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II

A escola, o coordenador
pedagógico e a formação

O projecto eclucativo de escola constitui o instru-


mento essencial de uma gestão estratégica do esta-
belecimento de ensino, cuja construção e avaliaçào,
nas suas diferentes facetas, se configuram como eixo
fundamental de um processo de formação contínua
dos proÍessores. É portanto num quadro mais global,
balizado pelo projecto educativo de escola, que deve
ser pensado e concretizado o plano de formação.
Rui Canário

O projeto educativo da escola, conforme salienta o autor em


epígrafe, tem um papel essencial na organização da instituição esco-
lar e constitui-se no eixo do processo formativo centrado na escola.
Essa compreensão deve considerar a complexidade do espaço escolar
que é público e historicamente situado, cujas ações são conduzidas
por seus profissionais, entre eles o coordenador pedagógico. Assim,
a formação contínua ganha diferentes sentidos e significados eln tazào
das diversas relações que o projeto educatirro estabelece.
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() oLrjctivo, ncste ponto, é analisar tr relação entre n escola, a coor- A escola é habitualmente pensada como o sítio onde os alunos aprendem
dcn;rção pedagógica e a formação, para tanto, são destacados os papéis, e os professores ensinam. Tiata-se, contudo, de uma ideia simplista, não
no projeto político-pedagógico, do diretor e do supervisor de ensino apenas os professores aprendem, como aprendem, aliás, aquilo que é
imbricados no trabalho do coordenador pedagógico e na formação verdadeiramente essencial: aprendem a sua proJissão (grifos do autor).
contínua do docente. Essa análise visa determinar a contribuição e a
influência desses segmentos na articulação dos projetos de formação. Para o autor, a escola apresenta as melhores condições para a
formação contínua do docente, pois é lá o lugar onde o professor or-
ganiza e exercita sua prática, num contexto dinâmico que possibilita
1. A instituição escolar e a coordenação pedagógica o exercício de uma reflexão orientada pela própria prática pedagógica.

construindo uma competência formadora A formação contínua na escola não assume caráter compensató-
rio nem diminui a importância e a necessidade da formação inicial
Ntivoa (2001) menciona cinco fases formadoras dos professores, dos professores, concentradas nos cursos de Pedagogia e de licencia-
t;rriris sejam: a experiência do docente como aluno na educação de tura. Esses cuÍsos devem caracterizar-se por sua excelência e nào por
lr.rsr'; sua formação inicial; o estágio superrzisionado; os prirneiros um processo de progressiva subordinação da formação profissional
,ur()s na profissão, e a formação continuada. Algumas dessas fases à lógica tradicional da universidade clássica, baseada na valorização
irt'ontecem em simultaneidade: na formação i.nicial, o futuro docente de conhecimentos desvinculados das demandas, da realidade coti-
diana da educação, verificadas nas diversas escolas espalhadas pelo
',i'c o papel de aluno e de estagiário, e a formação contínua pode nosso grande território nacional.
i.icierr-se já nos primeiros anos de docência, na perspectiva de for-
nração em serviço. A ênfase na profissionalização continuada, na prática reflexiva e
Atualmente, no Brasil, assume especial relevância a discussão nas dimensões sociais e po1íticas do trabalho pedagógico na escola
sobre a formação contínua do docente em serviço. Isso ocorre em faz oposição a uma concepçào que, protegida pelo discurso da qua-
virtude de pressões externas, especialmente do Banco Mundial,r que lidade e pela pseudoneutralidade das avaliações institucionais, tende
trdvoSSa um direcionamento maior dos recursos aplicados em forma- a atribuir ao professor a responsabilidade pela baixa qualidade da
ção docente para a formação contínua, aligeirando a formação inicial. educação, pelo fracasso educacional.
Em se tratando da formação contínua, são profícuos os estudos Não obstante, a produção na área da formação docente no Brasil
que apontam a escola como locus de formação docente, principalmen- e no exterior tem atribuído à escola e às socializações profissionais
te pela proximidade com a prática educativa, favorecendo a reflexão desenvolvidas nesse espaço uma especial importância como elemen-
sobre a ação. Autores como Nóvoa (1999,2007); Canário (1997,2006); to de formação contínua do docente, principalmente quando enfoca
Fusari (1997,2007); Alarcão (2007); Libâneo (2003) e ourros têm corro- a escola como contexto de ação e reflexão do professor, ressignifican-
borado essa ideia. Canário (1997, p. 1), refletindo sobre essa temática, do-a, tornando-a um lugar onde os professores aprendem a profissão
l-az a seguinte afirmaçào: pela relação entre a teoria (pesquisas, estudos, discussões e trocas de
experiências) e a prática (sa1a de aula).
l
sobre o Banco Mundial e as poríticas públicas, ver Touasr, L. de; wan»n, M. Corrobora também, para essa reflexão, o debate atual que valo-
J.; Ha»r,n,
s. (orgs.) o Banco Mundíal e as polítícas educacionnis. são patrlo: Cortez, zoo0. riza as experiências profissionais docentes como reveladoras de uma
i\ll lrl lr)l\llillr ll , ,II II I , ,l , I

