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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE


Curso de Psicologia

OS IMPACTOS DA AIDS/HIV SOBRE A CONSTRUÇÃO DA


IDENTIDADE DOS PORTADORES

Docente responsável:
Profa. Dra. Alacir Villa Valle Cruces

Discente colaborador:
Gabriel Martinez Borges

São Bernardo do Campo


Maio de 2018
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SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................3
Método...............................................................................................................5
Participantes......................................................................................................5
Conceituando o HIV/Aids...................................................................................6
HIV e PSICOLOGIA: Contribuições e Desafios.................................................7
Os impactos do HIV/Aids sobre a identidade dos pacientes.............................9
Referências......................................................................................................11
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Introdução

Segundo Horowitz (1998) o HIV se caracteriza por ser uma doença


sexualmente transmissível de caráter crônico que é propagada pelo contato
com fluídos biológicos, principalmente sangue contaminado de portadores do
vírus.
O vírus HIV é uma doença que desde a década de 1980 está presente na
sociedade brasileira, sendo de grande relevância para a saúde pública, tido
que a falta de informação e de assistência aos portadores do vírus vem a
contribuir para sua disseminação. Medidas preventivas e de promoção à
saúde, relacionadas ao HIV são frequentes na atualidade e a
multidisciplinaridade da equipe a atender os portadores é valorizada.
(Santos et al, 2007, p.158).

De acordo com Carvalho (2004) a AIDS não afeta somente o corpo do


indivíduo que a possui, afeta também outras instâncias de sua vida,
causando, geralmente, excesso de sentimentos negativos, por exemplo:
fraqueza, insegurança; que por sua vez interferem no bem estar desse
indivíduo como um todo.
Alguns estudiosos têm discutido que as diversas alterações que
ocorrem no sistema nervoso dos clientes com HIV/AIDS, associadas com
depressão e/ou estresse podem influenciar a evolução da doença, e as
alterações nos estados psíquicos e sociais podem contribuir para aumentar a
vulnerabilidade biológica. (Canini apud Thompson et al, 1996)
O medo de expor que a pessoa é portadora do vírus, decorrente do
estigma que advém com ele, leva estes indivíduos a deixarem de realizar
projetos de vida(Berni, 2014). Em vista disto, Almeida e Labronici (2007)
afirmam que muitas vezes o indivíduo portador do vírus prefere não expor sua
identidade sorológica, o que ocasiona um afastamento, ou seja, uma falta de
confiabilidade nas pessoas; o que por sua vez pode levar a não procura dos
cuidados de saúde, ocasionando um aumento na vulnerabilidade de adoecer
decorrente da AIDS.
Percebe-se que a não revelação sobre o seu estado sorológico, tanto à
rede de amigos quanto aos profissionais da saúde, e até mesmo dentro das
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unidades familiares, é fortemente atravessada pelas representações ainda


muito negativas da AIDS. (Berni, 2014, p.598)
Sève (1989) afirma que o homem é tanto o autor quanto o personagem
da história que produz. Ele é, como personagem, fruto da história que ele
mesmo produz e que esta história, por sua vez, acaba constituindo este
indivíduo como autor da própria história.
Visto que existem poucos trabalhos na literatura que abordam a
construção da identidade em indivíduos soropositivos, este trabalho se faz
pertinente para a sociedade, visto que a AIDS é uma problemática presente
em todos os setores e camadas da população brasileira, embora o número de
casos seja muito menor, se equiparado ao início da proliferação do vírus na
década de 80. Mesmo o Brasil sendo um dos países mais avançados no que
concerne às políticas públicas de saúde frente à epidemia da AIDS, a
estigmatização dos indivíduos HIV+ ainda é pungente, decorrente de uma
falta de informação por parte da população quanto às informações sobre a
doença, como, por exemplo, as formas de contágio desta. Em visto disto,
trabalhos desta estirpe se fazem necessários, visto que podem contribuir para
o entendimento subjetivo, e entendo vieses subjetivos destes indivíduos, é
possível segregar aspectos que são comuns aos portadores do vírus. Com
isso é possível a implementação e até mesmo a reformulação de políticas
públicas que possam melhorar a qualidade de vida desta população como um
todo.
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Método

A presente pesquisa se caracteriza por ser uma pesquisa de tipo


exploratória e de caráter qualitativo. O caráter exploratório consiste, de acordo
com Selltizet al. (1965) em descobrir ideias e intuições, com o intuito de criar
uma maior familiaridade do pesquisador com o fenômeno estudado. Sendo
que este tipo de pesquisa não visa a formulação de hipóteses, e sim um
aumento de conhecimento por parte pesquisador, possibilitando que
futuramente sejam elaboradas pesquisas mais estruturadas. Em decorrência
disto, a pesquisa exploratória tem por característica uma flexibilidade, dentro
de um limite, permitindo que o pesquisador possa se apropriar de uma
miríade de aspectos do fenômeno.

