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MÓDULO 2

Pedagogia histórico-crítica
na alfabetização

Objetivos
Conhecer os princípios teóricos e metodológicos da Pedagogia Históri-
co-Crítica;

Refletir sobre as concepções de alfabetização/letramento como eixo


norteador das práticas pedagógicas com base na Pedagogia Histórico-
Crítica.

2.1 Pedagogia Histórico-Crítica: princípios teóricos e


metodológicos

A Pedagogia Histórico-Crítica (PHC) é uma teoria da educação elaborada


pelo professor Dermeval Saviani (1978). Nascido em Santo Antônio de Posse,
em São Paulo, no ano de 1943, graduou-se em Filosofia pela Pontifícia Univer-
sidade Católica de São Paulo (1966) e fez doutorado em Filosofia da Educação
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1971). Aposentou-se como
professor na Universidade Estadual de Campinas, onde permanece pesquisan-
do. Possui obras tais como: Educação brasileira: estrutura e sistema (1973); Edu-
cação: Do Senso Comum à Consciência Filosófica (1980); Escola e Democracia
(1983); Ensino Público e algumas falas sobre Universidade (1984); Sobre a Con-
cepção de Politecnia (1989); Pedagogia Histórico-Crítica, primeiras aproxima-
ções (1991); História das ideias pedagógicas no Brasil (2007); A pedagogia no
Brasil: história e teoria (2008); Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na
educação escolar em coautoria com Newton Duarte (2012); História do tempo
e tempo da história (2015), dentre outras (MARSIGLIA; CURY, 2017).

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Figura 3 – Dermeval Saviani
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Fonte: Puc/Campinas (2017).

Ao elaborar a PHC, Saviani situa a escola como instituição difusora dos


conhecimentos produzidos e histórico-culturalmente sistematizados na socie-
dade, valorizando o saber escolar e buscando a reorganização do processo edu-
cativo com base na realidade social.

Essa pedagogia apresenta alguns pressupostos teórico-metodológicos


que contribuem para melhor organização, desenvolvimento e avaliação do tra-
balho pedagógico, favorecendo a aprendizagem dos estudantes. São estes:
prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática
social final. Saviani deu esta organização didática apenas para facilitar seu en-
tendimento, isto é, não significa que o professor tenha que seguir tais passos
de forma mecânica, mas sim, compreender este movimento dialético a partir
da prática social. Esta sequência apenas contribui para que o professor-alfabe-
tizador, ao problematizar e analisar sua práxis, busque conhecimento teórico,
instrumentalizando-se para agir com base numa reflexão fundamentada de
sua prática educativa, incorporando conhecimentos científicos que o ajudem a
resolver problemas, além de construir novas aprendizagens que respondam às
demandas do tempo presente. (SOUZA; ALBUQUERQUE, 2021).

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Nesse sentido, nas palavras de Saviani,

O primeiro momento do método implica, pois, a identificação da forma como a


prática social se apresenta na sociedade atual sendo, pois, comum a professores
e alunos. Essa prática comum, porém, é vivenciada diferentemente pelo professor
e pelos alunos. Enquanto o professor tem uma visão sintética da prática social,
ainda que na forma de síntese precária, a compreensão dos alunos manifesta-se
na forma sincrética. A partir daí se busca identificar, no segundo momento (pro-
blematização), quais são os problemas postos pela prática social que a escola
deve trabalhar. Identificados os problemas é necessário buscar os instrumentos
que nos permitem enfrentá-los. Chega-se, então, ao terceiro momento do mé-
todo que é a instrumentalização que envolve a apropriação dos conhecimentos
acumulados pela humanidade ao longo da história a partir dos quais se pode
responder aos problemas enfrentados. Na medida em que o professor assegura
aos alunos a apropriação dos conhecimentos científicos disponíveis, atinge-se o
quarto momento que constitui o ponto culminante do processo educativo. Cha-
mo a esse momento de “catarse”, conceito que foi redefinido por Gramsci com o
sentido de “incorporação superior da estrutura em superestrutura na consciência
dos homens”. Ocorre, aí, a efetiva incorporação dos instrumentos culturais, trans-
formados em elementos ativos de transformação social. Chega-se, por fim, ao
último momento, o ponto de chegada, que é a própria prática social, compreen-
dida agora não mais em termos sincréticos pelos alunos. Nesse ponto, ao mesmo
tempo em que os alunos ascendem ao nível sintético em que já se encontrava o
professor no ponto de partida, reduz-se a precariedade da síntese do professor,
cuja compreensão se torna cada vez mais orgânica (2014, p.30-31).

