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Educação Unisinos

9 (3):197-202, set/dez 2005


© 2005 by Unisinos

O coordenador pedagógico e suas crenças


Pedagogical coordinators and their beliefs

Renata C. O. B. Cunha
renata_bcunha@yahoo.com.br

Resumo: A formação continuada dos professores, pautada na reflexão sobre a prática que
acontece no interior da escola, vem sendo valorizada por autores como Porto (2000),
Santos (2002), Canário (2000), Pimenta (1998), Sacristán e Pérez Gómez (1998) sob o
argumento de que o saber e o fazer reflexivo precisam estar contextualizados, uma vez que
a transformação da realidade educacional decorre do confronto entre teoria e prática. Nesse
sentido, questiona-se quem seria o profissional responsável por mediar o coletivo docente e
articular os momentos de formação. O coordenador pedagógico passa a ser considerado o
interlocutor da formação docente na medida em que proporciona a reflexão sobre a prática
e a superação das contradições entre o pensar e o agir. A produção de Placco (1994; Placco
et al., 1998, 2000; Placco e Almeida, 2001, 2003) aponta o coordenador como articulador
da consciência das dimensões políticas, humano-relacionais e técnicas da ação dos professores.
A revisão do papel do coordenador pedagógico, entretanto, implica a consideração das
crenças dos coordenadores, uma vez que as decisões dos mesmos são influenciadas pelas
crenças, valores, rotinas, representações. A explicitação das crenças como possibilidade de
reorganização do pensamento e consciência das ações (Sadalla, 1998; Krüger, 1993)
apresenta-se como condição para uma formação mais autêntica e produtiva.

Palavras-chave: formação continuada, coordenador pedagógico, crenças docentes.

Abstract: Continued teacher education, based on the reflection on the practice that
occurs in the school, is valued by authors such as Porto (2000), Santos (2002), Canário
(2000), Pimenta (1998), Sacristán e Pérez Gómez (1998), with the argument that knowledge
and reflective action must be contextualized, since the transformation of educational reality
originates from the comparison between theory and practice. The article discusses who
would be the professional responsible for the mediation of the teachers’ group and the
articulation of the training moments. The pedagogical coordinator is considered to be the
interlocutor of teacher education insofar as he/she provides reflection on practice and the
overcoming of the contradictions between thinking and action. Placco’s work (1994; Placco
et al., 1998, 2000; Placco and Almeida, 2001, 2003) sees the coordinator as the articulator
of the consciousness of the political, human-relational and technical dimensions of the
teachers’ actions. However, the revision of the pedagogical coordinator’s role implies the
consideration of the coordinators’ beliefs, since their decisions are influenced by their beliefs,
values, routines and representations. The explanation of the beliefs as a possibility of
reorganizing the thinking and the awareness of actions (Sadalla, 1998; Krüger, 1993) is a
condition for a more authentic and productive education.

Key words: continued education, pedagogical coordinator, teacher’s beliefs.

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Renata C. O. B. Cunha

Introdução ra-se a perspectiva da formação: o em criar situações que permitam aos


