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Discente: Alexandre Henrique Vieira de Souza dos Anjos. RA: 8002874.

Atividade Final (Resumo)

ANTROPOLOGIA: NOVO OLHAR SOBRE A GESTÃO DE PESSOAS

ASPECTO ANTROPOLÓGICO

Em primeiro lugar, é preciso enfatizar que o modus essendi (modo de ser; o caráter
ontológico existencial), bem como, o modus operandi/agendi (modo de agir, atuar) de uma pessoa é
influenciado pela sua cosmovisão e o modo como ela entende o significado de tudo que a cerca.
Por isso, é importante perceber na engrenagem das coisas e, ao mesmo tempo, entender a
relação entre o modo de vida de uma determinada época/tempo e os pensamentos que naquele
período, regiam a sociedade.
O mundo em constates mudanças provoca também, no ser humano, mudanças no modo de
pensar e agir. Mas, o que aqui precisa ser destacado é a maneira ética de viver do homem.
Assim, para percebermos o novo olhar sobre a gestão de pessoas, precisamos fazê-lo à luz
da antropologia filosófica, buscando saber que(m) é o homem.
A Antropologia Filosófica é uma ciência nova, não tem mais de cem anos de existência,
enquanto a filosofia ocidental tem mais de dois mil e quinhentos anos. A antropologia atual tem
como antecedentes aquelas célebres perguntas Kantianas: O que posso saber? O que posso esperar?
O que devo fazer? e, finalmente, O que é o homem?
A palavra Antropologia provém da raiz grega anthropos (homem), que, por sua vez, deriva
de ándrios, termo que designa o gênero humano (mulher/homem), e da terminação logia (ciência).
Seu significado completo é ciência do homem.
A “Antropologia Filosófica” leva o nome anthropos por ser o homem seu principal objeto
de investigação. Poderia levar o nome bios, já que o termo grego bios abarca toda a vida orgânica,
psicológica, espiritual e contemplativa, ou seja, a vida humana. Mas, como bios já está sendo
utilizado pela Biologia para indicar o que é orgânico, mesmo que em grego “orgânico” equivalha a
Zoe, o estudo do homem adota anthropos.
O homem biológico, psicológico e espiritual é o objeto de estudo da Antropologia
Filosófica. Três regiões essenciais (a física, a psicológica e a espiritual) caracterizam o ser humano.
Um homem sem a região psíquica, a física ou sem espírito não seria um homem. Seria qualquer
outra coisa menos um ser humano, talvez um androide ou qualquer tipo de mutação, mas não um
homem.
Então, cabe-nos perguntar: como é o “homem” na visão da Antropologia Filosófica?
A Antropologia Filosófica primeiramente diferencia no homem as regiões essenciais:
CORPO FÍSICO, PSIQUE e ESPÍRITO. Por isso, a estrutura do ser humano é: SER bio-psíquico-
espiritual-transcendente.
Assim, o ser humano é uma estrutura unitária, apoiada em uma unidade essencial. Por isso, é
fundamental ter isto em mente. Essa unidade é composta por três regiões ou princípios: o vital, o
psíquico e o espiritual-transcendente. Só assim permite-nos vê-lo de modo holístico (inteiro,
completo, total).
Partindo da compreensão do que vem a ser “ser humano”, precisamos perceber como o
homem realiza seu processo de autocompreensão. E, operando desta forma, ele experimenta sua
experiência mais sui generis - original possível, representando também o todo ou a sua totalidade
concreta, tudo isso ligado à sua experiência e compreensão de si mesmo.
Compreendemos, assim, que o homem é um ser de relação, isto é, aberto ao mundo e aos
demais seres. É o único capaz de perceber sua essência, a verdade e o valor que há nesta atitude
própria do homem. Sua essência torna concreta sua abertura ao mundo e aos outros seres. Por isso,
pergunta-se sobre sua essência: o que faz no mundo, por que está neste mundo, qual a razão de sua
existência.
Somente o ser humano possui capacidade e também tem consciência de si mesmo e
capacidade de se compreender. Só ele possui esse espírito de questionamento, somado à
