Roteiro didático da Unidade 1: O longo passado jesuítico e a herança católica na educação brasileira (1549-1759) 1. Introdução. O início da colonização portuguesa no Brasil e a escolha da Companhia de Jesus para catequizar a população indígena. Na Europa, a cristandade estava dividida desde as iniciativas de Martim Lutero por reformas na Igreja (1517). Novas igrejas cristãs surgiram na Europa e se apartaram do poder papal (Roma). Uma nova ordem religiosa foi formada nesse contexto de disputas e guerras religiosas: A Companhia de Jesus (1540). Ela teve uma característica nova: não ficar apenas nas sacristias, mas sair pelo mundo catequizando. Por sua fidelidade ao papado (Igreja Católica Apostólica Romana), foi escolhida pelo governo português para a missão no Brasil. 2. O encontro entre dois mundos. Importante ler a Carta de Pero Vaz de Caminha (22 de abril de 1500) para uma compreensão antropológica sobre o impacto desse primeiro encontro entre os brancos e os indígenas. A colonização começa em 1530. Os padres jesuítas começam a chegar em 1549. 3. Duas concepções de educação influenciavam o mundo na época. Reformadores (protestantes): defendiam a alfabetização de todos e a escola primária, além da co-educação. Pressionaram os Estados a criar os sistemas nacionais de educação. A defesa da escola para todos tinha relação com a necessidade de que cada cristão lesse a Bíblia e a interpretasse por si próprio. Católicos: permaneceram defendendo a prerrogativa da Igreja na educação, deram ênfase à educação das elites e formação de quadros (padres para a Igreja). Observação: tanto um lado quanto o outro atuou na educação e criou colégios em todo o mundo, contribuindo, assim, para a expansão destes. Mas, ao mesmo tempo, isso mostra que ainda era grande a presença das Igrejas cristãs na educação. 4. Primeiras iniciativas no Brasil. Desde 1549, o primeiro mestre-escola (Vicente Rijo) e as primeiras escolas, chamadas simplesmente “casas”; “casas de ler e escrever”. Tentativa de alfabetizar o indígena adulto e, em seguida, os jesuítas perceberam que a catequese daria mais resultados com as crianças (curumins). O papel da criança: a chegada dos órfãos de Lisboa. Crianças que se tornaram bilíngues e auxiliaram na tradução e aproximação das crianças indígenas à catequese. Doutrinadas pelos jesuítas, elas transmitiam os valores da cultura ocidental cristã a seus pais. O papel da música religiosa católica, cantada pelas crianças, também foi importante. A pluralidade linguística do primeiro século: tupi, nheengatu (língua geral), português; latim (deveria ser empregado na educação e nas missas). Os jesuítas eram obrigados a aprender “a língua da terra”, mas negligenciavam. Essa era uma determinação do fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola. 5. O Ratio Studiorum (1599): Plano e Organização de Estudos da Companhia de Jesus. Foi elaborado enquanto os primeiros jesuítas já estavam no Brasil. Continha quase 500 regras disciplinando todo o sistema jesuítico de escolas ao redor do mundo. Contudo, os jesuítas, ao começarem a catequizar, encontraram dificuldades e passaram a transgredir os dogmas e determinações de Roma e da Companhia de Jesus. A força do meio foi mais forte que os dogmas. Os jesuítas tiveram de se adaptar ao meio em que estavam. Transgressões mais frequentes: 1. uso do teatro popular, que estava proibido aos cristãos na Europa. Anchieta escreveu peças simples de um único ato, sempre com mensagem moral e cristã com finalidade de catequese e como recurso didático, o que ajudou também na difusão do idioma português; 2. Uso de intérpretes nas confissões, pois os padres alegavam não entender “a língua do bárbaro”; 3. Não uso do latim. O método pedagógico previa disciplina rígida, emulação (competição, disputa) e memorização (imitar os escritores clássicos). A sala de aula dos jesuítas era conhecida como “sala de exercícios”. A importância dos colégios: passaram a ser mais privilegiados que a catequese. Os jesuítas criaram colégios em todo o Brasil (costa, litoral); eles formavam os filhos dos colonos portugueses e também padres para a Companhia. Os mais abastados prosseguiam estudos em Portugal. Ensino de humanidades e também de ofícios mecânicos (para prover os próprios colégios e todas as necessidades dos jesuítas). 6. A educação jesuítica e o que estava ocorrendo na Europa: a modernidade. Expansão de colégios tanto deles próprios, jesuítas, quanto dos reformadores. Os colégios passaram a ser a principal instituição na qual crianças e adolescentes passaram a frequentar. No século XVII, começa a haver distinção e agrupamento das crianças por idade; os colégios passaram a separá-las por idade. Os colégios também foram entendidos como lugares apropriados nos quais as crianças se educariam e ficariam protegidas da “promiscuidade do mundo dos adultos”. Expansão dos colégios jesuíticos no mundo: 1556: 29 colégios 1750: 578 colégios Nascimento do sentimento de infância: a criança passa a ser vista como criança, isto é, necessitando de proteção e cuidado. Igrejas e escolas difundiram esse sentimento. Passa a ser rejeitada também a “promiscuidade” em que ela vivia com os adultos, coisa que era entendida desde a Idade Média como natural. 