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Natureza e Essência do Homem

Ontologia Metafísica

Domingos Bengo & Prof. Edna


Escola do II Ciclo nº 2003/ 14 de Abril
American World University – AWU/LAD

Resumo: Durante longo tempo, o homem esteve seguro da sua essência.


Metafisicamente, antes de qualquer antropologia, identificou-se como sendo
um ser vivo, possuindo o dom da palavra. Estava certo de que era um animal
racional, uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus, um ser pensante,
o dono do planeta. Hoje, porém, numa altura em que o humanismo se encontra
tão dividido, estas definições serão suficientes? Heidegger*, no seguimento da
fenomenologia**, teve o mérito de reencontrar e descrever a unidade do ser-
no-mundo, voltando-se para o lado da dualidade da animalidade e da razão.
Definiu o Dasein*** a partir da sua transcendência, da sua temporalidade
estática, da sua abertura relativamente ao ser, em suma a partir do
pensamento-palavra.

Palavras-chave: Essência, Existência, Natureza, Homem, Ser, Deus.

Luanda (ANG), Junho de 2015


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* Heidegger, Martin: Filósofo Alemão (1889-1976).
** Fenomenologia, Descrição daquilo que aparece ou ciência que tem como objectivo ou projeto essa descrição.
*** Dasein, (existentia): Ser-no-mundo – Existência.
INTRODUÇÃO

Um dos problemas mais complexos e mais importantes da Filosofia, hoje e


sempre, e dos que têm mais consequências na nossa vida pessoal e social, é a
questão de saber se existe uma natureza humana.

Tal não significa, evidentemente, que esta questão se encontre sequer na agenda
ou ordem do dia das discussões da moda. Pelo contrário. Discutir séria e
abertamente, radicalmente, se há uma natureza humana pressupõe, como é lógico,
a prévia disponibilidade para vir a admitir a hipótese de que tal coisa existiria (ou a
sua contrária). Ora o pensamento único, hoje avassalador, já decidiu, com a sua
petulante tirania do espírito, armado do seu desprezo suficiente e da sua ácida e
fulminante ironia de intelectual, que não existe nada de natural, e muito menos a
natureza humana. “Que é isso de natureza?” “Que é isso de Homem?” Só quando
quer aniquilar as instituições e outros artefactos culturais que ainda vão segurando o
dique da anomia social, ou cede ao romântico apelo ecologista ou afim, o
filosoficamente correcto apela para o tópico “natureza”...

Evidentemente, é sabido que este problema da natureza humana se conexiona


desde logo com o de se saber se há uma natureza em geral, quer no sentido de uma
“ordem do mundo”, quer no sentido de uma “natureza das coisas”), quer noutras
acepções ainda. Também, entretanto, e a meio caminho, se pode questionar se há
uma natureza dos animais, ou dos animais e das plantas, uma espécie de natureza
biológica. E que relações essas naturezas estabelecem com a humana...

Tem-se tentado o elogio do humano e a sua prevalência sobre o animal (e os


demais reinos da natureza), assinalando-lhe a diferença específica da racionalidade,
da religiosidade, da arte, da própria sociabilidade. Mas todos estes aspectos se
encontram em crise. Mesmo o da religiosidade, e (embora um pouco menos) o da
arte, que, não podendo facilmente ser detectadas entre os animais, todavia se
encontram postas em causa enquanto características propriamente humanas. Por
um lado, pela vaga irreligiosa hodierna, pelo menos a nível urbano e intelectual, que
poria em causa a universalidade da característica nos seres humanos; embora haja
sempre deuses que os homens adoram, só que agora, verdadeiramente, ópios e
ídolos. E por outro, pela cada vez mais aguda dificuldade em determinar o que
possa ser arte, sobretudo face ao bluff “artístico”, tão em voga ainda nas artes
plásticas, embora já em franca inversão de marcha, por exemplo, no domínio da
Literatura. Entretanto, que haveria pelo menos uma certa racionalidade animal (a
humana também se pulverizou, como, por exemplo, quanto aos diversos tipos de
inteligência) e que há animais que vivem em sociedade (a etologia* o diz) começam
a constituir-se em lugares comuns.