saber descontextualizado é substitu- professores aprender a pensar e a agir
O tema da formação continuada de ído pelo fazer reflexivo, indissociado de modo diferente – a reflexão,
professores vem mobilizando a aten- da relação teoria/prática, que passa a conduzida de modo sistemático e fi-
ção dos profissionais que trabalham ser condição para a construção de nalizado, permite transformar a expe-
na escola – diretores, coordenado- novos conhecimentos e de novas riência num saber utilizável. Segun-
res pedagógicos, orientadores edu- práticas inovadoras e autônomas. do essa perspectiva, a formação con-
cacionais, supervisores – na medida Santos (2002) também concorda tínua dos professores institui-se
em que estes passam a entender que que o esteio da formação continuada como um processo de formalização
o desenvolvimento profissional dos é a experiência que os professores da experiência (Canário, 2000).
professores não implica exclusiva- constroem sobre a docência e que a Sacristán e Pérez Gómez (1998), na
mente na participação em cursos de reflexão sobre essa experiência é que mesma linha de argumentação, justifi-
natureza acadêmica, mas acontece faz diferença nesse processo, pois os cam a razão de tomar a prática dos pro-
também no interior das escolas. professores têm oportunidade de fessores como ponto de partida na sua
A escola como locus de produção explicitar sua compreensão da reali- formação: valorizam o profissional do
de conhecimentos passa a ser valori- dade. Isso porque “ao buscarem cons- ensino como sujeito que fundamenta
zada e os professores asseguram-se truir hipóteses explicativas para as sua prática numa opção de valores e
como sujeitos que constroem conhe- situações problemáticas com que se em idéias que o ajudam a esclarecer as
cimentos e saberes, refletindo sobre defrontam na relação didática com os situações, mais do que como um téc-
a prática e assumindo o papel de alunos, obrigam-se a trazer à tona nico eficaz, responsável por cumprir
transformadores da realidade. suas leituras da realidade imediata, o planos e programas. Ressaltam que a
A formação centrada na escola con- que em certa medida reflete as refe- prática não pode ser deduzida direta-
voca a organização do trabalho do- rências teóricas que, de fato, orien- mente de conhecimentos científicos
cente coletivo e implica eleger um pro- tam seu trabalho educativo” (p. 218). descontextualizados das ações reali-
fissional que possa articular os mo- As pesquisas de Pimenta (1998) zadas em situações reais.
mentos de formação e reflexão. Ao investigam por que, nas práticas pe- Muitos dos autores identificados
coordenador pedagógico vem sendo dagógicas dos professores e nas or- com a proposta de formação a partir
solicitada essa função na expectativa ganizações escolares, praticam-se da experiência dos professores reme-
de que ele opere como mediador das teorias que não são necessariamente tem-se aos trabalhos de Donald
reflexões sobre a prática em um con- aquelas produzidas pelas recentes Schön, que valoriza a reflexão como
texto de trocas simétricas e acolhida investigações das ciências da edu- princípio de trabalho.
para o ouvir e falar dos professores. cação. Constata que os programas de Campos e Pessoa (1998) discutem
formação têm se mostrado pouco efi- o trabalho de Schön, situando-o na
cientes para alterar a prática docente década de 90, com seu conceito de
A prática como princípio
justamente pelo fato de não tomarem “aprender a prática, praticando”. De
formativo
a prática docente e pedagógica es- acordo com as autoras, Schön propôs
colar em seus contextos. Ao não co- uma formação tutorada e uma apren-
A proposta de tomar a prática do- locar as práticas dos professores dizagem na ação para as áreas de Ar-
cente em seu contexto, promovendo como ponto de partida e de chegada quitetura, Desenho e Engenharia, pen-
a reflexão sobre o trabalho, vem sen- da formação, acabam por “ilustrar” o sando no desenvolvimento de um pro-
do defendida por autores como Por- professor, não lhe possibilitando ar- fissional reflexivo. Sua formação teó-
to (2000), Santos (2002), Canário ticular e traduzir os novos saberes rica não se referiu especificamente à
(2000), Pimenta (1998), Sacristán e em novas práticas. formação de professores, mas suas
Pérez Gómez (1998), entre outros. A prática da reflexão na formação contribuições foram resgatadas num
No contexto de uma formação que de professores é apontada como re- momento particular de reforma educa-
não se conclui, Porto (2000) acredita curso importante na formação inicial cional americana.
que a formação se dá enquanto acon- tanto quanto na formação continua- Schön centralizou sua concepção de
tece na prática. A prática é conside- da, em especial quando essa forma- desenvolvimento de uma prática refle-
rada mediadora da produção de co- ção acontece na escola. Uma das di- xiva em três idéias centrais: conheci-
198 nhecimento mobilizado na experiên- mensões fundamentais da formação mento na ação (intuitivo, espontâneo,
cia de vida do professor e em sua centrada na escola, baseada nas ex- experimental); reflexão na ação (produ-
identidade. Na sua concepção, alte- periências dos professores, consiste ção de uma pausa – para refletir – em