possibilidade e a necessidade de se fazer esse tipo de pergunta. Enfim, ele se torna um
questionamento para si mesmo.
O ser humano não consegue alcançar a plena compreensão de si mesmo no mundo em que
vive, pois, encontra-se mergulhado num mundo onde a educação e a realidade não favorecem essa
compreensão por causa dos acontecimentos materiais e da forma que a sociedade está estruturada.
Assim percebemos como é complicado compreender a si mesmo.
Há muitas coisas que nos impedem de olhar para nós mesmos: as preocupações cotidianas, o
trabalho, os estudos, a família, que podem impedir que o ser humano olhe para si e compreenda o
que está acontecendo consigo.
Mas, há questões que sempre virão à tona: Quem sou eu? Por que estou neste mundo? Por
que sou assim? Por que as coisas são dessa forma?
Assim sendo, que visão tem as outras ciências, com suas diferentes metodologias e
realidades, acerca do ser humano? O que é o homem em meio à realidade existente?
Por que muitas vezes, essas perguntas ficam sem respostas e, ainda continuam questionando-
nos e incomodando-nos. Eis o “SER HUMANO”. É próprio de sua natureza querer entender-se.
Questões que preexistiram e com muitas respostas da parte de muitos pensadores.
Enfim, a Antropologia Filosófica apoia-se no princípio de que há, no homem, uma unidade
vital, uma unidade ontológica que envolve o corpo e a psique. Como seres humanos, possuímos o
eu, que nos confere identidade. O eu é o nome do comando interno que unifica, a partir do centro da
pessoa, as ações dos extratos biológico, psicológico e espiritual. O eu converte a vida psicofísica
numa vida de caráter espiritual e, portanto, única.
Então, o que é ser HOMEM? O que significa o homem visto como ser? Quais são as
características desse pensar sobre ele?
Ser homem significa uma gama de dimensões que faz com que façamos uma experiência de
mundo e de nós mesmos.
É um totalmente e não pode ser visto de forma fragmentada. Está inserido num mundo
(ambiente) em que vive, mas não está confinado à sua subjetividade, dentro de si mesmo
(narcisismo).
Enfim, o homem só alcança seu pleno entendimento se buscar uma “relação transcendental
com o ser absoluto e infinito... em sua relação com o fundamento absoluto, pessoal e divino do ser”
(CORETH, 1985, p. 42). Assim, é preciso operar sua compreensão em sua base (o fundamento do
seu ser) e simultaneamente em totalidade.
De forma panorâmica podemos perceber, desde a Grécia até o século XX, como o conceito
de homem foi tratado e desenvolvido.
Há uma preocupação que envolve o ser humano: a busca do fundamento e do sentido do
mundo onde habita. Assim, a filosofia tem o seu papel fundamental, que é o de fazer perguntas,
sobre o princípio de todas as coisas para, assim, entender o fundamento de tudo.
Fazendo dessa forma (entender-se no seu mundo, sua história e no conjunto da realidade),
realiza um exercício filosófico.
No pensamento grego, encontramos através da narrativa mitológica, para a reflexão
filosófica, relatos sobre essa preocupação. O homem é entendido como o eixo que unifica a ordem
universal, o que o caracteriza e o constitui é sua própria essência e alma, chegando a uma dualidade
fundamental: a alma espiritual e corpo material.
No campo da sua essência e sua dignidade, o homem situa-se no campo espiritual.
No pensamento cristão possui características próprias, mas faz uso da metodologia filosófica
grega para expressar sua doutrina.
A visão do homem como pessoa não deve ser procurada na filosofia grega. É própria do
cristianismo, pois é fruto, “sobretudo, da experiência dialógica na relação entre Deus e o homem”,
implicando “a decisão e a responsabilidade do ser humano”.
O diferencial do pensamento cristão está na Revelação (Antigo e Novo Testamento). Nela
está contida a mensagem de salvação, destinada ao ser humano concreto, na história. É uma historia
