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O AUTOCONHECIMENTO COMO
MÉTODO ESPECÍFICO NA BUSCA
DE NOSSO CENTRO
NEAC Núcleo de Estudos sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioemocional

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O AUT OCONHECIMENT O DO EDUCADOR DA EDUCAÇÃO INFANT IL COMO IDENT IDADE PEDAGÓ…


Oliveira Da Cruz, Professora Ana Cruz

NEUROCIÊNCIA, CONSCIÊNCIA E MEDITAÇÃO: PRÁT ICA NO COT IDIANO DE UMA ESCOLA PRIVADA DE S…
Professora Ana Cruz

Yoga e saúde: o desafio da int rodução de uma prát ica não- convencional no SUS
Vanessa Ferraz Mont eiro Leit e
ISEO – Instituto Superior de Educação
NEAC – Núcleo de Estudos sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioemocional 1

O AUTOCONHECIMENTO COMO MÉTODO ESPECÍFICO NA


BUSCA DE NOSSO CENTRO1
Clérisson Torres2

RESUMO:
Na perspectiva do processo de evolução do gênero humano, o autoconhecimento aparece como método
essencial a fim de elevar a condição de ser humano fragmentado a ser humano integral e, por sua vez,
identificar-se com o centro de onde partem todas as ações. Nesse sentido, o presente artigo tem como
objetivo caracterizar o autoconhecimento enquanto método específico para busca de nosso centro,
evidenciando a prática dos exercícios psíquicos, diariamente, como recurso fundamental à evolução
abreviada e consciente do gênero humano. A abordagem metodológica está pautada na pesquisa
bibliográfica do tipo qualitativa, através da revisão de literatura referente à temática proposta, utilizando-se
dos estudos da ciência, filosofia e religião, numa perspectiva integrada. Conclui-se que é da natureza
humana a busca da autorrealização, de um sentido de vida, de algo superior a si mesmo, do centro de
onde partem todas as ações, bem como, do princípio criador de todas as coisas, quer consciente ou
inconscientemente, de forma proporcional ao grau de despertamento de sua consciência. Afinal, dentro
das concepções religiosa, filosófica e científica, respectivamente, todo criado busca o seu criador, o
gênero humano busca a razão de tudo que existe, bem como, a compreensão da Ordem Implícita do
Universo. Nesse sentido, o único conhecimento que o ser humano não pode e nem deve desprezar é o
conhecimento de si mesmo. Para tal, exorta-se a cultura da prática de exercícios psíquicos enquanto
recurso mais imediato para o conhecimento, a aproximação e identificação com o intangível, o
desconhecido, o centro de onde partem todas as coisas, que só é possível ser alcançado a partir da
identificação deste centro em nós, ou seja, pela busca à imutabilidade que reside em todas as coisas,
inclusive em nós mesmos.

Palavras-chave: Autoconhecimento. Gênero Humano. Exercícios Psíquicos. Centro.

No decorrer da história, diversas tradições culturais (LING, 1994), em grau


maior ou menor preocuparam-se em evidenciar a importância do autoconhecimento
a discípulos, povos e mais atualmente à humanidade, com o fim, respectivamente,
da iluminação, moralização e conscientização humana.

1
Artigo apresentado no NEAC em 02 de março de 2016
2 Clérisson Torres é Psicólogo, psicoterapeuta e professor universitário. É Mestre em Educação

(UFBA) tendo como objeto de pesquisa a Análise do Juízo Moral de Docentes e Discentes
Universitários. Especialista em Docência do Ensino Superior dissertou sobre o tema
Autoconhecimento e a Consciência Moral, Ética e Estética: uma contribuição à formação de
educadores (UNIBA/AEM). Possui experiência como coordenador de curso de psicologia em três
instituições de ensino superior. Durante 7 anos coordenou o Projeto NUDHES – Núcleo de
Desenvolvimento Humano Sensorial e Extra-sensorial da Fundação Ocidemnte. Docente
permanente e pesquisador do ISEO. Fundador e orientador do Núcleo de Pesquisa e Extensão em
Meditação, Neurociências e Autoconhecimento - N.E.P.E.M.N.A. Docente de graduação e pós-
graduação. Tem experiência na área de Psicologia e Educação, atuando principalmente nos
seguintes temas: Desenvolvimento sócio-emocional, Autoconhecimento, Consciência, Neurociência e
Meditação. Autor de artigos sobre tais temáticas – ver site: www.maribelbarreto.com.br . Contato:
clerissontorres@gmail.com
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Segundo Padovani (1984), no Hinduísmo há 5.000 anos, no Judaísmo há


3.400 anos, Bramanismo há 2.700 anos, Jainismo há 2.650 anos, Zoroastrismo há
2.600 anos, no Budismo e na Grécia com as contribuições de Buda e Sócrates há
mais ou menos 2.500 anos, no Cristianismo há 2.000 anos, Islamismo há 1.400
anos, e nos tempos atuais com a ciência da psicologia (a partir de 1879 d.C.), por
exemplo, em suas diversas abordagens, conclama-se ao estudo, pesquisa e a ação
consciente em prol do constante aprimoramento do indivíduo quanto a seus
sentimentos, pensamentos e atos, com o fim de conter, minimizar ou extinguir as
decepções, frustrações e sofrimentos humanos.

