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3.3 Território

3.3.1 Visão global

A dinâmica territorial, o seu desenvolvimento, competitividade e coesão, são


interdependentes das dinâmicas demográficas e socioeconómicas (ver figura 28). O
PNPOT (2007) inscreve dois objetivos estruturantes para o desenvolvimento
territorial do interior. Por um lado, promover o desenvolvimento urbano mais
compacto e policêntrico, por outro, promover o desenvolvimento integrado dos
territórios de baixa densidade, que no âmbito do PNCT designamos por territórios do
interior, através do conhecimento das necessidades e das especificidades das áreas
mais vulneráveis e despovoadas. Atingir um desenvolvimento mais equilibrado
através da redução das disparidades, evitando desequilíbrios territoriais, culminará
num território mais cooperativo e integrado39.

Já em 1999, as linhas orientadoras conducentes à coesão territorial da política


europeia para o desenvolvimento espacial40 eram indicadoras e refletiam a base das
políticas atuais para a coesão territorial. Tinham na sua base o desenvolvimento
policêntrico e balanceado do sistema urbano, o acesso paritário a infraestruturas,
equipamentos e conhecimento e o desenvolvimento sustentado e a gestão e proteção
equilibradas do património natural e cultural (figura 38).

FIGURA 38 Coesão territorial - componentes estruturantes

39
European Comission (2004), “A new partnership for cohesion convergence competitiveness
cooperation - Third report on economic and social cohesion
40
European Comission (1999), ESDP European Spatial Development Perspective. Towards Balanced and
Sustainable Development of the Territory of the European Union
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Orlando Ribeiro olha para Portugal como um espaço moldado por duas influências: o
Mediterrâneo e o Atlântico. Nessa base, identifica 3 regiões em Portugal; duas
marcadamente influenciadas por cada um destes elementos e uma terceira, que
corresponde a uma faixa interior onde as influências mediterrânica e atlântica se
combinam com os efeitos da proximidade ao centro da Península Ibérica. Divide
ainda o país em Norte, terra fria, montanhosa e chuvosa, e sul, terra plana e seca41.

A ocupação humana do território é influenciada pelo espaço físico e, este acaba por
a modelar. O território, se entendido como um macrossistema dinâmico, pode se
interpretado de acordo como um compósito de 4 sistemas: o sistema azul (rede
hidrográfica), o sistema verde (sistema de proteção e valorização ambiental), o
sistema cinzento (infraestruturas e redes de transportes) e o sistema urbano (rede de
aglomerações e suas interdependências)42 (figura 39).

FIGURA 39 Infraestruturas principais e diversidade morfológica do país (Fontes: SNI; ICNF,


IEP, CAOP2015; Rede Nacional de Plataformas Logísticas; IMT) (elaboração UMVI).

41
Paiva, D. (2013), Ribeiro, O. (2011 [1945]), “Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Estudo
Geográfico”. Investigaciones Geográficas, Boletín 80: 129-131
42
Ribeiro, J.M.F e outros (2015), “Uma metrópole para o Atlântico”. Fundação Calouste Gulbenkian
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O sistema de mobilidade (redes rodoviária e ferroviária) é o meio preferencial e


estratégico de acesso e conectividade entre as sedes de concelho e os núcleos
urbanos mais relevantes. A rede rodoviária nacional total tem 18 874 Km, dos quais 3
087 km são autoestradas (rede rodoviária principal). A densidade da rede rodoviária
nacional é de 0.161 Km/Km2 em Portugal continental. Dos 18 distritos, 9 têm
densidades superiores à média, e os restantes, todos situados no interior de Portugal,
apresentam valores inferiores. Destacam-se os distritos do Porto pela positiva e de
Beja, pela negativa (gráfico 19). A rede ferroviária com uma extensão total de 2 562
km segue o mesmo padrão que a rede rodoviária, com densidades superiores no
litoral. O transporte aéreo é assegurado por 5 aeroportos, 4 internacionais e 1
regional (Bragança). A rede de aeródromos (18) cobre a totalidade do país de forma
mais ou menos homogénea.

