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10.2 CLASSIFICAÇÃO
A principal classificação utilizada para as queimaduras considera a profundidade da
lesão. São consideradas de espessura parcial aquelas em que há preservação da
integridade de alguma porção das camadas da pele e de espessura total quando
todas essas camadas estão lesadas (Figura 10.2).
• Coagulação central: são tecidos do centro da queimadura que estão inviáveis, com
lesão irreversível;
• Estase intermediária: caracteriza-se, inicialmente, por dilatação dos vasos
sanguíneos e difusão capilar. Depois de 24 a 48 horas, os capilares dilatados são
obstruídos, resultando na conversão desses tecidos na zona de coagulação, cuja
lesão pode ser reversível com tratamento apropriado: resfriamento, reposição de
líquidos e cuidados intensivos;
• Hiperemia externa: é formada por tecidos edemaciados viáveis.
Se não for realizada reposição hídrica adequada após a lesão térmica, o quadro de
desidratação e perda de líquido para o terceiro espaço aumenta o risco de choque
hipovolêmico, podendo ser agravado pela perda contínua de água pela superfície
queimada, além de levar à redução da perfusão renal, com evolução para oligúria e
insuficiência renal aguda.
A lesão térmica das vias aéreas superiores está associada às queimaduras de face e
tórax. O quadro clínico sugestivo é de edema de face, estridor, roncos e queimaduras
de vibrissas nasais. A obstrução da via aérea pode ocorrer nas primeiras 2 a 4 horas
após a queimadura ou um pouco mais tardiamente, após hidratação. Por isso, é
recomendado manter o indivíduo em observação de 24 a 36 horas. Deve-se, ainda,
manter o máximo de atenção aos sinais e sintomas. Na suspeita, a intubação
orotraqueal (IOT) precoce é o tratamento de escolha, antes que se desenvolva
edema progressivo com a obstrução completa da via aérea. Quando há dificuldade,
pode-se utilizar a broncoscopia com visão direta, mas esse procedimento não deve
retardar a via aérea definitiva em caso de dúvida. Após 2 a 3 dias, o edema
geralmente diminui. Os indicadores clínicos dessa resolução incluem capacidade do
paciente de abrir os olhos, visualização da anatomia externa do pescoço,
principalmente da cartilagem tireoide e da borda anterior do músculo
esternocleidomastóideo, e capacidade de ventilar com o balão de tubo endotraqueal
desinsuflado. A traqueostomia reserva-se a pacientes que necessitem de mais de 2
a 3 semanas de intubação. A cricotireoidostomia permite o acesso na urgência em
adultos, sendo indicada em último caso às crianças.
Nas lesões de via aérea baixa ou por inalação, ocorre uma pneumonite química cujo
quadro clínico é semelhante ao da síndrome da angústia respiratória no adulto. Os
produtos químicos presentes na composição do agente inalado causam intensa
reação inflamatória com fechamento dos bronquíolos e atelectasia. A história típica
caracteriza-se pela inalação em ambiente fechado e o quadro clínico, por
queimadura de vibrissas, face, lábios, pescoço e região superior do tórax, nariz
chamuscado, eritema e ulceração da boca, respiração ruidosa, retração intercostal,
quadro broncoespástico e presença de partículas de carbono. A radiografia inicial de
tórax é normal, mas costuma apresentar infiltrados intersticiais nas primeiras 24 a
48 horas. A lesão é considerada grave quando há necessidade de ventilação
mecânica por mais de 96 horas, relação PaO2/FiO2 menor que 250 mmHg, com
FiO2 de 100% e radiografia de tórax com edema intersticial difuso. O diagnóstico
precoce se faz por broncoscopia. Devem ser realizadas IOT e ventilação mecânica
com FiO2 maior que 50% e limpeza frequente com aspiração da via aérea. A
antibioticoterapia não deve ser usada profilaticamente e os corticoides não
mostraram eficácia.
10.4.2 Ventilação
Devem ser realizadas duas incisões bilaterais na linha axilar anterior para a liberação
torácica, e, caso elas não sejam suficientes, podem ser interligadas por uma incisão
horizontal na margem do gradeado costal como um grande “H” para a liberação
abdominal (Figura 10.5).