7. A expulsão (1759). Razões políticas: interferências em questões de poder, intrigas palacianas etc. Questões de fronteiras: tornaram-se obstáculos em negociações entre Portugal e Espanha pela posse de territórios no sul da América do Sul. Defenderam os indígenas contra a escravidão dos colonos portugueses. Seu método de ensino e concepção de educação foram considerados inadequados pelo Marquês de Pombal – governante de Portugal - frente ao pensamento burguês que se propagava na Europa (Iluminismo; Revolução Francesa). A expulsão foi determinada pelo Marquês de Pombal enquanto o fechamento da Companhia de Jesus foi determinado pelo Papa. 8. Um vazio? O que ficou como legado dos 210 anos de hegemonia jesuítica no Brasil. 9. Bibliografia BITTAR, Marisa; FERREIRA Jr., Amarilio. Adaptações e improvisações: a pedagogia jesuítica nos primeiros tempos do Brasil Colonial. Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 20, n. 1, p. 49-62, jan./abr. 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.4025/tpe.v20i1.44754>. Acesso em: 11 mar. 2021. FERREIRA Jr., Amarilio; BITTAR, Marisa. A pedagogia da escravidão nos Sermões do Padre Antonio Vieira. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 84, n. 206/207/208, p. 43-53, jan./dez. 2003. Disponível em: <https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.84i206-07-08.888>. Acesso em: 11 mar. 2021. FERREIRA Jr. Amarilio. História da educação brasileira: da Colônia ao século XX. São Carlos: Editora EdUFSCar, 2010, 124 p. SOUZA, Éverton A. Moreira de; BITTAR, Marisa. A ação educativa de protestantes e católicos na Idade Moderna. In: Cultura escolar: histórias e memórias em diferentes espaços sociais. 1 ed. Goiânia: Espaço Acadêmico, 2019, v. 1, p. 2
Roteiro didático da Unidade 2:
Sem os jesuítas e sem sistema nacional de educação: das “Aulas Régias” à difusão da Escola Nova (1772-1924) 1. O que ficou no lugar dos jesuítas? Aulas régias (mantidas por Portugal, 1772); aulas avulsas; Liceus Provinciais nas províncias (hoje estados) que tiveram condições e interesse em implantá- los. O que eram “aulas régias”? Ensino de uma determinada disciplina ministrada por um professor sem conexão com outros ou com escola. Após a independência, essas aulas passaram a ser chamadas “aulas avulsas”. 2. O contexto brasileiro nos séculos XVIII e XIX. Escravidão mantida até 1888; grandes desigualdades econômicas; cultura de privilégios para a pequena elite branca que formava a aristocracia rural – os grandes fazendeiros (senhores de engenho). Importância dos títulos de “coronel” e “doutor”. Regime monárquico mantido até 1889 (Imperadores Pedro I e Pedro II). Educação: poucas escolas, pois o Brasil era rural e a população vivia nas fazendas. As famílias ricas (oligarquia rural) contratavam preceptores para educar seus filhos. Uma dessas preceptoras foi Ina von Binzer, jovem alemã que trabalhou em fazendas do interior paulista. Jardins de infância, que se propagavam na Europa, eram raros no Brasil devido à estrutura agrária do país e, portanto, as crianças de famílias ricas viviam nas fazendas. 3. A Educação após a independência política do Brasil (1822). Pouca diversificação da sociedade, que se manteve rural, e da demanda escolar. Pouca pressão por escolas. Governos não instituíram a escola primária para todas as crianças. A maioria absoluta delas vivia nas fazendas. A primeira Constituição do Brasil (1824): consagrou o ensino primário gratuito “garantido a todos os cidadãos”. Mas, o problema é que se manteve a escravidão; portanto, os “cidadãos” não eram “todos”. Em 1827: o governo estabeleceu o decreto das Escolas de Primeiras Letras (equivalente à alfabetização e primeiras séries primárias). Estabeleceu também dois Cursos de Direito para a formação dos quadros superiores do Império (Recife e São Paulo). Em 1834, houve uma emenda à Constituição chamada Ato Adicional: esse Ato estabeleceu a descentralização e dualidade de sistemas, isto é, o governo central se responsabilizou pelo ensino superior e os das províncias (que hoje são os estados) e municípios se responsabilizaram pelo ensino primário e secundário. Até hoje, essa descentralização existe. Desde o Ato Adicional ficou patente a maior importância dos cursos superiores comparativamente às primeiras Letras. 