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QUEIMADURAS

1. CONHECER OS TIPOS E AGENTES CAUSADORES DE QUEIMADURAS:

1. INTRODUÇÃO:
- As queimaduras são feridas que resultam de lesões traumáticas na pele ou em outros tecidos, principalmente, por
exposições térmicas ou outras exposições agudas. Desse modo, no processo de queimadura, as células da pele ou
outros tecidos são destruídas pelo calor, descarga elétrica, fricção, produtos químicos ou radiação.
- Anualmente, ocorrem cerca 1.000.000 de acidentes envolvendo queimaduras no Brasil, com 2.500 óbitos. A maior
prevalência é atribuída a queimaduras de segundo grau, com destaque para as lesões dos membros superiores.

• FATORES DE RISCO:
- Sexo: O sexo masculino possui um risco aumentado para queimaduras, independentemente da faixa etária. Porém,
a mortalidade é maior no sexo feminino.
- Idade: A faixa etária de maior risco compreende adultos de 20 a 39 anos. Na infância, as queimaduras são mais
comuns entre 1 e 4 anos.
- Peculiaridades da Infância: Em crianças, os acidentes ocorrem, majoritariamente, na cozinha doméstica e
envolvem escaldaduras (líquido quente), com múltiplas lesões. É extremamente importante a atenção a sinais de
maus tratos em crianças, visto que a violência abarca cerca de 20% dos casos de queimaduras na infância.

• FISIOPATOLOGIA:
- De forma geral, a fisiopatologia da queimadura pode ser dividida em respostas locais e sistêmicas.
- Resposta local: é resultado do dano direto ao tecido: o local de acometimento é dividido em três zonas:
coagulação, estase e hiperemia. No local da lesão e ao seu redor, ocorre necrose, apoptose e trombose progressiva
dos vasos, tornando o ambiente antes estéril agora propício à colonização bacteriana. Ainda, há disfunção
microvascular, com alterações de coagulação, resposta inflamatória e recrutamento celular.

- Resposta sistêmica: resulta de uma série de mecanismos que buscam conter a lesão, mas que pela sua intensidade
inflamatória exacerbada podem causar danos ao organismo.
A severidade da queimadura está relacionada principalmente a dois fatores: intensidade do calor e tempo de
exposição.
A síntese da fisiopatologia das queimaduras pode ser expressa em duas manifestações: aumento da
permeabilidade capilar e edema.

2. TIPOS DE QUEIMADURAS:
2.1. Queimaduras químicas:
- Correspondem a lesões resultantes da exposição a ácidos, álcalis e produtos petrolíferos, sendo que sua gravidade
é definida com base na duração do contato, concentração do produto químico e quantidade do agente.
- Queimaduras ácidas: causam necrose de coagulação do tecido circundante, o que impede a penetração do ácido
em profundidade.
- Queimaduras por álcalis: geralmente correspondem a queimaduras mais graves que as queimaduras ácidas, pois
o produto alcalino penetra mais profundamente por necrose de liquefação do tecido.

- Ao contrário da lesão térmica, as queimaduras químicas causam um dano progressivo e contínuo à pele e tecidos
subcutâneos até que se tenha a substância inativada por reação tecidual ou diluída por lavagem mecânica do local.
Sendo assim, a remoção rápida do produto químico e a atenção imediata ao tratamento de feridas são essenciais.
Portanto:

. Se o produto químico for pó seco ? Verificar se está depositado na pele. Caso esteja, deve-se removê-lo antes de
iniciar a irrigação com água da ferida. Logo após a remoção do pó químico, necessário irrigar o local com água
quente, por pelo menos 20-30min.
*** Queimaduras por álcalis necessitam de irrigação mais prolongada.
*** Não se deve usar agentes neutralizantes no lugar de água, uma vez que podem gerar mais calor e maior
lesão tecidual do paciente.
*** queimaduras dos olhos por álcalis: exigem irrigação contínua durante as primeiras 8 horas após a
queimadura. Para facilitar essa irrigação, pode-se fixar uma cânula de pequeno calibre no sulco palpebral.
*** Há queimaduras específicas (como queimaduras por ácido hidrofluorídrico) que requerem consulta a um
centro de queimados.

