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Porquê Darwin?

O que pode um estudo de um cientista importante e decisivo ajudar-nos


a entender o nosso tempo?
Darwin desenvolveu em meados do século XIX uma teoria de evolução das espécies,
sustentada em cuidadas observações e especulações fundamentadas que aos poucos se foi
afirmando no mundo da ciência, podendo-se dizer que entre os anos 30 e 50 do século
passado se tornou a teoria oficial e comummente aceite no meio científico. Contudo, a
verdade, é que a sua teoria teve sempre ferrenhos inimigos, uns porque consideraram que esta
teoria colocava em causa as suas crenças religiosas, outros em nome de uma ciência
apressada, pouco sustentada, feita à medida de ideias pré-concebidas. Assim, ao lado da já
citada aceitação da comunidade científica, mantém-se a velha crença criacionista, onde tudo foi
criado por um Deus seja de uma vez só seja em diversas fases, mas apenas obedecendo à
sua vontade e lógica e surgiram teorias como o desenho ou design inteligente, que se
pretendem racionais e se dizem científicas. Em algumas escolas, os adeptos destas teorias
conseguiram que as mesmas fossem ensinadas como verdadeiras alternativas à teoria de
Darwin ou mesmo a substituindo. Por vezes, parece que ainda não saímos da sala de tribunal
que em 1925 foi colocado o professor John Scopes, no Tennessee, por ensinar as teorias de
Darwin.
Na recente e ainda muito presente vivência da pandemia, sentimos muito perto o
desenvolvimento de confrontos muito semelhantes a este. Vimos como, para alguns, facilmente
se esquece a comunidade científica, o estudo, a observação cuidada e séria em nome de
crenças, teorias pseudocientíficas baseadas em dados e afirmações retirados do contexto ou
mesmo falseados. Isto é, embora possam ter sido potenciados pelas redes sociais, na verdade,
esta forma de estar não é nova nem teve nelas a sua origem e, de certa forma, é uma réplica
da polémica que atravessa desde a sua origem a teoria da evolução das espécies. Assim,
compreender Darwin, perceber a sua vida e a forma como desenvolveu a sua teoria é algo
importante para entendermos o nosso tempo, e principalmente sabermos como nos posicionar,
termos um olhar crítico e fundamentado, não nos deixarmos embalar em teorias fáceis, que só
na aparência reproduzem os passos necessários da ciência e do saber.
Charles Darwin foi o homem que moldou a maneira como pensamos sobre a evolução
nos tempos modernos. Ele apresentou e descreveu a teoria de seleção natural e a
sobrevivência do mais apto. Para compreender totalmente os pensamentos evolucionários
modernos é necessário compreender totalmente as primeiras teorias de Charles Darwin. Nesta
apresentação vou falar sobre a vida e conquistas de Darwin, passando pela/a sua infância, a
sua viagem na embarcação HMS Beagle (His Majesty’s Ship “Beagle”) e as teorias sobre a
evolução e seleção natural.
Charles Darwin nasceu em Shrewsbury, Inglaterra, a 12 de fevereiro de 1809. O seu pai
era Robert Waring Darwin, um médico e filho do famoso Erasmus Darwin, também médico,
assim como escritor e naturalista respeitado. A sua mãe era Susannah Wedgwood Darwin,
tendo falecido quando Charles tinha apenas 8 anos.
Charles matriculou-se na escola local, onde os seus estudos abordaram principalmente
temas como a cultura e língua grega e romana. Em 1825, foi para Edinburgh para estudar
medicina, após ter passado um verão como aprendiz do seu pai. No entanto, apesar de ter
entrado para uma das melhores escolas, Darwin odiava ver sangue e considerava as palestras
entediantes. Após ter decidido que medicina não seria para si, Charles mudou-se para
Cambridge, ostensivamente para se tornar um sacerdote. Na verdade, estava mais interessado
em entomologia - especialmente escaravelhos - e caça. Formou-se em Christ’s College, em
1831.
Diz-se que, mesmo quando jovem, ele tinha uma mente paciente e aberta, passando
muitas horas a recolher espécimes de um tipo ou de outro e ponderando sobre novas ideias. A
ideia de evolução começava a ganhar peso na comunidade científica, vencendo a ideia
denominada fixismo que defendia que a terra e as espécies foram criadas tal e qual como as
conhecemos. Estava cada vez mais claro para os naturalistas que as espécies mudaram e têm
mudado ao longo de muitos milénios. Mas esta ideia não era suficiente, era necessário
perceber qual era a razão e o mecanismo que proporcionavam essa mudança.
Um dos seus mentores, John Henslow, incentivou-o a candidatar-se à posição não
remunerada de naturalista numa expedição de levantamento a bordo do agora-famoso navio
Beagle, sob o comando do capitão Robert Fitz-Roy. Charles saiu de Inglaterra pela primeira
vez na sua vida a 27 de dezembro de 1831. Apenas retornaria a 2 de outubro de 1836.
A maior parte do tempo da viagem do navio foi dedicada ao levantamento da costa da
América do Sul e ilhas próximas, mas também visitou várias ilhas do Pacífico, Nova Zelândia e
Austrália. Foram as Ilhas Galápagos que mais o impressionaram. Lá ele descobriu que os
tentilhões desenvolveram uma variedade de bicos - cada um adequado para uma fonte de
alimento específica. A variação natural foi de alguma forma selecionada para se adequar aos
nichos ecológicos disponíveis nas pequenas ilhas.
Ao retornar, Darwin escreveu vários livros, com base nas suas pesquisas, sobre geologia
e as espécies de plantas e animais que havia observado e recolhido. Também publicou o seu
diário com título “Journal of a Naturalist”. Nas suas páginas, afirma que ficou muito
impressionado com a forma como animais semelhantes se adaptaram a diferentes
ecossistemas.

