Você está na página 1de 14

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA EM

ESPAÇOS NÃO ESCOLARES COMO LÓCUS DE PESQUISA: NOVAS


CONFIGURAÇÕES, VELHOS DESAFIOS

Joseval dos Reis Miranda1 - UFPB

Grupo de Trabalho - Práticas e Estágios nas Licenciaturas


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo:

Este artigo originou-se de nossa experiência e pesquisa que buscou analisar e socializar
nossas práticas e também as nossas reflexões sobre o Estágio supervisionado como lócus de
pesquisa em espaços não escolares. Tivemos como objetivo geral analisar o estágio
supervisionado em espaços não escolares como espaço de pesquisa para a formação do
pedagogo e como objetivo específico analisar as possibilidades e os desafios frente à
realização do estágio em espaço não escolar no curso de Pedagogia. Esse trabalho pautou-se
na contribuição teórica e metodológica de autores como Sanz Fernández (2006), Pimenta
(2014), Libâneo e Pimenta (1999), Zabalza (2014), Silva e Miranda (2008), Lima (2012),
Frison (2004, 2006), André (2005, 2006, 2012) e outros que fizeram a tessitura dos eixos
estágio, pedagogia, pesquisa e espaço não escolar. Ainda pautamos nossas reflexões nas
informações advindas de observações participantes, da análise documental das diretrizes
curriculares do curso de Pedagogia e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394/96. Os resultados das reflexões acerca do campo do estágio supervisionado no espaço
não escolar mostram que é possível oferecer uma proposta de vivência pedagógica
diferenciada criando possibilidades de atuação; ratificam a necessidade desse espaço de
estágio para a formação profissional e para a construção da identidade docente do pedagogo
diante das demandas da contemporaneidade; mostram o quanto já avançamos em
possibilidades de atuação e de aberturas para estágio nos espaços não escolares para o
pedagogo. Enfim, a nossa expectativa é que as ponderações aqui mencionadas provoquem
“novas” reflexões/socializações, com vistas ao aperfeiçoamento e à criação de novas
possibilidades e configurações para o estágio supervisionado em espaços não escolares.

Palavras-chave: Estágio supervisionado e pesquisa. Pedagogia. Espaço não escolar.

1
Doutor em Educação e professor da Universidade Federal da Paraíba – Centro de Ciências Aplicadas e
Educação, Departamento de Educação. E-mail: josevalmiranda@yahoo.com.br

ISSN 2176-1396
36943

Primeiras palavras...

Na atualidade percebemos os avanços da sociedade em vários campos do saber e nas


suas várias dimensões. Ao pensarmos no que diz respeito à área da educação, presenciamos
expansão da educação, ampliação da Educação Básica, movimentos em prol da Educação e da
escola pública, maior produção intelectual, maior organização dos profissionais da educação,
entre outros aspectos. Entretanto, ainda somos testemunhas da precária e frágil formação dos
professores, da descontinuidade ou da falta de políticas públicas educacionais, bem como
altas taxas de fracasso escolar.
Diante disso, a nossa reflexão no presente artigo busca trazer elementos que
contribuam para a discussão da formação no curso de Pedagogia, tendo como tema central da
nossa análise as questões do estágio supervisionado como lócus de pesquisa em espaços não
escolares. Inicialmente apresentamos algumas considerações sobre o estágio supervisionado
como espaço de pesquisa. Em seguida, tecemos ponderações sobre o espaço não escolar para
logo mais apresentarmos possibilidades de atuação nesse espaço para o curso de Pedagogia.
Assim, esperamos que a leitura do presente artigo possa favorecer a construção e
reconstrução de conhecimento para o campo de estágio supervisionado em espaços não
escolares, pois são reflexões que vêm se tornando uma exigência para o fazer docente frente
às demandas da contemporaneidade.

