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A N D R E Y R O S S I
L E A N D R O J U N I O R
D E S A L I
E S P E R A N Ç A
YA S M I N G U I M A R Ã E S
M O I S É S PA T R Í C I O
M A G M A G R E L A
E N I V O LUZ Contemporânea
L Í D I A L I S B O A
PA U L O N A Z A R E T H
J O Ã O T R E V I S A N
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Esperança
A pandemia global provou de forma dolorosa o quanto uma crise local pode
acabar afetando a todos. Suspeito que a maioria de nós foi levado a repen-
sar nossas relações cotidianas com o mundo — pessoas, comunidades e so-
ciedades. Eu, por exemplo, descobri que a exposição “Esperança” foi uma
resposta curatorial muito pessoal ao coronavírus, que desencadeou reflexões
sobre objetivos e valores que estão profundamente arraigados em mim. Em
um momento de tristeza e até desespero compartilhado por todo o planeta,
“Esperança” é literalmente uma exposição sobre esperança – esperança de
tempos melhores.
Uma exposição temática composta por obras de doze artistas visuais bra-
sileiros, Esperança oferece um caleidoscópio de respostas à pandemia por
meio de uma diversidade de obras contemporâneas. A obra de cada artista
vem acompanhada por um ensaio escrito de um curador ou crítico de arte
brasileiro. Para muitos de nós, a pandemia parecia desacelerar de forma ago-
nizante a passagem do tempo. A pandemia trouxe dificuldades, privações e
bloqueios indesejados regados de antecipação e expectativa, juntamente a
períodos de espera e desejo difíceis de tolerar. No entanto, para os artistas
desta exposição, a espera e o desejo forçados também trouxeram a oportu-
nidade de autorreflexão – focada não apenas em um problema de saúde pú-
blica que ficará marcado na história, mas em muitas outras crises sociais en-
volvendo bem-estar e meio ambiente, e responsabilidade pessoal e coletiva.
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A ideia dessa exposição surgiu a partir de uma primeira visita ao estúdio de com uma pintura deslumbrante, em grande escala, retratando uma mulher
Andrey Rossi o meu encontro, nos primeiros dias da pandemia, com um ciclo negra vestida de branco em um ritual performático, comovente e comemo-
de desenhos criados por Rossie que sugerem uma meditação tranquila numa rativo, de nascimento e renascimento.
enfermaria fictícia de hospital. Os desenhos são altamente detalhados e são
base de um ciclo contínuo de pinturas, quatro das quais estão expostas em A exposição Esperança apresenta três murais pintados diretamente nas pare-
Esperança. Associado ao espírito das meditações em aquarela de Albrecht des do museu. Dois dos murais ficam expostos nas extremidades opostas da
Dürer do início do século XVI sobre uma lebre do campo e uma moita, que galeria. De um lado está uma enorme figura feminina pintada por Mag Ma-
agem como memento vivere (“Lembre-se de viver”), a visão gótica de Rossi grela e, do outro, uma enorme figura xamânica masculina pintada por Enivo.
sobre o mundo de hoje mapeia o tédio contemporâneo em um ambiente hos-
pitalar imaginário representado por azulejos quebrados, paredes manchadas, Mag Magrela se inspira no tumulto das paisagens urbanas e na mistura de
vidraças rachadas, restos de plantas e canteiros vazios. E, por mais sombrio culturas brasileiras. Suas obras expressam alegria e sensualidade, bem como
que isso possa parecer, essas obras são estranhamente sedutoras e transmitem a dor e o sofrimento causados pelas
barreiras do cotidiano. Seja uma ilus-
uma mensagem poderosa. A concentração magistral de Rossi nos detalhes tração na uma capa de álbum de LP ou em um mural, Magrela concebe o
minuciosos atrai o telespectador a inspecionar o detalhamento dessa pintura, nascimento e o mundo dessas figuras gigantes gentis, mulheres que são po-
entrando em um estado de meditação. Como resultado, as pinturas acabam derosas e dominantes, mas que se mantêm vulneráveis em sua intimidade,
por representar celebrações sobre o impulso humano de superar a tragédia e fator evidente em seus olhos e em sua postura.
descobrir as possibilidades de vida nos lugares mais improváveis.
Há mais de quinze anos, Enivo é uma presença constante nos murais de rua
O olhar aparentemente melancólico de Rossi reflete a arte de Leandro Jú- de São Paulo, tendo feito mais de mil pinturas nos muros da cidade. Mais
nior, cujas pinturas figurativas feitas com materiais primários como o barro recentemente, ele também se tornou conhecido por suas pinturas feitas em
líquido se inspiram na cultura, na história e na intimidade do vale do Jequiti- estúdio, que retratam “alienígenas futuristas”; e nesta exposição os dois ar-
nhonha, onde ele cresceu. O próprio artista garimpa a maior parte do mate- tifícios do artista se unem em um imenso mural, instalado junto a pinturas
rial com que pinta nas colinas do Quilombo da Cuba. Muitas vezes evocando em resina, que retrata uma figura futurista xamã, que expressa otimismo e
a tragédia da história escravista da região, os retratos recentes de Júnior evo- esperança em seu semblante.
