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SUMÁRIO
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NOSSA HISTÓRIA
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Didática da filosofia: algumas reflexões iniciais
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Então, qual o sentido desta disciplina Didática da Filosofia?
Antes de procurar responder a esta pergunta será preciso indagar sobre a didática
em geral. Segundo Isabel Alarcão, “a didática curricular tem como objetivo levar o aluno,
futuro professor, a compreender que, para ensinar a matéria que aprendeu, tem de ser
capaz de adaptá-la ao conhecimento do aluno para assim servir de mediador, espécie de
tradutor entre o saber constituído e o saber a construir pelo aluno (...)” (2006, p.181).
O objetivo da didática é o desenvolvimento da autonomia do aluno como
aprendente e como profissional reflexivo. Neste sentido, a didática tem caráter analítico
e reflexivo, de interface teórico-prática e científico-analítica. Não, sendo, portanto, um
repositório de receitas. O vocábulo didática deriva da expressão grega techné didaktiké –
arte ou técnica de ensinar.
Segundo Ghiraldelli, “o problema da didática geral é um só: estabelecer o limite
entre o que está sendo organizado de maneira a ser melhor apreendido pelo estudante e o
assunto propriamente dito como ele aparece classicamente na história dos
conhecimentos”. Também, procura avaliar as mediações possíveis e necessárias para
ensinar filosofia na escola. A didática busca pensar aquilo que Chevallard (1997)
denomina de “transposição do saber”, ou melhor dizendo, a transformação do saber
científico em um saber ao nível dos alunos. Neste processo de transposição estão
presentes vários elementos, entre eles: seleção dos conteúdos a ensinar, os alunos a quem
se vai ensinar, e o espaço – a escola – em que esta aula vai acontecer.
E a didática da filosofia?
Está é uma didática específica e “tem como objeto de estudo a natureza do
processo real, contextualizado, do ensino-aprendizagem de uma determinada disciplina.
Para estudar, busca saberes de referência que recria a funcionalidade do valor que detêm
para a compreensão do problema em questão. (...) Colocada a serviço dos professores,
estes reinterpretam a didática no contexto específico em que lecionam, por vezes
questionando-a e adaptando-a, mas também investigando sobre ela. Em suas mãos, a
didática assume a funcionalidade que caracteriza a ação na sala de aula. Saber didática é
pois, ter desenvolvido uma teoria/prática, uma inteligência pedagógica, saberes que
permitem agir em uma situação. É esse o contributo da didática para a formação de
professores” (Alarcão, p.186-7).
Para Selma Pimenta (2006, p.55) “Às didáticas das disciplinas compete o estudo
do que se refere às origens dos conteúdos a ensinar, sua história e sua epistemologia. (...)
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novos conceitos didáticos: tramas conceituais, contrato didático, transposição didática,
situações didáticas”.
Avançando um pouco mais, Zabala (1998), indica os elementos a serem
estudados na Didática, denominados de unidades didáticas, que são:
- sequências de atividades de ensino (sequências didáticas)
- o papel dos professores e dos alunos (relação entre professor e aluno)
- forma de estruturar os diferentes alunos e a dinâmica grupal (organização social
da aula)
- utilização dos espaços e do tempo.
- maneira de organizar os conteúdos
- características e uso dos materiais curriculares e outros recursos didáticos.
- o sentido e o papel da avaliação. Então, a Didática da filosofia a ser desenvolvida
tem como objetivos proporcionar:
1. Compreensão da disciplina Filosofia no contexto amplo da educação brasileira.
2. Compreensão da especificidade da disciplina Filosofia no Ensino Médio, para
alunos jovens/adolescentes, de diferentes classes sociais e portadores de cultura própria.
3. Leitura e análise do documento Orientações Curriculares – Conhecimentos de
Filosofia.
4. Seleção e análise de metodologias ao ensino da Filosofia.
5. Seleção e organização de materiais didáticos para aula de Filosofia.
6. Planejamento de aulas, levando em conta as unidades didáticas.
7. Execução dos planejamentos das aulas (micro-aulas)
Para finalizar esse módulo, é preciso salientar que não há, ainda no Brasil, uma
produção de conhecimento significativa no campo da Didática e das Metodologias para
o ensino de Filosofia na Escola Básica. Há ensaios e textos produzidos por professores
de Filosofia interessados e comprometidos com o ensino, com as questões educacionais
que atravessam o pensamento sobre aula de Filosofia no Ensino Médio.