Reflexões sobre o estágio Supervisionado

Nunca se falou tanto em educação e acerca do processo de escolarização como nas


últimas décadas. Assuntos como Plano Nacional de Educação, formação de professores,
Currículo e Base Nacional Comum, escola de tempo integral e outros constituem-se temas
atuais da agenda educacional brasileira. Todos esses aspectos possuem uma íntima relação
com a formação de professores e necessitam ser repensados com urgência.
Repensar a formação de professores é imprescindível. Porém, alguns elementos
fundamentais devem ser mencionados como o currículo da formação de professores, as
disciplinas pedagógicas desse currículo e também o local do estágio supervisionado nesses
cursos de formação.
Aqui, neste texto, tomamos como ponto específico das reflexões as questões do
estágio supervisionado entendido como momento de tomada de conhecimento, vivência,
pesquisa, reflexão e avaliação sobre a prática pedagógica por parte do estudante da
36944

licenciatura, tanto para aqueles que ainda não têm contato com o trabalho pedagógico como
professores, como também para aqueles que já são docentes. Contudo, para aqueles que já
exercem a docência, o estágio supervisionado é um momento mais singular, ainda de se
repensar, de reconstruir e de “experienciar” as suas práticas pedagógicas. Nesse sentido, são
oportunas as palavras de Bondía (2002, p. 25) sobre o sujeito da experiência:

O Sujeito da experiência é um sujeito ‘ex-posto’. Do ponto de vista da experiência, o


importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a ‘o-posição’
(nossa maneira de opormos), nem a ‘pro-posição’ (nossa maneira de propormos),
mas a ‘ex-posição’, nossa maneira de ‘expormos’, com tudo o que isto tem de
vulnerabilidade e de risco. Por isso é in capaz de experiência aquele que se põe, ou
se opõe ou se impõe, ou se propõe, mas não se ‘ex-põe’. É incapaz de experiência
aquele a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a
quem nada o ameaça, a quem nada ocorre.

Dessa forma, entendemos o estágio como momento da exposição para a construção de


saberes e de práticas pedagógicas. Contudo, temos presenciado nos últimos anos, por meio da
atuação no curso de Pedagogia e também em outras licenciaturas, que, quando é chegada a
hora da realização do estágio supervisionado, há estudantes que buscam de qualquer maneira
serem dispensados da prática de estágio e “fogem” dessa atividade o máximo que podem,
talvez por insegurança nos aspectos teóricos e metodológicos da própria constituição docente
vivenciados durante o currículo da própria formação.
Não estamos nos referindo à Resolução CNE/CP nº 2 de 19/02/2002, que menciona,
no Parágrafo Único do seu Art. IV, que o estudante que exerce atividade docente na Educação
Básica poderá reduzir até 200 horas de atividades de estágio. Evidente que a resolução citada
estabelece o direito ao aproveitamento das atividades exercidas pelos estudantes para a
redução das horas de estágio, mas isso não significa que haja a possibilidade da não realização
do estágio ou, nem mesmo, que seja possível “pular” etapas dos estágios durante o seu curso
de formação.
Desse modo, pensar o estágio supervisionado na atualidade nos cursos de formação de
professores requer dos professores formadores olhares sensíveis para as demandas emanadas
de uma sociedade, tanto para as questões de ensino quanto para as de aprendizagens. É
preciso repensar ainda os espaços formativos de estágio, entre eles os não escolares; pensar os
agentes do estágio e as contribuições do estágio para todos os envolvidos (escolas, espaços
não escolares, estudantes, professores formadores e universidade).
36945

Refletir sobre o campo do Estágio Supervisionado implica também pensar esse


momento formativo do estudante, a fim de ampliar a sua consciência sobre a própria prática,
valorizando a docência, seja ele já um profissional docente ou não, pois

[...] valorizar o trabalho docente significa dotar os professores de perspectivas de


análise que os ajudem a compreender os contextos de análise que os ajude a
compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais nos quais se
dá sua atividade docente (PIMENTA, 2014, p. 14).