cam angústia e tristeza, bem como sentimentos de empoderamento, já que
as figuras parecem estar contemplando a luz intensa de um dia de céu azul. O terceiro mural presente na exposição foi criado por Ana Júlia Vilela. A
obra, que une uma intervenção direta na parede com um aglomerado de
Visando talvez uma versão visual de um canto espiritual, Desali cria obras telas, parece trabalho infantil, porém sofisticado, como um Paul Klee do sé-
pintadas em tinta acrílica em pequena escala em pedaços de madeira en- culo XXI. Assim como as páginas de um diário digital de algum poeta punk,
contrados nas ruas. A criação dessas obras parece ser um ato de meditação as obras de Vilela transitam entre o figurativo e o abstrato. Ela brinca com
pessoal do artista. As pinturas representam reflexões sobre o sofrimento co- o visualizador revelando apenas fios de sua investigação pitoresca – como
tidiano, embora muitas incluam representações de luz natural e céus azuis. imagens de gatos em uma briga, ou um campo de lápides, ou um arbusto em
chamas – todas interrompidas com fragmentos de texto que lembram um
Temas de esplendor cósmico irradiam das imagens de Yasmin Guimarães, que tweet ou um trecho de uma conversa ouvida por acaso: ardente e divertido,
remetem a paisagens sublimes. Seja em obras de pequena escala que exami- suave e fantasmagórico.
nam detalhes aparentemente microscópicos, ou em telas maiores e robustas, a
artista transmite a magia e o encantamento presentes no mundo natural. Os temas fogo e ressurreição têm sido elementos recorrentes na prática artís-
tica de Thiago Rocha Pitta. Seus trabalhos mais recentes, incluindo as aqua-
Imerso na história afro-brasileira, Moisés Patrício é conhecido por retratar, relas presentes nesta exposição, sugerem um mundo mítico estremecendo
em uma série de fotografias tiradas ao longo de quase uma década, sua mão entre o apocalipse e a alucinação.
aberta como plataforma para todo tipo de objetos em escala semelhante:
uma pena, um pedaço de fruta, um objeto de fetiche. Mais recentemente A arte de Lidia Lisbôa é igualmente alucinógena. Com características mis-
Patrício tem explorado a escultura e a pintura, e ele participa nesta exposição teriosas, lúdicas e sobrenaturais, as esculturas do Casulo de Lisboa repre-
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sentam uma versão moderada da pesquisa da artista sobre formigueiros
encontrados em todo o Brasil. A exposição inclui Alvorecer, uma vídeo per-
formance encenada dentro da Estação da Luz em que Lisboa performa ves-
tida com uma das suas esculturas de tecido de dois metros e meio de altura.
Apresentando movimentos ondulares e primários, a performance representa
uma jornada mística sobre o nascimento de um bicho-da-seda gigante.
—Simon Watson
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Esperança. ............................... Simon Watson.................. ........................................... 9
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Andrey
Rossi
Ensaio por Márcio Harum
Taciturno, 2021
Óleo sobre tela 19
150 x 100 cm
Por entre brechas, a pintura de Andrey Rossi nos mostra camadas acumula-
das de abandono e ruína pela passagem do tempo. Através de portas entre-
abertas, se avista ambientes escurecidos, de paredes descascadas e batentes
surrados, parcas peças de mobília, utensílios domésticos e pouco do vestígio
humano. O par de botas, um vaso no chão. Catres de estrutura tubular com
colchões listrados rasgados. Pode ser a representação interior de alguma casa
de chácara ou talvez a decadência originada pela especulação imobiliária e
gentrificação urbanística. A soberania da madeira, seus marrons, fazem esta-
lar sons e toques na roça da memória. Os detalhes da hera subindo por uma
parede de aspecto mofado pela infiltração. A maçaneta inútil, um interrup-
tor de época com fiação aparente. O cheiro de muro estufado pela umidade.
Vistas de pisos, uma muda de roupa deixada sobre cadeira, pia no quarto.
Marcações de azulejos e tinta verde casebre até o meio da parede. Bolor, va-
zamento. Um buquê de flores secando amarrado e pendurado de cabeça para
baixo. Um conjunto estranho - carta, folha de papel com desenho e docu-
mento tirados ao solo.
Nos últimos anos, suas obras têm sido adquiridas para importantes coleções
de arte do país, como as do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Mu-
seu de Arte do Rio (MAR). Em paralelo ao seu doutoramento acerca da pin-
tura pela Unicamp com orientação da Profa. Marta Strambi, é visível o ama-
durecimento apresentado de sua produção em desenho por volta das duas
temporadas em que esteve em residência artística em Lüben, na Alemanha,
em 2017 e 2019. A partir da exposição ‘Cycles to an end’ do início do ano de
2021 em Nova York, se entrevê perfeitamente adiante as possibilidades de
desenvolvimento de sua trajetória profissional.
