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Dar a conhecer o instituto da extradição, sua fundamentação

legal, seu processo e os seus requisitos.

Extradição

A extradição só pode ter lugar por decisão judicial. Artigo 67 da


CRM. O cidadão nacional não pode ser expulso e nem mesmo
extraditado do solo pátrio.

Para que seja efectuada uma análise sobre o instituto da


extradição, entretanto, faz-se conveniente abordar os princípios
de formação e concretização dos tratados, tendo em vista que o
instituto da extradição normalmente decorre de tratados
formalizados entre Estados; e, em âmbito internacional, o tema
ganha relevância, notadamente porque, a concessão da
extradição decorre ou da existência de reciprocidade ou da
celebração de tratado, e, nesta segunda hipótese, ao ratificar o
tratado, este deve ser cumprido.

Para Rezek (1984, p. 21), “tratado é o acordo formal, concluído


entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a
produzir efeitos jurídicos”
Verifique-se que este sentido de contrato traduz de forma
efectiva a definição constante no artigo 2 o, parágrafo 1-a, da
Convenção de Viena de 1969, que assim dispõe: “tratado
significa um acordo internacional concluído por escrito entre
Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um
instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,
qualquer que seja sua denominação específica”
(CONVENÇÃO..., 2009)

Por óbvio devemos levar em consideração o pressuposto da


existência de regras de direito internacional público, que têm
como objeto regular as relações entre a heterogeneidade de
Estados espalhados pelo mundo. Referidas normas de direito
normalmente reflectem a vontade dos povos de viverem de
forma solidária, pacífica, evitando-se os conflitos ideológicos ou
meramente políticos que possam provocar desequilíbrios e
situações de tensão entre as aspirações de cada Estado,
colocando em xeque a sua afirmação de soberania.

Portanto, como um contrato, os tratados também se regem pelos


princípios gerais de direito conforme os ensinamentos de Dinh,
Daillier e Pellet (1999, p. 171):
“As condições requeridas para a validade de um acto jurídico
são: um sujeito capaz, um objecto lícito, uma vontade livre (o
que, no caso de um acto bilateral ou multilateral, significa um
consentimento regular, isento de ‘vícios’) e formas
convenientes.

A validade do tratado bilateral ou multilateral está sujeita a essas


mesmas condições.”

Porém, há de se alertar, conforme efetua Rezek (1984, p. 83-84),


que os termos “tratados” e “convenções” não têm o mesmo
significado, “não indicam a aplicação do mesmo instituto, em
que pese o uso indiscriminado e ilógico pelo legislador das duas
designações como se tratasse de uma única figura”

A validade do acto é ponto fundamental para a efectiva


aplicação de realização dos termos firmados no “tratado”, não
pode o Estado convenente deixar de cumpri-lo sob a simples
alegação de inexistência de validade do mesmo com base em
afirmações sem qualquer fundamento, haja vista o princípio da
boa-fé do qual se reveste bem como em razão dos termos do
artigo 42 da Convenção de Viena de 1969: “a validade de um
tratado ou do consentimento de um Estado em obrigar-se por um
tratado só pode ser contestada mediante a aplicação da presente
Convenção” (CONVENÇÃO..., 2009)

Consequentemente, para que o país convenente


(Convenente - é a pessoa jurídica de direito público ou privado
com a qual o órgão ou entidade da administração estadual pactua
a execução de programa, projecto ou actividade, mediante a
celebração de convênio ou instrumento similar) se desobrigue a
cumprir o tratado, deve denunciá-lo, na forma estipulada no
artigo 562 (CONVENÇÃO..., 2009) da Referida Convenção de
Viena, “sob pena de o país continuar obrigado no plano in-
ternacional” (MAGALHÃES, 2000, p. 58).

