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TÓPICOS PARA AULA PRÁTICA

(SEMANA 09/11/2020 A 13/11/2020)

Classifique os direitos subjetivos contidos nas seguintes normas:

• Art. 1409.º do Código Civil;

• Art. 79.º do Código Civil;

• Art. 80.º do Código Civil;

• Art. 437.º do Código Civil;

• Art. 1083.º do Código Civil;

• Art. 287.º, n.º 1 do Código Civil;

Distinga caducidade de prescrição, explicando os respetivos regimes jurídicos.

Diga quais as modalidades de justiça que conhece?

Em que situações, aparentemente, o legislador fez prevalecer a segurança em


detrimento da justiça?

Ius Strictum vs Ius Aequum

Equidade: exemplo de artigos onde podemos verificar autorização legal para uso da
equidade nos termos do art. 4.º a) do CC

Exemplos de Conceitos jurídicos indeterminados:

Exemplos de Cláusulas gerais:


Ramos de Direito
O sistema jurídico está estruturado ou sistematizado precisamente em função das
diferentes relações jurídicas (e os direitos subjetivos), públicas ou privadas, que acabamos
de referir. Por isso, olhando a partir daí para o direito objetivo e procurando sistematizá-
lo chegamos, numa primeira abordagem, à summa divisio entre o direito privado, que visa
as relações jurídicas privadas, e o direito público, destinado a regular relações jurídicas
sem natureza privada ou particular.

Temos assim o direito objetivo como o conjunto das normas jurídicas em geral dividido
entre Direito Privado (direito subjetivo/ obrigações privadas) e Direito Público (direito
subjetivo/ obrigações públicas).

Por sua vez, o direito privado e o direito público encontram-se divididos em vários ramos.

Ramos de Direito Público


Os vários ramos do direito público são, designadamente1:

a) O Direito Constitucional ou Político: relacionado com o poder político como


“elemento do Estado moderno”. A Constituição é, antes de tudo, o estatuto
organizatório do Estado e dos órgãos de soberania com as suas competências
específicas e define as relações (as relações de poder) entre os cidadãos e o seu
Estado; ela estabelece as traves mestres do ordenamento jurídico da comunidade,
não sendo essencial que contenha direitos fundamentais;

b) O Direito Administrativo: disciplina a organização e as competências da vasta


atividade da Administração Pública, na medida em que são juridificadas cada vez
mais relações sociais. As competências da Administração, sobretudo as da
administração social, alargam-se contínua e significativamente;

c) O Direito Fiscal: destina-se, em primeiro lugar, à obtenção de receitas públicas


mas serve também para intervir nas atividades económicas, ou com incentivos
fiscais relativamente a certas atividades económicas ou investimentos que se
pretendem favorecer ou com agravamentos para influenciar comportamentos de
consumo que se querem penalizar; mas também serve, nomeadamente por meio

1
Poderemos indicar outros como o Direito do Urbanismo, Direito do Ambiente ou o Direito Financeiro.
do imposto sobre os rendimentos e do imposto sucessório, para fins de
(re)distribuição de benefícios e patrimónios;

d) O Direito Penal2 (ou direito criminal): destina-se à defesa de bens e valores


fundamentais da comunidade; estando baseado no mais estrito princípio da
legalidade (nullum crimen sine lege), ao tipificar (pré-definir) legalmente os
crimes, como condutas reprováveis que lesam os bens e valores fundamentas,
prevê também as sanções (as penas) correspondentes e determina as medidas de
segurança que se mostrem inevitáveis, sendo também as sanções e medidas de
segurança legalmente pré-definidas (nulla poena sine lege). A doutrina moderna
defende que o direito penal, além de punir o autor de um crime, tem também uma
função de ressocialização para evitar a sua estigmatização social perpétua; de
resto, a punição do criminoso não elimina o próprio crime e os seus efeitos
nefastos mas constitui uma satisfação para a vítima e tem (ou pode ter) também
um efeito preventivo para dissuadir outros potenciais infratores de cometerem
crimes;