— Marcio Harum
Jacyara, 2021
Barro com pigmentos sobre tela 25
90 x 70 cm
Esperança é o sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que
deseja; confiança em coisa boa; fé.
Em tempos tão obscuros como os que estamos vivenciando, assistir uma ex-
posição com esse tema é um afago para o público. Afinal, a pintura é a ema-
nação do real.
Uma vez que ela estimula a tomada de consciência, a imagem pode servir
como um elo de integração entre a arte, a ciência, a cultura e a sociedade.
Nesse contexto, a série “Sonhos” composta na mostra Esperança apresenta
figuras do Vale do Jequitinhonha, pelo olhar, sensações e experiências viven-
ciadas pelo artista plástico Leandro Júnior. Sonhos, as telas são marcadas
com o fundo azul claro, remetendo um céu. Trazendo leveza para as obras,
diferente da vida das pessoas que vivem no Vale. As obras têm uma identi-
dade cultural, um conjunto híbrido e maleável de elementos que formam a
identitária do povo do Jequitinhonha. As obras de Leandro Júnior refletem
em seus traços, tons e paixão pelas suas raízes e pela natureza brasileira. As
pinturas revelam gestos e formas que compõem um mosaico atemporal das
relações societárias. Sob um olhar para o horizonte, os quadros revelam a
esperança de que dias melhores dias virão. Barro tingido sobre tela, é o teste-
munho da luta e da sobrevivência desse povo.
Hoje, Leandro Júnior dá voz e visibilidade para essas pessoas, revela em suas
obras de arte a cultura de um povo que por muitos anos foram esquecidos.
Hoje essas pessoas que vivem no Vale do Jequitinhonha e até mesmo em
comunidades quilombolas, são protagonistas de suas histórias através das
obras de Leandro Júnior. Pessoas que fazem o Vale do Jequitinhonha com
seus saberes e fazeres.
Thaiane, 2021
Barro com pigmentos sobre tela 27
90 x 70 cm
Argila é o material central nas pinturas de Leandro. O artista extrai pesso-
almente o barro das colinas de Jequitinhonha e, depois, o refina para ser
transformado em tinta e, assim, aplicado em tela dá vida às obras de artes.
— Jackson Gleizer
Nilda, 2021
Barro com pigmentos sobre tela 29
90 x 70 cm
Mila, 2021 Tia Rita, 2020
Barro com pigmentos sobre tela Barro com pigmentos sobre tela 31
90 x 70 cm 90 x 70 cm
Desali
Ensaio por Fernano Mota
MUDA-ARMA / ARMA-MUDA
Acrílica sobre madeira
33
29 x 23 cm
Coleção Henrique Martins Modenesi, São Paulo, Brasil
Nascido na periferia de Contagem (MG), Desali retrata, repensa e redimen-
siona na sua obra o mundo que vê e o mundo em que vive - de casa para a
rua, da rua para o bairro, do bairro para a cidade, da cidade para o estado, do
estado para o país. E do país, inevitavelmente, de volta para a casa.
Com as pinturas em foco, é possível perceber essa natureza singular que atrai
tanto um olhar mais apurado quanto outro despreparado. São imagens que
remetem ao universo local e regional, porem fazem parte de um imaginário
coletivo familiar a muitos, se não a todos. Isso porque os objetos, as paisa-
gens e personagens que habitam e compõem as cenas apresentadas aparen-
tam oriundos de um lugar simultaneamente especifico e indeterminado: um
lugar qualquer. Utilizando tinta acrílica sobre pedaços de madeira encontra-
dos e reutilizados como suporte, Desali produz pinturas de pequeno e medio
formato que muitas vezes geometrizam e/ou destorcem as figuras conheci-
das, sejam elas caras, casas ou coisas. O artista não se intimida com o uso de
cores fortes e explora a variação cromática de cada uma de forma ousada e
harmoniosa, ao passo que brinca com linhas e ângulos nas superfícies irregu-
lares e incompletas das madeiras - ora absorvendo intuitivamente as falhas
do material precário, ora destacando as cicatrizes de outras vidas da matéria.
Assim, as pinturas possuem intenso brilho e ampla textura, facilmente per-
ceptível aos olhos, enquanto formam uma topografia própria, desnivelada -
uma colagem como parte da linguagem de base, estrutural da obra, ao invés
de técnica aplicada ou ornamental, próxima ao resultado.
DES_LIZA_LAMA
Acrílica sobre madeira
35
29 x 23 cm
Coleção Jarbas Velloso, São Paulo, Brasil
lise cômica ou dramática. A ironia esta justamente na indefinição das coisas:
à primeira vista reconhecemos tudo, mas a principio não sabemos nada. As
imagens são procedentes de fotografias analógicas feitas pelo próprio artis-
ta em caminhadas cotidianas, antes de se converterem em pinturas. Cabe
ressaltar uma característica presente em muitas delas que faz alusão direta
à linguagem da câmera: as figuras e os cenários não são vazados, ou seja,
não se expandem até o limite da superfície, ao contrário, costumam estar
cercados nas laterais por faixas de tinta branca que formam uma especie de
moldura interna no plano, sendo a parte inferior a mais larga e onde estão
as palavras, como se fossem anotações manuais feitas em fotos Polaroid. Isso
traz um aspecto de pessoalidade às obras, que por sua vez ja possuem um
certo grau de intimidade devido à artesania contida nas características físi-
cas dos materiais - alem das próprias madeiras descritas anteriormente, te-
mos a presença visível de grampos e pregos para construir de fato o suporte.