Nesse sentido, entendemos o estágio como um espaço na formação do estudante, não


só para o exercício futuro da profissão, uma vez que é necessário viver o presente da/na vida
acadêmica, desenvolvendo as várias dimensões da formação humana, social, política,
histórica, afetiva, cultural, entre outras. São oportunas as palavras de Zabalza (2014, p. 99),
pois para ele:

[...] o estágio permite completar as aprendizagens disciplinares e enriquecê-las


mediante a possibilidade de aplica-las em contextos profissionais reais. Porém, junto
a isso, incorporam-se a formação outros elementos que têm a ver com a atitude
intelectual, com a capacidade de trabalho em equipe, a capacidade de adaptar-se a
situações novas e, às vezes, exigentes, a capacidade de comprometer-se e assumir
responsabilidades, a capacidade de idealizar e empreender, entre outros.

Diante disso, não podemos só pensar, de forma reducionista, o estágio como puro e
simples preparo mecanicista e repodutivista para o trabalho. Segundo Lucena e Pimenta
(2004), uma das concepções acerca do estágio supervisionado perpassa pela prática como
imitação de modelos, sendo esta uma concepção na qual o ensino e a realidade apresentam-se
estáticos, imutáveis e que o estagiário valoriza os instrumentos consagrados. Desse modo,
apensar de tantas produções na área do estágio supervisionado, não seria difícil encontrarmos
práticas de estágio acontecendo nesses moldes.
A partir das produções de Lucena e Pimenta (2004, p.36), Piconez (2006, p.30),
Miranda (2008, p.43), é imprescindível pensar o estágio como:

 Tempo de aprendizagem.
 Supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é profissional.
 Momento de formação profissional.
 Possibilita a profissionalização do estagiário (a).
 Como campo de constituição da identidade docente.
 Como eixo integrador da relação teoria – prática.
 Como espaço de articulação entre os componentes do curriculares da formação
do estagiário (a).
 Espaço de aquisição de experiências novas e novas construções e
ressignificações teóricas-metodológicas.
 Espaço problematizador da prática pedagógica.
 Possibilidade de conhecer o cotidiano da escola e as suas singularidades.
36946

 Aproximação da realidade escolar.

Assim, diante dessas evidências, podemos afirmar que a riqueza formativa do estágio
consiste em possibilitar ao estudante: a aproximação do mundo da profissão à sua cultura, a
compreensão do sentido e da natureza do trabalho a ser desenvolvido, a aquisição de
conhecimentos e habilidades, reforçando ou modificando suas atitudes frente à constituição da
sua identidade docente, seja no espaço escolar ou não escolar.

Compreendendo o espaço não escolar como possibilidade de estágio

Pensar o espaço não escolar como possibilidade de estágio para o curso de Pedagogia
não é tão recente, porém a Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui as
diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, apresenta e oficializa, em vários de seus
artigos, a possibilidade de atuação em espaços não escolares.
Nesse contexto, é preciso assinalarmos que por espaço não escolar entendemos que
seja aquele local diferente da organização do ambiente escolar formal, mas onde pode
também ocorrer uma ação educativa. Essa educação não escolar acontece fora dos muros da
escola, com marcadores diferenciados, como por exemplo: objetivos, conteúdos,
metodologias, técnicas, processos de avaliação e acompanhamento, sujeitos e recursos
envolvidos. Já a educação formal utiliza padrões definidos e legitimados institucionalmente,
como: presença e papel do professor, do currículo escolar, diretrizes e legislações específicas,
metas, tempos, espaços, conteúdo específicos, obrigatoriedade, entre outros (SANZ
FERNÁNDEZ, 2006).
Nesse sentido, ainda que no que diz respeito ao espaço não escolar, o tempo das
aprendizagens torna-se mais fluido e flexível, havendo respeito às diferenças e às capacidades
de cada sujeito envolvido no processo. Criam, recriam-se os múltiplos espaços e tempos para
as aprendizagens. É evidente que não se trata de colocar uma oposição entre o espaço formal e
o não formal de educação, mas possibilitar e conhecer melhor as potencialidades do espaço
não escolar em benefício das aprendizagens de todos e todas.
Segundo Frison (2006, p. 07)