e) O Direito Processual: há quem entenda que o direito processual está fora da


dicotomia direito público vs direito privado. Para o efeito, distingue-se, dentro do
direito objetivo, entre o direito material, o chamado direito substantivo, que
reconhece ou atribui os direitos subjetivos e estabelece as correspondentes
obrigações, e o direito processual, o chamado direito adjetivo. O direito processual
destina-se a garantir e efetivar a defesa dos direitos subjetivos e o cumprimento
das obrigações. Para o efeito devem ser observadas as respetivas regras
processuais formais tanto pelas entidades públicas (tribunais, órgãos
administrativos) como pelas partes interessadas que se lhes dirigem (por meio de
atos processuais como ações, requerimentos, apresentações, recursos, etc.). As
regras processuais formais, como por exemplo quanto a prazos, provas, etc.,
destinam-se a garantir o tratamento igual das partes interessadas perante os
tribunais e a administração e visam evitar arbitrariedades. Em certa sintonia com
os vários códigos que consagram o direito material (substantivo), temos os vários
códigos processuais (civil, penal, administrativo e fiscal, de trabalho) e, entre eles,
os códigos registrais. Por exemplo, ao Código Civil como direito substantivo ou

2
Não é unânime na doutrina a sua qualificação como ramo de direito público.
material corresponde o Código de Processo Civil como direito adjetivo ou formal.
O Código de Processo Civil tem relevância na medida em que é uma referência
para outras leis processuais.

O direito formal, processual ou adjetivo, está ao serviço do direito material ou


substantivo e tira daí o seu sentido útil, tendo deste modo uma função subordinada,
mas daí não resulta de modo nenhum que o direito processual seja menos relevante
ou inferior em comparação com o direito material. O direito objetivo, substantivo
ou material atribui ou reconhece os direitos subjetivos e estabelece as respetivas
obrigações. Já a violação dos direitos ou o não cumprimento das obrigações leva
à imposição (realização) do direito objetivo e os direitos subjetivos e obrigações
nele baseados através de um processo judicial segundo as regras processuais, ou
seja, do direito formal.

f) O Direito Internacional Público: regula as relações jurídicas entre os Estados


soberanos e demais entidades soberanas3 e as organizações internacionais. Ao
contrário do que sucede com o direito que tem fonte estadual o Direito
Internacional Público tem fontes supra estaduais4; as normas do direito
Internacional Público são coercíveis, por exemplo, mediante a aplicação de
sanções, embargos ou, como recurso último baseado num mandato das Nações
Unidas, com a guerra contra o infrator, contudo, a coercibilidade depende,
atendendo ao sujeito infrator em questão, em parte considerável, das posições de
força/poder do infrator em relação a quem o pretende punir. Sendo assim, o
Direito Internacional Público é forte quando se trata de punir infratores fracos.

Acrescenta-se ainda, neste seguimento, que os tratados internacionais celebrados entre a


Santa Sé5 (o Papa surge-nos como caput da Igreja Católica) e os Estados chamam-se
concordatas. O direito da Igreja Católica Romana, isto é, latina, pois não abrange as
igrejas orientais, está consagrado no Codex Iuris Canonici de 1983 e regula a organização
da Igreja e aplica-se ao “Povo de Deus” cuja justa ordem social procura construir tendo
fins religiosos.

3
Por exemplo, a Soberana Ordem de Malta ou a Santa Sé.
4
Convenções, costume internacional, que tem grande relevância sobretudo no direito marítimo, tratados, a
carta das Nações Unidas, os princípios gerais de direito comuns às nações civilizadas, os princípios de
direito internacional geral.
5
A cidade do Vaticano é, ao lado da Santa Sé, um sujeito próprio de direito internacional público.
Finalmente, falta referir a União Europeia que não é uma Federação mas um fenómeno
sui generis que passou a ser sujeito do Direito Internacional Público. O Direito
Comunitário, baseado nos contratos celebrados entre os soberanos Estados-Membros da
União, tem uma relevância cada vez mais crescente para o direito interno dos seus
Estados-Membros na medida em que prevalece sobre as leis nacionais.