- Os pacientes devem ser monitorizados, uma vez que podem desenvolver distúrbios metabólicos e eletrolíticos. Por
exemplo, a queimadura com ácido hidrofluorídrico pode determinar hipocalcemia grave, enquanto as queimaduras
por ácido fórmico levam à acidose metabólica, insuficiência renal, hemólise intravascular e SARA.

2.2. Queimaduras elétricas:


- Queimaduras elétricas: resultam do contato de uma fonte de energia elétrica com o corpo do doente. Desse modo,
o corpo do paciente funciona como condutor da energia elétrica e o calor gerado resulta em lesão térmica dos
tecidos. Além disso, os tecidos superficiais e profundos apresentam diferentes velocidades de perda de calor, Fato
que é responsável pela coexistência de pele aparentemente normal com necrose muscular profunda. Isso faz com
que as queimaduras elétricas sejam mais graves do que aparentam ser durante a inspeção externa > médico deve
ficar atendo a tal processo

- Tais queimaduras são muito perigosas, uma vez que atravessam vasos sanguíneos e nervos e pode causar
tromboses locais e lesões nervosas.

- Atendimento imediato de um doente com queimadura elétrica: atenção a via aérea e respiração, estabelecimento
de acesso venoso em membro não afetado, monitoração de ECG + sondagem vesical de bexiga. Tal fato é
necessário, pois pode causar arritmias que podem evoluir para paradas cardíaca.
*** Monitoração prolongada: indicada para doentes que tem evidencia da lesão superficial, perda de
consciência, exposição a alta tensão (>1000volts), anormalidades no ritmo cardíaco.

- Como a eletricidade causa contrações forçadas dos músculos, o médico deve examinar o doente para procurar
lesões musculoesqueléticas associadas, incluindo a possibilidade de lesões vertebromedulares. A rabdomiólise
provoca liberação de mioglobina que pode causar insuficiência renal aguda. Nessas circunstâncias, não cabe esperar
a confirmação laboratorial antes de instituir a terapia para mioglobinúria.
*** Se a urina do paciente estiver escura: considera-se a presença de hemocromógenos

- Tto: iniciar a ressuscitação a 4 mL/kg/% de TBSA para garantir um débito urinário de 100 mL/h em adultos e 1–
1,5 mL/kg/h em crianças com peso inferior a 30 kg. Assim que a urina estiver livre de pigmentação, titule o líquido
intravenoso para baixo para garantir um débito urinário padrão de 0,5ml/kg/h

2.3. Queimaduras de alcatrão:


Em ambientes industriais, os indivíduos podem sofrer lesões secundárias ao alcatrão quente ou ao asfalto, sendo
que a temperatura do alcatrão derretido pode ser muito alta (232 ° C), além de que possui grande aderência à pele e
infiltração na roupa, resultando em uma transferência contínua de calor. O tratamento inclui um resfriamento rápido
do alcatrão e cuidados para evitar mais traumas ao removê-lo, sendo que vários métodos são relatados na literatura,
como o uso de óleo mineral para dissolvê-lo.

2.4. Queimadura pelo frio:


- A gravidade da lesão pelo frio depende da temperatura, duração da exposição, condições ambientais, quantidade
de roupas de proteção e estado geral de saúde do paciente, sendo que temperaturas mais baixas, imobilização,
exposição prolongada, umidade, presença de doença vascular periférica e feridas abertas aumentam a gravidade da
lesão.

- 2 tipos de lesões por frio: Congelante e não congelante.

• LESÕES CONGELANTES:
- A lesão tecidual derivada do congelamento é decorrente da deposição de cristais de gelo em tecidos, que levam a
lesão da membrana celular, oclusão microvascular e anóxia tecidual subsequente. O congelamento é classificado em
graus:

1. Congelamento de primeiro grau: hiperemia e edema estão presentes sem necrose da pele.
2. Congelamento de segundo grau: formação grande e clara de vesículas acompanha a hiperemia e o edema com
necrose cutânea de espessura parcial.
3. Congelamento de terceiro grau: ocorre necrose do tecido subcutâneo e de espessura total geralmente com
formação de vesícula hemorrágica.
4. Congelamento de quarto grau: Necrose da pele com espessura total, incluindo músculo e osso, com necrose
posterior.

• LESÕES NÃO CONGELANTES:


- A lesão não congelante é devida ao comprometimento do endotélio microvascular, estase e a oclusão vascular. Tal
fato geralmente resulta de exposição crônica a ambiente úmido e a temperaturas pouco acima do ponto de
congelamento, ou seja, 1,6°C a l0°C.

