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O AUTOCONHECIMENTO COMO
MÉTODO ESPECÍFICO NA BUSCA
DE NOSSO CENTRO
NEAC Núcleo de Estudos sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioemocional
NEUROCIÊNCIA, CONSCIÊNCIA E MEDITAÇÃO: PRÁT ICA NO COT IDIANO DE UMA ESCOLA PRIVADA DE S…
Professora Ana Cruz
Yoga e saúde: o desafio da int rodução de uma prát ica não- convencional no SUS
Vanessa Ferraz Mont eiro Leit e
ISEO – Instituto Superior de Educação
NEAC – Núcleo de Estudos sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioemocional 1
RESUMO:
Na perspectiva do processo de evolução do gênero humano, o autoconhecimento aparece como método
essencial a fim de elevar a condição de ser humano fragmentado a ser humano integral e, por sua vez,
identificar-se com o centro de onde partem todas as ações. Nesse sentido, o presente artigo tem como
objetivo caracterizar o autoconhecimento enquanto método específico para busca de nosso centro,
evidenciando a prática dos exercícios psíquicos, diariamente, como recurso fundamental à evolução
abreviada e consciente do gênero humano. A abordagem metodológica está pautada na pesquisa
bibliográfica do tipo qualitativa, através da revisão de literatura referente à temática proposta, utilizando-se
dos estudos da ciência, filosofia e religião, numa perspectiva integrada. Conclui-se que é da natureza
humana a busca da autorrealização, de um sentido de vida, de algo superior a si mesmo, do centro de
onde partem todas as ações, bem como, do princípio criador de todas as coisas, quer consciente ou
inconscientemente, de forma proporcional ao grau de despertamento de sua consciência. Afinal, dentro
das concepções religiosa, filosófica e científica, respectivamente, todo criado busca o seu criador, o
gênero humano busca a razão de tudo que existe, bem como, a compreensão da Ordem Implícita do
Universo. Nesse sentido, o único conhecimento que o ser humano não pode e nem deve desprezar é o
conhecimento de si mesmo. Para tal, exorta-se a cultura da prática de exercícios psíquicos enquanto
recurso mais imediato para o conhecimento, a aproximação e identificação com o intangível, o
desconhecido, o centro de onde partem todas as coisas, que só é possível ser alcançado a partir da
identificação deste centro em nós, ou seja, pela busca à imutabilidade que reside em todas as coisas,
inclusive em nós mesmos.
1
Artigo apresentado no NEAC em 02 de março de 2016
2 Clérisson Torres é Psicólogo, psicoterapeuta e professor universitário. É Mestre em Educação
(UFBA) tendo como objeto de pesquisa a Análise do Juízo Moral de Docentes e Discentes
Universitários. Especialista em Docência do Ensino Superior dissertou sobre o tema
Autoconhecimento e a Consciência Moral, Ética e Estética: uma contribuição à formação de
educadores (UNIBA/AEM). Possui experiência como coordenador de curso de psicologia em três
instituições de ensino superior. Durante 7 anos coordenou o Projeto NUDHES – Núcleo de
Desenvolvimento Humano Sensorial e Extra-sensorial da Fundação Ocidemnte. Docente
permanente e pesquisador do ISEO. Fundador e orientador do Núcleo de Pesquisa e Extensão em
Meditação, Neurociências e Autoconhecimento - N.E.P.E.M.N.A. Docente de graduação e pós-
graduação. Tem experiência na área de Psicologia e Educação, atuando principalmente nos
seguintes temas: Desenvolvimento sócio-emocional, Autoconhecimento, Consciência, Neurociência e
Meditação. Autor de artigos sobre tais temáticas – ver site: www.maribelbarreto.com.br . Contato:
clerissontorres@gmail.com
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3Segundo Freud é quando o gênero humano sai do Édipo (desejo pelo genitor do sexo oposto) que
deixa de ser, exclusivamente, regido por suas pulsões libidinais e agressivas, uma vez que devido as
naturais castrações sociais desenvolve o superego. Esta instância psíquica é o juiz ou sensor do ego
que tem as funções de auto-observação e consciência moral.