GRÁFICO 19 Densidade da rede rodoviária nacional por distrito. (Fonte: INE, 2014)
(elaboração UMVI)

As infraestruturas de logística do fluxo de mercadorias maximizam e reforçam as


potencialidades e benefícios da multi e da intermodalidade. A sua distribuição
espacial é condicionada pela proximidade/acessibilidade a zonas de
consumo/produção, a estruturas de movimentação de carga já existentes e à
proximidade de importantes infraestruturas portuárias e principais áreas
43
transfronteiriças de fluxos . Em Portugal existem 13 plataformas logísticas, 4 das
quais transfronteiriças.

43 MOPTC (2008) Portugal Logístico – Rede Nacional de Plataformas Logísticas


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O país, montanhoso a norte e plano a sul, é moldado por 16 bacias hidrográficas, 3


das quais transfronteiriças. Da totalidade dos 278 concelhos, 178 localizam-se a
menos de 5 km de um rio ou afluente e 248 a menos de 10 Km, valores estes
indicadores da sua importância no processo de ocupação humana.

A rede nacional de áreas protegidas (nacionais e internacionais) soma um total de


158 áreas. Do Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC) fazem parte 59 áreas e
da Rede NATURA 2000, 99 (37 ZPEs e 62 SICs). A sua distribuição é homogénea no
território, sendo que 26 das 37 ZPEs, 33 dos 62 SICs e 20 das 59 SNACs, localizam-se
no interior, representando um total de cerca de 80% do total das áreas com estatuto
de proteção em Portugal continental. Importa referir que Portugal continental tem 5
Reservas da Biosfera (galardão de qualidade e excelência), 3 das quais
transfronteiriças (Gerês/Xurés, Meseta Ibérica e Tejo/Tago). No cenário mundial
apenas existem 16 reservas internacionais, 3 das quais são Portuguesas. Estas são
evidência da boa cooperação com Espanha com impactos claros na economia
local/regional pela potenciação da visitação e do turismo nestes territórios.

3.3.2 Ocupação humana do território e configuração do


sistema urbano
As regiões costeiras foram
desde sempre locais de
concentração populacional. Em
todo o mundo, cerca de 60% das
grandes cidades situam-se no
litoral. Na Europa, a densidade
populacional média no litoral é
de 100 hab./Km2, sendo muito
superior aos valores verificados
no interior44 (figura 4045).

FIGURA 40 Densidade populacional no


litoral europeu (in EEA, 2009)

44 Baztan, J. e outros (2015), “Coastal zones - Solutions for the 21 st century”. Elsevier
45 Disponível em http://www.eea.europa.eu/data-and-maps/figures/population-density-in-the-
european-coastal-zone-0-10-km-in-2001
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Portugal concentra cerca de 60% da população na faixa costeira (0-25km), com uma
densidade populacional média a rondar os 500 hab./km2. Se considerarmos a faixa 0-
50 Km, o valor aumenta para quase 70% da população residente com uma densidade
populacional média de cerca de 350 hab./Km2. São 85 os concelhos situados a menos
de 25km do litoral, contudo apenas 19 têm população superior a 100 mil habitantes.
Destes, destacam-se Lisboa com mais de 500 mil, Vila Nova de Gaia e Sintra com mais
de 300 mil e Porto, Cascais e Loures com mais de 200 mil. Na faixa 25-50km do litoral
apenas 4 concelhos, num total de 46, têm mais de 100 habitantes: Vila Franca de
Xira, Guimarães, Braga e Coimbra. Os restantes (141), localizam-se a mais de 50 km
da faixa costeira. Neste território, apenas 7 cidades têm entre 50 e 100 mil
habitantes, e com exceção de Amarante, todas capitais de distrito: Santarém, Évora,
Vila Real, Viseu, Covilhã e Castelo Branco (figura 41).

No território nacional, nos anos 90, ocorrem dois processos espaciais opostos e
principalmente decorrentes das migrações internas: concentração urbana
(urbanização e suburbanização) e desconcentração urbana (periurbanização). A
desconcentração urbana tende a prevalecer nas cidades grandes e médias do litoral,
e a concentração urbana caracteriza as cidades médias do interior (Roca e Pimentel,
2007)46. As cidades litorais apresentam duas tendências claras: uma de crescimento
lento e outra de perda de população residente, em alguns casos acentuada. Entre as
últimas destacam-se Lisboa e Porto. As exceções são Sintra e Vila Nova de Gaia,
ambas cidades periféricas das primeiras. No interior, assiste-se a uma estabilização,
com exceção das cidades de Viseu com um crescimento acentuado e Covilhã pela
razão inversa (gráfico 20).