4. A educação brasileira no século XIX. Criação do Colégio Pedro II (1837) na Corte (capital do Brasil, Rio de Janeiro). Esse Colégio formava os filhos da elite agrária que geralmente ingressavam depois no Curso de Direito, ou prosseguia estudos em Portugal. Para Ariclê Vechia, esse Colégio deu início ao “sistema público no Brasil”. Para a formação de professores, foi criada a primeira Escola Normal (1835): segundo Jorge Nagle, as escolas Normais eram reduto das “moças burguesas”. Caracterizaram-se por ser excelentes escolas formadoras e atuaram intimamente com a educação primária. As professoras eram formadas para atuar nas escolas primárias, isso fez com que os dois cursos - Escola Normal e Escola Primária - tivessem conexão orgânica, fato que favoreceu a ambos. Essa qualidade e conexão foram consideradas por pesquisadores especialistas no tema como uma das políticas mais positivas que o Brasil praticou em educação. O primeiro Grupo Escolar foi criado em 1893, com a Reforma Paulista. Os Grupos Escolares foram escolas que reuniram pela primeira vez no Brasil os quatro anos do ensino primário em uma mesma instituição. Sua expansão ocorreu na década de 1910: em Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Maranhão, Sergipe, Bahia, Mato Grosso. O Brasil chegou ao fim do século XIX com baixa taxa de escolarização. Em 1880, uma década antes da proclamação da República, a população era de 14 milhões de habitantes, mas tinha apenas 250.000 alunos na escola primária. Por isso, Anísio Teixeira designou essas crianças de “doutorezinhos” do Brasil. 5. Os professores brasileiros da época. No período jesuítico (1549-1759), eram os padres da Companhia de Jesus. Após a expulsão dos jesuítas: o Brasil passou a ter os professores leigos, isto é, não pertencentes à Igreja e mantidos pelo governo. O governo de Portugal instituiu as “aulas régias”, que demoraram a ser implementadas e eram precárias, abrangendo pequenas parcelas da população. No decorrer do século XIX, os professores passaram a ser jornalistas, escritores, advogados, médicos, além de padres e preceptores. A maioria desses mestres havia sido formada pelo sistema jesuítico e, portanto, tinha os mesmos princípios pedagógicos, a mesma mentalidade. Os Cursos Normais: formaram as professoras para as “escolas de primeiras letras”; eles foram chamados de “reduto das moças burguesas”, pois estavam localizados em poucas cidades, geralmente as mais ricas. Geralmente eram belas escolas situadas no centro das cidades. Mas formou também professoras oriundas de classes “populares” (filhas de pequenos comerciantes, por exemplo). Na cidade de Corumbá (Mato Grosso), na década de 1930, uma jovem negra, Adélia Kraviec, chegou ao portão do imponente Colégio Santa Teresa e perguntou a uma freira que ali estava: “Irmã Anita, tenho muita vontade de estudar aí, será que eu posso?”. Irmã Anita respondeu que sim, e a menina continuou: “Mas gente preta assim como eu também pode estudar aí?”. “Claro que sim, aqui não fazemos distinção de cor”. E foi assim que Adélia Kraviéc se tornou uma das grandes professoras do estado de Mato Grosso, deixando seu nome, hoje, gravado em uma das escolas da capital Campo Grande. Os cursos secundários prosseguiram recrutando professores nas profissões liberais: advogados, jornalistas, escritores, artistas, médicos etc. 6. Como o Brasil ingressou no século XX. O quadro de pobreza foi descrito por Oswaldo Cruz assim: “3/4 dos brasileiros vegetam miseravelmente nos latifúndios e favelas das cidades” (1912). As poucas crianças que passavam pelo Grupo Escolar foram chamadas de “doutorezinhos”, termo usado por Anísio Teixeira para aquelas que conseguiam concluir as quatro séries do curso primário; Anísio Teixeira escreveu o livro “Educação não é privilégio” para criticar a desigualdade educacional e defender princípios democráticos e da pedagogia ativa (John Dewey). A Constituição de 1891: consagrou o sistema dual. União mantém ensino superior; estados e municípios, o ensino primário (“popular”) e secundário. A demanda educacional representava as exigências de uma sociedade com baixo índice de urbanização e industrialização, na qual permanecia a velha educação acadêmica e aristocrática. Difusão da Escola Nova no Brasil: nova pedagogia, nova didática, “método intuitivo”, valorização da infância. O que se transportou da Escola Nova para cá? Novos vocábulos, princípios que enriqueceram a linguagem pedagógica e inspiraram estudos. Mas não foi implantada uma rede de escolas baseadas nessa pedagogia; a própria escola pública – chamada tradicional pela Escola Nova – ainda não estava implantada de forma a abranger todas as crianças brasileiras. Até a década de 1960, o Grupo Escolar, a Escola Normal e o curso secundário (que era composto de 4 anos + 3 anos, sendo os 4 primeiros anos chamados de Ginásio) ficaram conhecidos como “anos dourados” da educação brasileira. 