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O COLÉGIO DOS JESUÍTAS

DE SÃO PAULO (QUE NÃO ERA COLÉGIO


NEM SE CHAMAVA SÃO PAULO)

M. Ap. Custódio e M. L. Hitsdorf*


l
RESUMO:A ídéia básica deste texto é rever dois mitos propagadosde uma certa
história da educação que faz a Companhia de Jesus desembarcar em 1549 para educar
a elite colonial brasileira e originar, de um colégio secundário fundado em 1554. a cidade
de São Pauta.Relendo as fontes podemosdizer que osjesuítas não tiveram(nem quiseram
ter) colégi09secundários de humanidadesdesdeo início de suasatividades.o trabalho
nelesnão foi contínuo e de êxito espetacular.e o "Colégio de São Paulo" foi uma "casa
de meninos' para douMnação e alfabetização.E nem tinha essenome

UNITERMOS:História da educação brasileira; Instituições escolares;jesuítas; colégios


secundários de Humanidades; Colégio Jesuíta de São Paulo.

A ideia básica deste texto é explorar a seguinte afirmação: o Colégio dos


Jesuítas de SãoPaulo é um dos mitos propagados de uma certa história da educação
que faz a Companhia de Jesus desembarcarem 1549 para educar a elite colonial
brasileira.

A edumção escolar não foi uma opção de primeira hora dos jesuitas: ela
representou uma saída para o fracasso das phmeiras fomtas de atividade missionária
na costa, no contexto da ruptura povoamento/colonizaçãoi. Temos que pensar na
ação missionária jesuítica desdobrando-se em diferentes etapas, que são avançadas
quando a anterior se mostra um insucesso:

- o contato, fomla tradicional de ação catequética, realizado nas "descidas


visitas às aldeiascom pregações pelos intérpretes e batismos em massa. quando os
jesuítas ainda pensavam alcançar a pacificação e a sujeição como decorrência da
catequese;

Respectivamente. bolsista de Iniciação Científica do CNPq e professora-orientadora - EDF-FEUSP.


1. KOSHIBA. L Sobre a Origem da Colonizaçãodo Brasil. Textos 2. Araraquara, FCL/UNESP, 1990

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o plano dos aldeamentos, pensado por N6brega nos inícios da década de
1550. como a nova força homogeneizadora, diante do fracassodas práticas de
çontato. A "Aldeia", diz Baeta Neves2,"é um local previamente escolhido pelos
colonizadores para onde seriam trazidos os indígenasprovados Intensos à conversão
por puro convencimento'". Baeta mostra. no seu texto. como é feita na "Aldeia
yma racionalizaçãoda moradia. das roupas do uso do corpo. do tempo de lazer e
de trabalho indígenas, segundopadrões não indígenas.com o fito de alcançar-lhes
a sujeição, para então catequisá-los; '

- os colégios, fomla de ação institucional dos meados da década de 1560.

A maior parte da bibliografia ainda fala em colégios de ensino secundário


estabelecidos desde a chegada dos jesuitas, remetendo à obra de Serafim Leites e
lendo nela as passagensque dizem que os jesuítas se preocuparam com a fundação

colégios de meninos", dos primeiros tempos, com funções catequéticas"e os


'colégios secundários e as casasde meninos de ensino elementar". qu e os substiHi-
ram. Com Wrege vemos5que, para acentuar a missão civilizadorada culhra
portuguesa, a abordagem de "fundo patriótico" de Leite constrói uma prática escolar
de nível secundário para os primeiros anos de atividade dos jesuítas Induzindo ao
equívoco tão propagado entre os historiadores da educação, inclusive Fumando de
Azevedo. da existência de uma educação escolar planejada olnlnlstrada em colo«ios
anterior/desde ao desembarquena Bahia. em março de llÍÉ9. ' --'-a''Y
A Indicação de um plano de colégios que "sucedeu" a planos anteriores foi

Forense/Un versitá'F..O Camba l Idos Soldadas de Crfslo na Terra dos Papagaios. Rio de Janeiro:

Leira História da C Educação EscolarJesuíffca no Brasll-Colõnfa: uma leltum da obm de Sem/Im


5- Idem,'/bldem.p.'' nnlaae ânus no Brasil.Campinas.FE,/UNICAMP,1993. '
MATTOS. L Alvos de. Primórdios da Educação no Bmsf/; o período heróico. Rio de Janeiro: Aurora,

A express:oé de H00RNAERT. Ed.e outros.Hfstórla da lgnP no Brasll. Petrópolis:Vozes,1983.