E ecoam, então, nos ouvidos do nosso tempo as palavras de Nietzsche: “O


homem é superável! Que fizestes para o superar?.” – Transmutação de todos os
valores…

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* Etologia, é a disciplina que estuda o comportamento animal.

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OBJETIVOS:

• Ajudar o aluno a compreender os conceitos de Natureza, Essência e Homem;


• Perceber a dicotomia da Natureza Humana (Essência VS Existência);
• Entender qual o sentido da vida do homem, do ponto de vista Ontológico.

I. Natureza e Essência do Homem: Ontologia Metafísica

1. Que é o homem?

O primeiro que se dedicou a categorizar os seres, foi Aristóteles. Dentre outros


[seres], definiu-o como sendo um animal racional. Longe disso, o homem é
comumente definido como um ser humano do sexo masculino, um adulto, animal
bípede da ordem dos primatas pertencente à subespécie Homo sapiens sapiens. O
termo Homem, com inicial maiúscula, pode ser utilizado ainda para se referir ao ser
humano de maneira geral, seja ele homem ou mulher.

Mas que é isso de “Ser” e de “Humano”? Não pretendemos problematizar esses


termos neste artigo. Contudo, vamos trata-los como sinônimos de homem.

Este conceito de homem satisfaz-nos de certa forma, mas ainda não é suficiente
para podermos pensar, pelo menos filosoficamente, qual o sentido da vida humana.
Pois, omite, a velha e presente dicotomia Corpo/Alma no conceito de homem.

Assim, filosoficamente, as definições de Homem podem ser agrupados sob os


seguinte títulos: 1. Definições que se valem do confronto entre Homem e Deus; 2.
Defiições que expressam uma característica ou uma capacidade própria do Homem;
3. Definições que expressam a capacidade de autoprojetar-se como algo próprio do
Homem.

1. As definições do primeiro grupo são de natureza religiosa e teológica, mas


também podem ser encontradas em grupos que não têm nada de religioso e
teológico. Qualquer definição desse gênero basia-se na expressão do Gênese: “E
Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, (Gên., I, 26). Esta
espressão servia frequentemente de ponto de partida para especulações sobre a
alma. Na realidade, ela é a definição explícita do Homem e, tal foi considerada pelos
teólogos da Reforma. Por outro lado, Aristóteles, ao tratar da vida contemplativa,
falou de um “elemento divino” do Homem. Para Hegel, o Homem é essencialmente
Espírito, e o Espírio é Deus. Diz: “Conquanto considerado finito por si mesmo, o
Homem é também imagem de Deus e fonte da infinidade, pois é o fim de si mesmo
e tem em si mesmo o valor infinito e a destinação para a eternidade”, (Gloekner, p.
427 apud Abbagnano N., Dic. De Fil. p. 597).

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2. As definições que exprimem uma característica ou uma capacidade atribuída
ao Homem são numerosas; a primeira e mais famosa é a definição de Homem como
“animal racional”. Essa definição expressa bem o ponto de vista do iluminismo grego
e o espírito das filosofias de Platão e Aristóteles. Só essa nos interessa.

3. O terceiro grupo de definições compreende as que interpretam o Homem como


possibilidade de autoprojeção. Quase todas as definições do segundo grupo, mesmo
partindo de uma única determinação do Homem, considerada própria e fundamental,
interpretam-na, explícita ou implicitamente, como possibilidade, como capacidade ou
disposição. Mas, na realidade, já em Aristóteles está suficientemente claro que a
razão é uma possibilidade ou capacidade de juízo, não uma determinação
necessitante, que somente a esse título constitui a definição do Homem.