Participantes

A pesquisa será realizada com 10 (dez) indivíduos infectados com o


vírus do HIV, por intermédio de entrevistas que de acordo com Marconi;
Lakatos (2007) tem por objetivo coletar informações de um determinado
assunto pré-estabelecido.
A entrevista semiestruturada em linhas gerais consiste, conforme Boni
;Quaresma (2005) de uma combinação de perguntas abertas e fechadas, por
meio das quais o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema
escolhido. Portanto, o informante deve responder às perguntas que foram
previamente estabelecidas, no entanto, elas serão respondidas de um modo
semelhante a uma conversa informal.
O tempo e o roteiro das entrevistas serão estabelecidos posteriormente.
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Conceituando o HIV/AIDS

De acordo com Peeters (2015) a síndrome da imunodeficiência adquirida


(AIDS) é uma epidemia de origem zoonótica, derivada de viroses de primatas
não humanos, principalmente chipanzé e gorila. É causada pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV), um retrovírus que afeta o sistema
imunológico do portador.
Horowitz (1998) afirma que o HIV é uma doença sexualmente
transmissível de caráter crônico e é propagada pelo contato com fluídos
biológicos, principalmente sangue contaminado de portadores do vírus que é
causada por duas cepas virais diferentes, identificadas como HIV-1 e HIV-2.
A descrição dos primeiros casos de AIDS, com a identificação do HIV-1
se deu em 1983, enquanto o HIV-2 foi descrito pela primeira vez em 1986.
A estimativa mundial do número de infecções por HIV em 2016,
segundo a UNAIDS, é de aproximadamente 36.7 milhões.
Stevenson (2003) destaca que no HIV o principal mecanismo da
patogênese se dá pela desregulação e consequente perda da competência do
sistema imune, devido ao tropismo e infecção direta do vírus por células
imunológicas, causando principalmente a destruição de linfócitos T CD4 +,
sendo que a doença afeta tanto células infectadas quanto não infectadas,
devido ao desequilíbrio gerado pela resposta do sistema imunológico
comprometido.
Bolan (2005) diz que na ausência de tratamento, virtualmente todos os
indivíduos infectados com HIV morrem por causas relacionadas à AIDS,
principalmente por doenças oportunistas e coinfecções bacterianas, virais e
parasitológicas. O diagnóstico precoce e a terapia antirretroviral é de suma
importância tanto para uma melhora na qualidade de vida dos portadores do
vírus quanto para a redução no risco de transmissão do vírus a outros
indivíduos.
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HIV e Psicologia: contribuições e desafios

De acordo Perucchi (2011), a psicologia dentro do contexto do


HIV/AIDS, vai além da consideração da pessoa portadora de doença, pois
evidencia o ser humano como um todo, que possui outros sofrimentos além
da doença. Fato que vai contra o modelo biomédico de patologia. Sendo
assim, é de suma importância que o psicólogo que deseja mergulhar neste
campo, conheça bem o sistema de saúde e também as políticas públicas
deste.
Os indivíduos acometidos pela epidemia necessitam de atenção para
além do diagnóstico e dos cuidados com seus sintomas; precisam de apoio
no caminho de reconstrução de suas vidas. Esse poderia ser pensado como o
maior desafio para os profissionais de saúde engajados na causa das
pessoas vivendo com HIV/AIDS. (Perucchi et al; 2011)
O psicólogo quando inserido na saúde pública deve incorporar uma
nova concepção da prática profissional que exerce, deixando de lado o
corporativismo, práticas isoladas e com a identidade profissional hegemônica.
Se houver essas mudanças por parte do psicólogo, será possível um
compromisso por parte do profissional com o ideário do sistema de saúde
pública e usuários deste. Com isso será possível um profissional capaz de
ocupar um novo lugar no campo da saúde, voltado para as deliberações do
HIV/AIDS. (Perucchi et al; 2011 apud Dimenstein 2001)