Os mitos gregos, por exemplo, também eram meios de orientação e


conscientização ao povo da época. Segundo Bettelheim (1998) na conhecida e
clássica peça trágica de Sófocles, Édipo Rei, utilizada por Freud como rito
necessário à construção da personalidade humana,3 há o convite a que o homem
se autoconheça, caso contrário será um errante em navio sem vela, sem remo, à
mercê das intempéries, sem comprometer-se consigo no que se referem às suas
vicissitudes, vícios e limitações.
Eis que o presente artigo, de maneira similar, convida o leitor, enquanto ente
humano, a refletir quanto à condição humana que lhe é intrínseca, portanto, estuda o
ser humano em suas limitações e possibilidades de crescimento. Para tal, o
processo de autoconhecimento é exortado como o método mais específico para a
auto-integração no intuito de “alcançar”, por identificação, a plenitude do ser.
É fato que em algum momento, em grau maior ou menor, nos deparamos
conosco mesmos, quer:
- buscando naturalmente segurança, satisfação e felicidade;
- utilizando e abusando da corrupção, violência e volúpia para nossas
conquistas;
- ignorando, esquecendo e inobservando necessidades e desejos do dia-a-
dia, bem como, as conseqüências de tais atitudes e comportamentos sobre nós, a
sociedade e o ambiente ecológico no qual vivemos.
Poucas são as vezes que experimentamos de forma singular e autêntica, por

3Segundo Freud é quando o gênero humano sai do Édipo (desejo pelo genitor do sexo oposto) que
deixa de ser, exclusivamente, regido por suas pulsões libidinais e agressivas, uma vez que devido as
naturais castrações sociais desenvolve o superego. Esta instância psíquica é o juiz ou sensor do ego
que tem as funções de auto-observação e consciência moral.
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exemplo, o estado de graça, grandeza e gratidão interior.


É dito que errar é humano, que é do gênero humano a ilusão, bem como,
paradoxalmente, a busca pelo sentido da vida. Indagar-se quanto ao que é, de onde
veio e para onde vai são indícios de quem quer ir além da efêmera condição
humana.
Portanto, a espécie humana não só depara-se com suas próprias limitações
idiossincráticas que lhes levam vivenciar a vida como uma festa de prazeres e
satisfações sem fim, mas, também, se depara, em função da dor e do sofrimento,
bem como, devido ao uso da razão e intuição, com a possibilidade de ultrapassar as
barreiras das fantasias e ilusões, ao ponto de vir a conceber que ser feliz pode
significar muito mais estar no deserto, do que no harém.
Pois bem, não foram poucos entes humanos envolvidos com a religião
(Hinduísmos; Judaísmo; Budismo; Cristianismo, por exemplo), filosofia (Sócrates;
Plotino; Kant; Espinoza; Nietzsche; Rohden, entre outros) e ciência (FREUD, 1976;
MASLOW, ROGERS, 2002; PERLS, 1988; JUNG, 2002; FRANKL, 2006; WEIL,
2005; WILBER, 2004) que refletiram e discutiram quanto a natureza humana e suas
possibilidades de crescimento, a partir do processo de autoconhecimento, via uso da
reflexão, percepção, individuação, razão ou intuição.
Com base em tais leituras e da experiência direta quanto a tal processo
desagradável e, às vezes, desesperador ousamos neste artigo, num primeiro
momento, delimitar três momentos evolutivos do gênero humano, destacando o
autoconhecimento como condição sine qua non para a evolução abreviada e
consciente do mesmo.
Posteriormente, aprofundando o estudo sobre o autoconhecimento enquanto
método específico para a busca do nosso centro, desdobraremos quanto aos
recursos psíquicos que o gênero humano tem à disposição para desenvolver e
despertar suas qualidades e faculdades, respectivamente.
Portanto, o objetivo geral deste artigo é caracterizar que o autoconhecimento
é, inexoravelmente, o único conhecimento que o homem não pode e nem deve
desprezar, afinal, o ser humano enquanto parte integrante da natureza é regido pelo
mesmo princípio do qual nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, aprimora
e evolui, logo que tudo ou todos somos provavelmente eternos na essência, logo
imutáveis ou divinos.
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O Processo de Busca de Nosso Centro


O gênero humano é também produto do que sente, pensa ou faz, bem como
do meio em que vive, portanto, é um ser bio-psico-sócio-espiritual, construído na
diversidade de relações que estabelece, recebe, percebe, pensa e/ou concebe das
pressões, provocações e tentações endógenas e exógenas ao ser.
Ser humano pressupõe, para a maioria dos cientistas (MATURANA, 1997;
PIAGET, 1998; VYGOTSKY, 1994) um ser diferenciado dos animais devido à nossa
capacidade evolutiva de raciocinar, por exemplo. Todavia, também nos distinguimos
daqueles que agem naturalmente pelo instinto de sobrevivência da espécie, por
sermos seres capazes de cometer suicídio, homicídios e genocídios em escala
assustadora e com grau de neurose, psicose e/ou perversidade elevadas.
É bem verdade que a complexidade de nossos organismos, evolutivamente
conquistada no processo sócio-histórico, nos capacita a expressar sentimentos,
pensamentos e atos que vão de uma elevada ação concupiscível à atos de elevada
beatitude, de regozijo da alma. Em outras palavras, parece que nos iniciamos com o
saber, nos elevamos pelo sentir e nos exaltamos no ser. Assim saímos,
dialeticamente, da ignorância para o poder e, por fim, “alcançamos” a plenitude do
ser.
Portanto, no princípio nossas condutas, atitudes ou percepções são
incisivamente aquém da razão, posteriormente na razão e, por fim, podem,
predominantemente, ser além da razão.
Tanto nós, seres hominais (ROHDEN, 2005), como os animais, somos
regidos por normas gerais e necessárias à espécie, ou seja, por leis naturais que
regem o Universo. Os animais, por exemplo, têm a lei do instinto como a sua maior
referência. Já os seres humanos, distintamente são regidos, predominantemente,
pela necessidade que pode ser não só física, mas psíquica e moral, essenciais ao
nosso bem estar, saber viver e bem viver (TORRES e TORRES, 2007).
Dessa forma, conforme Torres e Torres (2007, p. 9-10):
É cediço que não vivemos isolado, tudo está em relação e em plena
conexão, razão pela qual, temos o dever moral de voluntária e
conscientemente, agir baseado nos princípios universais de consciência,
para que possamos nos integrar cada vez mais. Pois, ou nos integramos à
força, ou nos entregamos a força das imposições, inclusive e,
principalmente, das culturas decadentes.
Com efeito, considerando a necessidade como uma lei universal, deve o
homem cada vez mais conhecer e desvendá-la para não se tornar escravo
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de desejos desequilibrados. Assim, quanto mais o homem estuda e


desvenda as leis naturais que repousam em sua natureza interna, pode ele
representá-la de forma consciente, em prol de si, do meio e do ambiente
em que vive.

