Você está na página 1de 14

ÍNDICE

1. NTRODUÇÃO 1

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2-4

2.1 Natureza e Essência do Homem 4-5

2.2 Natureza VS Essência 6-7

2.2.1 A Pessoa Humana 8

2.3 A VALORIZAÇÃO DO SER HUMANO E DA NATUREZA 8-11

3. CONCLUSÃO 13

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14

0
I1. NTRODUÇÃO

Um dos problemas mais complexos e mais importantes da Filosofia, hoje e sempre, e


dos que têm mais consequências na nossa vida pessoal e social, é a questão de saber se existe
uma natureza humana. Tal não significa, evidentemente, que esta questão se encontre sequer
na agenda ou ordem do dia das discussões da moda. Pelo contrário. Discutir séria e
abertamente, radicalmente, se há uma natureza humana pressupõe, como é lógico, a prévia
disponibilidade para vir a admitir a hipótese de que tal coisa existiria (ou a sua contrária). Ora o
pensamento único, hoje avassalador, já decidiu, com a sua petulante tirania do espírito, armado
do seu desprezo suficiente e da sua ácida e fulminante ironia de intelectual, que não existe
nada de natural, e muito menos a natureza humana. “Que é isso de natureza?” “Que é isso de
Homem?” Só quando quer aniquilar as instituições e outros artefactos culturais que ainda vão
segurando o dique da anomia social, ou cede ao romântico apelo ecologista ou afim, o
filosoficamente correcto apela para o tópico “natureza”...

Evidentemente, é sabido que este problema da natureza humana se conexiona desde


logo com o de se saber se há uma natureza em geral, quer no sentido de uma “ordem do
mundo”, quer no sentido de uma “natureza das coisas”), quer noutras acepções ainda.
Também, entretanto, e a meio caminho, se pode questionar se há uma natureza dos animais,
ou dos animais e das plantas, uma espécie de natureza biológica. E que relações essas
naturezas estabelecem com a humana...

Tem-se tentado o elogio do humano e a sua prevalência sobre o animal (e os demais


reinos da natureza), assinalando-lhe a diferença específica da racionalidade, da religiosidade, da
arte, da própria sociabilidade. Mas todos estes aspectos se encontram em crise. Mesmo o da
religiosidade, e (embora um pouco menos) o da arte, que, não podendo facilmente ser
detectadas entre os animais, todavia se encontram postas em causa enquanto características
propriamente humanas. Por um lado, pela vaga irreligiosa hodierna, pelo menos a nível urbano
e intelectual, que poria em causa a universalidade da característica nos seres humanos; embora
haja sempre deuses que os homens adoram, só que agora, verdadeiramente, ópios e ídolos.

1
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao tratar da essência da religião e, mais especificamente, do Cristianismo, Feuerbach


considera importante compreender o ser humano, já que a religião é um fenómeno observado
apenas nessa espécie (MARTINS, 2013; FEUERBACH, 2007). Para Feuerbach (2007), o
fundamento da religião é justamente a diferença entre o ser humano e os outros animais, pois
apenas o homem possui religião, o que implicitamente demonstra que há, no homem, algo que
permite o surgimento da mesma, o que não ocorre com os outros animais.

A partir dessa perspectiva, o autor define a consciência que o ser humano possui de seu
género, ou seja, a percepção que possui de seu perecimento a humanidade, de uma essência
comum que une a todos os humanos, como a diferença entre a espécie humana e os demais
animais. O animal possui a capacidade de perceber a si próprio (enquanto indivíduo) e os
objectos exteriores a si, mas o homem, além dessas características, consegue apreender o seu
próprio género, transformando-o em objecto, o que origina o conhecimento. Segundo ele, “a
ciência é a consciência dos géneros” (FEUERBACH, 2007, pg. 35), ou seja, a partir da consciência
da própria espécie como um género, como um grupo com características comuns que os
definem, é possível elaborar o conhecimento de todos os outros objectos presentes no mundo
(FEUERBACH, 2007).

