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Esta primeira unidade identificará a interação entre a fisioterapia, psicologia, sociologia e antropologia,
permitindo ao aluno apropriar-se de conhecimentos necessários acerca dos aspectos subjetivos presentes
na relação fisioterapeuta-paciente, que modulam a adesão ao tratamento para um melhor resultado da
intervenção.
Nos dias de hoje, vemos que a atuação do profissional não necessita apenas do conhecimento científico
a respeito das patologias que acometem seus pacientes, pois saber tratar a doença não é a mesma coisa
que tratar o doente como sujeito humano complexo, que necessita ser olhado e cuidado a partir de
diferentes enfoques. Ou seja, para que o sentimento humano, as percepções de dor ou de prazer, seja
humanizado, é preciso que as palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro. O processo
saúde/doença, compreendido como um fenômeno coletivo, histórico e multideterminado, demonstra a
necessidade da interdisciplinaridade. A participação da psicologia como um campo do saber possibilita a
promoção da interdisciplinaridade no sentido de contribuir para a superação de diferenças substanciais
entre as alterações físicas e os comprometimentos psicossociais que a doença ocasiona.
Para desenvolvermos uma adequada relação terapeuta-paciente na área da saúde, antes de tudo, é
necessário que o profissional transmita confiança ao paciente. A mudança da pessoa da situação de sadia
para a de doente, seja de forma abrupta ou insidiosa, modifica a sua relação com o mundo e consigo
mesma e implica sempre repercussões psicológicas, tanto nela quanto no seu círculo familiar e social. A
maneira como cada pessoa reage ao aparecimento e à instalação de uma doença sempre é de maneira
singular, por meio de sua experiência pessoal e resultante da história de cada uma. A doença não pode
ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois o que estabelece o estado da
doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim, os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo
que adoece (CANGUILHEM; CAPONI apud BRÊTAS; GAMBA, 2006).
Evans e Stoddart (2000) argumentam que a doença não é mais que um constructo que guarda relação
com o sofrimento, com o mal, mas não lhe corresponde integralmente. Quadros clínicos semelhantes, ou
seja, com os mesmos parâmetros biológicos, prognósticos e implicações para o tratamento, podem afetar
pessoas diferentes de forma distinta, resultando em diferentes manifestações de sintomas e desconforto,
com comprometimento diferenciado de suas habilidades de atuar em sociedade. O conhecimento clínico
pretende balizar a aplicação apropriada do conhecimento e da tecnologia, o que implica que seja
formulado nesses termos. No entanto, do ponto de vista do bem-estar individual e do desempenho
social, a percepção individual sobre a saúde é que conta (EVANS; STODDART, 2000; OLIVEIRA;
EGRY, 2000).
Para que possamos entender melhor o processo de adoecimento, torna-se necessário o aprofundamento
da psicologia do desenvolvimento, que nos fornece informações sobre as características comuns de cada
faixa etária, bem como suas diferenças, tornando o profissional de saúde apto a observar e interpretar o
comportamento humano durante a vida de uma pessoa por meio da análise de suas habilidades motoras,
habilidades em solução de problemas, entendimento conceitual, aquisição de linguagem, aspectos
afetivo e social, entendimento da moral e formação da identidade.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, que é uma rede de desenvolvimento
global da Organização das Nações Unidas – ONU, define desenvolvimento humano como aquele em
que as pessoas são a chave para o desenvolvimento, devendo promover a realização do seu potencial,
aumentar suas possibilidades e desfrutar a liberdade de viver a vida que elas desejam. Assim entendido,
o desenvolvimento humano nos ajuda a entender, descrever, explicar e prever a modificação do
comportamento. Essas mudanças quantitativas e qualitativas influenciarão nos domínios físico,
cognitivo e psicossocial.
Algumas influências internas e externas podem interferir nesse desenvolvimento, como, por exemplo, a
família, o bairro, a condição socioeconômica, a etnicidade e a cultura, entre outras.
Hereditariedade
Segundo Papalia (2013, p. 42), "algumas influências sobre o desenvolvimento têm origem
principalmente na hereditariedade – traços inatos ou características herdadas dos pais biológicos". Uma
vez que ocorre a fecundação, ocorre a união dos genes dos genitores, que influenciarão nos aspectos que
podem mudar a nossa interação com o meio. Um exemplo biológico clássico é a miopia. Alguns
pesquisadores defendem que a miopia pode ser resultado de uma herança genética e, se isso não é
percebido precocemente, haverá uma modificação no sujeito, na sua capacidade de lidar com o ambiente
no qual está inserido.
Crescimento orgânico
Para Malina e Bouchard (2002), o crescimento é resultado de um complexo mecanismo celular que
envolve basicamente três fenômenos diferentes:
Hiperplasia
Aumento do número de células a partir da divisão celular
Hipertrofia
Aumento do tamanho das células a partir de suas elevações funcionais, particularmente com
relação às proteínas e seus substratos.
Agregação
Aumento da capacidade das substâncias intercelulares de agrupar as células.
Maturação neurofisiológica
É o que torna possível determinado padrão de comportamento. A maturação pode ser definida como um
fenômeno biológico qualitativo, relacionando-se com o amadurecimento das funções de diferentes
órgãos e sistemas (MASSA; RÉ, 2010; PAPALIA; OLDS, 2000).
Meio ambiente
Ambiente, segundo o Dicionário Aurélio on-line, é uma palavra de origem latina que significa o
“conjunto das condições biológicas, físicas e químicas nas quais os seres vivos se desenvolvem”, assim
como também é o “conjunto das circunstâncias culturais, econômicas, morais e sociais em que vive um
indivíduo”.
A relação com o mundo e com as pessoas é que vai garantir a formação e a qualidade da vida social,
moral, psicológica e cultural. Nesse viés, o papel do ambiente no desenvolvimento infantil é uma
questão fundamental para o desenvolvimento humano (NASCIMENTO; ORTH, 2008).
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a relação terapeuta-paciente, leia as páginas 37-49 do livro:
PILETTI, N. et al. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Contexto, 2014. Disponível na
Biblioteca Virtual.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o vínculo terapeuta-paciente, leia o texto A comunicação
não verbal na área da saúde, de Ana Paula Ramos e Francine Manara Bortagarai.
Rabello e Passos (2007): Apresentam alguns estágios, descritos por Erikson como psicossociais, nos
quais ele descreveu algumas crises pelas quais o ego passa ao longo do ciclo vital. Essas crises seriam
estruturadas de forma que, ao sair delas, o sujeito teria um ego mais fortalecido ou mais frágil, de acordo
com sua vivência do conflito, e esse final de crise influenciaria diretamente o próximo estágio, de forma
que o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo estaria completamente imbricado no seu contexto
social, palco dessas crises.
Conheça oito estágios importantes na formação da personalidade do sujeito que estão descritos no artigo
da Rabello e Passos (2007). A intenção em fazer essa compilação não é rotular as pessoas, mas dar
subsídios para vocês entenderem as pessoas que estiverem sob os seus cuidados.
Quadro 2: Apresentação dos oito estágios psicossociais de Erikson
Estágio
psicossocial Estágio psicossocial
Tem lugar durante os primeiros anos escolares, quando a criança, por meio de
novas interações sociais, começa a desenvolver sentimento de orgulho por suas
realizações, conquistas e habilidades.
Conforme observamos, o desenvolvimento humano é um processo de
4 - crescimento e mudança no nível físico, comportamental, cognitivo e emocional
Diligência versus ao longo da vida. Em cada fase surgem características específicas, dependendo
inferioridade
da maneira como são tratadas, se de forma adequada ou não, estimuladas de
maneira positiva ou negativa. Podem interferir na capacidade de enfrentamento
e superação de acontecimentos e/ou experiências. Cabe ressaltar que um país de
proporções continentais como o Brasil reflete essa influência devido às suas
diferenças de regiões e classes econômicas.
Estágio
psicossocial Estágio psicossocial
Essa fase marca o início da idade adulta, quando as pessoas estão explorando as
relações pessoais. Erikson acredita que é vital que as pessoas desenvolvam
relações estreitas e comprometidas com outras pessoas.
Lembre-se de que cada etapa se baseia em habilidades aprendidas nas etapas
6 – anteriores. Erikson acredita que um forte senso de identidade pessoal é
Intimidade versus importante para o desenvolvimento de relações íntimas. Estudos têm
isolamento
demonstrado que as pessoas com um mau senso de si tendem a ter relações
menos comprometidas e são mais propensas a sofrer isolamento emocional,
solidão e depressão.
Ela é marcada pela capacidade de formar relacionamentos duradouros e
significativos com outras pessoas.
8 – Integridade O último estágio psicossocial ocorre durante a velhice e está focado em refletir
versus desespero sobre a vida. Nesse ponto do desenvolvimento, as pessoas olham para trás
sobre os acontecimentos de suas vidas e determinam se elas estão felizes com a
vida que viveram ou se arrependem das coisas que fizeram ou deixaram de
fazer.
