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Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Historia da Arte – 2019/2020

Unidade Curricular: História da Arte Portuguesa no Mundo


Docentes: Prof. Doutor Manuel Joaquim Moreira da Rocha | Prof. Doutor Hugo Daniel
Silva
Discente: Luiza Freitas Farias – up201800445@letras.up.pt

Colégio dos Jesuítas de Salvador (Bahia)

Porto, 21 de Janeiro de 2020.


INTRODUÇÃO

Neste trabalho se pretender analisar o papel do colégio dos jesuítas em Salvador,


como centro educacional de formação dos homens da nova civilização que estava a se
compor nas terras de Vera Cruz, nome este atribuído pelo rei Dom Manuel I.
Historicamente, poucas obras histórias trazem um estudo aprofundado do complexo que
foi uma das mais importantes instituições educacionais da ordem jesuítica no Brasil. Toda
a história por detrás da construção do majestoso colégio, até mesmo da igreja que
completava o conjunto de edificações mais importante de Salvador, capital baiana,
requerem um estudo mais aprofundado, seja do complexo ou até mesmo das intenções
políticas que o cercava.

Ao estudar de forma aprofundada a missão jesuítica, e toda as suas atribuições, e


objetivos, fica de certa forma clara, o grande interesse em assumir um controle
populacional através do cristianismo. O doutrinamento indígena, como uma grande
ferramenta política, o espelhamento arquitetônico e educacional da Coroa Portuguesa,
com a construção de colégios, como o Colégio dos Jesuítas de Salvador na Bahia, durante
dois séculos moldou um sistema educacional que ainda deixa vestígios em um país que
já encontra-se um tanto afastado culturalmente e sociologicamente daquele que o
colonizou.
Indice

1. Brasil Colônia..................................................................................................4

2. Tratado de Tordesilhas.....................................................................................6

3. Colégio dos Jesuítas de São Salvador .............................................................8


4. As influências artísticas e educacionais jesuíticas .........................................15
5. Conclusão .......................................................................................................17
6. Bibliografia .....................................................................................................18
1. Brasil Colônia

Figura 1 - Tela do pintor Vitor Meirelles retratando a primeira missa celebrada no Brasil, no
século XVI

A história do Brasil colonial pode ser dividida em três períodos: o primeiro inicia
desde a chegada de Pedro Álvares Cabral à instalação do governo geral, no século XVI;
o segundo é um longo lapso de tempo que abrange desde a instalação do governo geral
até as últimas décadas do século XVIII, e por fim, o terceiro vai dessa época à
Independência, em 1822.

O primeiro período se caracteriza pelo reconhecimento e posse da nova terra e um


escasso comércio. Com a criação do governo geral inicia-se a montagem da colonização
que irá se consolidar ao longo de mais de dois séculos, com marchas e contramarchas.

Quando descoberto o Brasil aparece como uma terra cujas possibilidades de


exploração e contornos geográficos eram ainda desconhecidos. Por muito tempo, pensou-
se que não passava de uma grande ilha. As atrações exóticas prevaleceram, a ponto de
alguns informantes, particularmente italianos, darem-lhe o nome de terra dos papagaios1.
Dom Manuel preferiu chamá-la de Vera Cruz e logo depois de Santa Cruz. O nome
"Brasil" começou a aparecer em 1503.

1
Fausto, Boris (1994). A História do Brasil. Editora da Universidade de São Paulo. Ed. 10. Pg 82-87.
Nos primeiros 40 anos depois da descoberta do território, a principal atividade
econômica foi a extração do pau-brasil, obtida principalmente mediante troca com os
índios. O que não significou que a convivência entres os diferentes povos e culturas não
tenha sido de todo pacífico, visto que, ao longo da história não faltaram relatos de
rebeliões indígenas contra os portugueses. Uma das principais causas de revoltas eram
as tentativas de escravização do índio, que chocou-se diante de uma série de
inconvenientes, tendo em vista os fins da colonização. Os índios tinham uma cultura
incompatível com o trabalho intensivo e regular e mais ainda compulsório, como
pretendido pelos europeus. Não eram vadios ou preguiçosos, mas possuíam um diferente
estilo de trabalho que se restringia a fazer apenas o necessário para a sua sobrevivência,
o que naquela época não era difícil, pois a abundância de recursos, peixes, plantas, frutas
e verduras eram vastas2. Muito de sua energia e imaginação era empregada nos rituais,
nas celebrações e nas guerras. As noções de trabalho contínuo ou do que hoje
chamaríamos de produtividade eram totalmente estranhas aos olhos deles. O que apenas
resultou na escolha econômica e sábia de utilização dos escravos africanos, que naquele
período se tornou uma opção mais fácil aos exploradores.