Desde cedo, Darwin reconheceu que a seleção era o princípio que os homens usavam
com tanto sucesso na criação de animais. O que ele precisava agora era uma ideia de como a
natureza poderia realizar essa tarefa sem o benefício da inteligência.
Em 1838, Darwin leu um livro de Malthus chamado ”Population” que teve grande
influência no desenvolvimento da sua teoria. Malthus, nesta obra, introduziu a ideia de que a
competição por recursos limitados iria, na natureza, manter as populações estáveis. Também
alertou que as populações humanas sofreriam consequências se abusassem dos recursos
disponíveis, colocando o homem ao mesmo nível de sobrevivência que as restantes espécies
animais. Hoje, pode-nos parecer algo lógico e natural, mas à época ainda se tinha a ideia do
homem como uma espécie à parte, criado à semelhança de Deus, e para quem o mundo tinha
sido concebido.
Em 29 de janeiro de 1839, Darwin casou-se com Emma Wedgewood, uma prima.
Viveram em Londres por alguns anos, mudando-se depois para Down, situada a 25 quilómetros
de Londres, onde viveram o resto de suas vidas, tendo tido duas filhas e cinco filhos. Pouco
depois do casamento, Darwin começou a sofrer de uma doença que provavelmente contraiu
devido a uma picada de um inseto nos Andes muitos anos antes. Um dos filhos de Darwin,
Francis, mais tarde, deu conta da imensa dedicação da sua mãe ao bem-estar do seu pai. Sem
ela, ele teria sido consideravelmente menos produtivo. Lembrando-nos de que ao lado de um
grande homem, está sempre uma grande mulher.
Mas voltando à sua obra, Darwin escreve um primeiro esboço de sua teoria em 1842.
Desse facto, em 1844, deu conta numa carta “Finalmente surgiram raios de luz, e estou quase
convencido (ao contrário da opinião com a qual comecei) de que as espécies não são (é como
confessando um assassinato) imutáveis.”
Apesar de cada vez mais estar convencido da verdade das suas ideias, Darwin tinha
consciência de que elas iriam agitar as águas e criar inimizades e, por outro lado, sentia que as
mesmas estavam em conflito com as suas crenças mais profundas. Por isso, adiou cerca de
vinte anos a publicação das mesmas. E, se não fosse o conhecimento de que alguém chegara,
de outro modo, às suas conclusões, não saberíamos quando é que as iria publicar ou se iria
mesmo publicá-las. Em 1858, recebe um ensaio de A.R. Wallace com um pedido de
comentários. É difícil percebermos o abalo que deve ter sentido ao ler nas palavras de outrem
as ideias que tão pacientemente maturava e adiava. Wallace também tinha lido Malthus, mas,
ao contrário, de Darwin, a ideia de evolução baseada na seleção natural não surgiu do estudo
comparativo, mas de uma espécie epifania quando estava com febre. Perante isto, Darwin
sente que não pode adiar mais e encaminha para o seu amigo, Sir Charles Lyell, da Sociedade
Geológica, tal como como Wallace havia sugerido, a proposta de uma apresentação conjunta
de dois artigos científicos à Linnean Society de Londres, com o título On the Tendency of
Species to form Varieties; and on the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means
of Selection ("Sobre a tendência das espécies de formar variedades; e sobre a perpetuação
das variedades e espécies através de meios naturais de seleção"). A mesma ocorre a 1 de
julho de 1858 com a apresentação de On The Tendency of Varieties to Depart Indefinitely from
the Original Type ("Sobre a tendência das variedades de partir indefinidamente a partir do tipo
original"), de Alfred Russel Wallace, e um "Trecho de uma obra não-publicada sobre as
espécies" (Extract from an unpublished Work on Species), do Essay ("Ensaio") de Charles
Darwin, de 1844, juntamente com Abstract of a Letter, carta enviada por Darwin a Asa Gray.
Este foi o primeiro anúncio público da teoria da evolução de Darwin e Wallace sendo que os
textos destas conferências foram impressos em 20 de agosto do mesmo ano.