[...] Entende-se por espaços não escolares a atividade educacional organizada e


sistemática, realizada fora do sistema de ensino formal, visando proporcionar
aprendizagem sistemática e continuada a educandos trabalhadores que foram assim
denominados porque além de executarem tarefas do trabalho estão em constante
processo de formação e aprendizagem no local de trabalho.
36947

Dessa forma, com base em Sanz Fernández (2006), convém ressaltarmos alguns
elementos que podem ser estruturantes para o planejamento, para a execução e para a
avaliação de ações e práticas de estágio no espaço não escolar:
a) os agentes educativos - na conjuntura da educação não escolar, outros agentes
educativos podem desempenhar esse papel, além do professor. Tudo isso,
dependerá do contexto, por exemplo em locais como museus, jardins zoológicos,
empresas etc.
b) Conteúdos de aprendizagens não formal - são os conteúdos que não obedecem a
uma prescrição do currículo escolar e não foram institucionalmente definidos no
âmbito das disciplinas escolares. Os estudantes buscam conhecer e aprender pelo
próprio interesse, pela curiosidade e pelo desejo sobre o assunto.
c) Espaços não escolares de aprendizagens – espaços válidos para as aprendizagens,
cuja função “não é a educação formal e nem lugares institucionalizados”
(JACOBUCCI, 2008, p. 57). Ainda segundo Jacobucci (2008), esses espaços não
escolares de atuação podem ser institucionais e não institucionais. Assim, temos:
 Institucionais: museus, estação ciências, empresas, hospitais e outros.
 Não institucionais: parques, praias, feiras e outros.
d) O tempo – o calendário na educação não escolar não obedece a uma estruturação
ou a limites definidos como acontece na educação formal. O tempo na educação
não escolar não se reduz a um período determinado, pois existe a possibilidade de
o ser humano nesses vários contextos de educação não escolar estar
ressignificando saberes, impressões, representações, sentimentos e reações. Cada
sujeito cria e vive o seu calendário de aprendizagens.
e) Recursos nos espaços não escolares de aprendizagens – outros recursos para além
dos livros e textos poderão ser utilizados nessa modalidade de educação. A
utilização dependerá do espaço não escolar a ser trabalhado e da finalidade do
estudo e das aprendizagens.
f) Avaliação – sempre presente na vida do ser humano, não poderia ser diferente no
espaço não escolar. Nesse contexto, a avaliação assume um caráter participativo,
no qual todos os envolvidos podem opinar, é processual e pode ocorrer de forma
individual e/ou coletiva. Podem ser utilizados instrumentos/procedimentos
avaliativos como observação, registros, construção da memória e outros.
36948

Desse modo, o espaço não escolar, como campo e local de estágio para o pedagogo,
busca solidificar um espaço de atuação para esse profissional. Não simplesmente para ocupar
uma função, mas para desempenhar, com respaldo teórico e metodológico, ações educativas
em contextos não escolares. Significa conceber, planejar, desenvolver, avaliar e reorganizar
ações do trabalho pedagógico nos contextos não escolares, as quais, muitas vezes, demandam
o trabalho coletivo, o pensar e o agir de forma interdisciplinar. Diante disso, Frison (2006, p.
24) pontua;

O Trabalho do pedagogo nos espaços não-escolares, no mundo contemporâneo,


parte de pressupostos mais exigentes e complexos do que os das décadas passadas,
demanda outras ações, embasadas em outro paradigma, porque estes ambientes
educativos encontram-se sob forte pressão, exigem respostas alternativas e rápidas e
privilegiam a lógica da aprendizagem auto-regulada.

Ainda segundo Frison (2006, p.24), é preciso também pensar o perfil do pedagogo
para atuar no espaço não escolar, pois

[...] o perfil profissional não se configura mais pelas tarefas ou atividades exercidas
isoladamente. Os desafios e problemas interdependentes encontrados, neste início de
milênio, sinalizam a necessidade de encontrar soluções coletivas que possam
beneficiar o maior número possível de pessoas.