A perspectiva da integralidade da saúde coloca, para a


formação e a atuação prática do(a)s profissionais, o desafio de
não dicotomizar a atenção individual da coletiva, a qualidade
de vida (biologia) com o andar da vida (produção subjetiva), a
atenção à saúde igualitária e com a equidade dos trabalhos
educativos junto à população. Para isso, é necessário efetivar o
trabalho em equipe multi e interdisciplinar desde o processo de
formação profissional e estabelecer estratégias de
aprendizagem que favoreçam o diálogo, a troca, a
transdisciplinaridade entre os distintos saberes formais e não
formais que contribuam para as ações de promoção da saúde,
tanto no âmbito individual como no âmbito coletivo. Por isso, a
discussão da integralidade e dos demais princípios do SUS
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perpassa pela formação profissional e educação permanente


das equipes de saúde. (CREPOP; CFP, 2008, p.30 apud
MACHADO et al., 2007)

Segundo o Centro de Referência Técnicas em Psicologia e Políticas


Públicas (CREPOP), nota-se um enorme enfoque no que se refere ao papel
do psicólogo quanto à prevenção da infecção do HIV/AIDS.
Decorrente deste enfoque em congressos, discussões, textos; deixou-
se de lado a atuação do psicólogo na prevenção da saúde emocional ou
mental do indivíduo. Sendo assim, não se deve equiparar qual das
prevenções é mais importante e sim diferencia-las. A primeira é uma maneira
de prevenir a doença e a outra é um tratamento psicológico do indivíduo
portador do vírus HIV.
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Os impactos da AIDS na identidade dos pacientes

Segundo Berni (2014) no discurso acerca do HIV/AIDS há


contradições. Em alguns momentos a AIDS é vista por um prisma médico,
como um problema fisiológico, em outros é visto por um tom ameaçador,
como uma doença fatal e extremamente contagiosa.

Até os super-heróis têm sua identidade secreta (aquilo de que o Super-


Homem tem mais medo é que descubram quem ele é na vida cotidiana...
como muitos de nós que escondemos alguns aspectos de nossa identidade e
morremos de medo que os outros descubram esse nosso lado “oculto”...)
(Ciampa, 2012). Em vista disto, Almeida e Labrocini (2004, apud Zampiere,
1996) afirmam que:

No plano individual, a roupagem simbólica assumida pelo


estigma da AIDS passou a ser um dos grandes obstáculos que
impedem as pessoas de revelarem seu status sorológico pelo
medo do abandono, do julgamento e de reações hostis ou
negativas por parte dos outros, o que pode impedir algumas
delas de ter acesso aos serviços de saúde e, por conseguinte,
melhorar a qualidade de suas vidas. Também resultam
evidências de auto-estigmatização ou de vergonha, o que pode
conduzir à depressão, retraimento e a sentimentos
autodestrutivos. Estes sentimentos podem resultar em auto-
isolamento e exclusão da vida social e de relacionamentos
sexuais, e em circunstâncias extremas até chegar ao suicídio.

Na pesquisa que foi realizada com colaboradores(as) portadores(as) do


vírus, a partir dos relatos, vieses familiares como, por exemplo, a
subordinação da sexualidade das mulheres ao desejo masculino, expressa
desta forma pela colaboradora:

“... o F. (marido), ele foi meu primeiro e único homem [...].


Sabia que de vez em quando ele usava droga, mas como
eu não conhecia isto nunca pensei que ele pudesse estar
com o vírus da AIDS, [...] nunca tinha parado para pensar
sobre isto. Acho que nunca tinha associados às coisas. A
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gente acha que a pessoa que a gente ama não pode passar
estas coisas pra gente. Mesmo sabendo, eu não conseguia
conversar com ele sobre isto.” (colaboradora 2)

Assim como a força de preceitos religiosos, que agem sobre a


homossexualidade e o HIV, como é evidenciado no relato a seguir: “Nunca
abri isto para os meus pais. [...] Não sei o que é mais difícil dizer que sou gay
ou se tenho o HIV.” (colaborador 1) (Almeida; Labrocini; 2004)

Segundo Guimarães (2002) dentro da situação em que os indivíduos


que possuem o vírus do HIV, levando em conta a Representação ou a Auto-
Representação de ser um indivíduo HIV+, se divide em dois aspectos (que
foram impostos pela sociedade): no primeiro os portadores seriam vistos
como vítimas, em situações que o vírus foi contraído por transfusão de
sangue e afins; já no segundo, vistos como culpados/promíscuos, pois a
sociedade aponta geralmente para os homossexuais, prostitutas e usuários
de drogas injetáveis.
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5. Referências

ALMEIDA, M. R. C. B; LABRONICI, L. M . A trajetória silenciosa de


pessoas portadoras do HIV contada pela história oral . 2004. 263-274 p.
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