64
de acesso aos documentos Defeitos
administrativos���������������������������������������63 bens móveis�����������������������������������33, 34, 35
nacional de proteção de dados�����������������56 imóveis �����������������������������������������������������92
Compensação����������������������������������������������� 15 Deficientes�����������������������������������������������������36
Compra Demissão����������������������������������������������������� 132
anulação�������������������������������������� 34, 35, 43 Deserdação������������������������������������������161, 169
de casa arrendada�������������������������������������92 Despedimento�������������������������������130-134, 168
de imóvel������������������������������������� 86-94, 167 Despejo��������������������������������������������������������113
em planta������������������������������������������������ 88 Despesas de
online�������������������������������������������� 31, 32, 34 condomínio����������������������� 89, 103, 104, 122
Comunhão saúde no estrangeiro �������������������������������45
de bens adquiridos��������������������������������� 156 Dever de vigilância ������������������������������������� 153
geral de bens������������������������������������������� 156 Direito
Comunicações eletrónicas ������������������� 25, 165 ao esquecimento���������������������������������������56
Condomínio���������������59, 75, 89, 102, 103-106, de demarcação�����������������������������������������98
113, 122, 167 de preferência����������������������������� 93, 117, 118
Consumos mínimos���������������������������������������25 de propriedade���������������������������������� 86, 99
Contadores �������������������������������������������� 25, 29 de residência���������������������������������������������62
Contrato de resolução��������������������������������������������� 31
com imobiliária����������������������������������������� 91 de retenção����������������������������������������������� 15
de arrendamento ��������������� 92, 110-127, 168 de usufruto ����������������������������������������������118
de compra e venda de imóvel������������������87-90 de visita��������������������������������������������������� 152

172
Índice remissivo

Direitos G
de personalidade������������������������������������ 145 Garagens (arrendamento de)����������������������114
reais de habitação periódica��������������� 31, 32 Garantias����������������������������������������������������� 165
Discriminação no trabalho��������� 144, 145, 168 bens móveis�����������������������������������������34, 35
Dívidas���������������������18, 58, 59, 72-76, 159, 162 imóveis �����������������������������������������������������92
Divisão dos bens comuns����������������������������157 Gás����������������������������������������������11, 24, 25, 165
Divórcio�����������������������������������������156-159, 169 Grau de incapacidade�����������������������������������36
Documentos Guarda dos filhos ��������������������������������������� 152
consulta�����������������������������������������������������62
perda ou roubo����������������������������������������� 61 H
Heranças�������������������������������������� 160-162, 169
E Honorários
e-Fatura��������������������������������������������������������� 97 advogado ������������������������������������������������ 60
Eletricidade����������������������������� 25, 29, 126, 165 empreiteiro�����������������������������������������������95
Elevador������������������������������������������������������� 103 Hospedagem�����������������������������������������113, 118
Empreitada���������������15, 17, 55, 94, 95, 97, 167 Hospital���������������������������������������������������������45
Empréstimo Hotéis ���������������������������������������������� 38, 39, 42
bancário ��������������������������������� (veja Crédito)
de bem ��������������������������������������������������� 106 I
Enriquecimento sem causa������������������������� 139 IBAN���������������������������������������������������������������68
Entidades de resolução alternativa Imobiliária����������������������������������������������������� 91
de litígios��������������������������������������������������� 18 Impostos
Entrega atrasada�������������������������������������������34 IMI����������������������������������������������� 63, 65, 167
Erro médico��������������������������������������������� 50-52 IMT����������������������������������������������������� 90, 167
Estacionamento �������������������������������������������58 IRS������������������������������������������������������ 63, 64
Estado do locado������������������������������������������110 ISV�����������������������������������������������������36, 165
Estimativa (cobrança por)�����������������������������29 IUC�����������������������������������������������36, 38, 165
Exceção de incumprimento��������������������������� 15 IVA������������������������������������������������������ 36, 96
Excesso de velocidade����������������������������������� 57 Indemnização direta ao segurado ���������������79
Exclusividade Injunção �������������������������������������������������������59
em contrato com imobiliária ������������������� 91 Inquilino (deveres do)����������������������������������113
no trabalho��������������������������������������������� 135 Instruções em português ��������������������� 33, 166
Execução específica���������������������������������������87 Internet lenta �����������������������������������������������26
Interpelação ������������������������������������������������� 13
F Intoxicação alimentar�����������������������������������49
Falhas de caixa������������������������������������������� 146 Inventário de bens�����������������������������������������58
Faltas ao trabalho������������������������������� 134, 140
Férias���������������������������������������������������� 140, 141 J
Fiança����������������������������������������������������������119 Julgados de paz������������������������������������� 18, 164
Ficha de reserva��������������������������������������������86 Justa causa para despedimento����������133, 134
Fidelização���������������������������������������� 25, 26, 28
Filhos���������������������������������������60, 151-154, 169 L
Furto em hotel ���������������������������������������������39 Lavagem automática �����������������������������������53

