Você está na página 1de 71

PARASITOLOGIA

CLÍNICA

Coccídios Intestinais
Profª. Ástrid Camêlo Palmeira
E-mail: astrid.nassau@gmail.com
Coccídios
• Importantes patógenos - protozoários emergentes
e oportunistas;

• São parasitas intracelulares obrigatórios;

• No homem: parasitam as células epiteliais do


intestino;

• Indivíduos imunocompetentes - pouco patogênicos


Indivíduos imunocomprometidos - podem ser fatais
Coccídios
• Parasitos encontrados em várias espécies de
animais, como mamíferos, aves e repteis.
• Fazem parte do Filo “Apicomplexa”

Esporozoário - Complexo apical


Classificação taxonômica

• Filo: Apicomplexa
• Classe: Sporozoea
• Subclasse: Coccidia
• Ordem: Eucoccidiida
• Subordem: Eimeriina
• Família: Eimeriidae
• Gêneros
• Espécies
Coccídios
• Algumas espécies de Coccídios intestinais no
homem:

– Cystoisospora belli

– Cryptosporidium parvum

– Cyclospora cayetanensis
Ciclo Vital dos coccídios

• Ciclo assexuado e sexuado

– Esporozoíta – adesão pelo complexo apical –


invasão celular – esquizogonia – esquizonte –
merozoítos
– Merozoítos: podem gerar novo ciclo assexuado ou
produzir ciclo sexuado.
Ciclo Vital dos coccídios

• Ciclo sexuado:

– Merozoítos – diferenciação em gametócitos –


microgametócitos (masculino) e
macrogametócitos (feminino) – fecundação – ovo
ou zigoto – oocisto
– Oocisto – liberação de esporozoítos – início de um
novo ciclo.
Cystoisospora belli
Cystoisospora belli
• O parasita Cystoisospora belli é o
causador da doença cistoisosporíase
humana.

• Esta espécie infecta exclusivamente


humanos, embora outras espécies
sejam capazes de infectar outros
animais.
Ciclo
evolutivo
Ciclo
evolutivo
Ciclo
evolutivo
Ciclo evolutivo
Homem se
infecta

Formação de
novos Ingestão de
oocistos oocistos
(alimentos e água)

Reprodução
assexuada Esporocistos
(esquizogonia) e liberados dos
sexuada oocistos

Invadem o intestino
delgado ➔ íleo

Após a liberação, os oocistos tornam-se


infectantes após 4-6 dias.
Oocistos de Cystoisospora belli
Oocisto de Cystoisospora belli

Ilustração disponível em Rey, 2010


Cystoisospora belli

• Oocistos

– Elípticos com extremidades estreitas;


– Medem 30 x 12 μm;
– Parede cística dupla;
– Encontrados nas fezes na forma imatura com
presença de massa citoplasmática nucleada e
cheia de granulações, com regiões polares
livres.
Parasito no epitélio
Oocisto imaturo

Ilustração disponível em http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/html/ImageLibrary/Cystoisosporiasis_il.htm


Oocistos imaturos

Corado pela técnica de safranina.

Corado pela técnica de Kinyoun


(ácool-ácido-resistência modificado).

Ilustração disponível em http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/html/ImageLibrary/Cystoisosporiasis_il.htm


Oocisto de C. belli visualizados em microscopia
com U.V

Ilustração disponível em http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/html/ImageLibrary/Cystoisosporiasis_il.htm


Transmissão e epidemiologia
• Transmissão por água ou alimentos contaminados,
contendo oocistos do Cystoisospora belli.

• Parasito cosmopolita e com baixa frequência até


1970. Com o surgimento da AIDS, o número de
casos aumentou.

• Já chegou até 10% de prevalências em pacientes


com AIDS. Entretanto, estudos mais recentes
mostram uma prevalência de 1 a 5% nestes
pacientes.
Patogenia e manifestações clínicas

• Sinais e sintomas

– Desenvolvimento de síndrome de má absorção;


– Perda do apetite, astenia, dor de cabeça, náusea,
evacuações com cólicas e dores abdominais;
– Início pode ser súbito com febre e diarreia;
– Cura espontânea e completa.
Patogenia e manifestações clínicas
Patogenia e manifestações clínicas
Diagnóstico

• Pesquisa de oocistos nas fezes, em aspirados


ou biópsias de intestino delgado;

• Para aumentar a sensibilidade diagnóstica -


métodos de concentração do material fecal;

• Técnicas de coloração

• Técnicas de biologia molecular


• Na coloração de Kinyoun ou Ziehl
Neelsen modificado, os oocistos
apresentam coloração vermelha.
Métodos
de • Utilizando a coloração auramina-
coloração rodamina por imunofluorescência,
os oocistos apresentam coloração
amarelo-esverdeada.
Coloração de Kinyoun
(Ziehl Neelsen modificado)
Coloração auramina-rodamina
por imunofluorescência
Tratamento
Prevenção e Controle

• Melhorias em saneamento básico;


• Higiene adequada dos alimentos;
• Educação sanitária para melhorias na higiene
pessoal.
Cryptosporidium spp
Cryptosporidium spp
• Causadores da doença criptosporidiose;

• Primeiros casos em humanos ocorreram em


1976. Crianças com gastroenterite grave e
pacientes imunossuprimidos.

• Na década de 80, devido a AIDS, este


parasita ficou conhecido como um
importante patógeno oportunista (diarreia
crônica de difícil tratamento)
Cryptosporidium spp.