Ramos de Direito Privado


Os vários ramos do direito privado são:

a) O Direito Civil: inicialmente, direito privado e direito civil eram idênticos e as


suas designações eram sinónimas. O direito civil tem a sua origem no direito
romano, designadamente no Corpus Iuris Civilis (533/534) do Imperador do
Império Romano Oriental Justinianus. O Corpus Iuris Civilis é, ao lado da Bíblia,
o livro mais relevante no mundo ocidental. O Direito Civil é hoje um ramo do
direito privado, mas continua a consagrar, como direito privado comum, as regras
fundamentais para todo o direito privado, ou seja, todos os vários direitos privados
especiais que, ao longo do tempo e em sintonia com a evolução económica e
social, se vieram a diferenciar do direito civil. A fonte principal do Direito Civil
é o Código Civil, contudo, ao lado deste, existem leis civis complementares muito
relevantes cuja matéria, todavia, o legislador (ainda) não quis integrar no Código
como, por exemplo, o regime das cláusulas contratuais gerais ou a legislação que
pretende proteger quem viva em união de facto ou o regime do arrendamento rural
ou o direito real de habitação periódica. A estrutura do Código Civil obedece a
critérios jurídico-sistemáticos que o pretendem tornar praticável e, excetuando o
direito da família, não se baseia nas realidades sociais (instituições). Nas suas
linhas essenciais segue a sistematização adotada pelo Bürgerliches Gesetzbuch
alemão (BGB) de 1900 que, por seu lado, é, além das suas raízes germânicas,
devedor do Corpus Iuris Civilis. Há numerosos conceitos, institutos e soluções
do direito romano que encontramos no BGB donde passaram para o Código Civil
português. Este é, tal como o BGB, dividido em cinco Livros.

b) O Direito Comercial: este ramo de direito foi o primeiro a autonomizar-se dentro


do direito privado ao lado do direito civil na sequência das relações comerciais
que se foram estabelecendo na idade média6. Ainda hoje muitos termos e
conceitos do direito comercial mantêm a sua origem italiana. A dicotomia entre o
direito civil e o direito comercial existiu durante longos séculos.

c) O Direito do Trabalho: surgiu com a industrialização na segunda metade do século


XIX e a sua relevância evidencia-se pelo facto de a maior parte da população
trabalhar por conta de outrem, estando assim numa situação dependente em
relação ao dador do trabalho. Apesar de pertencer ao direito privado, as relações
laborais têm a sua origem na autonomia privada das partes que celebram os
contratos individuais de trabalho, ele é caracterizado por um forte
intervencionismo da administração pública com o objetivo de garantir condições
de trabalho condignas com vista à proteção do trabalhador como a parte contratual
mais fraca.

d) O Direito Económico: compreende as leis de direito privado que são relevantes


sob o critério amplo da economicidade. Neste sentido integra, por exemplo, o
direito comercial, o direito do trabalho, o direito industrial e das sociedades ou o
direito da concorrência.

e) Direito do Desporto: este ramo de direito encontra-se em fase de autonomização


e compreende as regras desportivas estabelecidas pelas associações nacionais e
internacionais e cujo desrespeito pelos praticantes (por exemplo mediante o
recurso ao “doping”) é sancionado autonomamente pelas próprias instâncias
desportivas. Neste ramo do direito privado, cuja importância económica e social
é cada vez maior, há muitas situações duvidosas na medida em que o controlo das
multifacetadas (nem sempre transparentes) atividades das poderosas organizações
desportivas por parte de instâncias estaduais é incipiente.

f) O Direito Internacional Privado: ao contrário do que sucede com o direito


internacional público, não regula relações jurídicas. Limita-se a remeter para o
direito privado que considera aplicável para resolver as questões resultantes de

6
Por exemplo a partir das cidades de Veneza e Génova e das cidades da Liga Hanseática ou ainda devido
à expansão marítima.
relações jurídicas entre particulares em que intervém mais do que um direito
nacional, em que há por isso um conflito de leis7.