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meio à ação presente) e reflexão sobre pela tarefa e desafio de incentivar a sujeito ativo, participando de forma
a reflexão na ação (reflexão sobre a re- constituição do professor reflexivo e decisiva em todas as etapas do tra-
flexão da ação passada e que influi di- estimular a discussão coletiva dos balho escolar (Leite, 2000).
retamente em ações futuras, colocan- saberes produzidos na escola? Torres (1994) defende a idéia de
do à prova uma nova compreensão do Além da possibilidade de auto-or- que o coordenador pedagógico é um
problema). Propôs uma epistemologia ganização dos professores, a equipe agente responsável pela formação
assentada na reflexão na ação, defen- de especialistas precisa apoiar, in- continuada dos professores, subsi-
dendo que, ao refletir na ação, o profis- centivar e criar condições materiais diando e organizando a reflexão, es-
sional pode encontrar soluções para o concretas para viabilizar esse proje- timulando o processo de decisão vi-
problema que se apresenta no contex- to de formação. sando à proposição de alternativas
to do cotidiano. A formação do profis- Embora cada escola tenha um para superar os problemas da práti-
sional reflexivo, capaz de encontrar res- organograma, destacando atribuições ca. Acredita que ele é uma figura es-
postas aos dilemas que o exercício pro- e competências diferentes para cada sencial nesse processo integrador e
fissional impõe e que não estão pres- especialista, a produção recente or- articulador de ações.
critas nas teorias e técnicas, só encon- ganizada por Placco (1994; Placco et Diante dessas expectativas, é pre-
tra suporte numa epistemologia que al., 1998, 2000; Placco e Almeida, 2001, ciso, como indica Torres (1994), iden-
permite que o profissional reflita sobre 2003) indica que são os coordenado- tificar primeiramente as representa-
a própria prática. res pedagógicos os interlocutores pri- ções do papel de coordenador peda-
Em trabalho mais recente, Pimenta vilegiados entre os professores em gógico internalizado pelos docentes
(2002) constrói sua crítica ao concei- suas reflexões sobre a prática. e não docentes (especialistas), clari-
to de “professor reflexivo” e também Adotando a definição de Leite ficando as relações, com vistas às
se reporta aos trabalhos de Schön, (2000, p. 63-64), a coordenação pe- relações assimétricas construtivas:
destacando sua proposta de valori- dagógica está sendo entendida nes- relações de trocas significativas, es-
zação da prática profissional como te texto como um “conjunto de ati- paços de negociação, participações
oportunidade de construção de co- vidades executadas no sentido de igualitárias entre coordenador e pro-
nhecimento através da análise e re- garantir que ocorra a organização fessores. As interações ocorrem a
flexão da mesma. Segundo a autora, docente em todos os níveis previs- partir das internalizações de formas
o ensino como prática reflexiva tem tos. Tais atividades implicam desde culturais de comportamento, que se
um aspecto positivo, apontando para garantir as condições logísticas até mantêm ocultas até serem explicitadas
a valorização da produção de saber o acompanhamento de cada etapa e compreendidas pelos parceiros do
docente a partir da prática, colocan- do processo de organização. Cabe, processo educativo.
do em destaque o protagonismo do também, à coordenação pedagógica A busca do sentido da ação do
professor. Entretanto, nos processos detectar as dificuldades e necessi- coordenador pedagógico e sua cons-
de mudança e inovações, pode-se dades dos grupos de professores, tituição como formador precisam ser
gerar a supervalorização do profes- na medida em que organiza e orienta refletidas e explicitadas coletivamen-
sor como indivíduo, perdendo-se de a discussão coletiva a respeito do te para que cada um tenha a oportu-
vista o contexto social mais amplo e planejamento das práticas pedagó- nidade de vir a se tornar mais consci-
o trabalho coletivo. gicas, garantindo espaço para que ente de sua forma de atuação e mais
todos explicitem as suas opiniões e crítico com relação às
O coordenador sugestões”. (pre)concepções e perspectivas que
Ainda segundo o mesmo autor, a nutre a respeito de seu trabalho.
pedagógico e sua tarefa
formação continuada de professores Segundo Placco (1994), a constru-
de formador de
é aquela que assume o desafio de ção da identidade profissional e o
professores
conceber e construir a escola como fortalecimento de seu compromisso
um ambiente educacional em que a com o grupo de professores e alunos
Assumindo-se a importância do formação e a prática pedagógica não dependem da consciência crítica que
trabalho de formação centrada na sejam atividades distintas e divorci- professores e coordenadores têm
escola, é possível propor alguns adas e estejam articuladas com a ges- frente à sincronicidade das dimen-
questionamentos: Quem são os agen- tão escolar, as práticas curriculares e sões políticas, humano-relacionais e
tes da promoção da formação conti- as necessidades profissionais. Nes- técnicas de sua ação. Somente a 199
nuada dos professores nos espaços se processo, o professor tem oportu- consciência do dinamismo dessas
escolares? Quais os responsáveis nidade de assumir o seu papel de dimensões permite o redirecio-

