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FORMAÇÃO DOCENTE: SABERES E FAZERES

Denise Rosa Medeiros1 - UDESC

Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este trabalho relata uma ação de extensão, resultado das atividades de ensino e estudos
realizados na Disciplina de Estágio no Curso de Pedagogia do Centro de Ciências Humanas e
da Educação – FAED, da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, que se propôs
inicialmente, conhecer e pensar o espaço da escola e da sala de aula, sua organização e as
relações estabelecidas, bem como as possibilidades da prática pedagógica. Com isso,
desenvolvemos o projeto de extensão intitulado “Saberes e fazeres no contexto da formação”,
que teve como objetivo à formação continuada de professores e educadores das escolas
públicas de Florianópolis/SC, vinculadas ao estágio supervisionado do Curso. Entendemos
que o processo de mudança na prática pedagógica dos profissionais da educação requer
formação permanente, seja nas dimensões técnicas-metodológicas, seja nas dimensões social,
política e humana. As temáticas trabalhadas durante a formação partiu do cotidiano e das
demandas do contexto escolar, espaço de formação do pedagogo, procurando a articulação
com o projeto de cada unidade e a valorização da experiência profissional dos professores,
direção e equipe pedagógica, oportunizando teorizar sobre a prática cotidiana num processo
reflexivo sobre o saber docente e de construção desse saber. Propomos, sobretudo, o
aprofundamento teórico, de maneira a orientar e promover o aperfeiçoamento da prática
pedagógica, a construção de propostas coletivas e a interação entre os profissionais da área,
destacando e divulgando sobre a necessidade do caráter contínuo do processo de formação
docente. Com este trabalho, constatamos um envolvimento maior das escolas, na qual
começaram a pensar além de um tema e/ou conteúdo específico, decisões individuais para
pensar no coletivo, no aluno e no seu contexto.

Palavras-chave: Formação docente. Saberes e fazeres na docência. Estágio de pedagogia.


Formação continuada.

1
Graduada em Pedagogia e Serviço Social; Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS/RS; Professora titular no Curso de Pedagogia do Centro de
Ciências Humanas e da Educação, da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC nas áreas de Didática
e Estágio Supervisionado. Desenvolve pesquisas e ações de extensão na área de formação de professores com
ênfase em Práticas Pedagógicas, Formação continuada, Planejamento e Avaliação. E-mail: f2denise@gmail.com.

ISSN 2176-1396
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Introdução

Este artigo apresenta resultados de um projeto de extensão, decorrentes das atividades


de ensino e estudos realizados na disciplina de Estágio Supervisionado do Curso de
Pedagogia, do Centro de Ciências Humanas e da Educação - FAED, da Universidade do
Estado de Santa Catarina – UDESC.
Nosso ponto de partida para o desenvolvimento do projeto de extensão intitulado
“Saberes e fazeres no contexto da formação” foi os estudos e atividades desenvolvidas
durante o estágio curricular supervisionado do Curso de Pedagogia, considerando a sua
importância e resultados no processo de formação, entendendo a escola como uma instância
fundamental na formação de professores, reconhecendo-a como um espaço de produção de
saber. As escolas campos de estágio fornecem, além de um espaço de exercício profissional
inicial, elementos para uma análise dos saberes e fazeres inerentes ao seu cotidiano e sobre a
própria formação que as Universidades oferecem.
O trabalho aqui descrito foi desenvolvido em 2014 e visou oferecer atividades de
formação continuada, propondo a reflexão conjunta sobre questões e temáticas oriundas do
contexto escolar. Funcionou como um espaço de encontro com docentes e equipes
pedagógicas de escolas públicas municipais de Florianópolis/SC, vinculadas ao estágio
supervisionado do Curso de Pedagogia, propondo uma ação integrada e cooperativa entre
universidade e escola.
Neste sentido, observando e acompanhando as práticas pedagógicas desenvolvidas no
contexto escolar, a partir dos projetos de estágio, desenvolvidos com os alunos do curso de
Pedagogia, e, ainda, a partir da solicitação dos professores e equipe pedagógica das escolas,
constatou-se a necessidade da elaboração de projetos direcionados à formação continuada.
Vimos na extensão a possibilidade da Universidade contribuir com o cotidiano da escola
pública de nossa região. Para além da universidade, a escola precisa ser vista também como
um local de formação. Não basta apenas interpretar a realidade, mas dar significado ao que
vemos e lemos. Em alguns casos, parece que, tanto para o aluno como para o professor, no
momento da formação na graduação, a escola é apenas um objeto a ser observado, num
determinado momento, que é o estágio supervisionado, e que para aquele espaço nem
professor, nem aluno irá retornar. Segundo Nóvoa (2007, p.28) “[...] o desafio consiste em
conceber a escola como um ambiente educativo, onde trabalhar e formar não sejam atividades
distintas”.
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Entendemos a formação continuada no contexto escolar como um momento, um