Critérios de delimitação entre Direito Público e Privado


Para concluir a análise entre os ramos de Direito, cumpre ainda aflorar os critérios de
delimitação para saber se uma dada relação pertence, ou é regulada, pelo Direito Público
ou pelo Direito Privado.

Nas relações entre particulares estamos, normalmente, perante uma situação horizontal,
em que as pessoas estão num patamar de igualdade e aplica-se o direito privado.

Nas relações entre o Estado (ou outras entidades públicas) e o cidadão existe, por regra,
uma ordenação vertical (de desigualdade, visto o Estado estar munido de um poder de
autoridade, um poder de império, a publica potestas, que se impõe ao cidadão) e aplica-
se o direito público.

Todavia, há relações entre as entidades públicas e os particulares em que a situação


aparece duvidosa.

Para sabermos qual é, nessas situações, o ramo de direito competente para regular a
situação a doutrina desenvolveu várias posições:

a) Teoria dos Interesses: esta teoria é a mais antiga, já referida nos textos romanos,
e refere que a relação pertence ao direito público ou privado conforme o interesse,
único ou prevalecente, em questão ser público ou privado, isto é, se as normas
visarem proteger interesses públicos, ou seja, da comunidade, ou do Estado,
pertencem ao Direito Público, mas se, essas normas visarem a proteção de
interesses individuais, então pertencem ao Direito Privado. Este critério não colhe
atendendo a que existem normas que prosseguem simultaneamente interesses
públicos e privados ou normas que prosseguem essencialmente interesses da
comunidade mas pertencem ao Direito Privado;

7
Por exemplo, decide qual é o direito privado aplicável a um acidente causado por um português em
Espanha em que fica lesado um italiano; ou diz qual é o direito aplicável, quanto aos pressupostos e às
formalidades, no caso de duas pessoas de nacionalidades diferentes querem casar.
b) Teoria da supra-ordenação/ infra-ordenação8: aqui, dir-se-á que a relação é
regulada pelo direito público se a relação jurídica envolver um cidadão e o Estado
ou outro sujeito de Direito Público, visto o cidadão se encontrar numa situação
de inferioridade face aos poderes estaduais, e será de Direito Privado se a relação
regulada apenas envolver particulares. Claro que a esta teoria também foram
apontadas falhas na medida em que o Estado e outros sujeitos de direito público
podem intervir em relações jurídicas precisamente estando submetidos às
mesmas condições a que estão submetidos os particulares.

c) Teoria da posição dos sujeitos na relação: que refere que se as normas em causa
são invocáveis igualmente por todos, sendo assim de aplicação geral, e utilizáveis
por todos, sendo eles particulares ou entidades públicas, a relação pertence ao
direito privado; se, pelo contrário, as normas conferem prerrogativas ou
competências próprias apenas de entidades públicas, quer dizer quando se trata
de um exercício de poder público, com autoridade pública, a relação pertence ao
direito público. Ou seja, o relevante é descortinar-se em que posição se encontra
a atuar o Estado ou outro sujeito de direito público numa determinada relação,
saber se está ou não investido no seu ius imperii, numa posição de supremacia,
caso em que a relação pertencerá ao Direito Público. Se, pelo contrário, atua numa
posição de igualdade com outros sujeitos particulares, então a relação pertencerá
ao Direito Privado.

A verdade é que, atualmente, com a crescente autonomização, dinamização e


publicização de áreas do direito que até então eram conotadas como sendo de Direito
Privado, torna-se cada vez mais difícil traçar um critério infalível para delimitar o que
pertence ao Direito Privado e o que pertence ao Direito Público.

Cada vez mais surgem áreas do Direito que são de natureza mista9, pelo que será sempre
mais fiável, para caracterizar cada ramo de direito como público ou privado, observar os
critérios aduzidos pelas várias teorias acima aduzidas, conjugando-os e assim se retirar
uma categorização do direito como privado ou público.

8
Ou Teoria da qualidade dos sujeitos.
9
Como por exemplo o Direito Bancário ou o Direito dos Seguros.
A ler: J. Baptista Machado, pp. 50-54, 55-59 (59-62), 64-70; Àngel Latorre, pp. 54-65.

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