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namento da percepção sobre a reali- de trabalho e a oferta de situações


dade, sobre nós mesmos e o outro, o trato satisfatório com os relacio- desafiadoras para o professor.
sobre nossa prática, a fim de que namentos interpessoais é condição Clementi (2001), nessa mesma li-
reavaliemos os critérios por meio dos sine qua non para o desempenho nha de argumentação, afirma que
quais nos posicionamos e nos de suas atividades, dado que sua “cabe ao coordenador fazer a
função primeira é a de articular o
direcionamos para essas realidades. interlocução com os professores, aju-
grupo de professores para elaborar
Assumido o pressuposto de que o projeto político pedagógico da
dando-os a amadurecer suas intuições
o coordenador é um agente de for- escola [...]. Na verdade, relações e superar as contradições entre o que
mação de professores no interior das interpessoais confortáveis são re- pensam, planejam e as respostas que
escolas, vários autores dedicam-se cursos que o coordenador usa para recebem dos alunos” (p. 54).
a pensar a especificidade de sua ta- que os objetivos do projeto sejam A pesquisa elaborada por
refa e as competências e habilidades alcançados [...]. As habilidades de Christov (2001), por ocasião de seu
necessárias a essa função. relacionamento interpessoal – o doutorado, interrogando coordena-
olhar atento, o ouvir ativo, o falar
Além da formação de professo- dores pedagógicos acerca dos co-
autêntico – podem ser desenvolvi-
res, Guimarães e Villela (2000) desta- das e, nesse exercício, o profissio- nhecimentos necessários ao exercí-
cam que o coordenador tem três ní- nal vai fazendo uma revisão de suas cio de sua função, confirma que os
veis de atuação, que não se excluem: condições de escola, de professor e saberes interpessoais são bastante
resolver os problemas instaurados; de aluno. destacados pelos profissionais, além
prevenir situações problemáticas dos saberes associados ao campo
previsíveis e promover situações Essa disponibilidade do coorde- das teorias pedagógicas e saberes
saudáveis do ponto de vista nador para ouvir os professores tam- específicos do fazer pedagógico. Na
educativo e socioafetivo. bém é levantada por Vieira (2002). pesquisa, todos os coordenadores
Esses níveis de atuação deman- Afirma que o ato de ouvir traz ao apontaram a necessidade de uma
dam uma competência relacional e um outro, enquanto fala, mudança na competência de comunicação com os
clima psicológico facilitador para que forma de se perceber, pois ouvir per- diversos atores da escola e de habi-
as relações interpessoais possam ser mite ao outro tomar consciência de lidades que seriam, fundamentalmen-
favorecidas. Almeida (2000) cons- si. Menciona ainda que te, estas: saber ouvir; saber dialo-
truiu uma abordagem, embasada no gar; enfrentar com paciência as re-
contexto da teoria rogeriana, valori- é necessário que o coordenador pe- sistências dos professores às mu-
zando o espaço para que formado- dagógico reconheça, no grupo de danças; construir relações de confi-
res e formandos se posicionem como professores com quem trabalha, os ança com os mesmos; ser flexível/
pessoas e sugere quatro momentos sentimentos que vão surgindo no não rígido.
no processo de formação: a) ouvir- processo de formação continuada Em síntese: defende-se uma coor-
que se propõe, identificando e pro-
falar, sustentado pela consideração denação que articula tempos de ação
porcionando momentos para os
positiva incondicional, empatia e professores exprimirem seus senti- e tempos de espera, descortinando
congruência; b) cultivar a leveza, mentos, para os compreenderem e uma postura interdisciplinar de escu-
comunicando ao outro que ele é um equilibrarem, favorecendo, dessa ta, acolhimento, confronto, ruptura,
parceiro, fazendo-o enxergar todos forma, a continuidade das mudan- diálogo, proposições, avanços e re-
os ângulos com senso de humor, sem ças na concepção de educação do cuos. (Batista, 2001)
amarguras; c) exercitar o planejar professor e, conseqüentemente, em
coletivo, trocando experiências, teo- suas práticas. (p. 63-64). O coordenador
rias, planos, entrelaçando os proje- pedagógico e suas
tos individuais num projeto coleti- Orsolon (2001) lista ações/atitudes crenças
vo; d) permitir aflorar o vivido, as do coordenador que podem ser
experiências significativas, possibi- desencadeadoras de um processo de A explicitação da atribuição do
litando a releitura das experiências e mudança. Entre várias, destacam-se coordenador pedagógico como
confronto com as situações do mo- a mediação da competência docente, agente desencadeador de um pro-
mento presente. o desvelamento da sincronicidade do cesso de formação contínua dos pro-
A qualidade das relações professor para torná-la consciente, fessores no interior das escolas,
200 interpessoais é destacada em outro a procura por atender as necessida- substituindo a visão da coordena-
trabalho por Almeida (2001, p. 78) ao des reveladas pelo desejo do profes- ção como controle, debate com um
afirmar que sor, o estabelecimento de parcerias modelo de formação tradicional dos