- O quadro é derivado inicialmente de uma alternância de vasoespasmo e de vasodilatação arterial. Os tecidos


afetados apresentam-se frios e anestesiados no início e evoluem para a hiperemia em 24 a 48 horas. Com a
hiperemia surge uma sensação intensa e dolorosa de queimação e de disestesia, assim como lesões teciduais
caracterizadas por edema, formação de bolhas, vermelhidão, equimoses e ulcerações. Podem surgir complicações
de infecção local, como celulite, linfangite ou gangrena.

• TRATAMENTO DO CONGELAMENTO E DAS LESÕES NÃO CONGELANTES:


- O tratamento deve ser imediato para reduzir a duração do congelamento dos tecidos. Entretanto, o reaquecimento
não deve ser iniciado se existir o risco de um novo congelamento. Roupas úmidas e apertadas devem ser
substituídas por cobertores aquecidos e, desde que possa ingerir líquidos, o doente deve receber líquidos quentes
por via oral.
*** Medidas iniciais a serem tomadas:
- Colocação da parte afetada em água circulante a 40°C até que ocorra o retorno da perfusão e a coloração volte a
ser rosada (o que leva, usualmente, 20 a 30 minutos).
- Deve-se evitar calor seco, assim como esfregar ou massagear a área.

• CUIDADOS LOCAIS NO CONGELAMENTO:


- Objetivo: preservar os tecidos danificados, prevenindo a infecção, evitando abrir vesículas não infectadas e
elevando a parte afetada que é deixada exposta ao ar ambiente. Os tecidos lesados devem ser protegidos por uma
tenda ou por outro dispositivo de modo a não exercer pressão sobre eles.

- Geralmente não se inicia reposição venosa de líquido, só quando necessário


- Adoção de medidas de profilaxia antitetânica depende do estado prévio de imunização do doente.
- O uso de antibióticos por via sistêmica deve ser reservado para infecções já instaladas.
- As feridas devem ser mantidas limpas e as bolhas não infectadas devem ser deixadas intactas por 7 a 10 dias, com
o intuito de oferecer um curativo biológico estéril, capaz de favorecer a epitelização subjacente.
- Deve-se evitar uso de vasodilatadores
2. TRATAMENTO INICIAL DO PACIENTE QUEIMADO (ABCDE):

1. MEDIDAS INICIAS:
- Medidas iniciais incluem: interromper o processo de queimadura, garantir a via aérea e ventilação, além de
estabelecer o acesso intravenoso.

1.1. INTERRUPÇÃO DO PROCESSO DE QUEIMADURA:


• Toda a roupa deve ser removida, exceto a roupa aderente à pele; tecidos sintéticos se incendeiam, queimam
rapidamente em altas temperaturas e derretem, formando resíduos aquecidos que continuam queimando o doente.

1. Qualquer roupa impregnada com substância química deve ser removida com cuidado. Pós-químicos (secos)
devem ser removidos delicadamente da ferida com escova, evitando contato direto do socorrista com a substância
química.
2. A superfície corporal comprometida deve ser, então, enxaguada copiosamente com água corrente.
3. Após a interrupção do processo de lesão, a superfície corporal acometida deve ser banhada copiosamente com
água corrente.
4. Após isso, o doente deve, então, ser coberto com lençóis quentes, limpos e secos para evitar hipotermia.

1.2. CONTROLE DA VIA AÉREA:


- As queimaduras podem causar grande EDEMA, por isso, a via aérea superior está em risco de OBSTRUÇÃO. Os
sinais de obstrução podem ser inicialmente sutis até o doente entrar em crise, portanto, a avaliação precoce da
necessidade de intubação endotraqueal é essencial.

- Fatores que aumentam o risco de obstrução de via aérea: profundidade e extensão de queimaduras maiores,
queimaduras na cabeça e na face, lesões inalatórias e queimaduras no interior da boca.
└> Queimaduras localizadas na face e na boca causam edema + localizado e apresentam maior risco de
comprometimento da via aérea. Por terem a via aérea menor, as crianças tem maior risco.

