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DO HUMANO
Resumo
O presente artigo analisa o ser humano enquanto ser de possibilidades. Ele é um ser no
mundo, lançado e a priori marcado por aquilo que a natureza o condiciona a ser: um animal
marcado por limites biológicos; todavia, ele transcende essa condição modificando a si
próprio e o mundo por meio do trabalho. Por fim, a cultura é o ponto final da análise desse
artigo ao destacar a dimensão humana e sua necessidade de conferir sentido ao mundo. Tal
temática apresenta sua relevância principalmente em tempos da perda de confiança no
humano enquanto ser capaz de transcendência. A análise está circunscrita nos limites da
antropologia filosófica e o objetivo principal é demonstrar como o homem é um ser de
ruptura capaz de criar e recriar a realidade. A metodologia se baseia na exegese de textos de
pensadores que problematizam o homem enquanto ser no mundo chamado a oferecer a si
mesmo um sentido à realidade. Pretende-se, por este artigo, apresentar uma compreensão do
ser humano que vai além do entendimento de grande parte do pensamento moderno que
estabelece o homem apenas em sua condição racional. Se espera por meio desse estudo
ampliar o horizonte a respeito da compreensão da singularidade do humano em sua
capacidade de se fazer com os outros.
This article analyzes the human being as a being of possibilities. He is a being in the world,
released and a priori striking by what nature conditions him to be: an animal marked by
biological limits. However, he overcomes this condition by modifying himself and the world
through work. Ultimately, human dimension and its need to give meaning to the world are
highlighted taking culture as the endpoint of this article. This topic is especially relevant
during periods when confidence in the human capacity to transcend is lost. The analysis is
based on philosophical anthropology, and its main objective is to demonstrate how man is a
being of rupture capable of creating and recreating reality. Its methodology relies upon the
exegesis of texts whose authors problematize the human being as a being inhabiting a world
where he is called to offer himself a sense of reality. It intends to present an understanding of
the human being that goes beyond the understanding of much of the modern thought that
establishes man only in his rational condition. It is expected here to broaden the horizon
regarding the comprehension of human uniqueness based on the ability to do oneself from the
other.
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Professor do departamento de filosofia da PUC Minas e coordenador de Pastoral na Unidade PUC
Minas Praça da Liberdade.
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1. Natureza, liberdade, mundanidade, trabalho e cultura: o fazer-se humano
Não é, pois, tanto o entendimento quanto a qualidade de agente livre possuída pelo
homem que constitui, entre os animais, a distinção específica daquele. A natureza
manda em todos os animais, a besta obedece. O homem sofre a mesma influência,
mas considera-se livre para concordar ou resistir, e é sobretudo na consciência dessa
liberdade que se mostra a espiritualidade de sua alma, pois a física de certo modo
explica o mecanismo dos sentidos e a formação das ideias, mas no poder de querer,
ou antes, de escolher e no sentimento desse poder só se encontram atos puramente
espirituais que de modo algum serão explicados pelas leis da mecânica
(ROUSSEAU, 1999, p. 64).
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Rousseau argumenta que o animal segue um instinto já dado, uma espécie de
programa comum à sua espécie. O animal não tem liberdade para se furtar desse código
prévio, vivendo de forma perfeita, de acordo com sua natureza. Talvez um pássaro, num
momento de extrema fome, possa até tentar se alimentar de algo que não faz parte de sua
dieta, mas seu código natural não lhe deixará passar além disso e ele fatalmente morrerá (cf.
ROUSSEAU, 1999, p. 64).
No ser humano o que ocorre é bem diferente. Apesar de ser formado por um corpo
que dotado de uma estrutura biológica dada a priori, o homem consegue – por ser livre –
opor-se ao seu “destino”. Por exemplo, os biólogos já apontaram que, pelo formato dos
dentes, o ser humano não deveria se alimentar de outra coisa a não ser vegetais. Todavia, ele
supera sua natureza e submete seu “instinto”. Contudo, tal superação nem sempre é positiva:
como ressalta Rousseau, “os homens dissolutos se entregam a excessos que lhes causam febre
e morte, porque o espírito deprava os sentidos e a vontade ainda fala quando a natureza se
cala” (Ibidem., p. 64).
