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Rio de Janeiro
out./dez. 2007
A Construção de uma lei: O Diretório do Índios
produzir o seu próprio sustento. Insistia, também, que se deixasse claro para
os índios ser intenção de Sua Majestade – ao promover aldeamentos e sugerir
que trabalhassem – garantir a sua liberdade e equipará-los aos seus demais
vassalos. Ordenava, ainda, o ensino da língua portuguesa, de modo a
prescindirem de intermediários no contato com o monarca.8
O padre Antonio Machado reportou, posteriormente, que após
contatar os índios Gamela procedeu da seguinte maneira: tendo sido recebido
festivamente pelos índios, com bolos, batatas e amendoins e os presenteado
com facas, espelhos e anzóis, ordenou aos soldados sob seu comando que
jogassem suas armas no rio e pediu aos índios que fizessem o mesmo – no que
foi atendido; depois, passou cartas de vassalagem aos Principais.9
Insinuam-se nas recomendações de Mendonça Furtado três
preocupações presentes na política indigenista formulada pela metrópole:
primeiramente, o estabelecimento das populações indígenas em unidades
populacionais fixas, de forma a proteger o território colonial, através da
ocupação efetiva; em seguida, a sua incorporação ao modelo de civilização
europeu, pautado no trabalho – especialmente o agrícola – percebido não
mais, somente, como instrumento de exploração de riquezas, mas como
mecanismo de desenvolvimento de valores ocidentais, especialmente a idéia
da poupança e do enriquecimento; por fim, a introdução e o fortalecimento da
autoridade metropolitana, através do ensino da língua portuguesa.
Importa reter, por ora, o quanto essa primeira intervenção de
Mendonça Furtado, voltada para o estabelecimento de núcleos populacionais
e elaboração de estratégias de civilização, está informada pelas projeções
metropolitanas – consubstanciadas nas “Instruções” secretas recebidas em
Portugal. Em respeito a elas, ordenava a introdução das práticas que entendia
serem necessárias para a sua consecução, especialmente as que resultariam na
cia inédita do governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão,
Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Rio de Janeiro: IHGB, 1963. 3 v., v. 1, p.
31. Doravante, a obra será referenciada pela sigla MCM-IHGB, acompanhada da
indicação do volume e da página.
8 Francisco X. de M. Furtado [Instrução passada ao Padre Antonio Machado, em
14/8/1751]. AHU, 33, 3080.
9 Antonio Machado, padre [Carta escrita em 1751]. Arquivo Público do Pará, códice
279, documento 017 – doravante o arquivo em questão será identificado pela sigla
APEP e a seqüência de números corresponderá ao códice e ao documento, respecti-
vamente.
14 Idem [Instrução que levou o Capitão-mor João Batista de Oliveira quando foi esta-
belecer a nova Vila de São José de Macapá, em 18/12/1751]. MCM-IHGB, v. 1, p.
115.
15 Sobre essa questão ver FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina:
política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1993 e SILVA, Ana
Cristina Nogueira da. & HESPANHA, António Manuel. A identidade portuguesa.
In: MATTOSO, José (org.). História de Portugal – O Antigo Regime. v. 4. Lisboa]:
Estampa, 1993, p. 19-37 e, sobretudo, as obra de Banha de Andrade: ANDRADE,
Antonio Alberto Banha de. Vernei e a filosofia portuguesa no 2º centenário do apa-
recimento do Verdadeiro Método de Estudar. Braga: Livraria Cruz, 1946 e
ANDRADE, Antonio Alberto Banha de. Vernei e a cultura do seu tempo. Coimbra:
Universidade de Coimbra, 1966.
43 Idem [Instrução passa ao tenente Diogo António de Castro para estabelecer a vila de
Borba, a Nova, antiga Aldeia de Trocano, em 6/1/1756]. MCM-IHGB, v. 3, p.
895-900.
44 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 12/10/1756]. MCM-IHGB, v. 3, p. 942.