- COMO IDENTIFICAR LESÃO POR INALAÇÃO:


• Embora a laringe proteja a via aérea subglótica da lesão térmica direta, a via aérea é extremamente suscetível à
obstrução como resultado da exposição ao calor. Os indicadores clínicos de lesão por inalação incluem:

- Queimaduras faciais e/ou cervicais


- Chamuscamento dos cílios e das vibrissas nasais
- Depósitos de carbono na boca e/ou nariz e expectoração carbonácea
- Alterações inflamatórias agudas na orofaringe, incluindo eritema
- Rouquidão
- História de confusão mental e/ou de confinamento no local do incêndio
- Explosão com queimaduras da cabeça e do tronco

• A presença de qualquer um desses achados sugere a necessidade de intubação traqueal.


• Sempre que exista uma lesão por inalação, indica-se a transferência para um centro de queimados.

- INDICAÇÕES DE INTUBAÇÃO PRECOCE:


• Sinais de obstrução das vias aéreas, como: rouquidão, estridor, sinais de esforço respiratório, retração esternal
• Extensão de queimadura > 40-50% da superfície corporal queimada
• Queimaduras faciais extensas e profundas
• Queimadura no interior da boca
• Edema significativo
• Disfagia
• Sinais de comprometimento respiratório: esforço ventilatório, fadiga ventilatória
• Necessidade de transferência do grande queimado sem pessoal qualificado para entubá-lo durante o transporte.

- Além disso, também se indica intubação precoce (antes do transporte): se o tempo de transporte for prolongado,
presença de estridor (aparecimento tardio), queimaduras circunferenciais do pescoço (edema dos tecidos ao
redor da via aérea – leva a obstrução), níveis sanguíneos de carboxi-hemoglobina maiores que 10%.
1.3. ASSEGURAR VENTILAÇÃO ADEQUADA:
- Preocupações com a ventilação estão relacionadas com três situações: hipóxia, intoxicação por monóxido de
carbono e lesão por inalação de fumaça (fumo).

- Hipóxia: pode estar relacionada a lesão inalatória, ventilação inadequada por queimaduras circunferenciais no
tórax ou lesões traumáticas torácicas não relacionadas à queimadura. Deve-se administrar oxigênio suplementar
com ou sem intubação.
- Necessário sempre considerar uma possível ocorrência de exposição ao monóxido de carbono (CO) em doentes
queimados em ambientes fechados. O diagnóstico da intoxicação por CO é feito primariamente pela história de
exposição e medida direta da carboxi-hemoglobina (HbCO). Doentes com níveis de CO inferiores a 20% não
costumam apresentar sinais e sintomas. Níveis mais elevados de CO podem resultar em:
- cefaleia e náusea (20% a 30%)
- confusão (30% a 40%)
- coma (40% a 60%)
- morte (>60%)

- O tratamento inicial da lesão por inalação pode exigir a intubação endotraqueal e a ventilação mecânica. Antes da
intubação, o doente deve ser pré-oxigenado com administração contínua de oxigênio. Em doentes com suspeita de
lesão da via aérea, a intubação deve ser feita precocemente. Em doentes queimados com lesão de via aérea, um tubo
endotraqueal de grosso calibre deve ser escolhido para a obtenção de via aérea definitiva, pois existe alta
probabilidade de necessidade de broncoscopia. A determinação da gasometria arterial deve ser feita imediatamente
como medida de base para a avaliação evolutiva do padrão pulmonar. No entanto, a medida da Pa02 arterial não
permite prever, de forma fidedigna, a intoxicação por monóxido de carbono, pois uma pressão parcial de CO de
apenas 1 mm Hg resulta em nível de carboxi-hemoglobina de 40% ou mais. Portanto, torna-se obrigatório medir os
valores iniciais de carboxi-hemoglobina e administrar oxigênio a 100%.

- Inalação de produtos de combustão, como partículas de fumaça são extremamente perigosos, uma vez que tais
partículas se instalam nos bronquíolos distais, levando a danos e morte de células da mucosa. Tais danos da via
aérea leva a um aumento da resposta inflamatória, que por sua vez leva a um aumento da permeabilidade capilar –
resulta em problema de difusão de 02 pela hipovolemia.
- Além disso, as células necróticas tendem a morrer e obstruir o lúmen das vias aéreas – aumenta o risco de
pneumonias pela a obstrução.
- Esse processo obstrutivo + disfunção de trocas gasosas aumenta a taxa de mortalidade desses pacientes.