Verifique-se ainda, mesmo que o descumprimento do avençado


ocorra sob o fundamento de que o tratado fora denunciado,
ainda assim “pode caracterizar-se um ilícito pelo qual, no plano
externo, deve (o Estado) responder” (MAGALHÃES, 2000, p.
58)

Do exposto acima, pode-se concluir que, para o direito


internacional, regra geral tendo em vista a aplicação do princípio
pacta sunt servanda (A expressão pacta sunt servanda – do
latim, “pactos devem ser respeitados” ou “acordos devem ser
cumpridos” – é utilizada para designar um princípio clássico da
teoria dos contratos, segundo o qual haveria obrigatoriedade em
cumprir o que foi acordado em contrato), os tratados devem ser
cumpridos, e somente podem deixar de ser observados pelos
Estados em casos excepcionais e nas condições previstas na
própria Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de
19693, assim como na- quelas condições e hipóteses previstas
no próprio Tratado.

Finalmente, para a validade de um tratado, este deverá possuir


três elementos: a capacidade das partes, o acordo de vontade
sem defeito e objecto lícito possível à incorporação dos tratados
ao Direito Nacional.

Chegamos assim ao aspecto incorporação dos tratados, que


guardam relação com o princípio de “soberania” do Estado. O
princípio de toda soberania reside essencialmente na nação.
Nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercitar uma
autoridade que não emane expressamente dela, bem como o
sentido de que o exercício da autoridade que emana da união dos
indivíduos de forma legítima, por meio de um “corpo” de uma
“nação”, é realizado por meio do poder executivo, entretanto
fiscalizado e controlado pelo poder legislativo (FIORAVANTI,
2004, p. 23)

No estágio presente das relações internacionais, é inconcebível


que a norma jurídica se imponha ao Estado soberano à sua
revelia”. Portanto, os Estados, em seus actos internos, aplicam
mecanismos de recepção, com a finalidade de absorverem e
aplicarem as normas decorrentes dos tratados, sem com isso ferir
a Constituição e de uma forma geral o Direito interno.

Artigo 18, 161 alinea b) e 178 da CRM n. 2 alinea e)

De acordo com os termos contidos nos artigos retromencionados


da Constituição cabe ao Presidente da República celebrar
tratados e é competência exclusiva da Assembleia da República
ratificar e denunciar o Tratado.

Origens e conceito da extradição

Quanto à origem da expressão extradi- ção, explicam Vieira e


Altolaguirre (2001, p. 27) que
“Os autores não estão de acordo quanto a origem e a etimologia
da palavra extradición utilizada em espanhol e com certa
similitude em francês e inglês (vg. extradition em ambas as
línguas) e com semelhança em italiano e português. Parece cer-
to que esta expressão foi utilizada pela primeira vez no século
XVIII quando a Revolução francesa regu- lamentou em 1791
alguns tratados a serem firmados pela França. Este vocábulo é
encontrado, pelo menos no internacional, em 1828 pois nos
tratados franceses celebrados com Wurtenberg (1759), Espanha
(1765) e Portugal se utilizava como equiva- lente ‘remir’ ou
‘restituir’”.

Extradição, conforme define Accioly (1994, p. 105), significa


que “é o acto pelo qual um Estado entrega um indivíduo,
acusado de um delito ou já condenado como criminoso, à justiça
do outro, que o reclama, e que é competente para julgá-lo e
puni-lo”.

Dois requisitos para que se proceda à extradição:


1) a existência de um tratado ou convênio de reciprocidade,
devidamente aprovado na legislação nacional pelo procedimento
estabelecido na Constituição Política do Estado; e

2) que o acto constitua delito em Moçambique e no país que


solicita a extradição. Por outro lado, o tribunal competente para
resolver os casos de extradição é o Tribunal Supremo.

Lei n.º 17/2011, 10 de Agosto – Rege os casos e termos da


efectivação da extradição

Para Boggiano (2000, p. 375), a extradição é o resultado “da


cooperação internacional em matéria penal que se manifesta em
ocasiões em que um Estado entrega uma pessoa a outro Estado
que o requereu para submetê-lo a um processo penal ou a
execução de uma pena. Esta cooperação se cumpre geralmente
em virtude de tra- tados”.

Trata-se de um dos meios mais antigos de cooperação judicial


internacional mantida entre os Estados.
Lei n.º 21/2019, de 11 de Novembro -Estabelece os Princípios e
Procedimentos da Cooperação Jurídica e Judiciária Internacional
em Matéria Penal

Não existe definição estanque, embora uma característica


comum permeie as diferentes conceituações de cooperação
jurídica internacional:

a concessão de assistência entre os Estados soberanos, à luz da


extraterritorialidade, a flexibilizar o conceito clássico de
soberania e aproximar as diferentes nações no combate à
criminalidade transnacional.

