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Contextualização

A temática da perda de bens e recuperação de activos inscreve-se como central na abordagem


da justiça criminal, do Estado de direito e da cooperação internacional.
A efectividade da justiça criminal, sobretudo no crime organizado, não se tornará uma
realidade se, a par do sancionamento com as penas adequadas, os agentes criminosos não
sofrerem o abalo económico resultante da perda a favor do Estado ou das vítimas dos bens ou
produtos que hajam obtido.
Estes fenómenos criminais, para além de todas as outras consequências negativas do ponto de
vista económico e social, colocam em causa a actuação do Estado na prossecução dos seus
fins essenciais, pervertem os mecanismos de regulação e de efectividade das regras legais e,
com isso, deslegitimam e corrompem o compromisso democrático entre o cidadão e os
poderes públicos.
A concretização das políticas públicas necessárias nestes domínios, de forma a consolidar o
Estado de direito, não pode deixar de ser integrada numa lógica de articulação institucional
entre as várias instituições nacionais envolvidas, mas também na dimensão de cooperação à
escala da comunidade dos diversos países e nos demais domínios internacionais implicados.

Legislação
É a Lei n. 13/2020, de 23 de Dezembro estabelece o regime jurídico especial de perda
alargada de bens, recuperação e gestão de activos a favor do Estado, resultantes de actividade
ilícita ou criminosa, e que ao abrigo da mesma compete ao Governo, em coordenação com a
Procuradoria- -Geral da República regulamentar.

No presente ainda não se conhece a publicação do respectivo regulamento.

Na verdade, a recuperação e gestão de activos resultantes de actividade criminosa são da


competência dos Gabinetes de Recuperação de Activos e de Gestão de Activos,
respectivamente

Sendo que ao Gabinete Central de Recuperação de Activos é um órgão multissectorial


subordinado ao Ministério Público com atribuições de investigação no domínio da
identificação, rastreamento, apreensão e recuperação de activos, instrumentos, produtos e
vantagens de qualquer natureza relacionados com a prática de actividade ilícita ou criminosa
ao nível interno e internacional

Atribuições
Constituem atribuições do Gabinete Central e dos gabinetes provinciais de recuperação de
activos: a) identificar, rastrear e apreender todos activos, bens e produtos relacionados com
crimes, a nível nacional e internacional; b) assegurar a cooperação com os gabinetes de
recuperação de activos de outros Estados ou entes com atribuições equiparadas às dos
gabinetes.

Cabe ainda ao Gabinete Central e gabinetes provinciais de recuperação de activos a recolha,


análise e tratamento de dados estatísticos sobre a apreensão, perda e destino de bens e
produtos relacionados com o crime

Competências
Compete ao Gabinete Central e gabinetes provinciais de recuperação de activos proceder à
investigação financeira ou patrimonial de crimes e activos conexos aos crimes de:
a) corrupção e crimes conexos; b) terrorismo e financiamento ao terrorismo; c) tráfico de
pessoas; d) tráfico de estupefacientes, substâncias psicotrópicas, precursores; e) tráfico ilícito
de armas; f) agiotagem; g) fraude fiscal e crimes tributários; h) pirataria; i) contra o ambiente;
j) branqueamento de capitais; k) associação para delinquir; l) rapto; m) pornografia de menor;
n) informáticos; o) falsificação de moeda, títulos de crédito e valores selados; p) lenocínio; q)
contrabando; r) falsificação de documentos; e ainda, a qualquer crime organizado de que
resulte vantagem económica. Por determinação e sob a orientação do Ministério público

Proceder à investigação financeira ou patrimonial, nos casos em que os bens a recuperar e a


complexidade da investigação envolvam património científico, artístico, cultural e histórico,
mediante prévia autorização e anuência do Procurador-Geral da República

O Gabinete Provincial de Recuperação de Activos tem a seguinte Estrutura:


Director
Departamentos Técnicos
Colectivo de Direcção e Técnico
Serviços Administrativos
Colectivo de Serviços Administrativos

Recessão critica
As nossas contribuições serão exclusivamente aquelas que directamente tem haver com à
investigação financeira ou patrimonial de crimes e activos conexos, que em opinião sincera
podem vir a ser resolvidas no Regulamento a lei, mais ainda assim vamos partilhar para
contribuir.
Como afirma Rodrigues na colectanea “Recuperacao de Activos 7” de Junho de 2021”, num
sentido puro a recuperação de activos deveria ser entendia como a remoção das vantagens
obtidas com a prática dos ilícitos típicos. Esta será a essência da recuperação de activos, o seu
“core business”. Outra matéria de relevo é a investigação financeira e patrimonial

Prara Rodrigues este tipo de investigação para a qual não existe definição legal é essencial
para a recuperação de activos.

Continua afirmando que nela se incluem as diligências de investigação tendentes a


identificar, localizar e apreender os activos que se procuram recuperar. Este tipo de
investigação continua a não ter um direito processual que lhe seja diretamente aplicável pelo
que continua a socorrer-se das normas processuais do Código de Processo Penal. Esta solução
não é a desejável, os meios de prova e os meios de obtenção de prova ali previstos não são
idealmente aplicáveis à investigação financeira e patrimonial.

E por isso que se impõem sempre definir com clareza a investigação financeira e
patrimonial para que os artigos 16 a 22 da proposta no regulamento tenha clareza da sua
actuação para não se ver violada garantias patrimoniais constitucionalmente consagradas

Citámos a definição de um autor espanhol, Vicente Corral Escariz, para investigação


financeira e patrimonial e que (numa tradução nossa será): “Conjunto de diligências policiais
e ações judiciais dirigidas para apurar o conjunto actual de bens, direitos e obrigações de
uma ou mais pessoas singulares ou colectivas, sua possível origem, e determinar a sua
forma de constituição”.

Escusado é proceder a uma aturada análise da definição, mas de tal resulta claro que ao lado
da investigação criminal existe a investigação patrimonial ou financeira, que visa, em síntese,
a identificação e localização dos activos susceptíveis de futura declaração de perda, bem
como a adopção das medidas necessárias à sua recuperação.
E por isso que nos entender propor que o Regulamento seja capaz de responder não só aquela
definição mas também
a) Instrumentos de que o Gabinete dispõe no âmbito da investigação patrimonial
b) Requisitos de intervenção do Gabinete no âmbito da investigação patrimonial
c) Instrumentos concedidos ao Gabinete na tarefa de identificar e localizar activos
d) Modo como o Gabinete pode actuar sobre os bens
e) Garantias concedidas ao titular dos bens apreendidos
f) Revogação e Modificação da apreensão
g) Quando se realiza a investigação patrimonial

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