• Parasitos encontrados em grande


número de animais: mamíferos,
aves, répteis e peixes;

• As espécies de aves e mamíferos podem


contaminar o homem.

• Protozoário causador da diarreia;


Espécie Principais hospedeiros
C. parvum Humanos e muitas espécies de
mamíferos silvestres e domésticos
C. hominis Humanos e macacos
C. canis Cão, homem
C. felis Gato, homem
C. baileyi Frangos de corte, aves
C. muris Camundongo, rato, homem
C. andersoni Bovinos
C. crotali Répteis
C. nasorum Peixes
Epidemiologia

• Encontrada em todos os continentes


• Prevalência dependente de:
– idade,
– hábitos e costumes das populações,
– época do ano,
– área geográfica,
– densidade populacional,
– estado nutricional da população e o estado de
imunocompetência dos indivíduos.
Epidemiologia

• 250 a 500 milhões de casos anuais de infecção por


Cryptosporidium spp. na Ásia, África e América
Latina;
• Ampla distribuição geográfica no Brasil;
• Oocistos resistentes a desinfetantes;
• Pacientes com AIDS eliminam grande quantidade de
oocistos;
• Prevalência maior em crianças de 6 meses a 3 anos.
Ilustração disponível em www.dpd.cdc.gov
Ciclo evolutivo

• Oocistos esporulados são excretados pelo


hospedeiro infectado nas fezes e
possivelmente em outras vias (p. ex.,
secreções respiratórias).

• Os oocistos são infectantes quando


excretados; assim, a transmissão fecal-oral
direta e imediata é possível.
Ciclo evolutivo

• Os oocistos são ingeridos (ou possivelmente


inalados) e liberados.
• Esporozoítos são liberados e parasitam as células
epiteliais do trato gastrintestinal ou de outros
tecidos (p. ex., trato respiratório).
• Nessas células, os parasitas se transformam em
trofozoítos e se multiplicam de forma assexuada, e,
depois, sexuada, produzindo microgamontes
(machos) e macrogamontes (fêmeas), que se
acasalam e produzem oocistos.
Ciclo evolutivo

• Dois tipos de oocistos são produzidos:


• oocistos de parede espessa -
comumente excretados pelo
hospedeiro;
• oocistos de parede fina - envolvidos
principalmente na autoinfecção.
Ilustração disponível em
http://www.coccidia.icb.usp.br/disciplinas/BMP222/aulas/Sarcocystis_Cryptosporidium_2011.pdf
Oocistos presentes nas células epiteliais
intestinais. Intestino delgado de ovelha

Ilustração disponível em www.coccidia.icb.usp.br


Meronte de Cryptosporidium com membrana
externa destruída, expondo merozoítos.
Intestino delgado de ovelha – micrografia
eletrônica de varredura

Ilustração disponível em www.coccidia.icb.usp.br


Transmissão
• Fecal-oral: Pessoa a pessoa; Animal a pessoa;
• Ingestão ou inalação de oocistos esporulados;
• Transmissão depende:
o nível de contaminação do ambiente;
o sobrevivência dos oocistos no meio;
o resistência dos mesmos ao tratamento de
água.
Patologia

– Oocistos aderidos a microvilosidades: sindrome


de má absorção com destruição das
microvilosidades sem lise celular;
– Enterocolite aguda com cura espontânea de
1 a 2 semanas;
– Sintomas mais severos em crianças;
– Imunocompetentes: quadro benigno e
autolimitante com duração de 10 dias;
– Dor abdominal, anorexia, febre, dor de
cabeça, náusea e vômito.
Patologia

• Imunodeficientes:
– Diarreia crônica que pode durar meses;
– Evacuação frequente e volumosa;
– Desequilíbrio eletrolítico;
– Cólicas, flatulência, dor epigástrica, náusea,
vômito e mal estar;
– Desidratação e caquexia;
– Mortalidade elevada;
Diagnóstico
Esfregaço de fezes contendo oocistos de Cryptosporidium parvum
corados pela técnica de Kinyoun (álcool-ácido-resistente modificado)

Ilustração disponível em www.dpd.cdc.gov


Oocistos de Cryptosporidium sp.
visualizados com imunofluorescência

Ilustração disponível em http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/html/ImageLibrary/Cryptosporidiosis_il.htm


Tratamento

• Cura espontânea para imunocompetentes;


• Sem tratamento eficaz para imunodeficientes;
• Nitazoxanida: eficácia no tratamento da
criptosporidiose em crianças e adultos
imunocompetentes;
• Espiramicina, paramomicina e azitromicina diminuem
a gravidade da infecção;
• Reidratação
Cyclospora cayetanensis
Cyclospora cayetanensis

• Causador da doença ciclosporíase ou


ciclosporidiose;

• Tipo de reprodução:
– Assexuda: esquizogonia
– Sexuada: gametogonia e esporogonia

• Reservatório:
– Homem
Cyclospora cayetanensis

• Oocisto semelhante o oocisto de


Cryptosporidium;
• Esférico, membrana dupla ,
apresentando 8-10 µm de diâmetro (2x
maiores do que os oocistos de
Cryptosporidium).
Ilustrações disponíveis em http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/html/ImageLibrary/Cyclosporiasis_il.htm
Oocisto de C. cayetanensis corado
com safranina

Oocisto de C. cayetanensis visível


à microscopia de UV.

