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Resumo
Abstract
Based on the need for reflection on university teaching, the aim of this literature review was
to discuss the processes of pedagogical training, as well as the main factors responsible for the
mismatches between theory and pedagogical practice in higher education. It was understood
that a large part of the Postgraduate Programs prioritizes the training of researchers with
scientific depth and, on the other hand, little pedagogical baggage, precisely because it leaves
the pedagogical aspects of professional training in the background. However, the professional
will be able to use alternatives, such as complementary pedagogical training, as the
professional at master's and doctoral level in different areas will be able to carry out subjects
that contemplate the pedagogical discussions in Postgraduate Programs in the area of
education, or even carry out specialization in didactics, in order to contemplate the multiple
pedagogical knowledge, and, thus, fill the gaps in their training. Through reflection and
teaching action, we will be able to conceive the first steps to achieve a better-quality teaching
and learning process.
Keywords: Educational planning, educational projects, learning psychology, teacher practice.
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Introdução
Ensinar não é transferir conhecimentos, nem formar é a ação pela qual um sujeito dá
forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem
discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os
conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende
ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE 1996, p. 25).
Segundo Nóvoa (1991), a formação docente não pode ser direcionada somente ao
sistema educacional, devendo, portanto, ser fundamentada em três dimensões básicas: a
dimensão pessoal, a profissional e a organizacional -, as quais constituem a trilogia da
formação contínua: produzir a vida, a profissão e o ambiente de ensino. Para expandir a
compreensão da docência no ensino superior é necessário refletir sobre a didática para além
de uma simples inovação na forma de ensinar e de aprender. Pensar sobre a didática no ensino
superior é pensar em suas possibilidades e métodos de aplicabilidade em diferentes espaços
sociais e acadêmicos, sendo esta definida como: “a ciência e a arte do ensino” (HAYDT,
2000, p. 01).
Como arte, a didática não objetiva apenas o conhecimento pelo conhecimento, mas
procura aplicar os seus próprios princípios finalidade concreta que é a instrução
educativa. Enquanto arte de ensinar, a didática é tão antiga como o próprio ensino.
Pode-se dizer ainda mais: ela é tão antiga como o próprio homem, pois, em todos os
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tempos houve “exímios educadores e exímios mestres, que, guiados por uma fina
observação e por um grande talento inato, conseguiram os melhores resultados no
domínio do ensino e da educação, antes mesmo da existência da ciência da didática.
(OTÃO, et al. 1965, p. 01).
De acordo com Minayo (2007, p. 13), o ambiente universitário passa por constantes
transformações, sendo, portanto, ingenuidade do docente acreditar que as instituições de
ensino, pesquisa e extensão permaneceriam inalteradas. Desta forma, as práticas pedagógicas
devem se estruturar como instâncias críticas das práticas educativas, na perspectiva de
transformação coletiva dos sentidos e significados das aprendizagens. Partindo da necessidade
de reflexão acerca da docência universitária, objetivou-se, enquanto ponto central, a revisão
de literatura sobre os processos de formação pedagógica, bem como, os principais fatores
responsáveis pelos desencontros entre a teoria e a prática pedagógica no ensino superior.
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diversos autores propiciaram releituras, observações e ponderações quanto à dicotomia e a
distância que existe entre a teoria e a prática em diversas aulas do ensino superior.
É sabido que muitos docentes do ensino superior não possuem uma formação inicial
em Licenciatura, mas em Bacharelado. E, também, que os programas de Pós-Graduação, em
grande parte, não tencionam a formação pedagógica como prioritária, destacando atividades e
conteúdos para a formação científica dos futuros mestres e doutores. Dessa forma, uma parte
considerável dos docentes que adentra o ensino superior possui uma bagagem científica
considerável, mas encontram dificuldade para realizar a transposição didática
(CHEVALLARD, 1998), ministrando aulas que não propiciam um ensino contextualizado,
significativo e com a produção reflexiva e autônoma do conhecimento para seus alunos.
No século XVI, por já não mais atender às necessidades da época, o modelo medieval
de ensino entra em conflito com o modelo profissionalizante. Contudo, somente no século
XVII as universidades avançam, passando a serem consideradas também ambientes de
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pesquisa, promovendo debates sobre os temas da época, dando então os primeiros passos para
o modelo atual (CUNHA, 2011). No final desse século surgem grandes Instituições de
excelência atingindo outros continentes, fortalecendo a integração entre o ensino e a pesquisa,
disseminando ideias liberais e discutindo temas como desenvolvimento econômico e social.
Com tal expansão, as primeiras universidades chegam a América Latina, com cursos de
Teologia e Filosofia ministrados por religiosos (CUNHA, 2011).
