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Jaqueline Donada
Federal University of Technology - Paraná/Brazil (UTFPR)
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Tradição e Modernidade: O Modernismo Anglófono em tradução de ensaios, cartas e diários. View project
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Mestre em Literaturas de Língua Inglesa pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul e Doutoranda em Literaturas de Língua Inglesa pela mesma universidade.
Insuspeitável Modernidade: Criação e Apreciação Artística Segundo ... 187
1
“Tradicional” aqui significa em conformidade com as tendências da época e não
necessariamente inovadora ou original. Nesse sentido, uma pintura tradicional seria
aquela de representação objetiva, marcada pela clareza e calma organização das
imagens na tela.
188 Gláuks
2
O Glossário de Derrida explica que “o suplemento é uma adição, um significante
disponível que se acrescenta para substituir e suprir uma falta do lado do significado
e fornecer o excesso de que é preciso” (p. 88). Essa explicação enfatiza o papel do
espectador como um excesso (pelo fato de a tela estar completa sem ele) necessário
(pela impossibilidade de uma tela sem espectador). Conforme discuto a seguir, o
mesmo acontece em Frankenstein.
Insuspeitável Modernidade: Criação e Apreciação Artística Segundo ... 191
Além disso, a cena de interior é invadida por uma luz que impõe
a presença do exterior, da mesma forma que a personagem
diante da porta, prestes a sair ou a entrar, força-nos a perceber a
existência de um exterior e seu constante diálogo com o interior.
Um efeito similar é produzido em Frankenstein através
da estrutura narrativa, organizada em círculos concêntricos. Há
três narradores: Robert Walton, que narra a primeira e a última
camada, Victor Frankenstein, narrador da segunda e da
penúltima e a criatura, que narra a camada do centro. Essa
estrutura pode ser visualizada da seguinte forma: ( ( O ) ).
Dois movimentos fazem acontecer o jogo entre interior e
exterior: primeiro, ao iniciar a leitura, o leitor é conduzido por
um movimento centrípeto. Entra-se no romance pela história de
Walton, mas logo se percebe que ele não é o protagonista do
livro e, portanto, é necessário dar um passo adiante, em direção
ao centro. Isso leva o leitor para a narrativa de Frankenstein, que
se apresenta como o verdadeiro protagonista. O
desenvolvimento de sua história, no entanto, faz com que mais
um passo em direção ao centro seja necessário, já que é lá que se
encontra o coração das trevas. Na narrativa da criatura temos o
ponto alto do romance e, como ela aparece no ponto aonde nos
conduziu o movimento centrípeto, ela inicia, necessariamente,
um movimento inverso, centrífugo. Depois de sermos
conduzidos ao ponto mais interior do romance, somos
conduzidos de volta para fora. A narrativa da criatura nos
reconduz à de Frankenstein, que, por sua vez, leva-nos
novamente para a de Walton. E assim atravessamos a obra, do
exterior para o interior e outra vez para o exterior.
Se, em Frankenstein, o ponto de entrada do leitor na
obra é a periferia, de onde ele vai ao centro para a ela retornar,
em As Meninas, acontece o contrário. Acredito que o ponto que
inicialmente capta a atenção do espectador seja a imagem da
infanta Margarida, que está no centro e sobre a qual incide
196 Gláuks
3
Pablo Picasso trabalhou exaustivamente de agosto a dezembro de 1957, quando
tinha já 76 anos, no estudo do quadro As Meninas. Nesse período produziu cinqüenta
e oito variações da tela de Velázquez. Essas obras encontram-se atualmente no
Museu Picasso em Barcelona.
Insuspeitável Modernidade: Criação e Apreciação Artística Segundo ... 197
Referências Bibliográficas
BARBUDO. Maria Isabel. “Arte Pela Arte. (Ars Gratia Artis)”. IN: E-
Dicionário de termos literários. Universidade Nova de Lisboa/Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, 2005. Disponível em
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/A/arte_pela_arte.htm Acesso em
21.07.2007.
BATICLE, Jeannine. Velázquez, el Pintor Hidalgo. Trad. Irene Echevarría;
Julia G. Gil. Barcelona: Ediciones Grupo Zeta, 1999.
198 Gláuks