Figura 2 - "Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos", tela de


Jean-Baptiste Debret.

2
Fausto, Boris (1994). A História do Brasil. Editora da Universidade de São Paulo. Ed. 10. Pg 84.
Uma das tentativas de sujeição indígena foi feita pelas ordens religiosas,
principalmente pelos jesuítas, por motivos que tinham muito a ver com suas concepções
missionárias. Ela consistiu no esforço em transformar os índios, através do ensino, em
"bons cristãos", reunindo-os em pequenos povoados ou aldeias. As ordens religiosas
tiveram o mérito de tentar proteger os índios da escravidão imposta pelos colonos,
nascendo daí inúmeros atritos entre colonos e padres. Os índios resistiram às várias
formas de sujeição, pela guerra, pela fuga, pela recusa ao trabalho compulsório. Em
termos comparativos, as populações indígenas tinham melhores condições de resistir do
que os escravos africanos. Enquanto estes se viam diante de um território desconhecido
onde eram implantados à força, os índios se encontravam em sua casa.

2. Tratado de Tordesilhas

Figura 3 - Folha de rosto do Tratato de Tordesilhas - Biblioteca Nacional de Lisboa.

A expansão marítima-comercial européia, ocorrida no início do século XV, foi um


fator importante no processo histórico no qual as burguesias buscavam ampliar suas
riquezas por meio da criação de novas rotas comerciais. Neste contexto, duas grandes
potências, Portugal e Espanha, tiveram uma grande vantagens, visto as condições
históricas que favoreceu o pioneirismo de ambas as nações neste processo.
Durante o ano de 1400, Portugal apostou na dominação ao longo da Costa
Africana, já os espanhóis, em 1492, quando finalizaram a formação de seu Estado
Nacional, iniciaram, também, sua expanção marítima, com a Coroa Espanhola, apostando
no projeto de circunavegação do genovês Cristóvão Colombo, que chegou ao continente
americano, pensando que havia chegado às Índias. O anúncio da existência de novas
terras, fez com que os espanhóis ganhassem espaço na disputa de áreas de exploração
colonial.

Temendo uma abrupta ascenção dos espanhóis neste contexto, Portugal ameaçou
entrar em confronto caso suas conquistas fossem desrespeitadas. A Coroa Espanhola, com
o intuito de evitar a desencadeação de uma guerra, solicita ao papa Alexandre VI para
arbitrar a questão. Em 4 de maio de 1493, a Bula Inter Coetera, surge para estabelecer um
acordo que passou a determinar as regiões de exploração de cada uma das nações ibéricas.
De acordo com o documento, uma linha imaginária, de cerca de 680 quilômetros, a partir
da Ilha dos Açores, dividiu o mundo em dois, determinando que todas as terras a oeste
desta linha seriam de dominância espanhola e a Este de domínio português.

Pensou-se que desta maneira, a disputa estaria resolvida, no entanto, o rei D. João
II exigiu a revisão do acordo diplomático. O historiador brasileiro Boris Fausto, acredita
que a exigência do rei português possui relação com o conhecimento de Portugal na
existência de terras na parte sul do novo continente. No dia 7 de julho de 1494, o papa
mais uma vez interviu no caso, e formulou um tratado com ambas as partes. Segundo o
novo acordo, todas as terras descobertas até o limite de 2500 quilômetros a oeste de Cabo
Verde seriam de domínio português, enquanto que os espanhóis ficariam com as demais.
O nova decisão papal ficou conhecida como Tratado de Tordesilhas, e dividiu o Brasil
em duas partes, deixando os estados a nordeste até parte do litoral sul sob domínio de
Portugal.

O Colégio dos Jesuítas de São Salvador, que irei abordar a seguir, situa-se no
estado da Bahia, a nordeste do país, e foi uma das grandes construções jesuíticas do país,
sendo a primeira escola de ensino superior do Brasil.
3. Colégio dos Jesuítas de São Salvador

Figura 4 - Antigo Colégio dos Jesuítas de Salvador , Litografia de Victor Frond


fotografada por Philippe Benoist no século XIX .