10.4.3 Circulação
É o mais confiável dos métodos, em que varia a representação das áreas da cabeça e
dos membros inferiores com a idade, sendo assim o mais utilizado nas unidades de
queimados. No entanto, é pouco prático na Emergência, porque é difícil a
memorização das tabelas.
10.4.4 Neurológico
O resfriamento com água fria nas queimaduras causa alívio, mas só deve ser usado
em queimaduras pequenas, para não causar hipotermia, sendo contraindicado nos
locais de queimaduras com mais de 10% de SCQ. Envolver com toalhas secas
diminui a contaminação e atenua a dor, pois evita o contato com o ar.
O grande queimado apresenta uma resposta hipermetabólica, por isso tem grande
gasto energético. Essa situação persiste enquanto as feridas permanecem abertas,
portanto o suporte nutricional deve ser iniciado em todo grande queimado o mais
precocemente possível, de preferência por via enteral, por menor incidência de
complicações, manutenção do trofismo intestinal e diminuição da translocação
bacteriana.
10.5.3 Nutrição
• Adultos:
• Crianças:
40 a 60 kcal x P
Como cerca de 20% desenvolvem íleo paralítico nas primeiras 24 horas, deve ser
passada sonda nasogástrica. As úlceras gástricas pelo estresse, também chamadas
úlceras de Curling, são comuns em pacientes queimados. Por isso, sempre se deve
realizar profilaxia com protetor gástrico.
A complicação infecciosa mais comum é a pneumonia, uma vez que esses pacientes
normalmente apresentam algum grau de lesão térmica da via aérea e
frequentemente são colocados em ventilação mecânica. A infecção urinária pode
ser evitada com os cuidados e a troca regular da sonda vesical. As feridas podem
evoluir com sinais infecciosos, mas a sepse é rara partindo desse foco.
Outra situação é a chamada flash burn, em que não existe de fato a passagem de
corrente pelo organismo. Na verdade, ocorre uma explosão, e a queimadura é
causada por fogo. Não há portas de entrada ou de saída da lesão e as feridas são
mais simples e menos profundas. É essencial a investigação completa do trauma,
pois costuma estar associado a explosões com risco de fraturas e traumas
abdominais. A lesão cardíaca é extremamente rara, com arritmias transitórias. A
monitorização cardíaca deve ser instituída nas primeiras 24 a 48 horas.
Nas queimaduras elétricas, ocorre lesão renal por conta da destruição de tecido
muscular, com liberação de mioglobina e a sua excreção renal (mioglobinúria). Esse
pigmento gera nefrotoxicidade e risco de insuficiência renal. Para evitar tal quadro
em traumas elétricos, devem-se realizar uma hiper-hidratação com 4 mL/kg/% de
superfície corpórea queimada de cristaloide em 24 horas, alcalinização da urina e
estímulo de diurese osmótica com manitol a fim de facilitar a eliminação de
pigmentos de mioglobina.
Geralmente são mais profundas do que parecem. Podem ser causadas por ácidos,
álcalis, fenol ou fósforo. Deve-se evitar tentativas de antagonizar o agente externo.
Em geral, o tratamento principal deve ser lavagem abundante com água ou soro
fisiológico em temperatura ambiente. As queimaduras por ácidos são dolorosas,
com ulcerações e lesões por necrose. Já as queimaduras por álcalis são mais
comuns no cotidiano, sendo mais profundas do que as provocadas por ácidos, e a
maioria exige internação. Sua fisiopatologia envolve, entre outros processos, a
saponificação dos lipídios do tecido celular subcutâneo. A conduta inicial é a
lavagem do paciente com água corrente a temperatura ambiente em grande
quantidade. O uso de ácidos nesse momento ocasiona uma reação química
exotérmica, com maior perda de calor do paciente.
10.7 TRANSFERÊNCIA PARA O CENTRO
ESPECIALIZADO EM QUEIMADOS
Alguns pacientes devem ser encaminhados para avaliação em unidades
especializadas no tratamento de pacientes queimados, enquanto outros, mesmo
nessas unidades, devem ser internados.