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República de Moçambique

MINISTÉRIO DO MAR, ÁGUAS INTERIORES E PESCAS


DIRECÇÃO NACIONAL DE OPERAÇÕES

Criminalização das infracções de pesca na


legislação nacional e seus desafios

Formação dos Magistrados do Ministério Público em


Ordenamento Territorial, Ecossistemas Marinhos e Pescas

Dezembro de 2020
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Regime Jurídico de Utilização do Espaço Marítimo Nacional
Pelo Decreto o n 21/2017, de 24 de Maio foi aprovado o
Regulamento que Estabelece o
Regime Jurídico de Utilização do Espaço Marítimo Nacional.

 Artigo 2 : Objecto
 Arigo 3 : Âmbito
 Artigo 41: Domínio Público do Espaço Marítimo.

O governo aprovou igualmente um instrumento importante a


Resolução n.º 39/2017, de 14 de Setembro - a
Política e Estratégia do Mar, abreviadamente
designada por POLMAR.

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SUMÁRIO DA APRESENTAÇÃO

I – Contextualização
II – Legalidade dos pescadores
III - Fiscalização, Infracções e Sanções
IV – Tramitação processual das Infracções de pesca
V - Criminalização das infracções de Pesca
V - Desafios e perspectivas

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I - CONTEXTUALIZAÇÃO
O licenciamento da actividade da pesca afigura-se como meio de
controlo pela autoridade competente sobre o número de
embarcações de pesca, o número de pescadores, o número e tipos
de artes de pesca existentes numa determinada área de pesca, com
vista a melhor gestão das pescarias para uma pesca sustentável.

O licenciamento da pesca está regulado pela:

 Lei das Pescas - Lei n° 22/2013, de 1 de Novembro;


 Regulamento da Pesca Marítima (REPMAR) - Decreto n.º
89/2020, de 8 de Outubro;
 Regulamento da Pesca nas Águas do Interior (REPAI) –
Decreto n.º 57/2008, de 30 de Dezembro;
 Regulamento da Pesca Recreativa e Desportiva - Decreto
51/99, de 31 de Agosto.
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II. Legalidade da actividade pesqueira (Pescadores)

O exercício da actividade de pesca em Moçambique esta


condicionado ao licenciamento que é a condição sine qua non
para o exercicio legal da actividade (O n. 1 do Art. 39 da Lei das Pescas).

A pesca de susbsistencia esta insenta de licenciamento, sendo


obrigatório o registo das artes (O n. 3 do Art. 39 da Lei das Pescas).

A licença de pesca é intransmissivel ( Art. 44 da Lei das Pescas) e


caduca ao último dia do ano correspondente a data da
sua emissão ( N. 2 do Art. 47 da Lei das Pescas).

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II. Legalidade da actividade pesqueira (Pescadores) Cont.

A pesca nas águas jurisdicionais moçambicanas ou no alto mar e as


operações conexas de pesca estão sujeitas à obtenção prévia de
uma licença de pesca a ser concedida nos termos da Lei das
Pescas e seus regulamentos. (Artigo 39 da Lei das Pescas).

A licença de pesca é emitida a favor:

 Do armador, para uma embarcação determinada utilizando as


artes de pesca a ela acopladas (PI, PSI);
 Do proprietário das artes de pesca sem embarcação (PA).

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III. Fiscalização, Infracções e Sanções
Define a Lei das Pescas que são agentes de fiscalizacao aqueles que
tenham competência para constatar e autuar as infracções a Lei das
Pescas, nomeadamente:

 O fiscal de pesca, o inspector de pescado e outros funcionários


devidamente credenciados;
 Os agentes da autoridade marítima e aduaneira, quando em acções de
fiscalização;
 Os oficiais de comando de navios e de aeronaves militares destacados em
missões de fiscalização da pesca;
 As autoridades comunitárias devidamente habilitadas e credenciadas.

Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 24 da Lei n.º 16/2013, de 12


de Agosto, (Lei da Polícia da República de Moçambique), a Polícia
Costeira, Lacustre e Fluvial, realiza e apoia as actividades de
fiscalização costeira e pesqueira. 7
III. Fiscalização, Infracções e Sanções
A Lei das Pescas na sua alínea h) do artigo 5 , estabelece como princípio da
cooperação e coordenação institucional.

A Lei do Mar (Lei n.º 20/2019, de 8 de Novembro), no n.º 1 do artigo 90 refere


que:

A fiscalização do espaço marítimo tem por objecto o controlo, monitoria e


vigilância das actividades que demandam a sua utilização, incluindo a inspecção e
segurança de embarcações, estruturas, plataformas fixas ou moveis, bem como a
autuação e sancionamento das infracções de natureza criminal e contravencional.