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Mattos. os recolhimentos seriam sustentadosjuridi(b-financeiramente pelas Coi ili
rias, instituições locais criadas por Nóbrega. autónomas, "descentralizadas", c. .
bens próprios de raiz" (gado,terras e escravos)e dirigentes leigos, ficando os jestlit
com o encargo espiritual e educacional.Quando em 1556. com a morte de Loy(
e a aprovação das Constituições. passa a predominar na ordem a "politica (
retraimento e pauperismo franciscanizante" de Diogo Mirão e Luasda Grão. (it
proibiu as Confrarias9, abre-seum espaço que será preenchido pelos estabelecimp
tos de educação escolar, os colégios secundários
A interpretação de Mantos é criativa. mas pode ser ajustada e desenvolvida
luz de uma conexão catequese-educaçãoescolar bem mais complexa. cuja análi
propomos a seguir.
Uma leitura da correslS)ndênciajesuíticado período 1549-62io peniti
distinguir um primeiro projetoÜe anãocatequéticados jesuitasque foi(literalmenl
ensaiadonas naus" e implicavaem "viver em aldeias",isto é, com os índio
pregando-lhes a doutrina, aprendendo sua língua e ensinando-lhes o português. Es:
prometocatequético de contato e convencimento lhes parecia fácil e triunfante, p(
estava baseado numa visão do indígena que negava a sua alteridade em relação i
branco: diziam os jesuitasque "os índios em coisa nenhuma crêem e estão pap
branco para neles escrever à vontade". Os adultos seriam catequizados pela pregaçÉ
da Palavra, mas às crianças seria ensinada a doutrina em "escola de ler e escrever
Para os brancos das vilas há outra proposta, com pregações na igreja e atendimen
aos doentes, como trabalho suplementar ao do clero secular. É clara a divisão (
tarefas na Companhia. nos primeiros anos, entre: padres-catequistasque doutrina
e ensinam a língua falada e escrita aos catecúmenos, como Vicente Rijo e Simé
Gonçalves. na vila da Bahia, Diogo Jácome, que doutrina em Porto Seguro e llhéi
e o "língua" A. Navarro, que prega aos adultos e ensina os pequenos a ler e rez
nas aldeias das redondezas de Salvador; e aqueles missionários que trabalham co
os brancos, como Nóbrega, que prega ao govemador-geral, e Leopardo Nunes. qt
prega aos cristãos em Ilhéus, Porto Seguro e São Vicente.
Foi a chegadaem 1550. de 7 meninosórfãos, escolhidosentre aquel
abrigados em lisboa pelo padre Domenech (que não era jesuíta). vinda decidida
Europa e que N6brega e seus companheiros não pediramii, pois não estavam n.
seusplanos sedentarização e estabilidade, foi essachegada que levou os jesuitas

8. MATTOS. L. Alces de. Op.clt.. p. 255.


9. Para Hoomaert. a medida tem raízes na centralização dos recursos exercida pelo padroado da Oid
de Cíisto que. desde 1564. assume a distHbuição das redizimas para as missões ultramarinas
10. As cartas jesuíticas estão publicadas (Cartas Jesuftlcas. 1, 11.111.Belo Horizonte. ltatiaia/São Pa\
EDUSP. 1988). mas aqui são citadas. salvo quando apressamente indicado. de HILSDORF. M.[
Ideologia da Colonização e da Catequese", Encontro Ameríndia 92(FLC-Aíaraquara-Unesp)
11 RODRIGUES. S.J. Pe. Francisco. .fllstórla da Comlnnhla de Jesus na Assistência de Poífti
(1540-60}. Tomo 1.1. Porto, Apostoladoda Imprensa. 1931

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desenvolvimento de uma nova forma de misslonarismo de nah preza mista a- -- ---.
tempo catequética e institucional, as "casasde meninos'. "''a. av --iwi iiu

out.1992, P. or.. Derrota e Simulação: os índios e a conquista da AméHca, D.O.Lelfurq n. 125.