espaço e tempo, que não acontece sem a participação do professor, mas este sendo envolvido
como sujeito do próprio projeto formativo, na qual a formação privilegia a reflexão e a troca
de vivências no cotidiano educativo, deixando para trás a concepção de “treinamento”.

[...] a formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de


técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e
de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante
investir a pessoa e dar estatuto ao saber da experiência (NÓVOA, 1995, p. 25).

Importante que a escola defina coletivamente o seu projeto de formação, envolvendo


neste movimento a experiência, os valores e o compromisso de cada um. Assim, a construção
de um projeto de formação para professores precisa estar relacionada com o contexto escolar,
partindo dos aspectos concretos referentes às situações que perpassam a dinâmica da escola e
da sala de aula, contextualizando, valorizando os saberes construídos pelos professores,
proporcionando o diálogo.

[...] criar condições para que os professores possam compartilhar, discutir os


diversos saberes que estão envolvidos na atividade docente e não simplesmente
apresentar modelos e conteúdos. Dessa forma, os diferentes saberes construídos ou
fabricados no cotidiano escolar possuirão elementos significativos e fundamentais
para a construção de novos caminhos e novas práticas singulares (FERREIRA,
2005, p. 63).

Sendo assim, o processo de formação desenvolvido com as escolas teve como ponto
de partida o saber da experiência dos professores e comunidade escolar, os problemas e
desafios da prática escolar. Para Selma Garrido Pimenta (2004, p. 130):

A dinâmica de formação contínua pressupõe um movimento dialético, de criação


constante de conhecimento, do novo, a partir da superação (negação e incorporação)
do já conhecido. Além do mais, permite que se leve em conta a vasta gama de
experiências que o professor vivenciou e vivência historicamente em seu cotidiano.

É vital considerar o caráter contínuo do processo de formação do profissional da


educação como um processo reflexivo e de construção de um saber que o constitui,
entendendo que, com a proposta de formação continuada, não se tem intenção de levar
receitas, mas de ampliar a discussão de fundamentos e estratégias para a organização do
trabalho pedagógico e pensar de forma coletiva, interdisciplinar e contextualizada as práticas
no contexto escolar.
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O caminho percorrido

As reflexões constantes sobre a nossa ação profissional seja no desenvolvimento da