Percebe-se que o gênero humano se distingue significativamente dos animais


por ser capaz de estudar e desvendar conscientemente as leis naturais ou divinas
que repousam em sua natureza interna, bem como no meio externo a si (TORRES e
TORRES, 2007). Ou seja, no processo de evolução, o gênero humano se revela
capaz, não só de conhecer, mas de se autoconhecer, aproximando e identificando-
se com sua identidade maior.
Nesta perspectiva a jornada do ser humano é trilhada rumo à sua própria
Iluminação, ao encontro com Deus, que embora seja infinito da duração e extensão
é finito na distância (ORGANIZAÇÃO, 1995). Esta vem sendo a mesma filosofia
levantada por muitos físicos quânticos, por compreenderem que o gênero humano já
possui a capacidade de criar a sua própria realidade a partir de sua potencialidade
de conexão com o todo. Vale destacar uma passagem do filme “Quem somos nós”
parte I (2005), dirigido por William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicent.
Como sabemos dessa interconectividade do universo, que estamos todos
interconectados e conectados ao universo, acredito que não haja melhor
explicação para o espiritualismo.
Acredito que nosso propósito aqui seja desenvolvermos nossas intenções e
aprendermos a sermos criadores efetivos. Estamos aqui para sermos
criadores. Estamos aqui para infiltrar o espaço com idéias e pensamentos.
Estamos aqui para fazer algo da vida: reconhecer o ser quântico e o fato de
que temos escolhas, reconhecer a mente.

Quando mudarmos a forma de vermos as coisas, estaremos iluminados.


A mecânica quântica permite que o intangível fenômeno da liberdade seja
incorporado à natureza humana.
A física quântica, falando de uma maneira bem simples, é uma física de
possibilidades. Abre fundamentalmente as perguntas: “de quem são as
possibilidades?” e “quem escolhe dentre tais possibilidades para nos dar o
evento atual que estamos experimentando?”
A única resposta satisfatória, lógica e significativa é que a Consciência é
onde tudo ocorre.

Temos que perseguir o conhecimento sem a interferência dos nossos


vícios. Se conseguirmos, manifestaremos o conhecimento na realidade e o
nosso corpo sentirá novas possibilidades, novas químicas, novas imagens,
uma imensidão de novos pensamentos... Além dos nossos sonhos mais
incríveis.
Todos nós um dia alcançaremos o nível dos avatares que lemos a respeito
na história: Buda, Jesus... Bem-vindo ao reino dos céus. Sem julgamento,
sem ódio, sem provas, sem nada.

Não obstante, alcançar este estado dos ditos iluminados não é nada fácil! Eis
que o ser humano caracteriza-se, numa primeira etapa ou estágio evolutivo do SER,
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como aquele que apresenta pouca reflexão, concentração e meditação, portanto,


pouco discernimento sobre si e o meio em que vive, mas capaz de evoluir
abreviadamente pelo processo do autoconhecimento alcançando a integração do ser
rumo ao encontro de sua própria divindade, conforme exposto no quadro 1.

Quadro 1 – Evolução do Gênero Humano

Fonte: Organização, 2008 (no prelo)

É do Ser Humano apresentar uma fragmentação em seu sentir, pensar e


agir. Aliás, tende muito mais a agir, do que a pensar e muito menos a sentir,
devotadamente, quanto às sensações que lhe são acometidas e, por sua vez,
evade, sofisma ou tergiversa. Muitos agem de forma impulsiva, precipitada e
inconsequente, sem maiores reflexões quanto ao que a necessidade exige, a razão
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justifica e o sentimento4 dita.


Isso não quer dizer que o ser humano possua uma índole má, ao contrário,
ele é, numa perspectiva evolutiva, um ser benevolente, afinal, nas relações sociais é
essencial a benevolência em prol da procriação, da formação de grupos e equipes
voltadas ao bem comum de uma época ou sociedade. Contudo, o ser benevolente
ainda expressa dificuldade de dizer “não”, ou seja, de negar o dito auxílio a outrem.
Isto porque, ainda se deixa levar, como dito, por atitudes impulsivas, precipitadas e
inconseqüentes devido à imaturidade emocional do seu ser.
Nossa sociedade do conhecimento valoriza muito mais o saber, o
conhecimento do que o sentir ou processo de autoconhecimento. De maneira
pragmática, quando não vivemos do agir sem pensar, vivemos do pensar e agir.
Raramente do sentir, pensar e agir integralmente, perceptiva e conscientemente.
Basta vermos muitos intelectuais que pensam e agem com muito
entendimento cognitivo, mas com pouca compreensão; com muita razão, mas com
pouca consciência, bom senso e boa intenção.
De maneira similar, basta ver nas neuroses e psicoses humanas, o padrão de
pensamentos fixos e rígidos do ente humano ainda doente por não se autoconhecer,
ou melhor, por não primar em ser deveras vigilante quanto a vencer as suas paixões
e submeter a sua liberdade de imaginar à autoridade da Inteligência, em prol de
maior prudência, responsabilidade e compromisso para consigo, para com os outros,
a sociedade e o meio que o cerca (TORRES e TORRES, 2008).
Assim, é natural que o Ser Humano busque leis, normas ou códigos para
referendar e melhor reger suas ações. Todavia, muitas das leis materiais a que se
prende são utilizadas para benefícios próprios e não sociais, alimentando a