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colonial mercantilista. superando a tentativa de implantação do sistema imperial d
dominação"i3
Para os jesuítas restou o "viver em poltronas'. o rotineiro trabalho de "ensin'n
meninos" bmncos. tão temido por N6brega como antimissionáriopor excelência
mas que passara a ser apoiado pela Coroa com as dotaçõespara os "colégios
secundários. Explicam-se assim as colocações de Koshiba e Hoomaert sobre teretl
sido os jesuítas pouco influentes na colónia, no "mundo dos engenhos" , ao contrári'
do que ocorrera nos anos de povoamento, no "mundo dos indígenas" . Desarticulado
pela experiência do tráfico e pelasquestões de política intema da Companhia e self
arranjos com a Coroa, os jesuítas passam a desenvolver seu novo prometo em funçã'
da "economia cristã dos senhores de escravos", Isolando-se nos colégios secundário'
distantes da missão catequética entre os naturais da tema, seu primeiro projeto

Na perspectiva do temaBlue examinámos é importante a ideia de que, n(


projetos da primeira década, c8nfunUem-se doutrinação e domínio da língua falai.
e escrita. definindo uma "escolarizaçãoelementar" usadadiretamente na e para
catequesedás crianças, mas a "escolarização secundária", o domínio das letra
clássicasno colégio de humanidades, inexiste: o que pode ser identificada é apena
a atividade de estudo entre e para os próprios membros da Companhia. fator indiret'
de catequese,como pensa Hoomaert. Outras leituras, outros entendimentos. sãl
anacronismos. Nesses primeiros anos. os jesuítas certamente ensinavam a criança
índias e brancas, mas não em colégios secundários. As cartas jesuíticas acessadn
não dizem muita coisa sobre a atividade escolar. mas quando o fazem é sobre (
ensino da doutrina e das práticas devocionals, do ler e do escrever(tupi? português'
e do cantar para ajudar à missa. Isto foi feito em todos os pontos de penetraçã
missionária. na Bahia, por Vicente Rijo, Simão Gonçalvese Aspilcueta Navarro.
depois por Salvador Rodrigues; em Porto Seguro, Ilhéus e depois São Vicente. po
Dlogo Jácomee LeonardoNunes;e em Pemambuco,por Antonio Pares.Esse
registrosnão podem ser interpretados
como referências
à atividadesistemátic
organizada nos moldes de colégios humanísticos. mesmo porque estes estavam ejl
processo de definição pela própria ordem, na Europa: exatamente nessesanos. ente
fins da década de 1540 e inícios dos anos 50. os colégios secundários estão deíinind(
sua "facies" no âmbito da Companhia, e ela própria está encontrando sua identidad.
como ordem dedicada ao ensinoi4.
As "casas de meninos" pretendiam realizar aquela associaçãode ensino d.
doutrina e ensino do ler e escrever. Nesses primeiros anos. o estudo da gramátic
latina é uma atividade interna, do e para o grupo missionário: "letras, só para o

13 KOSHIBA.LOp. clt., p. 17
14 DEBESSE.M. A Renascença./n: DEBESSE.M. e MIALARET. G. História da Pedagogia, Trata\(l
das Ciências Pedagógicas 2. São Paulo: Nacional, 1977(1rad.) e MESNARD. P. A Pedagogia d(
Jesuitas.In: CHATEAU. J. (Olg.)Os Grandes Pedagoglstas.São Paulo.Nacional. 1978(trad.)

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A vinda de Nóbrega para São Vicente está ligada às contradições. diz Serafim
Leite. entre os projetos missionários dos jesuítas e da hierarquia da Igreja: o bispo