Disciplina Estágio Supervisionado e/ou no curso de Pedagogia a qual estamos vinculados, nos
desafia a escutar, a olhar, a discutir e buscar respostas às situações que emergem deste
contexto na qual atuamos e que é foco de nossas reflexões e inquietações. O contato direto
com as escolas como orientadora de estágio e com os diversos profissionais que atuam nesta
realidade, bem como com a comunidade escolar, propicia um permanente espaço de
questionamentos, desafios e possibilidades.
É um desafio para a nossa Universidade pública e para o curso de pedagogia, não
somente trazer à tona as questões levantadas na realidade em que atuamos, mas,
principalmente, buscar possibilidades, que respondam as questões e situações levantadas.
Considerando o grupo de professores e equipe pedagógica das escolas em foco,
destacamos como uma das metas da Disciplina de Estágio Curricular Supervisionado, a
compreensão e importância da parceria e de um efetivo e contínuo trabalho que possibilite um
pensar e um fazer comprometido diante dos grandes desafios. É refletir na ação, sobre a ação,
como afirma Selma Garrido Pimenta (1995, p. 38), na qual “o trabalho docente é a práxis em
que uma unidade teórica e prática se caracterizam pela ação-reflexão-ação”. Num movimento
permanente de interação entre teoria e prática . Não significa apenas pensar o como fazer, em
como elaborar e aplicar técnicas de ensino – mas significa a compreensão do mundo, do
contexto, dos valores e da ética profissional.
É importante criar condições para que os professores possam compartilhar, refletir
sobre os diversos saberes que estão envolvidos na atividade educativa, sem impor modelos e
conteúdos. Dessa forma, os diferentes saberes construídos ou fabricados no cotidiano escolar
possuirão elementos significativos e fundamentais para a construção de novos caminhos e
novas práticas singulares.
Hernández (1998) defende a ideia de que existem condições para que aconteça a
aprendizagem do docente. Precisamos considerar a história de vida do professor, sua
biografia, crenças, prática e a disposição para aprender. Para tanto, segundo este mesmo autor,
é necessário analisar alguns aspectos no planejamento de uma proposta de formação contínua,
tais como: Considerar que os docentes não partem do zero, pois possuem uma formação e
uma experiência durante a qual adquiriram crenças, teorias pedagógicas e esquemas de
trabalho; Conceituar a prática da formação a partir das experiências concretas e sua análise,
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reflexão e crítica; Considerar a formação a partir da comparação e do questionamento da


própria prática e em relação a outros colegas. Isso exige na formação um componente de
coordenação e colaboração.
Acreditamos que na Universidade e na Escola, o desafio é a superação da reprodução
para a produção do conhecimento, que supõe repensar algumas questões que vão da seleção
de conteúdos e do modo de conceber a construção do conhecimento à dinâmica do cotidiano
das instituições educacionais, e ainda, das salas de aula, incluindo os tipos de trabalhos
propostos, os processos avaliativos, a construção de normas, etc., assim como também a
formação inicial e continuada de professores e de educadores em geral.
Um processo compartilhado de investigação e ação permite a articulação concreta de
trabalhos e atividades num projeto curricular, significativo e sincronizado com a realidade na
qual o aluno e futuro profissional vão atuar, numa atividade teórica e prática que caminha
junto.
Portanto, a ação aqui apresentada, promoveu uma formação continuada com proposta
de abordagem reflexiva de situações retiradas diretamente do contexto onde atuam os
participantes do projeto, buscando elementos que possibilitaram a busca pela melhoria da
qualidade da atuação dos profissionais envolvidos, num processo de construção teórico e
prática em parceria e cooperação entre universidade e escola.
As atividades de formação foram realizadas através de acompanhamento in loco (com
os estágios do curso de pedagogia), assessoria didático-pedagógica, oficinas pedagógicas,
participação em reuniões, organização de palestras, formação de grupos de discussão e estudo.
As temáticas foram baseadas nas observações e nos dados levantados por meio de um
questionário, direcionados as questões consideradas imprescindíveis para o contexto escolar.
O levantamento e o constante contato com as escolas possibilitou definir a metodologia a ser
utilizada na formação; período e carga horária; além de outros elementos de formatação do
projeto. A partir desse levantamento surgiram temas como: Trabalho coletivo, planejamento,
avaliação e a promoção automática, relação escola e família, entre outros.
O Projeto foi desenvolvido em escolas de Ensino Fundamental da rede de ensino
municipal de Florianópolis/SC, possibilitando a formação de 60 (quarenta) educadores, que
ocorreu em forma de oficina pedagógica, com os temas: “Desafios da relação
professor/aluno”, “Ler e escrever compromisso de todas as áreas do conhecimento”, “O que é
ser professor?”.
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Com as atividades de extensão, direcionada a formação continuada, foi possível


