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Este trabalho foi realizado para a disciplina de História das Artes a pedido do professor. O
desafio era juntar e analisar três quadros.
Nesse sentido, procurei encontrar quadros de épocas diferentes que tivessem a mesma
temática, que me agradassem e que me ensinassem alguma coisa. Mais do que falar do que
conheço, queria tocar num tema que me fosse menos conhecido, para que, desse modo, este
trabalho me ajudasse a não só que, no futuro, pudesse interpretar melhor certos quadros como
a compreender coisas que desconheço e não entendo.
Como nasci numa família algo desligada da religião, essa temática é-me praticamente
desconhecida. Muitas das obras de que gosto têm uma relação forte com a Bíblia, o meu
desconhecimento nessa área faz com que muitas vezes tenha dificuldade em interpretar essas
obras. Por isso, quis estudar obras que tratassem um tema religioso para aprender um pouco
mais desse universo.
Por outro lado, e tendo em conta a sugestão do professor, procurei quadros que
estivessem reproduzidos nos manuais ou autores que nele estivessem referidos. Assim, a minha
escolha recaiu sobre três quadros que tratam o tema da Anunciação realizados por Fra Angelico,
Leonardo da Vinci e Paula Rego. Os dois primeiros estão no manual do 10º ano que foram a
minha principal fonte de informação, o terceiro encontrei-o num livro sobre a autora, sendo que
o seu nome é referido no manual do 11º ano.
ANUNCIAÇÃO
Comum em todos os quadros que tratam este tema é a presença do Anjo Gabriel. A
palavra Anjo deriva do latim angelus e do grego ángelos (ἄγγελος) que significavam mensageiro.
É importante na cultura cristã como mensageiro ou intermediário de Deus junto dos homens.
Por ter esta qualidade, representa-se habitualmente com asas, mostrando-o entre os dois
mundos – o terreno e o celeste.
Esta obra de Paula Rego insere-se num grupo de oito pequenas pinturas que foi convidada
a fazer pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, em 2002, para preencher um
número igual de nichos na parede da capela de Nossa Senhora de Belém, no Palácio da
Presidência em Lisboa.
É uma pintura quase quadrada que usa a técnica do pastel. Paula Rego nem sempre
privilegiou esta técnica, nos anos 60, por exemplo, usava enormes colagens. O uso do pastel
aproxima a pintura do desenho, proporciona uma maior espontaneidade, permitindo à artista a
captação rápida de pormenores, atitudes ou momentos.
Esta obra, como é comum em muitas obras da autora, não é uma mera ilustração de um
acontecimento. A artista reescreveu visualmente a história que lhe serviu de motivo,
selecionando e salientando detalhes e interpretações que acabam por sobrepor o seu universo
à narrativa inicial.
À obra de Paula Rego aplica-se o provérbio de que quem conta um conto acrescenta um
ponto. A artista acrescenta sentidos e interpretações, compondo as figuras de tal modo que se
abre toda uma complexidade de interpretações, desafiando e implicando o espetador pela
estranheza, pelo desvio.
Neste caso particular, a artista não só dialoga com a narrativa bíblica como com a
representação clássica deste tema, nomeadamente com os quadros citados. Num misto de
respeito e transgressão, de conhecido e desconhecido, de modelo e invenção, os corpos são
colocados lado a lado (tal como nas representações de Fra Angelico e Leonardo da Vinci),
contudo, de frente para o espetador e olhando um para o outro. Por um lado, oferecendo-se ao
olhar e interpretação do espetador, por outro refugiando-se desse olhar. O Anjo tocando na
barriga, algo desajeitado e cujo corte de cabelo acentua uma certa rigidez, pode estar a anunciar
a boa nova a Maria, como, pelo contrário, referir-se à sua própria gravidez, o que é acentuado
pela posição dos dedos da mão direta que nos outros quadros se dirigem a Maria e neste quadro
tocam em sim mesmo, pelos olhos fechados do Anjo, como que em sinal de recolhimento e por
fim pelo olhar que Maria lhe dirige, curioso e expetante.