Assim, para garantir uma eficiente e eficaz fiscalização das actividades através do
n. 1 do artigo 92 da Lei do Mar, foi criado o Centro de Coordenação de Operações
de Fiscalização Marítima- CEFMAR que integra todas entidades, com funções de
fiscalização no espaço marítimo nacional.

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III . Fiscalização, Infracções e Sanções
Na Lei das Pescas encontramos
a matéria relativa a fiscalização, infracções e sanções nos artigos 7
2 a 109
:

Competência dos agentes de fiscalização (Artigo 72);

Natureza da infracção – as infracções de pesca não tem natureza


criminal, mas sim contravencional (Artigo 74);

Procedimentos cautelares (Artigo 76);

Natureza do processo de infracção e competência para aplicar


sanções (Artigo 83); 9
III - Fiscalização, Infracções e Sanções(Cont.)
 Forma do recurso de decisão que recaia sobre o processo de
infracção; (Artigo 84);
 Procedimentos para a fiscalização da pesca(Artigos 90 a 97);
 Infracções de pesca (Artigos 98 a 102);
 Sanções aplicáveis (Artigos 103 a 109).

A Lei das Pescas não só aplica a multa por infracção ( temos 3 tipos
de sanções: Muito graves, graves e simples, artigo 98, 99 e 100)
mas também estabeleceu sanções acessórias como principal
elemento dissuasor.
Assim temos:
Em caso de pluralidade de infrações: (i) punibilidade do agente no
mesmo PIP: (i) valor da multa igual à soma aritmética de cada
infracção.
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III - Fiscalização, Infracções e Sanções(Cont.)

 Punibilidade da produção, importação, e venda de redes e


aprestos de pesca cujas especificações não estejam
regulamentadas; (Artigo 7 1);

 Consagração da execução da decisão do Processo via


Tribunal de Execuções Fiscais; (Artigo 85 n. 2);

 Consagração da tipificação de todas as infracções tendo como


base do valor da multa o salário mínimo, que é actualizado
anualmente sempre que se aprova novo salário mínimo em Abril
de cada ano) e não convertível em prisão. (Artigo 103);

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III. Fiscalização, Infracções e Sanções(Cont.)
Na Lei das Pescas (artigo 103) Infracções de pesca são
puníveis com multa, não convertível em pena de prisão e são
igualmente cumuláveis com as seguintes medidas acessórias:

 Confisco de todas as capturas que se encontrem na posse, a bordo ou


no processo de produção;
 Confisco das artes de pesca ilegais;
 Confisco de produtos da pesca em contravenção à legislação aplicável;
 Cancelamento ou suspensão de licença de pesca, de licença sanitária
de funcionamento e de licenças necessárias à actividade aquícola;
 Encerramento de unidade produtiva ou estabelecimento;
 Interdição temporária do comandante de embarcação de pesca do
exercício da actividade de pesca;
 Perda a favor do Estado da embarcação de pesca, sendo estrangeira.

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III - Fiscalização, Infracções e Sanções(Cont.)
As sanções são aplicáveis em função de cada infracção de pesca assim:
(Sanção por infracções de pesca muito graves) (Artigo 104)
As infracções de pesca, previstas no artigo 98 da presente Lei são puníveis com as
seguintes multas:

a) superior a mil e cento e cinquenta salários mínimos da Função Pública para a pesca
industrial;
b) superior a quatrocentos e vinte e três salários mínimos da Função Pública para a
pesca semi-industrial;
c) superior à metade do salário mínimo da Função Pública, para a pesca artesanal;
d) superior a dezanove salários mínimos da Função Pública, para a pesca recreativa e
desportiva.

Cumulativamente, são aplicáveis as seguintes sanções acessórias:

a) confisco das capturas e das artes de pesca;


b) interdição do comandante de exercer a pesca em Moçambique durante trinta e
seis meses;
c) confisco e reversão automática da propriedade da embarcação de pesca a favor do
Estado, sendo estrangeira. 13
III - Fiscalização, Infracções e Sanções(Cont.)
(Sanções por infracções de pesca graves)
(Artigo 105)
As infracções previstas no artigo 99 da presente Lei são puníveis com
multa graduada de metade do salário mínimo a cento e vinte salários
mínimos e, cumulativamente, com as sanções acessórias seguintes:

a) confisco das capturas e das artes de pesca, no caso de infracção às


alíneas a), b), c), d), e), f) e g);
b) confisco das capturas, no caso de infracção às alíneas j) e p);
c) suspensão da licença de pesca, por um período de quinze a sessenta
dias, no caso de infracção às alíneas a), c), e), h), j) e k);
d) interdição do comandante da embarcação de pesca da sua
actividade profissional, por um período de quinze a noventa dias, no
caso de infracção às alíneas a), b), c), e), k) e o).