As missões ultramarinhas da Companhia de Jesus são de origem portuguesa.


Iniciativa do Dr. Diogo de Gouveia, o velho, antigo reitor da Universidade de Paris e
principal do Colégio de Santa Bárbara, da mesma cidade, onde tinha estudado o grupo de
“clérigos reformados”, futuros fundadores da nova Ordem Religiosa. (Leite, 1965)

Inicia pela troca de correspondências entre Diogo de Gouveia, o rei de Portugal e os


“clérigos reformados” durante o ano de 1538, marcando-se assim o capítulo principal
referente às futuras missões no novo continente. Embora a Companhia viesse a ser
aprovada apenas dois anos depois, oficialmente no dia 27 de Setembro, os padres Simão
Rodrigues e Francisco Xavier já haviam deixado Roma, a caminho de Lisboa. Um ano
após, Francisco Xavier, embarca de Lisboa para o Oriente, com dois companheiros,
deixando Simões Rodrigues para instituir o Colégio dos Jesuítas em Coimbra, onde se
formariam futuros missionários. Em 1544, em Coimbra, o Padre Manuel da Nóbrega
entra para a Companhia de Jesus, já graduado em Direito Canónico. Após cinco anos,
deixa Portugal e parte rumo ao Ocidente, para comandar a missão, e auxiliar na fundação
do Governo-Geral do Estado do Brasil.
Figura 5 - Chegada de Tomé de Souza na Bahia. Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A9_de_Sousa#/media/Ficheiro:Tom%C3%A9_de_sousa.jpg

A armada de Tomé de Sousa, primeiro governador do Brasil, saiu de Lisboa no dia 1


de fevereiro de 1549 e entrou na Bahia de Todos-os-Santos no final de março. Dois dias
depois, dia 31 de março, padre Manuel da Nóbrega, acompanhado de mais cinco
companheiros, celebrou a primeira missa da Companhia de Jesus na América Portuguesa.
Esta missa abre a história da Companhia em todo o continente americado, pois apenas
dezesseis anos depois os jesuítas espanhóis chegariam a America Espanhola. O que
também significou o pioneirismo português nas missões e construções de escolas, igrejas,
aldeias, administração dos sacramentos e outras atividades da Companhia de Jesus, sob
comando do padre Nóbrega, que inaugurou de fato a missão jesuítica da América.

“Nos começos de Maio principiou a edificação da cidade do Salvador da Baía. Enquanto


os Portugueses edificavam os outras obras da nova capital do Brasil, ergueu Nóbrega a Igreja
de Nossa Senhora da Ajuda3, construindo-a os Jesuítas por suas mãos, indo ao mato buscar
madeira e fazendo as taipas; e não tardaram as cerimónias públicas. Festas de igreja e de
arraial, procissão solene, salvas de artilharia, ruas enramadas e « danças e invenções à maneira
de Portugal». Um mês depois, outra festa, a do Anjo Custódio: missa solene celebrada por
Nóbrega, canto coral e procissão «com grande música a que respondiam as trombetas».”
(Leite, Serafim; Suma história da Companhia de Jesus no Brasil, pg. 3-4)

3
É dedicada à Nossa Senhora da Ajuda, nome de uma das naus da frota de Tomé de Sousa, o primeiro
Governador-geral do Brasil.
Figura 6 - Único retrato do padre Manuel da Nobrega.
Fonte:https://www.reddit.com/r/brasil/comments/7b6nar/%C3%BAnico_retrato_de_manuel_d
a_n%C3%B3brega_jesu%C3%ADta/

Fundaram a cidade de Salvador e a missão jesuítica no Brasil, com a ajuda dos


“homens da governança” e todos os envolvidos na missão, a história jesuítica foi sendo
sedimentada no novo continente, os padres passaram a ganhar prestígios e Nóbrega
começou a pedir mais companheiros para auxiliar na empreitada evangelizadora. Com o
início da formação da nova capital, um centro educacional, para auxiliar na catequese dos
índios foi construído.

