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Professora do Centro de Ciências Humanas, UNIOESTE, Campos de Francisco Beltrão, Curso de
Pedagogia. Membro do Grupo de Pesquisa Educação e Sociedade – GEDUS - UNIOESTE. E-mail:
bereborssoi@bol.com.br.
O pensamento reflexivo e a
capacidade investigativa não se
desenvolvem espontaneamente, eles
precisam ser instigados, cultivados e
requerem condições favoráveis para o
seu surgimento.
Iraíde Marques de Freitas e Raimunda
Abou Gebran (2006, p. 36).
Introdução
No sentido de compreender o estágio como via fundamental na formação do
professor, é essencial considerar que o mesmo possibilita a relação teoria-prática,
conhecimentos do campo de trabalho, conhecimentos pedagógicos, administrativos,
como também conhecimentos da organização do ambiente escolar, entre outros fatores.
Dessa forma, o objetivo central do estágio é a aproximação da realidade escolar, para
que o aluno possa perceber os desafios que a carreira lhe oferecerá, refletindo sobre a
profissão que exercerá, integrando - o saber fazer – obtendo (in)formações e trocas de
experiências.
O presente artigo, portanto, tem como objetivo de estudo abordar a importância
do “estágio”, seja o estágio supervisionado ou estágio sob forma de atividades práticas,
e a importância da “relação teoria e prática” na formação do professor. Contudo,
restringiu-se aos conhecimentos vivenciados no âmbito do processo de formação
oferecido pelo Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão.
O Curso de Pedagogia da UNIOESTE traz em sua grade curricular, desde o
primeiro ano, disciplinas que contam com atividades práticas, a fim de superar a tão
problemática dicotomia entre teoria e prática, tema de altas discussões, debates e
pesquisas, sendo um dos grandes desafios de muitos cursos de graduação, de um modo
geral. Essas atividades têm por objetivo proporcionar aos alunos a realização de estágios
durante todo o percurso acadêmico, a fim de aproximá-los do contexto escolar e assim,
trabalhar com disciplinas técnicas e pedagógicas.
Nesse sentido, percebe-se que os acadêmicos ficam angustiados, mais com os
estágios supervisionados, do que com as atividades práticas desenvolvidas durante
curso. Ou seja, reportando-se ao comportamento dos alunos na realização do estágio
supervisionado, nota-se uma preocupação, além da reflexão sobre a importância do
mesmo na formação docente. Vê-se que muitos acadêmicos desenvolvem as atividades
do estágio supervisionado com uma facilidade extrema, sem precipitações. Já, outros
encaram-no como “algo de outro mundo”, “desconhecido”.
Para tanto, precisa-se levar em conta a diversidade dos alunos, a maioria dos
acadêmicos egressos do ensino médio e atuando em outras áreas. No entanto, os
professores/orientadores deparam-se com situações que exigem encaminhamentos
especiais a fim de que não se frustrem, ou seja, “o desenvolvimento do estágio precisa
ser orientado por procedimentos definidos que visem ao melhor aproveitamento dos
momentos destinados a disciplina” (KENSKI, 1991, p.39).
Diante disso, faço alguns questionamentos: Será que nossos alunos sabem o que
querem profissionalmente? Será que eles têm conhecimento do curso? Será que eles
analisam as disciplinas/ grade curricular antes de nele ingressar? Sabem da importância
do estágio, ou melhor, qual é o papel do estágio para a sua formação? Caso fizessem
esses questionamentos saberiam que o curso oferta disciplinas práticas, que deverão ser
desenvolvidas durante a graduação e os estágios serão realizados no campo de trabalho,
como acontece com vários cursos de graduação.
Ao produzir este artigo, não pretende-se responder a todas essas indagações, mas
fazer com que os leitores reflitam sobre a importância do estágio na formação do
professor, sabendo realmente qual é seu papel. KULCSAR considera os “estágios
supervisionados uma parte importante da relação trabalho-escola, teoria-prática, e eles
podem representar, em certa medida, o elo de articulação orgânica com a própria
realidade” (KULCSAR, 1991, p. 63). Considera-se que, além do estágio
supervisionado, as atividades práticas também contribuem muito no aprendizado dos
alunos/acadêmicos e em sua formação, pois através de uma observação orientada
consegue-se obter várias informações do trabalho escolar. Porém, o estágio não deve
(deveria) “ser constituído de forma burocrática, com preenchimentos de fichas e
valorização de atividades que envolvem observação, participação e regência,
desprovidas de uma meta investigativa” (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 26). (grifo
meu)
Diante do que foi exposto, percebe-se não ser suficiente apenas uma
fundamentação teórica bem alicerçada na formação do professor, mas faz-se necessário
a prática alicerçada com a fundamentação teórica. É imprescindível, na formação do
professor uma busca constante, não apenas do saber, mas também do fazer, estando
cada vez mais presente a ação - reflexão no dia-a-dia do professor, para que ele não se
acomode e avalie sua prática em busca de um melhor saber e de um melhor fazer.