Entretanto, não há muitas pesquisas que encaminhem para a indicação sustentada
acerca de metodologia mais adequadas à natureza e ao contexto deste ensino. Por isso,
está disciplina que estamos começando hoje se alicerça no já produzido, mas, também,
sinaliza para a pesquisa que pode ser nela iniciada.
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Módulo II
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filosofia um caráter instrumental. Mas há ainda um outro problema a ser apontado. Em
ambos os casos, a justificação para o ensino da filosofia confere a esta disciplina um papel
que não é e não pode ser exclusivo dela. Isto é, se desejamos uma educação que forme a
criticidade dos jovens, a filosofia pode ser um dos elementos desta formação, mas
certamente não é e não pode ser o único.
A criticidade não é exclusiva da filosofia e não pode ser creditada exclusivamente
a ela. Ou as demais disciplinas também são formadoras da consciência crítica ou esta
formação é impossível. E o mesmo raciocínio é válido para a interdisciplinaridade. Para
além destas duas justificações, a afirmação da importância da filosofia nos currículos, que
aparece na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) também
apresenta um caráter instrumental: o papel da filosofia seria o de aportar aos jovens certos
conhecimentos filosóficos necessários ao pleno exercício da cidadania.
Esta justificação não deixa de estar relacionada com as duas anteriores, na medida
em que a LDB aglutinou os anseios da luta antiditadura, já evidenciados na Constituição
Federal de 1988. Mas, em que pese a nobreza da afirmação da filosofia como base da
formação para a cidadania, isto não diminui o fato de que lhe é atribuído um caráter
instrumental. Ora, desde Aristóteles que a filosofia se define como um fim em si mesma,
e não como um meio para atingir a um objetivo determinado:
1 - Justificar um espaço para a filosofia nos currículos da educação básica apenas
de modo instrumental – isto é, a filosofia a serviço de algo, como a cidadania – é
essencialmente antifilosófico, portanto. Indo mais para o contexto da argumentação
presente nos PCNEM.
2 - de ver na filosofia uma preparação abrangente do indivíduo, fazendo parte de
sua introdução ao universo da cultura e das técnicas para nele habitar, prefiro apostar no
ensino da filosofia como um fim em si mesmo, para além de qualquer tutela, seja ela
cidadã ou moral. Quando pensamos na educação como amplo processo de formação
humana e, sobretudo no Ensino Médio, como um nível propedêutico à universidade ou
então como etapa final da formação de um grande número de jovens que não vão para o
Ensino Superior, podemos falar em três grandes áreas do conhecimento humano
fundamentais, que devem estar presentes nessa formação: as ciências, as artes e as
filosofias.
Partindo daquilo que Deleuze e Guattari produziram em O que é a filosofia? (Rio
de Janeiro: Ed. 34, 1992), podemos dizer que as ciências, na sua relação com o mundo,
produzem funções, que organizam os fatos observados através de relações de causa-
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efeito; as artes, por sua vez, produzem perceptos e afectos, formas de compreensão do
mundo numa perspectiva estética; as filosofias, por fim, produzem conceitos, uma forma
racional de equacionamento dos problemas vividos no mundo.
Cada uma dessas formas de conhecimento humano, portanto, é irredutível à outra
e são todas mutuamente complementares. Dizendo de outro modo, nenhuma ciência é
capaz de fazer por mim aquilo que a filosofia faz, assim como nenhuma filosofia pode
substituir os afetos estéticos, por exemplo. O que equivale a dizer que, se procuramos um
processo educativo como formação humana, minimamente precisamos garantir a todos
os estudantes o acesso a estas três instâncias de produção de saberes sobre o mundo.