par:tir rla ;-rrritica, lrunr pr()cr)sstl tlt'r-tflcxiitr


('[)istcnr()l()giir construídtr tr Marcclo (iirrcia (l9cl9, p. l7l), ao colrsiclclirr irsl',t.t'tos rt'lt.r't,rrlt': ,

sobre o Íazer. Nóvoa (7992); Schon (7992); Marcelo Garcia (7999); r) formação na escoJa, ressarlta qr-re tal conccpçiio tcr.n corrro l)r'irrt rl,io
Sacristán (1995) ; Contreras (2002) ; Pimenta (1,996, 1998, 2002a), entre "[...] entender: a escola como Iugar onde suÍgem e se porlc rt'solvcr',r
outros, vêm enfatizando que o professor é um profissional que refle- maior palte dos problemas de ensino". Tâl análise prcssu[')irt'o t'rr
te sobre o seu saber e o seu sabetÍazer, contextualizado num proces- r.,olvimento dos educadores não só no processo de clctr.:ctiu-()s [)11 )

so de profissionalização contínua que reorienta suas concepções e a blemas, mas, sobretudo, na proposição de soluções locais. I)inrt.rrt,r
sua prática. (2002a, p.72-3) confirma essas ideias, quando faz a seguirrte rcflcx.ro.
A expressão formoção contínua será tomada como tm continuum "Trabalho coletivo significa tomar a problemática da escola colctivir
formativo que tem sua origem na formação inicial, compreendendo mente com base na individualidade de cada unt, da colabor'.rç-iio t,'
um processo que acompanha toda a vida do educador. A formação pecífica de cada um, em direção a objetir.os comuns [...]". A atrtor-,r
contínua centrada na escola constitui-se numa das modalidades de destaca a implicação pessoal como um fator decisivo nas ações colc
formação contínua que visa, nesse cotúinuum, ao desenvolvimento tivas, o que inclui a formulação da própria formação contínua rlrrr',
profissional, teórico e prático do educador no próprio contexto de poÍ se caracterizar como processo compartilhado, pode siS5nil'icirr
trabalho. adesões e resistências de alguns da equipe.
No entender de Libâneo (2003), acompanhar a formação contínua, Os projetos de formação desenvolvidos fora da escola em cur"s()s,
dentro da jornada de trabalho, é uma tarefa que envolve o setor pe- seminários e palestras caracterrzam-se por focar os temas de educaçirt,
dagógico da escola, ou seja, o coordenador pedagógico. Nas palavras de modo amplo, e também têm seu valor e importância, no entanto,
do autor: a formação na escola consegue considerar aspectos da singularida'rclt'
de cada unidade educativa, que tem se caracterizado como uma cli-
[...] é na escola, no contexto de trabalho, que os professores enfrentam ficuldade pedagógica para aquela comunidade educativa.
e resolvem problemas, elaboram e modificam procedimentos, criam e
recriam estratégias de trabalho e, com isso, vão promovendo mudanças
Malcelo Carcia (1999) sugere que o êxito no processo de forma-
pessoais e profissionais (Libâneo, 2003, p. 189). ção centrado na escola diz respeito às condições para essa iniciativa,
ou seja, a necessidade de liderança (diretores, professores); o clima
relacional entre os mernbros da escola, influenciado pela cultura glr-r-
Assim, a escola torna-se um lugar profícuo para a formação,
porque congrega a atividade profissional, a possibilidade de reflexão pal e pela cultura do meio; os próprios professores e sell comprom('-
sobre a açáo, bem como um profissional específico para promovê-la. timento com um projeto voltado à melhoria da escola; e a naturezir
da formação proposta, se reflexiva, dinâmica e sensível ao contexto.
No entanto, a simples conjugação de esses três fatores não basta
Todos esses aspectos contribuem para o bom desenvolvimento dessa
para promover mudanças na profissionalidade docente. Esse é um
modalidade de formaçào.
processo complexo que precisa considerar as necessidades profissio-
nais dos professores, tanto dos iniciantes como dos veteranos, ou seja, Ao enumerar o autor reafirma a importância
essas condições,
envolr.er todos os profissionais nas discussões e nas decisões peda- do coordenador pedagógico na liderança do processo formativo
gógicas; na elaboração e na ar.aliação do projeto político-pedagógico; desenvolvido na escola, embora não use esse termo especificamer-rtc.
na organização de projeto de estuclo; e nas reuniões para a discussão A ideia de um "líder" ou coordenador que promova o processo re-
da priitica pedagógica. flexivo está explícita, bem como o compromisso coletivo e individual
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,lor; t', lu,.r,lot't's. l',nr cottt'ot'tliincia c()nr () aut()r) (' ;-rossír,t'l .tlti t'lttar Li a rr i cl o (2Ol)7 ), F-u sari (1 997, 2007 ), Chris tov (200 1, 2005), Libâ r'r c«r
(lU(,() r'oortlt'narlor coorclcnâ Llm grttp() r-le L)essoas, homcns c mu- (2003) têm apontado a coordenação da formação contínua em serviço
llrt'r'r's (lr.l('fi('rlisp'ruscram el pensar coletivamente sobre o seu fazer como um dos aspectos fundamentais do trabalho do coordenador
(' () ('sl)ir(,() socirrl em clue esse fazer se desenrola. pedagógico. Registram também a natureza complexa desse tipo de
l,ibânco (2003) acrescenta que cabe ao coordenadoÍ a difícil ta- intervenção no espaço escolar em que as concepções de educação são
rr'Íir tlt'auxiliar o professor no desenvolvimento do trabalho pedagó- diversas. Nesse sentido, o trabalho ganha significado se tem seu foco
riico rlc rnodo a contribuir com a melhoria da qualidade do ensino, na compreensão da realidade escoiar e seus desafios, ao se somarem
t trnstrLrindo e administrando situações de aprendizageffL adequadas esforços na construção de um sentido coletivo das ações pedagógicas