Importante que façamos igualmente digressão sobre a expressão


“cooperação jurídica”, em contraste à expressão “cooperação
judicial”.

Enquanto a primeira, mais ampla, serve para designar qualquer


auxílio prestado à comunidade internacional, seja ele entre
autoridades judiciais ou administrativas, a expressão
“cooperação judicial” se limita ao âmbito do auxílio prestado
entre Poderes Judiciários pertencentes a diferentes países. Um
(cooperação jurídica) é gênero, enquanto o outro (cooperação
judicial) é espécie.

Ao buscar definir o instituto, os autores subdividem a


cooperação, basicamente, em:

a) cooperação activa e passiva;

A cooperação será activa sob a perspectiva do país requerente,


responsável pelo pedido de cooperação; será passiva, por sua
vez, do ponto de vista do país requerido, que é quem recebe o
pedido de cooperação. Ou seja: quem recebe o pedido de
cooperação (participação passiva) intitula-se país requerido, e
quem formula o pedido de cooperação (participação ativa) é o
país requerente

b) cooperação judicial e administrativa;

Segundo a doutrina, a cooperação será administrativa sempre


que for realizada por autoridades não jurisdicionais, a exemplo
do Ministério Público e da Polícia; será judicial, a contrario
sensu, quando for empreendida por órgãos judiciais em sentido
estrito. Utilizando expressão já cunhada anteriormente, enquanto
ambas são espécies do gênero Cooperação Jurídica, apenas a
cooperação realizada entre órgãos do Poder Judiciário pode ser
intitulada de Cooperação Judicial

c) medidas coercitivas e não coercitivas de cooperação;

Seguindo-se o “critério da finalidade” existem diferentes níveis


de assistência em matéria penal, aos quais corresponde a divisão
das medidas de assistência em coercitivas e não coercitivas:
enquanto as medidas mais intrusivas, como a extradição e o
confisco de bens, assumem caráter coercitivo, meros actos de
citação ou intimação não o têm. A ideia é a de que “quanto mais
grave para o investigado e para o acusado a medida coercitiva
requerida, tanto maiores devem ser as exigências para o seu
atendimento pelo país requerido, bem como o rigor em sua
avaliação

d) existência ou não de reserva de juiz.

Algumas medidas, por sua especial gravidade (v.g., a


extradição), exigem reserva de juiz, só podendo ser autorizadas
mediante prévia decisão judicial. O problema é que, como
vimos, nem sempre a cooperação se dá entre Poderes
Judiciários, podendo ocorrer entre Ministérios Públicos, entre
Polícias, entre Unidades de Inteligência Financeira etc., não
havendo que se falar em uma reserva absoluta de juiz, no sentido
de que o exame da medida requerida deva necessariamente
passar pelo crivo da autoridade judiciária.

Ainda que nossa pretensão fosse demostrar que sendo a matéria


da Cooperação Jurídica e Judiciária Internacional em Matéria
Penal relativamente nova, é possível extrair da leitura dos
diferentes autores, bem como de um estudo mais abrangente do
Direito Internacional, uma série de princípios básicos da
cooperação jurídica internacional, os quais, para fins deste
estudo, limitaremos ao número de sete. São eles:

a) Princípio da Reciprocidade ou Comitas Gentium;

b) Princípio do Locus Regit Actum, ou do Respeito à Lei Interna


Substancial e Processual do Estado Requerido;

c) Princípio do Pacta Sunt Servanda;

d) Princípio da Gradualidade nos Requisitos ou Níveis de


Assistência;
e) Princípio da Reserva Política ou Respeito à Ordem Pública do
Estado Requerido;

f) Princípio de Proteção aos Sujeitos do Processo ou Respeito à


Dignidade Humana; e

g) Princípio do Aut Dedere aut Iudicare.

Não sendo o real objecto do nosso estudo ainda assim se percebe


a similaridade dos princípios que identificam um e outro, mas
não devemos confundir que a extradição é um instituto da
Cooperação Jurídica e Judiciária Internacional.

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