Penso que reside aí a justificativa para a necessidade da presença da filosofia nos
currículos do Ensino Médio. As diversas ciências lá estão; a experiência estética ou
artística, de um outro modo também (na verdade, penso que deveríamos ter muito mais
arte nos currículos, mas ao menos já temos alguma coisa). Mas e quanto às filosofias? Os
estudantes têm acesso às funções científicas, aos perceptos e afetos artísticos, mas e aos
conceitos filosóficos? Sem eles, não teremos um conhecimento abrangente, uma
formação abrangente.
Repito: não penso que a filosofia se justifique nos currículos da educação média
por promover uma forma de visão crítica do mundo (outras disciplinas também podem e
devem fazer isso), nem por possibilitar uma visão interdisciplinar (outras disciplinas
também podem e devem fazer isso), muito menos por trabalhar com conhecimentos
fundamentais ao exercício da cidadania (no limite, a ação cidadã não reside na filosofia,
mas talvez mesmo longe dela). Por outro lado, a ausência da filosofia nos currículos
significa o não contato dos estudantes com essa importante construção humana, que é o
conceito. Isso, sim, a filosofia pode oferecer. E apenas ela pode oferecer.
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SILVEIRA, René José; GOTO, Roberto (Org.). Filosofia no Ensino Médio:
temas, problemas e propostas. São Paulo: Loyola, 2007.
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Na conferência que proferiu na abertura do Congresso Brasileiro de Professores de
Filosofia (Universidade Metodista de Piracicaba, novembro de 2000), Douailler defendeu
que todo filosofar é um novo começo, possível apenas pela superação do mestre. Cita
como exemplo Platão, que só começa efetivamente a filosofar após a morte de Sócrates,
como esforço de levar adiante o legado do mestre, mas já produzindo um novo começo,
uma nova filosofia.
O professor de filosofia, então, é aquele que faz a mediação de uma primeira
relação com a filosofia, que instaura um novo começo, para então sair de cena e deixar
que os alunos sigam suas próprias trilhas. Sem Sócrates, Platão não teria se iniciado em
filosofia; mas sem o desaparecimento (a morte) de Sócrates, Platão não teria feito o
movimento de um novo começo, produzindo, ele mesmo, filosofia. O professor de
filosofia é aquele personagem que, a um só tempo, sabe e ignora; com isso, não explica,
mas media a relação dos alunos com os conceitos, saindo de cena em seguida para que a
relação com os conceitos seja feita por cada um e por todos. Impõe-se então a pergunta:
como organizar os conteúdos da filosofia no currículo deste nível de ensino? Temos ao
menos três eixos em torno dos quais podemos construir um currículo de filosofia: um eixo
histórico, um eixo temático e um eixo problemático. No primeiro, organizamos os
conteúdos a serem ensinados seguindo uma cronologia histórica.
O problema, nesse modelo, é que a chance de cair num ensino enciclopédico,
apresentando um desfile de nomes de filósofos, pensamentos e datas, é muito grande. E,
no contexto de um currículo já muito conteudista, a filosofia é vista como apenas um
conteúdo a mais. No segundo, elegemos temas de natureza filosófica, como a liberdade,
a morte ou outro qualquer, sendo que podemos ou não tratar estes temas em uma
abordagem histórica. De qualquer forma, os conteúdos são apresentados de forma
temática, em uma tentativa de torná-los mais próximos da realidade vivida pelos jovens.
Em termos de organização didática dos conteúdos a serem trabalhados no nível médio,
essa abordagem parece-me mais apropriada que a anterior.
O texto da conferência de Douailler, intitulado A filosofia que começa: desafios
para o ensino da filosofia no próximo milênio, foi publicado em GALLO, S.; CORNELLI,
G.; DANELON, M. (Org.). Filosofia do Ensino de Filosofia. Petrópolis: Vozes, 2003. As
teses de Douailler estão amparadas em um belo livro de Jacques Rancière, O Mestre
Ignorante (Belo Horizonte: Autêntica, 2002).
