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UNIP INTERATIVA

TRABALHO EM GRUPO – TG
Profa. SUELI APARECIDA ACTUM

ALUNO:

ANDREA HIRSCH – RA Nº 1616142

POLO: IPIRANGA

2016

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Proposta:

A consciência da visibilidade – uma estratégia da imagem


Realize um exercício de leitura de imagem, registrando o percurso desta leitura e
as questões que você utilizou para dialogar com as obras.
Sinta-se à vontade para elaborar quantas questões julgar necessárias para que
você, como leitor de imagem, consiga identificar os símbolos presentes nas
imagens, descrevendo os detalhes que você consegue perceber.
Não se esqueça de comparar as imagens e o contexto em que elas foram
produzidas, bem como seus títulos e respectivos temas.
Elabore ainda um relato sobre sua experiência com esta atividade.
Obras:

Madonna. Rafael. Ano: 1506. Dimensões: 113 x 88 cm


Material: óleo sobre tela. Estilo: Renascimento italiano
Local: Museu Kunsthistorisches – Viena/ Áustria
Disponível em: < http://virusdaarte.net/rafael-sanzio-virgem-no-prado/ > Acesso em: 11 mar.
2016.

Morro Vermelho. Lasar Segall, 1926. Óleo sobre tela: 115 X 95.
Disponível em: < http://www.wikiart.org/en/lasar-segall/morro-vermelho-
1926?utm_source=returned&utm_medium=referral&utm_campaign=referral > Acesso em: 11 mar.
2016.

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Resolução:

Para melhor cumprimento da proposta acima, a resolução será apresentada em


quatro tópicos, a saber:

1º) Análise da obra “Madona” de Rafael Sanzio


2º) Análise da obra “Morro Vermelho” de Lasar Segall
3º) Análise comparativa das obras acima mencionadas.
4º) Relato conclusivo da experiência pessoal com a atividade.

Isto posto, iniciamos com a resolução do primeiro tópico:

1º) Análise da obra “Madona” de Rafael Sanzio.

Na obra “Madona” de Rafael Sanzio, vê-se uma mulher no centro e em destaque,


com duas crianças nuas interagindo entre si aos seus pés. Todos estão descalços
representados em primeiro plano e ao fundo há uma paisagem. Algumas questões
podem ser levantadas como diretrizes para uma leitura crítica e detalhada da obra:

 O que está no centro do quadro?


 Quem é a mulher representada?
 Quem são as crianças?
 Por que suas imagens possuem auréolas?
 Por que as crianças estão representadas nuas?
 Por que a mulher foi pintada com cores fortes?
 Para onde está direcionado o olhar da mulher?
 Por que a criança da esquerda está ajoelhada e a da direita em pé?
 Por que as crianças interagem com uma cruz?
 Por que a mulher está segurando apenas uma das crianças?
 O que está representado ao fundo, em cinza azulado?
 Por que apenas a mulher e duas flores estão representadas em cores
fortes e o restante da obra em tons pastéis?
 Qual direção da luz mostrada pelas sombras?
 Qual época foi pintada?
 Qual escola pertencia o artista?

Antes de descrever a obra, convém reconhecer seus personagens, para que se


possam determinar passos iniciais.
O nome da obra, já nos dá algumas respostas. Madona, segundo o dicionário do
Google, significa “minha senhora” composto de m(i)a 'minha' e donna 'dona,
senhora'. Etimologicamente no italiano, a palavra “Madona” é a 'designação da
Virgem Maria, representação da Virgem Maria'. Em português é: “mulher cujo rosto
exibe uma beleza serena, de traços suaves e regulares; acepção artística da Virgem
Maria.
Sabe-se portanto, que a mulher figura central da obra, é a Virgem Maria.