46 Roca, M. N. e Pimentel, D. (2003), "Causas prováveis das migrações internas em Portugal na década de
noventa", GeoInova
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GRÁFICO 20 Variação da população residente nas cidades com mais de 50 000 habitantes do
litoral (menos de 50 Km da linha de costa) (A) e do interior (B) (elaboração UMVI)

A UE tem um padrão de aglomeração urbana que é singular. Existem cerca de 5 mil


cidades de pequena/média dimensão (entre 5 000 e 50 000 habitantes) e quase mil
grandes metrópoles que constituem o centro da atividade económica, financeira,
social e cultural. Contrariamente ao resto do mundo, na UE apenas 7% das pessoas
vivem em cidades com mais de 5 milhões de habitantes47. Este padrão de distribuição
contribui para a qualidade de vida na Europa, tanto para os citadinos, que nunca
vivem afastados das áreas rurais, como para os que residem nestas últimas e que não
têm dificuldade em aceder aos serviços prestados pelas cidades48. Em Portugal,
apenas Lisboa tem uma população superior a 500 mil habitantes, todavia, as regiões
metropolitanas de Lisboa (2,8 milhões) e do Porto (1,8 milhões) concentram cerca de
45% do total da população residente no continente (figura 42). É notório o
desequilíbrio na ocupação do território, com a concentração da população residente
essencialmente no litoral e em algumas capitais de distrito do interior, das quais se
destaca, por exemplo, Castelo Branco (figura 42). Tal reflete-se num PIB por
habitante inferior à média e em elevados níveis de desemprego. A rede urbana das
regiões intermédias e rurais, cidades de pequena e média dimensão, beneficiará com
a criação de uma rede forte articulando e coordenando os recursos disponíveis. São
elas que prestam serviços essenciais às áreas rurais circundantes.

As regiões montanhosas, onde mais de um terço da população vive em zonas rurais,


marcam quase todo o território fronteiriço. As zonas de muito baixa densidade
(densidade populacional inferior a 8 hab/km2) distribuem-se ao longo do interior

47 OCDE (2007), “Competitive Cities in the Global Economy”.


48 Comissão Europeia (2008), “Livro verde sobre a coesão territorial europeia: tirar partida da
diversidade territorial”. Comunicação da Comissão ao Concelho, ao Parlamento Europeu, ao Comité
das Regiões e ao Comité Económico e Social Europeu. COM (2008) 616 final
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fronteiriço norte e o Alentejo interior. Na Europa, apenas 2,6 milhões de pessoas


vivem em regiões com baixa densidade populacional, com declínios populacionais
superiores a 5%. Em todo o interior de Portugal, apenas as cidades capitais de distrito
e algumas pequenas cidades de média dimensão é que não se enquadram em regiões
rurais. Contudo, das 122 cidades portuguesas, apenas 10 têm mais de 100 mil
habitantes, e cerca de 85 % têm menos de 50 mil, o que as situa na categoria de
cidades de pequena/média dimensão, sendo clara a interioridade das cidades de
pequena dimensão (gráfico 21). A fraca densidade, a condição periférica e as
deficiências estruturais com forte dependência económica no setor primário
coexistem nestas regiões e representam, em conjunto, uma barreira cumulativa e
substancial ao desenvolvimento. Uma estrutura policêntrica, concentrada nas
pequenas e médias cidades do território induzirá a uma maior equilíbrio do
crescimento e do desenvolvimento.

População residente (n-º habitantes) Densidade populacional (Nº hab/Km2)


Mais de 100 000
Alta
Até 100 000
Até 50 000
Baixa

Distância à costa - 25km


Distância à costa - 50km

FIGURA 41 Concentração da população no litoral português (Fonte: INE) (elaboração UMVI 49)

49
A criação do mapa de densidade populacional para o país seguiu a metodologia proposta pela ESPON
(2011) constante no relatório técnico “Disaggregation of socioeconomic data into a regular grid and
combination with other types of data”
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GRÁFICO 21 Número de cidades por classes de população residente (Fonte: INE) (elaboração
UMVI)

A maior ameaça nas áreas metropolitanas é a expansão urbana e os impactes


associados, os quais podem ser acautelados com políticas reguladoras do uso do solo.
As áreas de expansão urbana, baixa densidade populacional (inferior a 300) e
população residente entre 5 mil e 25 mil habitantes, concentram-se na
circunvizinhança das áreas urbanas, principalmente no litoral e pontualmente no
interior (figura 42).