Esse movimento de ação e transformação sobre o conhecimento científi-


co, ao mesmo tempo em que há aprofundamento, há refinamento, causando
uma ruptura com a ideia de memorização, própria da vertente da Pedagogia
Tradicional institucionalizada nas escolas, vivenciada tanto pelos professo-
res quanto pelos estudantes. Isso rompe um laço de dominação e alienação,
superando gradativamente o espontaneísmo. O professor consciente, ao se
apropriar do conhecimento científico, mobiliza ferramentas para acessar/in-
corporar/transformar o saber sistematizado e produzido pela humanidade para
mediar intencionalmente a aprendizagem dos estudantes, realizando propo-
sições pedagógicas com sentido e significado para o avanço do processo de
ensino e aprendizagem.

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Em outras palavras, a mediação do trabalho pedagógico ocorre a partir de
etapas que se interpenetram, as quais devem ser apresentados como elemen-
tos teórico-práticos da alfabetização discursiva, são elas:

a) Prática social inicial – o professor realiza um diagnóstico de sua turma so-


bre os conhecimentos prévios dos estudantes, dialogando e analisando em que
ponto da aprendizagem eles estão em relação ao objeto de conhecimento. Nes-
se momento, é fundamental estimular que os estudantes possam se expressar
sobre sua trajetória, para que o professor possa ter elementos suficientes que
o ajudem a compreender não apenas sobre o que o estudante conhece, mas
quais as suas potencialidades de aprendizagem, individualmente e em grupo1;

b) Problematização – o professor utiliza o diagnóstico elaborado para identifi-


car os principais problemas apresentados pela turma. Ao realizar tal movimento,
identificará os conteúdos que devem ser introduzidos ou aprofundados com os
estudantes no decorrer do ano letivo. Questionando o conteúdo e levantando
questões para direcionar atividades didático-pedagógicas que se configurem
em obstáculos possíveis de serem resolvidos pelos estudantes, conforme a ne-
cessidade apresentada por eles;

c) Instrumentalização – com o diagnóstico mais preciso (Em que momento


os estudantes estão? Quais conteúdos precisam aprender? Como colocarei os
conteúdos à disposição dos estudantes para que compreendam/apropriem/re-
criem?). Nessa etapa, o professor passa a pesquisar e se fundamentar teórica e
metodologicamente para equacionar as situações-problema identificadas. É o
momento em que o professor passa a estabelecer relações significativas entre
seus conhecimentos e o objeto a ser estudado, estabelecendo possibilidades de
caminhos para a melhoria da aprendizagem de sua turma;

1
Ver estudos sobre planejamento para agrupamento produtivo. Programa de Formação de Professores Alfabeti-
zadores, Ministério da Educação (MEC), Brasília, 2002, disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
pdf/Profa/guia_for_2.pdf

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d) Catarse2 – ao agir como mediador do processo de ensino e aprendizagem, o
professor poderá ajudar o estudante a chegar na catarse. A catarse é a assimila-
ção de conteúdo, ou consolidação de um conhecimento pelo estudante. Nesse
momento, o estudante sistematiza e confronta o que sabe, agregando novos
elementos ao seu conhecimento. Esse movimento cognitivo superior configu-
ra-se na passagem da síncrese para a síntese. Utilizando os ensinamentos de
Vygotsky, o estudante se movimenta da zona de desenvolvimento proximal para
a real num contínuo;

e) Prática Social Final – está intimamente ligada à catarse, pois os estudan-


tes expressam suas aprendizagens, relacionando-as aos conteúdos vivencia-
dos e às possíveis aplicações em seu cotidiano, no qual estão implicadas as
práticas sociais.