173
Defenda os seus direitos

Lavandaria�����������������������������������������������������49 Oficinas de reparação automóvel����������� 19, 54


Legislação���������������������������������������������164-170 Orçamento �������������������������������������������� 95, 96
Leitura do contador���������������������������������������29 Ordem dos
Lesões�����������������������������������������������������������48 Advogados������������������������������������������������ 60
Letras����������������������������������������������� 59, 72, 167 Médicos�����������������������������������������������������50
Linhas de
apoio ao cliente�����������������������������������������26 P
valor acrescentado ����������������������������������� 27 Parque de estacionamento���������������������������55
Lista Robinson�����������������������������������������������56 Paternidade�����������������������������������150, 151, 170
Livranças����������������������������������������� 59, 72, 167 Penhora�������������������������������������������������� 58, 59
Livro Perda total�����������������������������������������������������78
amarelo������������������������������������������������������11 Perdidos e achados������������������������������� 61, 106
de reclamações�������������������������������������10-12 Perfilhação ������������������������������������������������� 150
Local de trabalho������������������������������������������131 Período de fidelização���������������������� 25, 26, 28
Peritagem����������������������������������������������������� 16
M Permilagem����������������������������������������� 104, 105
Maioridade������������������������������������������������� 154 Prazo de reflexão������������������������������������� 31, 32
Manual de instruções�����������������������������������33 Prescrição de pagamentos��������25, 28, 30, 58
MB Way���������������������������������������������������������68 Prestação de alimentos����������������155, 158, 169
Mediação ������������������������������������������������������17 Procedimento disciplinar ����� 133-135, 140, 147
Médicos��������������������������������������������������� 50-52 Processo de inventário ������������������������ 161, 162
Meios de Proteção
pagamento������������������������������������������68-72 de dados����������������������������� 56, 61, 166, 169
pressão ����������������������������������������������������� 14 jurídica�������������������������������������������������������20
Menores de idade���������������������������������152-154 Publicidade
Minuta prescrição de pagamento�����������������30 enganosa���������������������������������������������������38
Morte presumida �������������������������������� 157, 169 indesejada�������������������������������������������������56
Multa �������������������������������������������(veja Coima)
Multibanco ���������������������������������������������69, 70 Q
Multirriscos- Quotas do condomínio�����������59, 89, 104, 122
-condomínio ��������������������������������������������� 75
-habitação���������������������������������19, 75, 76-78 R
Muro de separação���������������������������������16, 98 Reboque �������������������������������������������������������58
Recibo verde����������������������������������������������� 130
N Reforma������������������������������������������������ 137, 168
Negligência médica ������������������������������� 50-52 Regime de bens
Nome (alteração de)������������������������������������ 60 comunhão de bens adquiridos��������������� 156
Nota de comunhão geral de bens ����������������������� 156
encomenda�����������������������������������������������59 separação de bens ������������������� 89, 156, 159
honorários������������������������������������������������ 60 Registo automóvel ���������������������������������������38
Regra proporcional��������������������������������������� 76
O Regras de trânsito�������� (veja Código da estrada)
Obras����15, 77, 92, 94-97, 104, 113, 122-126, 168 Regulamento do condomínio������ 103, 104, 113
coercivas ������������������������������������������������� 123 Rendas�������������������������������������������119, 121, 168