— Fernando Mota
Para Esperança, os trabalhos selecionados partem desse lugar: são seis pintu-
ras que traduzem as interfaces e sensações de uma paisagem imaginária. Ora
abstratas, ora como sugestão, a artista cria suas composições a partir de pon-
tos, pinceladas curtas, empastados de cor e manchas cromáticas sutis que se
formam em tons pastel sobre linho. A tela aparente também serve como maté-
ria de investigação pictórica da artista; e este ato é, para mim, um dos pontos
mais interessantes da pesquisa da artista: transformar a complexidade que a
própria história da pintura carrega em um ato corajoso de simplicidade.
Mas aqui, não tomemos simplicidade por algo simplório. As pinturas de Yas-
min se debruçam a partir do seu processo de pensar a gestualidade da pintu-
ra e os desdobramentos que ela pode alcançar. Existe em seu trabalho uma
busca em escalonar o espaço e eliminar a perspectiva trazendo a imagem
para o plano, sendo estas autônomas em relação a estes eixos, apontando
assim uma intenção pictórica clara em sua pintura; a da planaridade. Seus
trabalhos se atém ao plano, explorando as possibilidades de expansão dos
limites de se pensar e de se fazer pintura.
— Carollina Lauriano
Manoel de Barros — BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011. É da decepção com o estar do mundo que nascem os rios dos olhos da mãe,
seus cursos e suas quedas; É da decepção com o nome, que nasce a parqui-
Se partíssemos das teorias que demonstram como se forma a cor do céu e as dade da cobra de vidro tornada palavra, que a imagem se esvazia: É vazando
ondas se espalham e o dia é cerúleo, seria violeta a manhã e uma mãe se ajo- da frustração que o ser nome transborda, no espaço entre essas decepções
elha, um mais um corpos a amparam e a mancha que delimita a relação de harmônicas - o todo da mãe, o um de Manoel - que a vontade de nome é
seus semblantes com o espectro daquela frequência primeira afirma, a partir também a potência radical da permutação pela insuficiência.
de gestos que se fazem espaço, que o limiar entre seus então é passível de ser
abocanhado - ao passo que os semblantes das figuras se fazem fundo, seus Suas mãos se erguem em prece sobre a miríade de tons de terra que impri-
corpos se entregam a um ato de proteção e se perdem por igual em um re- mem calma ao seu semblante e ouro vaza das suas vestes e do seu destino
flexo de algo como noite, e as mãos da mãe se prostram em prece, clamando erguido por seus filhos cujos corpos se entregam ao violeta e seria essa a cor
enquanto agradecem, e face e olhos da mãe como que perdoam seus gestos dos céus e das águas se a tarefa de dissolução daquilo feito imagem fosse
feitos mancha e pincelada, autorizando vontade de esquecimento. apenas a de dispersão do nome.
Um choro escorre e há um poeta sul-mato-grossense - seu nome é Manoel A mãe chora e faz rio ao conceber a violência que tomou uma espécie ao
de Barros, que fala sobre como um rio que passava atrás de sua casa era uma passo que o poeta desacredita a imagem a partir do modo como uma onda
cobra de vidro mole a qual alguém nomeou enseada e aqui, rasgando seu sonora falseou o sentido da geografia que circulava sua casa e então partimos
poema, acelero esta exposição ao último verso onde se lê: “Acho que o nome dessas decepções e as tornamos enunciado, e como um fio da lágrima da mãe
empobreceu a imagem” e é também deste espaço subtraído pelo nome que é capaz de inundar uma cidade e a arbitrariedade da linguagem e seus signi-
a frustração da mãe se apresenta, correndo por encostas, nascendo dos rios ficantes não impedem o poema, essa espécie ainda vaza.
que vertem sobre nossas cabeças e deslizando para o curso das águas que
engolimos e aterramos com vontade de civilização e concreto. Ora Yê iê, ô!
— Guilherme Teixeira
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Mag
Magrela
Ensaio por Gabriela Longman
Esconderijo, 2018
Técnica mista sobre canvas 53
59 x 48 cm
“Quem é essa mulher um barco que flutua –, não escondem a brutalidade visceral que atinge a to-
Que canta sempre esse estribilho? dos, mas que têm suas vítimas preferidas de acordo com a origem e a classe
Só queria embalar meu filho social. Imagine a cor, imagine a dor.