Assim, o estágio como componente curricular da formação profissional, aqui em


especial no espaço não escolar,

[...] possibilita pôr em prática muitas competências profissionais genéricas que


fazem parte do catálogo de aprendizagens que correspondem à formação
universitária: a observação, a análise das situações, a narração-descrição-análise das
experiências, a apresentação de resultados, entre outros. Fazer as práticas não é sair
da universidade para fazer qualquer coisa. É continuar aprendendo em um contexto
não acadêmico (ZABALZA, 2014, p.115).

Desse modo e diante do que foi mencionado, é preciso redimensionar o estágio como
um espaço e tempo para as aprendizagens, buscando uma relação dialético-dialógica com
alguém que já é profissional, possibilitando dessa maneira a profissionalização do estagiário,
pois o período de estágio também se configura como um espaço de construção da identidade
docente no espaço não escolar.
36949

O curso de Pedagogia e as suas possibilidades de inserção nos espaços não escolares

Corroboramos o pensamento de Libâneo e Pimenta ao afirmarem que a Pedagogia é


mais ampla que a docência e também por compreender as inúmeras possibilidades de atuação
do pedagogo ao abranger outras instâncias para além da sala de aula.
Nesse sentido, Libâneo e Pimenta (1999, p. 252) ressaltam que:

A Pedagogia é uma reflexão teórica baseada nas práticas educativas e sobre elas.
Investiga os objetivos sociopolíticos e os meios organizacionais e metodológicos de
viabilizar os processos formativos em contextos socioculturais específicos. Todo
educador sabe, hoje, que as práticas educativas ocorrem em muitos lugares, em
muitas instâncias formais, não-formais, informais. Elas acontecem nas famílias, nos
locais de trabalho, na cidade e na rua, nos meios de comunicação e, também, nas
escolas. Não é possível mais afirmar que o trabalho pedagógico se reduz ao trabalho
docente nas escolas. A ação pedagógica não se resume a ações docentes, de modo
que, se todo trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho pedagógico
é trabalho docente. Por exemplo, o MST faz um trabalho pedagógico, mas não
necessariamente um trabalho docente, a não ser quando reúne suas crianças nas salas
de aula para a escolarização formal ou os militantes para estudar o aprimoramento
de práticas agrícolas, os direitos trabalhistas de lavradores etc.

Ao compreendermos as várias possibilidades de atuação do pedagogo e as demandas


para esse profissional na contemporaneidade, é que ratificamos a necessidade de uma
formação teórica e metodológica consistente para uma atuação coerente e com qualidade
social para todos e todas. Frison (2004, p. 88) menciona sobre as transformações sociais e o
entendimento sobre a atuação nos espaços não escolares:

[...] na escola, na sociedade, na empresa, em espaços formais ou não formais,


escolares ou não escolares, estamos constantemente aprendendo e ensinando. Assim,
como não há forma única nem modelo exclusivo de educação, a escola não é o único
em que ela acontece e, talvez, nem seja o mais importante. As transformações
contemporâneas contribuíram para consolidar o entendimento da educação como
fenômeno multifacetado, que ocorre em muitos lugares, institucionais ou não, sob
várias modalidades.

Ainda acrescenta sobre a atuação de pedagogo no espaço não escolar, ressaltando que:

Nos Espaços não-escolares, um dos desafios que se impõe ao pedagogo é


desenvolver projetos voltados para o desenvolvimento de capacidades, de
competências e de técnicas que tenham como ênfase a formação e a atualização dos
sujeitos. O bom aproveitamento das estratégias de aprendizagem requer um sistema
de auto-regulação fundamentado na reflexão crítica, na tomada de decisão, a partir
do diálogo consigo mesmo e com a realidade. Nesta perspectiva, o pedagogo
trabalha com o desenvolvimento de competências técnicas capazes de (re) orientar e
potencializar a ação dos sujeitos. Esta ação implica participação do sujeito que é
provocado a pensar sobre sua aprendizagem, que tem consciência de si mesmo e das
necessidades do mundo que o rodeia. É importante desenvolver estratégias para
sinalizar a necessidade de atualização constante. (FRISON, 2006, p. 25).
36950