Nóbrega passa a tratar com o governador o envio de livros para o novo colégio. O
sustento dos padres, inicialmente, passa a ser por esmolas ou benemerências dos homens
do governo. Segundo o autor Serafim Leite, no seu livro sobre a Companhia, “(...)não
decorrido um ano de sua fundação, e já se dava, pelo almoxarifado régio, o subsídio
mensal de 1 cruzado (400 réis) a cada um dos seus primeiros da Companhia (...)”. Em
março do ano seguinte, a pedido do padre Manuel Nóbrega, chegam à costa, a segunda
expedição com quatro padres: Afonso Brás, Francisco Pires, Manuel de Paiva e Salvador
Rodrigues, acompanhado de sete meninos órfãos de Lisboa.

Três anos depois é construído o Colégio dos Jesuítas de São Salvador da Bahia.
Sua fundação é muito importante para a missão jesuítica, pois através do colégio e de
outras intituições de ensino a evangelização indígena se daria de forma mais rápida e
sólida, pois os padres contavam com o auxilio de livros advindos da capital portuguesa.
As primeiras construções jesuíticas, como todas feitas logo na chegada à costa
nordestina do novo continente, eram iniciadas com os recursos que os padres
disponibilizavam na época, Lucio Costa, em seu trabalho acerca da arquitetura da
Companhia, relata que “(...)onde houvesse bom barro e pedra e cal fossem dificeis de
obter, recorria-se à taipa de pilão 4 (...)”. As estruturas dos primeiros complexos eram
formadas por sucessivas camadas de barro apiloado, o que distinguia muito das
construções de alvenaria, pois seu aspecto não ficava harmonico e simétrico. Ao contrário
do que se tem categoricamente afirmado, es edificações em alvenaria de pedra, tanto
religiosas como civís, já eram bastante comuns na segunda metade do primeiro século da
missão, o que diferenciava algumas seria a importância de sua localização ou a quantidade
de ajuda para a construção os edifícios recebiam, alega o historiador Boris Fausto.

Um grande exemplo disso, está na carta de Tomé de Sousa, do dia 1º de junho de


1553, que descreve a igreja de São Vicente com “hua igreja muito honrrada e honrradas
casas de pedra e call com um collegio dos Irmãos de Jhesus”, o que nos faz presumir que
a igreja também era feita de pedra e call. O padre Manuel Nóbrega, dizia que “até em
Portugal não possuiam ainda então os Jesuítas outra melhor”.

A igreja de pedra e cal, que fora mandada construir por Mem de Sá, em Salvador, para
o “mosteiro de Jesus”, com capela-mor forrada “de painéis para se poder pintar de figuras com
oleo avendo bom pintor que o saiba fazer”, já estava concluída havia cinco anos quando alí
chegou, em 1577, o irmão arquiteto Francisco Dias, com a incubencia de projetar e dirigir a
construção do novo colégio, o mesmo descrito por Cardim, nove anos depois, “todo de pedra e
cal de ostra, que é tão boa como a de pedra de Portugal. Os cubículos são grandes, os portais
de pedra, as portas d’angelim forradas de cedro”.(Costa, Lucio; Arquitetura dos Jesuítas no
Brasil; pg.16.)

O complexo seguia as normas, das construções em quadra, dos demais edifícios


que iriam ganhando forma no país. Os planos arquitetônicos tradicionalmente empregado
pelas ordens religiosas nos seus mosteiros e conventos, dispunham de uma construção
com vários corpos, ou o que alguns chamam de construções em quadra, formando-se
assim um ou mais pátios, padrão este que foi seguido pelos jesuítas. Em consequência da
vida ativa dos padres e nas suas atividades do “espírito” empregado pela Companhia,

4
é uma técnica construtiva que consiste em comprimir a terra em formas de madeira, denominada de taipais,
onde o barro é compacto horizontalmente disposto em camadas de aproximadamente quinze centímetros
de altura até atingir a densidade ideal, criando assim uma estrutura resistente e durável.
falta, quase sempre, nestes pátios, em suma nos colégios no Brasil, a atmosfera tranquila
e de recolhimento, peculiar aos claustros dos conventos das demais ordens religiosas.

Figura 7 - Pormenor do complexo jesuítico na Bahia. Ilustração de J.A. Caldas.