Esse “rebelar-se” contra a natureza, esse excesso, enfim, a constante possibilidade de
transgressão, reflete o quão singular é o ser humano. Dele é possível esperar o pior e o
melhor, o mal absoluto e a generosidade mais surpreendente. É esse transbordamento humano
que se eleva acima da natureza que Rousseau e Kant chamam de liberdade. Portanto, o que
torna o homem humano é justamente essa possibilidade de escolha que o distingue do animal.
Na trilha dessa concepção rousseauniana, Sartre não poupou esforços ao argumentar
que o ser humano está condenado à liberdade:“O homem é tão somente, não apenas como ele
se concebe, mas também como ele se quer, como ele se concebe após a existência, como ele
se quer após esse impulso para a existência. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz
de si mesmo”(SARTRE, Jean P. O Existencialismo é um Humanismo. Petrópolis: Editora
Vozes, 2012. p.10).
Ainda no desenvolvimento dessa argumentação, para o filósofo Lima Vaz o processo
fundamental que possibilita a suprassunção do animal ao ser humano, que o permite sair dos
limites impostos pela natureza e começar a explorar o mundo é um momento paradigmático
que marca a historicidade humana. Esse momento fundamental é a saída do eidos para o
tético. O eidético é o que nos é dado, o corpo, a nacionalidade, a cidade natal, a língua entre
outras coisas mais. O tético, por outro lado, é o que podemos nos tornar, a quebra de
paradigma, o dever-ser, enfim é o sujeito que se põe a si mesmo no horizonte de
transcendência (Cf. LIMA VAZ, C.H. Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica
I. São Paulo: Loyola, 1999).
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Essa dimensão transcendental humana de fazer-se, possibilita pensar em uma natureza
humana aberta a ser o que ainda não é. Inclusive é possível negar a possibilidade de ser e se
fechar a à transcendência. Nesse aspecto, o pensar antropológico estabelece duas formas de
entender o ser humano: natureza e cultura. O ser enquanto natureza é constituído de sua
realidade física, material dominado pelos sentidos. Somos “corpo”, ou seja, seres finitos
dotados de uma biologia preestabelecida.
Não obstante sua constituição material, o homem transcende sua condição
biológica suprassumindo-a. Suprassumir é a capacidade de elevar e ao mesmo tempo
conservar. É válido ressaltar que não há aqui uma negação da dimensão corpórea em
detrimento do espiritual. Ambas as realidades, natureza e cultura, coexistem no mesmo ser.
Falaremos um pouco mais dessa dimensão corpórea a seguir.
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(MERLEAU-PONTY, Maurice.fenomenologia da percepção. 2ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1999, p. 228). O meu corpo é a ponto basilar onde as coisas do mundo são
referenciadas.
O corpo também pode ser compreendido enquanto função epistemológica. “O meu
corpo é o lugar privilegiado no qual o mundo se divide, recebe múltiplos significados e torna-
se o universo humano” (MONDIN, 2008, p. 35). Nesse sentido o meu corpo é o “centro do
universo”; ele é a pedra fundamental o ponto indivisível no qual se opera a análise e a síntese
de tudo. Enquanto soma corpórea, o universo é, de certa forma, referenciado à minha
presença física. O universo, o diverso de mim, não apenas é transformado pela minha
perspectiva enquanto ser corporal, mas o universo também me transforma na medida em que
me relaciono com ele.
Eu atraio o mundo a mim e o delimito para que, num primeiro momento, se enquadre
dentro de meu horizonte. O corpo, nesse sentido, espelha o mundo a sua volta. Por exemplo,
os povos da floresta se pintam e utilizam elementos que lembram os animais, plantas e outros
elementos do seu ambiente circundante. Assim como, um pesquisador no Polo Norte traz
marcas típicas daquele mundo. Enfim, o corpo confere, dessa maneira, uma função
interpretativa do mundo por meio da experiência.