Nesse sentido, a partir da nossa experiência e de pesquisas no desenvolvimento do


estágio em espaços não escolares, das leituras e de estudos nessa área, podemos mencionar
como possíveis campos de atuação de pedagogos: empresas, hospitais, sindicatos, Detran,
abrigo de idosos, jardins zoológicos, praças, praias, museus, estação ciência, movimentos
sociais, presídios, projetos culturais e/ou comunitários, centros culturais e outros.
Vale ressaltar que em todos esses campos do exercício profissional, o pedagogo irá
desenvolver funções nas quais ele buscará respaldo no campo de conhecimento da Pedagogia.
Ou seja, desenvolvendo ações pedagógicas, por meio do planejamento, do acompanhamento,
da execução e da avaliação de projetos, programas ou políticas de cunho pedagógico. Não
apoiamos qualquer ação que seja caracterizada como desvio de função do pedagogo nesses
espaços não escolares.
Não poderíamos deixar de ressaltar a importância do trabalho interdisciplinar que o
pedagogo poderá coordenar nesse espaço não escolar. Através da parceria e do trabalho
coletivo, o pedagogo poderá contribuir para o desenvolvimento de ações pedagógicas nesses
espaços. Entretanto, como a atuação do pedagogo em espaços não escolares é uma atividade
recente, temos encontrados muitos empecilhos para a realização de estágios, tais como: a
visão restrita de que pedagogo só deve estar na sala de aula, a falta de confiança na formação
do pedagogo para atuar em espaços não escolares, o preconceito com o curso de Pedagogia e
outros.
Vale salientarmos que é importante, no estágio em espaço não escolar, conceber a
realização desse estágio também como espaço de pesquisa. Pesquisar o cotidiano do espaço
não escolar não é a mesma coisa que desenvolver uma pesquisa de cunho acadêmico ou
cientifico, porém requer da formação do pedagogo, uma vez que

[...] a concepção de professor-pesquisador apresenta formas concretas de


articulação, tendo a prática como ponto de partida e como finalidade, sem que isto
signifique a supremacia da prática sobre a teoria (ESTEBAN; ZACUUR, 2008, p.
20).

Nesse sentido, o estágio concebido como espaço de pesquisa requer do estagiário o


caminhar para a reflexão a partir da realidade. Assim, Pimenta e Lima (2004, 46) expõem
que:
36951

A pesquisa no estágio, como método de formação de futuros professores, se traduz,


de um lado, na mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos
contextos onde os estágios se realizam; por outro lado, e em especial, se traduz na
possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador
a partir das situações que observam.

A partir desse entendimento, é preciso que os professores formadores que coordenam


os estágios orientem os estudantes no sentido da palavra pesquisa e da formação como
pesquisador para esse contexto. Segundo a professora Marli André (2005, 2006, 2012), para
que um professor se torne um pesquisador é preciso:

• Que haja uma disposição pessoal do professor para investigar.


• Um desejo em questionar.
• Uma formação adequada.
• Que atue em ambiente institucional favorável à constituição de grupos de estudo.
• Que tenha possibilidade de receber assessoria pedagógica.
• Que tenha tempo e disponha de espaço para realizar a pesquisa.
• Tenha possibilidade de acesso a materiais, fontes de consulta e bibliografia
especializada.

Dessa forma, a partir da leitura de Lima (2012), quando propõe “os caminhos do
estágio”, podemos considerar como um possível percurso, com base na nossa experiência de
estágio no espaço não escolar, as seguintes possibilidades operacionais para a realização desse
estágio.
1. Pesquisa sobre quais espaços não escolares dispomos para a realização do estágio.
2. Contato com as instituições para a realização do estágio.
3. Observar se essas instituições já possuem convênio com a universidade.
4. Ofício solicitado das instituições vaga e aceitação para estagiários.
5. Estudo teórico metodológico sobre a atuação no espaço não escolar, bem como
estudo específico sobre cada espaço não escolar, coordenado pelo professor de
estágio. Por exemplo, quando desenvolvemos projeto no espaço do Hospital,
realizamos estudos sobre a Pedagogia Hospitalar. Não podemos encaminhar o
estagiário para o local de estágio sem estudos prévios sobre a sua possível atuação
naquele espaço não escolar!
6. Encaminhamento do estagiário para espaço de estágio não escolar.
7. Realização de observação, mediante roteiro construído nas aulas, para
conhecimento da realidade. Nessa etapa, o estagiário poderá utilizar também a
entrevista com gestores, coordenadores, supervisores e outros funcionários para
conhecer mais de perto a especificidade do local de estágio. Essa etapa não pode
36952