É nesse contexto que é possível notar a capacidade do ser humano de conversar consigo
próprio, de ser, simultaneamente, eu e tu. Isso ocorre devido a percepção do género, em que o
ser humano constitui uma vida dupla, na qual há uma relação com o mundo exterior e também
com o mundo interior, já que o “homem pode exercer a função de género do pensar, do falar
(porque pensar e falar são legítimas funções de género) sem necessidade de um outro”
(FEUERBACH, 2007, pg. 36).

Apesar de haver a possibilidade de se relacionar consigo próprio, a consciência humana


tem como finalidade contactar o mundo exterior. Por ter uma natureza finita e limitada, o
indivíduo alcança sua plenitude apenas quando se relaciona com seu género, ou seja, quando

2
encontra o infinito e o ilimitado na criação e manutenção da sociedade, pois colectivamente a
espécie humana é capaz de superar tais aspectos encontrados na perspectiva individual
(MARTINS, 2013).

A respeito disso, Feuerbach (2007, pg. 105) descreve que “Somente através do outro
torna-se o homem claro para si e consciente de si mesmo”. É na relação intersubjetiva que o
homem reconhece a si e inicia a compreensão sobre o mundo que o cerca.

Em Feuerbach (2007) nota-se que o ser humano só percebe a si próprio a partir de sua
relação com os objectos. Para o autor, “a consciência do objecto é a consciência que o homem
tem de si mesmo” (FEUERBACH, 2007, pg. 38). É a partir da relação com o mundo exterior que
o homem é capaz de se diferenciar do mesmo e perceber-se como humano. O ser humano se
revela a partir da maneira como descreve os objectos com os quais tem contacto.

Esse processo ocorre, primeiramente, fazendo do objecto algo exterior a consciência,


para em seguida reconhecê-lo como sua própria essência que foi objectivada (MARTINS, 2013).
Pode-se resumir tal ideia na seguinte frase “A razão é para si mesma o critério de toda a
realidade” (FEUERBACH, 2007, pg. 66), ou seja, é pela essência do homem que ele interpreta e
compreende o mundo.

Tal descrição pode sugerir certo relativismo quanto ao conhecimento, o que não se
confirma na perspectiva do autor. A essência do homem torna-se uma ponte para conhecer os
outros objetos, pois é a partir do que é comum entre o homem e o objecto que se inicia o
processo de conhecimento do mundo exterior, o que permite ainda, após notar as semelhanças
com a essência humana, perceber também a individualidade do obj eto observado
(MARTINS, 2013). Por ter sido gerado pela natureza, é somente por meio dela que o homem se
afirma e se reconhece como existente. É nela que a consciência se manifesta e se origina, por
meio dos sentidos. Ao recusar o acesso ao mundo pela sensibilidade, deixa-se de acreditar na
própria vida humana, visto que ela faz parte da natureza (SANTOS, 2016).

3
Para Feuerbach (2007), a religião utiliza como seu objeto o que há na essência humana,
especificamente aquilo que a difere da essência animal. Assim, o autor descreve que o ser
humano possui a percepção da infinitude de sua consciência e de sua ilimitada capacidade,
descrevendo que “a consciência do infinito não é nada mais que a consciência da infinitude da
consciência” (FEUERBACH, 2007, pg. 36). É justamente essa característica que a religião
apreende, pois a “religião é a consciência do infinito” (FEUERBACH, 2007, pg. 36), que, segundo
o autor, nada mais é que a consciência infinita do homem objetivada pela religião.

O filósofo então define três características da essência humana, sendo elas a razão, a
vontade e o coração. Esses aspectos são perfeitos, devido a existirem com uma finalidade
baseada em si próprios, pois a razão existe para conhecer, a partir de sua própria manifestação,
o amor (coração) para a capacidade de amar, e a vontade para o exercício da liberdade. Não há,
segundo o autor, a necessidade de justificar tais aspectos da essência humana, já que todos
eles possuem um fim em si mesmo. A razão, a vontade e o amor são elementos que constituem
o homem, tornando-o aquilo que ele é, não necessitando de algo além que satisfaça o gênero
humano, pois suas características o faz autossuficiente (MARTINS, 2013; FEUERBACH, 2007).