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Não obstante, alcançar este estado dos ditos iluminados não é nada fácil! Eis
que o ser humano caracteriza-se, numa primeira etapa ou estágio evolutivo do SER,
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4 Estende-se aqui o Sentimento não só como distinto da emoção como um passo evolutivo à frente da
mesma. Segundo Damásio (2004), neurocientista português, a emoção é uma coleção de respostas
automáticas que alteram temporariamente o estado do corpo em prol da sobrevida e bem-estar,
como, por exemplo, o medo, raiva, a tristeza e a alegria. Sustenta que as emoções foram construídas
a partir de reações simples que promovem a sobrevida de um organismo e que foram facilmente
adotadas pela evolução. Portanto, em suas pesquisas em laboratório, concebeu que na evolução
biológica as emoções vieram primeiro e os sentimentos depois. Conceitua os sentimentos como
representações mentais do estado da vida dentro dos organismos que possuem sistemas nervosos
desenvolvidos. Noutras palavras, o sentimento é o fruto das experiências que o ser humano passa ou
adquire, aprende e sente em suas experiências sucessivas. É aquela sabedoria interior, que não se
aprende nos livros, ou seja, nas experiências reveladas, mas das experiências experimentadas. Esta
conotação à palavra sentimento é pouco utilizada e valorizada, pois fomos educados para agir com
base somente no conhecimento, no pensamento, no saber à procura de definições, comparações e
entendimentos, e não com base no autoconhecimento, na busca de sentir, discernir e compreender
pelo sentimento e intuição.
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animalidade do ser. Não obstante às leis materiais efêmeras que mudam para
privilégios particulares, tende em função das decepções, dores e sofrimentos, a
desejar leis ou princípios universais de conduta humana como igualdade, liberdade,
fraternidade, justiça, dignidade, amor e moral, respeito, caridade, necessidade etc.,
com o fim de se sentir mais integrado com a totalidade que o cerca (BARRETO,
2008).
Nesse sentido, é do ser humano preocupar-se muito no princípio com a
construção de uma personalidade que lhe dê e passe segurança a si e a outros.
Assim, se apega a leis, conhecimentos ou saberes no intuito exclusivo de fortalecer
o ego, este que nada mais é do que a idéia ou efêmera percepção que o indivíduo
faz de si mesmo. A condição de Ser Humano é daquele que ainda não concebeu
que o ego é péssimo senhor, mas bom servidor, não da mente rígida e
intelectualizada, mas da consciência.
É natural da condição de ser humano, preocupar-se muito em controlar o que
acontece consigo e com o mundo ao seu redor, logo dedica muita energia e esforço
pelo uso da vontade para conquistar e manter segurança, satisfação e felicidade a
todo custo. Aquilo que não consegue encarar ou que é uma ameaça aos seus
desejos tende a ignorar, inobservar, reprimir, fugir, esquecer ou se revoltar,
colocando-se, muitas das vezes, como vítima da situação.
Em contrapartida, o Ser Indiviso é aquele ser humano mais do que humano
que se permite ao processo de auto-desenvolvimento, pelo conhecimento de si
mesmo. Ser indiviso, quer dizer não dividido ou fragmentado no que sente, pensa e
faz. Ser que prima por dar atenção à sua maneira de sentir, pensar e agir perante as
pressões, provocações e tentações do dia-a-dia das relações pessoais, profissionais
e espirituais (morais). Pois, enquanto o ser humano valoriza muito o pessoal, o
imediato, o ser indiviso valoriza o profissional com maior senso de responsabilidade
social e foco no desenvolvimento humano da coletividade.