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D. Sardinha. que chegara à Bahia em meados de 1552, colocou restrições
existência da Confraria, dos aldeamentos e dos recolhimentos e ao uso na catequese
de músicas. danças e cantos adaptadosao ritmo indígena.Nóbrega procurou outra'
pontos da colónia para desenvolvercom mais liberdade essaspráticas,que eviden
coam para L. A. Mattos, "um apego à realidade social da tema" por parte do jesuíta
e são explicadas por Baeta como "a permeabilidade das tontas não institucional'
às concretas necessidades de proselitismo missionário" . Em Pemambuco, "capitania
antiga e comipta", a catequese não dera os resultados esperados. Concentrou pois
sua atenção na conquista do sertão do sul. que tomou-se a "promessa de traballlr
missionário". Um ano depois está em São Vicente, "porta do sertão e caminho'
O sertão almejado tinha. para Nóbrega, nessaépoca, um horizonte definido
o Paraguai. de onde vinham notíciasdos guaranis como "índios que já estavamell
bons costumes. senhoreados e assentados" e da existência de muitos "língua" pai?
o trabalho da catequese: "MuitoFesel.ocos estamos já todos de ir descobrir o sertão
porque nos diz o espírito que lá está u/n grande tesouro de almas, e a nenhuma part'
poderemos ir que não haja melhor disposição para fazer cristãos...", diz ele aí}
provincial de PortugaliS.Alcançaro Paraguaiera um prometoantigode Leonardo
Nunes que, desde 1551. escreviaa Nóbregadizendo ter a intençãode partir para lá
quando temllnasse a construçãoda igreja na vila vicentina. N6brega apoiou a
proposta, sendo que ele mesmo planejou participar da missão. Tomo de Souza
opôs-se à viagem, para impedir que os portugueses despovoassemo litoral. Nóbreg'a
cedeu. mas continuou sonhando com a missão do Paraguai: "Vivi com essedesejo
e deixei de põ-lo em obra", lamenta ele em carta da Bahia, de 2 de setembro dc
1557. Mas, em companhia do "língua" Poro Correia e outros jesuítas,inclusive do
irmão ferreiro que tinha um papel fundamental na etapa do contato. avançou no
sertão IO léguas além do núcleo de São Vicente. e em junho de 1553. escrevia quc
jó havia conseguido reunir cerca de 50 catecúmenosno alto da serra, em um
aldeamento situado entre o Tamanduateí e o Anhangabaú.
Uma linha interpretativa bem conhecida explica a escolha desse sitio a partir
de desentendimentos entre Jogo Ramalho e Leonardo Nunes, que forçaram os
jesuítas, impedidos de se instalarem na região de Santo André, domínio dos Ramalho
a avançar mais para o interior. Essaversão é fundamentada na obra de limão de
Vasconcelos, do final do século XVI, cujas colocações tendem a minimizar a
influênciade Nóbregaem relaçãoàquelade Anchieta,na fundaçãodo núcleo
piratiningano. A ela se opõe Serafim Leite, pondo em destaquea iniciativa de
N6brega na superação desse conflito. Promoveu-se uma aliança entre missionários
e povoadores. mas, como Santo André estava a 3 léguas do Tietê, o local acolhido
para instalar o posto avançadodos missionáriosfoi junto ao rio. AÍ, segundoa
conespondência, Nóbrega teria rezado missa em 29 de agosto de 1553, retirando-se

15. Cit. /n: LEITE. S. J.. Pe. Serafim. Rodas Cartas. P. 26

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16.
LEITE.História da Comlmnhla....1.p. 279
17.
SALGADO. C. OPHflo do CÓléglo:História de uma lgre» e de urnaEscola. São Paulo. 1976. P. 50.
FERREIRA.T.L Nóbrqa e Anchleta em São Paulo de Pfratlnlnga. São Paul). C.E.E.. 1970.

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lí'' . t
Gregário dá gramátim (...) e o irmão José cuida de alguns outros estudantes" '*
ano depois, 2 cartas de Anchieta falam apenas das atividadesde doutrinação
betização: 'Temos uma grande escola de meninos Índios, bem instruídos em lei
escrita e bons costumes. os quais abominam os usos de seus progenitor'
Estamos (...) em esta aldeia de Piratininga, onde temos uma grande escol
meninos. filhos de índios, ensinados já a ler e escrever. e aborrecem muit'
costumes de seus pais e alguns sabem ajudar a cantar a missa..." Mas. nã'
indicação do professor-catequista,nem referênciade que, nessaocasião, em
Paulo. se ensinasse a gramática latina.