A Tipologia das Áreas Urbanas (TIPAU 2009) consiste numa classificação tripartida do
território nacional em áreas predominantemente urbanas (APU), áreas mediamente
urbanas (AMU) e áreas predominantemente rurais (APR). Esta classificação resulta do
grau de urbanização do território pelo que permite, simultaneamente, uma definição
da população urbana como da população residente em AMU e APU50. O padrão de
distribuição verificado nas figuras anteriores é confirmado pela distribuição
constante da figura 43. Só nas áreas metropolitanas é que a população residente em
APU ultrapassa os 75%. No interior do país, até 50% da população reside em áreas
predominantemente rurais (baixas densidades populacionais associadas a baixo
número de residentes) (figura 43). É nas áreas rurais, mais distantes dos grandes
centros urbanos, que as cidades de pequena e média dimensão desempenham um
importante papel enquanto prestadoras de serviços e centralizadoras de
infraestruturas, evitando o despovoamento do interior rural.

50
Para mais informação consultar
http://datacentro.ccdrc.pt/Uploads%5CDocs/RC_TIPAU_Censos_2001.pdf e
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_cont_inst&INST=6251013&xlang=pt
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População residente (N.º) Áreas rurais - Baixa densidade populacional


Alta densidade
(Densidade populacional < 150 hab./Km2)
Até 8

De 8 a 50
Baixa densidade
De 50 a 150

Áreas Metropolitanas
(Lisboa e Porto)

Áreas de expansão urbana

População residente
(cidades)
Mais de 500 000
Até 500 000
Até 250 000
Até 100 000
Até 10 000

Elevada densidade populacional


(Nº hab./Km2)
De 300 a 650 Uso do Solo
Florestas e áreas seminaturais
Até 1500
Áreas agrícolas
Superior a 1500
Áreas urbanas

FIGURA 42 Ocupação humana do território (Fontes: INE; COS2006) (elaboração UMVI) 51

51
Os critérios utilizados na definição das áreas rurais (densidade populacional inferior a 150
hab/km2), das áreas densamente povoadas (densidade populacional superior a 650 hab/km2) e da
dimensão das cidades são os definidos pela OCDE (2013) e constantes no documento “Definition of
Functional Urban Areas (FUA) for the OECD metropolitan database”. Os critérios utilizados para
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População por Tipologia de Área Urbana (%)


Até 25 %

De 25 a 50 %

De 50 a 75 %

De 75 a 100 %

Áreas Predominantemente Urbanas Áreas Medianamente Urbanas Áreas Predominantemente Rurais

FIGURA 43 População residente por Tipologia de Áreas Urbanas por NUT III (TIPAU, 2009) (%)
(Fonte: INE) (elaboração UMVI)

3.3.3 Centralidade urbana

O policentrismo é objetivo central nas políticas do território na Europa. Contribui


para a contenção da expansão urbana, favorece o desenvolvimento de estratégias
cooperativas de funcionamento em rede entre áreas urbanas e conduz a uma
economia mais eficiente, fomentando assim um desenvolvimento regional mais
equilibrado. A rede urbana portuguesa é fortemente dominado por duas áreas
52
metropolitanas, Lisboa e Porto . O citado relatório considera que relativamente ao
resto do território, qualquer descrição precisa é bastante difícil. Nas proximidades do
Porto e de Braga, e em menor medida ao longo da região costeira central, a

definição das áreas de expansão urbana são os definidos por Brezzi e outros (2012), “Redefining urban
areas in OCDE countries: a new way to measure metropolitan areas”
52
ESPON (2007), Project 1.4.3 – “Study on Urban Functions”. Final Report
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densidade populacional é muito elevada, e nas paisagens semirrurais, os sistemas


agrícolas estão associados numa densa rede de estabelecimentos e indústrias
dispersas, sem fortes núcleos urbanos históricos (exceto Leiria, Coimbra, Aveiro). Um
processo linear de urbanização desconcentrada surge ao longo da região costeira, de
Braga a Lisboa, ao longo do corredor da principal rodovia e ferroviária. Inversamente,
algumas pequenas cidades históricas do interior e do sul estão despovoadas.