Por fim, na terceira alternativa, os conteúdos são organizados em torno dos
problemas tratados pela filosofia, que por sua vez se recortam em temas e podem ser
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abordados historicamente. Em minha visão, essa abordagem abarca as duas anteriores, na
medida em que permite tanto o acesso aos temas filosóficos mais relevantes quanto à
história da filosofia. Mas também avança para além delas, pois toma a filosofia como uma
ação, uma atividade, posto que se organiza em torno daquilo que motiva e impulsiona o
filosofar, isso é, o problema. Esta terceira forma de organização curricular dos conteúdos
de filosofia parece ser a mais apropriada se nosso objetivo é o de oportunizar a experiência
do pensamento conceitual, uma vez que os conceitos são produzidos a partir de
problemas.
Se apresentarmos os conteúdos da filosofia em uma abordagem histórica,
dificilmente teremos condições de mobilizar nos estudantes o trato com os conceitos,
tendendo a um ensino mais conteudista e enciclopédico, e menos experimental; por outro
lado, se utilizarmos uma abordagem temática, temos mais chances de escapar do
enciclopedismo, mas nem por isso garantimos visibilidade aos problemas filosóficos que
mobilizam o pensamento. É evidente, por outro lado, que centrar o currículo no eixo
problemático não pode significar o desprezo pela história da filosofia. A história deve
estar lá, sempre presente como o pano de fundo, como a fonte na qual buscamos o saber
filosófico sistematizado. Se o ensino de filosofia deve explorar aquele “poder de começo”
do qual fala Sthèphane Douailler, por outro lado, o começo só pode existir pela superação;
isto é, não começamos do zero, não desprezamos a história. É justamente a história que
nos garante a possibilidade de estabelecermos, sempre, um novo começo, que não é
nenhuma reinvenção da roda, mas o exercício de cada um fazer por si mesmo o
movimento de pensamento que fizeram os filósofos ao longo da história. Sugestões de
estudos e aprofundamento
Para aprofundar as questões aqui desenvolvidas, sugiro a leitura de:
ASPIS, Renata Lima; GALLO, Sílvio. Ensinar Filosofia: um livro para
professores. São Paulo: Atta, 2009.
DOUAILLER, Sthèphane. A filosofia que começa: desafios para o ensino da
filosofia no próximo milênio. In: GALLO, S.; CORNELLI, G.; DANELON, M. (Org.).
Filosofia do Ensino de Filosofia. Petrópolis: Vozes, 2003.
RANCIÈRE, Jacques. O Mestre Ignorante: cinco lições de emancipação
intelectual. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
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Sugestões de atividades práticas
• Defina uma lista de seus objetivos ao ensinar filosofia no nível médio;
• Faça uma lista dos conteúdos, temas e problemas filosóficos que você julga que
sejam importantes para atingir estes objetivos;
• Escolha os principais filósofos e/ou correntes filosóficas que podem auxiliar a
pensar estes conteúdos;
• Faça o exercício de organizar um currículo de filosofia com estes conteúdos e
autores, segundo:
a) uma orientação histórica;
b) uma orientação temática;
c) uma orientação problemática.
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Filosofia, de Antônio Joaquim Severino, Editora Cortez. • Pensando para viver: alguns
caminhos da filosofia, de Mauri Luiz Heerdt, Editora Sophos. Dentre aqueles manuais
que optam por uma organização temática, destaco: • Filosofando: introdução à filosofia,
de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, Editora Moderna. •
Temas de Filosofia, também de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires
Martins, Editora Moderna. • Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, Editora Ática. •
Filosofia: ensino médio, de Marilena Chauí, Editora Ática. • Fundamentos da Filosofia:
história e grandes temas, de Gilberto Cotrim, Editora Saraiva. • Introdução à Filosofia:
aprendendo a pensar, de Cipriano C. Luckesi e Elizete S. Passos, Editora Cortez. • Um
outro olhar, de Sonia Maria Ribeiro de Souza, Editora FTD. • Iniciação ao filosofar:
pensando melhor, de Angélica Sátiro e Ana Miriam Wuensch, Editora Saraiva. • Para
filosofar, de Cassiano Cordi, Antonio Raimundo dos Santos, Elizabeth Maria Bório,
Avelino Antônio Correa, Neusa Vendramin Volpe, Ana Maria Laporte, Sílvia Maria de
Araújo, Anita Helena Schelesener, Luiz Carlos Ribeiro, Dimas Floriani e Maria José
Justino, Editora Scipione. • Filosofia – Iniciação à Investigação Filosófica, de José Auri
Cunha, Editora Atual. • Explicando a Filosofia com Arte, de Charles Feitosa, Editora
Ediouro. • Ética e cidadania: caminhos da filosofia, produzido pelo Grupo de Estudos
sobre Ensino de Filosofia – Unimep (tendo como autores Sílvio Gallo, que coordenou a
edição, mais Márcio Mariguela, Paulo Roberto Brancatti, Márcio Danelon, Luís Carlos
Gonçalves, Carlos Henrique Cypriano), Editora Papirus.