A polémica sobre Anchieta ter sido ou não o primeiro professor da cas


Piratininga permite deslocar a análise para a questão de ter sido ou não criad(
colégio secundário de humanidades quando da fundação de São Paulo, e m(
ainda, para a questão de saber quais atividades missionárias estavam sendo pra
das nas primeiras décadasle colmo elas evoluíram. Podemos faze-lo a partir
indicações sobre a composição do "alunado" que aparecem nas cartas de Anca
Em 1554, aparecem referências a meninos dos gentios recolhidos para apõe
doutrina, leitura e escritae, ao "colégio" de membros da Companhia que estio
latim. Mattos. inclusive. reconstróli9 a relação dos primeiros 1 2 discípulosque te
sido designados a Anchieta, desde São Vicente. para as aulas de gramática lata
serem lidas em Piratininga: Poro Correia, Manual de Chaves, Gregário Set
Afonso Braz, Diogo Jácome, Leonardo do Vale e Gaspar Lourenço, imlãos; Vic
Rodrigues. Braz Lourenço e Manuel de Paira. padres,todos membros da Cor
nhia. No ano seguinte. Anchieta fala de meninos índios "bem instruídos em leia
escrita e bons costumes" (...) meninos filhos de índios que "sabem ler. escrel
alguns ajudam a cantar a missa" e. de padres do "colégio" que estudam grama
Em 1556, fala de "meninos índios que se reúnem na escola para serem ensina
de rudimentosda fé sem omitir o conhecimento das letras

Em 1560, já são alguns "filhos de portugueses" que aprendem gramátic


mudançano registro de 1554 para 1560 é nítida: os "colégios" se abriram pat
meninos de fora" da Companhia. Em 1561, havia aulas de gramática latina ag-
em São Vicente, "estudadanos quartinhos". No ano seguinte. voltaram a csti
gramática em Piratininga, "os nossos e alguns de fora" . mas por pouco tempo
as guerras. o grande ataque dos tupi em julho de 1562 à São Paulo. e dos taí
à costa. diz Seraíim Leite, acabaramos estudosde gramáticalatinaem to(
Capitania de São Vicente. Podemos pensar que essa instabilidade do "colégic
explica justamente pela sua natureza de atividade ainda subsidiária. pois a es
ligada diretamente à catequesecontinuou funcionando em São Paulo. Sabemos

18. LEI'rE.Páginas..
19. MATTOS.Clt.. P. 195. 197-9

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conespondência de Leonardo do Vale, que São Vicente também manteve uma
pobre escola de ler e escrever" e que "davam doutrina à escravaria

Em suma. a atividade catequética em escolasdeve ser pensada entre a chegada


dos órfãos de Lisboa em 1550 e os meadosdessadécada.em termos de doutr na..
ção/alfabetização/ensinoelementarnas casasde meninos, com seusmestres-cate-
quistas; e atMdades de estudo de gramática latina - o colégio - para e entre os padres
da Companhia. A partir de 1555, essaforma catequéticamista de institucionalsofre
uma descontinuidade.acompanhandoa ruptura povoamento/colonização,como já
havia bem percebido L. A. de Mattos quando diz: "Compreende-seassim a razão
pela qual, no decénio que vai de 1554 a 1564, escasseiam, na extensa eplstolografla
desse período, as alusões e os informes sobre as atividades educacionais dos jesuitas
na colónia, antes tão frequentes. minuciosas e entusiastas. Os pouco infames que
transparecemsão expressos em linguagem resewada. comedida e com um teor
estritamente informativo. É que a matéria tomara-se delicada e exigia muita precau-
ção; a obra dos recolhimentos estava desautorizadae não contava mais com a
aprovação das autoridades da Companhia de Jesus na Metrópole"20

Quando, em meadosda décadade 1560, a atividadedos jesuitas no litoral se


torna fator de colonização,é na fomla de colégiossecundáriosabetos para meninos
brancos. externos. que ela se rearticula. Segundo informações de Anchieta de 1585

um cursoseriadade humanidades
com 2 classes,a de gramáticalatina e a de
humanidades, respectivamente com 30 e 15 alunos de "fora". mais os da casa; uma
aula de filosofia ou artes, para 10 alunos de "fora" mais os da casa; e uma aula de
teologia e "lição de casos" para os da casa, mais 3 ou 4 alunos de fofa. Em Ollnda,
havia aula de ler e escrever para 40 crianças. gramática latina para 12 estudantes

de "lição decasos

Essesdados são muito interessantes porque mostram que mesmo o 'plano dos
colégios" não era um todo homogeneamente desenvolvido, e que ele incluía as aulas
de ler e escrever e doutrinação dos projetos missionários anteriores. embora
constasse das normas da Companhia o ensino a parar do curso de humanidades.