*** 2 CRITÉRIOS PRINCIPAIS para diagnóstico por lesão de inflamação de fumaça:


(1) exposição a um agente combustível
(2) sinais de exposição à fumaça (fumo) na via aérea inferior, abaixo das cordas vocais, pela broncoscopia
- Evidencia de exposição em lugar fechado faz o quadro ficar bem sugestivo.
- para avaliação da condição pulmonar inicial do doente inalante de fumaça > deve-se pedir radiografia de tórax e
gasometria arterial.
- Um doente com alta probabilidade de lesão por inalação de fumaça associada a uma queimadura significativa deve
ser intubado (paciente do caso)
- Caso a condição hemodinâmica do doente permita, e desde que se exclua lesão de coluna, a elevação da cabeça e
do tórax do doente a 30 graus auxilia na redução do edema do pescoço e da parede torácica. Caso a queimadura de
terceiro grau das paredes anterior e lateral do tórax produzam restrição importante da sua movimentação, mesmo na
ausência de queimadura circunferencial, a escarotomia da parede torácica pode ser necessária.

1.4. CIRCULAÇÃO – REANIMAÇÃO DO CHOQUE NO DOENTE QUEIMADO:


- A reposição volêmica será necessária para qualquer paciente com mais do que 20% da superfície corporal
acometida.
- Reposição volêmica – ocorre devido ao estado hipovolêmico do paciente > aumento da permeabilidade vascular,
gera extravasamento de líquido = edema. Paciente entra em hipovolemia e pode evoluir pra choque > por isso a
necessidade de reposição volêmica.
- Portanto, para isso, deve-se estabelecer acessos venosos. Os acessos devem ser estabelecidos em veias periféricas
com cateter de grosso calibre, no mínimo 16 G. Preferivelmente deve se realizar o acesso em região de pele intacta,
porém caso não seja possível a queimadura não inviabiliza o processo.
*** MMSS são prioridade em relação aos MMII - flebites sépticas nas veias safenas.
*** Infusão: feita com ringer lactato.

- Para a reanimação do paciente com fluidos, a monitorização do débito urinário será uma forma confiável de
avaliação do volume sanguíneo circulante e acompanhar a necessidade de reposição. Assim, a sondagem vesical é
um procedimento que deve ser feito em pacientes queimados.
- Deve-se Iniciar a reposição volêmica com solução isotônica aquecida, de preferência Ringer Lactato, segundo a
fórmula de Parkland se dá da seguinte forma:

• Reposição volêmica em>14 anos=2 ml X Kg X SCQ%


• Reposição volêmica em crianças=3 ml X Kg X SCQ%
• Reposição volêmica em queimaduras elétricas=4 ml X Kg X SCQ%

- Durante a reposição, caso o paciente curse com débito urinário baixo refratário > aumenta-se a infusão de ringer
lactato.

- Assim, para fins de cálculo inicial, programa-se que metade desse volume de Ringer Lactato deve ser
administrado nas primeiras 8h e o restante nas 16h seguintes, fechando a infusão em 24h.
*** Reposição em 8h – 16h – 24h

- Após essa quantidade inicial, a reposição volêmica oferecida deve ser ajustada e baseada no débito urinário do
paciente.
*** Débito urinário em adultos: 0,5 ml X Kg/h
*** Crianças menores que 30kg: 1 ml X Kg/h. Nesses casos, essas crianças, além do fluido de reanimação,
devem receber, ainda, fluido de manutenção (glicose 5% + ringer lactato) > para evitar hipoglicemia.

OBS: O ECG deve ser monitorado para identificar distúrbios do ritmo cardíaco, uma vez que arritmias cardíacas
podem ser o primeiro sinal de hipóxia e de anormalidade do equilíbrio ácido-básico ou eletrolítico.
2. AVALIAÇÃO DO DOENTE:
- Além de uma história clínica detalhada, deve-se estimar o tamanho da área de superfície corporal queimada +
profundidade das lesões.

2.1. História:
- Necessário identificar o mecanismo de lesão, visto que, por exemplo, queimaduras elétricas já se configuram
como lesão grave, devendo o paciente ser referenciado para um centro de queimados.
- Além disso, deve-se buscar lesões associadas, como traumas, fraturas, lesões internas, lesões de SNC, lesão por
inalação (principalmente em ambientes fechados)
- A história pode ser obtida do doente ou de familiar, a partir do mnemônico “ARDEU?”:
• A- Alergias
• R- Remédios em uso (vacinação
antitetânica?)
• D- Doenças prévias, atuais e data da última menstruação (gravidez?)
• E- Eventos relacionados à lesão
• U- Última refeição

- Além disso, deve-se estar atento para que a história condiga com a situação clínica do paciente, devendo afastar
situações de tentativa de suicídio ou de abuso.