Partindo deste fato, identifica-se as crianças como o menino Jesus e João Batista,
posto que ambos tem idade próxima, de acordo com os relatos bíblicos. Além disso,
Jesus e João Batista eram primos, e são representados conjuntamente em várias
obras.
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Sendo os personagens da obra figuras canônicas, o artista insere uma auréola
leve sobre a cabeça de cada um, quase que imperceptível, como se ainda estivesse
amadurecendo as características da mentalidade antropocêntrica. Não se atreve,
ainda, a pintá-las sem tal signo de santidade, mas já faz presente as características
de outro pensamento e não mais o teocêntrico.

Jesus e João Batista estão nus. Essa representação é comum das pinturas
renascentistas que trazem o resgate da cultura clássica com o naturalismo,
representando o homem em sua beleza natural. Rafael os reproduz brincando, como
se o nu fosse parte da ingenuidade e pureza infantil.

Maria está contra traje vermelho e manto azul. Tais cores contribuem para o
destaque dela como figura central do quadro que possui cores pasteis. Contudo, a
escolha de cores para tal figurino não é inédito nas artes. O artista apenas continuou
a representar as cores de tal vestimenta como outros artistas precursores
representavam. Pode-se supor que seria uma união do divino (azul) com o
sofrimento, a paixão de Cristo (vermelho).

O olhar de Madona está direcionado para baixo, um olhar melancólico para a cruz
que os meninos “brincam”. É como se a Virgem ao mesmo tempo admirasse as
crianças e imaginasse o que se sucederia com seu filho, o Cristo.

A interação entre João Batista e Jesus é dada pela cruz. A Bíblia relata que João
Batista é anunciador da vinda do messias, ou seja, de Jesus Cristo. João coloca-se
em posição de reverência ao Cristo e lhe entrega a cruz como se fosse uma
confirmação do prenúncio da morte de Jesus.

Maria observa as crianças mas com seu filho entre suas mãos. Como se deixasse
Jesus em pé mas não quisesse se afastar dele, observando o que pudesse o atingir.
Poucas são as obras em que a virgem não está com o menino Jesus em seus
braços. É como se Rafael quisesse mostrar Madona e o Menino Jesus como seres
humanos comuns mas sem se afastar de toda a realidade bíblica.

Rafael, como os pintores renascentistas, pintam paisagens como “pano de fundo”


de suas obras retratais. Vê-se uma linha divisória do cenário em que está Maria e ao
fundo um pequeno vilarejo ou aldeia. A perspectiva é clara nesta obra atribuindo um
caráter ainda mais realista.

Em vermelho, cor destacada na obra em virtude da paleta ocre dominante, além


da figura de Madona, tem-se duas flores. Uma está forte, a crescer e a outra
murcha, curvada. Pode-se comparar com João Batista e Jesus. Como se João
estivesse “a diminuir” e Jesus “a crescer”, como que remetesse à citação do próprio
João Batista nos Evangelhos ao dizer “importa que Ele (Cristo) cresça e eu diminua”.

As sombras que podem ser observadas na obra mostram que a luz não está em
Madona e sim em Jesus. Nota-se a sombra em Jesus e em João Batista, mas não
se nota a sombra em Maria.

Sabe-se que a obra foi pintada em 1506, na época do Renascimento.


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A Renascença introduziu uma cultura laica, não religiosa à sociedade. Com a
retomada do mundo clássico, temas mitológicos e cenas cotidianas tomaram a
temática das obras. Identificamos isso na obra na inquietação de Rafael que embora
pinte os personagens canônicos em cenário comum, ainda os remete ao caráter
religioso mantendo a aureola.

O Renascimento está ligado ao capitalismo, ao comércio e à ascensão burguesa


que ajuda a financiar a arte (mecenato). O humanismo que torna o homem o centro
dos interesses é a temática da arte. Dessa maneira, o artista se vê como um
prestador de serviço, que embora queira atender seu cliente (Clero), não o faz com a
imparcialidade contratada por querer se mostrar como artista e homem. É nesta
época que as obras começam a ser assinadas.

Além das características da mentalidade renascentista já explanadas identificadas


na obra, a pintura traz características artísticas desta escola.