Ilustrações disponíveis em http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/html/ImageLibrary/Cyclosporiasis_il.htm


Epidemiologia
• O primeiro caso de infecção humana por Cyclospora
foi descrito em 1979;
• Crescente número de casos da doença em
vários países incluindo Guatemala, Venezuela, Nova
Guiné, Cuba, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Haití,
Colombia, Turquía, Peru, Nepal, Egito, entre outros.
• Foram observados surtos relacionados ao
consumo de framboesas e manjericão nos EUA e
Canadá.
Epidemiologia

• Nas áreas endêmicas, é frequente


a presença de portadores
assintomáticos;

• Período de incubação de
aproximadamente 7 dias quando
os sintomas de diarreia intensa
começam a aparecer.
Ilustração disponível em www.dpd.cdc.gov
Ilustração disponível em www.dpd.cdc.gov
Ciclo Evolutivo
• 1. Os oocistos não esporulados são excretados
pelo hospedeiro infectado nas fezes.

• 2–3. Os oocistos esporulam no meio ambiente


após 1 ou 2 semanas a temperaturas entre 22
e 32° C.

• 4. Os oocistos esporulados contaminam os


alimentos ou a água. O mecanismo da
contaminação não foi estabelecido.
Ciclo Evolutivo
• 5. Os oocistos esporulados são ingeridos em
alimentos ou água contaminados.

• 6. Os oocistos se excistam no trato gastrintestinal,


liberando os esporozoítos, que invadem as células
epiteliais do intestino delgado.

• 7. No interior das células, se multiplicam de forma


assexuada e se desenvolvem a forma sexuada
para amadurecer em oocistos, que são eliminados
nas fezes.
Transmissão

• Ingestão de oocistos esporulados através da


água e alimentos contaminados;

• Sem transmissão direta pela necessidade de


esporulação no ambiente
Patologia

• Assintomáticos
• Sintomáticos:
– Diarreia: autolimitada que dura 3 a 4 dias com
aproximadamente 4 a 10 evacuações diárias e
explosivas;
– Podem ocorrer recaídas frequentes durante um
período de 2 a 3 semanas;
– Evacuação de aspecto não sanguinolento, mas
com presença de muco
Patologia

• Outros sintomas:
– dor abdominal, náuseas e vômitos, perda de peso,
fadiga e febre baixa

• Em indivíduos imunocomprometidos o
quadro diarreico é crônico e intermitente
Diagnóstico

Diagnóstico parasitológico:
• Pesquisa de oocistos (imaturos) nas fezes (o
número de oocistos eliminados nas fezes é muito
baixo);

• Técnicas de coloração:
– Kinyoun (coloração vermelha): oocisto
ácido resistente - variável
– Safranina-azul-de-metileno
Diagnóstico

• Diagnóstico diferencial com C. Parvum :


– tamanho do oocisto / ácido-resistência-variável /
necessidade de esporulação

• Outros métodos:
– Biópsia de jejuno
– PCR
Tratamento
• Adultos
– Sulfametoxazol (SMX) - 800 mg
– Trimetoprim (TMP)- 160 mg
2 vezes ao dia por 7 dias.

• Para crianças, a dose deve ser mais baixa e para


imunocompetentes, a dose deve ser mais alta e o
tratamento mais longo.
Forma
Tamanho Estrutura do
Espécie encontrada Ilustração
(µm) oocisto
nas fezes

2 esporocistos
Cystoisospora Oocisto não com 4
30 x 12
belli esporulado esporozoítos
cada

Cryptosporidium Oocisto
4–5 4 esporozoítos
parvum esporulado

2 esporocistos
Cyclospora Oocisto não com 2
8 -10
cayetanensis esporulado esporozoítos
cada
Cyclospora sp., Cryptosporidium sp., and Cystoisospora belli

Oocistos em esfregaço de fezes corado por técnica de


Ziehl-Neelsen modificada:
A -Cryptosporidium parvum;
B - Cyclospora cayetanensis;
C - Cystoisospora belli.
A B C
Oocistos em esfregaço de fezes corado por técnica do
azul-de-metileno−safranina:
D -Cryptosporidium parvum;
E - Cyclospora cayetanensis;
F - Cystoisospora belli.
D E F

G H I

Montagem a fresco:

G – Cyclospora cayetanensis - seqüência mostrando evento de esporulação a partir de um oocisto


não esporulado (à esquerda) até um oocisto esporulado contendo dois esporocistos (à direita);

H – Cystoisospora belli;

I - Microscopia de epifluorescência.
Safer · Healthier · People

Você também pode gostar