2.2. Área da superfície corporal queimada:


- A "Regra dos Nove" é uma regra prática e útil para determinar a extensão da queimadura. O corpo de um adulto é
dividido em regiões anatômicas que representam 9%, ou múltiplos de 9%, da superficie corporal total. A área de
superfície corporal (ASC) da criança é consideravelmente diferente daquela do adulto. Na criança, a cabeça
corresponde a uma percentagem maior e os membros inferiores a uma percentagem menor do que no adulto. A
percentagem da superfície corporal total que corresponde à cabeça de uma criança é duas vezes maior que a do
adulto normal. A palma da mão do doente (incluindo os dedos) representa aproximadamente 1% de sua
superfície corporal. A Regra dos Nove ajuda a avaliar a extensão das queimaduras com distribuição irregular e é a
ferramenta preferencial para calcular e documentar a extensão da queimadura.

Adulto:
◊ Cabeça = 9%
◊ Cada braço = 9%
◊ Cada perna = 18%
◊ Tronco anterior e posterior
cada = 18%
◊ Genitália = 1%

• Cabeça = 18%
• Cada braço = 9%
• Cada perna = 14%
• Nádegas = 5%
• Tronco anterior = 13%
• Tronco posterior = 18%
OBS: Para cálculo de SCQ, leva-se em consideração somente queimaduras de 2º e 3º graus.

2.3. Gravidade das queimaduras:

• Pequenos queimados/baixa gravidade: São aquelas que podem ser tratadas em consultório médico ou
ambulatorialmente.
• Médios queimados/média gravidade: São aquelas que requerem admissão em um hospital, mas não em um
centro de queimados. Essa inclui queimaduras superficiais ou profundas de extensão limitadas.
• Grandes queimados/grande gravidade: São as queimaduras que devem ser tratadas em um centro de
queimados. Esse é um grupo mais susceptível a infecções, em decorrência de imunossupressão e perda da cobertura
cutânea. Além disso, os pacientes que ficam internados por tempo prolongado associados às medidas invasivas,
como ventilação mecânica, cateterização vascular e vesical, são expostos ainda mais a infecções nosocomiais.

- Indicações de encaminhamento para centro de referência de queimados:

A internação na UTI está indicada em:

• Pacientes queimados na fase aguda, com SCQ ≥ 20% em crianças

• Pacientes queimados na fase aguda, com SCQ ≥ 30% em maiores de 12


anos

• Pacientes com suspeita ou diagnóstico de inalação de fumaça.


2.3. Profundidade das lesões:
- A profundidade da queimadura é importante para avaliar sua gravidade, para planejar o tratamento da ferida e para
prever os resultados funcionais e cosméticos finais.

• Queimaduras de primeiro grau (por exemplo, queimadura solar):


- Apenas a epiderme é atingida.
- Pele de aspecto seco, hiperemiado e doloroso. Sem formação de bolhas.
- Costuma descamar em poucos dias.
- Regride sem cicatrizes.
- Pouca ou nenhuma repercussão sistêmica.
- É desconsiderada na avaliação da área atingida.
- Elas não determinam risco à vida e geralmente não necessitam reposição endovenosa de fluidos porque a
epiderme permanece intacta.

• Queimaduras de segundo grau ou queimaduras de espessura parcial:


- são caracterizadas pela aparência vermelha ou mosqueada e presença de edema e bolhas (FIGURA 9 A e B).
- A superfície pode ter uma aparência "lacrimejante" ou úmida
- é hipersensível à dor intensa até mesmo às correntes de ar
- Atinge totalmente a epiderme e a derme de maneira variável.
- Há reepitelização a partir dos anexos cutâneos. Cicatrização demorada (2 a 4 semanas).
- Pode deixar sequelas superficiais, como discromia, e profundas, como cicatriz.

• Queimaduras de terceiro grau ou de espessura total:


- Todas as camadas da pele são atingidas, podendo alcançar o tecido subcutâneo, tendões, ligamentos, músculos e
até ossos.
- costumam ser escuras e ter aparência de couro (FIGURA 9 C e D).
- A pele pode apresentar-se translúcida ou com aspecto de cera.
- A superfície é indolor e geralmente seca e pode ser vermelha e não mudar de cor à compressão local.
- Há pouco edema no tecido com queimadura de espessura total; no entanto, a área ao redor da queimadura pode
apresentar um edema significativo.
- Necessidade de enxerto para que ocorra regeneração.

