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Resumo:
Este artigo originou-se de nossa experiência e pesquisa que buscou analisar e socializar
nossas práticas e também as nossas reflexões sobre o Estágio supervisionado como lócus de
pesquisa em espaços não escolares. Tivemos como objetivo geral analisar o estágio
supervisionado em espaços não escolares como espaço de pesquisa para a formação do
pedagogo e como objetivo específico analisar as possibilidades e os desafios frente à
realização do estágio em espaço não escolar no curso de Pedagogia. Esse trabalho pautou-se
na contribuição teórica e metodológica de autores como Sanz Fernández (2006), Pimenta
(2014), Libâneo e Pimenta (1999), Zabalza (2014), Silva e Miranda (2008), Lima (2012),
Frison (2004, 2006), André (2005, 2006, 2012) e outros que fizeram a tessitura dos eixos
estágio, pedagogia, pesquisa e espaço não escolar. Ainda pautamos nossas reflexões nas
informações advindas de observações participantes, da análise documental das diretrizes
curriculares do curso de Pedagogia e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394/96. Os resultados das reflexões acerca do campo do estágio supervisionado no espaço
não escolar mostram que é possível oferecer uma proposta de vivência pedagógica
diferenciada criando possibilidades de atuação; ratificam a necessidade desse espaço de
estágio para a formação profissional e para a construção da identidade docente do pedagogo
diante das demandas da contemporaneidade; mostram o quanto já avançamos em
possibilidades de atuação e de aberturas para estágio nos espaços não escolares para o
pedagogo. Enfim, a nossa expectativa é que as ponderações aqui mencionadas provoquem
“novas” reflexões/socializações, com vistas ao aperfeiçoamento e à criação de novas
possibilidades e configurações para o estágio supervisionado em espaços não escolares.
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Doutor em Educação e professor da Universidade Federal da Paraíba – Centro de Ciências Aplicadas e
Educação, Departamento de Educação. E-mail: josevalmiranda@yahoo.com.br
ISSN 2176-1396
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Primeiras palavras...
licenciatura, tanto para aqueles que ainda não têm contato com o trabalho pedagógico como
professores, como também para aqueles que já são docentes. Contudo, para aqueles que já
exercem a docência, o estágio supervisionado é um momento mais singular, ainda de se
repensar, de reconstruir e de “experienciar” as suas práticas pedagógicas. Nesse sentido, são
oportunas as palavras de Bondía (2002, p. 25) sobre o sujeito da experiência:
Diante disso, não podemos só pensar, de forma reducionista, o estágio como puro e
simples preparo mecanicista e repodutivista para o trabalho. Segundo Lucena e Pimenta
(2004), uma das concepções acerca do estágio supervisionado perpassa pela prática como
imitação de modelos, sendo esta uma concepção na qual o ensino e a realidade apresentam-se
estáticos, imutáveis e que o estagiário valoriza os instrumentos consagrados. Desse modo,
apensar de tantas produções na área do estágio supervisionado, não seria difícil encontrarmos
práticas de estágio acontecendo nesses moldes.
A partir das produções de Lucena e Pimenta (2004, p.36), Piconez (2006, p.30),
Miranda (2008, p.43), é imprescindível pensar o estágio como:
Tempo de aprendizagem.
Supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é profissional.
Momento de formação profissional.
Possibilita a profissionalização do estagiário (a).
Como campo de constituição da identidade docente.
Como eixo integrador da relação teoria – prática.
Como espaço de articulação entre os componentes do curriculares da formação
do estagiário (a).
Espaço de aquisição de experiências novas e novas construções e
ressignificações teóricas-metodológicas.
Espaço problematizador da prática pedagógica.
Possibilidade de conhecer o cotidiano da escola e as suas singularidades.