Ao mobilizarmos esses passos da Pedagogia Histórico-Crítica, estamos


contribuindo para o processo de desenvolvimento histórico-social, sustentado na
dialética e no respeito ao trabalho do professor como sujeito autoral, bem como
no respeito ao ritmo de aprendizagem dos estudantes, considerando a sistemati-
zação, gradação e ordenação lógica do conhecimento. Segundo Saviani,

[...] tendo incorporado os elementos teóricos e práticos no processo de ensino,


os alunos passam a desenvolver a prática social segundo essa nova qualidade.
Portanto, a prática social do ponto de chegada é e não é a mesma do ponto de
partida. É a mesma porque é a prática social global, na qual nós estamos in-
seridos; mas não é a mesma do ponto de vista qualitativo, porque a qualidade
da intervenção agora é outra, já que é mediada por aqueles instrumentos que a
educação permitiu que fossem incorporados. O exemplo da alfabetização torna
isso bem claro. Quando o indivíduo se alfabetiza, isto é, quando se apropria dos
instrumentos da cultura letrada, ele passa a agir na sociedade como um alfabeti-
zado e, portanto, com os recursos todos que o mundo da cultura escrita possibili-
ta. E como isso foi incorporado, não é possível voltar atrás (Ibidem, p. 31).

2
“A catarse seria um salto qualitativo no processo de ampliação e enriquecimento das relações entre a subjeti-
vidade individual e a objetividade sociocultural. Trata-se de uma transformação, ao mesmo tempo, intelectual,
emocional, educacional, política e ética, que modifica a visão de mundo do indivíduo e suas relações com sua
própria vida, com a sociedade e com o gênero humano”. (DUARTE, 2019, p. 1)

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Outro pilar da Pedagogia Histórico-Crítica, que a fundamenta, é a Psico-
logia Histórico-Cultural, da escola de Vygotsky. Ambos compreendem que o
desenvolvimento humano se dá a partir da aquisição dos conhecimentos histo-
ricamente construídos e situados. Assim, esse complexo sistema de inter-rela-
ções do sujeito com o mundo natural e social potencializa o desenvolvimento e
a aprendizagem conscientes. Ao fazê-lo, transforma a si mesmo. Assim, a me-
diação é um conceito fundamental nessa concepção.

A mediação do sujeito com o ambiente, por meio do uso de instrumentos


e dos sistemas de signos ao serem internalizados, produzem transformações
comportamentais, estabelecendo conexões entre formas rudimentares e com-
plexas do desenvolvimento humano, fincados nas mudanças sociais e culturais.
Esse movimento, intermediado pelos sujeitos e em especial pela linguagem,
permite a reformulação de conceitos. Situa-se aí o desenvolvimento das fun-
ções psicológicas superiores, que são de natureza social (VYGOTSKY, 1984).

Para Saviani a “Mediação” é uma categoria central da dialética que, em


articulação com a “ação recíproca”, compõe com a “totalidade” e a “contradi-
ção”, o arcabouço categorial básico da concepção dialética da realidade e do
conhecimento (SAVIANI, 2015, p. 26-grifo do autor).

Assim, se apoia nos estudos de Marx e Engels. compreendendo que a ló-


gica dialética concreta (conteúdos) e abstrata (formas) são momentos do de-
senvolvimento da consciência humana, sendo a primeira a construção concreta
do pensamento enquanto a segunda é a construção da forma do pensamento.
Então, a “construção do pensamento ocorre, pois, da seguinte forma: parte-se
do empírico, passa-se pelo abstrato e chega-se ao concreto. Ou seja: a passa-
gem do empírico ao concreto se dá pela mediação do abstrato”. Assim, “[...]
o pensamento parte do empírico, mas este tem como suporte o real concreto.
Assim, o verdadeiro ponto de partida, bem como o verdadeiro ponto de chegada
é o concreto real”. (SAVIANI, 2015, p. 28).

Para esclarecer a incorporação lógica dialética sob os conceitos dos mé-


todos indutivo e dedutivo, retoma fatos históricos explicando alguns aspectos
centrais para a resolução de problemas científicos, os quais destaca-se alguns:

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observação, conhecimento humano indutivo-dedutivo, hipótese e observação.
Apoiar-se em um dos métodos, considerando o tempo-espaço é “compreensí-
vel porque as sociedades que se encontram em sua fase inicial de desenvolvi-
mento estão empenhadas na busca do novo, ao passo que as sociedades es-
tabilizadas empenham-se em justificar e manter a ordem existente” (SAVIANI,
2015, p. 32).