Faz-se importante ressaltar que a essência humana em Feuerbach, embora pareça se


sustentar em princípios metafísicos, pode ser compreendida de maneira materialista e
imanente. Em sua teoria, o que está descrito como essência pode ser compreendido como
aquilo que constitui o ser humano e o diferencia dos demais objetos existentes, ou seja, não é
uma essência enquanto algo além da natureza, mas justamente o que na própria natureza
diferencia o homem das demais criaturas e objectos (LIMA FILHO, 2017).

2.1 Natureza e Essência do Homem

 Que é o homem?
O primeiro que se dedicou a categorizar os seres, foi Aristóteles. Dentre outros [seres], definiu-
o como sendo um animal racional. Longe disso, o homem é comumente definido como um ser
humano do sexo masculino, um adulto, animal bípede da ordem dos primatas pertencente à

4
subespécie Homo sapiens sapiens. O termo Homem, com inicial maiúscula, pode ser utilizado
ainda para se referir ao ser humano de maneira geral, seja ele homem ou mulher.
Mas que é isso de “Ser” e de “Humano”? Não pretendemos problematizar esses termos neste
artigo. Contudo, vamos trata-los como sinônimos de homem.
Este conceito de homem satisfaz-nos de certa forma, mas ainda não é suficiente para podermos
pensar, pelo menos filosoficamente, qual o sentido da vida humana. Pois, omite, a velha e
presente dicotomia Corpo/Alma no conceito de homem.
Assim, filosoficamente, as definições de Homem podem ser agrupados sob os seguinte títulos:
1. Definições que se valem do confronto entre Homem e Deus; 2. Defiições que expressam uma
característica ou uma capacidade própria do Homem; 3. Definições que expressam a
capacidade de autoprojetar-se como algo próprio do Homem.
As definições do primeiro grupo são de natureza religiosa e teológica, mas também
podem ser encontradas em grupos que não têm nada de religioso e teológico. Qualquer
definição desse género basia-se na expressão do Génese: “E Deus disse: façamos o homem à
nossa imagem e semelhança”, (Gên., I, 26). Esta espressão servia frequentemente de ponto de
partida para especulações sobre a alma. Na realidade, ela é a definição explícita do Homem e,
tal foi considerada pelos teólogos da Reforma. Por outro lado, Aristóteles, ao tratar da vida
contemplativa, falou de um “elemento divino” do Homem. Para Hegel, o Homem é
essencialmente Espírito, e o Espírio é Deus. Diz: “Conquanto considerado finito por si mesmo, o
Homem é também imagem de Deus e fonte da infinidade, pois é o fim de si mesmo e tem em si
mesmo o valor infinito e a destinação para a eternidade”, (Gloekner, p. 427 apud Abbagnano
N., Dic. De Fil. p. 597).

As definições que exprimem uma característica ou uma capacidade atribuída ao Homem


são numerosas; a primeira e mais famosa é a definição de Homem como “animal racional”. Essa
definição expressa bem o ponto de vista do iluminismo grego e o espírito das filosofias de
Platão e Aristóteles. Só essa nos interessa.
3. O terceiro grupo de definições compreende as que interpretam o Homem como possibilidade
de autoprojeção. Quase todas as definições do segundo grupo, mesmo partindo de uma única

5
determinação do Homem, considerada própria e fundamental, interpretam-na, explícita ou
implicitamente, como possibilidade, como capacidade ou disposição. Mas, na realidade, já em
Aristóteles está suficientemente claro que a razão é uma possibilidade ou capacidade de juízo,
não uma determinação necessitante, que somente a esse título constitui a definição do
Homem.
Implicitamente, essas três definições do Homem condensam categoricamente a introdução ao
conceito de Homem e o dualismo cartesiano, segundo o qual; o homem é uma dualidade
corpo/espírito. O universo consiste de duas diferentes substâncias: as mentes, ou substância
pensante, e a matéria, a última sendo basicamente quantitativa, teoreticamente explicável em
leis científicas e fórmulas matemáticas. Só no homem as duas substâncias se juntaram em uma
união substancial, unidas porém delimitadas.