Fica evidente que, dentre os livros didáticos disponíveis atualmente no mercado
editorial brasileiro, há uma clara predominância daqueles que optam por uma abordagem
temática. Para cada uma destas obras, poderíamos destacar pontos fortes e pontos frágeis,
mas não é este nosso objetivo aqui. Destaco, apenas, que, se optamos por uma abordagem
problemática do ensino de filosofia, muitas destas obras podem servir de apoio ao
trabalho do professor, mas nenhuma delas daria conta, de modo exclusivo, de permitir
este trabalho. Em uma abordagem problemática, além de possíveis manuais para o ensino
de filosofia, o professor precisa valer-se de textos dos próprios filósofos em traduções
confiáveis, textos não filosóficos que permitam uma aproximação aos temas e problemas
trabalhados, bem como outros materiais, como filmes, documentários, músicas, poesias,
obras de arte, que permitam sensibilizar os estudantes para os problemas filosóficos a
serem abordados.
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Sugestões de estudos e aprofundamento sugiro a leitura de:
KOHAN, Walter Omar; XAVIER, Ingrid Muller (Org.). ABeCedário de Criação
Filosófica. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
ROCHA, Roani Pires da. Ensino de Filosofia e Currículo. Petrópolis: Vozes,
2008.
Sugestões de atividades práticas
1. Analise os livros didáticos que você tenha disponíveis, verificando se propõem
uma abordagem temática ou histórica.
2. Faça comparações entre os manuais que você conhece, estabelecendo seus pontos
positivos para sua atividade no ensino e seus pontos frágeis.
3. Construa uma espécie de midiateca para o ensino de filosofia, com filmes, trechos
de filmes, obras de arte, poesias, músicas etc.
4. Produza textos auxiliares para suas aulas de filosofia, com base na opção
curricular adotada.
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• Dado um determinado tema filosófico, o estudante foi capaz de identificar o
problema que está por trás dele?
• Dado o desenvolvimento de um tema por um determinado filósofo, o estudante
foi capaz de identificar o problema ou conjunto de problemas que mobilizaram seu
pensamento?
• Lendo um texto filosófico a partir de um determinado problema mobilizador, o
estudante foi capaz de identificar o conceito ou conceitos produzidos pelo filósofo para
enfrentar este problema? O estudante foi capaz de recriar o conceito do filósofo,
refazendo o movimento de pensamento? O estudante foi capaz de deslocar este conceito
para um outro contexto ou um outro problema?
• O estudante foi capaz de comunicar seu movimento de pensamento através de
um texto de natureza filosófica?
• Como se pode perceber, estas questões são complexas e de forma alguma
direcionam para qualquer receituário de como avaliar em filosofia. Cada professor, no
contexto de seu trabalho, precisa criar os mecanismos próprios que lhe permitam perceber
o desenvolvimento dos estudantes, podendo intervir para seu aprimoramento, uma vez
que este é o único sentido aceitável para um processo de avaliação.
• Como você avalia seu percurso de estudos na filosofia? Faça uma lista dos
mecanismos de avaliação que você vivenciou durante seu trajeto como estudante de
filosofia. Faça uma análise crítica destes mecanismos, avaliando em seguida sua
propriedade ou não para os estudantes do Ensino Médio.
• Desenvolva distintos mecanismos avaliativos para as aulas de filosofia, de
acordo com a sua opção curricular.
• Se você estiver interessado em experimentar o ensino de filosofia, centrado em
problemas, faça o exercício de como você avalia a sua própria leitura de textos dos
filósofos, procurando identificar os problemas e os conceitos, como forma de preparar
futuros instrumentos avaliativos para os estudantes.