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próprios coordenadores que, como res, buscando promover a consciên- desenvolvimento dos profissionais
aponta Garcia (1995), pressupõem cia crítica da sincronicidade dos da educação, a formação centrada na
que os professores estejam educa- componentes políticos, humano- escola e a mediação do coordenador
dos e formados para as suas ativida- interacionais e técnicos da ação dos pedagógico supõe pensar as crenças
des docentes depois de concluídos professores. Essa perspectiva, defen- que orientam o trabalho dos mesmos
seus estudos. dida por Placco (1994), permite um e dão suporte à sua ação. A
A revisão do papel do coordena- movimento que produz novas com- explicitação das crenças como possi-
dor pedagógico, portanto, implica preensões do processo educativo, bilidade de reorganização do pensa-
também considerar a necessidade de uma reestruturação entre esses com- mento e consciência das ações
se perguntar pelas crenças dos co- ponentes e a (re)definição do proje- (Sadalla, 1998; Krüger, 1993) apresen-
ordenadores. Perguntar pelas cren- to pedagógico coletivo. ta-se como condição para uma forma-
ças, solicitando sua descrição, pro- Estudar as crenças dos professo- ção mais autêntica e produtiva.
voca uma reflexão sobre as próprias res é deter-se nas perspectivas, con-
ações, contribuindo para que as mes- vicções, teorias, princípios de práti- Referências
mas reflexões passem a nortear o pla- cas desses profissionais. Qual a im-
nejamento de ações futuras. Conhe- portância desse estudo? Segundo ALMEIDA, L.R. 2000. A dimensão
cer e avaliar as próprias crenças per- Krüger (1993, p. 14), “a pesquisa de relacional no processo de formação
mite ainda reorganizar o pensamento crenças e sistemas de crenças con- docente. In: E.B BRUNO; L.R.
ALMEIDA e L.H.S. CHRISTOV
e buscar fundamentar um corpo de tribui para o nosso entendimento do
(orgs.), O coordenador pedagógico e
conhecimentos (Sadalla, 1998, p. 36). mundo, da sociedade, da cultura e
a formação docente. São Paulo, Edi-
O conceito de crenças desenvol- de nós mesmos, inclusive de nossa ções Loyola, p. 77-88.
vido por Krüger (1993) é de que elas cognição, quer dizer, dos processos ALMEIDA, L.R. O relacionamento
são conteúdos psíquicos, represen- e conteúdos de nossa mente, dila- interpessoal na coordenação pedagó-
tações simbólicas, oriundos da nos- tando o nosso grau de consciência”. gica. 2001. In: V.M.N.S. PLACCO e
sa experiência e dos resultados que Envolvidos com a formação con- L.R. ALMEIDA (orgs.), O coordena-
dela advêm e que estão incluídas em tinuada de professores e coordena- dor pedagógico e o espaço da mu-
dança. São Paulo, Loyola, p. 67-80.
nosso mundo mental. Elas estão pre- dores, temos que considerar que as
BATISTA, S.H.S.S. 2001. Coordenar, ava-
sentes em nossa subjetividade e em decisões dos mesmos são influenci- liar, formar: discutindo conjugações