O autor avança no sentido de esclarecer que neste movimento de inclusão/


incorporação “o processo de conhecimento é, ao mesmo tempo, indutivo-de-
dutivo, analítico-sintético, abstrato-concreto, lógico-histórico. Neste sentido,
ao explorar a categoria de mediação na pedagogia histórico-crítica, basean-
do-se em estudos antropológicos, Saviani chega à explicação de que quando
o homem assume a postura ereta e aperfeiçoa a manipulação e construção de
objetos com as mãos, produzindo sua própria existência, forja-se aí, o processo
de mediação centrado no trabalho “[...] pelo qual o homem, destacando-se da
natureza, entra em contradição com ela necessitando negá-la para afirmar sua
humanidade (SAVIANI, 2015, p. 33).

Portanto, na contemporaneidade, o indivíduo precisa apropriar-se das ob-


jetivações humanas por meio de processos formais e sistemáticos instados por
meio da escola. Para a Pedagogia Histórica-Crítica, a educação “é entendida
como uma atividade mediadora no interior da prática social global” o qual sus-
tenta o método, que estabelece seus pontos de partida e chegada por meio
da prática social refletida, que só são desenvolvidos e apropriados quando or-
ganizados em momentos distintos, a saber: problematização, instrumentação,
catarse (SAVIANI, 2015, p. 35).

Considerando a prática social como ponto de partida para a educação para


o aprofundamento/apropriação de conhecimentos produzidos, na sociedade,
pelos estudantes, faz-se necessário que o professor, ao organizar seu plane-
jamento intencional (político, social, pedagógico) compreendendo a historici-
dade do mundo atual, tenha domínio da origem, estruturação, contradições,
desenvolvimento e possibilidade de transformação da sociedade, tendo em
vista as “múltiplas determinações que caracterizam a sociedade atual” como
unidade da/na diversidade (SAVIANI, 2015, p. 38).

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Pode-se concluir, então, que, pela mediação do trabalho pedagógico, a compre-
ensão e a vivência da prática social passam por uma alteração qualitativa, o que
nos permite observar que a prática social do ponto de partida (primeiro passo)
em confronto com a prática social do ponto de chegada (quinto passo) é e não é
a mesma. É a mesma porque é ela própria que constitui ao mesmo tempo o su-
porte e o contexto, o pressuposto e o alvo, o fundamento e a finalidade da prática
pedagógica. E não é a mesma, se considerarmos que o modo de nos situarmos
em seu interior se alterou qualitativamente pela mediação da ação pedagógi-
ca. E uma vez que somos, enquanto agentes sociais, elementos objetivamente
constitutivos da prática social, é lícito concluir que a própria prática se alterou
qualitativamente (SAVIANI, 2015, p. 38).

Ao abordar a intermediação com a Psicologia Histórico-Cultural, assevera


que a Psicologia continua atuando empiricamente, sugerindo que se extrapole
apenas o elemento da observação e passe a analisar as “determinações abs-
tratas à síntese como reprodução do concreto pela via do pensamento” con-
siderando a relação educativa (SAVIANI, 2015, p. 38). Ao referir a subjetividade
humana chama a atenção que

[...]em lugar da psicologia se colocar na posição de uma ciência já constituída


que se propõe a fundamentar a pedagogia enquanto sistematização da prática
educativa, caberia partir da educação para se verificar as condições em que a
psicologia poderia postular o estatuto de cientificidade (SAVIANI, 2015, p. 40).

Avançando nesse entendimento, o currículo escolar e a transposição didá-


tica realizada pelo professor deve estar organizado de modo a contribuir com a
assimilação dos estudantes do conjunto das objetivações humanas. Diante do
método a

[...] pedagogia histórico-crítica é mediação para que a psicologia histórico-cul-


tural se constitua como a ciência dialeticamente fundada do desenvolvimento
do psiquismo humano e a psicologia histórico-cultural é mediação para que a
pedagogia histórico-crítica se construa como a ciência dialeticamente fundada
da formação humana tendo em vista o objetivo de produzir, em cada indivíduo
singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto
dos homens (SAVIANI, 2015, p. 41).

Nesse sentido, o autor considera a relação entre a teoria histórico-cultural

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e a pedagogia histórico-crítica como mediações para a compreensão do psi-
quismo humano e da educação.

2.2 A função social do professor para a Pedagogia Histó-


rico-Crítica

Para refletirmos sobre o trabalho docente, convido-o(a) a ouvirmos ou ler-


mos a canção de Leci Brandão, “Anjos da Guarda”, buscando as relações com a
Pedagogia Histórica-Crítica, no que diz respeito aos seus fundamentos filosófi-
cos, pedagógicos, etc., destacando o papel do professor e da escola. Para tanto,
considere o roteiro de análise a seguir:

Elementos para reflexão

Qual a temática central da música?


