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À esquerda, "Papa Inocêncio X", de Diego Velázquez (1650). À direita, "Estudo do retrato do Papa Inocêncio X de Velázquez", de Francis Bacon
(1953). Wikimedia Commons/Reprodução Leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/enem/o-que-e-intertextualidade-e-como-ela-aparece-no-enem/
O que é intertextualidade e como ela
aparece no ENEM
■ Em “Poema de Sete Faces”, parte do livro “Alguma Poesia”,
de 1930, o autor Carlos Drummond de Andrade versa sobre
a sua relação com o mundo. Ele escreve: “Quando nasci, um
anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos!
ser gauche na vida”.
■ Quase cinco décadas depois, em 1979, o cantor e
compositor Chico Buarque inicia a canção “Até o Fim”
dizendo: “Quando nasci veio um anjo safado / o chato dum
querubim / E decretou que eu estava predestinado / A ser
errado assim”.
O que é intertextualidade e como ela
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■ Você deve ter notado que os dois textos compartilham
trechos muito semelhantes, quase idênticos. Teria, então,
Chico Buarque plagiado o poema de Drummond? A resposta
é simples: não. Chico Buarque referenciou o texto de
Drummond, em um fenômeno chamado intertextualidade.
■ A canção de Chico Buarque não é a primeira a fazer uma
referência direta a outro texto. E, definitivamente, não foi a
última. A intertextualidade ocorre de infinitas maneiras, em
diversos gêneros e é um tema recorrente no Enem e nos
vestibulares.
O que é intertextualidade e como ela
aparece no ENEM
■ O que é intertextualidade? De forma simples e direta,
intertextualidade significa a retomada de um texto em outro.
■ Mas atenção, quando falamos em texto, não estamos,
necessariamente, nos referindo ao texto verbal – aquele
constituído apenas de palavras escritas ou faladas.
■ Uma pintura, uma fotografia ou uma escultura também
podem ser chamados de texto, neste caso não-verbais.
O que é intertextualidade e como ela
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■ “Nas artes, é comum que uma obra se utilize de uma ideia,
um verso, da citação de um trecho ou mesmo apenas de uma
referência de outra obra. Pode ser um romance, uma peça de
teatro, a letra de uma canção, uma pintura, uma escultura
ou qualquer outra forma de expressão artística”, explica
Maurício Soares Filho, professor de Literatura do Curso Anglo
e especialista em História da Arte.
■ Confira um exemplo nas artes plásticas:
O que é intertextualidade e como ela aparece no ENEM
À esquerda, "Papa Inocêncio X", de Diego Velázquez (1650). À direita, "Estudo do retrato do Papa Inocêncio X de Velázquez", de Francis Bacon
(1953). Wikimedia Commons/Reprodução Leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/enem/o-que-e-intertextualidade-e-como-ela-aparece-no-
enem/
O que é intertextualidade e como ela
aparece no ENEM
■ Na figura da esquerda, está o quadro “Papa Inocêncio X”, do
espanhol Diego Velázquez, pintado em 1650. Na da direita,
“Estudo do retrato do Papa Inocêncio X de Velázquez”, do
artista anglo-irlandês Francis Bacon, de 1953 – cuidado para
não confundir com o outro Francis Bacon, filósofo do século
17.
■ Repare que ambos retratam a mesma figura, o Papa
Inocêncio X, que foi o chefe supremo da igreja católica em
meados do século 17. Por mais que retratem o mesmo
indivíduo, as duas obras possuem finalidades totalmente
diferentes – além, é claro, dos 300 anos que as separam.
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■ Velázquez foi o principal retratista da corte espanhola. Em
um tempo em que não existia fotografia, as pinturas deste
gênero eram consideradas artigo de luxo, a única maneira de
eternizar a imagem de um indivíduo. Quanto mais realista
fosse o retrato, de maior prestígio ele desfrutaria.
■ O quadro “Papa Inocêncio X” é um exemplo disso. A obra é
um dos mais famosos retratos da História da Arte, sobretudo
por conta da forma como o artista conseguiu pintar não
apenas com uma fidelidade estética, mas transmitindo o
poder e a autoridade do líder espiritual.