Por meio do meu corpo, indo mais além, não apenas interpreto o mundo, também o
possuo. “O corpo é antes de tudo indispensável para possuir existência. Eu existo possuindo
um corpo; quando o perco, morro, ou seja, paro de existir” (MONDIN, 2008, p. 36). O
homem, ao se instalar corporalmente em um lugar, ele estabelece ali um tipo de domínio. A
presença é fundamental para um estabelecimento efetivo. Em termos de “presença” virtual,
apesar das conquistas, nunca somos plenos senão nos fizermos presentes em nosso corpo
vivo. Nesse aspecto afirma Mondin: “a posse é uma dilatação do próprio corpo, da nossa
dimensão somática” (2008, p. 36). O carro que o condutor dirige não é apenas uma peça
desconexa de mim, mas a extensão do corpo.
Para Husserl, ainda na discussão sobre a compreensão do homem enquanto
corporeidade, dada a insuficiência para o acesso ao outro apenas por meio de um ego
pensante Husserl elabora outro caminho: o corpo vivente – em alemão Leib. A seguinte
passagem elucida esse conceito:
Entre os corpos desta natureza que são captados na minha propriedade, encontro, então,
com uma proeminência única, o meu soma, a saber, como o único que não é um simples
corpo, mas precisamente um soma, o único objeto no interior do meu estrato abstrativo de
mundo a que atribuo, em conformidade com a experiência, campos sensoriais, se bem que
em diferentes modos de pertença – campo de sensações táteis, do frio e do quente etc. –, o
único em que imediatamente ponho e disponho, e em que particularmente governo em cada
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um dos seus órgãos (HUSSERL, Edmund. Meditações cartesianas e conferências de
Paris. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013, p. 135).
Quando me apreendo enquanto um corpo vivente percebo o outro em seu corpo vivo;
ele é acessado também por ser um outro em sua corporeidade:
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finitude humana; não obstante a capacidade de transcendência, é complexo manter o corpo
em condições ideais: alimentá-lo, exercitá-lo, senti-lo, enfim, tudo revela o quão difícil é sua
finitude: as mãos revelam visivelmente os limites daquilo que podemos alcançar.
Em suma, A referência primeira e primordial sou eu mesmo constituído enquanto
corporeidade. Mas essa autorreferência não significa subjetivismo, mas o reconhecimento de
que sou soma e que parto dessa realidade para pensar e agir no mundo. As relações que
estabeleço no mundo estão constantemente me transformando ao passo que transformo o
mundo por meio de uma ação enquanto corporeidade; o trabalho é um exemplo
paradigmático dessa capacidade humana, não apenas modifico o mundo por meio do meu
corpo, mas o significo por meio do meu espírito. O trabalho é uma forma de espiritualizar o
mundo ao qual pertenço, pois não sou apenas corpo, mas um ser com capacidade de produzir
um mundo novo por meio de novas ideias e relações.
1.3O trabalho
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Para Platão o trabalho é tão desprezível que degenera o ser humano como um todo e é impossível que pessoas
provenientes de uma classe inferior almejem filosofar: “Também em relação às outras artes, a filosofia, mesmo
no estado em que se encontra, conserva uma eminente dignidade que a leva a ser procurada por uma multidão de
pessoas de natureza inferior a quem o trabalho servildeformou o corpo, ao mesmo tempo que lhes consumiu e
degradou a alma” (PLATÃO. A República. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 205, grifo meu).
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ou seja, é hábil o bastante para apreender a ordem do cosmos e, por ter essa visão
privilegiada – uma theoria do todo - sua posição social é a melhor possível (cf. FERRY,
2012, p. 77).
A noção de economia política clássica, que estava fundamentada na concepção de que
a riqueza de uma nação consiste na quantidade de ouro acumulado, cede lugar, na
modernidade, ao conceito de trabalho. Desse modo a teoria política passa a refletir sobre o
fenômeno do trabalho e sua importância na geração de riqueza. Nesse aspecto Adam Smith
(1723-1790) promove uma nova compreensão a respeito desse tema no século XVIII. Ele é
autor de duas teses inovadoras em sua época. A primeira a de que o trabalho está na base da
produção da riqueza. Num período histórico marcado pelas teorias do mercantilismo e da
fisiocracia, a afirmação reformulou o pensamento econômico-político, em especial da teoria
do valor que passou a ser adotada por autores como Ricardo e Marx. Nesse aspecto, de
acordo com Marx, para entender a profundidade do conceito de trabalho é preciso relacioná-
lo com a condição humana.