Em Piratininga - como nas demais casas da Companhia em Ilhéus, Porto


Seguro, Espírito Santo e Santos (transferida de São Vicente) - existia praticamente

20. /dem, /bídem.p. I07

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apenas
apenas a aula de "pregar, ler. escrever e contar": segundo S. Leite21. em 1 5t)
"colégio" de Piratininga
colégio" de Piratininga era
- formado por 3 padres. 2 irmãos coadjutoraç
estudante, cujo
estudante, cujo sustento
sustento provinha
l parte dos donativos dos paulistas e parte
subsídios
subsídios do Colégio do Rio.
R em vinho, azeite e farinha. Para esse autor. a cas.
s(
São Paulo vai aparecer somente em 1631 como "collegium inchoatum", ist
começando
começando a ter personali
personalidade jurídicaindependentedo Colégio do Rio2Z.Mas
verdade.o
verdade. o destino
destino ulterior
ulterior desseestabelecimento ainda precisa ser recuperado
ele
ele próprio diz que no an(
próprio ano de 1640. funcionavam apenas a classe elementar f
cerca
cerca de
de 100
100 alunos
alunos e
eaad
de latim. com 50, suspensasessastambém a 13 de ji
desse ano.
desse ano. quando,
quando. em
em decorrência
dÉ de desentendimentos entre jesuitas e cair
pelo interdito
interditodo Papa
Papa Urbano
Urt Vlll ao tráfico de índios, o prédio foi ocupado
padres residentes expulsos.
padres residentes expulso Em 1653 reabriram o estabelecimento,que terei
mantidoativo
mantido ativoaté
até1759.
1759. sotLa
s( denominação de "Colégio de Santo Inácio
Ainda
Ainda segundo
segundoSeraf
Serafirl Leite. no Colégio restauradoteve início. em 170i
curso de teologia moral. (Os cursos de Artes ou Filosofia funcionavam "quand
número
número de alunos
alunos o perra
permitia ou assegurava.Se não havia número bastante, l
jov
este Curso Superior, os jovens paulistas iam estuda-lo ao Colégio do Rio ou à Bi
(...)". Em f732.
1 .)". Em f732. o corpo
corpo docente
d do Colégio paulista era constituído pelos pa(
Nicolau
Nicolau Tavares,
Tavares, mestre
mestre dede filosofia, vindo de Recite; Francisco de Toledo, presid(
dos Círculos
dos Círculos de
de Filosofia
Filosofia de
de São Paulo; Manual Rodrigues, presidente das Contei
clãs de TeologiaMoral.
Moral, vindo
v do Rlo de Janeiro; Manual de Frestas.mestre
Humanidades.vindo
Humanidades. vindo de
de Bomes
Bc (sic);e Agostinho Mandes, mestre de elementar
Guardam. Assim,
GuardaZ3. Assim, aa despem
despeito do que diz a bibliografia, apenas no início do sé(
XVlll
XVlll éé que
que oo estabelecime
estabelecimentode São Paulo estevemais perto de funcionar cc
um
um colégio
colégio completo,
completo, dadesde a aula elementar de alfabetização até os estu
teológidõs. expu
teológidõs. No ano da expulsão. 1759, o anexo construídopara Seminário abria
23internos
23internos.
Reler
Reler a
a correspondêi
correspondência jesuítica e a bibliografia publicada é rever o r
propagado
propagado em torno
em torno da
da ah
atuação dos jesuítasem São Paulo, que faz de um cola
a origem de uma cidade.
a origem de uma cidade. Os jesuitasnão tiveram (nem quiseram ter) colo!
secundários de
secundários de humanidades
humanidac desde o início de suas atividades. O trabalho
colégios
colégios nãofoicontínuo
não foi continuo e
e de êxito espetaculardesdeo século XVI. O "Colégi(
São Paulo" aparece na maior parte dessamemória-história como uma "casa
meninas" para doutrinação e alfabetização. E nem se chamava São Paulo

21. 1ErlE. Hfslórla-. p. 300-1


22. /deM, /bldem. p. 399
23. /deM, /bldem. p. 401-2; SALGADO. Clt.. P. 79

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THEJESUI'lS'COLIEGEINSÃOPAULO
(THAT WAS NHTHER COLLEGE NOR WAS CAU.ED SÀO PAULO)

ABSTRACI':Tais artide discusses


the mittsof a givm BrazilianhistoWof education
which looks at the Jesuit Company to cama up for the colonial elite's educatfonslnce
marca. 1549 and sets up the city of São Paulo from a dasslcalsecondaryschool
established in January. 1554.

KEYWORDS: Brazilian histoW of education: scholastic instítutions; jesuits; }lumanis


tic or classical secondary educatíon; "Colégio de São Paulo'

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