Aquelas que forem malsucedidas durante esse estágio vão sentir que sua vida
tem sido desperdiçada e vão experimentar muitos arrependimentos. O indivíduo
Estágio
psicossocial Estágio psicossocial
Ampliando o foco
Assistindo ao vídeo Psicologia do desenvolvimento – Erik Erikson, é possível identificar a concepção
de desenvolvimento de Erikson em oito estágios psicossociais, que decorrem desde o nascimento até a
morte, pertencendo as quatro primeiras ao período da infância e as quatro últimas, ao período da
adolescência, da fase adulta e da velhice. Cada estágio é atravessado por uma crise.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre confiança e desconfiança; autonomia, dúvida e vergonha;
iniciativa e culpa, leia as páginas 88-93 do livro: BARROS, C. S. G. Pontos de psicologia do
desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2008 (Série Educação). Disponível na Biblioteca Virtual.
Teoria da Identidade
A Teoria da Identidade sofre influência das diferenças culturais e sociais de cada sociedade.
Diferenças culturais
Ruth Benedict (1946), citada por Barnow (1967), enfatiza que é necessário contemplar o
comportamento humano em seu contexto cultural.
A noção de relatividade cultural, comprovada empiricamente, deveria abrir novas perspectivas para o
pensamento humano. Mead (1969) mostrou a enorme plasticidade da natureza humana e revelou que as
características psicológicas que as sociedades ocidentais estão habituadas a ligar à masculinidade e à
feminilidade existem, independentemente do sexo, em sociedades primitivas, levando-nos a refletir
sobre as manifestações individuais de comportamento e temperamento, sem que sejam previamente
rotuladas e limitadas pelo sexo biológico a que pertencem.
Diferenças sociais
Todo indivíduo nasce em uma sociedade estruturada, por mais primitiva que ela seja. Isso implica que
tal sociedade apresenta um conjunto de costumes, tradições, normas, papéis, valores, modas e todos os
demais critérios de comportamento que estão estabelecidos como consequência de uma interação entre
os indivíduos, o que vem a constituir as chamadas "normas sociais". Tais normas atuam sobre o
indivíduo desde o seu nascimento, muitas vezes de modo inconsciente, sem que o sujeito perceba que
diretrizes externas à sua vontade determinam o seu comportamento.
Cada grupo social apresenta um conjunto de normas que permitem que seus componentes, apesar de
apresentarem comportamentos distintos, se compreendam uns aos outros, porque tanto sua conduta
como a interpretação da conduta dos demais está, em grande parte, determinada por essas normas
comuns (NEWCOMB, 1973).
Evidentemente, alguns conjuntos de normas estão vinculados a profissões que o indivíduo exerce, a
determinadas etapas de sua vida que vão surgindo à medida que cresce, mas, no exato momento em que
a criança nasce, dependendo de seu sexo e da sociedade a que pertence, o conjunto específico de normas
sociais que deverá obedecer fica automaticamente estabelecido e passa a lhe ser sutilmente imposto.
Isso ocorre, em parte, porque estamos sempre mudando ao longo do tempo. Quem sou hoje não é
idêntico ao que fui ontem nem ao que serei amanhã. Uma das maneiras de explicar a identidade pessoal
consiste em apontar para a continuidade do corpo ao longo do tempo, no qual se recebem influências
importantes do meio em que se vive.
Segundo Botton (1997), outro pesquisador foi o psicólogo e filósofo William James, que, em 1920,
chamou atenção para o fato de que nossa identidade é formada por outras pessoas: são os outros que nos
permitem desenvolver um sentimento de identidade, e as pessoas com as quais nos sentimos mais à
vontade são aquelas que nos “devolvem” uma imagem adequada para nós mesmos (como James
apontou, uma das acusações mais frequentes numa situação infeliz é a de que estamos sendo
“caricaturados”). O argumento de James é, na verdade, a reiteração de uma observação de Aristóteles de
que a amizade é essencial para um sentimento firme de identidade: “ninguém gostaria de viver sem
amigos, por mais que lhe sobrassem todos os seus bens”.
Do conceito de identidade pessoal, Ashmore (1989) define a identidade de gênero como uma gama
estruturada de identidades pessoais tipificadas sexualmente. Por identidade pessoal ele compreende os
vínculos afetivos, cognitivos e comportamentais (conscientes ou não) entre o eu do indivíduo e os
fatores biológicos, físicos e materiais, os interesses e habilidades e os estilos de comportamento.
Já Jurandir Freire Costa (1989) emprega a qualificação “identidade psicológica” para se referir a um
predicado universal e genérico definidor por excelência do humano, ou seja, nos dias atuais, a nossa
identidade pode ser dada pela marca do celular, ou pelo bairro onde se mora, em contraposição a apenas
um atributo do eu ou de algum aspecto do eu, como são a identidade social, étnica ou religiosa.
A identidade é apreendida por meio das representações de si em resposta à pergunta “Quem és?”. Essa
representação não é uma simples duplicação mental ou simbólica da identidade, mas é resultado da
articulação entre a identidade pressuposta, a ação do indivíduo e as relações nas quais está envolvido
concretamente.
A ideia da existência de uma alma imortal abre caminho para a ideia de liberdade, que valoriza o
“indivíduo” como um “valor infinito” a partir da sua religiosidade. Habermas (1990) explica que essa
identidade foi construída com base na participação das religiões mundiais e que, tendo o cristianismo se
desenvolvido da forma mais racional e completa possível, tornou-se viável a formação de uma
identidade do eu liberada de todos os papéis e normas concretas.
Já para Luhmann (1971 apud CAVALCANTE, 1978), as sociedades complexas não são mais capazes de
produzir identidade por meio da consciência dos membros de seu sistema.
Embora seja sempre válido ressaltar a necessidade de nos relacionarmos com outros indivíduos de
grupos diferentes do nosso, gerando, com isso, um pequeno desconforto quanto à busca de
conhecimento mais aprofundado sobre determinado indivíduo desse grupo, à medida que temos o hábito
de generalizar tal descrição, não conseguimos estabelecer diferenciadores que possam identificar
determinada pessoa entre muitas outras; o que não acontece no grupo interno, em que conseguimos
diferenciar características individuais de cada pessoa, mesmo que à primeira vista possam parecer
imperceptível, levando ao estabelecimento de hábitos e costumes que esse indivíduo apresenta, como,
por exemplo, sua nacionalidade, região onde reside, caráter religioso, se é extrovertido ou não, partindo
do geral para o particular, de forma a criar um emaranhado de informações que permitam o
estabelecimento de padrões de comportamento que esse indivíduo pode vir a assumir frente a
determinadas situações.
Segundo Ciampa (1985), a identidade leva-nos a refletir sobre a busca constante da nossa própria
identidade, a partir do momento que vamos nos apresentando para alguém, até quando enfrentamos a
luta diária, brigamos, contestamos, cedemos e, ainda, quando questionamos quem realmente somos. E, a
partir desses enfrentamentos, tomamos ciência de toda uma intrigante rede de fatores que interagem
entre si para a construção de nossa identidade.
E, por fim, Ciampa (1985) nos apresenta o fato de que a construção da identidade não termina antes do
último momento, isto é, basta estar vivo para que ocorram acréscimos à estrutura de nossa identidade.
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre identidade e confusão de identidade leia as páginas 93-96 do
livro: BARROS, C. S. G. Pontos de psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2008. (Série
Educação). Disponível na Biblioteca Virtual.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, faça a leitura do artigo: Reflexões sobre o acesso
empírico da teoria de identidade de Erik Erikson, de Juliane Noack.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre identidade, assista aos vídeos Qual é a sua
identidade? e Formação da identidade pessoal, disponíveis no YouTube.
ENCERRAMENTO UNIDADE 1
A identidade é o conjunto total das características psicológicas, físicas, culturais etc. que nos fazem
únicos e exclusivos, diferentes de todos os outros seres humanos. Não existe uma identidade perfeita,
mas sim uma identidade mais ou menos adaptada ao meio envolvente.
Resumo da Unidade
Esta unidade teve, entre outros, o objetivo de fazer uma abordagem dos estágios psicossociais, de forma
que o futuro profissional de saúde possa identificar o grau de singularidade de cada pessoa que está sob
seu cuidado.
Num outro momento, tão importante quanto os estágios psicossociais, ela trouxe a identidade do eu, que
pode ter diversas faces, dependendo do grupo em que se está inserido, ou seja, num mesmo dia eu posso
ter várias identidades: o profissional, o chefe de família, o torcedor de um time etc., e, em cada um
desses papéis, me apresento de forma diferenciada e da forma que eu quero que as pessoas me vejam.