Um dos problemas identificados na era moderna foi o fenômeno da expropriação da
força de trabalho. A força de trabalho é a mercadoria que o trabalhador vende ao capitalista
para receber seu salário. A questão fundamental é que o operário constrói produtos que
superam o valor que lhe é pago pela produção de bens. Esse processo é chamado de mais-
valia. As condições extremas das jornadas de trabalho aliado ao baixo salário levaram a
greves e conflitos que abalaram o capitalismo nascente.
Nessa configuração de mundo o trabalho nunca é compreendido como lugar de
realização das potencialidades pessoais. Entretanto, quando a virtude passa a ser não mais
uma atualização de natureza já dada, o trabalho torna-se algo até desconhecido. Não obstante
a profunda análise de Marx sobre o trabalho, para o homem moderno, quem não trabalha
corre o risco de estar fadado a uma vida miserável. A theoria não é mais a medida para uma
compreensão da realidade, mas a práxis.
A realidade e o próprio sujeito são modificados por meio de sua própria ação e é isso
que constitui o homem virtuoso. Se o mundo antigo preestabelecia o que a pessoa deveria ser,
o horizonte existencial dos modernos não é oferecido por algo transcendente, viver é uma
construção laboriosa. É necessário criar a própria transcendência, na verdade ela deve ser
inventada. O humanismo desponta então como a destruição de qualquer enquadramento
prévio e põe o homem no centro para que este viva seu ideal como devir. O horizonte de um a
priori bom e harmonioso que é dado de bom grado às pessoas já não existe.
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Outro conceito importante que surge nesse contexto é o de igualdade. O mundo antigo
é caracterizado pela hierarquia, um mundo aristocrático e holístico, pois nele o todo é mais
importante do que as partes. Em contrapartida, “o universo dos modernos será – ao menos em
princípio, para não dizer de fato - um mundo da igualdade, da democracia e do
individualismo” (FERRY, 2012, p. 79). Com a fragmentação do cosmos antigo o conceito
aristocrático de natureza cede espaço para o de igualdade porque a ordem e a hierarquia
deixaram de existir. Uma nova concepção antropológica produz novos conhecimentos, dentre
eles o estudo do próprio homem: a cultura enquanto ciência.
1.4A cultura
A palavra cultura vem do verbo latino colere, que tem o sentido de “cultivar”, “criar”,
“tomar conta” e “cuidar”. Para os antigos romanos, cultura significa o cuidado do homem
com a natureza – donde agricultura. De um modo bem genérico, muitos entendem cultura
como sinônimo de erudição. A pessoa culta – dotado de cultura – demonstraria um
refinamento social (cf. GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem, filosofia
da cultura. São Paulo: Contexto, 2017, p. 33).
Essa concepção de cultura foi muito utilizada na sociedade brasileira por meio da
classe média e alta como sinônimo de status social. Todavia, na antropologia, não é esse o
tratamento dado ao termo cultura. Para os filósofos alemães do séc. XVIII, cultura significa
formação – em alemão é bildung. O ser humano, tanto no particular quanto no coletivo, se
desenvolve à medida que é submetido a processos de formação contínua. Nesse sentido, o
indivíduo é investido de cultura por meio da formação intelectual, independentemente de sua
origem social.
Outro modo de entender a cultura diz respeito à arte. O teatro, uma orquestra, a
exposição de arte contemporânea seriam manifestações sublimes da cultura. Também a
produção de canções papulares, folia de reis, danças folclóricas também fazem parte da
cultura. Portanto, cultura seria a produção artística de um povo.
Uma terceira categoria de cultura estudará os hábitos e costumes que identificam
determinado povo. Nesse sentido, os mineiros gostam de pão de queijo, ao passo que os
capixabas são ótimos no preparo da moqueca. O sul toma chimarrão e o sudeste café. O
nortista come rapadura com farinha e o nortista “o molho-de-tucupi”. Essa forma de
compreender a cultura se concentra na análise dos comportamentos de um povo. Também
essa forma de entender o fenômeno humano interessa à concepção de cultura na
Antropologia.