Fonte:http://www.bahia-turismo.com/salvador/centro-historico/colegio-jesuitas.htm

Assim como acontece no colégio de Salvador, as construções em quadra, foram


seguidas pelos complexos de Belém do Pará, de Olinda, do Espírito Santo e do Rio de
Janeiro. Um dos “quartos”, ou espaços, por assim dizer, da quadra era sempre ocupado
pela igreja, cujo frontíspicio, era mantido no alinhamento dos demais espaços do patio
lateral, formando, assim, uma elevação, que correspondia ao Colégio em uma linha
horizontal continua e ao corpo da igreja um frontão de empena, com a torre servindo de
remate à composição do complexo. O que passa a ocorrer em algumas edificações da
época, é a alteração nos planos de construção, em relação a igreja, quando havia a
possibilidade de construir uma segunda torre, os padres optavam, nestes casos, pela
construção de uma primeira torre que fazia ligação entre a ala do colégio correspondente
ao terreno e a igreja, o que ocorre nos colégios do Castelo, no Rio de Janeiro e em São
Paulo.
Figura 8 - Retábulos da capela dos Santos Mártires e das Virgens Mártires, na igreja do antigo
Colégio da Bahia.

No que se refere à planta-baixa das igrejas, os jesuítas optam, quase que


exclusivamente, ao modelo de nave única. Apenas em dois casos, a documentação até
agora revisada, nos mostra uma solução diferente, nas igrejas de São Pedro d’Aldeia e a
antiga igreja de Reritiba, no Espírito Santo. Nestes casos, a sustentação do sistema de
cobertura de madeira e a consequentemente separação do corpo da igreja em três naves
era feita por duas ordens de arcadas, o que se mantém nas atuais construções, visto o
estado e as características que as colunas apresentam. A ainda, plantas que partindo de
um modelo de nave única, trazem outras três soluções diferentes: o primeiro teria sido o
das capelas rudimentares dos primeiros tempos, no qual a capela-mor e a nave constituem
um mesmo corpo de construção dividido convencionalemnte em duas partes por um arco
“cruzeiro”; o segundo, parte do modelo que obedecem um programa mais modesto de
construção, onde a capela-mor e a nave central são perfeitamente diferenciadas em largura
e altura por auxilio de um pé direito; o terceiro grupo, reúne as igrejas cujo traçado
corresponde uma acomodação de uma forma mais singela, as igrejas mantem ainda três
altares usuais de altar, com a particularidade, porem, de se criarem também para as
laterais, pequenas capelas apropriadas, umas com mais profundidade que outras, como no
caso da igreja de Olinda.

Na igreja do Colégio de São Luiz, no Maranhão, o plano é o mesmo, embora se


altere em proporções, que condiz, talvez, com os das igrejas maiores seiscentistas, já
influenciadas pelo padrão de planta recorrente da igreja jesuítica romana de Gesù.
Pertencem ou pertenceram a esta última categoria, além da igreja do Colégio de Salvador,
espécie de “matriz” da Companhia, as de São Paulo de Piratininga e de Belém do Pará.

A própria igreja seiscentista atual do Colégio da Bahia, cuja planta obedece


igualmente à de São Roque, em Lisboa, de autoria atribuída ao arquiteto Francisco Dias,
colaborador de Terzi, na construção da igreja de São Roque, este vindo ao Brasil
especialmente para projetar e dirigir a construção do colégio, encontrando, uma igreja
que já havia sido edificada a mando de Mem de Sá para os padres, embora esta
considerada modesta, que ficou formando um dos corpos da quadra desse colégio
definitivo. Seu frontão é ladeado por duas grandes volutas, os demais frontões partidos
que encimam as portas principais da igreja, enquadram estátuas de santos jesuítas e
figuras importantes para a ordem. O colégio de São Salvador segue o tracado do colégio
de Santo Antão, em Lisboa. Mesmo com a grande importância que o colégio têm na
história jesuítica e toda sua estrutura, por se tratar de ser o primeiro complexo a ser
construído, muito pouco, historicamente, se sabe sobre o seu interior. O principal fato
para isto se deve aos incêndios durante o século XIX, que devastaram a construção do
colégio, que já foi utilizado, após a expusão dos jesuítas, como hospital militar. O que se
pode concluir foi a formulação de um plano de construção da nova igreja, aquela que
deveria ser, juntamente com o colégio, o complexo de forma definitiva. A intenção de
reconstruir a igreja fica confirmado diante do fato de que no ano de 1604, já estava sendo
providenciado a obtenção de material para a construção dessa nova igreja que “ainda não
havia sido iniciada”, e que ele, Francisco Dias, ficou definitivamente no Brasil, onde
morreu aos noventa anos de idade, em 1632, no Rio de Janeiro.