promover uma reflexão crítica junto aos educadores, na perspectiva de construir
possibilidades didático-pedagógicas de forma compartilhada e autônoma. Dessa forma, a
Universidade não apareceu como detentora do saber, mas como promotora de um processo
que repensa as ações docentes - pelas quais também é responsável através de seus cursos -
cujos agentes e autores principais são os educadores que vivem e constroem o cotidiano
escolar, mesmo diante de tantas adversidades.
Os principais objetivos propostos para a ação foram: Refletir sobre o trabalho
pedagógico, desenvolvido nos contextos escolares, interligando os diversos saberes, buscando
a interação e parceria entre universidade e o contexto escolar; Assessorar as escolas
envolvidas no processo de estágio supervisionado, no que tange a didática, construção de
estratégias e metodologias de ensino-aprendizagem, reflexão e execução do PPP,
planejamento, avaliação, etc.; Promover através de oficinas pedagógicas, formação de grupos
de discussão e estudos, palestras, cursos, assessoria, etc., possibilitando a troca de
experiências e a formação voltada para as questões da escola, destacando a importância da
dimensão coletiva na produção dos saberes profissionais, o caráter interdisciplinar e a
interação com a comunidade.
Assim, após as oficinas e encontros pedagógicos, foram realizadas avaliações,
servindo de parâmetro para as outras formações.
O projeto envolveu professores do Centro de Ciências Humanas e da Educação da
UDESC, que atuaram como mediadores durante a realização das oficinas e, contou também,
com a colaboração de duas bolsistas de extensão, sendo uma voluntária e outra contratada
pelo projeto.
Consideramos que a formação contínua pode constituir um importante espaço de
ruptura, estimulando o desenvolvimento profissional. Para Nóvoa (1995, p. 27),

a formação pode estimular o desenvolvimento profissional dos professores, no


quadro de uma autonomia contextualizada da profissão docente. Importa valorizar
paradigmas de formação que promovam a preparação de professores reflexivos, que
assumam a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento profissional que
participem como protagonista na implementação das políticas educativas.

Portanto, o aprender contínuo é essencial e depende da própria pessoa, como agente, e


a escola, como lugar de crescimento profissional permanente. O professor que atua na escola
é o centro do processo de formação continuada, tendo direito a voz sobre este processo, não
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servindo apenas como objeto de pesquisas, ele é sujeito na pesquisa de sua própria prática,
buscando possibilidades de respostas para as questões apontadas nesta investigação. A
formação do educador implica num processo de reflexão na e sobre a ação, exige ainda, o
domínio das bases teórico-científicas, técnicas e humanas e sua relação com as exigências
concretas do ensino e da sociedade. Segundo Nóvoa (2002, p. 29),

é preciso ir além dos ‘discursos de superfície’ e procurar uma compreensão mais


profunda dos fenômenos educativos. Estudar. Conhecer. Investigar. Avaliar. Caso
contrário, continuaremos reféns da demagogia e da ignorância. [...] Só
conseguiremos sair da penumbra através de uma reflexão colectiva, informada e
crítica.

Pimenta (1995), quando aborda a questão da formação de professores, dos saberes da


docência e da formação da identidade do professor, propõe a busca da superação da
tradicional fragmentação dos saberes da docência (saberes da experiência, saberes científicos,
saberes pedagógicos) através da consideração da prática social como ponto de partida e de
chegada e da ressignificação dos saberes na formação de professores. Apontando como
estratégia o trabalho de pesquisa da própria prática como princípio formativo, propondo a
reflexão na ação, sobre a ação e sobre a reflexão-na-ação. Assim, pensar a formação de
professores significa pensá-la como um continum de formação inicial e continuada e que a
formação é, na verdade, autoformação e processo coletivo de troca de experiências e práticas.