A sanção acessória de suspensão do comandante não é aplicável à


pesca artesanal. 14
III - Fiscalização, Infracções e Sanções(Cont.)
(Sanções por infracções de pesca simples)
(Artigo 106)
As infracções previstas no artigo 100 da presente Lei são puníveis com
multa de metade do salário mínimo a oitenta salários mínimos e,
cumulativamente, com as sanções acessórias seguinte:

a) confisco das artes de pesca, no caso de infracção à alínea f);


b) confisco de produtos da pesca em contravenção, no caso de
infracção à alínea h);
c) interdição do comandante da embarcação de pesca da sua
actividade profissional, por um período de quinze a sessenta dias, no
caso de infracção às alíneas a), b), c), d), e), i) e j).

A sanção acessória de suspensão do comandante não é aplicável à


pesca artesanal.
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IV – Tramitação processual das Infracções de pesca
A tramitação do processual das infracções de pesca é feita ao abrigo
do Diploma Ministerial n.º 22/2008, de 26 de Março, que aprova o
quadro jurídico normativo do Processo de Infracção de Pesca
(PIP).

A instrução é a actividade de averiguação e investigação da


existência ou não de uma infracção à legislação de pesca. Em toda
a investigação, seja qual for a forma como se processe, há sempre
todo um conjunto de dados e elementos a averiguar com o
objectivo de:

Comprovar o que foi participado ou o que se constatou;


Identificar o presumível infractor;
Identificar os factos e o seu enquadramento legal no conjunto
das infracções existentes.
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IV – Tramitação processual das Infracções de pesca
(Cont.)
Assim a instrução do processo para a pesca Industrial e Semi-Industrial
obedece a um formalismo própio:

Início da instrução (artigo 27 do Diploma do PIP)


Nomeação do instrutor (segundo o nº 1 do artigo 27 do Diploma do PIP):
Critério de nomeação (nº 1 do artigo 29 do Diploma do PIP)
Audição do presumível infractor (artigo 31 do Diploma do PIP)
Prova (Artigo 18 do Diploma do PIP)
Meios de Prova (Artigo 18 do Diploma do PIP)
Relatório Final (Artigo 32 do Diploma do PIP)
Competência Para Decidir (Artigo 33 do Diploma do PIP)
Notificação da decisão (artigo 34 do Diploma do PIP)
Execução da decisão (artigo 35 do Diploma do PIP)
Recurso hierárquico necessário (artigo 37 do Diploma do PIP)
Recurso contencioso (artigo 38 do Diploma do PIP)
Encerramento do P.I.P. (artigo 40 do Diploma do PIP)
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IV – Tramitação processual das Infracções de pesca (Cont.)
Pesca artesanal e Recreativa e Desportiva

O Diploma Ministerial n.º 22/2008, de 26 de Março, que aprova o quadro


jurídico normativo do Processo de Infracção de Pesca estabelece de forma
diferente das infracções praticadas na pesca artesanal e recreativa e
desportiva com as infracções na pesca industrial e semi-industrial.

Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 41 do citado diploma, sempre que o


agente de fiscalização, no exercício das suas funções presenciar qualquer
infracção de pesca praticada, no âmbito da pesca artesanal ou da pesca
recreativa e desportiva, levantará imediatamente um Aviso de Multa. (A
semelhança do que acontece com a Multa da Policia de Trânsito).

Nos termos estabelecidos pelo artigo 45 do Diploma do PIP, o Aviso de


Multa faz fé, até prova em contrário, unicamente quanto aos factos
presenciados pelo agente de fiscalização que o emitiu.
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IV – Tramitação processual das Infracções de pesca (Cont.)
Pesca artesanal e Recreativa e Desportiva

Medidas preventivas:

As artes de pescas e outros instrumentos usados na prática da infração,


são apreendidos como medidas preventivas nos termos do
artigo 44 do Diploma Ministerial n.º 22/2008, de 26 de Março.

Entretanto, as artes de pesca ilegais são queimadas e elaborado um Auto


de Destruição que deve ser assinado por duas testemunhas, nos termos do
n.º 2 do artigo 47.

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Criminalização das infracções de Pesca

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V – Criminalização das infracções de Pesca
A nível mundial há um esforço da criminalização das infraçoes de pesca.