Figura 9 - Colégio de Santo Antão-o-Novo, em Lisboa. Fonte: http://patrimoniocultural.cm -


lisboa.pt/lxconventos/ficha.aspx?t=i&id=618
Torna-se ainda necessário observar que a composição da fachada da igreja baiana,
denota ter havido uma certa hesitação em relação ao modelo a ser seguido, seja por parte
do arquiteto ou na duração das obras do complexo. O autor Lucio Costa, ainda comenta
tal fato em seu livro 5 , falando que esta hesitação, “(...)foi resultado do desejo, mal
sucedido, de conciliar a solução tradicional de duas torres, com o traçado erudito em
voga desde que Vignola e Giacomo della Porta, e depois Maderna, nas igrejas de Jesus
e de Santa Susana, respectivamente, fixaram o novo padrão de frontispício sem torre,
geralmente conhecido por “jesuítico”. Assim, como exemplo, podemos observar que as
volutas6 da empena desenvolvem-se livremente, o frontão que remata o corpo central
ficou reduzido a proporções exíguas e as torres, vistas de frente, mal cabem na fachada,
parecendo mais sineiras que propriamente torres, a ponto de o conjunto reproduzir a
silhueta das pequenas capelas de duas sineiras, comuns tanto na metrópole como na
colônia”.

Figura 10 - Catedral Basílica de São Salvador, na Bahia. Fonte: http://patrimoniocultural.cm -


lisboa.pt/lxconventos/ficha.aspx?t=i&id=618

5
Costa, L. (2010). A arquitetura dos jesuítas no Brasil. São Paulo: ARS (São Paulo) vol.8, pg.129-130.
6
Não confundir com mísulas, que são ornatos que ressaem de uma superfície, geralmente vertical, e que
serve para sustentar um arco de abóbada, uma cornija, figura, etc.
4. As influências artísticas e educacionais jesuíticas

Figura 11 - Pormenor do retábulo que teria pertencido à capela -mor da igreja construída por
Mem de Sá.

Iniciou, na metade do século XVI, o “Colégio dos Meninos de Jesus”, com a vinda
de órfãos de Lisboa, que acabaram por se juntar com meninos índios. Estes meninos
recebiam o curso regular de ensino, dentre as atividades estavam: ler, escrever, gramática
e os primeiros elementos do Latim. Alguns chegavam ao sacerdócio. A compra de
materiais e de terrenos adjacentes foi facilitada por recomendação de D. Sebastião, e as
obras do complexo não pararam, em detrimento do seu rápido e efusivo crescimento.

Em 1554, o rei D. João III recomenda ao governador Duarte da Costa a criação de


um Colégio em Salvador, conforme, segundo o pedido dele, ao Colégio de Lisboa, que
os Jesuítas têm em Santo Antão. Daí em diante, o Colégio tende a ser ampliado e
reestruturado. Em 1575 o rei mandava que se aplicasse ao Colégio a metade do dinheiro
das comutações dos degredos. As obras do Colégio não pararam mais, dada o seu rápido
e efusivo crescimento. Em 1583, o Colégio contava com uma comunidade de 60
membros, entres padres escolásticos, irmãos e noviços. Em 1590, o Colégio estava quase
todo renovado. O novo edifício de escolas encontra-se estruturado e completo em 1694,
nos últimos anos de vida do Padre Antônio Vieira, que foi educado no complexo
educacional jesuítico baiano, e assim se conservou até à expulsão dos Jesuítas da Bahia,
em 1763.

Desde o princípio, os padres dedicaram-se à instrução de meninos e alguns deles


chegaram a ser sacerdotes e missionários. Tanto que em 1564, foi determinado um
subsídio anual destinado a formar outros Jesuítas, outros missionários no Brasil. A
educação dos meninos era completa, abrangendo desde o primário, onde recebiam lições
de escrita e leitura, o secundário, que se aprofundava nas matérias gramaticais, humanas
e retórica. A educação superior também se fazia presente dentro do complexo, e abrangia
os cursos de filosofia e teologia. Quatro anos depois, a congregação provincial dos
jesuítas pediu a faculdade que se iniciasse o curso de dialética, fazendo com que o colégio
de Salvador fosse o pioneiro no Brasil. Todos os cursos eram abertos e gratuitos, seguindo
as normas educacionais do então Real Colégio de Artes de Coimbra, e tinha como
discentes os próprios jesuitas e alunos externos.