Atividades
Além do estudo dos roteiros, do livro da disciplina, das leituras complementares e dos vídeos das
unidades, você deverá realizar as atividades pontuadas que se encontram no ambiente virtual de
aprendizagem. Acompanhe os prazos de envio das avaliações no documento “Calendário e Critérios de
Avaliação”, na introdução da disciplina.
Esta segunda unidade estudará os princípios norteadores da saúde mental e psiquiatria, dando condições
para o aluno entender melhor o processo saúde/doença, estabelecendo melhores estratégias terapêuticas
para seu tratamento por meio dos meios substitutivos da internação preconizados pela reforma
psiquiátrica brasileira.
Historicamente, a reforma psiquiátrica no Brasil teve início no final dos anos 1970, a partir do
movimento social dos trabalhadores em saúde mental, e não apenas de técnicos e administradores. Seu
lema é: “Por uma sociedade sem manicômios.”
Na década de 1980, marcada pela redemocratização do país, ocorrem movimentos sociais que discutem
sobre um novo paradigma legal de formas de implementação e proteção da saúde no Brasil. O resultado
dessa longa história culmina na década de 1990, com o resgate da cidadania das pessoas com transtornos
mentais, tratando-os com dignidade e os reinserindo na sociedade. O portador de doença mental é visto
como sujeito de sua história, e não apenas como um mero objeto a ser manipulado pelos que detêm a
responsabilidade pelos seus cuidados.
A reforma psiquiátrica veio de encontro aos anseios de profissionais da área de saúde mental e
familiares de portadores de transtorno mental, já que, ao conviverem com o atendimento desses usuários
por meio do sistema institucionalizado (manicômios), observaram que essa forma de tratar apenas os
segregava de seus direitos civis, mantendo-os internados sob a forma de encarceramento, sem
praticamente nenhum tratamento das suas alterações clínicas, situação que somente agravava o seu
transtorno. Foram propostos os seguintes meios substitutivos de internação hospitalar: Atenção Primária
à Saúde, Centros de Atenção Psicossocial – CAPs, residências terapêuticas e o programa De Volta para
Casa.
Cabe ressaltar que essa discussão ainda acontece, tendo em vista que o movimento social trata tais
pessoas como sujeitos de direitos, incluindo-os nessa luta pela garantia de direitos, suscitando questões
essenciais para a criação e efetivação de novos direitos.
É nesse contexto que se realiza a III Conferência Nacional de Saúde Mental e que a política de saúde
mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da reforma psiquiátrica, passa a ter visibilidade
para a sociedade.
Então, no dia 6 de abril de 2001, a Lei nº 10.216/2001 é aprovada e passa a ser conhecida como a Lei da
Reforma Psiquiátrica, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e
redireciona o modelo de assistência em saúde mental.
A partir desse ponto, a rede de atenção diária à saúde mental é impulsionada, e é dado o início do
controle social na reivindicação da expansão da assistência comunitária em saúde mental. Nesse
período, o processo de desinstitucionalização de pessoas longamente internadas é impulsionado, com a
criação do programa De Volta para Casa, criado pelo Ministério da Saúde.
Transtorno de ansiedade
Caracteriza-se pelo excesso de preocupação, zelo, medo, ansiedade e receio que interfere na
realização de suas atividades diárias.
Transtorno bipolar
Caracteriza-se por alteração de humor, em que o indivíduo apresenta uma mudança rápida de
sensação de alegria a tristeza. Situação essa que dificulta a realização de suas atividades e o
convívio social (fase depressiva), por não conseguir controlar suas emoções.
Demência
Trata-se da diminuição das funções cognitivas ocorridas durante o processo do envelhecimento e/ou
presença de algum distúrbio patológico que acelere a redução dessa função e consequente declínio
da capacidade da execução das atividades diárias, principalmente relacionadas com seu
autocuidado.
Esquizofrenia
Demostra-se por uma alteração clínica que altera a capacidade de elaborar pensamentos de forma
adequada e correta, fazendo com que a pessoa comporte-se de maneira considerada inadequada às
normas sociais e culturais.
Transtorno obsessivo-compulsivo
Caracterizado pela situação de o indivíduo não conseguir conter seus impulsos (obsessão), como, por
exemplo, comportamentos relacionados a limpeza, em que não se estabelecem limites (compulsão)
para essa preocupação.
Autismo
Esse distúrbio de comportamento se inicia na infância, sendo denominado grave em função de
dificultar a capacidade de comunicação e interação.
Estresse pós-traumático
Esse distúrbio geralmente se apresenta após algum acontecimento grave ocorrido com a pessoa, que
não consegue se recuperar do trauma. Normalmente, demonstra como reflexo da situação o
isolamento e o medo de enfrentar novas experiências que o tirem da situação de conforto.
Para aprofundar seus conhecimentos, realize a leitura das páginas 192 a 198 do livro: MIGUEL, E. C.;
GENTIL, V.; GATTAZ, W. F. Clínica psiquiátrica: a visão do Departamento e do Instituto de
Psiquiatria do HCFMUSP. Barueri: Manole, 2011. (Disponível na Biblioteca Virtual).
Boa leitura!
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a lei sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais, leia o texto:
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema da reforma psiquiátrica, podemos assistir ao seguinte
documentário, disponível no Youtube: Saúde mental e dignidade humana, com Paulo Delgado, autor
da lei da reforma psiquiátrica.
Assista, ainda, com o objetivo de ampliar o conceito de transtorno mental, ao seguinte vídeo, também
disponível no Youtube: O que é transtorno mental?, de Mario Eduardo Costa Pereira.
Iniciaremos nossa aula realizando uma revisão de alguns conceitos sobre o que vem a ser cidadania e
interdição, bem como vamos estabelecer quando esta é necessária, como deve ser solicitada e qual o
critério de sua solicitação, a fim de permitir a garantia de seus direitos, como cidadão. Então, vamos lá?
Antes de definir o que é cidadania, cabe refletirmos: o que é ser cidadão? Ser cidadão é ter direito à
vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, ou seja, ter direitos civis. Porém, a garantia do
direito exige do cidadão uma contrapartida, que é o DEVER. Então, todo cidadão deverá respeitar todas
as relações entre as pessoas na sociedade em que convivem, não causando danos aos outros. Então, um
cidadão não pode agir de modo a causar danos a outrem, devendo respeitar seus direitos e participar do
destino da sociedade, votando, sendo votado e tendo direitos políticos, civis e sociais.
Para instigar vocês a dar seguimento na leitura: seria a interdição uma violação do direito humano?
Vamos continuar!
Entende-se por interdição o resultado da apuração da incapacidade de algum indivíduo para os atos da
vida civil, pois torna-se inapto para tomar qualquer decisão sem a prévia avaliação da pessoa que
assumiu a responsabilidade pela sua guarda. Esse impedimento para a tomada de decisão sobre o que a
pessoa pode fazer geralmente se dá de forma parcial, já que a interdição total o impedirá de executar
qualquer ato civil. Assim, a pessoa que é interditada parcialmente poderá, sim, praticar alguns atos,
desde que acompanhada pelo seu curador.
As leis vigentes no Brasil admitem a interdição de maiores considerados incapazes quando:
Psicopatas
É um distúrbio psíquico que se manifesta nas pessoas com uma característica, entre outras, de não serem
capazes de relacionar-se com outras pessoas (transtorno de personalidade antissocial), não conseguindo
demonstrar facilidade de lidar com as emoções.
Toxicômanos
Pessoas que consomem de forma exagerada substâncias sintetizadas (tóxicos, entorpecentes) que o
levam a ter uma alteração significativa em sua forma de agir, não poupando esforços para conseguir
a “droga”, podendo até colocar-se ou pessoas próximas em situação de risco.
Surdos
Pessoas com deficiência auditiva, que em função deste distúrbio apresentam dificuldade de se
relacionar e se comunicar com outras pessoas.
Pródigos
São pessoas que dissipam descontroladamente seu patrimônio (dinheiro e bens). De acordo com o
artigo 1.782 do Código Civil, “a interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar,
transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os
atos que não sejam de mera administração”.
Sendo assim, o Novo Código de Processo Civil, no artigo 747, elenca quem pode interditar uma pessoa:
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição
inicial.
Essa documentação poderá ser uma avaliação realizada por uma equipe multiprofissional indicada pelo
magistrado (juiz), que confirmará ou não se a pessoa possui incapacidade; somente a partir desse
momento se dará a interdição.
A necessidade desses procedimentos se faz necessária para garantir os direitos de cidadania à pessoa,
isto é, o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um
país, que protege os direitos inalienáveis do ser humano a quem está sendo solicitado tal impedimento.
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre interdição e cidadania, leia os textos:
BRASIL. Ministério da Saúde. “De Volta para Casa”: manual do programa. Brasília, 2003. p. 1-4.