Que mora na escuridão do mar”
À violência estrutural da sociedade vem somar-se uma pandemia que lite-
— Chico Buarque, Angélica ralmente nos tirou o ar. Chegando à marca dos 500 mil mortos, assistimos
atônitos à conjunção entre uma catástrofe global e seu agravamento extre-
mo pela conjuntura brasileira. Atravessados pela vulgaridade mortífera da
presidência, negociamos com nossas angústias ao mesmo tempo em que
“As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usa-
ameaças à própria ordem democrática voltam a nos assombrar como ve-
das para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar lhos fantasmas.
e humanizar”
Sair, ser, circular, trabalhar na rua ficou mais difícil. Longe do espaço de en-
— Chimamanda Ngozi Adichie, O Perigo de Uma história única contro e de troca que perpassa sua prática, Mag recolheu-se, como tantos de
nós. “Na rua a gente trabalha muito o corpo, a amplitude, pode sujar o chão.
Sóbrias, austeras, doces, melancólicas. As mulheres de Mag Magrela fazem No ateliê é mais contido, a pincelada é mais delicada”, ela conta.
suas aparições nas empenas, muros e recantos escondidos da maior cidade
da América do Sul. Pintando nas ruas há 14 anos, ela aos poucos começou a Presos nos casulos, cada um espera à sua maneira o fim da metamorfose,
estampar figuras femininas também em telas e papeis que hoje percorrem os torcendo para que nos devolva ao mundo mais transformados em borboletas
quatro cantos do mundo. esvoaçantes do que em baratas kafkanianas. O risco é sempre duplo e é pre-
ciso, diariamente, renovar práticas, votos, esperanças. Daí, quiçá, a potência
Quem são as mulheres de Mag? Não sabemos. Há traços nordestinos, negros, da arte.
indígenas em muitas delas. Os olhos, quase sempre amendoados, guardam
uma profundidade de quem muito sabe e pouco diz. A retina das telas
Às vezes, uns poucos elementos vêm nos dar uma pista: galhos de planta, er- Ao longo dos 14 anos de trajetória de Mag, duas coisas parecem ter mudado
vas de limpeza ou mesmo uma bacia de salmoura indicam trilhas de cura e sistematicamente: a primeira é o aumento expressivo do número de mulhe-
autocuidado. As mulheres sabem quem têm um caminho a percorrer – uma res artistas na cena do grafite e da arte urbana. Ainda assim a permanência
descida às profundezas que passa pelo conhecimento dos movimentos cícli- é mais difícil para elas, que volta e meia precisam largar mão e priorizar ou-
cos: as estações do ano, as fases da lua, a cheia e a baixa das marés. tras demandas. Ciente dos privilégios que tem e que lhe permitiram investir
tempo e correr riscos na carreira, Magrela não perde a chance de priorizar
Se “os ventos do norte não movem moinhos”, o sangue latino das mulhe- parcerias com artistas mulheres cis e trans de diferentes contextos. Chamar
res de Mag pulsa forte como a cidade em volta, nos lembrando das dores e junto, com-partilhar.
delícias de viver numa São Paulo que cheira poluição, café coado, frituras
amanhecidas. Que vê seus bairros de casas engolidos pela voracidade dos A outra mudança veio do alcance das redes sociais. Com um início de carrei-
novos empreendimentos e pelo zunido das motos, sem que possamos sequer ra em que as imagens circulavam via fotolog ou Flickr, a artista é parte de
nos perguntar se haveria outra solução, outro formato, outra cidade possível uma geração que assiste à ascensão de novos mecanismos de difusão, hoje
onde pousar nossos afetos e inquietações. especialmente capitaneados pelo Instagram. Criando novos circuitos e mer-
cados, as redes sociais colocam em xeque o sistema tradicional de museus e
No rio das ruas, no bosque do recolhimento. galerias, impondo novas estruturas de valor e validação mais democráticas
e inclusivas, ainda que novos desafios – especialmente o poderio político e
“Eu sou ela e ela sou eu”. O título da pintura de 2017 estampa um rosto, esse econômico concentrado por essas mesmas redes – se anunciem na paisagem.
sim reconhecível: Marielle Franco. Feita logo após o assassinato que revelou
um país bi-partido, a pintura ecoa outras obras de Mag em que as persona-
gens carregam na pele marcas de tiro ou machucados, mas que nem por isso
perdem a força no olhar. Ali, elementos de delicadeza – folhagens, uma cobra,
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Cura e dor.
Quem é essa mulher? Pernas encolhidas, seios quase sempre pequenos, bei-
rando a androgenia, as mulheres de Mag somos todos e todas nós – “todx”,
esse significante que ainda desafia os limites da nossa própria cognição e
linguagem. Temos medo e temos coragem. Temos pressa e temos tempo. Ob-
servamos de olhos bem abertos, mas nem sempre sabemos como agir nem
que direção tomar. O corpo vivo pode ser casa, esconderijo, ninho, bandeira.
Está aberto ao giro e à transmutação.