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Assim, diante dessas evidências, podemos afirmar que a riqueza formativa do estágio
consiste em possibilitar ao estudante: a aproximação do mundo da profissão à sua cultura, a
compreensão do sentido e da natureza do trabalho a ser desenvolvido, a aquisição de
conhecimentos e habilidades, reforçando ou modificando suas atitudes frente à constituição da
sua identidade docente, seja no espaço escolar ou não escolar.
Pensar o espaço não escolar como possibilidade de estágio para o curso de Pedagogia
não é tão recente, porém a Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui as
diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, apresenta e oficializa, em vários de seus
artigos, a possibilidade de atuação em espaços não escolares.
Nesse contexto, é preciso assinalarmos que por espaço não escolar entendemos que
seja aquele local diferente da organização do ambiente escolar formal, mas onde pode
também ocorrer uma ação educativa. Essa educação não escolar acontece fora dos muros da
escola, com marcadores diferenciados, como por exemplo: objetivos, conteúdos,
metodologias, técnicas, processos de avaliação e acompanhamento, sujeitos e recursos
envolvidos. Já a educação formal utiliza padrões definidos e legitimados institucionalmente,
como: presença e papel do professor, do currículo escolar, diretrizes e legislações específicas,
metas, tempos, espaços, conteúdo específicos, obrigatoriedade, entre outros (SANZ
FERNÁNDEZ, 2006).
Nesse sentido, ainda que no que diz respeito ao espaço não escolar, o tempo das
aprendizagens torna-se mais fluido e flexível, havendo respeito às diferenças e às capacidades
de cada sujeito envolvido no processo. Criam, recriam-se os múltiplos espaços e tempos para
as aprendizagens. É evidente que não se trata de colocar uma oposição entre o espaço formal e
o não formal de educação, mas possibilitar e conhecer melhor as potencialidades do espaço
não escolar em benefício das aprendizagens de todos e todas.
Segundo Frison (2006, p. 07)
Dessa forma, com base em Sanz Fernández (2006), convém ressaltarmos alguns
elementos que podem ser estruturantes para o planejamento, para a execução e para a
avaliação de ações e práticas de estágio no espaço não escolar:
a) os agentes educativos - na conjuntura da educação não escolar, outros agentes
educativos podem desempenhar esse papel, além do professor. Tudo isso,
dependerá do contexto, por exemplo em locais como museus, jardins zoológicos,
empresas etc.
b) Conteúdos de aprendizagens não formal - são os conteúdos que não obedecem a
uma prescrição do currículo escolar e não foram institucionalmente definidos no
âmbito das disciplinas escolares. Os estudantes buscam conhecer e aprender pelo
próprio interesse, pela curiosidade e pelo desejo sobre o assunto.
c) Espaços não escolares de aprendizagens – espaços válidos para as aprendizagens,
cuja função “não é a educação formal e nem lugares institucionalizados”
(JACOBUCCI, 2008, p. 57). Ainda segundo Jacobucci (2008), esses espaços não
escolares de atuação podem ser institucionais e não institucionais. Assim, temos:
Institucionais: museus, estação ciências, empresas, hospitais e outros.
Não institucionais: parques, praias, feiras e outros.
d) O tempo – o calendário na educação não escolar não obedece a uma estruturação
ou a limites definidos como acontece na educação formal. O tempo na educação
não escolar não se reduz a um período determinado, pois existe a possibilidade de
o ser humano nesses vários contextos de educação não escolar estar
ressignificando saberes, impressões, representações, sentimentos e reações. Cada
sujeito cria e vive o seu calendário de aprendizagens.
e) Recursos nos espaços não escolares de aprendizagens – outros recursos para além
dos livros e textos poderão ser utilizados nessa modalidade de educação. A
utilização dependerá do espaço não escolar a ser trabalhado e da finalidade do
estudo e das aprendizagens.
f) Avaliação – sempre presente na vida do ser humano, não poderia ser diferente no
espaço não escolar. Nesse contexto, a avaliação assume um caráter participativo,
no qual todos os envolvidos podem opinar, é processual e pode ocorrer de forma
individual e/ou coletiva. Podem ser utilizados instrumentos/procedimentos
avaliativos como observação, registros, construção da memória e outros.
