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Ascaridíase

Objetivos da aprendizagem
• Observar caso clínico de Ascaridíase
• Avaliar exame diagnóstico correto
• Analisar os aspectos epidemiológicos
• Conhecer o tratamento utilizado

• Identificar as formas de vida do verme • Compreender as medidas profiláticas no


combate a parasitose
• Compreender o ciclo biológico da parasitose

• Conhecer as manifestações clínicas

• Compreender a patogenia das formas de vida do Ascaris

• Relacionar a patogenia com os sinais e sintomas


VILLELA et al., 16(supl 1)(3) - 2016- GASTROENTEROLOGIA

CBS, feminina, 10 anos, parda, previamente hígida, com quadro de vômitos e inapetência há
três dias associados a dor periumbilical leve que evoluiu para intensa há um dia, com piora do
estado geral. Antecedentes pessoais: dor abdominal leve e intermitente há 20 dias.
Antecedentes familiares: seis irmãos com quadro semelhante de dor abdominal recorrente.
Exame físico inicial: regular estado geral, descorada 1+/4+, desidratada 2+/4+, anictérica, fácies
de dor, apática, taquicárdica e taquipneica. Abdome plano, parede tensa, ruídos hidroaéreos
diminuídos, dor intensa à palpação superficial e profunda difusamente, descompressão brusca
dolorosa. Presença de pediculose. Exames laboratoriais iniciais: hemograma com leucocitose;
amilase, lipase e desidrogenase lática elevadas. A tomografia computadorizada de abdome
revelou pancreatite, sem anormalidades em fígado, vesícula biliar ou vias biliares. A conduta
inicial foi internação em unidade de terapia intensiva, jejum, hidratação venosa, analgesia,
monitorização, antibioticoterapia e Ivermectina. Durante a internação, a paciente eliminou
grande quantidade de Ascaris lumbricoides através dos vômitos e evacuações, sendo iniciado
tratamento com Albendazol por cinco dias. Evoluiu com estabilidade clínica e hemodinâmica,
bom estado geral, recebendo alta hospitalar no 13° dia de internação.
VILLELA et al., 16(supl 1)(3) - 2016- GASTROENTEROLOGIA

CBS, feminina, 10 anos, parda, previamente hígida, com quadro de vômitos e inapetência há
três dias associados a dor periumbilical leve que evoluiu para intensa há um dia, com piora do
estado geral. Antecedentes pessoais: dor abdominal leve e intermitente há 20 dias.
Antecedentes familiares: seis irmãos com quadro semelhante de dor abdominal recorrente.
Exame físico inicial: regular estado geral, descorada 1+/4+, desidratada 2+/4+, anictérica, fácies
de dor, apática, taquicárdica e taquipneica. Abdome plano, parede tensa, ruídos hidroaéreos
diminuídos, dor intensa à palpação superficial e profunda difusamente, descompressão brusca
dolorosa. Presença de pediculose. Exames laboratoriais iniciais: hemograma com leucocitose;
amilase, lipase e desidrogenase lática elevadas. A tomografia computadorizada de abdome
revelou pancreatite, sem anormalidades em fígado, vesícula biliar ou vias biliares. A conduta
inicial foi internação em unidade de terapia intensiva, jejum, hidratação venosa, analgesia,
monitorização, antibioticoterapia e Ivermectina. Durante a internação, a paciente eliminou
grande quantidade de Ascaris lumbricoides através dos vômitos e evacuações, sendo iniciado
tratamento com Albendazol por cinco dias. Evoluiu com estabilidade clínica e hemodinâmica,
bom estado geral, recebendo alta hospitalar no 13° dia de internação.
Helmintos mais frequentes em humanos
Forma de Via de
Espécie Doença Fonte de infecção Veículo de transmissão
transmissão penetração
Wuchereria
bancrofti
Filariose linfática Humanos Larva (L3)
Picada do Culex
quinquefasciatus
Pele  ok
Schistosoma.
mansoni
Esquistossomose Humanos Cercárias Água Pele  ok
T. solium e
saginata
Teníase Suínos e bovinos Cisticercos Carne de porco e boi Oral  ok
T. solium Cisticercose Humanos Ovos Alimentos Oral  ok
Enterobius
 ok
Enterobiose Humanos Ovos Mãos contaminadas Oral
vermicularis
Ascaris
Ascaridíase Humanos Ovos Alimentos Oral
lumbricoides
Strongyloides
Estrongiloidíase Humanos Larvas (L3) Solo Pele
stercoralis
Ancylostoma
Ancilostomíase Humanos Larvas (L3) Solo Pele
duodenalis

T. trichiura Tricuríase Humanos Ovos Alimentos Oral

Toxocara canis e
Toxocaríase Cães/gatos Ovos Solo contaminado Oral
cati
ASCARIDÍASE