2.2 Natureza VS Essência

Para definir este termo, lançou-se mão de uma série de conceitos, entre os quais há
alguns pontos comuns. Os principais são os seguintes: 1. Princípio do movimentos ou
substância; 2. Ordem necessária ou nexo causal; 3. Exterioridade, contraposta à interioridade
da consciência; 4. Campo de encontro ou de unificação de certas técnicas de Investigação.
A interpretação da Natureza como princípio de vida e de movimentos de todas as coisas
existentes é a mais antiga e venerável, tendo condicionado o uso corrente do termo, “permitir a
ação da Natureza”, “entregar-se a Natureza”, “seguir a Natureza”, e assim por diante, são
expressões sugeridas pelo conceito de que a Natureza é um princípio de vida que cuida bem
dos seres em que se manifesta. Foi nesse sentido que Aristóteles definiu explicitamente a
Natureza, como sendo “o princípio e a causa do movimento e do repouso da coisa à qual ela
inere propriamente e por si, e não acidente, (Aristóteles, Fís. II, 1, 192 b 20 apud Abbagnano N.,
Dic. De Fil. p. 814)”. Como explica o próprio Aristóteles, a exclusão da acidentalidade serve para
distinguir a obra da Natureza da obra do homem.
A Essência [determinismo] refere-se àquilo que faz com que uma coisa seja o que é e
não outra coisa. Ou seja, é o que uma coisa não pode não ser e que é o porquê dessa mesma

6
coisa, como quando se diz que o homem é um animal racional, pretendendo-se dizer que o
homem é homem porque é racional.

Se a essência do homem é a “razão” e sua natureza o “princípio e a causa do


movimento e do repouso da coisa à qual ela inere propriamente e por si, e não
acidente, que nada mais é, pelo menos no homem, que a própria razão [anima], então,
somos livres de tomar os termos “Natureza e Essência” como sinônimos, longe disso
qualquer pretensão é redundante. Assim, tomando-o de preferência, a essência do
homem, refere-se duplamente a dois factores. A saber: 1. Qual a substância imutável
no homem?; 2. Qual o sentido da vida do homem no mundo?
O primeiro já foi solucionado; a razão. Inteligência ou Alma,… dá no mesmo. Já o
segundo, será discutido a seguir.

2.2.1 A Pessoa Humana


Em português coloquial, pessoa é sinónimo de ser humano. Na filosofia, no entanto, há
debates sobre o sentido preciso e o uso correcto da palavra, e quais são os critérios que
definem algo (ou alguém) como "pessoa". Na filosofia, uma pessoa é uma entidade que tem
certas capacidades ou atributos associados a personalidade, por exemplo, em um contexto
particular moral, social ou institucional.
Essas capacidades ou atributos podem incluir a auto-consciência, a noção de passado e
futuro, e a posse de poder deôntico, entre outros. Também, filosoficamente, uma pessoa é o
ser humano como agente moral. É aquele que realiza uma acção moral e aquele que ajuíza
sobre ela. O conceito de "pessoa", na filosofia, é difícil de definir de uma forma que seja
universalmente aceita, devido à sua variabilidade histórica e cultural e as controvérsias que
cercam o seu uso em alguns contextos em diferentes linhas filosóficas.
A origem mais remota da palavra "pessoa" é o grego ‘prósopon’ (aspecto) de onde
passou ao etrusco ‘phersu’, com o significado de ‘aí’. A partir dessa palavra, os latinos
denominaram ‘persona’ as máscaras usadas no teatro pelos atores, e também chamaram assim
aos próprios personagens teatrais representados.

7
Em latim, humanus é a forma adjetival do nome homo, traduzido como Homem (para incluir
machos e fêmeas). Por vezes, em Filosofia, é mantida uma distinção entre as noções de ser
humano (ou Homem) e de pessoa. O primeiro refere-se à espécie biológica enquanto que o
segundo refere-se a um agente racional.
O termo humano é utilizado como sinónimo de ser humano. Como adjectivo, o termo
humano tem significância neutra, mas poderá ser utilizado para enfatizar os aspectos positivos
da natureza humana e ser sinônimo de benevolência (em contraposição com o termo inumano
ou desumano).
2.3 A VALORIZAÇÃO DO SER HUMANO E DA NATUREZA

Ao identificar os mecanismos e processos que envolvem a formação da religião,


Feuerbach (2007) percebe a desvalorização da natureza e do ser humano presentes nas
diversas manifestações religiosas. De acordo com o autor, a religião promove uma cisão entre o
ser humano e sua própria essência.