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Desse modo, o espaço não escolar, como campo e local de estágio para o pedagogo,
busca solidificar um espaço de atuação para esse profissional. Não simplesmente para ocupar
uma função, mas para desempenhar, com respaldo teórico e metodológico, ações educativas
em contextos não escolares. Significa conceber, planejar, desenvolver, avaliar e reorganizar
ações do trabalho pedagógico nos contextos não escolares, as quais, muitas vezes, demandam
o trabalho coletivo, o pensar e o agir de forma interdisciplinar. Diante disso, Frison (2006, p.
24) pontua;
Ainda segundo Frison (2006, p.24), é preciso também pensar o perfil do pedagogo
para atuar no espaço não escolar, pois
[...] o perfil profissional não se configura mais pelas tarefas ou atividades exercidas
isoladamente. Os desafios e problemas interdependentes encontrados, neste início de
milênio, sinalizam a necessidade de encontrar soluções coletivas que possam
beneficiar o maior número possível de pessoas.
Desse modo e diante do que foi mencionado, é preciso redimensionar o estágio como
um espaço e tempo para as aprendizagens, buscando uma relação dialético-dialógica com
alguém que já é profissional, possibilitando dessa maneira a profissionalização do estagiário,
pois o período de estágio também se configura como um espaço de construção da identidade
docente no espaço não escolar.
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A Pedagogia é uma reflexão teórica baseada nas práticas educativas e sobre elas.
Investiga os objetivos sociopolíticos e os meios organizacionais e metodológicos de
viabilizar os processos formativos em contextos socioculturais específicos. Todo
educador sabe, hoje, que as práticas educativas ocorrem em muitos lugares, em
muitas instâncias formais, não-formais, informais. Elas acontecem nas famílias, nos
locais de trabalho, na cidade e na rua, nos meios de comunicação e, também, nas
escolas. Não é possível mais afirmar que o trabalho pedagógico se reduz ao trabalho
docente nas escolas. A ação pedagógica não se resume a ações docentes, de modo
que, se todo trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho pedagógico
é trabalho docente. Por exemplo, o MST faz um trabalho pedagógico, mas não
necessariamente um trabalho docente, a não ser quando reúne suas crianças nas salas
de aula para a escolarização formal ou os militantes para estudar o aprimoramento
de práticas agrícolas, os direitos trabalhistas de lavradores etc.
Ainda acrescenta sobre a atuação de pedagogo no espaço não escolar, ressaltando que:
Dessa forma, a partir da leitura de Lima (2012), quando propõe “os caminhos do
estágio”, podemos considerar como um possível percurso, com base na nossa experiência de
estágio no espaço não escolar, as seguintes possibilidades operacionais para a realização desse
estágio.
1. Pesquisa sobre quais espaços não escolares dispomos para a realização do estágio.
2. Contato com as instituições para a realização do estágio.
3. Observar se essas instituições já possuem convênio com a universidade.
4. Ofício solicitado das instituições vaga e aceitação para estagiários.
5. Estudo teórico metodológico sobre a atuação no espaço não escolar, bem como
estudo específico sobre cada espaço não escolar, coordenado pelo professor de
estágio. Por exemplo, quando desenvolvemos projeto no espaço do Hospital,
realizamos estudos sobre a Pedagogia Hospitalar. Não podemos encaminhar o
estagiário para o local de estágio sem estudos prévios sobre a sua possível atuação
naquele espaço não escolar!
6. Encaminhamento do estagiário para espaço de estágio não escolar.
7. Realização de observação, mediante roteiro construído nas aulas, para
conhecimento da realidade. Nessa etapa, o estagiário poderá utilizar também a
entrevista com gestores, coordenadores, supervisores e outros funcionários para
conhecer mais de perto a especificidade do local de estágio. Essa etapa não pode
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ser realizada em um período muito curto. É preciso conhecer para poder intervir
futuramente.