Eis que vislumbra pela experiência, não só revelada por livros e/ou escrituras,
mas, experimentada no dia a dia, a luz interior que reside em si. Assim, deseja
conhecer a luz e começa cada vez mais a viver da própria luz. Eis o ser integral e
não benevolente apenas. Por saber dizer “sim” e “não”, naturalmente sua luz faz
aparecer a sombra dos outros, que, se estiverem aptos a se autoconhecer tirarão
proveito das revelações a que forem submetidos.
Destarte, diferentemente do ser humano, o ser indiviso ou indivíduo não
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busca nas relações algo ou alguém que lhes dê um equilíbrio estático, mas sim
dinâmico, por conceber que no universo tudo urge ao absoluto princípio criador, logo
a habilidade virtuosa de viver somente morrendo, momento a momento, lhe é, cada
vez mais, característico, por conceber que a segurança, satisfação e felicidade são
efêmeras e ilusórias, dentro da relatividade do ser sendo.
O ser indiviso é o indivíduo que se permitiu a não viver sobre o júbilo da
persona (máscara, conformidade social), mas que primou por matar aos poucos a
personalidade desenvolvida em prol de expressar a individualidade do ser
conquistada em si e por si. Assim busca o Eu e não prima por construir o Ego, por
aproximar-se de sua Identidade Maior.
Noutras palavras e de maneira similar, Hall e Nordby (2000, p. 71-72) citam
que Jung sustenta a individuação como:
[...] um processo autônomo e inato, o que significa que não precisa de
estimulação externa para começar a existir. A personalidade do indivíduo
está destinada a individualizar-se tão fatalmente quanto o corpo está
destinado a crescer. Mas, assim como o corpo precisa de uma alimentação
adequada e de exercício para crescer de uma maneira saudável, também a
personalidade necessita de experiências adequadas e de educação para
sua individuação sadia. E assim como o corpo pode ficar raquítico,
deformado e doentio em virtude de uma dieta inadequada ou por falta de
exercício, também a personalidade pode ser deformada pelas deficiências
em suas experiências e em sua educação.
indiviso à medida que este vai dando atenção a tudo aquilo que sente, pensa e faz,
e por conseguinte experimentando acidentes de iluminação do ser.
Noutras palavras, o indivíduo vai “sendo tomado” pela divindade que em si
reside, desde o momento que desejou conhecer a Lei e a Luz interior, quer pelo
sofrimento e razão, respectivamente, saindo da ignorância, tomando consciência do
poder que lhe é revestido até chegar à plenitude, pela iluminação. Nesta
perspectiva, o gênero humano nada mais é do que Deus se autoconhecendo.
Jung (2002), por exemplo, entende que o ser humano sai de um estado de
totalidade indiferenciada para ser um indivíduo que se desenvolve ao ponto de se
tornar uma personalidade diferenciada, equilibrada e unificada. Raramente, ou
nunca, alcança uma unidade completa como Jesus ou Buda.
Deste modo, o Ser Divino nasce paulatina e primordialmente da busca
natural, consciente ou inconsciente, do Ser Humano e do Ser Indiviso pela
autorrealização. Tal busca advém, segundo Frankl (2006), da presença ignorada ou
inconsciente de Deus em nós.
Para Frankl (2006) não é o princípio do prazer de Freud e a vontade de poder
de Nietzsche, por exemplo, as grandes aspirações do gênero humano. Ao contrário,
a verdadeira mola primordial e propulsora do ser humano é a busca de sentido de
vida, pois há uma tendência inconsciente do gênero humano em direção a Deus,
razão maior de tudo que existe.
Com efeito, entende-se que a essência humana é divina, portanto, imutável,
absoluta. Plotino (apud HUISMAN, 2004), por exemplo, caracteriza o ser humano
como constituído de uma estrutura trina, o Nous (substância perfeita), a Alma
(imperfeito e que anima o físico) e o Corpo Físico.