7. Conclusões. Desde a chegada dos jesuítas, o Brasil percorreu um longo período histórico que conservou marcas do passado. A vida republicana, a industrialização e a urbanização foram tardias. Isso teve relação direta com a baixa oferta de escolas à população. Da mesma forma, havia baixa pressão por escolas, pois a população, que vivia majoritariamente nas fazendas, não sentia a necessidade da escola. Aqui é importante notar que a escolarização, a alfabetização, sempre foram processos ligados à urbanização. A experiência de outros países nos mostra que as tentativas de alfabetizar em áreas rurais esbarraram em dificuldades variadas entre as quais a resistência da população por, muitas vezes, não compreender a importância do letramento. Sendo assim, esse não foi um fenômeno só brasileiro, mas mundial. O sistema nacional de educação pública só começou a ser efetivamente construído após a Revolução de 1930. Essa Revolução destronou a oligarquia rural paulista e mineira e seu modelo econômico. Instituiu a industrialização, o nacionalismo, e também métodos de governo considerados populistas. Ou seja, foi um período no qual os governos incorporaram demandas da classe trabalhadora e, pela primeira vez, elaboraram políticas sociais que, antes, eram consideradas caso de polícia, como por exemplo, Leis Trabalhistas. O modelo de desenvolvimento instituído por Getúlio Vargas, que assumiu o poder em 1930, é chamado nacional-populismo e decorreu no período internacional de maior polaridade da Guerra Fria (disputa entre o bloco capitalista e o bloco socialista). No Brasil, essa polaridade correspondeu à disputa entre o bloco nacional-populista e o conservador. A experiência de alfabetização, por exemplo, foi apoiada pelo populismo que tinha interesse no aumento de adultos alfabetizados, já que a Constituição proibia o voto do analfabeto. Sendo assim, houve uma relação política entre alfabetização e mobilização popular. Esse período histórico terminou em 1964 com o golpe militar. 8. Bibliografia BINZER, Ina von. Os meus romanos: alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil. Tradução: Alice Rossi e Luisita da Gama Cerqueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. BITTAR, Marisa. Universidade, pesquisa e educação básica. In: BITTAR, Marisa; LOPES, Roseli Esquerdo. Estudos em Fundamentos da Educação. São Carlos: Pedro & João Editores, 2007, p. 21-49. FERREIRA Jr. Amarilio. História da educação brasileira: da Colônia ao século XX. São Carlos: Editora EdUFSCar, 2010, 124 p. KUHLMANN Jr., Moisés. A educação infantil no século XIX. In: STEPHANOU, Maria; Bastos, M. Helena (Org.). Histórias e memórias da educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2005, v. II, p. 68-77. VECHIA, Ariclê. O ensino secundário no século XIX: instruindo as elites. In: STEPHANOU, Maria; Bastos, M. Helena (Org.). Histórias e memórias da educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2005, v. II, p. 78- Roteiro didático da Unidade 3: A construção do sistema educacional brasileiro em dois momentos: Manifesto dos Pioneiros e Método Paulo Freire (1932-1964) 1. Contexto histórico do período (1930-1964). Revolução de 1930 contra as oligarquias paulistas e mineiras. Getúlio Vargas assume o poder em 1930. Projeto nacionalista. Seu primeiro governo transcorreu entre 1930 e 1934. Foi eleito para um segundo mandato até 1938. Mas enveredou pelo autoritarismo e planejou um golpe antes do término de seu mandato. 1937: Golpe de Getúlio Vargas. Início da ditadura. 1937-1945: Ditadura de Getúlio Vargas. 1945-1964: Período conhecido por redemocratização. Ocorreram inciativas de educação popular e o método de alfabetização de Paulo Freire. 1964: Golpe militar. 2. As razões que levaram ao Manifesto e ao Método de Paulo Freire. O Brasil chegou à década de 1960 com quase metade de sua população analfabeta e uma escola pública restrita. O sistema nacional de educação havia começado a ser construído em 1930 e, nesse contexto de poucas escolas, um grupo de 26 intelectuais lançou um Manifesto “ao povo e ao governo”, que ficou conhecido como Manifesto dos Pioneiros (1932), propondo educação pública, integral, laica, estatal para todas as crianças e jovens dos 7 aos 15 anos de idade. Dos 26 signatários, três eram mulheres e apenas um professor primário (Paschoal Lemme). No final da década de 1950 e começo da década de 1960, Paulo Freire criou seu método de alfabetização de adultos. As duas iniciativas demonstram que o Brasil não tinha um sistema de educação para todos e, além disso, mantinha 50% de sua população acima de 15 anos de idade no analfabetismo. 3. O Manifesto de 1932. O Manifesto corresponde ao momento político (Revolução de 1930); está de acordo com os seus princípios (nacionalismo, construção do Estado). Signatários: 26 intelectuais, dentre eles, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira. Três mulheres: Cecília Meirelles, Amanda Álvaro Alberto e Noemy da Silveira. Importância: defendeu escola pública, estatal e laica para meninos e meninas; criticou o método da escola existente até então; introduziu os princípios da Escola Nova no Brasil. Ao defender a educação estatal e laica, atraiu contra si a oposição da Igreja Católica (que tinha hegemonia na educação brasileira). Seus princípios não foram implementados pelo Governo Vargas. 