,rs rrtccssidades educacionais dos alunos, por meio da reflexão e da em que sejam consideradas alternativas que se mostrem adequadas
irrvt'stigtrção. Esse procedimento está associado ao processo de for- aos desafios enfrentados pelos professores.
nr;rq-ilo contínua e sistemática que considera as necessidades dos Esses mesmos autores também apontam o perigo de a formação
t'tl u caclores envolvidos. na escola ficar restrita a esse território e, apenas, sob o olhar do coor-
Subsidiar a reflexào dos professores em serviço, problematizan- denador pedagógico, pois entendem que é benéfico e relevante os
tlo as razões que justificam suas opções pedagógicas e suas dificul- educadores (professores e o próprio coordenador) terem suas práticas
tlirtlcs, pode favoÍecer a tomada de consciência dos professores problematizadas em outros espaços, assim como trocarem experiências
sobre suas ações e estimular a pesquisa em torno dos conhecimentos com outros profissionais que encontraram soluções pedagógicas di-
(lu(l os levem a superar essas circunstâncias. Assim, a formação ferentes para problemas comuns nas escolas.
t'ontínua centrada na escola possibilita a mudança educativa pelo Na última década, principalmente, observou-se que o discurso
t'nvolvimento do professor no pÍocesso de desenvolvimento profis- da escola como locus de formação docente rompeu as esferas acadê-
sicrnal. Candau (1997, p. 57) reafirma a importância da escola como micas e tem sido incorporado pelas políticas públicas que, via de
/trcrs de formação: regra/ apostam nesse modelo de formação como aquele capaz de
promover o desenvolvimento profissionai docente na direção das
[...] considerar a escola como locus de formação continuada passa a ser políticas educacionais propostas pelos gestores dos sistemas de ensi-
uma afirmação fundamental na busca de superar o modelo clássico de no, além de oportunizar a economia de gastos decorrentes da forma-
formação continuada e construir uma nova perspectiva na área de
ção contínua promovida por meio de cursos fora da escola.
formação continuada de professores. Mas este objetivo não se alcança
Nessa perspectiva, alguns estados e municípios têm se organi-
de maneira espontânea, não é o simples fato de estar na escola e de
zado para criar as condições para que as escolas desenvolvam a
desenvolver uma prática escolar concreta que garante ar presença de
formação. O estado de São Paulo consolidou essa ideia com a con-
condições mobilizadoras de um processo formativo. Uma prática repe-
titiva, uma prática mecânica não favorece esse processo. Para que ele quista do Horário de Trabalho Pedagógico (HTP), no final da década
se dê, é importante que essa prática seja uma prática reflexiva, uma de 1980, e da figura do professor-coordenador que foi criada na mes-
prática capaz de identificar os problemas, de resolvê-los, e cada vez ma época.2 O município de São Paulo criou o cargo de coordenador
mais as pesquisas são confluentes, que seja uma prática coletiva, uma
prática construída conjuntamente por grupos de professores ou poÍ 2. Vale ressaltar que anterioÍ a esse momento, as escolas estaduais contaram com a
todo o corpo docente de uma determinada instituição escolar. presenÇâ do coordenador pedagógico, porém, não havia a conjunção êntre o exer.cício da
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() ('r)r l()fi5 r't'stitLlclt'r't'tt .t.f ornittlrr clc'lL,nrpro lntegral (J I'l) orienta, necessarir'll-t'tct'ttc, cssir rcflcx.io
Ussc aspccto drr forrnirção
t'rtt ltlt).'. para a singularidade dos espaços escolares. Nenhuma escola é igual
As políticirs cciurctrcionais paulistars ilustlam bem a ideia de qtLe à outra, assim como é única cada turma na escola. Por isso, as trocas
,r lonrr.rç'iro contírna na escola exige tempo para o desenvolvimento de experiências tornam-se tão singulares e particulares como cada
tlt' rrrlr pr()gram(l de forrnação e a presença de um profissional que a espaço educativo.
iu'lit'ttlr. A formação desenvolvida no espaço escolar corrobora a ideia de
()s tcírricos Canário (1997), Nóvoa (7992,2002) e l\4arcelo Garcia que os professores são capazes de decidir coletivamente sobre o que
(l()9()), ao enfatizarem a escola como loctLs de formação, reafirmam a querem aprender para alcançar os conhecimentos e as comPetências
Pela superação da dicotomia entre teoria e prática que durante
I,r rst.'ir que consideram necessárias para o seu desenvolvimento profissional.
rrrtrito tempc-r separou e ainda separa os pesquisadores daqueles Marcelo Garcia (1.999, p. 150) salienta que tal postura é:
- -
(
lu(' ('x()r"cem a docência. Para Fusari (1997, p. 1,67), em uma formação
,rssin-r organizada,"l...) a escola teria, a partir do diagnóstico de suas [...] coerente com os princípios de formação de adultos, na medida em
nt'ccssidades, vários e diferentes projetos em andamento [...]", que, que os adultos aprendem de forma mais adequada quando são eles que
lx)r estarem localizados na escola, considerariam o percurso biográ- indicam e planejam as atirridades de desenvolvimento profissional.
Íico de seus profissionais, o exercício do trabalho e a necessidade de
lt'flcxão sobre a ação profissional como fatores decisivos ao processo Fusari (1,997) acrescenta que o desenvolvimento profissional
tlt, prrodução da profissionalidade docente. docente pressupõe condições subjetivas e objetivas de trabalho:

Nesta perspectiva, a produção (e a mudança) das práticas profissionais A formação contínua na escola e fora dela depende, como dissemos,
rernete, fundamentalmente, para o processo de sociaiização profissional, das condições de trabalho oferecidas aos educadores, mas depende
vivido nos contextos de trabalho, onde coincidem, no espaço e no tem- também das atitudes destes diante de seu desenvolvimento profissional
po, uma dinâmica formativa e um processo de construção identitária
[...]. Cada educador é responsável por seu processo de desenvolvimen-
(Canário, 1997, p. 2). to profissional; cabe a ele o direcionamento, o discernimento e a decisão
de que caminhos percorrer (Fusari, 7997, p. 177).
Para CanáÍLo (1997), aspectos como a tÍoca de experiência ou,
como por ele denominado, a socializaçã.o profissional, passíveis de Nesse sentido, a formação do docente na escola, longe de ser
serem desenvolvidos nos espaços coletivos da escola, fazentcoincidir, apenas um deslocamento do espaço formativo, é, antes de tudo, uma
nesse espaço/tempo de formação contínua, a prática docente e a re- possibilidade de ação com vistas a uma nova concepção de formação
flexão sobre a prática, tornando-o especialíssimo para o desenvolvi- contínua do docente, produto de uma construção histórica, da com-
mento profissional docente. plexa dinâmica da escola objetivada, das relações estabelecidas pelos
sujeitos envolvidos nesse processo e das condições oferecidas.
coordenação e a jornada dos professores. Também, a presença desse profissionai, nesse pri- Nóvoa (2002) destaca a imprevisibilidade do que acontece na
melro momento, não estava explicitamente associada à formação do professor, salvo raras
exceções como as desenvolvidas no antigo Co1égio Experimental d.a Lapa, conforme relato
escola como um dos aspectos a seÍem considerados na formulação
de Salvador (2000). de processos de desenvolvimento profissional centrados nesse espa-
I,\til| lrlrtill, ,ll,,1rrl',r,,lrrr