Alguns resultados

Para a Universidade este projeto tem propiciado uma reflexão sobre o saber e o fazer
docente e ao integrar os acadêmicos do curso de pedagogia, o projeto se destaca pela
antecipação que dá a estes alunos, a vivenciarem situações e desafios que permeiam a prática
docente. A extensão tem representado de forma concreta, a possibilidade de estreitamento dos
laços entre Universidade e escola. O trabalho tem proporcionado ainda, muitas análises e
reflexões sobre a prática pedagógica, permitindo pensá-la e apontar para alternativas de ações
contextualizadas, dinâmicas, críticas e inclusivas. No entanto, uma das dificuldades
encontradas é que existem poucos recursos financeiros para o desenvolvimento do projeto,
que é financiado pela própria Universidade. Também, além da rotatividade dos professores
temporários, as cargas horárias para a formação para os professores participarem de cursos e
discussões são pequenas. Constatou-se ainda que, nem todos os professores das escolas estão
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efetivamente envolvidos, muitos buscam apenas “um certificado”, documento necessário para
a progressão dos professores dentro do Plano de Cargos e Salários do Magistério.
Um aspecto que merece destaque é que todas as atividades desenvolvidas emergiram
das trocas com as escolas e dos estudos e pesquisas realizados durante este processo,
confirmando a contribuição da interlocução constante com a realidade escolar. E ainda, houve
a preocupação constante e o compromisso com os registros diários da prática - relato e
sistematização das informações e a socializações dos resultados, na Universidade e nas
Escolas, possibilitando a reflexão e socialização das descobertas e avanços.
Podemos considerar que, desta ação surgiram resultados importantes, tais como: uma
maior interação com os campos de estágio; reflexão por parte dos professores supervisores de
estágio e alunos do curso de pedagogia sobre a sua prática; maior interesse e participação dos
professores das escolas nas discussões e debates encaminhados no projeto; comprometimento
por parte dos professores e alunos nas atividades desenvolvidas nas oficinas; melhor
aproveitamento no estágio curricular, tornando-o mais significativo para professores e
estagiários.
Portanto, fundamenta-se a importância deste trabalho justificando que ele apresenta
relevância acadêmica e social, pois tem proporcionado a criação e difusão de novos
conhecimentos e, principalmente, por permitir vivenciar a relação indissociável entre ensino,
pesquisa e extensão, produzindo uma complementaridade, exercício fundamental ao educador
comprometido com um projeto de educação democrático e vivo. E, porque permitiu repensar
o projeto de estágio delineado pelo curso de pedagogia e a construção de conhecimentos,
compartilhados entre os diferentes sujeitos.

Considerações finais

As exigências da sociedade contemporânea, as novas tecnologias em ação, têm levado


o professor, a escola e o sistema educacional a enfrentar múltiplos desafios e rever suas
concepções sobre o trabalho que vem desenvolvendo e seus resultados. O debate sobre a
deficiente qualidade da educação tem enfatizado a importância da melhora da formação
básica e continuada dos educadores de todos os níveis de ensino. O êxito na melhoria da
qualidade da educação é resultado e depende de múltiplos fatores. Por conseguinte,
entendemos que, desenvolver programas de formação continuada vislumbra como uma
possibilidade na busca desta melhoria.
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No decorrer dos projetos de estágio e de extensão, com a possibilidade de um contato


