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CONTEMPORÂNEO
AULA 1
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TEMA 1 – DO ESTADO ABSOLUTISTA AO ESTADO NACIONAL MODERNO
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de domínio da classe social que dominava desde o feudalismo. De acordo com
o autor, “Essencialmente, o absolutismo era apenas isso. Um aparelho de
dominação feudal recolocado e reforçado, destinado a sujeitar as massas
camponesas [...]. Era a carapaça política de uma nobreza atemorizada”
(Anderson, 2004, p. 18).
Por outro lado, ocorreu naquele período um intenso processo de
urbanização, a partir de dois elementos. A expulsão dos camponeses, forçando-
os a migrar para as cidades, e o nascimento da indústria moderna, ainda em
seus primeiros passos, com novas formas de produção (o tear mecânico foi o
maior exemplo). Outros fatores também contribuíram, como o desenvolvimento
técnico, em especial no que diz respeito à navegação, permitindo o domínio dos
mares e, consequentemente, das novas terras então descobertas (América,
África e o Extremo Oriente). Em conjunto, tais fatores induziram uma nova
mentalidade, principalmente em relação ao comércio, que deixa de ser centrado
em pequenas localidades e passa a se concentrar em amplos mercados,
basicamente mercados europeus, mas com um sistema de produção já global
(as colônias espalhadas pelo mundo).
É neste contexto que a moderna ideia de Estado-Nação começa a ser
forjada, mas não sem variados conflitos. Inglaterra, França, Holanda, Áustria,
Suécia, Rússia, Portugal e Espanha estão se organizando como nações. Há
disputas por mercados e por colônias, além de disputas religiosas que acabaram
por contribuir para a formação desta nova instituição, como veremos a seguir.
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2.2 O Estado-Nação
1 Não confundir com o Império Romano da Antiguidade. O Sacro Império Romano foi uma
tentativa medieval, a partir do século XI, de reviver aquele império, mas sem muito sucesso. No
entanto, não deixou de ser uma instituição a interferir nos assuntos internacionais e internos das
nações europeias. Foi extinto por Napoleão Bonaparte.
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outras explicações são necessárias. A religião católica ainda era dominante, mas
tinha concorrência, fosse do protestantismo ou das ideias cada vez mais
frequentes de que a política, assim como o Estado, tinha uma realidade própria.
O absolutismo, então, caracteriza-se em termos ideológicos como uma mescla
de valores religiosos tradicionais e valores modernos laicos.
A ideia moderna de Estado foi apresentada por Maquiavel no Livro O
Príncipe (1532), no qual ele analisa o Estado e o poder político como tendo
natureza própria e sendo ponto central da política moderna. Já Hobbes é um dos
principais defensores do absolutismo monárquico. Na obra Leviatã (1651), com
base em uma visão pessimista da natureza humana, ele defende um Estado o
mais forte possível para evitar que “o homem seja lobo do homem”, dando
segurança aos súditos; no plano externo, a ideia é impedir que um Estado invada
ou interfira em outro. Assim, o estado absoluto seria o garantidor da paz interna
e da segurança externa.
No absolutismo, a soberania se confunde com o poder pessoal do rei,
ideia celebrizada pela famosa frase do regente francês Luís XIV, “O Estado sou
eu”. Tal princípio é fundamentado pela ideia do Direito Divino, no qual o poder
seria uma concessão a determinados indivíduos, mas também pela proposta
laica do cardeal francês Richelieu (1585-1642), a expressão “Razão de Estado”.
Por outro lado, o surgimento do protestantismo no século XVI acabou por
gerar diversas mudanças no plano ideológico, seja como facilitador da aceitação
de diversos valores do nascente capitalismo (tese de Max Weber em A ética
protestante e o espírito do capitalismo), seja por fomentar conflitos entre as
nações daquele período. Diferentes ideologias prevaleceram durante o
absolutismo, o que trouxe implicações no modelo de Estado que certos países
adotaram. É o caso da recusa de Portugal e da Espanha em aceitar os novos
valores econômicos. Se em meados do século XVI eram nações de vanguarda,
a partir da adoção dos princípios da Contrarreforma recusaram inovações,
gerando um tipo de Estado que sufocou o nascente capitalismo. Enquanto a
Inquisição findava em outros países, Portugal e Espanha resgataram-na como
prática religiosa e de Estado. Assim, o Estado absolutista, nesses países, antes
de se modernizar, desperdiçou tempo e grande parte das riquezas obtidas na
América.
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TEMA 4 – MODELOS DE ESTADO ABSOLUTISTA
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valores capitalistas burgueses, aceitando tão somente o chamado capitalismo
de Estado. Isso acabou por influenciar um tipo de Estado cheio de contradições,
conforme constata R. Faoro (2001), para quem o Estado colonial português
transformou os altos funcionários públicos praticamente em elementos da
nobreza, sufocando a burguesia e privilegiando os funcionários de Estado. Em
meados do século XVIII, em Portugal, ainda prevalecia uma organização estatal
arcaica, cheia de superstições, fraca hierarquia e excesso de funcionários
(Faoro, 2001, p. 204). Neste período, nem mesmo o “déspota esclarecido”
Marquês de Pombal conseguiu efetivamente modernizar o país.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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