4 Estende-se aqui o Sentimento não só como distinto da emoção como um passo evolutivo à frente da
mesma. Segundo Damásio (2004), neurocientista português, a emoção é uma coleção de respostas
automáticas que alteram temporariamente o estado do corpo em prol da sobrevida e bem-estar,
como, por exemplo, o medo, raiva, a tristeza e a alegria. Sustenta que as emoções foram construídas
a partir de reações simples que promovem a sobrevida de um organismo e que foram facilmente
adotadas pela evolução. Portanto, em suas pesquisas em laboratório, concebeu que na evolução
biológica as emoções vieram primeiro e os sentimentos depois. Conceitua os sentimentos como
representações mentais do estado da vida dentro dos organismos que possuem sistemas nervosos
desenvolvidos. Noutras palavras, o sentimento é o fruto das experiências que o ser humano passa ou
adquire, aprende e sente em suas experiências sucessivas. É aquela sabedoria interior, que não se
aprende nos livros, ou seja, nas experiências reveladas, mas das experiências experimentadas. Esta
conotação à palavra sentimento é pouco utilizada e valorizada, pois fomos educados para agir com
base somente no conhecimento, no pensamento, no saber à procura de definições, comparações e
entendimentos, e não com base no autoconhecimento, na busca de sentir, discernir e compreender
pelo sentimento e intuição.
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animalidade do ser. Não obstante às leis materiais efêmeras que mudam para
privilégios particulares, tende em função das decepções, dores e sofrimentos, a
desejar leis ou princípios universais de conduta humana como igualdade, liberdade,
fraternidade, justiça, dignidade, amor e moral, respeito, caridade, necessidade etc.,
com o fim de se sentir mais integrado com a totalidade que o cerca (BARRETO,
2008).
Nesse sentido, é do ser humano preocupar-se muito no princípio com a
construção de uma personalidade que lhe dê e passe segurança a si e a outros.
Assim, se apega a leis, conhecimentos ou saberes no intuito exclusivo de fortalecer
o ego, este que nada mais é do que a idéia ou efêmera percepção que o indivíduo
faz de si mesmo. A condição de Ser Humano é daquele que ainda não concebeu
que o ego é péssimo senhor, mas bom servidor, não da mente rígida e
intelectualizada, mas da consciência.
É natural da condição de ser humano, preocupar-se muito em controlar o que
acontece consigo e com o mundo ao seu redor, logo dedica muita energia e esforço
pelo uso da vontade para conquistar e manter segurança, satisfação e felicidade a
todo custo. Aquilo que não consegue encarar ou que é uma ameaça aos seus
desejos tende a ignorar, inobservar, reprimir, fugir, esquecer ou se revoltar,
colocando-se, muitas das vezes, como vítima da situação.
Em contrapartida, o Ser Indiviso é aquele ser humano mais do que humano
que se permite ao processo de auto-desenvolvimento, pelo conhecimento de si
mesmo. Ser indiviso, quer dizer não dividido ou fragmentado no que sente, pensa e
faz. Ser que prima por dar atenção à sua maneira de sentir, pensar e agir perante as
pressões, provocações e tentações do dia-a-dia das relações pessoais, profissionais
e espirituais (morais). Pois, enquanto o ser humano valoriza muito o pessoal, o
imediato, o ser indiviso valoriza o profissional com maior senso de responsabilidade
social e foco no desenvolvimento humano da coletividade.
Eis que vislumbra pela experiência, não só revelada por livros e/ou escrituras,
mas, experimentada no dia a dia, a luz interior que reside em si. Assim, deseja
conhecer a luz e começa cada vez mais a viver da própria luz. Eis o ser integral e
não benevolente apenas. Por saber dizer “sim” e “não”, naturalmente sua luz faz
aparecer a sombra dos outros, que, se estiverem aptos a se autoconhecer tirarão
proveito das revelações a que forem submetidos.
Destarte, diferentemente do ser humano, o ser indiviso ou indivíduo não
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busca nas relações algo ou alguém que lhes dê um equilíbrio estático, mas sim
dinâmico, por conceber que no universo tudo urge ao absoluto princípio criador, logo
a habilidade virtuosa de viver somente morrendo, momento a momento, lhe é, cada
vez mais, característico, por conceber que a segurança, satisfação e felicidade são
efêmeras e ilusórias, dentro da relatividade do ser sendo.
O ser indiviso é o indivíduo que se permitiu a não viver sobre o júbilo da
persona (máscara, conformidade social), mas que primou por matar aos poucos a
personalidade desenvolvida em prol de expressar a individualidade do ser
conquistada em si e por si. Assim busca o Eu e não prima por construir o Ego, por
aproximar-se de sua Identidade Maior.
Noutras palavras e de maneira similar, Hall e Nordby (2000, p. 71-72) citam
que Jung sustenta a individuação como:
[...] um processo autônomo e inato, o que significa que não precisa de
estimulação externa para começar a existir. A personalidade do indivíduo
está destinada a individualizar-se tão fatalmente quanto o corpo está
destinado a crescer. Mas, assim como o corpo precisa de uma alimentação
adequada e de exercício para crescer de uma maneira saudável, também a
personalidade necessita de experiências adequadas e de educação para
sua individuação sadia. E assim como o corpo pode ficar raquítico,
deformado e doentio em virtude de uma dieta inadequada ou por falta de
exercício, também a personalidade pode ser deformada pelas deficiências
em suas experiências e em sua educação.