• Queimaduras de quarto grau:


- Todas as camadas teciduais são atingidas, incluindo fáscia, músculos e osso.
FIGURA 9 - Profundidade da Queimadura. (A) Queimadura de espessura parcial superficial. (B) Queimadura de
espessura parcial. (C) Queimadura de espessura parcial profunda. (O) Queimadura de espessura total em membro
superior e dorso.

3. MEDIDAS AUXILIARES:

3.1. Documentação:
- Logo após a admissão do doente no departamento de emergência, deve ser iniciado o preenchimento de uma folha
de registro descrevendo o tratamento que lhe foi ministrado. Essa folha de registro deve acompanhar o doente
quando for transferido para uma unidade de queimados.

3.2. Exames básicos solicitados para queimados:


- Hemograma; tipagem e provas cruzadas,
- carboxi-hemoglobina,
- glicemia,
- eletrólitos
- teste de gravidez em todas as mulheres em idade fértil.
- amostra de sangue arterial também deve ser retirada para determinação da gasometria e dosagem de HbCO.
- radiografia de tórax nos doentes intubados ou com suspeita de lesão por inalação de fumaça (fumo), que pode ser
repetida conforme a necessidade.

3.3. Manutenção da circulação periférica:


- Em queimaduras circulares deve-se sempre descartar a síndrome compartimental. Essa é uma condição em que há
elevação da pressão dentro do compartimento muscular, o que interfere na perfusão das estruturas distais e internas
desse compartimento.

- Causada por aumento da pressão dentro do compartimento muscular, o que interfere na perfusão de estruturas
dentro desse compartimento – resultado da diminuição da elasticidade da pele + edema de tecidos moles.

- Os sinais da síndrome compartimental correspondem à piora da dor com a movimentação passiva, tensão do
membro, dormência e, eventualmente, ausência de pulso distal. Na dúvida do diagnóstico, pode-se inserir uma
agulha conectada a um medidor de pressão dentro do compartimento e caso pressão > 30 mmHg indica- -se a
fasciotomia. Uma USG doppler também pode ser realizada para o diagnóstico.

- Essa síndrome compartimental também pode ocorrer em região torácica, e até mesmo abdominal, devido a
queimaduras circunferenciais, dificultando a respiração do paciente e causando aumento das pressões de pico
inspiratórias. Assim, a escarotomia está indicada para solucionar esse problema, devendo ser realizada ao nível das
linhas axilares anteriores combinadas com uma incisão na transição toracoabdominal.

3.4. Sondagem gástrica:


Esse procedimento é indicado para pacientes nauseados, vomitando, com distensão abdominal ou quando
queimadura envolver uma SCQ > 20% em maiores de 12 anos e SCQ > 15% em crianças. Nesses doentes, é
essencial que a sonda seja colocada e esteja funcionando antes de uma eventual transferência.

3.5. Analgesia:
- O doente portador de queimaduras extensas pode estar ansioso e agitado devido à hipoxemia ou à hipovolemia
mais do que à dor. Consequentemente, responde melhor ao oxigênio ou à administração de líquidos do que ao uso
de analgésicos, narcóticos ou sedativos, que podem mascarar os sinais de hipoxemia ou hipovolemia.
- Os narcóticos, analgésicos e sedativos devem ser administrados em doses pequenas e frequentes e apenas por via
EV.
- Lembre-se de que somente cobrindo a queimadura já há alívio da dor.
3.6. Cuidados com feridas:
- cobertura da área queimada com um pano limpo aplicado delicadamente impede o contato com o ar corrente e
alivia a dor > principalmente em queimaduras de segundo grau – muito doloridas
- Não se deve romper bolhas ou aplicar agentes antissépticos.
- Qualquer substância aplicada previamente deve ser removida
- Geralmente não se aplica compressas frias, pois pode causar hipotermia.
- Não use água fria em doentes com queimaduras extensas (> 10% da ASC).

3.7. Antibióticos:
- Antibióticos profiláticos NAO são indicados na fase inicial logo após queimaduras. Os antibióticos devem ser
reservados para o tratamento de infecções.

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