ser realizada em um período muito curto. É preciso conhecer para poder intervir
futuramente.
8. Revisão do estudo teórico e metodológico sobre o espaço não escolar para a
elaboração do projeto de intervenção com o acompanhamento do professor de
estágio. Por exemplo, ao desenvolvermos o projeto no hospital, é o momento de o
grupo rever as leituras e fundamentar sobre o trabalho naquele espaço. A partir daí
elabora-se o projeto.
9. Elaboração do projeto de intervenção, pensando em todos os itens de um projeto:
dados iniciais sobre a instituição (isso colhido na observação), justificativa,
objetivos (geral e específicos), fundamentação teórica, procedimentos
metodológicos, recursos, cronograma, avaliação e referências. Além, da
elaboração dos planos de atividades diárias. No espaço não escolar, também se faz
planejamento e planos!
10. Execução do projeto. É bom nessa fase registrar tudo com fotos, depoimentos em
entrevistas, fazer anotações sobre as observações. Durante a execução do projeto é
necessária a realização de reuniões de planejamento e de avaliação do que está
sendo desenvolvido. É imprescindível também o acompanhamento do professor
coordenador de estágio nesses momentos de execução do projeto.
11. Avaliação em sala de aula sobre o desenvolvimento do estágio após a sua
conclusão. Roda de conversa, na qual todos pontuam os pontos fortes e os pontos
que precisam ser repensados para os próximos estágios. Socialização também dos
diversos grupos que estavam em outros espaços não escolares.
12. Construção da produção sobre o registro de estágio. Poderá ser desenvolvido em
formato de: relatório, dossiê, portfólios, blogs, diários, webfólios e outros
formatos que contribuam para a reflexão profissional formativa, por meio do
estágio no espaço não escolar.
13. Socialização das práticas de estágio no espaço não escolar com outras turmas do
curso de Pedagogia. Poderá ser apresentado em “banner” ou em comunicações
orais.
Assim, a partir da experiência compartilhada e das pesquisas realizadas, o estágio em
espaço não escolar pode até se configurar um “novo” formato de estágio, devido a sua
oficialização por meio das diretrizes do curso de Pedagogia, porém enfrenta velhos desafios,
como: práticas artesanais, somente preenchimento de fichas, relatórios somente descritivos,
36953

treinamentos, desvinculação teoria da prática, coleta simples de dados, momento de ver falhas
ou insuficiências nos outros, de fazer denúncias, de cumprir horários e outros equívocos que
ainda persistem. Entretanto, estamos avançando em prol de uma formação crítica e reflexiva.

Considerações finais

Diante das evidências expostas e refletidas nessa pesquisa no que diz respeito às
experiências no campo do estágio supervisionado em espaços não escolares, podemos ratificar
a necessidade desse espaço de estágio para a formação profissional e para a identidade
docente do pedagogo diante das demandas da contemporaneidade.
Salientamos que é preciso ainda aprofundar os estudos e as experiências para a
atuação do pedagogo em espaços não escolares, garantindo o seu exercício profissional, para
que não se caracterize como um desvio de função.
Não poderíamos deixar de mencionar que, à luz do diálogo tecido com os teóricos
apresentados no decorrer deste trabalho, foi possível percebermos o quanto já avançamos em
possibilidades de atuação e de espaços para o pedagogo no que diz respeito ao espaço não
escolar. Porém, restam ainda alguns desafios, como já mencionamos, e entre eles a
proposição, nos currículos dos cursos de Pedagogia, que possibilite essa formação, ou seja, a
atuação de pedagogo em espaços não escolares.
Assim sendo, a nossa experiência e a pesquisa desenvolvida com a atividade de
estágio em espaço não escolar possibilitaram-nos algumas reflexões que foram tecidas ao
longo do texto. Esperamos que tais reflexões e socializações possam provocar outros debates
e construções, com vistas à construção de conhecimentos para o campo de estágio em espaço
não escolar, para a Pedagogia e, acima de tudo, para a profissionalização e para construção da
identidade do pedagogo.