• Ascaris lumbricoides: parasitam intestino delgado (jejuno e íleo) de humanos


e suínos
• Presos à mucosa através dos lábios ou migram pela luz intestinal
• Ascaris errático
• Tamanho: carga parasitária e do estado nutricional do hospedeiro
Classificação dos parasitos causadores da
REINO: Ascaridíase
Animalia
Parasitos em forma de fio (nêmatos)
FILO: Vermes cilíndricos e alongados
Nematoda Simetria bilateral

ORDEM:
Rhabditida

FAMÍLIA:
Ascarididae

Gêneros:
Ascaris

ESPÉCIES:
• Ascaris lumbricoides
Aspectos epidemiológicos
• Importante helmintíase transmitida pelo solo
– Ascaris lumbricoides (lombriga), Trichuris trichiura e ancilostomídeos (Necator
americanus e Ancylostoma duodenale).

• Distribuição mundial; Doença tropical negligenciada

• Prevalência: ~ 1,5 bilhões de pessoas (30%); 70 a 90% das crianças entre 1 a 10 anos;
Ásia (73%), África (12%) e América latina (8%)

• Associação a fatores socioeconômicos; hábitos de higiene; condições sanitárias;


educação; clima tropical; densidade populacional

• Verminose mais frequente em países pobres


Aspectos epidemiológicos
• Fatores que interferem na prevalência:
I. Eliminação de grande quantidade de ovos (200.000)
II. Sobrevivência dos ovos: até 1 ano peridomicílio
III. Transmissão: água ou alimentos; poeira, aves e insetos
IV. Habito de defecar no peridomicílio
V. Saneamento precário
VI. Temperatura e umidade ideal
VII. Conceitos equivocados sobre transmissão e hábitos de higiene
WHO – Doenças transmitidas pelo solo, incluindo ascaridíase (2017)
• Número de crianças em idade pré e escolar necessitando de quimioterapia preventiva
WHO – Doenças transmitidas pelo solo, incluindo ascaridíase (2017)
• Número de crianças em idade pré e escolar necessitando de quimioterapia preventiva

11.468.150 9.398.696
Formas de vida
Vermes adultos- Machos
• Machos
- Adultos: 20 a 30 cm
- Vestíbulo bucal contendo 3 fortes lábios e serrilhas de
dentículos
- Extremidade posterior: 2 espículos que auxiliam a cópula
- Possui face posterior encurvada o que o difere da fêmea
Formas de vida
Vermes adultos- Fêmeas
- 30 a 40 cm
- Apresenta vestíbulo bucal contendo serrilhas de dentículos
- Possui face posterior retilínea o que a difere do macho
Férteis com membrana mamilonada

Formas de vida
Ovos
• Acastanhados (fezes)
• 50 x 60µm; ovais; cápsula espessa
Férteis decorticados
• Membrana externa mamilonada (mucopolissacarídeos -
aderência)
• Membrana média (proteica); interna (impermeável a água –
condições adversas do meio)
• Internamente: massa de células germinativas
• Ovos inférteis: alongados e membrana mamilonada delgada ou
decorticado; citoplasma granuloso (fêmeas isoladas ou mais Inférteis
numerosa)
- Permanência no solo: até um ano
- Ovos: abundantes no chão do peridomicílio poluído com fezes
humanas, ar, poeira (ação dos ventos)
https://www.cdc.gov/dpdx/ascariasis/index.html
Ciclo biológico • Monoxênico
• Ovos amadurecem no solo (2 semanas)
• Ingestão de ovos embrionados (larva L3)
• Eclosão no ID (agentes redutores, pH,
temperatura, sais e concentração de CO2)
• Linfáticos e mesentéricas
• Fígado (18 a 24hrs após)
• Átrio direito (2 a 3 dias)
• Pulmões (4 a 5 dias)
• 8 dias (Larvas L4)
1 a 2 anos no hosp. • Alvéolos (L5)
• Árvore traqueo-brônquica - faringe
(expulsão ou deglutição)
• Estômago – fixação no ID(verme adulto-
30 dias)
• Vermes adultos (20 a 30 dias)
• Cópula; oviposição (60 dias)