Isso ocorre precisamente devido a objetivação das qualidades humanas, pois elas são
exteriorizadas em Deus e negadas no homem. Para a religião, o homem é desprovido das
qualidades que alegam estarem presentes apenas em Deus, pois:

“Deus é o infinito, o homem o finito; Deus é perfeito, o homem


imperfeito; Deus é eterno, o homem transitório; Deus é plenipotente, o
homem impotente; Deus é santo, o homem pecador. Deus e homem são
extremos: Deus é o unicamente positivo, o cerne de todas as realidades,
o homem é o unicamente negativo, o cerne de todas as nulidades”
(FEUERBACH, 2007, pg. 63).

Sobre especificamente a religião cristã, Chagas (2010) descreve que há menosprezo em


relação à natureza. O que é valorizado é apenas o absoluto, imaterial, espiritual, sobrenatural,
ou seja, características antinaturais.

O objectivo do Cristianismo seria se libertar da natureza, desenvolvendo uma noção de


essência humana destituída e transcendente ao natural, ou seja, sobrenatural. Isso acontece

8
com o intuito de superar os limites impostos pelo mundo, tais como a transitoriedade, a
finitude e a materialidade (CHAGAS, 2010).

Como os cristãos desejam um mundo e uma existência livre das contingências naturais,
atribuem as características positivas do mundo em um ser ilimitado e uma existência absoluta,
livre de tais limitações. Assim, a natureza fica destituída de valor (CHAGAS, 2010).

Apesar dessa tentativa religiosa, pode-se compreender que o ser humano é do modo
como é justamente por ser originado na natureza e ser parte da mesma. O ser humano possui
os sentidos, é temporal, e possui todas as suas características devido à natureza (CHAGAS,
2010).

É relevante ressaltar ainda, que para Feuerbach (2007, pg. 97) “Quanto mais vazia for a
vida, tanto mais rico, mais concreto será o Deus”. O que o autor demonstra é que ao elaborar
uma concepção de Deus, retira-se o valor do mundo e todas as possibilidades do ser humano
perceber e encontrar satisfação na natureza, já que cria a ilusão de que aquilo de que necessita
e que existe na natureza está presente apenas em Deus, numa existência abstracta e vazia.

Feuerbach (2007, pg. 107) descreve que “A essência de Deus [...] nada mais é que a
essência do universo pensada abstratamente”. Para o autor, o universo possui uma essência
em si mesmo, tal como qualquer outro objeto existente, pois tudo o que existe se fundamenta
em sua própria existência. São os predicados atribuídos a eles que demonstram sua existência.

Outra questão apresentada é a existência da diversidade no universo. A pluralidade


presente pode sugerir que o criador também seria um ser diversificado, de onde proviriam tais
características. No entanto, ao formular a necessidade da diversidade no criador, estabelece-se
que a diversidade é uma essência ou uma verdade, ou seja, Deus é derivado da essência do
mundo, que é, de maneira geral, a sua diversidade (FEUERBACH, 2007).

Ao fazer isso, o ser humano desenvolve a concepção de um ser com todos os atributos
desejados, no entanto, irreal. Deus substitui a natureza e a essência humana e,
concomitantemente, o priva de conquistar a realização de suas vontades no mundo real
(CHAGAS, 2010).

9
A partir dessa análise, Feuerbach declara que a natureza é a origem do ser humano, e
por isso, é nela que o homem deve buscar sua realização e a compreensão de si mesmo.
Relacionando-se com a natureza e a compreendendo a partir dela própria, numa perspectiva
materialista, o ser humano toma consciência de si (SANTOS, 2016).

Na teoria feuerbachiana, há a aceitação da dependência humana e de sua relação com a


natureza, bem como a compreensão de que o ser humano é finito. A dificuldade do ser humano
em aceitar tal ideia está no fato da natureza não corresponder aos anseios humanos (SANTOS,
2016).

A natureza não tem sentimentos, pensamentos e demais características presentes no


ser humano. No entanto, o homem deseja ter uma relação recíproca com ela e por isso cria a
religião (SANTOS, 2016).