174
Índice remissivo

Reparação Sistema IDS���������������������������������������������������79


bens móveis�����������������������������������������33, 35 Subarrendamento����������������������������������������113
imóveis ������������������������������������� 95, 104, 123 Subsídio de
Requerimento de injunção���������������������������59 doença��������������������������������������������� 142, 169
Reserva de férias������������������������������������������������� 137, 141
imóvel�������������������������������������������������������86 Natal������������������������������������������������� 137, 141
viagem������������������������������������������������������ 40 refeição��������������������������������������������������� 139
Resolução de litígios em linha ��������������������� 19 transporte����������������������������������������������� 139
Responsabilidade civil������������� 48-56, 154, 166 Substituição de bens�������������������������������34, 35
Responsabilidades parentais����������150-152, 170 Supermercados���������������������������������������������48
Restaurantes�������������������������������������������������49
Roubo de identidade������������������������������������� 61 T
Ruído����������������������������������������������������102, 167 Tabaco�����������������������������������������������������������44
Tabela prática de responsabilidades�������������79
S Taxas municipais�������������������������������������������63
Salário������������������������������������������������� 130, 139 Telecomunicações����������������������������24-28, 165
Salvados �������������������������������������������������������78 cancelar contrato ������������������������������������� 27
Sanção disciplinar��������������������������������������� 134 chamadas não efetuadas�������������������������24
Segurança Social (inscrição na)����������������� 142 fidelização������������������������������������ 25, 26, 28
Segurnet�������������������������������������������������79, 82 internet lenta���������������������������������������������26
Seguros����������������������������������������������19, 76-83 linha de apoio ao cliente���������������������������26
automóvel������������������������ 19, 54, 78-81, 146 linhas de valor acrescentado��������������������� 27
de acidentes de trabalho������������������������ 142 mudar de operador����������������������������������� 27
de acidentes pessoais������������19, 31, 32, 165 pagamentos em atraso�����������������������������26
de bagagem ��������������������������������������� 31, 32 Teletrabalho ����������������������������������������������� 130
de crédito��������������������������������������������������� 19 Terraços de cobertura��������������������������������� 104
de grupo��������������������������������������������������� 31 Terrenos�������������������������������������� 16, 93, 98, 99
de incêndio��������������������������������� 75, 76, 105 Time-sharing����������������������������������� 31, 32, 166
de responsabilidade civil��������������19, 53, 153 Título
de saúde������������������������� 19, 31, 32, 82, 165 constitutivo��������������������������������������������� 104
de viagem��������������������������������������19, 31, 32 de crédito���������������������������������������������������59
de vida������������������������������������19, 31, 32, 165 executivo�������������������������������������������59, 166
multirriscos-condomínio��������������������������� 75 Trabalhador-estudante����������������������� 135, 169
multirriscos-habitação���������������19, 75, 76-78 Trabalho ������������������������������� 130-147, 168, 169
Senhorio (obrigações do)����������������������������110 temporário �������������������������������������� 137, 169
Separação Tradição do imóvel���������������������������������������89
de bens������������������������������������� 89, 156, 159 Transação ����������������������������������������������������� 16
de facto������������������������������������������� 156, 159 Transmissão do arrendamento��������������������116
judicial de bens��������������������������������������� 159 Transportadora aérea������������� 41, 43, 164, 165
Serviço não solicitado�����������������������������������33 Tribunais�������������������������������������������������18, 20
Serviços públicos essenciais �����������24-30, 126,
164, 165, 166 U
Servidão de passagem���������������������������������99 União de facto�����������������������115, 116, 151, 158,
Sinal (pagamento de)����������86, 87, 88, 89, 90 160, 168, 170

175
Defenda os seus direitos

Unidades de cultura�������������������������������������93 venal���������������������������������������������������������78


Uso da fração �������������������������������������� 113, 120 Veículo de substituição���������������������������������79
Usucapião�������������������������������������� 99-102, 167 Vendas
Usufrutuário �����������������������������������������113, 118 à distância������������������������������10, 31, 70, 166
ao domicílio����������������������������������������� 31, 32
V através da internet ����������������������������� 31, 32
Vale de compras�������������������������������������������34 por correspondência��������������������������� 31, 32
Valor Viagens����������������������������� 38-45, 70, 164, 165
de construção�������������������������������������������66 organizadas����������������������������10, 40-43, 164
de reconstrução����������������������������������������� 76 Vizinhança�������������������������������������� 98-103, 167
patrimonial tributário������������������65, 66, 90 Voo atrasado ou cancelado ������������������41, 165

176
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