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RODRIGO, Lida Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino
médio. Campinas: Autores Associados, 2009.
Caro aluno nesse módulo você conhecerá a experiência de um Professor de
Filosofia, Sidney Fagundes Vieira da Cidade de Moeda/MG, levado a refletir sobre sua
prática. Sua escrita é reveladora pois aponta para os principais problemas do ensino de
Filosofia nas escolas. Leia com atenção e bons estudos.
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o poder do professor em determinar a classificação dos alunos através de notas, nos
atrevemos a alterar esta histórica concepção de avaliação. Propusemos a discussão da
avaliação com o grupo, tentando estabelecer critérios coletivos que pudessem criar uma
maior responsabilidade dos alunos com a disciplina em curso. Prevíamos a abolição da
prova bimestral e apresentávamos a sugestão de realizar diversos trabalhos escritos que
pudessem revelar o crescimento do grupo e de cada indivíduo no decorrer das aulas.
No entanto, desde as primeiras aulas, verificamos que os alunos não estavam
preparados para a nova forma de trabalho apresentada. A inibição da maioria com a
comunicação foi um problema sério a ser enfrentado. Se estávamos prevendo um processo
de debates e discussões em grupo, os alunos esperavam um professor que viesse expor
conteúdos que, posteriormente, seriam exigidos em forma de prova. Como os alunos
devem ter passado grande parte de sua vida escolar com a prática tradicional de educação,
baseada em metodologias expositivas, muitos demonstravam intimidações em se
pronunciar publicamente, permanecendo, a maior parte do tempo, em silêncio. Alguns,
ao contrário, se manifestavam seguidamente e chegavam a impedir a manifestação dos
outros. Assim, constatamos a enorme distância entre o que estávamos dispostos a
trabalhar e a realidade dos alunos. Assim, a proposta foi apenas apresentada, não havendo
uma efetiva discussão a seu respeito, durante as primeiras aulas.
Entretanto, não desistimos da nossa forma de trabalhar. Entendíamos que seria
necessário motivar os alunos para a participação. Isso representou uma grande mudança
em nossa concepção de trabalho inicial. A necessidade de estimular os alunos para o
debate, nos motivou a reelaborar as atividades após cada aula, desenvolvendo reflexões
sobre o que realizamos e o que precisávamos modificar ou melhorar. Quando iniciamos
as reflexões críticas das aulas percebemos uma contradição importante em nossa
proposta. Se estávamos dispostos a construir nossas aulas com os alunos, porque
havíamos planejado as atividades para todas as aulas antes de entrar em contato com a
turma? E por que estávamos tão preocupados com os conteúdos, se nossa principal meta
era a motivação para o pensamento filosófico? Concluímos, nesse momento, que o
fundamental do trabalho era construir atividades a partir de cada aula, de cada
comportamento que se manifestava, buscando uma participação cada vez maior dos
alunos na construção das atividades.
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A democracia em sala de aula e o risco do basismo
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construção de uma postura filosófica com o grupo envolvido. A percepção de que a
filosofia é algo que pode ser acessível e que deve estar presente nas mais diversas
situações da vida humana, colocou o grupo de alunos numa nova perspectiva de estudos.
Se não tivéssemos buscado o envolvimento ativo dos participantes com as diferentes
atividades propostas, o nosso trabalho não teria sentido enquanto experiência, pois o que
os alunos realizam na escola geralmente não lhes parece ter relação com a sua vida
cotidiana. Assim, ao invés de cairmos num ativismo e posterior basismo (e vice-versa), o
que buscávamos, enquanto metodologia, era o planejamento participativo, levando em
conta a participação de cada aluno na definição do nosso trabalho, mas sem absolutizar o
consenso em torno do que parece mais simples. O debate com os alunos teve, na gradativa
problematização da prática, a referência principal do seu próprio planejamento. A nossa
orientação maior foi a constante avaliação que realizamos, acompanhando o progresso da
turma com base nos seguintes critérios: a) interesse em aprender (questionar, trabalhar);
b) construção de conhecimento na relação com o grupo; c) participação em todas as
atividades; d) avanço na capacidade de expressão e argumentação (com clareza e
coerência).