salutis, isto é, história da salvação, acontecimento entre Deus e o homem.
No pensamento moderno, após um longo período denominado teocentrismo (Deus e religião
– centro de tudo), agora, a preocupação volta-se para o denominado antropocentrismo (homem –
centro de tudo). Isso aconteceu de forma gradativa, onde o homem é situado no mundo
(protagonista).
A segurança estava na fé em Deus. O homem se encontrava no centro de um mundo
perfeito, ordenado e claro, fruto de uma fé (segurança de um Deus que olhava para ele –
pensamento teocrático).
A partir de então, o homem sem um lugar assegurado no mundo, retraindo cada vez mais
dentro de si e questionador sobre o ser e o sentido de sua vida. Busca referência em si mesmo e no
mundo onde vive.
O homem passa a ocupar o centro de tudo. Mas aí, surge, uma questão problemática: o
homem é um simples sujeito, “não sendo, pois o centro de uma ordem objetiva do ser, mas o de um
mundo de conhecimentos subjetivos”. Modificou o foco para si mesmo, “A submissão do homem a
uma religião é substituída pela autonomia no pensamento humano por meio da razão e da
experiência”.
Surge, com Descartes, o dualismo (corpo e alma) “como realidades distintas, como se nada
tivessem entre si, elimina qualquer possibilidade de uma ação mútua”. Dá origem ao racionalismo,
onde o homem é reduzido a um “sujeito pensante” (res cogitans – substância pensante), o cogito
ergo sum cartesiano, que, corretamente traduzido é “penso, portanto sou”, entendendo o homem,
pura e simplesmente como um ser racional. Mas, ao contrário, o idealismo “eleva e absorve a razão
finita no acontecimento espiritual infinito”, onde, a “singularidade do homem não adquire seu pleno
valor na sua liberdade e na sua responsabilidade”.
Nas escolas materialistas e evolucionistas, o ser humano foi visto de forma sem igual. O
espírito humano, acima de qualquer outra realidade, é sua essência. A tradição história e, de forma
especial, a tradição e a grega afirmava ser, acima de tudo, o espírito a essência do homem. No
século XIX, o materialismo atropelou tudo isso, e afirmou que o “homem é uma realidade material
como outro ser qualquer”.
Augusto Comte, pai do positivismo dizia que “o valor está no conhecimento objetivo da
realidade”. Assim, o homem é um “simples objeto de estudo científico natural empírico, psicológico
e sociológico”. Isso fez com que as portas para o materialismo fossem abertas: o que existe é tão
somente a realidade material, tudo é matéria. Resultado: o homem = ser material. Sua alma, algo
relegado ao segundo plano, superficial, e até mesmo, desnecessária.
Charles Darwin dizia que o homem é fruto da evolução (seleção natural). Já Friedrich
Nietzsche, que o homem é fruto da evolução, não de modo mecânico, como Darwin, mas que, no
futuro ele se tornará um “super-homem” (fruto da livre vontade humana), na livre competição entre
os homens, na ânsia pelo poder.
Essa linha de pensamento darwinista influenciou Karl Marx e Friedrich Engels, pois no
materialismo dialético não afirmam que as coisas são estáticas, mas há um dinamismo, não
mecânicas, mas dialéticas.
Para Marx, o homem não passa de um conjunto de relações sociais que destroem a pessoa
individual e a tornam uma “função” (engrenagem na máquina) dentro do progresso da sociedade.
Ao longo do processo o indivíduo se dilui.
Mas, essa posição passa por reformulação: os pensadores materialistas valorizam a relação
com o infinito, o transcendente, o divino, o “totalmente outro”.
Para Pierre Theilhard de Chardin, a matéria contém em fase inicial (germe), todas as formas
da evolução. “Nesse processo, forma-se o campo da vida em todas as suas manifestações e o campo
do pensamento e da consciência espiritual do homem”.
Nas escolas existencialistas e personalistas, temos outra abordagem:
Blaise Pascal acrescenta outro elemento: além da razão, há o coração (intuição e instintos,