Como características pictóricas do Renascimento presente em “Madona”


podemos destacar o sfumato, a perspectiva, a própria obra ser realizada em tinta
óleo, a representação geométrica piramidal (João Batista – Madona – Jesus) que
confere equilíbrio ao conjunto, o realismo que pode-se notar as texturas e sombras
da cena.

Na representação das nuvens e campo na obra, identificamos claramente o


sfumato que é um esmaecimento dos contornos, num jogo de luz e sombra que dão
a ilusão de distanciamento.

Rafael de Sanzio teve uma vida curta, de 37 anos apenas, mas deixou o legado
de suas obras perpetuar sua arte. Pintou uma série de Madonas e não apenas a que
ora analisamos. Filho de pintor, pode herdar e aprender a arte com o privilégio de
poucos, vez que seu pai também possuía ótimas relações com a corte, o mecenato
e o clero. Talvez daí venha sua astúcia em “não bater de frente com os poderosos”.

Dentre suas principais obras está “Escola de Atenas” obra que, pura e
simplesmente lida com cuidado, explica por completo o cenário do contexto
renascentista no qual o artista estava inserido.

Destacamos abaixo na própria obra, como um “rascunho visual” alguns dos


pontos citados e analisados anteriormente.

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Grifos pessoais para leitura e análise da obra “Madonna” de Rafael Sanzio

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Feita e minuciosa leitura e análise de Madona, passemos à análise de Morro
Vermelho de Lasar Segall.

2º) Análise da obra “Morro Vermelho” de Lasar Segall

Na pintura Morro Vermelho de Lasar Segall vemos uma mulher com uma criança
no colo ao centro, numa cidade cercada de palmeiras. A obra possui cores fortes.
Para nortear uma leitura crítica e detalhada da obra algumas questões podem ser
levantadas:

 O que está no centro do quadro?


 Quem é a mulher representada?
 Quem é a criança?
 Por que são negros
 Para onde está direcionado o olhar da mulher?
 Para onde está direcionado o olhar da criança?
 Como a mulher está vestida? E a criança?
 O que está representado ao fundo?
 O que representam os coqueiros?
 Qual o significado das duas plantas, uma em cada lateral da mulher?
 O que as nuvens representam?
 Por que o vestido da mulher possui duas cores?
 Qual época foi pintada?
 Qual escola pertencia o artista?

O nome da obra nos remete ao local onde os personagens, mulher e criança se


encontram, um morro, um cenário comum do subúrbio brasileiro.

A mulher representada frontalmente é Maria, acalentando em seus braços o


Menino Jesus. Contudo, a cor achocolatada da pele é muito rara em tais
representações cristãs e o artista chocou o público em 1926 com tal atitude. O fato
de Lasar Segall ter concebido esse quadro figurando Maria Mãe dos Homens e seu
Filho como negros, gente do povo, atesta um pacto ético do artista com as figuras
marginalizadas, oprimidas. O aspecto descritivo que Segall confere à figura da
mulher e da criança consegue manter o caráter hierático das figuras no centro da
composição e, ao mesmo tempo, fornece todos os índices para a identificação racial
delas: o tom escuro da pele da Mãe e do Filho, os lábios grossos, os narizes largos,
os cabelos crespos.

A mulher olha para frente, com olhar reto e vazio enquanto que o menino olha
tristemente para baixo e isso demonstra um paradoxo na obra que é o equilíbrio da
tradição europeia com a ideologia das vanguardas. Ainda que seu olhar não esteja
direcionado para o filho, seus braços o “embalam”.

Ambos personagens possuem figurinos comuns do povo. Maria está com sapato
recatado, demonstrando o respeito do autor à sua imagem.

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Os coqueiros trazem e ratificam a identificação nacional do autor com a nação. A
perspectiva cubista da obra, alcançada pelas linhas diagonais traçadas e seguidas
pelos coqueiros que ressaltam, não sem dificuldade, o caráter ascensional do “morro
vermelho” que dá título à obra. Além disso, eles remeterem a vista do observador
para as nuvens que estão como “ponto de fuga” desta perspectiva, as quais
possuem formas ovais e compõem o céu e o “limite do morro”.