No final da década de 1960, com a criação dos Institutos Centrais, a formação dos
professores das disciplinas específicas, seguia os passos apontados por Cury (2001, p. 12), ao
ressaltar que:
Os mestres tinham que ser aproveitados dos cursos já existentes, a Academia Militar
e a Escola Politécnica, era formadora de engenheiros e bacharéis em Ciências Física
e Matemáticas. Esses pioneiros, com sólida bagagem de conhecimentos na área, mas
em geral sem formação pedagógica específica, valorizavam o conteúdo matemático
em detrimento dos métodos de ensino. (CURY, 2001, p. 12)
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A Universidade do Estado do Rio de Janeiro foi à precursora neste processo,
implementando em 2003 o primeiro Programa de Cotas brasileiro. Logo em seguida outras
universidades foram incorporando o sistema de cotas ao processo seletivo vigente.
Neste sentido, Massetto (2003, p.13) elucida que se iniciou alguma modificação do
ponto de vista reflexivo, dando espaço a questionamentos e a preocupação em relação a forma
como a prática docente tem sido conduzida por parte dos próprios professores, alertando-os
para a necessidade de possuírem formação para a docência que contemple os aspectos
pedagógicos da profissão:
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que não se restringe a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de mestre ou doutor, ou ainda apenas o
exercício da profissão. Além disto, exige também competência pedagógica, pois ele é um educador.
(MASSETO, 2003, p. 13)
Quando existe alguma formação para a docência neste grau de ensino esta se
encontra circunscrita a uma disciplina de Metodologia do Ensino Superior, nos
momentos da pós-graduação, com carga horária média de 60 horas. Situa-se nesta
disciplina, muitas vezes, as referências e orientações para o professor universitário
atuar em sala de aula. Não há uma exigência de conhecimentos de base para o
magistério e nem uma formação sistemática propiciadora da construção de uma
identidade profissional para a docência. (ANASTASIOU, 2005, p. 4).
No entanto, é válido ressaltar que não basta ter grau de licenciado e não se dispor a por
em prática os conhecimentos pedagógicos adquiridos, sem a menor aptidão ou gosto pela
profissão. De maneira geral, a docência envolve questões relativas à aprendizagem do aluno,
requer a compreensão de sua área específica de atuação e sua significação social e exige
múltiplos saberes de ordem pedagógica como a organização do currículo, conhecimento do
Projeto Político-Pedagógico, planejamento, avaliação, entre tantos outros. Desse modo, a
proposta pedagógica está subsidiada no princípio de que indivíduos são pessoas concretas,
inseridas num contexto social, cultural, político e econômico (ALMEIDA; PIMENTA, 2011,
p. 21).
[…] lhes possibilita dizer quais foram os bons professores, quais eram bons em
conteúdos, e não em didática, isto é, não sabiam ensinar. Quais professores foram
significativos em suas vidas, isto é, contribuíram para sua formação humana.
Também sabem sobre o ser professor por meio da experiência socialmente
acumulada, as mudanças históricas da profissão, o exercício profissional em
diferentes escolas, a não valorização social e financeira dos professores [...] sabem
um pouco sobre as representações e estereótipos que a sociedade tem dos
professores, através dos meios de comunicação. (PIMENTA 2007, p. 20)
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Assim, as experiências formativas possibilitam a construção de saberes sobre um
determinado fenômeno, podendo ainda serem ampliadas nas relações inter e intrapessoais, ou
seja, consigo, com o outro e com o mundo nos mais diferentes contextos, tornando-os mais
elaborados e sistematizados. As experiências formativas podem ser entendidas como aquelas
que se processam ao longo da vida, da formação humana, como processo de desenvolvimento
e estruturação da pessoa que se realiza com o duplo efeito de uma maturação interna e de
possibilidades de aprendizagem, de experiências dos sujeitos (GARCIA, 1999, p. 19).
Não há dúvidas sobre o quão complexo é o trabalho docente diante das atribuições que
lhe são exigidas. Neste tocante, Veiga (2006, p. 2) destaca a conjuntura indissociável entre
ensino, pesquisa e extensão, ressaltando não somente a importância da produção do
conhecimento, mas também a sua socialização. A autora reforça, ainda, que a formação do
professor universitário implica a importância de compreender o papel docente, possibilitando
a este indivíduo um aprofundamento científico aliado ao conhecimento pedagógico que o
capacite a responder questões fundamentais da universidade como instituição social, de
maneira crítica e reflexiva.