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Outra concepção de cultura diz respeito ao mundo simbólico de um povo, algo que
ultrapassa as classes sociais, a Religião ou a região. Por exemplo, essa acepção de cultura é
usada para afirmar que existe uma essência no modo brasileiro de ser. O “jeitinho” brasileiro
é uma forma de manifestação dessa compreensão. Também se pode dizer que os alemães são
extremamente organizados ou que os norte-americanos vivem em função do lucro
desenfreado. Nessa concepção cultural, uma única explicação cultural tenta abarcar o todo.
Ainda outra concepção de cultura, vai afirmar que a cultura é aquilo que está por trás
das atitudes e costumes de um povo. Esse é um conceito abstrato de cultura. Essa estrutura
incognoscível, ou seja, ela é um sistema inconsciente que determina o modo como as pessoas
se comportam, pensam e se posicionam no mundo.
O pensador inglês Edward Tylor, é considerado o primeiro pesquisador a promover a
cultura como ciência. Para ela a cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, artes,
moral, leis, crenças, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo
homem como membro de uma sociedade. Para uma compreensão filosófica de cultura
apresentamos duas formas básicas de compreensão de seu significado. A primeira possui um
carácter subjetivo. Mais ligado ao platonismo que entende cultura como algo a ser cultivado
enquanto processo educativo: “é o exercício das faculdades espirituais, mediante o qual elas
são postas em condições de dar os frutos mais abundantes e melhores que sua constituição
natural permita”. Do ponto de vista objetivo, a cultura é uma produção adquirida pelo homem
mediante o exercício das suas faculdades, espirituais ou orgânicas. Nessa segunda
compreensão a cultura não é vista apenas como processo de educação subjetiva, mas se revela
na interação do homem com seu meio (cf. V. Matheu, in MONDIN, battista, 2008, p. 177).
Nessa perspectiva filosófica o filósofo brasileiro Lima Vaz define Cultura da seguinte forma:
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Em suma, dado que o ser humano não é um ser acabado ele, em sua categoria de
transcendência, se faz e para isso se vale da cultura para significar e ressignificar seu mundo.
Quanto mais se compreende as estruturas culturais pelas quais o ser humano é formado,
mais condições ele tem de se modificar e se autorrealizar. Portanto, cultura, não diz respeito
apenas a conhecer determinados teóricos, livros ou certos hábitos, pois, para além disso,
cultura é o modo próprio como o homem rompe as condições impostas pela natureza e
produz seu próprio habitat. Pelo trabalho o homem modifica a matéria e põe em movimento
as forças produtivas para transformar materialmente o mundo. Na medida em que o homem
constrói seu próprio mundo se presentificando em sua corporeidade, por meio do trabalho,
ele produz cultura e é produzido por ela. Nesse sentido a cultura deve ser problematizada,
pois é carregada de contradições. Portanto, a crítica cultural não apenas relata o modo como
o homem produz o mundo, mas também como o homem explora o próprio homem e as
consequências éticas ao passo que coexiste com os outros.
CONCLUSÃO
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complexidade humana? Se assim for, somos os últimos humanos que ainda necessitam de
filosofia? Nesse aspecto é preciso pensar a técnica e as novas tecnologias no horizonte do
humano para que não corramos o risco de nos tornarmos irrelevantes em um futuro próximo.
Como seres que estão se fazendo, refletir nossas ações e os problemas de nosso tempo nos
torna conscientes de nosso lugar no mundo e nos capacita pensar e agir com maior lucidez.
Enfim, como nada ainda está definido, diante da proposta do humano proposta nesse artigo,
somos chamados a pensar a própria existência a fim de que nenhum sistema econômico,
político, religioso, científico entre outros, pretenda se apropriar da instigante tarefa do
humano de se moldar. Nesse sentido, uma reflexão ética é fundamental, mas essa é uma
discussão para outro um momento.
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REFERÊNCIAS:
MONDIN, Battista. O homem, que ele é. 13ª ed. São Paulo: Paulus, 2008.
FERRY, Luc. Immanuel Kant: uma leitura das três críticas. São Paulo: Difel, 2012.
LIMA VAZ, C.H. Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica I. São Paulo:
Loyola, 1999.
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem, filosofia da cultura. São Paulo:
Contexto, 2017.
MARX, Karl. O capital. São Paulo: Nova Cultura, 2005 (Coleção os pensadores).
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