4. Método de Paulo Freire (fim da década de 1950/início de 1960). Foi um método nascido inteiramente das condições históricas brasileiras (analfabetismo, sociedade “fechada”, ausência de democracia). Alfabetizar e conscientizar: dois termos indissociáveis para Paulo Freire. O papel da educação na sociedade “em trânsito”: promover a passagem da consciência ingênua para a consciência crítica. O seu método não foi praticado (testado) suficientemente para confirmar que uma pessoa adulta se alfabetizaria em pouco tempo, pois Paulo Freire deixou o Brasil imediatamente após o golpe militar e se exilou no Chile onde escreveu “Educação como prática da liberdade”. Antes do golpe, o Ministério da Educação havia proposto um plano nacional de alfabetização a Paulo Freire, que o aceitou. Pois ele apoiava o nacional- populismo. 5. Conclusões. Que balanço podemos fazer sobre essas duas experiências? O Manifesto dos Pioneiros completará 90 anos em 2022 e até hoje o Brasil não universalizou a escola nos moldes defendidos pelos intelectuais de 1932. Paulo Freire queria alfabetizar os milhões de adultos analfabetos no começo da década de 1960, mas o Brasil ingressa no século XXI sem ter resolvido a tarefa do século XIX: alfabetizar toda a sua população. No entanto, alguns princípios de ambos os movimentos foram incorporados pela educação brasileira, como a necessidade de maior participação de alunos no processo de ensino-aprendizagem e todas as formas de participação democráticas previstas pela Escola Nova tiveram boa aceitação no interior do sistema educacional brasileiro. Da mesma forma, o método de Paulo Freire, mesmo sem aplicação como ele previa, continuou inspirando alfabetização de adultos e motivando pesquisas. Por isso, tanto o Manifesto quanto o Método Paulo Freire continuam presentes no ideário pedagógico brasileiro. Não foram vitoriosos como pretendiam, mas também não foram totalmente derrotados. 6. Bibliografia AZEVEDO, Fernando e outros. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. A Reconstrução Educacional no Brasil: ao povo e ao governo. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. XXXIV, n. 79, p. 108-127, jul.-set. 1960. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis, Editora Vozes, 1986. SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 32.
Roteiro didático da Unidade 4:
A ditadura militar e o sistema educacional brasileiro (1964-1985) 1. O Brasil no período pré-64 e o colapso do populismo. Dois projetos rivais de nação: nacional-populismo x conservadores: expansão do capitalismo nacional ou acelerar internacionalização? A polarização ideológica: Guerra Fria (capitalismo X socialismo). Ascensão dos movimentos populares (sindical, CGT, Ligas Camponesas, sindicalismo rural, movimento estudantil, UNE). Episódios que marcaram o conflito ideológico entre as duas correntes: morte de Getúlio Vargas (1954); tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek (1955); renúncia de Jânio Quadros (1961); plebiscito pela volta do presidencialismo (1962); o governo João Goulart e as Reformas de Base (o Comício da Central do Brasil). 2. A educação popular no período pré-64. O processo de industrialização e urbanização gerou as classes populares urbanas. Paulo Freire aproveitou possibilidades institucionais à mobilização popular. Analfabetismo e política em 1960: inexistência legal da cidadania política da maioria da população brasileira em idade adulta: 15,5 milhões de eleitores para uma população de 34,5 milhões com 18 anos ou mais, segundo Prefácio de Francisco Weffort no livro “Educação como prática da liberdade”. Movimento de educação popular era um dos instrumentos da mudança. Para Paulo Freire, o Brasil passava por uma “crise de valores” mais do que uma crise estrutural (conferir “Educação como prática da liberdade”). 3. O Golpe militar de 31 de março de 1964. Momento de esgotamento do “modelo getuliano” (Getúlio Vargas). Vitória das forças político-ideológicas defensoras do modelo capitalista transnacional. Derrota do nacional-populismo. Autoritarismo e repressão. 4. Concepções de educação que embasaram o regime militar. Teoria do capital humano (Theodore Schultz, década de 1960). Segundo essa teoria, os indivíduos trabalham em instituições nas quais todos se sentem representados (trabalhadores e capitalistas). O desenvolvimento é o conceito chave da teoria. O indivíduo, investindo na sua qualificação, tem oportunidade de contribuir para o desenvolvimento do país. A qualificação, além de auxiliar o desenvolvimento econômico do país, gera um futuro aumento de renda para o próprio indivíduo. Indivíduos mais escolarizados têm mais renda. Concepção tecnocrática: o ministro da Educação entre 1969 e 1974, Jarbas Passarinho, propôs “conciliar humanismo com tecnologia”, expressando duas concepções educacionais: a) a liberal, humanista; b) a funcional, tecnicista (Conferir “A fala dos homens”, Maria de Lourdes Covre). Segundo essa autora, a concepção tecnocrática no Brasil previa as necessidades do cidadão e as necessidades da produção. Na primeira, pensa-se a educação como criação de cultura. Na segunda, o enfoque está na linha da economia da educação; não se cuida do homem, mas da força de trabalho; formação da mão-de-obra. O caráter autoritário: universidades não devem ser “clubes políticos”, mas “integradas ao desenvolvimento” (Projeto Rondon: universitário integrado, é a forma de o estudante discutir política); “formação política” vinculada às disciplinas doutrinárias (Educação Moral e Cívica, EPB); Decreto 477 desmobiliza estudantes (só revogado em 1979). 