Eis que, conforme veremos no próximo capítulo, uma das experiências


essenciais à educação da mente humana, que favorece sobremaneira o
autoconhecimento é o uso de exercícios psíquicos de concentração, contemplação e
exaltação, principalmente, pois não bastam exercícios físicos em academias, por
exemplo, para facultar-nos a individuação do ser. Ao contrário, o ambiente de
sedução, lascívia e volúpia que estes últimos estão geralmente envoltos alimentam
muito mais a busca da aparência à essência humana.
Por último, o gênero humano pode evolutivamente expressar um estado de
Ser Divino, no qual suas condutas, atitudes e comportamentos são plenos de
sabedoria, força e beleza. É um estado de ser produto pleno do desenvolvimento
das qualidades e concomitante despertamento das faculdades inatas, no qual o
indivíduo não só é o repouso, mas a representação das leis naturais, da sabedoria
divina que reside em si.
Este é um estado de ser de não causalidade, ou seja, atemporal, no qual não
há causa e efeito, pois causa e efeito ocorre concomitantemente, tal qual o
“sentirpensaragir” por serem uníssonos. O estado de Ser Divino brota do ser
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indiviso à medida que este vai dando atenção a tudo aquilo que sente, pensa e faz,
e por conseguinte experimentando acidentes de iluminação do ser.
Noutras palavras, o indivíduo vai “sendo tomado” pela divindade que em si
reside, desde o momento que desejou conhecer a Lei e a Luz interior, quer pelo
sofrimento e razão, respectivamente, saindo da ignorância, tomando consciência do
poder que lhe é revestido até chegar à plenitude, pela iluminação. Nesta
perspectiva, o gênero humano nada mais é do que Deus se autoconhecendo.
Jung (2002), por exemplo, entende que o ser humano sai de um estado de
totalidade indiferenciada para ser um indivíduo que se desenvolve ao ponto de se
tornar uma personalidade diferenciada, equilibrada e unificada. Raramente, ou
nunca, alcança uma unidade completa como Jesus ou Buda.
Deste modo, o Ser Divino nasce paulatina e primordialmente da busca
natural, consciente ou inconsciente, do Ser Humano e do Ser Indiviso pela
autorrealização. Tal busca advém, segundo Frankl (2006), da presença ignorada ou
inconsciente de Deus em nós.
Para Frankl (2006) não é o princípio do prazer de Freud e a vontade de poder
de Nietzsche, por exemplo, as grandes aspirações do gênero humano. Ao contrário,
a verdadeira mola primordial e propulsora do ser humano é a busca de sentido de
vida, pois há uma tendência inconsciente do gênero humano em direção a Deus,
razão maior de tudo que existe.
Com efeito, entende-se que a essência humana é divina, portanto, imutável,
absoluta. Plotino (apud HUISMAN, 2004), por exemplo, caracteriza o ser humano
como constituído de uma estrutura trina, o Nous (substância perfeita), a Alma
(imperfeito e que anima o físico) e o Corpo Físico.
A parte mais sublime da estrutura humana também tem sido caracterizada,
por exemplo, no âmbito da ciência, filosofia ou religião, como: Self 5, princípio
integrador da personalidade; Espírito (em distinção com a alma que é mutável),
como Centelha Divina; Deus interior que reside em nosso Centro; ou ainda como
Essência Imutável, centro de onde partem todas as ações, de onde provêm todas as
nossas faculdades, como a vontade, a consciência e a ciência real.
Não só é interessante, mas instigante e inteligente pensar na estrutura
humana constituída por três dimensões: espírito, alma e corpo físico; sentir, pensar e

5Na psicologia Junguiana o Self, enquanto arquétipo do inconsciente coletivo é mutável, todavia, na
psicologia oriental, o self, ou si mesmo, é compreendido como imutável e “alcançado” pela meditação.
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agir; sentimento, pensamento e ato. Afinal, tudo no universo é constituído de três


dimensões: profundidade, largura e altura. Portanto, o ser humano não é apenas um
ser aginte, pensante, mas sentinte; um ser que só recebe, percebe, mas que
concebe; que possui instinto, razão, mas também intuição; que apresenta moral e
ética, mas também estética elevada; constituído de uma parte física e psíquica, mas
também moral (vícios e virtudes); logo, um ser capaz de se iniciar com o
conhecimento, se elevar com o autoconhecimento e se exaltar na autorrealização.
Em outras palavras, tais dimensões do gênero humano são atendidas à
medida que, direta ou indiretamente, procura explicações sobre a razão de sua
existência, sobre o sentido da vida, quer consciente ou inconscientemente. Não
obstante, conforme explica Frankl (2006), o sentido último escapa totalmente a
nossa compreensão intelectual. Trata-se de uma dimensão tão interna que o ser
humano não pode acessá-la pela razão, pois é além da razão.
Eis que Torres e Torres (2007, p. 6) evidencia que:
O vazio interior, que consciente ou inconscientemente atinge todos os
seres humanos no seu processo evolutivo, vem demonstrar, conforme
Frankl (2006) que a busca de sentido é algo imanente aos seres humanos.
Portanto, distintamente dos animais, o ser humano já tem a capacidade de
procurar algo superior a si mesmo, de agir baseado cada vez mais nos
seus sentimentos, integrando os seus instintos à razão e esta à intuição,
em prol de despertar a CONSCIÊNCIA de que não é só um ser aginte e
pensante, mas sentinte, capaz ainda de ser presciente e ciente no viver.