*
Que aspectos socioeconômicos são abordados?
*
Como professor, há alguma dessas situações da música que já foram vivencia-
*
das por você em relação ao seu trabalho?

* O que é um cidadão?

* Qual a sua atuação como professor para contribuir com a formação da cida-
dania dos estudantes?

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Música 2: Anjo da Guarda Compositora: Leci Brandão

Professores Batam palmas pra eles Não há idade, nem cor


Protetores das crianças do Porque eles merecem Por isso aceite e respeite
meu país Batam palmas pra eles O meu professor
Eu queria, gostaria Batam palmas pra eles
De um discurso bem mais feliz Batam palmas pra eles Batam palmas pra eles
Porque tudo é educação Porque eles merecem Batam palmas pra eles
É matéria de todo o tempo Batam palmas pra eles
Professores Porque eles merecem
Ensinem a quem sabe de tudo Protetores das crianças do Batam palmas pra eles
A entregar o conhecimento meu país
Batam palmas pra eles
Ensinem a quem sabe de tudo Eu queria, como eu gostaria
Batam palmas pra eles
A entregar o conhecimento De um discurso bem mais feliz
Porque eles merecem
Na sala de aula Porque tudo é educação Batam palmas pra eles
É que se forma um cidadão É matéria de todo o tempo Batam palmas pra eles
Na sala de aula Ensinem a quem pensa que Batam palmas pra eles
É que se muda uma nação sabe de tudo Porque eles merecem
Na sala de aula A entregar o conhecimento
Não há idade, nem cor Na sala de aula Batam palmas pra eles
Por isso aceite e respeite É que se forma um cidadão Batam palmas pra eles
O meu professor Na sala de aula Batam palmas pra eles
Na sala de aula É que se muda uma nação Porque eles merecem
É que se forma um cidadão Na sala de aula Batam palmas pra eles
Na sala de aula Não há idade, nem cor Batam palmas pra eles
É que se muda uma nação Batam palmas pra eles
Por isso aceite e respeite
Na sala de aula Porque eles merecem
O meu professor
Não há idade, nem cor Batam palmas pra eles
Na sala de aula
Por isso aceite e respeite Batam palmas pra eles
O meu professor É que se forma um cidadão
Na sala de aula Batam palmas pra eles
Batam palmas pra eles É que se muda uma nação
Na sala de aula Porque eles e elas merecem
Batam palmas pra eles

Figura 4 - Leci Brandão

Fonte: Musica Brasilis (2022).

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Quando paramos para analisar a música e contrapô-la ao nosso cotidiano,
conseguimos perceber inúmeros aspectos que, por vezes, demonstram como o
trabalho docente é invisibilizado diante da comunidade escolar e até da socieda-
de. Mas esta reflexão é necessária para que possamos valorizar nosso processo de
profissionalização, compreendendo que o trabalho não deve ser retirado do nosso
fazer docente. Então, planejar, ouvir, pensar, conhecer os estudantes, suas neces-
sidades, dominar os processos psicopedagógicos, bem como os conteúdos dos
componentes curriculares necessários à proposição de estratégias didático-pe-
dagógicas que compõem o trabalho docente situado histórico e culturalmente
são apenas fragmentos dos elementos que instituem e nos fazem professores.
Nossa ação não é apenas pedagógica, ela é social, é política e possui inúmeros
desdobramentos, que contribuem para o desenvolvimento da sociedade.

Retomando os elementos da PHC, observe a figura 6 para compreender me-


lhor o movimento de interpenetração e superação do entendimento de etapismo.

Figura 6 – Movimentos da Pedagogia Histórico-Crítica.

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Fonte: Turini e Vilela (2020).

Agora dando continuidade, convido você para assistir ao vídeo intitulado a


Pedagogia Histórico-Crítica” de Dermeval Saviani.

Assista clicando no link, disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=13ojrNgMChk.

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Seguem algumas perguntas que exigirão apenas sua atenção às informa-
ções elementares sobre a Pedagogia Histórico-Crítica.

Elementos para análise do vídeo

Como surgiu a Pedagogia Histórico-Crítica?

O que é concepção Histórico-crítica?

Quais os fundamentos filosóficos, psicológicos e didáticos da Pedagogia


Histórico-Crítica?