5. As Reformas da Educação. Objetivos proclamados: Mínimo de cultura: MOBRAL. Uma profissão: 2º grau profissionalizante. Alcance à universidade: abertura de vagas, bolsas, expansão da iniciativa privada. 6. Reforma Universitária. Lei 5540, de 28 de novembro de 1968. Prioridade para universidades em relação aos institutos isolados; o ensino indissociável da pesquisa; colegiados universitários com participação de professores e estudantes; nomeação de reitor por lista sêxtupla; credenciamento nacional dos cursos de pós-graduação pelo CFE; representação discente com organização dos Centros e Diretórios Acadêmicos. Contém pontos avançados, mas não foi totalmente absorvida e teve contra si a crítica contra influência e inspiração norte-americana. O regime militar implantou a rede de universidades federais no País, segundo o princípio de que cada estado da federação teria a sua universidade e instituiu também a Pós-Graduação (Parecer aprovado em dezembro de 1965, um dos integrantes foi Anísio Teixeira). Em 1960, havia cem mil universitários no Brasil (universidades públicas e algumas PUCs). O Censo Escolar de 1991-2002 registrou 3.030.754 de matrículas; sendo 502.960 na rede federal; 357.015 na estadual; 79.250 na municipal; enquanto 2.091.529 na rede privada. Em 2018 eram 8,4 milhões na Graduação, sendo apenas 24,6% deles nas instituições públicas. A maioria dos estudantes- trabalhadores está nas universidades particulares. 7. Reforma do 1º e 2º graus. Lei 5692, de 1971. Duplicou a escolaridade obrigatória de 4 para 8 anos, criando o ensino de 1º Grau para crianças de 7 a 14 anos de idade. Ou seja, uniu o antigo primário ao ginásio. A expansão da escola pública refletia os frutos do progresso material da fase do “milagre econômico” e atendia ao objetivo de formar uma mão de obra minimamente escolarizada. Ao mesmo tempo, criou o 2º grau “profissionalizante” como forma de conter a pressão sobre o ensino superior, fornecendo uma “profissão” aos jovens das classes populares. Os antigos ensino primário e secundário passaram a chamar-se 1º e 2º graus, totalizando oito anos de escolaridade obrigatória; os currículos passaram a ter uma parte comum obrigatória nacionalmente e uma parte diversificada; obrigatoriedade da profissionalização para o 2º grau; inclusão de Educação Moral e Cívica e da prática de Educação Física para todos os alunos; orientação educacional; obrigatoriedade de estatutos de magistério em cada sistema estadual. A Reforma tratou vagamente do pré-escolar; o 2º grau foi totalmente prejudicado, pois perdeu potencial educativo e não cumpriu o objetivo de profissionalizar. Representou a decadência desse grau e florescimento dos cursinhos universitários; a Reforma possibilitou a expansão das oportunidades na escola pública de 1º e 2º graus; expansão do ensino superior privado e queda geral na qualidade de ensino. Para alguns autores, a Reforma de 1971 teve caráter tecnicista. Tanto a Reforma Universitária quanto a Lei 5692 foram reformas destinadas a adequar a educação brasileira aos objetivos do regime militar de 1964: “projeto nacional” de “pátria grande”, que exigia expansão da escolaridade. MOBRAL: criado pela Lei 5379, de 15 de dezembro de 1967, concretizou-se a partir de setembro de 1970. Pouco cumpriu de seus objetivos. 8. Efeitos da política educacional da ditadura. Expansão da escola pública de 1º e 2º graus, isto é, de oito anos de escolaridade obrigatória. No entanto, o cumprimento dessa lei demorou a ser concretizado (em 2019 eram 48% os brasileiros com mais de 25 anos de idade que concluíram a educação básica obrigatória, o que inclui ensino médio, e 35% de brasileiros que não completaram o ensino fundamental). Aumento quantitativo das esferas públicas nesses dois graus, que são responsabilidade dos estados e municípios. Aumento da rede particular no ensino superior. Surgimento da nova categoria social dos professores públicos brasileiros. Em 2019 eram cerca de 2,5 milhões, sendo a maior parte (2,192 milhões) na educação básica enquanto 349.776 no ensino superior. Do total de professores brasileiros, 345,6 mil estão na zona rural. Consolidação do sistema federal de ensino superior. Consolidação da Pós-Graduação em todo o Brasil, tanto nas universidades públicas quanto nas particulares. 