sentimentos e delicadeza) com a presença do espírito. Para ele, somente o coração revela a
profundidade e a plenitude da realidade.
Já para Sören Kirkegaard, o que interessa é a existência: homem individual e concreto na
totalidade - existência pessoal, singularidade e autonomia, liberdade e responsabilidade, onde o
indivíduo é uma subjetividade.
Friedrich Nietzsche exalta a vida, dando a ela um valor supremo, pois, a mesma se resume
na vida do corpo. Henri Bergson é o maior expoente dessa corrente. Na filosofia existencialista o
conceito de experiência é fundamental. É explicada por meio do imediatismo da experiência
pessoal.
Jean-Paul Sartre radicaliza esse pensamento existencialista e conduz a existência humana à
plena nulidade (nada), pois não confere sentido algum.
No existencialismo cristão de Gabriel Marcel, encontramos o acréscimo de um elemento
positivo: esperança e confiança aquém.
Chegando ao conceito de pessoa na sociedade em que vivemos, e dado tudo o que foi
exposto até aqui, o conceito de “pessoa” é chave interpretativa para a compreensão do ser humano,
pois, precisamos compreender de que modo a pessoa hoje é vista e tratada para chegarmos ao
entendimento do ser, do fazer e do agir humano na sociedade.
O ser humano precisa ter dignidade e direitos recuperados, conhecer seus direitos e deveres
para consigo, com o outro (alteridade) e com a humanidade como um todo.
Na sociedade capitalista, segundo Müller, a mesma esconde a realidade, influenciando o
mercado de trabalho, criando necessidades e exigindo uma capacitação profissional especializada.
Isso faz com que a grande maioria fique à margem do que, de fato, realmente quer e deseja.
O atual sistema capitalista encontra-se mergulhado numa vida de consumo, que conduz a
pessoa a correr atrás, forma desenfreada, a uma “satisfação ilusória” de inúmeras necessidades,
levando assim, ao desencadeamento de uma vida sem objetivo e sem valores. Engana-se quem
pensa que esse sistema confere uma vida de esperança e realização.
No final do século XVIII, com o surgimento das primeiras sociedades capitalistas, as
pessoas viviam suas vidas ao redor das fábricas. O capital, por isso, passou de comercial e mercantil
para industrial, que levou a uma busca por lucro e máquinas mais avançadas e, como consequência,
com mão de obra especializada.
Já na sociedade pós-moderna, o capitalismo é um sistema econômico que influencia no
campo social e interfere no político. Com isso, o neoliberalismo vai sendo implantado e o
individualismo é marca constitutiva constante de todo o seu agir. Nessa reação em cadeia, isto é, o
raciocínio neoliberal e tecnicista faz com que os problemas sociais sejam reduzidos a questões
administrativas e os problemas da educação a problemas de mercado e de técnicas de
gerenciamento.
Assim, o sistema capitalista fará com que as pessoas sejam cada vez mais competitivas.
Nessa visão, o ser humano é reduzido e seu valor é 0.
Enfim, e ao cabo, como é importante conhecer todo esse contexto para entendermos o que é
o ser humano, para assim, aplicar esses conhecimentos no campo da gestão de pessoas. Por isso é
que todo curso de formação na área da administração, gestão de pessoas, além de outros cursos, se
já não o faz, deveria iniciar o curso com toda essa reflexão antropológica. Considero que, ao final
do presente curso, aos meus conhecimentos foram acrescentados novos e ricos ensinamentos acerca
da antropologia e sua aplicação na vida pessoal e profissional.

“O homem não é um edifício pré-fabricado que basta simplesmente


montar, como hoje se faz com as coisas, bancos e escolas.
Ele deve se construir com suas próprias mãos, cultivando a si mesmo.
O objetivo primário da cultura é promover a realização da pessoa.”
(Battista Mondin)

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