Moçambique é membro da Interpol desde 27 de Novembro de 1989. A


Interpol possui uma unidade global que se dedica a investigação de crimes
ambientais e o país está integrado no grupo de trabalho designado
Fisheries Crime Working Group (FCWG) para questões relativas ao
cumprimento de instrumentos legais na área das pescas.

Igualmente, assiste-se o aumento de embarcações de pesca que se


dedicam a actividades ilícitas para além da pesca como, por exemplo, o
tráfego de drogas, contrabando, tráfego de seres humanos, pirataria.

O MIMAIP e a Interpol, mantém as medidas de combate a pesca ilegal não


reportada e não regulamentada através da Secretaria Nacional do Crime
(NCB) na SERNIC.

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V – Criminalização das infracções de Pesca
Entretanto, Muitas organizações tem estado na luta contra os crimes de
pescas como :

UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime,

INTERPOL - A Organização Internacional de Polícia Criminal,


mundialmente conhecida pelo seu acrónimo INTERPOL, é uma
organização internacional que facilita a cooperação policial mundial e o
controle do crime,

Fish force -https://fishforce.mandela.ac.za

Fish i Africa

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V – Criminalização das infracções de Pesca
A violação da legislação pesqueira constitui infracção de
natureza contravencional (Artigo 74 da Lei das Pescas).

A resistência com violência ou ameaças de violência é


punida nos termos da lei penal (Artigo 79 da Lei das Pescas).

Entretanto, com vista a preservar os recursos pesqueiro certas


práticas de pesca, passaram a ser criminalizadas.

Assim:

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V – Criminalização das infracções de Pesca
O uso de artes nocivas na pesca é punível criminalmente nos
termos:
Da alínea c) do artigo 360 do Código Penal aprovado pela
Lei n.º 35/2014, de 31 de Dezembro. (Revogado)

Aliena l) do n. 1 do artigo 69 da Lei n.º 24/2019, de 24 de Dezembro e o


Capitulo II.

Da alínea e) do n.º 2 do artigo 62 da


Lei de Protecção, Conservação e Uso sustentável da Diversidade Biológica,
aprovada pela Lei n.º 5/2017, de 11 de Maio, que altera e republica a Lei n.º
16/2014, de 20 de Junho.

A pesca ilegal por estrangeiros nos termos da aliena f) do artigo 93 da Lei


do Mar – Lei n 20/2019, de 8 de Novembro

Violação do defeso e veda e artes nocivas 24


V – Criminalização das infracções de Pesca
Crimes Marítimos
Destruição e abate do mangal, é punível nos termos do artigo 63 da Lei
das Pesca, artigo 353 do Código Penal (Revogado), alínea b) do artigo 93
da Lei do mar - Lei n 20/2019, de 8 de Novembro

O governo aprovou:
 A Resolução n. 32/2020, de 18 de Maio, aprova a Estratégia de gestão do
mangal para o período de 2020-2024.

O Decreto 97- 2020 de 4 de Outubro - Aprova Regulamento de Gestão e


Ordenamento da Zona Costeira e das Praias

A Lei do Mar no seu artigo 93 estabelece os crimes marítimos e a sua


devida medida punitiva.

Entretanto, as medidas punitivas diferem de cada instrumento legal. 25


VI – Desafios e perspectivas

Para o efeito espera-se da PCLF:

Apoio as actividades de fiscalização da pesca junto dos


fiscais de pesca;
Realização de acções de fiscalização pesqueira;
Levantamento de autos criminais por cometimento de
infracções pesqueiras ao abrigo da Lei da Biodiversidade e
Código Penal
Articulação com a SERNIC, Procuradoria para melhor
instrução dos processos criminais instaurados.

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VI – Desafios e perspectivas

Espera-se das Alfândegas:

Maior colaboração no controlo da circulação dos produtos


pesqueiros e artes de pesca nos aeroportos, fronteiras e
demais locais;

Denúncia sobre casos de suspeitas de importação de artes


de pescas ilegais;

Denúncia sobre casos de suspeita de exportação de pescado


ilegalmente.

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VI – Desafios e perspectivas

Espera-se do Ministério Público:

Acção Penal;

Maior envolvimento em crimes de pesca e crimes


marítimos;

Responsabilização exemplar dos infractores;

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VI – Desafios e perspectivas

Tramitação deficitária;

Fraca clareza da entidade instrutora do processo (PCLF,


PRM, SERNIC);

Absolvição dos infractores por má instrução processual .

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leonidmz@gmail.com

MUITO OBRIGADO

Imagens de artes nocivas

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