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■ Não é a toa que Francis Bacon – o artista – era obcecado
pelo trabalho de Velázquez. Durante as décadas de 1950 e
1960, estima-se que o artista tenha criado cinquenta
versões do retrato do papa.
■ As obras de Bacon, entretanto, mostram um lado diferente
do líder: no lugar da austeridade e compostura, entra o
desespero e a agonia. O fantasmagórico papa grita e suas
feições estão distorcidas.
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■ Enquanto o retrato de Velázquez tinha como objetivo
eternizar a figura e o poder do papa, a obra de Bacon, um
homem ateu e repreendido pela sua sexualidade, foi uma
maneira encontrada pelo artista para expressar seus
sentimentos.
■ As duas retratam a mesma figura, mas a partir de contextos
e objetivos totalmente divergentes.
■ Bacon resgata a obra de Velázquez aplicando a sua visão e
intenção na tela. Isto é intertextualidade.
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Exemplos de intertextualidade
■ Agora você já sabe que intertextualidade é a retomada de
um texto em outro. E que nem todo texto é composto
somente por palavras e frases.
■ O vídeo abaixo compila referências a filmes de sucesso dos
anos 1970 e 1980 na primeira temporada da série Stranger
Things, da Netflix. A produção é apontada como uma das
campeãs em referenciar ou resgatar clássicos da ficção
científica e da fantasia.
A intertextualidade na série Stranger Things, da Netflix
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Exemplos de intertextualidade
■ Se o conceito de intertextualidade ainda está soando um
pouco confuso, tome como exemplo o trecho do conto “A
cartomante”, de Machado de Assis:
“Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra
do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava
a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de
1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar
uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras
palavras.”.
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Exemplos de intertextualidade
■ Note que o narrador cita diretamente os personagens de
William Shakespeare, como se assumisse a existência do
autor e de sua obra “Hamlet” dentro da narrativa. Isso
também é intertextualidade.
■ Nem sempre o fenômeno ocorrerá em formato de releituras
ou versões: uma mera citação à existência de um texto
externo pode ser considerado um exemplo de
intertextualidade.
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Exemplos de intertextualidade
■ Um campo onde isso ocorre com frequência é o publicitário. Para
Maurício Soares, professor do Anglo, é compreensível que uma
obra de arte muito conhecida, uma frase importante de
determinado autor ou a referência a uma ideia já consolidada
possam agregar valor ao produto que está sendo anunciado na
propaganda.
■ “Além de associar a imagem do produto a algo reconhecido como
positivo e verdadeiro, o espectador/leitor que percebe a referência
intertextual ao ver a propaganda. Isso gera uma agradável
sensação de que é capaz de identificar um dado implícito no
discurso, o que também pode aumentar a simpatia pelo produto”,
afirma o professor.
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■ Veja como exemplo a propaganda ‘Branca de Neve’, da marca de
carros sueca Volvo.
Propaganda sul-
africana da marca
de carros Volvo,
veiculada em
2009: “Volvo XC90.
Com sete lugares.
Desculpe”. Ads of
the
World/Reprodução
Leia mais em:
https://guiadoestu
dante.abril.com.br/
enem/o-que-e-
intertextualidade-e-
como-ela-aparece-
no-enem/
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Exemplos de intertextualidade
■ O cartaz de 2009 faz uma alusão direta à personagem do
conto de fada. A princesa usa o vestido que aparece na
adaptação da Walt Disney e pede carona em uma estrada no
“mundo real”. No texto superior é possível ler: “Volvo XC90.
Com sete lugares. Desculpe”, em tradução livre.
■ Mesmo com a ausência dos anões ou de qualquer indicação
verbal que confirme se tratar da Branca de Neve, o diálogo
com o conto de fadas é feito automaticamente e a ironia da
frase é entendida pelo leitor.
O que é intertextualidade e como ela
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Exemplos de intertextualidade
■ A intertextualidade, neste caso, acontece no momento em
que se insere o conto da Branca de Neve em um contexto
que não é o seu original e o leitor é capaz de reconhecer
esse movimento.