Quais são as principais propostas pedagógicas da Pedagogia Históri-


co-Crítica?

Qual a função social do professor para a Pedagogia Histórico-Crítica?

Excelente entrevista, sim? Espero que a experiência tenha contribuído para


seus estudos. Agora gostaria de convidá-lo(a) a revisar o material, participar do
nosso fórum sobre a função social do professor para a Pedagogia Histórico-Crí-
tica e compartilhar suas ideias com os seus pares.

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2.3 Alfabetização

Compreendidos os princípios filosóficos, sociológicos, psicológicos e pe-


dagógicos da PHC e a partir deles, a função sociopolítica do professor alfabeti-
zador, é possível localizar a alfabetização como processo discursivo, tomando a
linguagem como prática social viva produzida na atividade humana. Em acordo
com Smolka (2019)

no processo de apropriação da cultura pela criança, “a própria cultura reelabora


em profundidade a composição natural de seu comportamento e dá uma orien-
tação completamente nova a todo o curso do desenvolvimento”. [...] Ou seja, a
ontogênese – o desenvolvimento das crianças, de cada criança – apresenta-se
como um lócus por excelência de novas formações, de (trans)formações históri-
cas. (SMOLKA, 2019, p. 21).

Esta compreensão da autora colabora para entendermos que a alfabetiza-


ção defendida pela PHC, é de uma aprendizagem pautada na ação reflexiva, de-
corrente também de um planejamento intencional de práticas sociais mediadas
pela escrita, para que as crianças participem e recebam informações contextu-
alizadas, respeitando e valorizando sua cultura e seu processo de escolarização.

E o processo de escolarização/alfabetização não pode estar descolado das


práticas sociais, culturais e tecnológicas, ou seja, daquilo que a criança vivencia
e do que ela pode e deve conhecer, apreciar por meio de outras linguagens. Por
isso, agora vamos ouvir ou ler a música “Boi da Lua” de Papete.

Você conheceu Papete?

Papete, era o apelido carinhoso de um cantor e compositor maranhense,


do município de Bacabal, José de Ribamar Viana.

SAIBA MAIS
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Que tal realizar esta ativi-
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Solte sua imaginação!

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Caso você tenha algum instrumento musical, acompanhe as batidas, se
deixe levar pelo som. Use sua criatividade e improvise. Duvido você ficar parado!

Música 3 - Boi da lua Compositor: Papete

Meu São João. Meu São João.


São João, meu São João São João, meu São João
Eu vim pagar a promessa Eu vim pagar a promessa
De trazer esse boizinho De trazer esse boizinho
Para alegrar sua festa Para alegrar sua festa
Olhos de papel de seda Olhos de papel de seda
Com uma estrela na testa. Com uma estrela na testa.

Chora, chora Chora, chora


Chora boi da lua vem pedir uma esmola Chora boi da lua vem pedir uma esmola
Pra quela boneca de anil Pra quela boneca de anil
Mamãe eu vi boi da lua Mamãe eu vi boi da lua
Dançar no planeta do Brasil. Dançar no planeta do Brasil.

Analise também as telas de Ivan Cruz. Aproveite e pesquise quem é este importante artista brasileiro.

Figura 8 - Papete

Fonte: Gazeta do povo (2016).

// Alfabetização, Letramento e Tecnologias Digitais 28


Figura 9 - Arapuca - Ivan Cruz Figura 11 - Amarelinha e Boneca – Ivan Cruz

Figura 10- Bafo Bafo - Ivan Cruz Figura 12 - Aviãozinho de papel - Ivan

Figura 13- Barquinho de papel - Ivan Figura 14- Ciranda - Ivan Cruz

Fonte: https://artistasdobrasil.com/ivancruz

// Alfabetização, Letramento e Tecnologias Digitais 29


Elementos para reflexão

* Qual a temática central da música de Papete e das fotos de Ivan Cruz? Quais
os sons que se ouve na música e quais poderiam ser ouvidos no que ocorre nas
fotos?

Quais instrumentos musicais você identifica na música? Há instrumentos nas


*
fotos de Ivan Cruz?

Quais elementos da música e das fotos de Ivan Cruz são possíveis trabalhar em
*
Língua Portuguesa e em Arte?

Antes, vamos compreender que as competências e habilidades na BNCC


estão organizadas por meio de um código alfanumérico. Cada segmento de le-
tras e números tem um significado. Observe a figura para identificar.