9. Alguns dados comparativos. 1950: apenas 36,2% das crianças de 7 a 14 anos de idade tinha acesso à escola. 1990: 88% (além disso, o período de escolarização obrigatória duplicou). 1998: 5,3% das crianças estavam fora da escola; em 1993 eram 11,5%. O Censo Escolar 1991-2002 registrou 35.150.362 matrículas no Ensino Fundamental, sendo na rede federal, 26.422; na rede estadual 14.236.020; na municipal, 17.653.143; enquanto na rede privada, 3.234.777. Taxa de analfabetismo: 1900 a 1920: 65% 1950: 50,6% 1960: 33,7% 1980: 25,9% 1990: 18,4% Em 2019, o Brasil tinha 7% da população adulta analfabeta, o que correspondia a 11,5 milhões de pessoas. Ensino Médio: 1963: na rede particular eram 1.025.051 alunos e na pública eram 694.538. 1969: na rede particular eram 1.572.383; na pública 2.056.992. 1989: na rede particular 1.056.469 e na pública 2.421.390 num total de 3.477.859 alunos matriculados, ou seja, 69,6% na pública contra 30,4% na rede particular. O Censo Escolar de 1991-2002 indicou 8.710.584 alunos, dos quais 7.297.179 na rede estadual e 1.122.900 na rede privada. Essa tendência se manteve até o final do século XX. No entanto, em 2019 houve queda de matrículas de 4,34%, passando de 6.462.124 para 6.192.819 de alunos. O ensino médio no Brasil perdeu identidade com a Reforma 5692 de 1971 e ainda não teve uma solução adequada desde então. 10.Bibliografia BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de democratização da sociedade. Acta Scientiarum Education, Maringá, v. 34, n. 2, p. 157-168, jul./dez. 2012. Disponível em: <https://doi.org/10.4025/actascieduc.v34i2.17497>. Acesso em: 11 mar. 2021. FERREIRA Jr., Amarilio; BITTAR, Marisa. A ditadura militar e a proletarização dos professores. Educação & Sociedade, Campinas, v. 27, n. 97, p. 1159-1179, dez. 2006. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0101- 73302006000400005>. Acesso em: 11 mar. 2021. FERREIRA Jr., Amarilio; BITTAR, Marisa. Educação e ideologia tecnocrática na ditadura militar. Cadernos CEDES, Campinas, v. 28, n. 76, p. 333-355, set./dez. 2008. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0101-32622008000300004>. Acesso em: 11 mar. 20
Roteiro didático da Unidade 5:
A educação brasileira entre avanços e recuos: de 1985 à pandemia de 2020 1. Contexto histórico. 1985: Fim da ditadura militar. 1989: Primeira eleição direta para presidente da República desde a ditadura militar. Foi eleito Fernando Collor de Melo, que sofreu impeachment e não concluiu o mandato. 1993-2003: Governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). 2002: Eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 2003-2011: Dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 2010: Eleição de Dilma Roussef (PT) à presidência da República. 2014: Segunda eleição de Dilma Roussef (PT) à presidência da República. Abril de 2016: Impeachment contra a presidente Dilma Roussef. 2018: Eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência da República. 1996: Aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Durante esse período, tivemos estagnação da rede federal de universidades na “Era FHC” ao mesmo tempo em que a educação básica se expandiu. Também durante seus governos foi aprovado o FUNDEF e instituído o sistema nacional de avaliação da educação brasileira (INEP). Na “Era do PT”, expandiu-se a rede federal de universidades e Institutos Federais, prosseguiu-se com a política de avaliação e o FUNDEF (Fundo Nacional para a Educação Fundamental) foi transformado em FUNDEB (Fundo Nacional para a Educação Básica, que após a LDB, passou a designar o ensino público até o grau médio). 2. Linhas gerais da educação brasileira (visão de conjunto). Foi tardia e difícil a construção do sistema nacional de educação. Com os jesuítas (1549-1759), tivemos poucas escolas e a missão era cristianizar a população indígena. Com a expulsão dos jesuítas, foram instituídas “aulas régias”. O primeiro Grupo Escolar (que agrupou pela primeira vez os quatro anos do ensino primário) só foi criado no começo do século XX. O mesmo ocorreu com a formação de professores, pois as Escolas Normais também foram tardias. 1930: Início mais efetivo da construção do sistema educacional. Criação do Ministério da Educação (1931). A construção do sistema está ligada às políticas centralizadoras e nacionalistas da “Era Vargas”. 1964-1985: Sob o regime militar, houve expansão quantitativa das escolas públicas e foi duplicada a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos. Porém, a qualidade do ensino não foi preservada. 1985- até o fim do século XX: Universalização da educação de oito anos, que depois passou a ser de nove anos. Terminaremos esta aula refletindo sobre a situação do sistema educacional na pandemia (2020/21). 3. Pontos positivos da educação brasileira até 1985. Duplicação da escolaridade obrigatória: Lei 5692/71. Criação da Pós-Graduação. Construção da rede de universidades federais públicas. 