— Gabriela Longman
Esperança, 2021
instalação 61
dimensões variáveis
1. Se eu quiser falar com Deus
2. Na terra do sol
3. No meio do redemoinho
Entre sinais de fumaça e toques de recolher, ninguém passou ileso pelo im-
“A rua me inspira a pintar nas telas e com as telas, eu crio possibilidades e ca-
minhos para os novos murais de rua, num movimento cíclico”, conta o artista.
Sócio fundador e um dos nomes mais atuantes por trás da galeria A7MA, ele
passou boa parte dos últimos nove anos dedicado a fomentar a cena, criando
exposições, saraus e festas que ajudaram a fazer da Vila Madalena um epi-
centro cultural da cidade. “A gente abria, fechava, limpava a galeria, a gente
que apartava briga e arrumava briga”, diverte-se. Foi só com a pandemia, no
entanto, que ele conseguiu desvencilhar-se um pouco do papel de curador-
-embaixador para dedicar-se exclusivamente à própria produção. Um mer-
gulho fundo no próprio mar, aberto em boa hora.
4. Tempo Rei
Não por acaso, o título e os subtítulos desse ensaio fazem menção a uma
visão estético-política do Brasil construída em torno dos anos 50-70: Gilber-
to Gil, Glauber Rocha, Guimarães Rosa, Caetano Veloso. Em comum entre
eles, havia uma aposta na conjunção entre o regional e o universal, com uma
tônica ímpar no multicuturalismo. O Brasil só é rico pois diverso, ponto tão
importante a frisar diante do retorno de discursos antidemocráticos que fler-
tam com o homogeneizante — branco, hétero, cristão.
Enquanto a maior parte dos grafiteiros costuma assinar o próprio nome, Enivo
muitas vezes deixa uma palavra/codinome: “Quando eu grafito na rua, eu escre-
vo ‘tempo’.” Em 2009, Tempo Novo foi o título de sua primeira exposição indivi-
dual: “Parti do Grajaú, da casa onde eu nasci e cresci, e saí grafitando por uma
— Gabriela Longman
Go Black!, 2021
Colagem e assemblagem 67
33 x 24 cm
Nikimba, 2021 Kilombo, 2021
Colagem, assemblagem e resina sobre vidro Colagem, assemblagem e resina sobre tela 69
33 x 24 cm 35 x 35 cm
Ana Júlia
Vilela
Ensaio por Thierry Freitas
No âmbito pictórico, seu trabalho está em diálogo, por exemplo, com a produ-
ção de artistas contemporâneas como Daisy Parris, Rebecca Morris e Marina
Rheingantz, mas carrega particularidades quanto ao processo, já que Ana Ju-
lia realiza uma espécie de auto-ficção em diversas fases de sua pintura, a come-
çar pelos títulos perspicazes que oferecem ao espectador algumas dicas sobre
os temas com os quais trabalha.
A reunião, 2021
Óleo e pastel oleoso sobre tela
73
30 x 20 x 8 cm
Coleção Gustavo Amorim & Ranier Coimbra
Mesmo nos silêncios, os enunciados se fazem presentes, por isso muitos de
seus quadros apresentam campos de cores organizados de maneira a reme-
ter a alfabetos ou espaços a serem completados - resta saber se pela imagina-
ção do observador, ou por algo que a própria artista deixou a dizer.
Para esta montagem, oito pinturas foram escolhidas, sendo uma delas um
monocromo amarelo com a inscrição “não quero mais morrer”.
— Thierry Freitas
O artista depura seu olhar a partir de sua posição no mundo, atento aos mo-
vimentos em diversas escalas do tempo e do espaço: da lenta erosão às areias
desérticas; da teoria de deriva continental ao grande evento da oxigenação; da
pangéia que a tudo deu forma neste planeta ao microscópico movimento de cia-
nobactérias. O próprio artista já manifestou, em entrevista, nunca deixar de fas-
cinar-se pela criatividade e poder da natureza e suas constantes metamorfoses.
— Ulisses Carrilho
Alvorada, 2020
Vídeo (cor e som) (detalhe) 85
3’40”
Da extensão do corpo e suas memórias vividas, costuram-se os processos es-
téticos vivenciados por Lidia Lisboa. A artista visual materializa linhas diver-
sas de sua narrativa, da natureza que a cerca e das referências de mulheres de
sua família. Nesse caminhar pode-se observar como os afetos percebidos por
Lidia são entrelaçados por tecidos e desdobrados nas sensações da natureza
que a cerca.
Alvorada, 2020
Vídeo (cor e som) (detalhe) 87
3’40”
a obra se articula com o espaço que está inserida, aproximando o espectador
dos movimentos compostos e da materialidade ali presentes. A sensação de
acolhida novamente é apresentada, o que torna a artista, seu processo artís-
tico conectados às narrativas e memórias de Lidia Lisbôa.