O fundamental das suas ideias pode ser resumido da seguinte forma: assim como os
homens podem despoletar uma ou outra variação menor ao criar seletivamente cães ou gado,
a natureza produz variações semelhantes - permitindo apenas que as variações mais bem-
sucedidas sobrevivam e se reproduzam na luta por recursos limitados. Embora as mudanças
fossem leves e lentas, os milénios permitiriam a óbvia diversidade da natureza! Darwin
denominou essas mudanças de seleção natural.
A apresentação dos artigos impulsionou Darwin a escrever um resumo condensado de
seu "livro imenso" sobre a Seleção Natural; o resumo foi publicado em novembro de 1859 com
o título de On the Origin of Species ("Sobre a origem das espécies"). O livro foi um sucesso
instantâneo. Houve também, é claro, muito debate - principalmente pelo facto de pôr em causa
as explicações religiosas tradicionais do mundo natural.
A seleção natural é muitas vezes confundida com uma ideia anterior desenvolvida pelo
naturalista francês Lamarck. Ele sugeriu que as características adquiridas durante a vida de um
animal eram transmitidas aos seus descendentes. O famoso exemplo é como o alongamento
constante do pescoço ao longo de muitas gerações explica as características físicas
improváveis da girafa. Essa teoria – Lamarckianismo – foi o maior concorrente da seleção
natural nas décadas seguintes.
Em 1868, publicou “The Variation of Animals and Plants under Domestication” e em 1871,
a obra “The Descent of Man e Selection in Relation to Sex”. Foram realmente dois livros em
um. A segunda parte é sobre a seleção sexual, explicando-se aí, por exemplo, as cores vivas
de muitos pássaros machos: tanto a coloração dos machos quanto a atração pela coloração
por parte das fêmeas durante o namoro são selecionadas porque essas variações beneficiam a
prole.
A parte do livro ”A Origem do Homem” é uma breve introdução à ideia de que nós
também somos o resultado da seleção natural. Esta parte levaria a muitas discussões
acaloradas.
Em 1872, publicou “The Expression of Emotion”. Desta vez, Darwin fala sobre a evolução
dos sinais que os animais usam para se comunicar – e relaciona esses sinais com a expressão
emocional humana. Este foi o primeiro passo para o que hoje chamamos de sociobiologia (e
psicologia evolutiva).
Além desses livros influentes, Darwin também gostava de estudar e escrever sobre
plantas. Em 1862, ele escreveu “Fertilization of Orchids”. Em 1875, ele lançou “Climbing Plants”
e “Insectivorous Plants”. Em 1877, surgiu a obra “Diferentes Formas de Flores em Plantas da
Mesma Espécie”. Em 1880, ele escreveu, com o seu filho Francis, “The Power of Movement in
Plants”. E em 1881, publicou o famoso “Formation of Vegetable Mould through the Action of
Worms”.
Charles Darwin morreu em 19 de abril de 1882 e foi sepultado na Abadia/Abbey de
Westminster. Tendo em conta os testemunhos dados por família e amigos, era um homem
afável e gentil, respeitado por todos. Se excetuarmos a sua famosa viagem no Beagle, são
muito raras as suas viagens e muito raramente saiu da sua casa em Down. Relutantemente,
abandonou as suas crenças religiosas, considerando-se agnóstico o que não o impediu de
participar na sua paróquia em obras de caridade.
O importante a reter desta vida, desta obra e principalmente das reações que gerou é a
importância do pensamento racional, construtivo e bem fundamentado. Repare-se que as suas
descobertas, tendo em conta a época e as suas caraterísticas, eram de tal forma
revolucionárias e perturbadoras que ele próprio teve dificuldade em as aceitar e divulgar. Longe
de um mundo onde tudo se anuncia e se vive numa constante procura de palco, ele aceitou
divulgar as suas teses em conjunto com outro autor. São formas de estar na ciência e na vida
que considero importantes e que ainda hoje devem ser tidas em conta.