8. Revisão do estudo teórico e metodológico sobre o espaço não escolar para a
elaboração do projeto de intervenção com o acompanhamento do professor de
estágio. Por exemplo, ao desenvolvermos o projeto no hospital, é o momento de o
grupo rever as leituras e fundamentar sobre o trabalho naquele espaço. A partir daí
elabora-se o projeto.
9. Elaboração do projeto de intervenção, pensando em todos os itens de um projeto:
dados iniciais sobre a instituição (isso colhido na observação), justificativa,
objetivos (geral e específicos), fundamentação teórica, procedimentos
metodológicos, recursos, cronograma, avaliação e referências. Além, da
elaboração dos planos de atividades diárias. No espaço não escolar, também se faz
planejamento e planos!
10. Execução do projeto. É bom nessa fase registrar tudo com fotos, depoimentos em
entrevistas, fazer anotações sobre as observações. Durante a execução do projeto é
necessária a realização de reuniões de planejamento e de avaliação do que está
sendo desenvolvido. É imprescindível também o acompanhamento do professor
coordenador de estágio nesses momentos de execução do projeto.
11. Avaliação em sala de aula sobre o desenvolvimento do estágio após a sua
conclusão. Roda de conversa, na qual todos pontuam os pontos fortes e os pontos
que precisam ser repensados para os próximos estágios. Socialização também dos
diversos grupos que estavam em outros espaços não escolares.
12. Construção da produção sobre o registro de estágio. Poderá ser desenvolvido em
formato de: relatório, dossiê, portfólios, blogs, diários, webfólios e outros
formatos que contribuam para a reflexão profissional formativa, por meio do
estágio no espaço não escolar.
13. Socialização das práticas de estágio no espaço não escolar com outras turmas do
curso de Pedagogia. Poderá ser apresentado em “banner” ou em comunicações
orais.
Assim, a partir da experiência compartilhada e das pesquisas realizadas, o estágio em
espaço não escolar pode até se configurar um “novo” formato de estágio, devido a sua
oficialização por meio das diretrizes do curso de Pedagogia, porém enfrenta velhos desafios,
como: práticas artesanais, somente preenchimento de fichas, relatórios somente descritivos,
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treinamentos, desvinculação teoria da prática, coleta simples de dados, momento de ver falhas
ou insuficiências nos outros, de fazer denúncias, de cumprir horários e outros equívocos que
ainda persistem. Entretanto, estamos avançando em prol de uma formação crítica e reflexiva.
Considerações finais
Diante das evidências expostas e refletidas nessa pesquisa no que diz respeito às
experiências no campo do estágio supervisionado em espaços não escolares, podemos ratificar
a necessidade desse espaço de estágio para a formação profissional e para a identidade
docente do pedagogo diante das demandas da contemporaneidade.
Salientamos que é preciso ainda aprofundar os estudos e as experiências para a
atuação do pedagogo em espaços não escolares, garantindo o seu exercício profissional, para
que não se caracterize como um desvio de função.
Não poderíamos deixar de mencionar que, à luz do diálogo tecido com os teóricos
apresentados no decorrer deste trabalho, foi possível percebermos o quanto já avançamos em
possibilidades de atuação e de espaços para o pedagogo no que diz respeito ao espaço não
escolar. Porém, restam ainda alguns desafios, como já mencionamos, e entre eles a
proposição, nos currículos dos cursos de Pedagogia, que possibilite essa formação, ou seja, a
atuação de pedagogo em espaços não escolares.
Assim sendo, a nossa experiência e a pesquisa desenvolvida com a atividade de
estágio em espaço não escolar possibilitaram-nos algumas reflexões que foram tecidas ao
longo do texto. Esperamos que tais reflexões e socializações possam provocar outros debates
e construções, com vistas à construção de conhecimentos para o campo de estágio em espaço
não escolar, para a Pedagogia e, acima de tudo, para a profissionalização e para construção da
identidade do pedagogo.
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