Alvorada, 2020
Vídeo (cor e som) (detalhe) 89
3’40”
alonga na performance. A artista que performa com a estação e o que a cerca,
direciona-se ao lugar mais alto e mais iluminado a fim de experimentar as
potencialidades do espaço que ocupa. Nessa relação, seu corpo acompanha
a luz junto ao solo aproveitando as possibilidades de ver-estar dentro e tam-
bém fora do casulo têxtil. Aqui Lidia, expressa novamente sua curiosidade
com o que é externo ao casulo e num movimento breve retorna ao seu lugar
de proteção, afeto e cuidado. A materialização dessa relação entre artista e
objeto-obra-casulo é o encontro com a sua Alvorada, que faz também juz ao
nome da performance.
— Mirella Maria
Alvorada, 2020
Vídeo (cor e som) (detalhe) 91
3’40”
Alvorada, 2020
Vídeo (cor e som) (detalhe) 93
3’40”
Paulo
Nazareth
Ensaio por Janaina Barros
97
O ato de lançar arroz para atrair pombos (Columba livia) em algumas pra-
ças da Argentina (2010) e, posteriormente esta ação se repete na Confucius
Plaza em Chinatown, Nova York (2018) não é uma armadilha. O pombo (Co-
lumba livia) não é visto aqui como a manifestação do espírito santo manifesta
na imagem da pureza do branco de algo que se deve preservar. Mas, como
efeitos deste mundo que o considera como uma praga urbana a se ter cautela.
Sobremaneira, evidencia-se na figura do pombo, a fabulação do Outro, como
uma colonialidade de poder construída a partir de micro e macro narrativas.
Pode-se citar, o termo Complexo de Pombal, relativo à casa de pombos, é um
conceito reelaborado pelo artista em sua pesquisa visual, a partir da referência
deste uso lingüístico pelos moradores do bairro Palmital, cidade de Santa Lu-
zia, arredores de Belo Horizonte, local que se constitui como parte importante
de suas múltiplas vivências. Durante os anos 1980, um conjunto habitacional
foi construído pela Companhia Metropolitana de Habitação de Minas Gerais
(COHAB-MG) e financiado pelo Governo Estadual de Minas Gerais. Portanto,
crescer num espaço arquitetônico pequeno, tal como a casa de pombo, conferi-
ria as pessoas um impacto tanto físico quanto psíquico, pois há tanto a dificul-
dade de sair deste lugar pelo temor ao desconhecido, quanto ao sair deste lugar
de certo domínio, o desejo de retornar a ele torna-se constante. Da mesma
forma, como o pombo correio (Columba livia domestica) desloca-se para um
determinado destino, contudo, sempre retorna a seu lugar de origem.
“Olha, lá muito longe está vindo um povo, são os brancos, eles estão
vindo para cá e estão vindo para acabar com a gente”.
“Olha, você não podia ter falado isso, agora que você falou isso você
acabou de criar os brancos, eles vão existir, pode demorar muito tem-
po, mas eles vão chegar aqui na nossa praia”.
1 01
de obliteração da consciência coletiva ou autoconsciência como tradução de
uma narrativa de poder que reafirma o cegamento, a surdez, o silenciamento
para grupos subalternizados. Em oposição, a sacralidade do pão na hagiolo-
gia de Cristo. Quando tenho fome numa relação contraposta a Quando tenho
comida em minhas mãos. As sentenças que abarcam em seu sentido ambigüi-
dades no seu modo imperativo:
103
Sem título (Bird Skyfall), 2017
Impressão fotográfica em papel algodão 105
75 x 100 cm
João
Trevisan
Ensaio por André Vechi
O homem que anda o faz pois precisa de um corpo. Ele procura um outro
para que possa agir. Ele o anseia, pois o pressente necessário para trazer ao
mundo algo, um gesto, um átimo, uma coisa que se configure e desapare-
ça, incrustando-se na memória miraculosa de quem assiste. O homem tem
vontade de fazer acontecimento. E ele faz. Ao encontrar, depositado na terra,
inerte, o tronco, lanhado pela passagem dos vagões que deveriam integrar
uma nação, ele reconhece, ali, algo mais do que um objeto, algo mais do que
um cadáver, já que não mais árvore, já que condicionado pelo corte e pelo
uso ferroviário. O homem sente apreço pelas coisas abandonadas, esqueci-
das por não mais encontrarem serviço. Ele se vê nelas e recusa deixá-las en-
tregues, como se opõe a entregar-se à escuridão dos próprios pensamentos.
Então ele arranca o corpo da terra e o carrega sobre os ombros, sem nunca
parar. Ele sabe que parar é uma espécie de abandono, um pouco pior até,
pois é se abrir para o cansaço, uma renúncia de si e não há espaço para isso.
Com o outro-corpo sobre os ombros ele, a cada átimo, remete-se ao seu pró-
prio. Aquele que sustenta: carne; o amparado: tronco. Invertem-se as rela-
ções: não mais a madeira se faz coluna para construção, mas sim o homem.