maior com os professores e profissionais das escolas, percebemos que há um grande interesse
em promover à sua prática docente uma formação continuada que lhes permita resolver os
desafios que surgem no contexto em que atuam. Por isso, se tornou gratificante e significativo
realizar este trabalho, promovendo uma interação entre universidade e sociedade,
compartilhando os conhecimentos produzidos, com a possibilidade de desenvolver uma
avaliação constante e coletiva, permitindo interferir na realidade de forma reflexiva e criativa,
adotando estratégias de respostas às necessidades do contexto. Portanto, formação continuada
não deve ser desenvolvida a partir de exigências legais ou somente pela necessidade de
progressão profissional ou por interesses definidos de cima para baixo, mas precisa emergir
do desejo explícito dos professores e profissionais da escola, como momentos significativos
para a constituição da identidade profissional.
Assim, explicitamos nosso ponto de partida: compreender a escola como um contexto
fundamental na formação dos professores e educadores, reconhecendo-a como um espaço
para pesquisa, ensino e extensão, e, principalmente, como espaço de produção de saber. E,
entendemos que, toda pesquisa que parte da observação da realidade, deve retornar a ela com
os resultados, de forma a contribuir com a formação de um profissional mais crítico e
comprometido não somente com as questões técnicas da profissão, mas com as questões
políticas, humanas, éticas e sociais.
A partir do trabalho com os alunos do Curso de Pedagogia e com os professores das
escolas campo de estágio, nos propomos, sobretudo, a estabelecer um maior envolvimento e
compromisso entre as duas Instituições: a Escola e a Universidade. Com as ações
desenvolvidas foi possível promover um diálogo entre os acadêmicos do Curso de Pedagogia
– FAED/UDESC e as escolas parceiras que atuam como campo de estágio. Foi possível
também, perceber que os educadores e alunos que participaram desses encontros, tiveram a
oportunidade de repensar e refletir sobre suas práticas pedagógicas a partir de temas
relevantes, que fizeram parte da sua realidade escolar. Além disso, puderam discutir a
importância do planejamento nas suas ações em sala de aula, tendo mais clara suas intenções
e objetivos nas atividades escolares.
Reforçamos constantemente a ideia de que a preocupação maior é com a produção de
um saber comprometido com os desafios e situações do contexto escolar, incluindo um
compromisso com a aprendizagem das teorias pedagógicas e com a realidade social concreta.
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Portanto, o projeto de extensão “Saberes e fazeres no contexto da formação” oportunizou a


criação e difusão de novos conhecimentos na educação básica e a vinculação entre ensino,
pesquisa e extensão.
Estas atividades de formação possibilitaram e possibilitam acima de tudo, uma
reflexão crítica e coletiva com os professores e educadores participantes do projeto, na
perspectiva de construir possibilidades didático-pedagógicas de forma compartilhada e
autônoma.
De outra forma, mesmo com muitos avanços, constatamos uma resistência no processo
de mudança nas práticas pedagógicas de alguns professores e equipe pedagógica,
principalmente no que diz respeito à falta de um trabalho coletivo e interdisciplinar;
Registramos a quase inexistência de espaços de discussão e reflexão coletiva sobre questões
pedagógicas, que envolvem diretamente a comunidade escolar, sendo, que quando existe, são
por pouco tempo, e ainda, o momento de discussão, geralmente, se refere a questões
administrativas e burocráticas.
A experiência no contexto escolar tem mostrado que a formação, em geral, constitui-
se, preponderantemente, como um momento individual, raramente articulado a um projeto da
instituição e os professores se ressentem dessa situação, quer na Universidade, quer na relação
com a escola. Mas, destacamos também, o trabalho significativo desenvolvido por muitos
profissionais que atuam nos espaços escolares.
Importante lembrar ainda e sempre, a necessidade urgente de se desenvolverem
políticas educacionais que respondam com qualidade as necessidades do cidadão, que
precisam da qualidade dos serviços educacionais e dos profissionais envolvidos no projeto
educacional, preocupando-se com o processo de ensinar e aprender.
Os momentos de formação devem ser permanentes e tendo como foco os desafios da
prática profissional. As questões que envolvem a prática pedagógica e as disciplinas que a
compõe precisam ser ressignificadas, contextualizadas, e para isso, é importante que haja a
troca de informações e ideias entre os que fazem parte do espaço educativo.
Cabe a universidade propor e promover um processo de reflexão e repensar as ações
docentes, pelas quais também é responsável através de seus cursos, cujos sujeitos principais
são os educadores que vivem e constroem o cotidiano escolar.
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REFERÊNCIAS

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ALBUQUERQUE, E. B.; LEAL, T. F. Formação continuada de professores: questões para
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NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995.

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______. O regresso dos professores. In: TEACHER professional development for the quality
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PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática. 2. ed. São


Paulo: Cortez, 1995.

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