______. Cartilha: direito à saúde mental. Brasília, 2012. p. 18-20.
As autoras fazem uma revisão na primeira parte do artigo (p. 29-32) sobre o processo de conquista dos
direitos de um determinado segmento da população que impõe um desafio de inscrevê-lo em um
processo mais amplo, que nos remete à própria construção societária dos direitos humanos, civis,
políticos e sociais levada a cabo nos últimos três séculos.
Para aprofundar seus conhecimentos, assista ao vídeo, disponível no Youtube, com o tema Família,
escola e cidadania: quais os caminhos?, do Mario Sergio Cortella.
Antes de iniciarmos a nossa aula sobre esses dispositivos, é necessário nos lembramos da reforma
psiquiátrica, que tem como uma das vertentes a desinstitucionalização, com a construção de uma
sociedade sem manicômio e dos paradigmas que o sustentam. E essa nova sociedade é dada pela
construção e substituição progressiva dos manicômios por outras práticas terapêuticas e da cidadania do
doente mental. Esses temas vêm sendo objeto de discussão entre os profissionais de saúde, bem como
em outros segmentos da sociedade.
1. Residência terapêutica
Serviços Residenciais Terapêuticos – SRT, ou residência terapêutica, são inspirados nos princípios do
SUS. São casas localizadas no espaço urbano, baseando-se na reintegração das pessoas com transtornos
mentais, substitutivas ao modelo manicomial A residência terapêutica tem como objetivo, em primeiro
lugar, de reconstituir o direito de moradia das pessoas egressas de hospitais psiquiátricos ou não e de
auxiliá-los em seu processo de resgate da autonomia e reintegração social (MATOS; ORICHIO;
MENDONÇA, 2010).
O objetivo é contribuir para o processo de inserção social dessas pessoas, incentivando a organização de
uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados, facilitadora do convívio social,
capaz de assegurar o bem-estar global e estimular o exercício pleno de seus direitos civis, políticos e de
cidadania (CCS/MS, s/d).
3. Hospital-dia
Apresenta como características ter o horário de funcionamento de 8h às 17h diariamente, o que
possibilita que os familiares do portador do transtorno mental possam desenvolver suas atividades
profissionais e/ou pessoais com tranquilidade, pois estão seguros pelo fato de seu familiar estar sendo
bem assistido. Dentre as atividades que são oferecidas estão o atendimento multiprofissional, oficinas e
grupos terapêuticos e alimentação. O portador pode permanecer durante um período de 45 dias. Os
objetivos do hospital-dia são: minimizar o isolamento e evitar novas internações.
A Portaria no 224/MS atribui que, na assistência em saúde mental, o hospital-dia deve abranger um
conjunto diversificado de atividades desenvolvidas em até cinco dias da semana, com uma carga horária
de oito horas diárias para cada paciente (ANS, s/d).
CAPS I: atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam prioritariamente intenso
sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles
relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem
estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou regiões de
saúde com população acima de 15.000 habitantes.
CAPS AD: indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de 150.000
habitantes. Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico
decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Indicado para municípios ou regiões de saúde
com população acima de 70.000 habitantes.
CAPS AD III: atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento
psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Proporciona serviços de atenção
contínua, com funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando
retaguarda clínica e acolhimento noturno. Indicado para municípios ou regiões com população
acima de 150.000 habitantes.
A Portaria nº 3.088/2011, ainda, atendendo ao princípio do SUS, da integralidade, estabelece nos seus
outros artigos a garantia dos direitos dos portadores de deficiência mental nos outros níveis de atenção à
saúde do cidadão.
Temos:
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre dispositivos alternativos à internação, leia o seguinte texto
sobre direito civil e interdição:
BRASIL. Ministério da Saúde. “De Volta para Casa”: manual do programa. Brasília, 2003. p. 1-4.
1. Para aprofundar seus conhecimentos e compreender essa mudança de características de como tratar
esses indivíduos, com ênfase na humanização da assistência, torna-se interessante que você, aluno,
assista ao vídeo, disponível no Youtube, A reforma psiquiátrica no Brasil.
ENCERRAMENTO UNIDADE 2
A reforma psiquiátrica no Brasil teve início no final dos anos 1970, a partir do movimento social dos
trabalhadores em saúde mental, e não apenas de técnicos e administradores. Seu lema é: “Por uma
sociedade sem manicômios.”
Na década de 1980, marcada pela redemocratização do país, ocorrem movimentos sociais que discutem
sobre um novo paradigma legal de formas de implementação e proteção da saúde no Brasil. O resultado
dessa longa história culmina na década de 1990, com o resgate da cidadania das pessoas com transtornos
mentais, tratando-os com dignidade e os reinserindo na sociedade. O portador de doença mental é visto
como sujeito de sua história, e não apenas como um mero objeto a ser manipulado pelos que detêm a
responsabilidade pelos seus cuidados.
Está definida no Código de Processo Civil como uma medida judicial que declara a falta de capacidade
da pessoa para gerir seus negócios e atos decorrentes da vida civil. Ela pode ser total ou parcial.
Contribui efetivamente para o processo de reinserção social dessas pessoas, a partir do incentivo da
organização de uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados, assegurando o
bem-estar global desde o convívio social até o estímulo ao exercício pleno de seus direitos civis,
políticos e de cidadania.
Resumo da Unidade
Atividades
Além do estudo dos roteiros, do livro da disciplina, das leituras complementares e dos vídeos das
unidades, você deverá realizar as atividades pontuadas que se encontram no ambiente virtual de
aprendizagem. Acompanhe os prazos de envio das avaliações no documento “Calendário e Critérios de
Avaliação”, na introdução da disciplina.
TRABALHO
Esta terceira unidade identificará a interação entre Fisioterapia, Psiquiatria, Psicologia e Saúde Mental,
permitindo ao aluno apropriar-se de conhecimentos necessários acerca dos aspectos subjetivos presentes
na prestação de assistência fisioterapêutica aos portadores de Psicopatologias, que modulam a adesão ao
tratamento para um melhor resultado da intervenção.
A alta prevalência de transtornos de ansiedade no Brasil é justificada entre outras razões pela violência
urbana e pelas condições socioeconômicas adversas. Dessa forma, há necessidade de discutir melhor o
atendimento oferecido à população brasileira, impactando o planejamento de políticas de saúde mental.
Nesse sentido, veremos, nesta unidade, onde o fisioterapeuta poderá estar inserido nas equipes do
Centro de Apoio Psicossocial – CAPS oferecendo suporte aos portadores de doenças mentais visando a
sua reabilitação e à inclusão social.
Em um levantamento realizado em 2010 pelo governo federal, estimava-se que, no Brasil, cerca de 23
milhões de pessoas necessitavam de algum atendimento em saúde mental e pelo menos cinco milhões
sofriam com transtornos mentais graves e persistentes, representando quatro das dez principais
incapacitações relacionadas ao trabalho. Acreditamos que esse número possa ser bem maior agora em
2017, em função de problemas com o repasse de verbas para a manutenção das políticas de saúde para
os Centros de Apoio Psicossociais. Esses transtornos produzem alterações nas áreas cognitiva,
emocional, social, entre outras, que podem estar associadas a alterações nas estruturas corporais, que
controlam postura, respiração, movimento, e causar dificuldade na execução de atividades diárias,
tensões, rigidez muscular e prejuízo da expressão corporal. A atuação da fisioterapia vem sendo
demonstrada como uma aliada na assistência a indivíduos portadores de transtornos mentais, sendo
primordial na reabilitação nos âmbitos cognitivo, social e motor desses pacientes.
A assistência em saúde mental, no Brasil e no mundo, tem passado por significativas mudanças
decorrentes do movimento da Reforma Psiquiátrica. A Lei n° 10216/2001 aponta que é direito da
pessoa portadora de transtorno mental um tratamento humanizado para beneficiar sua saúde a fim de
que se recupere integralmente para sua inserção social. Esta lei dispõe sobre:
Esta unidade tem como objetivo explicar os conceitos de saúde e doença mental e os principais
transtornos psiquiátricos com base na Psicologia, na Psiquiatria e na Psicossomática.
Conheça mais sobre a Lei nº 10216/2001.
Os benefícios provenientes da terapia por exercícios e de recursos que aprimorem a interação corpo e
mente na saúde mental são bem estabelecidos.
[...] interferindo em fatores fisiológicos e psicológicos, como mudanças no metabolismo e na
disponibilidade de neurotransmissores centrais, na regulação do sono, alterações na cognição, interação
do indivíduo com as pessoas e o meio, além da interrupção de pensamentos negativos e tendência a
modificação de ações emocionais.
(MORALEIDA; NUNES, 2013.)
Nesse sentido, a atuação fisioterapêutica na temática da saúde mental busca a aplicabilidade nos três
níveis de atenção à saúde: promoção, prevenção e reabilitação.