As cidades pequenas e
de média dimensão
70
dominam a estrutura
60
População residente (%)

50 espacial no país
40 (núcleos urbanos com
30
menos de 100 mil
20
habitantes), e na
10
0 Europa. É reconhecido
0-2000 2.000-5000 5.000-10000 Mais de
10.000
que estas são unidades
População dimensão do lugar
territoriais chave para
1960
a competitividade e
GRÁFICO 22 População residente por dimensão dos lugares (%) para a coesão
(Fontes: INE) (elaboração UMVI)
territorial53. Em
Portugal, 57% da população reside em lugares com menos de 10 000 habitantes.
Contudo, nos últimos 50 anos, tem-se assistindo à progressiva concentração da
população em áreas urbanas (gráfico 22).

Os núcleos urbanos de maior dimensão tendem a “concentrar” um conjunto de


funções e serviços fundamentais à população envolvente e residente em lugares de
menor dimensão. Para tal, é estruturante a rede viária, canal fundamental para as
deslocações aos centros polarizadores de serviços. São as cidades de maior dimensão,
com importância regional, que prestam serviços especializados (e.g. Hospitais
centrais e Ensino Superior). As cidades médias, satélites destas, oferecem um
conjunto de serviços menos especializados, contudo fundamentais (Ensino
secundário, Centros de Saúde, entre outros). As cidades de menor dimensão
caraterizam-se pela presença de estruturas administrativas de proximidade local e
por um conjunto de equipamentos relevantes na educação e no bem-estar da
população (Juntas de Freguesia, extensões de saúde, campos desportivos). O
desenvolvimento das funções urbanas nas cidades ditas complementares, de

53
ESPON (2006), Project 1.4.1“The Role of Small and Medium-Sized Towns (SMESTO)”.Final Report
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dimensão reduzida e com escassa centralização de serviços e funcionalidades, é


fundamental para a competitividade e equilíbrio do território. São as cidades de
pequena e média dimensão que apresentam menor diversidade funcional (figura 44).
Foram considerados 4 conjuntos de serviços e equipamentos: serviços de saúde
(hospitais centrais, hospitais especializados, centros de saúde e extensões de saúde);
serviços de conhecimento (universidades e politécnicos públicos e privados); serviços
de educação e formação (estabelecimentos de ensino público e privado do pré-
escolar, do ensino básico – 1º, 2º e 3º ciclos e do ensino secundário) e serviços e
equipamentos de cultura (galerias de arte e outros espaços de exposição temporária,
jardins zoológicos, botânicos e aquários, recintos de cinema e recintos culturais). As
áreas urbanas com diversidade funcional mais elevada concentram-se no litoral e
junto às áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. No total dos concelhos do
continente, 14 têm diversidade funcional elevada, 43 alta, 17 média e 204 baixa. Nos
territórios do interior localizam-se 80% dos territórios com baixa funcionalidade
(151), e apenas 7 com diversidade alta (Castelo Branco, Covilhã, Évora, Fafe,
Fundão, Guarda e Vila Real) e 7 com diversidade funcional média (Bragança, Beja,
Odemira, Chaves, Seia, Tondela e Vila Verde).

O acesso à saúde e ao ensino são pilares de uma sociedade desenvolvida e com níveis
elevados de qualidade de vida. Nos últimos anos assistiu-se a uma perda considerável
de equipamentos dedicados a estes dois serviços fundamentais (gráfico 23). Nos
últimos 5 anos, o país perdeu 1808 estabelecimentos de ensino, dos quais 1027 foram
no território do interior. As maiores perdas verificaram-se nos níveis de ensino pré-
escolar e básico. O ensino secundário registou um aumento de 30 estabelecimentos
no país, todavia o território do interior perdeu 3. Relativamente às unidades de
saúde de proximidade
(extensões de saúde), o
país perdeu cerca 117
unidades, 50 das quais
nos territórios do
interior. No interior,
destacam-se os
concelhos de Abrantes,
Carregal do Sal, Chaves,
Lamego, Resende, Santa
Comba Dão, Tarouca,
GRÁFICO 23 Variação do número efetivo de estabelecimentos de
Valpaços, Vila Real e Vila
ensino do pré-escolar e do ensino obrigatório e das extensões
de saúde entre 2009 e 2011 (Fontes: INE) (elaboração UMVI)
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Verde com perdas efetivas superiores a 20 estabelecimentos de ensino. Soure,


Valpaços, Alijó, Mação, Nisa, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião são
os territórios do interior com perda efetiva de mais de 5 extensões de saúde.