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superior, a determinação da carga horária em prática docente consiste em uma
responsabilidade de cada programa de Stricto Sensu, o que reflete menor preocupação com a
formação destes profissionais para atuarem no Ensino Superior. Sobre isso Soares e Cunha
expõem:
[...] chama a atenção nas Políticas Públicas a não exigência de uma formação para
professores de educação superior que contemple os saberes específicos da docência,
como os relacionados aos processos de ensino e aprendizagem, incluindo a avaliação
e o planejamento, enfim, a condução da aula em suas múltiplas possibilidades.
(2010, p. 580)
Diante deste cenário, precisamos refletir sobre a formação docente para o ensino
superior. Neste sentido, Neuenfeldt afirma:
A formação dos professores que atuam no Ensino Superior apresenta-se como uma
preocupação atual, já que estes têm demonstrado em suas práticas uma falta de
preparo para formar profissionais. No caso específico da educação, os docentes são
os responsáveis pela formação dos futuros professores das nossas crianças e jovens e
isso representa um compromisso e a responsabilidade direta sobre a qualidade da
educação. (2006, p. 3)
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[...] exige tanto uma preparação cuidadosa como singulares condições de exercício,
o que pode distingui-la de outras profissões [...] o exercício da docência exige
múltiplos saberes que precisam ser apropriados e compreendidos em suas relações.
A ciência pedagógica situa-se nesse contexto e só com essa perspectiva contribui
para a formação dos professores. (CUNHA, 2010, p. 25)
A formação de professores é uma temática que, cada vez mais, ocupa um papel de
destaque nas discussões político-educacionais, seja nas políticas públicas, seja nas
corporações profissionais do magistério. Quase sempre vinculada à questão da
melhoria da qualidade do ensino, apresenta-se como um dos importantes pilares das
propostas de inovação curricular situando-se numa perspectiva transformadora da
educação e do ensino. (MACHADO, 1999, p. 95)
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(1992) têm apresentado outro paradigma no tocante à formação profissional, ou seja, a
chamada racionalidade prática.
A profissão docente é uma atividade cujo caráter essencial está relacionado com o
saber, com a produção do conhecimento e sua utilização, embora esta vinculação não seja
inequívoca a sua problemática, parece perdurar ao longo da trajetória desta profissão, de
maneira generalizada (STADELMANN e SPIRGI, 1997; PETER, 1996). Aquilo que o
profissional pensa e faz é um ‘saber-fazer’, que é resultado de um processo de aquisição e, ao
mesmo tempo, de um ‘saber prático’, ou seja, um discurso vinculado à prática, no sentido da
possibilidade de praticar a teoria e teorizar a prática como momentos de um mesmo e único
processo.
Considerações finais
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moldando o perfil de profissionais com aprofundamento científico e em contrapartida, pouca
bagagem pedagógica, justamente por deixar em segundo plano os aspectos pedagógicos da
profissão. Contudo, é válido ressaltar que não basta obter o grau de licenciado e não se dispor
a por em pratica os conhecimentos pedagógicos adquiridos.
Por fim, a partir da reflexão e ação docente, poderemos conceber os primeiros passos
para alcançar um processo de ensino aprendizagem de melhor qualidade, onde a teoria e
prática pedagógica se encontrem e estejam presentes no mesmo ambiente: as salas de aulas do
ensino superior.
Referências
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CHARLES, S. A universidade na época democrática: problemas e desafios. Integração, v.
11, n. 43, p. 359-368, 2005. Disponível em: ftp://ftp.usjt.br/pub/revint/359_43.pdf. Acesso em:
08 maio 2020.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 31. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. 184 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia saberes necessários à prática educativa. 16. ed.
Editora Paz e Terra: São Paulo, 1996.
OTÃO, J. etall. Didática do ensino superior. Porto Alegre: [S. ed.], 1965.
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SILVA, Ileizi Luciana Fiorelli. A formação de docentes da Educação Infantil e anos
iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, no Estado do Paraná. Documento para
organização do Curso de Formação de Professores em nível Médio na Escola Pública do
Paraná. 2003.
STADELMANN & SPIRGI, Stadelmann Spirgi: Como deve formar o professor. Reflexões
de Docentes em formação de professores. Bern Stuttgar/Berlin Verlag Paul Haupt. 1997.
TARDIF, M & LESSARD, C. O trabalho docente. Petrópolis, R.J: Editora Vozes, 2005.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro et al. Docência universitária: formação pedagógica no âmbito
da pós-graduação. Revista Linhas Críticas, Brasília, v. 14, n. 26, p. 61-77, jan./jun. 2008.
Disponível em: https://doi.org/10.31639/rbpfp.v9i17.152. Acesso em 10 abr. 2020.
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