Quando pensamos no que significa crise psíquica, em um primeiro momento nos reportamos ao portador
de alguma enfermidade, não nos lembramos de que o próprio crescer do ser humano está repleto de
elementos que trazem um amplo sentido: o de separação, de mudança, desde o momento em que
nascemos até a senescência.
É claro que, à medida que passamos por cada estágio, conforme já foi estudado antes por meio da teoria
do desenvolvimento psicossocial, de Erikson, na qual ele descreveu algumas crises pelas quais o eu
(ego) passa ao longo do curso de vida, essas crises são estruturadas e ocorrem em nosso contexto de
vida e, quando as superamos, poderemos sair com o ego mais fortalecido ou mais frágil. Este resultado
influenciará diretamente no próximo estágio, de forma que o crescimento e o desenvolvimento do
indivíduo estariam completamente inseridos em seu contexto social, palco dessas crises. Caso esse
processo não transcorra dentro de cada estágio da forma adequada, esperada, provavelmente haverá
consequências negativas para a construção de sua identidade, personalidade, entre outros aspectos
importantes (desempenho no período escolar, no trabalho, comportamento com os familiares e amigos,
entre outras situações cotidianas). Caracterizam-se como “situações de crise” aquelas que respondem a
pelo menos três dos cinco parâmetros arbitrariamente especificados:
A fim de podermos tratar os usuários de forma mais humanizada, por meio dos dispositivos
substitutivos conforme preconiza a Lei no 10.216/2001, torna-se importante a participação de equipes
multiprofissionais de saúde para estimular as capacidades individuais de seu usuário, visando sua
integração social. Cada profissional irá atuar dentro de sua área de ação, considerando-o como um todo,
a fim de proporcionar uma maior funcionalidade. Daremos destaque ao manejo do fisioterapeuta no
portador de transtorno mental em crise.
É necessária a valorização do sujeito, respeitando-se sua condição de ser humano, e não apenas de
doente, como sujeito em crise. Significa respeitar seu tempo, sua individualidade e singularidade.
Permitir à pessoa que está sendo atendida o direito de ser ouvida, expondo seus anseios e aflições. Além
de não se deixar contaminar pela premissa de que tudo o que o portador de transtorno mental diz sentir é
sempre proveniente da alteração psiquiátrica por ele apresentada.
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre manejo do fisioterapeuta com o paciente durante a crise
psíquica, leia as páginas 909 a 912 do livro de Euripedes Constantino Miguel, Valentim Gentil e
Wagner Farid Gattaz – Clínica psiquiátrica – a visão do Departamento e do Instituto de Psiquiatria
do HCFMUSP. Manole. ISBN: 9788520431382. Este livro está disponível na Biblioteca Virtual.
Torna-se necessário realizar uma reflexão sobre alguns conceitos. O primeiro deles se trata do que pode
ser considerado substância psicoativa.
Droga, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde – OMS, é qualquer substância não
produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas,
produzindo alterações em seu funcionamento. As drogas podem ser classificadas como substâncias
naturais ou sintetizadas que, ao serem ingeridas, produzem alterações no SNC, modificando, assim,
estado emocional e comportamental, produzindo sensação de prazer, o que pode frequentemente induzir
ao abuso e à dependência (a dependência pode ser definida como o consumo repetido, permanente e
compulsivo de uma droga). Dentre elas, estão: álcool; opioides (morfina, heroína, codeína, diversas
substâncias sintéticas); canabinoides (maconha); sedativos ou hipnóticos (barbitúricos,
benzodiazepínicos); cocaína; outros estimulantes (como anfetaminas e substâncias relacionadas à
cafeína); alucinógenos; tabaco; solventes voláteis.
Cada uma dessas substâncias produz uma reação diferente no nível do Sistema Nervoso Central:
Drogas depressoras
Substâncias que produzem uma redução da atividade mental, diminuindo algumas respostas mentais
como a atenção e a concentração, que levam o indivíduo, durante a ação da droga, a apresentar uma
redução de seus reflexos de resposta, sobretudo na resolução de problemas. Ex.: tranquilizantes, álcool,
cola, morfina, heroína.
Drogas estimulantes
Substâncias que produzem um aumento na atividade de resposta mental, levando o usuário a estar mais
alerta. Porém, tal resposta interfere normalmente de forma negativa no desempenho de suas funções
mentais. Ex.: nicotina, cafeína, anfetamina, cocaína, crack.
Drogas alucinógenas
Substâncias que, ao serem ingeridas, levam ao indivíduo a apresentar uma desordem na atividade do
cérebro, interferindo em sua percepção. Ex.: LSD, ecstasy, maconha.
Esse consumo, já há muito tempo, vem sendo considerado um grave problema social e de saúde pública,
pois, cada vez mais pessoas vêm buscando maneiras de fugir da “realidade” que enfrentam e dos graves
problemas sociais em que estão inseridas. Ao pensarmos em propor uma abordagem para a dependência
química, esta deve ser analisada por meio do modelo psicossocial de saúde em foco na atualidade, pois
tratar a questão do uso abusivo de substâncias psicoativas e a questão da possível dependência que pode
emergir em alguns casos,
[...] implica discutir não só as questões orgânicas e psicológicas envolvidas, mas também os aspectos
sociais, políticos, econômicos, legais e culturais inerentes a esse fenômeno, além das consequências
físicas, psíquicas e sociais da mesma.
(OCCHINI; TEIXEIRA, 2006.)
Pratta e Santos (2009) definem, ainda, que a dependência química deve ser vista como uma doença
crônica e como um problema social. Pode ser caracterizada como um estado mental e, muitas vezes,
físico que resulta da interação entre um organismo vivo e uma droga, sendo o início do uso feito para
experimentar, para testar seu efeito psíquico e, a continuidade do uso, às vezes, para evitar o desconforto
provocado por sua ausência. Para o tratamento, não basta diagnosticar e tratar os sintomas, mas sim
identificar as consequências e os motivos que levaram à dependência, pensando no indivíduo em sua
totalidade, para que se possa oferecer outras alternativas e subsídios que gerem mudanças de
comportamento em relação à questão da droga.
Não podemos nos esquecer dos graves problemas sociais que esse uso acarretará em suas relações
interpessoais, levando o indivíduo frequentemente ao isolamento de amigos e familiares, deixando o uso
abusivo das drogas substituir seu convívio social, familiar, o lazer, o trabalho etc. O fisioterapeuta, como
profissional da área da saúde, vem cada vez mais atuando dentro das estratégias terapêuticas no combate
às complicações orgânicas que esse abuso acarreta. Em casos que não envolvam urgência ou
emergência, o tratamento será realizado em regime comunitário em Centro de Apoio Psicossocial, e,
pelo fato de a maioria desses indivíduos apresentarem dependência, torna-se necessário estabelecer um
critério de motivar a probabilidade de uma pessoa se envolver, continuar, e poder aderir a uma estratégia
específica de mudança, em um estilo de aconselhamento diretivo. Esse tratamento é realizado por
técnicos sensíveis às possíveis disposições que os usuários possam ter, de mudar e se adaptar a uma vida
na qual a substância química usada deixe de ser consumida e de ter a importância que lhe foi atribuída.
Essa abordagem vem sendo utilizada nos sistemas públicos de saúde. O dependente químico, nos
serviços de saúde, geralmente se mostra ambivalente: ele quer e não quer parar com o uso da substância.
Oscila, muda de ideia, nega o tamanho dos problemas, manipula os diálogos induzindo o interlocutor a
enganos. A entrevista motivacional ajuda os usuários a explorar e a resolver sua ambivalência.
Conforme já discutimos antes, o CAPS AD III é o responsável pelo atendimento das pessoas de todas as
faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras
drogas. Para conseguir o afastamento do sujeito da droga, ele fica com acompanhamento psicossocial e
essa mudança poderá acontecer no decorrer do tempo à medida que a pessoa queira e comece a
estruturar um novo estilo de vida.
Essas atividades terapêuticas que podem ser executadas têm como objetivo primordial a melhoria da
qualidade de vida e de capacidades funcionais como a promoção de medidas educativas relacionadas à
saúde geral e atitude postural do usuário; práticas de relaxamento, de alongamento, e exercícios para
grandes grupos musculares, atividades psicomotoras para melhor percepção corporal e reeducação
funcional, com ênfase nas atividades cotidianas, visando à independência e à melhor adaptação do
indivíduo à sociedade.
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre manejo do fisioterapeuta com pacientes que utilizam
substâncias psicoativas, leia as páginas 670 a 685 do livro Euripedes Constantino Miguel, Valentim
Gentil e Wagner Farid Gattaz. Clínica psiquiátrica – a visão do Departamento e do Instituto de
Psiquiatria do HCFMUSP. Manole. ISBN: 9788520431382. Este livro está disponível na Biblioteca
Virtual (Pearson).