No que tange às regras de disciplina e funcionamento dos trabalhos, essas foram
definidas pelo grupo de alunos que, além de as elaborarem, foram responsáveis pela sua
concretização e seu cumprimento. Também, nesse aspecto, foram obtidos bons
resultados, revelando que, se os próprios alunos aprovam as normas que regerão seu
comportamento individual e as relações coletivas, há uma maior responsabilidade e
atenção no seu cumprimento, melhorando os aspectos referentes à disciplina do grupo em
sala de aula.
Com certeza, o elemento que mais frustrou nossa expectativa foi a avaliação.
Como proposta, havíamos apresentado a possibilidade de abolição da prova bimestral
individual para classificação dos alunos por notas, propondo a conferência de uma mesma
nota para todos em função dos resultados do grupo. Com isso, buscávamos evitar a
histórica contribuição da escola para a reprodução de mecanismos de competição entre
as pessoas, o que acentua a cultura de opressão na sociedade. Coerente com nossa
concepção de construção do conhecimento, a referida proposta baseava-se na evolução
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progressiva do grupo diante dos conteúdos trabalhados. Se a avaliação tivesse como
referência a turma de alunos e não os indivíduos, estaríamos reforçando a solidariedade,
propondo aos que melhor entenderam as atividades a ajuda aos que tiveram maiores
dificuldades. Nessa proposta, levamos em conta a necessidade que a turma teria de
melhorar o aproveitamento de todos os alunos.
A nota de cada um, por sua vez, seria conferida a partir da média do grupo que
seria única. Logicamente, se todos no grupo melhorassem, a nota individual aumentaria
e de nada adiantaria competir, pois só haveria uma melhor nota se os de menor rendimento
pudessem ter a oportunidade de crescimento em cooperação com os demais.
A proposta foi apreciada pelo grupo e somente alguns deram seu parecer. A
maioria dos participantes considerou ótima a ideia, mas, praticamente, não ocorreram
críticas nem complementações. Isso nos pareceu um pouco estranho no início, mas depois
conseguimos entender que, se os alunos nunca haviam participado de uma proposta desse
tipo, dificilmente poderiam propor ou criticar, já que não tinham elementos para isso.
Nesse sentido, continuamos propondo e construindo atividades com a turma e
percebemos que, cada vez mais, estávamos melhorando a participação em sala de aula.
Trabalhamos com textos em forma de metáforas, slides, interpretação de músicas,
construção de análises da sociedade e muitos debates. A cada encontro encaminhávamos
um trabalho escrito a ser entregue até a aula seguinte. A previsão era de uma avaliação
para cada trabalho produzido, de maneira que pudéssemos acompanhar o progresso
individual e coletivo do grupo. Porém, nesse aspecto em específico, fomos confrontados
com um problema grave: a maioria da turma não entregava seus trabalhos, pois não
realizavam tarefas fora do horário escolar. Insistimos muito, avaliamos muitas vezes isso,
mas não conseguimos resolver o problema.
Diante dessa recusa dos alunos em realizarem trabalhos fora do horário escolar,
fomos obrigados a romper com a proposta inicial de avaliação. Muitos alunos afirmavam
que a culpa era de quem não entregava os trabalhos e queriam continuar com o método
inicialmente proposto. No entanto, estava evidente o fato de que, mesmo desejando que
a avaliação fosse coletiva, os alunos que se manifestavam também não haviam entregue
seus respectivos trabalhos e, a forma proposta para a avaliação, só vinha a prejudicar o
conjunto dos alunos que teriam uma média de notas muito ruim se fossem considerados
os trabalhos não entregues até aquele momento. Em função disso, o grupo concordou com
a avaliação individual, reconhecendo que não estavam acostumados a realizar trabalhos
escolares, se esses não valessem uma nota individual.