FIGURA 44 População residente, diversidade funcional e população que trabalha fora da


unidade de território onde reside (Fontes: INE) (elaboração UMVI 54)

A dotação dos pequenos e médios núcleos urbanos de equipamentos e serviços


coletivos, e de uma rede de transportes de qualidade que garantam o acesso das
populações rurais a estes serviços, reforçará a dimensão estratégica destes núcleos
em meios rurais. A revitalização e modernização destes núcleos contribuirá para a
criação de emprego e fixação das populações.

A oportunidade de emprego, em conjunto com o ensino, são a base para a


movimentação diária de residentes para fora da sua área de residência para
trabalhar. É no litoral que se concentram os 25 territórios que diariamente deslocam
mais de 50% da sua população para trabalhar fora do seu concelho de residência. Já

54 A definição das áreas funcionais adotou a metodologia proposta pelo Federal Institute for Research on Building,
Urban Affairs and Spatial Development (2011), “Metropolitan areas in Europe”
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nos territórios do interior, 71 concelhos deslocam entre 25 a 50% da população, e 88


entre 25 a 10%. É no interior que as pessoas menos se deslocam da sua área de
residência para trabalhar.

A representação dos fluxos relativos de interação entre pares de municípios (peso da


soma dos fluxos entre cada par de municípios na população residente empregada de
ambos os territórios) (figura 45) revela um sistema de relações mais complexo nos
municípios que rodeiam as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas também
no Algarve (onde sobressaem os municípios costeiros). Os pares de municípios com
maior interação funcional são Sines e Santiago do Cacém (13,5%), Porto e Matosinhos
(13,3%), Porto e Vila Nova de Gaia (12,4%), Porto e Gondomar (12,3%), Lisboa e
Loures (11,3%) e Lisboa e Sintra (11%). No interior as interações são de menor
intensidade, na sua maioria inferiores a 7%. Destacam-se os pares Aljustrel e Castro
Verde (7,4%), Belmonte-Covilhã (8,2%), Arganil (7,3%), Mangualde e Penalva do
Castelo (8,4%), Nisa e Portalegre (7,1%), Aguiar da Beira e Sernancelhe (8%), Pinhel e
Trancoso (8,6%) e, por último, o único par que fica acima dos 10%, Monforte e
Portalegre (10,8%).

População residente
Alta densidade

Baixa densidade

Fluxos
De 1 a 3

De 3 a 7

De 7 a 14

FIGURA 45 Mobilidade pendular e fluxos relativos de interação da população empregada ou


estudante (Fontes: INE) (elaboração UMVI)
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Em 2004, O INE55, através de um sistema hierárquico de funções dos territórios de


acordo com a sua raridade, construiu um sistema hierárquico funcional, e quantificou
a marginalidade funcional dos territórios e delimita as áreas de influência dos centros
urbanos (figura 46). Concluiu que os sistemas metropolitanos de Lisboa e Porto são
bastante complexo e extravasam os limites administrativos das respetivas áreas
metropolitanas e que, o restante território é, maioritariamente e essencialmente
estruturado em torno das capitais de distrito, sendo que um número reduzido de
centros urbanos no interior estrutura mais de metade do território do continente no
acesso a bens e serviços.

FIGURA 46 Sistema urbano nacional e áreas de influência dos centros urbanos para funções
muito especializadas (in INE, 2004)

Neste contexto, importa fazer referência ao Programa Operacional Temático para a


Valorização do Território 2007-201356, que elege, para efeitos de financiamento

55
INE (2004), “Sistema urbano: áreas de influência e marginalidade funcional: Complexidade dos
sistemas urbanos opõe-se ao resto do país com lógicas de organização territorial mais simples,
estruturadas em torno das capitais de distrito”. Destaque de 14 de abril
56
Comissão Europeia (2014), Decisão da Comissão de 28.8.2014 que altera a Decisão C(2007) 5110 que
adopta o programa operacional "Programa Operacional Temático Valorização do Território 2007-2013"
de intervenções comunitárias do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e do Fundo de Coesão a
título do objectivo de Convergência em Portugal. C(2014) 6165 final
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QREN, todas as operações que concorram para a criação ou requalificação de


equipamentos especializados, de elevada raridade ou de grande área de influência,
com efeitos na diferenciação e na competitividade dos principais centros urbanos
através do reforço do policentrismo e da qualificação das redes nacionais de
equipamentos estruturantes que contribuíssem para a diferenciação e reforço dos
fatores de atração e de competitividade das cidades, colocando a funcionalidade das
cidades num eixo especifico e dedicado a “Equipamentos estruturantes do sistema
urbano nacional”.