ço. entende que o professor precisa rejeitar a posição de loln-rtrtivas da escola; 3) a corresponsabilidacle dos professores ;rtlo
^(lcmais,
tócnico e assumir-se como profissional crítico-reflexivo. seu desenvolvimento profissional; 4) o investimento num profissiona I
(coordenador pedagógico) habilitado para promover a reflexão parir
A forrnação contínua deve contribuir para mudança educacional e para além de uma sociahzaçáo profissionai que se caracterize pela mera
ir rcdefinição da profissão docente. Neste sentido, o espaço pertinente troca de "receitas de atividades".
da formação contínua jánão é o professor isolado, mas sim o professor
Aos dados da pesquisa, somam-se as falas dos autores que refe*
irrserido num corpo profissional e numa organizaçáo escolar (Nóvoa,
rendam a ideia da escola e da formação vistas de maneira conjugada.
2002, p.38).
A coordenadora Maria Vitória, quando questionada sobre a contri-
buição do seu trabalho paÍa a organízaçáo do coletivo escolar, faz a
A organização da escola, para dar conta da formação, pressupõe
seguinte análise:
l,r'olt'ssores envolrridos com um processo de "autoformação", que é
t onligtrrado nas trocas de experiências qualificadas, clu seja, na so-
Eu acho que a maior contribuição é a organização dos processos de
t'i.r lização crítica, com outros profissionais, das experiências docentes,
formação. [.] Se o coordenador não cuidar disso, ninguém mais vai
rrrorliacla pelo coordenador pedagógico, assumindo, como diz Nóvoa
cuidar. Isto é o prioritário, poíque está junto do pedagógico. Se o pro-
(2(X)2, p. 39), o papel ora de formador, quando relata, ora de forman- fessor não tem formação, o processo pedagógico fica estagnado, pois
tlo, 11 Lrando na condição de ouvinte. Para o autor, a partilha dos ele tern que estar sempre discutindo e aprendendo, não só por meio
conhercimentos profissionais é o "[...] processo que pode conduzir a clas práticas, mas também peio conhecimento teórico.
rrrrir produção pelos próprios professores de saberes reflexivos e
l)('t'tittentes". As considerações das outras coordenadoras entrevistadas somam-se
Nessa perspectiva, o processo formativo do docente no espaço ao depoimento da coordenadora N'Iaria Vitória e revelam uma ênfase
t'scolar não pode ser concebido, pelas políticas públicas, como um no modelo formativo centrado no espaço escolar, cuja articulação foi
trcino, em que os momentos coletivos se transformem numa condição descrita como a atribuição principal do trabalho da coordenação peda-
;rara transmitir conhecimentos ou treinar o profissional que deverá gógica, ou seja, dar apoio, sustento organizacional e pedagógico aos
rcproduzir as experiências apreendidas no exercício da docência. Este professores, de modo a favorecer o desenvolvimento profissional do-
rnodelo de formação não leva em conta as demandas reais da insti- cente e, consequentemente, a melhoria da aprendizagem dos alunos.
tuição de ensino, pois atua sempre de forma genérica.
A formação contínua na escola deve estar orientada por um pa-
radigma apoiado no trabalho coletivo, na investigação, pelos profes- 2. O projeto político-pedagógico (PPP): orientador do trabalho
sores, da prática pedagógica, e na cooperação dos educadores em prol de formação docente
c1o desenvolvimento profissional e da melhoria da educação ofereci-
da aos discentes. Esses moldes implicam a organízação de uma es- A proposta de formação do docente na escola não é uma ação
trnttrra que pode ser caracterizada, de maneira mínima, por quatro descolada de uma estrutura organizativa, de um compromisso com
aspectos: 7) a organização do tempo/espaço na escola para desenvol- os alunos e com a comunidade, de intenções formativas e do trabalho
ver esse processo de formaçã o;2) a aproximação com as necessidades coletivo. Ou seja, tal proposta deve estar inserida no projeto político-

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