■ Para quem não esteja familiarizado com o conto, ou nunca
tenha assistido o filme da Disney, a imagem não terá o
sentido completo.
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Qual a diferença entre intertextualidade, plágio e inspiração?
■ Quando se discute intertextualidade, é comum que surjam
dúvidas na hora de diferenciar uma referenciação de um plágio –
ou ainda de uma inspiração. De fato, não há uma regra definitiva
e absoluta, mas conhecer a definição de cada um destes
fenômenos ajuda.
■ É considerado plágio a cópia de um trabalho já realizado por
outra pessoa. Simples e direto, é o famoso “copia e cola”. Nos
casos de plágio, normalmente, o artista não contribui e não
desenvolve a ideia inicial em qualquer aspecto”, explica o
professor de História da Arte.
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Qual a diferença entre intertextualidade, plágio e inspiração?
■ O famoso quadro “Independência ou Morte!”, de Pedro
Américo (1843-1905), é a principal representação visual do
momento da declaração da independência do Brasil, em
1822. O quadro, concluído em 1888, porém, é alvo de uma
série de críticas, incluindo plágio.
■ Artistas da época notaram que a obra compartilhava muitas
semelhanças com a tela “1807, Friedland”, do francês Jean-
Louis-Ernest Meissonier, que mostra uma vitória militar de
Napoleão Bonaparte.
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Qual a diferença entre intertextualidade, plágio e inspiração?
“Independência ou Morte”, de Pedro Américo, 1888. Domínio público/Divulgação Leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/enem/o-que-e-
intertextualidade-e-como-ela-aparece-no-enem/
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Qual a diferença entre intertextualidade, plágio e inspiração?
“1807, Friedland”, de Jean-Louis-Ernest Meissonier, 1875 Wikimedia Commons/Reprodução Leia mais em:
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Qual a diferença entre intertextualidade, plágio e inspiração?
■ Apesar das acusações, não há um consenso em torno do
tema, e algumas leituras defendem que Américo incorporou
elementos de diversas obras que faziam parte do movimento
chamado “Pintura de História” enquanto citações, e não
cópia.
■ Diferente do plágio, na relação intertextual podemos afirmar
que um texto “se alimenta” do outro, podendo um contribuir
com a compreensão do outro ou ainda ampliando o seu
sentido original.
O que é intertextualidade e como ela
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Qual a diferença entre intertextualidade, plágio e inspiração?
■ “Só podemos afirmar que se trata de um caso de
intertextualidade quando não restarem dúvidas de que o
artista está se referindo a determinada obra. A forma como
a referência é construída, como no exemplo entre Drummond e
Chico Buarque, deixa claro que o verso original foi
intencionalmente usado nas canções. Não é um exemplo de
inspiração, o que de fato ocorre é uma citação”, esclarece o
professor Soares.
O que é intertextualidade e como ela
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Qual a diferença entre intertextualidade, plágio e inspiração?
■ Quanto à inspiração, Soares explica que é sempre possível
inspirar-se na ideia de um outro artista, mas o que se espera
é que, mesmo partindo de um princípio semelhante, cada
artista desenvolva o seu trabalho de maneira diferente,
utilizando a peculiaridade de seu estilo pessoal.
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Intertextualidade no Enem
■ Nas provas do Enem e dos principais vestibulares, a
intertextualidade é um tema frequentemente explorado.
■ A boa notícia é que raramente as questões exigem o
conhecimento do estudante a respeito das referências
presentes nos fragmentos fornecidos para análise.
O que é intertextualidade e como ela
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Intertextualidade no Enem
■ “As boas provas não se baseiam em medir a capacidade do
estudante de memorizar um maior número de frases ou
imagens, mas sim em avaliar sua habilidade de compreender
a natureza da ligação entre os textos”, afirma o professor do
Anglo, que acrescenta:
■ “Geralmente, é solicitado que o candidato saiba reconhecer
em que aspecto a utilização da intertextualidade contribui
para a compreensão do discurso do artista que optou por
referir-se a outro na construção de seu trabalho”.
Intertextualidade no Enem
■ Abaixo, confira uma questão da prova de Linguagens do
Enem 2014.