Segundo Pimenta e Lima (2004), compete aos cursos de formação possibilitar
aos futuros professores a compreensão da complexidade das práticas e ações praticadas
pelos profissionais, como alternativa no preparo para a inserção profissional. Isso pode
ser conquistado se o estágio for articulado a todas as disciplinas, a fim de formar
professores críticos e analíticos. Nesse sentido, “não é possível que o professor tenha
uma prática investigativa se sua formação não priorizou a investigação a partir da
análise, da reflexão, da crítica e de novas maneiras de se educar” (BARREIRO;
GEBRAN, 2006, p. 25).
Dessa forma, busca-se, com o estágio, a superação da separação entre teoria e
prática, e ao mesmo tempo, transformar o estágio em pesquisa e investigação teórico-
prática. Assim, o estágio oferecerá ao acadêmico a aproximação da realidade e
iniciativas para pesquisa.
Na realização dos estágios professores/orientadores, atuam e diante do exposto
acima, caberá a esse profissional questionar seu aluno sobre as práticas vivenciadas no
ambiente escolar, ou seja, “é preciso que os professores orientadores de estágios
procedam no coletivo, junto a seus pares e alunos, a essa apropriação da realidade, para
analisá-la e questioná-la criticamente, à luz de teorias” (PIMENTA; LIMA, 2004, p.
45).
Para haver a interação entre professor/orientador x aluno/acadêmico e uma
formação docente de qualidade, faz-se necessário formar professores que não saibam
apenas falar, mas principalmente ouvir. O papel da formação, entretanto, vai além do
ensino, pois envolve capacidades de abrir e criar espaços de escuta e reflexão, a fim de
que os acadêmicos apreendam a lidar com as dificuldades e mudanças pelas quais o
aluno, a escola e a sociedade passam.
Conclui-se que “o estágio [...] é atividade teórica de conhecimento,
fundamentação, diálogo e intervenção na realidade [...], ou seja, é no contexto da sala de
aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá” (PIMENTA;
LIMA, 2004, p. 45).
O estágio também poderá ter outras estratégias positivas para a formação do
futuro professor, segundo autores. Através dele pode-se realizar pesquisas relacionadas
ao ambiente escolar, as quais possibilitam a ampliação e análise dos contextos onde os
alunos realizam os estágios. Outro aspecto é que ele permite desenvolver no aluno
postura e habilidade de pesquisador, elaborando projetos que permitam compreender e
problematizar as situações vivenciadas e observadas.
O estágio traz momentos de investigação, e quando bem orientados, gera um
processo dialético das práticas educativas, compreendendo que o aluno, a escola, seus
profissionais e a comunidade vivem num ambiente histórico, cultural e social que sofre
transformações com tempo. Assim, se os cursos de formação conceberem o estágio
dentro de uma postura reflexiva e dialética, possibilitarão a formação de profissional
reflexivo e crítico que valoriza os saberes da prática docente, por meio da reflexão e
análise do saber teórico e prático.
Algumas considerações
Pensar no papel do estágio nos cursos de formação de professores é uma tarefa
difícil, porém deixa-se claro que um bom professor não se faz apenas com teorias, mas
principalmente com a prática, e mais ainda, pela ação-reflexão, diálogo e intervenção,
em busca constante de um saber teórico e saber prático. Como também, o saber docente
não é só formado pela prática, mas nutrido pelas teorias.
Conclui-se, assim, que “o estágio, nos cursos de formação de professores,
destaca-se como via fundamental ao possibilitar que os professores compreendam a
complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais
como alternativa no preparo para a inserção profissional” (BARREIRO; GEBRAN,
2006, p. 22, apud PIMENTA: LIMA, 2004, p.43). Assim, é de suma importância
também, os professores considerarem e compreenderem os contextos históricos, sociais
e culturais de determinada sociedade.
É essencial que a educação seja vista como fator de desenvolvimento e
(trans)formação humana. Para tanto, um ponto crucial é que os cursos de formação
orientem seus professores para que eles convivam com seus alunos, observando seus
comportamentos, conversando, questionado e indagando suas experiências, a fim de
auxiliar, orientar para o desenvolvimento e aprendizagem nos momentos de estágio,
formando um professor comprometido e consciente de sua prática em sala de aula.
Além disso, os cursos de formação e os professores devem considerar que o
estágio é um momento de ensino-aprendizagem do fazer pedagógico, possibilitando
habilidades de pesquisa e investigação do ambiente escolar e conhecimentos
relacionados à teoria, tendo como fio norteador a “ação-reflexão”. Faz-se necessário
também, o comprometimento por parte dos alunos para que desenvolvam os estágios
com essa finalidade.
Referências Bibliográficas
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São
Paulo: Cortez, 2004.