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O Lugar da Psicologia nas Humanidades

Última Modificação 13/11/2015 15h52

por Manuel Muñoz 

A origem do pensamento é a admiração, e o espanto,


diante do universo e de nós mesmos. Do mesmo modo,
a  onte primordial do pensar é a indagação, o
questionamento, o enunciar as perguntas diante do
desconhecido, assim como do conhecido e do por ainda
conhecer. Fazer as perguntas fundamentais é atividade
vitalmente necessária para a reflexão e o conhecimento,
para a existência humana, em última instância. 

A palavra “humanidades” tem como referência fundamental a categoria ser humano. Nesse
sentido, não se procura apenas refletir sobre temas relativos à existência humana, mas busca-se
possibilitar uma existência verdadeiramente humana num contexto sócio-cultural onde o
tecnicismo, o economicismo e o imediatismo intelectual predominam. Assim, conforme o texto-
base da justificativa político-pedagógica das Humanidades coloca, o seu campo de estudos
“pretende-se um centro aglutinador que indica linhas de reconstrução humana necessárias em
vários domínios do mundo acadêmico, reconfigurando as relações entre as pessoas de forma
integral - em sociedade, com a natureza, com a psique e com o divino”. 

O Núcleo de Humanidades não cria nem inventa os problemas fundamentais do ser humano.
Apenas os reconhece, assume e examina criticamente, tentando procurar de forma dialógica
respostas que possam iluminar a existência concreta dos membros da comunidade acadêmica
envolvidos. No processo de significação e ressignificação existencial provocado, dar-se-á uma, de
forma paralela, uma ressignificação das relações sociais. O reconhecimento da complexidade e
pluridimensionalidade do humano nos permite partir das perguntas fundamentais para quebrar o
gueto das ciências humanas, divididas em disciplinas quase irreconciliáveis, e elaborar uma
proposta interdisciplinar que relacione as dimensões biopsíquica, sócio-política, econômica,
filosófica, cultural e religiosa da existência humana num único lócus reflexivo/dialógico. 

Quem sou eu? Qual é o sentido e limite de minha existência? Por que vivo em sociedade? Onde
estou? Estes interrogantes sobre o humano não nascem hoje, nem são o fruto primário de uma
curiosidade científica, encaminhada ao aumento do saber. Impõem-se por si mesmos. São
inerentes à existência problemática do ser humano[1]. Têm sido em todas as épocas e culturas
inseparáveis companheiros de viagem do ser humano. A realidade problemática do ser humano o
obriga a buscar respostas e posicionar-se. 

A pergunta de quem é o ser humano tem sido respondida, ao longo da história do pensamento, de
diferentes maneiras. Alguns responderam: somos o que fizeram de nós. Nós, desde a Psicologia,
retrucamos: não somente isso. O essencial do ser humano é o que ele consegue construir a partir
de seu entorno existencial e do que fizeram dele[2]. Isto é, o ser humano começa a se construir,
se subjetivar, quando descobre a resposta às perguntas quem e por que sou o que sou? Isto
acontece no momento em que a pessoa consegue parar para pensar, refletir. Esse processo
reflexivo leva à consciência, e esta leva à liberdade e à responsabilidade. Esta é a grande
contribuição da Psicologia ao Núcleo de Humanidades do Centro Universitário Metodista Isabela
Hendrix: ajudar na construção de nossa subjetividade de forma a fazer nossa consciência crescer
e, conseqüentemente, nossa liberdade e responsabilidade como seres humanos inseridos num
projeto social e planetário maior. 

São numerosas e fascinantes as peças do quebra-cabeça da natureza humana. A Psicologia


pode-nos guiar nos espaços interiores do cérebro e da mente e nas dimensões exteriores do
comportamento humanos. Permite-nos investigar os processos que dão estrutura de significado
às nossas experiências, tais como a forma como percebemos o mundo, nos comunicamos,
aprendemos, pensamos e lembramos. Nos ajuda a entender as expressões mais dramáticas da
natureza humana: a forma e as razões pelas quais sonhamos, nos apaixonamos, nos inibimos,
somos agressivos e adoecemos. Mas também, o conhecimento psicológico pode e deve ser
usado para compreender e transformar (humanizar, em última instância) a vida social. 

Sirva como exemplo e conclusão do nosso texto um fato paradigmático da importância do


conhecimento psicológico na humanização da convivência social: a decisão da Suprema Corte
dos Estados Unidos, em 1954, no caso conhecido como Brown versus Board of Education of
Topeca[3] que tornou ilegais as escolas segregadas para crianças brancas e negras, em base a
testemunho de psicólogos e cientistas sociais que apresentaram pesquisas sobre os danos
psicológicos acarretados pela segregação em crianças negras. 

Referências:

[1] GEVAERT, Joseph. El problema del hombre. Introducción a la Antropología Filosófica.


Salamanca: Sígueme, 1983. 

[2] GUARESCHI, Pedrinho. Psicologia social crítica como prática de libertação. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2004. 

[3] GERRIG, Richard J.; ZIMBARDO, Philip G. A Psicologia e a vida. 16 ed. Porto Alegre: Artmed,
2005.

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