https://darwin.originalshrewsbury.co.uk/
https://www.history.com/news/10-things-you-may-not-know-about-charles-darwin
https://www.britain-magazine.com/features/10-facts-about-charles-darwin/
https://www.discovermagazine.com/the-sciences/7-things-you-may-not-know-about-charles-
darwin
https://www.treehugger.com/surprising-facts-about-charles-darwin-4868791

1. Durante a sua permanência em Cambridge, Darwin fez parte de um clube que


A. Recitava poesias ao luar.
B. Jantavam comidas exó ticas como falcã o, garça e outros.
C. Criavam raças de besouros.
D. Discutiam assuntos filosó ficos e teoló gicos.
2. Esta prá tica nã o ficou circunscrita a este clube e durante a sua viagem no Beagle provou
(anotando as impressõ es) entre outros
A. Puma, tartaruga e bebeu o conteú do da bexiga desta.
B. Besouros e gafanhotos.
C. Serpentes vá rias e respetivos ovos.
D. Sopa de ossos de animais extintos.
3. De entre o que provou o que considerou “a melhor carne que alguma vez provou” foi
A. Puma
B. Tartaruga.
C. Garça
D. De um roedor nã o identificado parecido com uma cutia.
4. Para casar, ele de forma a selecionar a esposa
A. Pô -las a lutar umas com as outras, aplicando a seleçã o natural.
B. Colocou um anú ncio num jornal da sua terra.
C. Fez uma lista de possíveis candidatas, com os pró s e os contra de cada uma.
D. Ia passear para o jardim pú blico.
5. Em 1925 o professor americano John Scopes, no Tennessee, foi levado a tribunal por
ensinar as teorias de Darwin. O resultado desse julgamento foi
A. A absolviçã o.
B. A condenaçã o com uma pena de prisã o.
C. A condenaçã o, tendo de pagar uma multa de cem dó lares.
D. A absolviçã o, tendo ganho uma indeminizaçã o.

Origem das Espécies - obra onde Darwin defendeu que os seres vivos evoluíram através de
um processo gradual de seleção natural (põe em causa a teoria criacionista da Igreja que
afirma que Deus criou, por ex., o Homem tal como é hoje).
Mr. Bergh to the Rescue
Harper's Weekly
19 de Agosto , 1871

O Gorila. “Aquele homem quer reivindicar o meu pedigree. Diz que é um dos meus
descendentes."
Mr. Bergh. “Francamente, Mr. Darwin, como pode insultá-lo desse modo?"

Mr. Bergh to the Rescue Harper's Weekly


19 de agosto , 1871
O Gorila. “Aquele homem quer reivindicar o meu
pedigree. Diz que é um dos meus descendentes."
Mr. Bergh. “Francamente, Mr. Darwin, como pode
insultá-lo desse modo?"

Mr. Bergh to the Rescue Harper's Weekly


19 de agosto , 1871
O Gorila. “Aquele homem quer reivindicar o meu
pedigree. Diz que é um dos meus descendentes."
Mr. Bergh. “Francamente, Mr. Darwin, como pode
insultá-lo desse modo?"

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