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o vínculo terapeuta-paciente, leia o texto para perceber a
subjetividade que há nessa relação.
Leia o texto A comunicação não-verbal na área da saúde, de Ana Paula Ramos e Francine Manara
Bortagarai.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema da aula, assista ao vídeo disponível no YouTube
intitulado Resumos das Técnicas de Fisioterapia na Psiquiatria 2016.
Iniciaremos nossa aula identificando alguns termos que são muito empregados em psiquiatria. O
primeiro será entender melhor o que significa transtorno de personalidade, que, segundo o Ministério da
Saúde, trata-se de um grupo de doenças psiquiátricas em que os traços emocionais e comportamentais de
um indivíduo são muito inflexíveis e mal ajustados. Geralmente aparecem no início da adolescência e
tornam-se crônicos. O diagnóstico só deve ser dado a adultos, ou no final da adolescência, pois a
personalidade só está completa nessa época, na maioria das vezes. No Quadro 1 apresento os transtornos
de personalidade específicos:
Outros transtornos
específicos da Excêntrica, imatura, narcísica, passivo-agressiva e outras.
personalidade
Segundo Carvalho e Maciel (2003, p. 150), a Associação Americana de Deficiência Mental – AAMD
define a deficiência mental como a dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade, em função
de redução notável do funcionamento intelectual inferior à média, associado a limitações pelo menos em
dois aspectos do funcionamento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, competência domésticas,
habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança, aptidões
escolares, lazer e trabalho.
Ainda segundo a AAMD (2002), a deficiência mental manifesta-se na idade inferior aos 18 anos e
apresenta um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, com limitações
associadas a duas ou mais áreas de conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder
adequadamente às demandas da sociedade. A deficiência mental pode ser de nível (Quadro 2):
Leve: as pessoas com esse nível de deficiência podem desenvolver habilidades escolares e
profissionais. Chegando inclusive a prover sua manutenção, muito embora necessitem, algumas
vezes, de ajuda e orientação em situações sociais diferentes daquelas a que estão acostumadas.
Moderado: o indivíduo com deficiência mental de nível moderado tem capacidade insuficiente de
desenvolvimento social, mas poderá manter-se economicamente por meio de programas
supervisionados de trabalho.
Severo: as pessoas portadoras de deficiência mental de nível severo, apresentam pouco
desenvolvimento motor e mínimo desenvolvimento de linguagem. Poderão contribuir apenas
parcialmente para sua subsistência, em ambientes controlados.
Profundo: as pessoas com a deficiência nesse nível têm um retardo intenso e capacidade sensorial
e motora mínima. Mesmo com suas dificuldades, há possibilidades de adquirirem hábitos de
cuidados pessoais, por meio de programas de "condicionamento operante".
A fisioterapia tem como propósito o estudo do movimento humano em todas as suas formas de
expressão e potencialidades, tanto nas suas alterações patológicas, quanto nas suas repercussões
psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de
órgão, sistema ou função (ROEDER, 1999).
No caso em questão, o fisioterapeuta deverá, em certas formas de deficiência mental, quando associadas
às perturbações motoras, ter sua maior participação, pois as pessoas (crianças ou adultos) que
apresentam essa dificuldade vão necessitar de mobilizações em partes de seu corpo, a fim de trabalhar a
memória cinestésica, prevenir problemas circulatórios, melhorar sua postura e outras coisas para que
tenham uma vida melhor, podendo até estabelecer relações com a sociedade na qual estão inseridas.
Mannrich (2014), destaca que a abordagem ao paciente com transtorno mental no tratamento
fisioterapêutico é fundamentalmente estabelecida por cooperação e comunicação do próprio paciente e,
por vezes, da família. O programa de tratamento ao paciente psiquiátrico será estabelecido com base em
suas deficiências e pelas limitações impostas pelos sintomas da doença.
Se você fosse convidado para atuar em uma clínica psiquiátrica, você se sentiria apto a atuar em saúde
mental?
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, faça a leitura da publicação: BRASIL.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE
ATENÇÃO BÁSICA. Cadernos de Atenção Básica: Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde,
2013. n. 34, 176 p.: il. ISBN 978-85-334-2019-9.
ENCERRAMENTO UNIDADE 3
Atividades
Além do estudo dos roteiros, do livro da disciplina, das leituras complementares e dos vídeos das
unidades, você deverá realizar as atividades pontuadas que se encontram no ambiente virtual de
aprendizagem. Acompanhe os prazos de envio das avaliações no documento “Calendário e Critérios de
Avaliação”, na introdução da disciplina.
Lembre-se: procure o professor-tutor no fórum "Fale com o tutor".
Esta quarta unidade identifica a necessidade do conhecimento da história de um povo (grupo social)
para conhecer sua evolução e suas características, hábitos e costumes que podem influenciar no processo
saúde/doença de um povo ou uma etnia. A interação entre a fisioterapia, psicologia e as ciências sociais
permite ao aluno apropriar-se de conhecimentos necessários acerca dos aspectos subjetivos presentes na
relação do profissional com o paciente, que modula a adesão ao tratamento para um melhor resultado da
intervenção.
Nos dias de hoje, observamos que o atendimento pautado no modelo biomédico não atende às
necessidades da assistência na área da saúde. Esse modelo é baseado somente no tratamento da doença,
preocupando-se com o físico (orgânico) e não valorizando os componentes sociais e culturais que
possibilitam a construção da identidade social de determinados grupos. Porém, é necessário traçar uma
linha de atuação de assistência alinhada aos preceitos da humanização em saúde, tratando o indivíduo de
forma indivisível. Quando a atuação do profissional ultrapassa o conhecimento científico, vemos que
sua atuação não necessita apenas de tal conhecimento. Assim, quando o sentimento humano é
compreendido, as percepções de dor ou de prazer são humanizadas, de modo que as palavras que o
sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro. Logo, o processo saúde-doença deve ser compreendido
como um fenômeno coletivo, histórico e multideterminado, demonstrando, assim, a necessidade de que
se leve em conta a interdisciplinaridade.
AULA 1 HISTÓRIA SINTÉTICA DA ANTROPOLOGIA E ANTROPOLOGIA
HERMENÊUTICA
Para que possamos compreender a sociedade atual, onde nos encontramos, é preciso que façamos uma
análise profunda da diversidade cultural que a compõe por intermédio do estudo das características de
linguagem, tradições, costumes, religião e crenças de cada povo que veio contribuir para construção de
uma nova sociedade. A antropologia é a ciência responsável por essa área de estudo.
A partir da contribuição da antropologia, que é responsável pelo estudo da área social, cultural e
características biológicas, conseguimos realizar uma reflexão sobre as influências que a imigração e
povoamento de novas áreas antes desabitadas produziu na formação de nossas sociedades.
Esse é o caso da constituição do povo brasileiro, que foi incorporando diferentes características pessoais
dos imigrantes, foi se adaptando às necessidades encontradas nesse novo continente, em função do clima
e do território e a partir da miscigenação racial que foi acontecendo gradativamente por meio da união
de diferentes culturas, pela constituição de novas famílias, onde seus descendentes constituíam uma
nova identidade cultural.
O fenômeno saúde-doença não pode ser entendido à luz unicamente de instrumentos anátomo-
fisiológicos da medicina (MINAYO, 1991), mas deve considerar a visão de mundo dos diferentes
segmentos da sociedade, bem como suas crenças e sua cultura.
Para isso, os conhecimentos e saberes construídos de forma popular por meio das crenças e costumes
deixam de ser considerados uma invencionice popular que não merece nenhum crédito pelos estudiosos
de vários saberes, como por exemplo o médico. A partir de um aprofundamento, a medicina verifica a
eficácia de determinados conhecimentos dito populares e que podem ter resultado no processo de
recuperação de uma determinada enfermidade, como é o caso do uso de ervas para a realização de chás.
É claro que os profissionais de saúde não têm que abandonar os modelos teóricos que direcionam o
trabalho nas suas áreas, mas necessitam ouvir o outro, possibilitando, por meio da comunicação, o
conhecimento das reais necessidades do indivíduo, considerando que eles são sujeitos de na sua própria
história e que, portanto, exercem gerência sobre suas próprias vidas, percebendo e agindo segundo suas
experiências na vida coletiva (LANGDON, 2009).
Podemos confirmar, assim, que os conhecimentos práticos adquiridos e desenvolvidos, bem como o
enfrentamento de situações de dificuldade durante toda uma vida, sem os recursos socioeconômicos
necessários para solucionar essas situações, levaram a busca de alternativas práticas e baratas que
estavam ao alcance e merecem ser valorizados.
Antropologia biológica
Se responsabiliza pelo estudo da morfologia anatômica, características e genéticas (BOYD, 1950).