Desta forma, podemos concluir que de uma forma ou outra, o ser humano é
atraído pela busca de seu próprio Centro, quer filosoficamente quando busca a
razão de sua existência, quem é, de onde veio e para onde vai; quer
cientificamente, quando o ser humano busca descobrir os mistérios do universo, a lei
maior que embasa toda esta ordem implícita; ou religiosamente, quando o ente
criado busca o ser criador.
Portanto é de todo o ser humano buscar a sua origem, o sentido último, e se
já compreendemos que este sentido último escapa totalmente a nossa apreensão,
pelo menos intelectual, parece-nos que não resta à menor dúvida que esta
apreensão se dará em nossa subjetividade, no mais íntimo em nós, através da
busca de nossa integração e identificação com a nossa essência divina. Noutras
palavras, tal apreensão ocorrerá no processo que perpassa não só pela dimensão
do pensar e do sentir, mas pela dimensão do ser, não só pela dimensão do
conhecimento e autoconhecimento, mas da autorrealização.
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Com efeito, num dos plano de consciência mais elevada do gênero humano -
a do Ser Indiviso - a busca de sentido de vida, coincide com a busca de seu centro,
que em outras palavras, coincide com a busca de sua essência, destinado, portanto,
a caminhar para dentro de si mesmo, via processo de autoconhecimento ou
individuação, a fim de integrar-se com a divindade de seu ser mais profundo. Eis,
como conseqüência, o estado de Ser Divino, iluminado, no qual parece não haver
mais a construção do eu, mas a identidade com o eu, enquanto expressão da
ciência real. Eis, talvez o porquê de alguns iluminados terem supostamente dito: “Eu
e o Pai somos um”.
No próximo capítulo, ousaremos apresentar o método específico para esta
trajetória, que embora arriscado, parece ser o destino de todos nós.

O Método Específico na Busca do nosso Centro

Diante de todo o exposto está implícito no caminho do gênero humano, a


instabilidade em sua conduta por manifestar vícios e virtudes numa escala
aparentemente infinita de nuances e contradições.

Essas contradições ocorrem num ente que vive num tempo e num espaço,
mas que paradoxalmente consegue expressar-se em dimensões diferenciadas ao
ponto de ultrapassá-los pelo inteligir ou saber pensar (TORRES e TORRES, 2008).

Assim, o ser humano, como tudo existente, possui uma forma, logo
metaforicamente, como dito, uma profundidade, largura e altura. Afinal, o gênero
humano é uma síntese de constantes e ininterruptos desenvolvimentos que
ocorrem na dialética com o meio social, político, econômico, cultural e espiritual em
que vive.

Na escala evolutiva é o ser com maior idade de aperfeiçoamento e


complexidade, tanto do seu substrato biológico como psicossocial, o que lhe
oportuniza até a conjecturar sobre o transcendente ou o transpessoal, sendo capaz
de apresentar moral, ética e estética elevadas (TORRES e TORRES, 2005; 2006).

Obviamente o gênero humano não é qualitativamente igual a outro, mas


potencialmente pode desenvolver-se a níveis similares. Não tem os mesmos
objetivos, mas possui capacidade de ser reto no que quer. Portanto, parafraseando
Rohden (2005), todos são hominídeos buscando, em grau maior ou menor de
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consciência serem homens integrais, ou melhor, iluminados.

Mas como alcançar essa dita iluminação ou estado de Ser Divino? Parece
que o método é o autoconhecimento.

O autoconhecimento pressupõe conhecer a si mesmo, como já exortava


Sócrates em sua época. Mas conhecer o quê? Não importa apenas conhecer o
mundo externo, construir e criar tecnologias que atendam às nossas
necessidades e/ou desejos, bem como só adquirir conhecimentos através dos
livros e do que alguém disse sobre o funcionamento do corpo físico, psíquico, ou
seja, do cérebro e da mente humana.

Tal postura baseia-se no paradigma newtoniano-cartesiano instituído como


modelo de verdade, que tem nos tornado especialista em algum tipo de
conhecimento em detrimento de diversos outros, logo, tem nos mecanizado,
dificultando uma compreensão sistêmica de nós, da vida e de tudo que fazemos
nela. Esse modelo analítico e linear de nossa educação formal faz com que
conceitos abstratos e subjetivos, como autoconhecimento, consciência, auto-
integração, por exemplo, sejam tratados “como pólos inferiores, ilusórios e
sombrios devendo então ser dissolvidos pelo poder esclarecedor da razão
iluminista” (ARAÚJO, 2000, p.10).

Autoconhecer-se pressupõe conhecer a maneira de sentir, pensar e agir


diante, pelo menos, das causas que cria ou dos efeitos de causa que,
conseqüentemente, recebe, percebe ou quiçá concebe.

Mas como ampliar tal estado de percepção ou concepção? Quais recursos


utilizar em tal empreendimento?

Se a vida se prova pelo movimento (BARRETO, 2005; 2007; 2008) e se


quanto mais movimento mais vida, mais possibilidade de progresso, então, muito
importa exercícios físicos, psíquicos e morais no dia-a-dia de nossas construções e
realizações, que se diferem em muito das atividades costumeiras.

Vale esclarecer que no processo abreviado de autoconhecimento, muito


importa exercícios e não somente atividades físicas, psíquicas e morais. Afinal,
onde há exercício há atividade, mas onde há atividade não há necessariamente
exercício. Isto porque, exercitar-se é um processo de adestramento, destreza,
desenvolvimento, treinamento, aprendizado. Já a atividade nada mais é do que
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agilidade, rapidez, velocidade ou celeridade expressa numa ação, conforme as


qualidades do plano ou grau de treinamento/desenvolvimento já alcançado pelo
gênero humano na medida em que as pressões, provocações e tentações do viver
lhe exigiram maior discernimento e aprimoramento de suas ações.