A parte mais sublime da estrutura humana também tem sido caracterizada,
por exemplo, no âmbito da ciência, filosofia ou religião, como: Self 5, princípio
integrador da personalidade; Espírito (em distinção com a alma que é mutável),
como Centelha Divina; Deus interior que reside em nosso Centro; ou ainda como
Essência Imutável, centro de onde partem todas as ações, de onde provêm todas as
nossas faculdades, como a vontade, a consciência e a ciência real.
Não só é interessante, mas instigante e inteligente pensar na estrutura
humana constituída por três dimensões: espírito, alma e corpo físico; sentir, pensar e
5Na psicologia Junguiana o Self, enquanto arquétipo do inconsciente coletivo é mutável, todavia, na
psicologia oriental, o self, ou si mesmo, é compreendido como imutável e “alcançado” pela meditação.
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Desta forma, podemos concluir que de uma forma ou outra, o ser humano é
atraído pela busca de seu próprio Centro, quer filosoficamente quando busca a
razão de sua existência, quem é, de onde veio e para onde vai; quer
cientificamente, quando o ser humano busca descobrir os mistérios do universo, a lei
maior que embasa toda esta ordem implícita; ou religiosamente, quando o ente
criado busca o ser criador.
Portanto é de todo o ser humano buscar a sua origem, o sentido último, e se
já compreendemos que este sentido último escapa totalmente a nossa apreensão,
pelo menos intelectual, parece-nos que não resta à menor dúvida que esta
apreensão se dará em nossa subjetividade, no mais íntimo em nós, através da
busca de nossa integração e identificação com a nossa essência divina. Noutras
palavras, tal apreensão ocorrerá no processo que perpassa não só pela dimensão
do pensar e do sentir, mas pela dimensão do ser, não só pela dimensão do
conhecimento e autoconhecimento, mas da autorrealização.
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Com efeito, num dos plano de consciência mais elevada do gênero humano -
a do Ser Indiviso - a busca de sentido de vida, coincide com a busca de seu centro,
que em outras palavras, coincide com a busca de sua essência, destinado, portanto,
a caminhar para dentro de si mesmo, via processo de autoconhecimento ou
individuação, a fim de integrar-se com a divindade de seu ser mais profundo. Eis,
como conseqüência, o estado de Ser Divino, iluminado, no qual parece não haver
mais a construção do eu, mas a identidade com o eu, enquanto expressão da
ciência real. Eis, talvez o porquê de alguns iluminados terem supostamente dito: “Eu
e o Pai somos um”.
No próximo capítulo, ousaremos apresentar o método específico para esta
trajetória, que embora arriscado, parece ser o destino de todos nós.
Essas contradições ocorrem num ente que vive num tempo e num espaço,
mas que paradoxalmente consegue expressar-se em dimensões diferenciadas ao
ponto de ultrapassá-los pelo inteligir ou saber pensar (TORRES e TORRES, 2008).
Assim, o ser humano, como tudo existente, possui uma forma, logo
metaforicamente, como dito, uma profundidade, largura e altura. Afinal, o gênero
humano é uma síntese de constantes e ininterruptos desenvolvimentos que
ocorrem na dialética com o meio social, político, econômico, cultural e espiritual em
que vive.
Mas como alcançar essa dita iluminação ou estado de Ser Divino? Parece
que o método é o autoconhecimento.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
LING, Trevor. História das Religiões. Trad. Maria José de La Fuente. Lisboa:
Presença, 1994.
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QUEM SOMOS NÓS. Direção: William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicent.
Produção: William Arntz, Betsy Chasse. Distribuidora: PlayArte. Estados Unidos,
2005.
ROGERS, Carl R. Tornar-se Pessoa. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ROHDEN, Huberto. Educação do Homem Integral. São Paulo: Martin Claret, 2005.
WILBER, Ken. Uma Breve História do Universo. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Era,
2004.