3.3.4 Território transfronteiriço

Os territórios do interior estão mais próximos de Espanha. A fronteira luso-espanhola


é a mais estável, antiga e extensa da União Europeia e também um dos territórios
com níveis de desenvolvimento mais preocupantes. O efeito de barreira da
descontinuidade gerada pela fronteira política dificulta a articulação destes
territórios com os grandes centros de ambos
os países. Nos últimos anos, as diferentes
gerações dos programas de cooperação
transfronteiriça desempenharam um papel
chave na inversão dessa tendência,
funcionando como catalisador da
cooperação e veículo de desenvolvimento e
ordenamento deste território57.

As fronteiras enquanto espaços de


delimitação política, social e económica,
não deixam de ser elementos de
conectividade, continuidade e cooperação
entre territórios. O processo de cooperação
transfronteiriça começou pela multiplicação
das interações entre os dois lados da
FIGURA 47 Cooperação transfronteiriça fronteira abrindo oportunidades que
(in www.qca.pt)

57
Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território, Direção Geral do Território, 2007
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permeabilizaram a fronteira para, depois, se aprofundar, envolvendo a gestão


conjunta das intervenções (Programa INTERREG, p.ex.) (figura 47).

Os movimentos de pessoas e de mercadorias são indicadores da permeabilidade da


fronteira e da forte cooperação peninsular (figura 48).

O território fronteiriço aqui considerado é o constante do estudo do INE (2004)


“Movimentos pendulares e Organização do território fronteiriço: Portugal 2001”, que
considera 74 concelhos como fronteiriços e contíguos a Espanha, distribuídos por 31
concelhos na região Norte, 14 na região Centro, 25 na região do Alentejo e 4 na
Região do Algarve. Apenas 5 não são territórios do interior (figura 49).

FIGURA 48 A. Tráfego médio diário de veículos pesados de mercadorias nas principais


fronteiras; B. Tráfego médio diário de veículos ligeiros de passageiros nas principais fronteiras
(2009) 58.

Um dos elementos de continuidade é o movimento casa-trabalho, que transforma


este espaço num espaço relacional. Num total de 1,12 M€ residentes ao longo da

58
Observatório Transfronteiriço Espanha/Portugal (OTEP) (2010). 6º Relatório. Disponível em
http://www.imtt.pt/sites/IMTT/Portugues/Observatorio/Relatorios/ObservatorioTransfronteiricoEspa
nhaPortugal/Documents/6_Relatorio_OTEP.pdf
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fronteira, segundo o INE (2004), mais de metade desta população residia nos
concelhos da região Norte. O Centro e o Alentejo partilham cerca de 40% em partes
iguais, e o Algarve apenas 5%. Conquanto, estes são territórios de muito baixa
densidade populacional, não atingindo os 50 habitantes por km2, em 55 dos 74
concelhos. Em 2001, residiam no território fronteiriço cerca de 390 mil ativos
empregados. Destes, 92% residia naquele território, predominando os movimentos no
interior daquele espaço. No entanto, em 4 concelhos (Torre de Moncorvo,
Mogadouro, Miranda do Douro e Valpaços), é expressiva a percentagem de população
ativa que trabalha em Espanha (entre 20 e 30 %). Em grande parte dos territórios
transfronteiriços a percentagem de população que trabalha não excede os 10%, com
exceção dos primeiros 4 e de outros 9, cujo peso da população ativa empregada em
Espanha oscilava entre os 10 e os 20% (Monção, Melgaço, Chaves, Vila Pouca de
Aguiar, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Oleiros, Campo Maior e Serpa).

Valença do Minho
! Vila Verde
! !
Quintanilha

NORTE

Vilar Formoso
!

CENTRO

Caia
!
LISBOA

ALENTEJO

Vila Verde de Ficalho


!
NUT III

Limite dos territórios do interior

Concelhos Transfronteiriços (INE, 2001) Monte Francisco


ALGARVE !