O ensino no colégio da Bahia teve em conta o projeto educativo e pedagógico dos


Jesuítas, as doutrinas da Ratio Studiorum e a prática do modus parisiensis , um metodo
utilizado na Universidade de Paris naquele período. Seguindo as teorias educacionais
humanistas, a Ratio regulamenta a ocupação de espaço e tempo de forma rigida, impondo
exercícios escritos constantes, diferentes niveis de conteúdo, prêmios e recompensas. Era
suposto a ocupação total do tempo do aluno, mantendo-o ocupado e ativo. O processo de
aprendizagem é competitivo e de emulação, sendo reforçado com debates e exames
públicos, aos quais assistem as autoridades locais e as famílias dos colegiais. A
historiadora brasileira, Beatriz Franzen defendia que, apesar de nunca ter sido elevado à
condição de Universidade, em prática o colégio da Bahia funcionava como tal, pois
possuía quatro faculdades e concedia graus acadêmicos. As atividades do complexo
educacional de Salvador funcionaram até o ano de 1759, com a expulsão dos jesuítas do
Império Português, vinte anos depois, as suas intalações foram utilizadas para servir de
Hospital Real Militar da Bahia. A estrutura do colégio da Bahia foi totalmente destruída
durante os incêndios de 1808 e 1835, o que dificulta até hoje uma concreta compreensão
dos espaços internos, visto que a atual Faculdade de Medicina da Bahia está introduzida
em um prédio que segue uma arquitetura totalmente diferente do projeto original.
Atualmente no lugar, situa-se a Catedral de Salvador, próximo à Faculdade de Medicina
da Bahia, na praça do Terreiro de Jesus.
Figura 12 - Faculdade de Medicina da Bahia - Salvador, Brasil. Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Faculdade_de_Medicina_da_Bahia,_Salvador.jp g.
Conclusão

Mesmo atribuindo certificação para tal, o Colégio da Bahia, nunca chegou


oficialmente a funcionar como uma universidade. O que pode abrir uma hipótese de
estudo aprofundado referente a dimensão e a qualidade do ensino no complexo baiano o
que o elevaria a um patamar superior na rede de colégios portugueses, podendo exister
uma dimensão comparativa entre o Colégio da Bahia e os demais colégios da América
portuguesa, que chegam a mais de doze, ainda na metade do século XVI, ou uma
comparação mais perscrutada entre o complexo baiano e os modelos universitários
europeus, devido a opção dos padres em adotar o mesmo modelo educacional que o da
Universidade de Coimbra.

O que de certeza podemos constatar, era a grande vontade hierarquica educacional


que os jesuítas portugueses queriam fundar no Brasil, visto os recursos e as despesas que
atribuíram para a ampliação das edificações e a melhora no acervo bibliotecário da
instituição. Os jesuítas, inseridos desde o período colonial no Brasil, organizaram a
evangelização e a educação por todo o litoral brasileiro. Ao longo do seu percurso por
parte do Brasil, os jesuítas fundaram colégios, igrejas e grandes centros de formação
sacerdotal, até o século XVIII, já haviam chegado ao interior do país, até a fatídica
expulsão. A estrutura utilizada por eles, assegurou de forma duradoura a própria
reprodução da companhia, o que foi feito, em um grau menor, pelas demais ordens
religiosas..

A Companhia de Jesus, cuja ação se estendia fundamentalmente para a


universalização do Cristianismo. Nessa perspetiva se insere também a rede de colégios
jesuítas. Para a Companhia de Jesus, a condução do gentio ao corpo místico da Igreja
representa a mais alta finalidade das Descobertas. Todo o programa católico para o gentio
indígena se monta com base na sua integração religiosa e jurídica da Igreja.
Bibliografia

Bazin, G. (1956). L’ architecture religieuse baroque au Brésil. Paris: Libraire Plon.

Costa, L. (2010). A arquitetura dos jesuítas no Brasil. São Paulo: ARS (São Paulo)
vol.8.

Fausto, B. (1994). A história do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São


Paulo.

Leite, S. (1965). Suma História da Companhia de Jesus no Brasil 1549 - 1760. Lisboa:
Tipografia Minerva.

Martins, F. (2014). Jesuítas de Portugal 1542- 1759 – Arte| Culto| Vida Quotidiana.
Porto: Edição do Autor.

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