Implicitamente, essas três definições do Homem condensam categoricamente a


introdução ao conceito de Homem e o dualismo cartesiano, segundo o qual; o
homem é uma dualidade corpo/espírito. O universo consiste de duas diferentes
substâncias: as mentes, ou substância pensante, e a matéria, a última sendo
basicamente quantitativa, teoreticamente explicável em leis científicas e fórmulas
matemáticas. Só no homem as duas substâncias se juntaram em uma união
substancial, unidas porém delimitadas.

2. Natureza VS Essência

Para definir este termo, lançou-se mão de uma série de conceitos, entre os quais
há alguns pontos comuns. Os principais são os seguintes: 1. Princípio do
movimentos ou substância; 2. Ordem necessária ou nexo causal; 3. Exterioridade,
contraposta à interioridade da consciência; 4. Campo de encontro ou de unificação
de certas técnicas de Investigação.

A interpretação da Natureza como princípio de vida e de movimentos de todas as


coisas existentes é a mais antiga e venerável, tendo condicionado o uso corrente do
termo, “permitir a ação da Natureza”, “entregar-se a Natureza”, “seguir a Natureza”,
e assim por diante, são expressões sugeridas pelo conceito de que a Natureza é um
princípio de vida que cuida bem dos seres em que se manifesta. Foi nesse sentido
que Aristóteles definiu explicitamente a Natureza, como sendo “o princípio e a causa
do movimento e do repouso da coisa à qual ela inere propriamente e por si, e não
acidente, (Aristóteles, Fís. II, 1, 192 b 20 apud Abbagnano N., Dic. De Fil. p. 814)”.
Como explica o próprio Aristóteles, a exclusão da acidentalidade serve para
distinguir a obra da Natureza da obra do homem.

A Essência [determinismo] refere-se àquilo que faz com que uma coisa seja o que
é e não outra coisa. Ou seja, é o que uma coisa não pode não ser e que é o porquê
dessa mesma coisa, como quando se diz que o homem é um animal racional,
pretendendo-se dizer que o homem é homem porque é racional.

Se a essência do homem é a “razão” e sua natureza o “princípio e a causa do


movimento e do repouso da coisa à qual ela inere propriamente e por si, e não

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acidente, que nada mais é, pelo menos no homem, que a própria razão [anima],
então, somos livres de tomar os termos “Natureza e Essência” como sinônimos,
longe disso qualquer pretensão é redundante.

Assim, tomando-o de preferência, a essência do homem, refere-se duplamente a


dois factores. A saber: 1. Qual a substância imutável no homem?; 2. Qual o sentido
da vida do homem no mundo?

O primeiro já foi solucionado; a razão. Inteligência ou Alma,… dá no mesmo. Já o


segundo, será discutido a seguir.

Mas o que é a Razão?

Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos. Dizemos,


por exemplo, “eu estou com a razão”, ou “ele não tem razão”, para significar que nos
sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com certeza alguma coisa.
Também dizemos que, num momento de fúria ou de desespero, “alguém perde a
razão”, como se a razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter, possuir e
perder, ou recuperar, como na frase: “Agora ela está lúcida, recuperou a razão”.

Assim, usamos “razão” para nos referirmos a “motivos” de alguém, e também


para nos referirmos a “causas” de alguma coisa, de modo que tanto nós quanto as
coisas parecemos dotados de “razão”, mas em sentido diferente.

A palavra razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega
logos. Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos que têm um
sentido muito parecido em latim e em grego.

Logos vem do verbo legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratio
vem do verbo reor, que quer dizer: contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular.
Que fazemos quando medimos, juntamos, separamos, contamos e calculamos?
Pensamos de modo ordenado. E de que meios usamos para essas ações? Usamos
palavras (mesmo quando usamos números estamos usando palavras, sobretudo os
gregos e os romanos, que usavam letras para indicar números).

Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, com
medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na
origem, razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e
claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de
organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível. É, também, a confiança
de que podemos ordenar e organizar as coisas porque são organizáveis,
ordenáveis, compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas, isto é, as próprias
coisas são racionais.

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Existencialismo e Essencialismo

Na continuação da temática fenomenológica abre-se uma nova tendeência de


análise sobre o homem e a realidade, que se chama Existencialismo. Como tradição
filosófica busca combater todo Essencialismo, isto é, uma definição universal e
apriorística da condição humana. Ao contrário, busca compreender o homem como
“existente” em realidades e vivências concretas, um ser racional que se encontra no
mundo em relação com as realidades circundantes e os demais homens.

Martin Heidegger (1889-1976), tido como o primeiro grande filósofos


existencialista, propõe uma “filosofia do ser”, dentro da inspiração fenomenológica
para o homem. Define-o como “Desein”, “ser-no-mundo” em permanente relação de
sentido com a realidade. O seu existir é justamente o encontrar-se no mundo com a
tarefa de construir a própria existência com sentido.

II. A Pessoa Humana

Em português coloquial, pessoa é sinónimo de ser humano. Na filosofia, no


entanto, há debates sobre o sentido preciso e o uso correto da palavra, e quais são
os critérios que definem algo (ou alguém) como "pessoa". Na filosofia, uma pessoa é
uma entidade que tem certas capacidades ou atributos associados a personalidade,
por exemplo, em um contexto particular moral, social ou institucional. Essas
capacidades ou atributos podem incluir a auto-consciência, a noção de passado e
futuro, e a posse de poder deôntico, entre outros. Também, filosoficamente, uma
pessoa é o ser humano como agente moral. É aquele que realiza uma acção moral e
aquele que ajuíza sobre ela. O conceito de "pessoa", na filosofia, é difícil de definir
de uma forma que seja universalmente aceita, devido à sua variabilidade histórica e
cultural e as controvérsias que cercam o seu uso em alguns contextos em diferentes
linhas filosóficas.

A origem mais remota da palavra "pessoa" é o grego ‘prósopon’ (aspecto) de


onde passou ao etrusco ‘phersu’, com o significado de ‘aí’. A partir dessa palavra, os
latinos denominaram ‘persona’ as máscaras usadas no teatro pelos atores, e
também chamaram assim aos próprios personagens teatrais representados.

Em latim, humanus é a forma adjetival do nome homo, traduzido como Homem


(para incluir machos e fêmeas). Por vezes, em Filosofia, é mantida uma distinção
entre as noções de ser humano (ou Homem) e de pessoa. O primeiro refere-se à
espécie biológica enquanto que o segundo refere-se a um agente racional.

O termo humano é utilizado como sinónimo de ser humano. Como adjectivo, o


termo humano tem significância neutra, mas poderá ser utilizado para enfatizar os
aspectos positivos da natureza humana e ser sinônimo de benevolência (em
contraposição com o termo inumano ou desumano).

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CONCLUSÃO

Quem dissocia o concreto do abstrato, e este daquele, falsifica o conceito


filosófico de homem, (Rohden, 2007, p. 27).

Alma não é homem.


Corpo não é homem.
Alma e corpo, organicamente fundidos num todo, é que constituem o homem.

A Razão é a substância imutável do homem. Sua Essência. A Natureza do


Homem é a expressão simultânea de sua animalidade e Racionalidade.

A pessoa humana refere-se um ser autoconsciente e moral, em oposição às


outras pessoas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBAGNANO,   N.   Dicionário   de   Filosofia,   1ª   Edição.   SP,   Editora   WMF   Martins   Fontes,  


2014.  
CHAUI,  Marilena.  Convite  à  Filosofia.  Ed.  Ática,  SP,  2000.      
NUNES,  César  Aparecido.  Aprendendo  Filosofia.  15ª  Edição.  Editora  Papirus,  SP,  2004.  

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