Procura relacionar como ocorreu a evolução de determinado grupo social por meio da pesquisa,
geralmente de natureza experimental, realizada em laboratórios por intermédio do estudo de materiais
encontrados em determinadas áreas, nas quais são descobertos registros de civilizações passadas, como
por exemplo: O Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, principal porto de entrada de escravos nas américas
ao longo de três séculos, que recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Por intermédio
dos fósseis encontrados no local, poderemos entender quais situações eram impostas a uma população,
geralmente advinda do continente africano. Por meio do mercado negro da escravidão, os africanos eram
trazidos para regiões distantes de sua “terra natal” para serem utilizados como trabalho escravo, tendo
que absorver costumes do povo que os colonizavam, processo no qual muitas das situações
contrariavam seus hábitos e costumes.
A antropologia social
É responsável pelo estudo dos documentos históricos em que procura analisar como a sociedade se
desenvolveu pelo estudo das relações e dos sistemas sociais, que são próprios das diversas sociedades
humanas.
Antropologia cultural
Analisa a interferência da cultura de cada grupo social, estudando o comportamento social humano de
cada região, fazendo uma correlação com semelhanças e diferenças de comportamento entre grupos
humanos diferentes. A antropologia cultural procura explicar tanto a estabilidade como as mudanças
desses grupos, que torna esse subgrupo da antropologia um dos mais relevantes estudos sobre etnia na
análise da história de determinada sociedade.
Muitas dessas informações são transmitidas de geração em geração sem o registro formal (escrito), para
que as sociedades atuais possam saber como eram desenvolvidas as relações humanas em cada época,
que foram com o tempo construindo a sociedade atual. A etnologia consiste na interpretação dos padrões
e regras gerais que governam o comportamento humano e a análise da informação etnográfica que se
incumbe por procurar e mostrar que não existem matrizes universais de comportamentos e
características culturais, que cada grupo social apresenta caraterísticas individuais diferentes de outros
grupos sociais.
Antropologia linguística
Trata do estudo linguístico da análise do idioma utilizado por cada grupo social, já que o idioma é
adotado por cada povo como mecanismo de comunicação social. Observamos essa situação em países
distantes um do outro, em que a colonização foi desenvolvida por determinado povo, como é o caso do
Brasil, colonizado pelos portugueses e que adotou o português como idioma padrão. A partir dessa
premissa, podemos considerar que, além do idioma, hábitos e costumes também são incorporados da
civilização que os colonizou.
Alguns povos, talvez com maior senso de tradição, mantêm vivos alguns costumes, como por exemplo
estimular a conversação no idioma de seus antepassados, como é constatado nas famílias de japoneses,
que mesmo preocupando-se em educar nos moldes do país onde estão residindo mantêm vivo o
compromisso de preservar os hábitos e costumes de sua cultura, estimulando a conversação no idioma
japonês.
Antropologia hermenêutica
Também conhecida como interpretativa, baseia-se na análise das razões que levam ao acontecimento de
fatos, buscando o entendimento de suas consequências. Para Geertz (1973), a cultura é a produção desse
sentido, ou seja, uma indescritível teia de significados que os homens tecem em suas interações
cotidianas e que funciona como um mapa para a ação social.
Ao analisar a cultura por meio do estudo do curso dos eventos sociais, busca-se compreender não apenas
o significado, mas analisar o que esses eventos influenciam na visão comum ou consensual. Seria exigir
que todos lessem o texto da mesma forma, ou seja, que negassem suas trajetórias particulares, seu pano
de fundo cultural, para efetuar uma interpretação orientada para a mesma direção. Ainda segundo Geertz
(1973), as representações que os dirigentes constroem sobre a organização são reelaboradas,
ressignificadas, ressimbolizadas pelos diversos atores sociais, de modo que não existem “verdadeiras”
culturas organizacionais, muito menos culturas fortes ou fracas, mas distintas versões sobre a cultura
organizacional. Jaime Júnior (2002) salienta que, de uma perspectiva hermenêutica, a cultura
organizacional deve ser vista, simultaneamente, como um texto polissêmico – que os indivíduos
escrevem e reescrevem por intermédio de suas interações cotidianas dentro e fora do espaço
organizacional. Autor de Um texto, múltiplas interpretações: antropologia hermenêutica e cultura
organizacional, Pedro Jaime Júnior (2002), discute com profundidade o trabalho de Geertz, avaliando
que o mesmo texto cultural é passível de múltiplas interpretações. A leitura do texto cultural produz
interpretações que serão sempre provisórias e passíveis de serem questionadas e reconstruídas. Assim, a
cultura organizacional é caracterizada pela ambiguidade, com as fronteiras das subculturas
apresentando-se como altamente permeáveis e contendo manifestações multifacetadas. Por isso, seus
significados estão sujeitos a múltiplas interpretações.
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a história sintética da antropologia e antropologia
hermenêutica leia página 83 – 88 do livro: ALVES, P. C.; MINAYO, MCS (Orgs.). Saúde e doença: um
olhar antropológico [on-line]. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. 174 p.. Disponível em Scielo Books
Assista ao vídeo Antropologia Cultural.
Antropologia da saúde
O estudo da antropologia nas áreas biológica, cultural e social nos auxilia na análise na instalação de um
possível processo de saúde e doença de determinada sociedade, por intermédio da observação dos seus
hábitos e costumes apresentados e como esses hábitos e costumes podem influenciar positivamente ou
negativamente o organismo vivo. Além disso, observa as mudanças que ocorrem, por exemplo, com os
hábitos alimentares, que com o passar dos anos vêm se adaptando com a utilização cada vez mais
frequente de alimentos industrializados, em vez de consumir alimentos mais saudáveis.
Atualmente, a busca por "cuidados à saúde", inseridos nos programas de promoção e prevenção da
saúde a indivíduos, grupos e comunidades, vem responder culturalmente ao aumento exponencial, das
últimas duas décadas, do sofrimento e adoecimento humano, fruto dos determinantes sociais adversos à
vida (danos evitáveis, oriundos do modo social de viver, ao meio ambiente, aos seres humanos de todas
as idades em sua trajetória vital e aos seres vivos em geral), características do mundo urbano atual
(LUZ, 2005).
Devemos levar em consideração que os programas de promoção e prevenção elaborados pelas políticas
de saúde, por meio da adoção de hábitos e costumes mais saudáveis, estão prolongando os anos de vida
das pessoas. Embora esse aumento na expectativa do aumento de expectativa de vida acarrete o
aparecimento e evolução de doenças crônico degenerativas, o que terá como consequência a
interferência nas funcionalidades destes indivíduos. E, claro, uma boa parte da população não tem
acesso a condições básicas de cuidado com a sua saúde, como, por exemplo, saneamento básico,
imunização, controle de vetores, programa de combate ao consumo de álcool e tabaco, entre outros.
Segundo Uchoa e Vidal (1994), muitos estudos revelam que os comportamentos de uma população
diante de seus problemas de saúde, incluindo a utilização dos serviços médicos disponíveis, são
construídos a partir da percepção de saúde dessa população, a qual se ergue a partir de seu contexto
sociocultural. O conhecimento prévio dessa percepção de saúde da comunidade, que determina o pensar
e o agir da população perante o processo saúde-doença, é fundamental para a eficiência das ações de
assistência e educação em saúde.
Psicologia da saúde
A psicologia da saúde consiste na utilização da psicologia por meio de conhecimentos provenientes das
diversas áreas da psicologia, tendo como propósito a promoção e proteção da saúde; a prevenção e
tratamento das doenças; a identificação da etiologia e diagnósticos relacionados com a saúde, com as
doenças e disfunções associadas; a análise e a melhoria do sistema de cuidados de saúde, e o
aperfeiçoamento da política de saúde (MATARAZZO, 1980; 1982).
Toda e qualquer pessoa que apresenta uma alteração clínica, por mais simples que seja, , além de
alterações biológicas (orgânicas), acarretará em transtornos mentais. Sendo este ramo da psicologia que
estuda as influências psicológicas na saúde, os fatores responsáveis pelo adoecimento, as mudanças de
comportamento das pessoas no adoecer (TAYLOR, 2002).
Esse atendimento não está restrito apenas a ambientes hospitalares ou a centros de saúde, mas se dedica
também a todos os programas que venham a enfocar a saúde física e mental coletiva (BAPTISTA;
DIAS, 2003). Existe a necessidade do pensar em “saúde” e o profissional terá como meta para o seu
trabalho verificar situações de vida do seu “cliente”, como por exemplo, situação familiar, atividade
profissional, influência da violência urbana na sua saúde, entre outros.