FIGURA 49 Territórios transfronteiriços e principais fronteiras (Fontes: INE; IMTT; CAOP2014;


OTEP) (elaboração UMVI)
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As ligações viárias entre as principais cidades do interior do país e as cidades mais


próximas, portuguesas e espanholas constam da figura 50. No cálculo dos tempos e
do custo total das viagens foi utilizado o sítio da Michelin. Os gráficos seguintes
(gráfico 24) resumem informação comparativa e exemplificativa do custo (tempo e
valor monetário) das viagens em veículo ligeiro entre algumas cidades do interior
(Guarda, Bragança e Beja) do país e as cidades mais próximas do litoral português e
do território espanhol. Verifica-se que a rede viária principal permite que grande
parte das viagens de ligação se façam por autoestrada ou similar. As portagens
continuam a ser onerosas, no entanto, no caso das viagens para as cidades
espanholas, o custo total da portagem é pago integralmente em Espanha.

Coruña Oviedo Bilbao


! ! !

Andorra
Santiago de Compostela !
!

Burgos
Ourense !
Vigo !
!

Bragança Barcelona
#! Valladolid !
# !
#
# Vila real
# ###
Porto !
#
########
! Salamanca
#
# !
#
#Aveiro# Viseu
!###### # # # #! # # # # # Guarda
# # Madrid
# !# !
##
Covilhã
Figueira da FozCoimbra !#
! !
####
# # Toledo
# #Castelo Branco
## #
!
# # ##! Valência
### #
#
#
# !
#
## #
### # # #
Portalegre
!
Badajoz Mérida
Lisboa ! !
! Évora
## #
!

Beja
! Córdoba
!

Sevilha
!
# # # # # # # Faro#
##
!
! Cidades
# Pórticos

Ligações entre cidades


Ceuta
!
Tânger Rede rodoviária principal
!

FIGURA 50 Ligações entre as principais cidades do interior do país e as cidades mais


próximas, portuguesas e espanholas. (Fonte: IMTT) (elaboração UMVI)

Importa ainda referir que, duas das ligações fundamentais entre o litoral, Figueira da
Foz e Torres Novas, e o interior, Vilar Formoso via Guarda e via Castelo Branco e
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Covilhã, respetivamente, têm um custo de portagens total de 14,9€ (IP5/A25) e de


16,75 (IP6/A23).

GRÁFICO 24 Custo das viagens das cidades do interior (Guarda, Bragança e Beja) a algumas
cidades principais de Portugal e de Espanha (Fonte: Via Michelin) (elaboração UMVI).

3.3.5 Sociedade de informação

As vias de comunicação digital, tecnologias da informação e de comunicação, são


conhecidas como as autoestradas da informação. Expressões como era digital,
sociedade de informação entraram no léxico diário do mundo que se diz global. A
edição 2016 do “Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade” (DESI, 2016)59,
mostra que o país continua longe dos melhores lugares do índice, contudo, já

59 Comissão Europeia (2016), “Digital Economy and Society Index” (DESI)


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ultrapassou a média da União Europeia, atingindo uma pontuação global de 0,53,


contra os 0,52 apurados para a média dos 28 Estados-membros considerados na
análise. Portugal apresenta excelentes níveis de cobertura de banda larga e de
disponibilidade de rede rápida em cerca de 90% das residências. O mesmo estudo
detalha que, apesar da disponibilidade de Internet de qualidade, os portugueses
ainda não aderiram à plena utilização dos serviços digitais, em grande parte por falta
de competências individuais. Na dimensão Serviço Público Digital, que avalia a
Modernização e informatização dos serviços públicos Portugal situa-se, não só acima
da média, mas apresenta a melhor performance no espaço europeu.

O acesso à internet de banda larga por 100 habitantes (NUT III) (gráfico 25) revela
que são as regiões interiores, e sobretudo o interior norte (Alto Tâmega, Tâmega e
Sousa, Douro e Terras de Trás-os-Montes), que menos utilizam este serviço. A
utilização não residencial ainda fica muito aquém da utilização residencial nunca
ultrapassando os 5% em todas as regiões, com exceção do Algarve que atinge os 6,4%.

GRÁFICO 25 Acessos à Internet, em 2015, em banda larga por 100 habitantes (%) por
Localização geográfica (NUT III) e Segmento de acesso. (Fonte: INE) (elaboração UMVI)

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