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Constatamos que é muito difícil construir uma nova metodologia num contexto
em que os alunos não estão efetivamente preparados para a mudança. Durante a
experiência em curso, ficamos imaginando que seria possível trabalhar a forma de
avaliação proposta se, a partir das séries iniciais e durante o transcurso do Ensino
Fundamental, já se tivesse avançado mais com essa prática nas escolas. Infelizmente, no
pouco tempo que tivemos para trabalhar, muitas das expectativas que tínhamos ficaram
para ser concretizadas no futuro. A mudança no comportamento de alunos não é tão
simples como prevíamos. Verificamos que, mesmo afirmando querer mudar, havia um
conjunto de fatores que conduzia os alunos à acomodação diante do que propunham.
Não se pode pretender mudar a educação somente através de uma disciplina e em
reduzido tempo de trabalho. Verificamos que o método proposto precisa ser assumido
como uma opção da escola como um todo, começando a desenvolver com um mesmo
grupo, desde as séries iniciais, práticas que conduzam à auto-organização da turma, sendo
o professor uma referência básica para a assessoria do processo, para o encaminhamento
de atividades e para a coordenação dos debates, a fim de que se possa atingir, da melhor
forma, os objetivos propostos. Pensamos que essa experiência revela a necessidade de
uma prática interdisciplinar na escola, para que os diversos professores, das mais
diferentes áreas, possam adotar uma forma comum de avaliação, em discussão com todas
as turmas de alunos da escola. A disciplina de Filosofia pode dar uma contribuição
significativa na construção dessa proposta, pela sua capacidade de reflexão crítica sobre
a realidade e pela postura de desafiar as pessoas para a construção de novas alternativas,
coerentes com objetivos de transformação da realidade existente.
Em contrapartida, verificamos, também, que poderíamos ter dedicado um maior
tempo à discussão da avaliação e da própria proposta de trabalho com os alunos.
Entendemos que ainda ficamos muito “atrelados” aos conteúdos e à ideia de que seria
preciso, necessariamente, concluir tudo o que planejamos. Se tivéssemos nos preocupado
mais com a forma de trabalhar e menos com os conteúdos, certamente teríamos obtido
melhores resultados no que se refere à avaliação participativa. Compreendemos que
estamos, ainda, muito influenciados pela forma tradicional de educar e os resultados
negativos, geralmente, são atribuídos aos alunos. Os professores também foram alunos e
manifestam uma cultura de dominação em suas concepções de trabalho. Precisamos nos
atrever a aprender junto com os alunos e refletir criticamente nossas atitudes, para que as
mesmas sejam cada vez mais coerentes com nossas utopias, a ponto de traduzirmos em
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cada prática educativa realizada um pouco do projeto de ser humano que queremos
construir para o futuro.
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estão cotidianamente colocadas na vida dos alunos uma ampla discussão e, com o
decorrer das aulas, progredimos tanto que chegamos a abordar o sentido da existência
humana e a liberdade, temas fundamentais da filosofia. Com certeza, se tivéssemos
iniciado o trabalho com a discussão da liberdade, dificilmente teríamos progredido de tal
forma. Inclusive, não chegamos a discutir especificamente o que é filosofia. Entretanto,
ao final dos trabalhos, os alunos perceberam que o que estávamos realizando era o
exercício da reflexão filosófica. Assim, todos tiveram facilidade em expressar seu
conceito de filosofia. Surgiram muitos conceitos diferentes, o que foi muito interessante,
com cada aluno expressando suas próprias ideias e, no conjunto, a turma identificava um
sentido comum no tema proposto. Durante o trabalho, percebemos que a alienação era o
tema que mais havia sido colocado em pauta. Sem a preocupação de querer esgotar o
tema, mas unindo debates, textos ilustrativos, slides, entrevistas e breves exposições
conseguimos trabalhar um conjunto de questões inerentes à filosofia. Podemos dizer,
então, que a alienação foi o tema gerador, em torno do qual outras discussões eram
iniciadas e conciliadas.
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conhecimento. A confiança da turma no professor contribui para a explicitação de muitos
problemas no relacionamento e a predisposição em manter um ambiente de motivação
para o estudo e o debate crítico.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ESTEBAN, Maria Teresa. Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de
Janeiro: DP&A, 1999.
RODRIGO, Lida Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino médio.
Campinas: Autores Associados, 2009.
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