A partir dos anos 1980, os psicólogos verificaram que a população apresentava necessidades ainda não
atendidas em função de determinadas situações descritas por Belar, Deardorff e Kelly (1987), conforme
descreveremos a seguir:
Com o passar do tempo, os profissionais de saúde vêm constatando que a doença crônica impõe um
impacto maior na sociedade em função de sua característica que, independentemente do tratamento,
acarreta limitações e/ou restrições ao portador da enfermidade ao seu estilo de vida. Já as doenças
infecciosas que eram responsáveis por um grande número de mortes no século passado, vêm sendo mais
facilmente controladas pelas terapêuticas modernas, reduzindo significativamente suas complicações.
Além da adoção de hábitos saudáveis, como por exemplo cuidado com a higiene pessoal, de alimentos
que serão ingeridos; evitar a exposição de agentes patogênicos em seu local de trabalho, entre outros.
c) Maturidade da investigação nas ciências comportamentais.
A preocupação com o estudo do comportamento humano vem aumentando a cada dia, por meio da
observação do indivíduo em relação às respostas a determinadas situações, analisando o grau de
“estresse”, correlacionando-o com um padrão de possível resposta considerada dentro de parâmetros
normais.
d) Aumento dos custos dos cuidados de saúde e procura por alternativas aos cuidados de saúde
tradicionais.
A queda do poder aquisitivo, aumento da taxa de desemprego, aliado ao fato do aumento do valor
cobrado na prestação de serviços de saúde privados e aumento do valor da mensalidade, vêm
ocasionando um fator impeditivo de se manter planos de saúde de forma suplementar (planos de saúde
privados), para quem ainda tem condição de possui-los. Pois, a maioria da nossa população depende do
serviço público de saúde, que nos tempos atuais, em função da crise econômica que nos encontramos,
está sucateado, não oferecendo um atendimento digno à sociedade. Isso obriga a população a buscar
alternativas aos cuidados de saúde tradicionais, tais como acupuntura, fitoterapia, homeopatia,
massagem etc.
No que você aprendeu na aula de hoje, qual seria sua abordagem ao paciente vítima de um acidente
vascular encefálico, com grande incapacidade funcional?
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema dessa aula, leia páginas 101 – 112 do livro: ALVES,
P. C.; MINAYO, MCS. (Orgs.). Saúde e doença: um olhar antropológico [on-line]. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 1994.
A formação do profissional da área de saúde está baseada no estudo de como a doença se desenvolve e
que tipo de terapêuticas deverá utilizar para possibilitar a melhora, seguindo ainda o modelo biomédico,
dando mais importância a queixas físicas do paciente, não se preocupando com o estudo do contexto
social, cultural do paciente, com a finalidade de verificar o quanto as ações desenvolvidas durante sua
história de vida possa ter interferência com o aparecimento da enfermidade.
Em especial, é o fisioterapeuta quem terá como função acompanhar pessoas permeadas de emoções e
sofrimentos, devido à incapacidade funcional que levam o indivíduo a uma sensação de impotência e
incerteza no que diz respeito à condição de recuperação de sua doença. Esse profissional se preocupa
mais com a tratamento da doença clínica (modelo biomédico), acreditando ser suficiente para o sucesso
do tratamento, não dando a devida importância para a análise de prováveis eventos que podem ter
ocorrido durante a vida do paciente. A razão desta recusa pode estar sendo produzida pela sua formação
acadêmica, que não valoriza essa área, justificando tal posição ao afirmar que uma “aproximação maior”
pode comprometer a relação profissional-paciente (BOESCH, 1977).
O fenômeno saúde-doença não pode ser entendido à luz unicamente de instrumentos anátomo-
fisiológicos da medicina (MINAYO, 1991), mas deve considerar a visão de mundo dos diferentes
segmentos da sociedade, bem como suas crenças e cultura.
A Diretriz Curricular Nacional (CNE/CES, 2002) para o curso de graduação em fisioterapia estabelece
em seu artigo 4 que a formação do fisioterapeuta tem por objetivo dotar o profissional dos
conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais, tendo como
seu primeiro item:
I - Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a
desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual
quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e
contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar
os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus
serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta
que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução
do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo.
(CNE/CES, 2002)
Com isso, o fisioterapeuta tem se preparado melhor para esse enfrentamento. Em um primeiro momento,
os profissionais graduados há cerca de 10 anos já puderam contar com algumas disciplinas durante a sua
formação, que abordavam esse aspecto no cuidar, como por exemplo o estudo da disciplina de ciências
sociais aplicada para a área da saúde, que fazia o acadêmico mudar a concepção, que até então atendia
ao modelo biomédico.
Essa prática das ciências sociais como agente facilitador do atendimento fisioterapêutico traz pontos
bastante positivos. Ao refletirmos sobre os problemas sociais, por meio da análise do desenvolvimento
(evolução) de determinado grupo social, poderemos entender melhor as causas do aparecimento de
fatores que poderão influenciar no possível aparecimento de determinadas doenças. São os casos da
tuberculose e da dengue, que acompanham nossa sociedade há muitos anos, em função do desequilíbrio
sócio- econômico gerado pela crise econômica mundial que nos encontramos e que leva as classes
menos favorecidas a um cuidado precário com a saúde, ocasionando baixa imunidade e atuando como
agente facilitador da instalação dessas doenças.
Existem fatores que devem ser revistos na prática do fisioterapeuta, uma vez que esses profissionais
estão cada vez mais reféns da tecnologia, apesar de isso ter uma abordagem positiva, que facilita e
acelera, portanto, o processo de recuperação. Porém, observamos que este avanço, traz um retrocesso
nas relações interpessoais, se distanciando da proposta atual, que é a humanização em saúde.
Essa humanização é entendida como o resgate do respeito à vida humana por meio do estudo das
circunstâncias sociais, éticas, educacionais, psíquicas e emocionais presentes de forma diferenciada em
cada paciente (SILVA, 2011; BAZON, 2004) e que se tornam intimamente interligadas à doença física
(VILA, 2002).
Esse processo se faz presente tanto na rede privada quanto na rede pública. Sendo que, na pública quem
coordena o processo é o Sistema Único de Saúde, que estabelece as diretrizes básicas para que esse
processo de humanização venha a ocorrer. Os progressos tecnológicos na área de saúde vêm acarretando
uma característica de atendimento impessoal com grandes dificuldades em razão da burocracia, não
objetivando o direito inalienável do paciente participar no processo de decisão de opções terapêuticas.
Ampliando o foco
Para aprofundar seus conhecimentos leia o artigo: SALMÓRIA, J. G.; CAMARGO, W. A. Uma
aproximação dos signos – fisioterapia e saúde – aos aspectos humanos e sociais- Saúde Soc. São Paulo,
v.17, n.1, p.73-84, 2008. Disponível em: www.scielo.br/scielo. Acesso em: 9 jun. 2017.
ENCERRAMENTO UNIDADE 4
A atitude do doente é influenciada pela concepção social a que pertence a sua doença.
Afastamento do modelo biomédico na prestação de cuidados e medicalização de cuidados que
tenderia a encerrar o usuário em quadros teóricos pré-estabelecidos.
Motiva os profissionais para uma reflexão sobre sua própria cultura e suas tradições, bem como
para as próprias representações de cuidados.
Contribui para a prática mais consciente dos profissionais de saúde, a partir do reconhecimento da saúde
e doença enquanto processos socioculturais. Portanto, a antropologia da saúde e da doença apresenta
possibilidades de se repensar em políticas de saúde mais humanitárias, além de possibilitar a
ressignificação das atividades cotidianas dos profissionais de saúde.
Fornece elementos que proporcionem a compreensão do homem em suas dimensões social e cultural,
relacionando-as ao processo saúde-doença. Compreender as representações de saúde e doença.
Resumo da Unidade
Atividades
Além do estudo dos roteiros, do livro da disciplina, das leituras complementares e dos vídeos das
unidades, você deverá realizar as atividades pontuadas que se encontram no ambiente virtual de
aprendizagem. Acompanhe os prazos de envio das avaliações no documento “Calendário e Critérios de
Avaliação”, na introdução da disciplina.
VÍDEO DE ENCERRAMENTO
Vencimento 28 mai por 23:59
Pontos 100
Contribuição do fisioterapeuta para o sujeito em formação da sua personalidade e na reabilitação do
sujeito com transtorno mental como seres biopsicossociais.
Este trabalho o aluno deverá construir um texto de no mínimo três páginas e segundo as regras da
ABNT.
Construir um posicionamento crítico, descrevendo sobre as influências na formação da personalidade e
o ser humano como sujeito biopsicossocial, contextualizando os desafios contemporâneos da cultura e a
posição do homem na sociedade. A partir do seu texto identifique as influências/ causas do surgimento
ou reforço dos transtornos mentais. Ao finalizar seu texto aborde a contribuição do fisioterapeuta na
reabilitação do sujeito com transtorno mental como ser biopsicossocial.
Procedimentos para elaboração do TD