200mil ovos não embrionados; 15 dias para maturação: temperatura (20 e 30ºC) , umidade (70%) e O2
Transmissão
• Ingestão de água e alimentos contaminados
• Irrigação de hortas com água contaminada
• Poeira, aves e insetos veiculam os ovos
• Depósito subungueal em crianças
Manifestações clínicas
Período pré-patente
– Encontro de ovos nas fezes (60 a 75 dias)
• Forma assintomática
• Forma sintomática
– Relaciona-se ao grau de infecção (número de ovos ingeridos – larvas e vermes adultos)
– Síndrome de Löeffler (ciclo pulmonar da larva)
• Tosse, febre, dispneia, manifestações alérgicas, bronquites, pneumonia
• Importante eosinofilia: 10 a 30%
– Presença dos vermes adultos no Intestino delgado (Jejuno e Íleo)
• Dor abdominal, diarreia, náuseas, anorexia, fraqueza.
• Complicações
– Obstrução intestinal (fecaloma, apendicite, vômitos com fezes), volvo (torção), perfuração
intestinal, colecistite (inflamação da vesícula) , colelitíase (cálculo biliar), pancreatite aguda
e abcesso hepático
Patogenia
• Larvas (lesão pulmonar e hepática)
– Síndrome de Löeffler (sintomas respiratórios, focos hemorrágicos, edema
alveolar, infiltrado polimorfonuclear
– Reação de hipersensibilidade (IgE específicos)
– Lesões hepáticas (focos hemorrágicos e necrose)
– Tosse seca ou com muco: pode ser sanguinolenta e apresentar larvas
(frequente em criança mas depende de estado nutricional e imunitário)
– Infecção baixa intensidade: ausência de alterações

NASAL: Necator, Ancylostoma, Strongyloides, Ascaris e Larva migrans- ciclo


pulmonar
Vermes adultos
Patogenia
• Infecção de baixa intensidade:3 a 4 vermes (assintomática)
• Infecção média: 30 a 40 vermes
• Infecção maciça: 100 ou mais vermes
- Ação espoliadora (subnutrição): vermes consomem proteínas, carboidratos,
lipídios e vitaminas (prejuízo físico e mental)
- Ação tóxica: edema, convulsão, urticária
- Ação mecânica: irritação da pele e obstrução do intestino
- Localização ectópica: alta carga parasitária, febre, uso impróprio de
medicamento e ingestão de alimentos condimentados (ascaris errático)
- “Pano”: despigmentação circunscrita (vit A e C)
Patogenia
• Casos mais graves

• Apendicite (TETA= Taenia, Enterobius, Trichuris e Ascaris)


• Obstrução do canal colédoco: leva a bile ao duodeno
• Pancreatite: obstrução do ducto pancreático
• Eliminação do verme pela boca e narinas (ouvido médio, narina e tuba
uterina)
Diagnóstico
• Clinico
– Assintomático
– Sintomático – sintomas respiratórios (Síndrome de Löeffler) ou
intestinais; quadros agudos de obstruções...
• Direto – Parasitológico
– EPF: encontro de ovos de A. lumbricoides (HPJ e Kato-katz)
Diagnóstico
. Infecções somente com fêmeas: gera ovos inférteis
. Infecções com machos: pesquisa de ovos sempre negativa
. Controle de cura: EPF 7, 14 e 21 dias pós tratamento

• Exames de imagem: caso de obstrução ou localização


ectopica
Tratamento - Farmacológico
Múltiplas parasitoses: primeiro a ser tratado

Formas não-complicadas
• Albendazol (ovicida, larvicida e vermicida ~100%)
• Contraindicado na gravidez; ação teratogênica; efeitos colaterais
• Mebendazol (~95%)
– Contraindicado na gravidez; ação teratogênica; efeitos colaterais
• Ivermectina (85 a 100% de eficácia)
• Contraindicado na gravidez; pacientes com alterações no SNC; efeitos colaterais; crianças abaixo de 5 anos
• Levamisol
Formas complicada – obstrução intestinal
• Piperazina registro (1010701230013) vencido em 2003
• Gastrografina- pediatria ambulatorial

Existem ovos resistentes a agentes terapêuticos


Tratamento - Farmacológico
- Uso de benzimidazóis (albendazol e mebendazol) em gestantes com Ascaris e
Ancylostoma (OMS) : dose única após primeiro trimestre
Tratamento
Em casos de obstrução biliar e pancreática, procede-se à retirada endoscópica dos vermes. Se
houver falha, recorre-se à cirurgia.
• Obstrução intestinal:
. Jejum
. Recuperar equilíbrio hidroeletrolítico
. Sonda nasogástrica
. Óleo mineral
. Droga: gastrografina (diatrozoato de sódio e de meglumine) (referência: livro de pediatria
ambulatorial)
. Tratamento cirúrgico
Profilaxia
• Medidas de educação em saúde: evitar as possíveis fontes de
infecção, ingerir vegetais cozidos e lavar bem e desinfetar verduras
cruas, higiene pessoal e na manipulação de alimentos; proteção
dos alimentos contra insetos e poeiras

• Saneamento

• Tratamento dos doentes

• Tratamento em massa das populações


Pediatria: Ascaris x Taenia x Enterobius

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