Assim, quanto mais o indivíduo se exercita psiquicamente, pelo uso da


meditação, por exemplo, mais aperfeiçoa as qualidades de suas atividades ou
ações de sentir, querer, pensar, reconhecer, ousar, raciocinar e realizar, dentre
diversas outras, como: amar, beijar, acariciar, saudar, lembrar, estudar etc (Ver
quadro 2).

Deste modo, não basta se exercitar fisicamente, dando exercícios aos


órgãos, mas também psíquica e moralmente. Exercitar-se moralmente, pressupõe
estudar e desvendar as leis do universo que regem interna e externamente o ser e
tudo existente. Para alcançar tal força moral, importa uma educação com base em
valores humanos universais (BARRETO, 2006; 2008).

Já os exercícios psíquicos caracterizam-se pelo uso das forças em domínio


do ser humano, a saber: reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção,
contemplação e exaltação, a fim de desenvolver as qualidades, despertar as
faculdades e compreender e dissolver os vícios, oportunizando a manifestação das
virtudes, conforme expõe o quadro 2.
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Levando-se em conta o processo de evolução do gênero humano, muito


importa a prática de exercícios psíquicos diariamente no intuito de despertar nossas
faculdades latentes ou inatas, a saber: necessidade, vontade, imaginação,
inteligência, verdade, consciência e ciência (ORGANIZAÇÃO, 2002).

Quadro 2 – Forças Psíquicas do Gênero Humano

Fonte: Pesquisa direta, 2008

De maneira similar, Luckesi (1998) sustenta que a faculdade da consciência,


por exemplo, é o próprio SER, logo, cada um de nós é uma centelha
individualizada, porém não separada do ser, sendo que no decorrer do nosso viver
em determinada época histórica manifestamos suas qualidades “[...] na medida de
nossas possibilidades e na medida de nosso estado de desenvolvimento” (p. 10).

Parafraseando o autor, talvez se possa dizer que as faculdades humanas,


como a consciência, mas também a vontade e a ciência, por exemplo, sejam um
dom, porém não plenamente manifestas, e nesse sentido, para que o indivíduo
manifeste-as se faz necessário o desenvolvimento de suas qualidades do querer,
raciocinar e realizar, através, principalmente, de exercícios psíquicos de
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concentração, contemplação e exaltação.

De modo similar, Barreto (2005, p. 49) sustenta que a consciência é uma


das mais importantes faculdades inatas capitais do ser humano [...]” que o favorece
a conceber o valor significativo das relações humanas. Entende que quanto mais o
homem desperta ou constrói esse potencial latente, mais suas ações aproximam-se
de princípios universais ou daquilo que estabelece a moralidade universal que a
conduta dos corpos celestes denuncia. Daí, exortar a prática da contemplação
como o meio mais acessível, direto, correto e completo para o autoconhecimento e
concomitante despertamento da faculdade da consciência.

Em suma, as faculdades humanas distintamente das qualidades são tudo


aquilo que constrói e constitui o gênero humano, são inatas e caracterizam-se por
ser a força interior ou potência latente do ser humano. Já as qualidades ou aptidões
humanas são tudo aquilo que o ser humano constrói e constitui em si, logo, adquire
no dia-a-dia, sendo nada mais que a representação relativa da força latente do ente
humano (Ver quadro 2).

Na verdade, a faculdade é a nossa força moral, essencial, divina, as quais


somos inconscientes no início da evolução do gênero humano; já a qualidade é a
nossa força psíquica que utilizamos em nossas atividades diárias com o fim de
projetar, construir e executar todo um conhecimento teórico e prático acerca das
coisas, bem como, e, principalmente, acerca de nós mesmos.

Portanto, quanto mais desenvolvemos as qualidades, mais despertamos as


faculdades que estão em potência, e, por sua vez, compreendemos e dissolvemos
vícios oportunizando a manifestação de nossas virtudes, afinal, nesta perspectiva, o
vício que parece insuperável ou insuportável, nada mais é do que uma virtude em
estado primitivo, grosseiro ou relativo.

Eis o processo singular, árduo e desbravador do autoconhecimento, que nos


exige percepção plena para conceber o sentido das coisas vividas.

Para tal, necessitamos criar a cultura da prática de EXERCÍCIOS


PSÍQUICOS de reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção,
contemplação e exaltação, com o fim de desenvolver as qualidades de sentir,
querer, pensar, reconhecer, ousar, raciocinar e realizar, dentre outras.
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Contudo, carecemos de um local ou laboratório próprio no qual possamos