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Ensinar a pesquisar: como e para quê? IN:
VEIGA, Ilma Passos Alencastro Veiga (Org.). Lições de Didática. Campinas, SP: Papirus,
2006, p. 123-134.

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. O Papel mediador da pesquisa no ensino de
didática. IN: ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de; OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales
(Orgs.). Alternativas no ensino de didática. 7.ed. Campinas, SP: Papirus, 2005, p.19-36.
36954

ANDRÉ, Marli. (Org.). O Papel da pesquisa na formação e na prática dos professores.


12.ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista


Brasileira de Educação. Jan./Fev. /Mar./Abr. n.19., 2002, p. 20-29.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – CONSELHO NACIONAL DE


EDUCAÇÃO/CNE: Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia.
Resolução CNE/CP nº 1 de 15 de maio de 2006. In: Diário Oficial da União. Brasília, 16 de
maio de 2006.

BRASIL/MEC. Lei Nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases


da Educação Nacional. Brasília, 1996.

ESTEBAN, Maria Teresa; ZACCUR, Edwiges. A pesquisa como eixo da formação docente.
IN: ESTEBAN, Maria Teresa; ZACCUR, Edwiges (Orgs.). Professora pesquisadora: uma
práxis em construção. 2.ed. Rio de Janeiro: DP et alii Editora Ltda., 2008, p. 11- 23.

FRISON, Lourdes Maria Bragagnolo. Auto-regulação da aprendizagem: atuação do


pedagogo em espaços não-escolares. 2006. 342f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade
de Educação, PUCRS, Porto Alegre.

FRISON, Lourdes Maria Bragagnolo. O pedagogo em espaços não escolares: novos desafios.
Ciência & Letras. Porto Alegre: n.36, p.87-103, jul. /dez.2004.

JACOBUCCI, Daniela Franco Carvalho. Contribuições dos espaços não-formais de educação


par a formação da cultura científica. Em Extensão, Uberlândia, v.7, 2008, p. 5555-66

LIBÂNEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação de profissionais da educação:


Visão crítica e perspectiva de mudança. Educação & Sociedade, ano XX, n. 68,
Dezembro/99, p. 239-277.

LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e aprendizagem da profissão docente. Brasília:


Líber Livro, 2012.

MIRANDA, Maria Irene. Ensino e pesquisa: o estágio como espaço de articulação. In:
SILVA, Lázara Cristina da; MIRANDA, Maria Irene (Orgs.). Estágio supervisionado e
prática de ensino: desafios e possibilidades. Araraquara, SP: Junqueira&Marin; Belo
Horizonte, MG: FAPEMIG, 2008, p. 15-36.

PICONEZ, Stela C. Bertholo (Coord.). A Prática de Ensino e o estágio supervisionado. 12.


ed. São Paulo: Papirus, 2006.

PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo:
Cortez, 2004.
36955

PIMENTA, Selma Garrido. Apresentação da coleção. In: ZABALZA, Miguel A. O Estágio e


as práticas em contextos profissionais na formação universitária. 1. Ed. São Paulo:
Cortez, 2014, p. 11- 20.

SANZ FERNÁNDEZ, Florentino: El aprendizaje fuera de la escuela: tradición del pasado y


desafío para el futuro. Madrid: Ediciones Académicas, 2006.

ZABALZA, Miguel A. O Estágio e as práticas em contextos profissionais na formação


universitária. 1. Ed. São Paulo: Cortez, 2014.

Você também pode gostar