As plantas que cercam a mulher ao mesmo tempo que equilibram a composição,


ajudam a emoldurar as figuras em uma ambientação “exótica”.

As linhas formadas pelos braços e pernas de Maria simulam o infinito, como se


esta imagem, Maria e o Menino Jesus, devesse ser perpetuada de maneira simples
e com identificação do povo. Assim, parte do vestido tem sua cor alterada a fim de
ressaltar essa “linha do infinito” formada por seus membros.

Sabemos que a obra data de 1926, em pleno modernismo. Segall no entanto


capta as características do expressionismo, realismo, cubismo e futurismo e
consegue mesclar tudo em suas obras. A procura pelo equilíbrio entre forma e
conteúdo, entre abstração plástica e aderência ao real, era uma busca fundamental
para o artista.
Podemos evidenciar essa busca nas próprias palavras do pintor, em seu texto
“Sobre arte” – base para uma conferência em São Paulo –, que faz um retrospecto
da arte através da história, tendo como eixo a crença na arte como a mais plena
manifestação do espírito de comunhão entre os homens.

Assim como em Madona, destacamos abaixo na própria obra, como um


“rascunho visual” alguns dos pontos citados e analisados anteriormente.

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Grifos pessoais para leitura e análise da obra “Morro Vermelho” de Lasar Segall

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3º) Análise comparativa das obras acima mencionadas.

Feitas as leituras e análises das obras “Madonna” e “Morro Vermelho” há alguns


pontos que merecem ser destacados.

 Ambas obras tratam do mesmo tema, em épocas distintas.

 Ambas tentam aproximar a figura de Maria do povo e dos “homens


comuns” sem deixar contudo, de tratar a virgem com respeito.
 Rafael:
 Madonna está descalça – aproximação com o homem comum
 Pinta uma auréola sobre sua cabeça – respeito à sua
divindade ou o valor que os devotos tinham
 Segall:
 Mulher negra – aproximação com o povo brasileiro
 Está calçada e vestida de maneira recatada – respeito à sua
imagem como mulher e santa.

 Ambas protegem o menino Jesus com seus braços.

 Ambas retratam a Virgem no centro da obra.

 Ambos artistas encontravam-se em um dilema com a representação do


sagrado onde ao mesmo tempo que queriam inovar e romper com os
padrões artísticos anteriores, buscavam não ferir os valores religiosos.

4º) Relato conclusivo da experiência pessoal com a atividade.

O exercício foi um trabalho de leitura e pesquisa. Como apaixonada por arte, não
teve como não ser prazerosa tal atividade.
Deparei-me com fatos que desconhecia (algumas obras de Lasar Segall por
exemplo) mas o que mais me surpreendeu foram dois fatos. O primeiro foi a
suposição de uma “crise de valores” dos artistas e o segundo foi a composição linear
remetendo ao infinito na obra de Segall.
Sei que a “crise de valores” que identifiquei nos artistas pode ser apenas uma
suposição. Mas ao notar tal característica passei a enxergá-los como seres
humanos que fazem sua arte com a finalidade de perpetuar seus valores e crenças.

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Bibliografia consultada:

Disponível em: < http://objetivojuane.blogspot.com.br/2010/03/lasar-segall.html >


Acesso em: 24 abr. 2016.
Disponível em: < http://www.museusegall.org.br/pdfs/texto_Tadeu_Chiarelli.pdf >
Acesso em: 24 abr. 2016.
Disponível em: < http://kulturiart.blogspot.com.br/2008/03/segall-muito-alm-do-
expressionismo.html > Acesso em: 24 abr. 2016.
Disponível em: <
https://www.google.com.br/search?q=madona+de+rafael+an%C3%A1lise&newwindo
w=1&biw=1366&bih=623&source=lnms&sa=X&ved=0ahUKEwjux4fSyKXMAhVIf5AK
Hb96BbYQ_AUIBigA&dpr=1#newwindow=1&q=madonna+significado > Acesso em:
24 abr. 2016.

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