4. Pontos negativos da educação brasileira até 1985. Queda geral de rendimento na aprendizagem. Ensino médio ineficaz e sem identidade. Baixos salários para professores da escola pública. Analfabetismo. 5. O sistema educacional após a ditadura militar (1985-2020). Contínua queda de aprendizagem em todos os níveis de ensino. Crianças e jovens sem conhecimentos necessários exigidos pelas mudanças sociais e tecnológicas que o mundo vem passando. A carreira docente no sistema público continuou sendo desvalorizada, ou seja, os governos democráticos não recuperaram a escola e a carreira como se esperava na época da ditadura. Criação do FUNDEF (Governo Fernando Henrique Cardoso) estabeleceu um piso nacional salarial para os professores da rede pública. FUNDEB (Governo Lula) incorporou o ensino médio. Expansão e fortalecimento da Pós-Graduação desde a década de 1990. Políticas de inclusão nos governos do PT: PROUNI, REUNI, cotas nas universidades, expansão da rede universitária federal e Institutos Federais (Governo Lula e Governo Dilma). 6. O legado educacional do século XX. Avanço quantitativo das matrículas na escola pública. Baixo investimento por aluno da escola pública. Formação de professores e pedagogos (1939). O Manifesto dos Pioneiros. O método Paulo Freire. Analfabetismo. Política descentralizada quanto à oferta e manutenção do ensino. Política nacional de avaliação da educação. Fortalecimento da pesquisa nas universidades. 7. O maior contraste da educação brasileira no século XX. Um forte sistema de universidades públicas e de pesquisa X sistema de escolas públicas deficiente. “Foi mais fácil construir o sistema do que torná-lo eficiente” (Ver artigo de Bittar e Bittar, Revista Acta Scientiarum, 2012). 8. Avançamos pouco ou avançamos muito? Em algumas políticas, avançamos muito (Pós-Graduação eficiente, políticas afirmativas); em outras, persistem graves problemas (escola pública desvalorizada). Avançamos também nas políticas de avaliação da educação em todos os níveis. 9. De que escola precisamos no século XXI? O que a pandemia está nos ensinando? “Sociedade sem escolas”: foi uma tese defendida pelo pensador austríaco Ivan Illich na década de 1970. Para ele, que foi um crítico das instituições, a sociedade poderia educar sem “escolarizar”. Ironicamente, hoje, essa ideia está em prática de maneira forçada. O que a ausência de escolas nos diz? Podemos viver sem elas? 10.Dados de 2020 (INEP). No início de 2020, o Brasil contava com 47,3 milhões de matrículas distribuídas por 179,5 mil escolas de educação básica. Desse total de matrículas, 38,5 milhões eram na rede pública e 8,8 milhões na rede privada. Entre 2019 e março de 2020, o Brasil contabilizou 579 mil matrículas a menos. No ensino médio, houve discreto aumento de 84 mil matrículas, mas foi o grau com maior índice de reprovação. Uma em quatro escolas da rede pública não tem acesso à internet (25,5% das escolas públicas do País). Observação: O INEP realizou essa pesquisa antes do fechamento das escolas (que ocorreu por volta de maio de 2020 em todo o Brasil devido à pandemia), portanto, não dispomos ainda de dados sobre as escolas durante a pandemia. 11.Conclusão. Em plena revolução técnico-científica, o Brasil convive com: Baixo nível de aprendizagem em todos os níveis. O IDEB (criado em 2007) de 2019 apresentou leve melhora comparativamente ao de 2017: 5,9 nos anos iniciais. Nos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), avançou de 4,7 para 4,9. No entanto, ficou abaixo da meta. O Ensino Médio passou de 3,8 para 4,2, ficando também abaixo da meta, que era 5, tendo como referência a qualidade dos sistemas educacionais de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O IDEB foi criado em 2007, a nota máxima é 9,9. Portanto, estamos abaixo em todos os níveis. Além disso, o avanço também precisa ser visto com cautela diante dos graves problemas que a pandemia da COVID-19 vem causando na educação, com fechamento das escolas e dificuldades de ofertar atividades remotas de maneira equânime para os estudantes. Estudantes das escolas públicas, novamente, são os mais prejudicados. 12.Bibliografia BITTAR, Marisa. A educação brasileira no século XX: um balanço crítico. In: FERREIRA Jr., Amarilio; HAYASHI, Carlos Roberto Massao; LOMBARDI, J. Claudinei (org.). A educação brasileira no século XX e as perspectivas para o século XXI. Campinas: Alínea Editora, 2012. p. 79-106. BITTAR, Marisa; BITTAR, Mariluce. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de democratização da sociedade. Acta Scientiarum Education, Maringá, v. 34, n. 2, p. 157-168, jul./dez. 2012. Disponível em: <https://doi.org/10.4025/actascieduc.v34i2.17497>. Acesso em: 11 mar. 2021. SAVIANI, Dermeval. O legado educacional do “longo século XX” brasileiro. In: SAVIANI, Dermeval. et al. (org.) O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas: Autore