processos sociais, instalando-se na adas, sobretudo, pelas crenças, es- possíveis. In: V.M.N.S. PLACCO e L.R.
cultura e influenciando nossa exis- cala de valores, ideologia, rotinas, ALMEIDA (orgs.), O coordenador
tência pessoal e a vida coletiva. As estilo pedagógico e reações pesso- pedagógico e o espaço da mudança.
fontes de nossas crenças são as ais (Sadalla et al., 2002). As respos- São Paulo, Loyola, p. 109-118.
interações sociais e a experiência, tas aos problemas de natureza com- CAMPOS, S. e PESSOA, V.I.F. 1998. Dis-
cutindo a formação de professoras e
tanto sensorial quanto cognitiva, e plexa e imprevisível, marcadas por
professores com Donald Schö. In:
são reconhecidas especialmente pela incertezas e conflitos de valores do C.M.G. GERALDI; D. FIORENTINI e
linguagem (e outros indícios cotidiano da escola e expressas por E.M.A. PEREIRA (orgs.), Cartografi-
comportamentais). São elas que comunicações, ações e comporta- as do trabalho docente: professor(a)-
norteiam nossas ações, fornecendo- mentos, estão assentadas, princi- pesquisador(a). Campinas, Mercado de
lhes sentido e direção. Os sistemas palmente, nas crenças dos professo- Letras, p. 183-206.
de crenças – conjunto estruturado res. As mesmas autoras destacam que CANÁRIO, R. 2000. A experiência portu-
guesa dos Centros de Formação das
de argumentos e teorias, associados os pressupostos que sustentam o
Associações de Escolas. In: A.J.
de forma lógica – fornecem explica- paradigma que estuda o pensamento
MARIN (org.), Educação continuada.
ções e alimentam expectativas em do professor durante sua atividade Campinas, Papirus, p. 63-88.
relação ao futuro, conferindo moti- profissional são os de que “o profes- CHRISTOV, L.H.S. 2001. Sabedorias do
vação e norte à conduta. Convém sor é um sujeito reflexivo, racional, coordenador pedagógico: enredos do
ressaltar, entretanto, que as relações que toma decisões, emite juízos, tem interpessoal e de (com) ciências na
interpessoais, além de gerar, também crenças e engendra rotinas próprias escola. São Paulo, SP. Tese de Douto-
podem modificar ou eliminar crenças. de seu desenvolvimento profissional; rado em Educação. Pontifícia Univer-
sidade Católica de São Paulo – PUC-
O coordenador, em seu próprio os pensamentos do professor guiam
processo de formação contínua, deve e orientam sua conduta” (p. 101).
SP, 161 p.
CLEMENTI, N. A voz dos outros e a nos-
201
se preparar para trabalhar com as Se tendemos a ser e a viver de acor- sa voz. 2001. In: V.M.N.S. PLACCO e
crenças do seu grupo de professo- do com as nossas crenças, pensar o L.R. ALMEIDA (orgs.), O coordena-

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Renata C. O. B. Cunha

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Renata C. O. B. Cunha
Universidade de Campinas

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Educação Unisinos

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