Figura 15 - Código Alfanumérico da BNCC

Fonte: BRASIL (2017).

// Alfabetização, Letramento e Tecnologias Digitais 30


Agora, que você já compreendeu como estão organizados os códigos, re-
flita sobre os seguintes questionamentos:

As habilidades de LP EF15LP02, EF15LP03, EF03LP11 e de Arte EF15AR01,


EF15AR04, EF15AR05, podem ser trabalhadas a partir da música e da foto?
Como? Podemos planejar atividades na perspectiva do letramento com músi-
cas e fotos?

Após estas reflexões você deve ter percebido que partimos da prática so-
cial, discutindo elementos na música de Papete e nas pinturas de Ivan Cruz,
que repercutem em diferentes territórios do Brasil, de forma muito própria. Os
dois artistas discutem fatos da realidade, da cultura, do cotidiano infantil, dia-
logando com a linguagem, com a arte e enviesado de ludicidade. Esta proposta
pedagógica se manifesta PHC, que elucida algumas das competências e habili-
dades orientadas pela Base Nacional Comum Curricular da área de Linguagens
e suas tecnologias.

Para aprofundarmos ainda mais esta temática sobre o letramento, convido


você para fazermos o estudo do texto de Ângela Kleiman, intitulado “Preciso
“ensinar” o letramento”. Disponível em: https://oportuguesdobrasil.files.wor-
dpress.com/2015/02/kleiman-nc3a3o-basta-ensinar-a-ler-e-escrever.pdf.

Para melhor aproveitamento da leitura, fique atento às seguin-


tes informações:

O que não é letramento?

Letramento é habilidade?

O que é, então letramento?

Há diferença entre prática coletiva e colaborativa e prática individual e coletiva?


Quais? Em um mesmo texto é possível diferentes leitores e modos de ler? Por quê?

Qual a relação entre letramento e oralidade?

// Alfabetização, Letramento e Tecnologias Digitais 31


Lembrando que tais informações podem ser preciosas para você não so-
mente neste curso, mas também em futuros estudos e produções científicas.
Portanto, registre suas impressões e não se limite somente aos textos explora-
dos aqui. Busque, pesquise, leia e aproveite a experiência. Enquanto isso, con-
tinuemos a análise do texto de Kleiman. Você conseguiu identificar: O que não
é letramento? O que é letramento? Se letramento é método? Se basta ensinar
a ler e escrever?

Sim? Então proponho mais uma reflexão: a leitura do texto de Ângela Klei-
man revela algum pressuposto da Pedagogia Histórico-crítica? Qual?

Figura 16 – Reflexão de Kleiman

Fonte: Kleiman (2015).

// Alfabetização, Letramento e Tecnologias Digitais 32


Resumo
Neste módulo conhecemos os princípios teóricos e metodológicos da Pe-
dagogia Histórico-Crítica, entendendo que há uma organização didática para
esclarecer as etapas que se sucedem para o avanço da aprendizagem, porém,
não há linearidade nestas, por uma razão simples: esta Pedagogia é sustenta-
da no materialismo histórico dialético, ou seja, em suas bases filosóficas, an-
tropológicas, sociológicas, históricas. Tais bases estão assentadas na dialética,
mediação e na contradição. Estes princípios gerais direcionam todos os outros
processos quer sejam curriculares, de alfabetização, didático-pedagógicos, en-
tre outros.

Foi possível, ainda, entender que letramento não é alfabetização, não é


método, não é habilidade, mas sim compreender sentidos e significados do tex-
to em dada situação onde temos a escrita como produto cultural. Logo, todo o
movimento intencional, ou seja, planejado com o objetivo de fazer com que os
estudantes leiam, escrevam e compreendam a circulação do que estão reali-
zando, são práticas de letramento escolar.

Desse modo, o letramento inclui a alfabetização e mobiliza inúmeras com-


petências e habilidades em relação à leitura e escrita, que ajudam o aluno a
participar de práticas letradas.

// Alfabetização, Letramento e Tecnologias Digitais 33


Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Na-
cional Comum Curricular. Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. – Brasília: MEC, SEB, 2017.

CORALINA, Cora. Melhores poemas Cora Coralina. Global Editora, 2020.

CES Estudos Sindicais. Fundamentos Filosóficos, Psicológicos e Didáticos


da Pedagogia Histórico-Crítica. Entrevista realizada com Ana Carolina Gal-
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