exercitar nossa mente, pois esta também é um órgão, que como tal, se decrepta.
Basta perceber os sintomas comuns atuais apresentados por adultos e idosos:
esquecimento, apatia, fadiga, falta de motivação, irritabilidade, tristeza, desânimo,
baixa auto-estima e sentimentos de abandono e inutilidade, bem como, transtornos
obsessivo-compulsivos, transtorno bipolar do humor, doença de Alzheimer e
Parkinson, derrame cerebral etc.
De maneira similar, as prisões psíquicas de medo, culpa e apego indicam que
ainda imaginamos muito, produzindo muitos pensamentos fixos ao ponto de nos
encouraçar, cristalizar e fragmentar, gerando, assim diversos transtornos mentais
patológicos.
Vale frisar que a mente não é um órgão que apenas produz pensamentos, mas
capaz de receber (captar), perceber (entender) e, também, de conceber
(compreender) as coisas e aspectos objetivos e subjetivos da vida.
Conceber é um dos nossos grandes desafios, afinal, tendemos a interpretar
mensurar ou comedir as coisas de acordo com nossas percepções limitadas ou
idéias preconcebidas sociais ou culturais. Exortamos o estado de ser e ter
criatividade, todavia, experimentamos poucos insights ou intuições.
Para experimentar cada vez mais o estado de SER concepção, exaltação ou
de felicidade plena, os quais são inconcebíveis de concepção, logo inenarráveis, se
faz necessário, diariamente, ESTAR refletindo, concentrando, meditando, vibrando,
percebendo, contemplando e exaltando, com o fim de descondensar a nossa
materialidade para renascer para a espiritualidade, pelo zelo, esmero e cuidado com
tudo que sentimos.
Com efeito, o uso destas ferramentas psíquicas pelo gênero humano
favorecem o auto-percebimento, a auto-integração, logo a auto-transformação, isto
porque, impõe o controle dos pensamentos, propõe o domínio dos sentimentos e
dispõe o ser da plenitude das intuições.
Nesse sentido, a prática de exercícios psíquicos no dia-a-dia faculta, momento
a momento, não só o aumento da capacidade de indagar pela imaginação ou
intelectualidade, mas a capacidade de experimentar pela inteligência para poder
reverenciar a verdade que se insere em tudo e em todas as coisas do universo.
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As ferramentas psíquicas auxiliam o ser humano alçar vôos do tangível ao sutil


até experimentar e ser o intangível. Eis que, esses exercícios mentais são exercícios
de conectividade, através dos quais o indivíduo aprende a silenciar-se e, por
conseguinte, a conectar-se com a sua essência divina, o centro de onde partem
todas as ações, o princípio integrador da personalidade.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Di Biase e Rocha (2006) afirmam
que as práticas de meditação, oração e relaxamento, possibilitam a conexão de
nossa mente com o Universo em razão de possuirmos toda a informação auto-
organizadora universal. Vejamos:
No Zen budismo japonês, é costume falar que, quando sentamos para
meditar, realizando a prática do zazen, temos de deixar nossa
Pequena Mente se conectar à Grande Mente. Na verdade, é esse o
caminho que pode colocar-nos em harmonia com esse todo, com esse
universo de interconectividade global. Hoje, sabemo s que eventos
como a sincronicidade e práticas como a oração e meditação
permitem que nos conectemos ao cosmos, com essa informação
universal cósmica, que podemos chamar de Mente Holográfica
Informacional Universal, na qual estamos mergulhados. [...] nós
contemos toda a informação auto-organizadora universal e essa
característica é o que possibilita a conexão cérebro-campo quântico
universal, e a ocorrência das sincronicidades (p.16).
Para que esta conexão cérebro-universo seja possível, é necessário
aquietarmos nosso cérebro. Este é o Grande Caminho para
sincronizar o funcionamento dos hemisférios cerebrais, permitindo que
o modo de tratamento holográfico da informação neuronal se otimize.
Isso se consegue facilmente por meio de práticas de meditação,
relaxamento e oração, psicotecnologias auto-organizadoras que
comprovadamente sincronizam as ondas elétricas dos hemisférios
cerebrais. Isso gera um estado superior de consciência, conforme
evidenciamos nos registros dos mapeamentos cerebrais
computadorizados, realizados em inúmeros centros internacionais de
pesquisa [...] (p.17).

Tais práticas só vêm corroborar o discurso da possibilidade do ser humano


conectar-se com a essência que reside em todas as coisas a fim de conceber a
verdade que se insere nelas.
A prática diária destes exercícios faculta ao indivíduo a ser mais intuitivo e, por
sua vez, a integrar instinto, razão e intuição; sentimento, pensamento e ato,
gerando, por sua vez, uma evolução abreviada, de forma voluntária, consciente e
ciente.

Considerações Finais

Estudar sobre o processo de evolução do gênero humano foi buscar responder


quem somos, de onde viemos e para onde vamos na busca do nosso Centro, mas
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também, foi demonstrar o quão árduo é o processo da ignorância à plenitude,


quando alcançada.
Implicitamente, percebemos que viver nas cadeias magnéticas da natureza
interna e externa a si, pressupõe conviver com pressões, provocações e tentações
na vida pessoal, profissional e espiritual (moral). Mas como se apropriar do valor real
e significativo dessas vicissitudes do viver?
Concluímos, levando-se em conta que a vida se prova pelo movimento, que
necessitamos nos desenvolver integralmente em todas as nossas dimensões bio-
psico-sócio-espiritual, o que exige transformarmos nossa natureza humana em
divina. Para tal, o processo de individuação ou de autoconhecimento.
Deste modo, de acordo com Organização (1995), apresentamos a prática de
exercícios psíquicos de reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção,
contemplação e exaltação como recursos mais específicos para uma evolução
abreviada e consciente, pela percepção direta das sensações e/ou demandas a que
somos acometidos, no intuito de ser capaz pela:
 Reflexão de discernir o verdadeiro caminho que devemos seguir;
 Concentração de convergir todas as nossas energias com o fim de realizar
um objetivo desejado;
 Meditação de dirigir a nossa atenção para a coisa que queremos
conhecer, sentir e ajudar a melhorar;
 Vibração de experimentar direta, correta e completamente o real das
coisas objetivas e subjetivas, aquilo que está além dos símbolos;
 Percepção de detectar das coisas, não só a sua forma, cor, cheiro, peso,
textura ou sabor, mas sim a sua função, enfim, a razão se sua existência.
 Contemplação de perceber que a concepção não deixa resíduos
(complexos);
 Exaltação de conceber que a concepção é um estado inconcebível de
concepção.

Portanto, oxalá a cultura do autoconhecimento possa ser estudada, projetada,


aprofundada e praticada a cada dia desde a educação infantil, para que possamos,
pelo exemplo, sensibilizar, despertar e renascer no seio da humanidade, da
individualidade e da divindade.
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