Para Feuerbach, a natureza é infinita, pois não tem início e não terá um final, sendo ela
uma espécie de combinações de causas e efeitos, que harmonicamente se mantém. Os seres
vivos e tudo o que existe surge a partir dessa harmonia entre tudo o que há no universo
(SANTOS, 2016).

Enquanto a religião observa a natureza a partir da perspectiva humana, Feuerbach


analisa o homem a partir da natureza. Nas religiões primitivas, a natureza é vista como um ser
semelhante ao homem, sendo cultuada pelo ser humano, por promover a existência e
sobrevivência do mesmo (SANTOS, 2016).

O ser humano elabora a religião justamente por possuir sensibilidade. É por meio dos
sentidos e de sua relação com o exterior que ele desenvolve a crença em divindades (SANTOS,
2016).

Outro aspecto que impulsiona a criação da religião é o egoísmo. Para Feuerbach, o


egoísmo significa amor próprio, instinto para autoconservação. É a partir do egoísmo que o ser
humano visa se autoconservar e, para além disso, almeja a felicidade (SANTOS, 2016).

10
Para Feuerbach, o homem vive apenas quando se relaciona com a natureza por meio da
sensibilidade. Utilizando dos sentidos o ser humano alcança o prazer e a felicidade. Ao se
afastar dos sentidos, de maneira ascética, o homem nega a si mesmo, afastando-o da vida tal
como ela é (SANTOS, 2016).

Com essas conclusões, a filosofia feuerbachiana visa suplantar a perspectiva idealista,


substituindo a valorização da razão pela aceitação da natureza e da sensibilidade. Em lugar da
espera pela vida eterna e da negação da vida terrena, busca-se viver a partir dos sentidos. É na
natureza que o homem pode encontrar possibilidades de satisfazer suas necessidades (SOUSA,
2016).

11
3. CONCLUSÃO
Pode-se concluir, a partir desse trabalho, que a essência do ser humano é notada a
partir de sua distinção em relação aos animais. O homem, diferentemente do animal, possui a
consciência de seu género e de todos os outros tipos de género. Assim, ele desenvolve o
conhecimento de si e do mundo por meio da percepção do que há em comum entre os seres e
objectos, daquilo que os definem.

A respeito da religião, pode-se compreender que na filosofia feuerbachiana ela surge a


partir da objectivação da essência humana, exteriorizando-a em Deus. Assim, o ser humano
elabora a ideia de Deus por meio de suas próprias qualidades, tais como a razão, os
sentimentos e a vontade. Decorre disso uma cisão do homem consigo próprio, pois ao atribuir a
Deus suas qualidades, ele as nega em si, desvalorizando sua essência e sua capacidade de
autonomia e realização. Além disso, nega a natureza, valorizando apenas o imaterial, infinito,
metafísico, em detrimento do mundo real.

A partir desses aspectos, Feuerbach desenvolve uma filosofia pautada na sensibilidade e


na relação do homem com a natureza tal como ela é. Por ser originado pela natureza e se
relacionar com ela por meio dos sentidos, o ser humano se realizará ao buscar satisfazer-se
com as possibilidades presentes no mundo ao seu redor, agindo colectivamente em busca da
realização plena de suas potencialidades.

As questões analisadas propiciam a compreensão da necessidade do ser humano utilizar


a sensibilidade como modo de alcançar a realização de sua vida. É na relação com a natureza e
com os outros que o homem encontra satisfação e felicidade em sua existência.

12
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAGAS, Eduardo Ferreira. A aversão do cristianismo à natureza em Feuerbach. Philósophos-


Revista de Filosofia, v. 15, n. 2, p. 57-82, 2010. Disponível em:
<https://www.revistas.ufg.br/philosophos/article/view/10857>. Acesso em: 26 jun. 2017.
FEUERBACH, Ludwig. A Essência do Cristianismo. Editora Vozes, Petrópolis, 2007.
LIMA FILHO, José Edmar. Antropologia, ética e política em A essência do Cristianismo de
Ludwig Feuerbach. 147 f. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Ceará, 2017. Disponível
em: < http://repositorio.ufc.br/ri/handle/riufc/21856>. Acesso em: 23 jun. 2017.

13

Você também pode gostar