Ele o faz, pois impregnado da figuração do masculino como ossos e muscula-
tura, e sangue e pele, e pelos e dentes. O homem como suor do trabalho bra-
çal, moldando sua imagem àquela do labor. O homem trabalha, pois sempre
trabalhou, pois gosta de ver num outro corpo o resultado do seu gesto, pois
este fica como algo que afirma: estive aqui, eu o fiz, eu sou potência. E assim
ele vai construir formas que remetem a sua vitalidade, seja em monumenta-
lidade, ou como simples afirmação de seu falo, sua marca de diferença que
incessantemente demanda certificação.
Um homem retorna ao seu próprio lar e prepara-se para fazer reviver aquele
quase-nada. Opera-se uma espécie de transmutação, em que nada em si, mudou.
Um homem possuí um espírito místico, pois sabe que as respostas não repou-
sam em livros científicos. Nem filosóficos. E não há nada a ser explicado que
não possa se fazer saber melhor pelo sentir. Por isso ele trata de encontrar no
mundo uma outra ordem, que lhe seja própria, que o sintonize com o universo.
Sete. Ele diz: sete. Ele pensa em números pois entende que a arte, como a ma-
temática, surge pela abstração, fazendo figurar grandezas. Sete. As estruturas
por ele criadas assemelham-se ao número. Sete. As estruturas por ele dispostas
correspondem ao número. Sete. As estruturas por ele manipuladas assumem
uma posição de um repertório de poses que é o mesmo do número. Sete corpos
no formato do número sete podem assumir sete atitudes. Mas ainda assim, ele
escolhe apenas uma posição, sabendo que não há necessidade de revelar tudo,
deixando-nos aberto o segredo que nós mesmo devemos suplantar.
Um homem nos convida a caminhar, a circular por entre esses corpos que
apesar de instaurarem em nós uma ideia qualquer de repouso, clamando
para nos espreguiçarmos, em realidade nos fazem querer percorrer seu cami-
nho, entender sua calma naquela adoração em que permanecem tombadas.
O homem precisa que admirem sua criação. Ele também é vaidade, ainda
que no buscar o reconhecimento exista sempre a generosidade do dar, de en-
tregar ao mundo algo novo: uma construção fantástica em sua simplicidade
que nos faça recuar para um tempo interno, incoerente, nosso.
A arte nos saúda, para que nos saudamos e possamos sentir, amanhã, sauda-
de deste encontro.
— André Vechi
Corpos em Prostração, 2021
Dormentes de ferrovia e ferro 111
7 peças, cada um aproximadamente 420 x 21 x 15 cm
Corpos em Prostração, 2021
Dormentes de ferrovia e ferro 113
7 peças, cada um aproximadamente 420 x 21 x 15 cm
Andrey Rossi Leandro Júnior
Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Estadual Pau- Leandro Júnior é pintor e escultor figurativo, com temas artís-
lista (Unesp), Andrey Rossi concluiu Pós-Graduação em Dis- ticos extraídos da humilde vida rural do vale do Jequitinhonha,
curso e Leitura de Imagem pela Universidade Federal de São em Minas Gerais. Morador desta região há 35 anos, Júnior de-
Carlos (UFSCar). É mestre em Artes Visuais pela Universida- senvolveu seu método artístico usando argila nativa que extrai
de de Campinas (UNICAMP), onde atualmente é doutorando dos íngremes vales da região, o que resulta em obras que ecoam
em Artes Visuais. Artista representado pela OMA Galeria, tra- a natureza de suas raízes regionais e culturais. Esculpidas em
balha com pintura, desenho e assemblagem. Suas obras com- argila sólida ou pintadas sobre tela com argila caseira liquefeita,
põem acervos institucionais por meio de prêmios aquisitivos as obras de Júnior exploram a vida no vale do Jequitinhonha e
no Brasil e no exterior, a exemplo do Museu de Arte Contem- sua ancestralidade histórica, que inclui numerosos descenden-
porânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS), em Porto Alegre, tes de africanos escravizados fugitivos que ainda vivem em mui-
Brasil; da coleção Gilberto Chateaubriand no Museu de Arte tos quilombos da região. Estudou arte na Faculdade São Luís
Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), no Rio de Janeiro, de Jaboticabal. Desde 2017, expõem em inúmeras exposições
Brasil; do Museu de Arte do Rio (MAR), no Rio de Janeiro, coletivas. É professor de arte de um Centro de Referência de
Brasil; e da Coleção Kunstmuseum Kulturverein Wittingen, Assistência Social (CRAS), onde trabalha com adolescentes e
na Alemanha. jovens adultos.
115
Desali Yasmin Guimarães
Desali é formado em Artes Plásticas pela Escola Guignard As pinturas de Yasmin Guimarães partem da representação
(UEMG). Criador do Coletivo Piolho Nababo, há dez anos em de paisagens, imagens e elementos do mundo, que se des-
Belo Horizonte, viaja por múltiplas linguagens, incluindo grafi- mancham e se fragmentam através de diferentes suportes, em
te, fotografia, vídeo e intervenção urbana, promovendo o contato pinceladas curtas , manchas de tinta rala ou empastados de
entre a margem e o centro, questionando as instituições artísti- cor. Uma possível representação da ação dos ventos sobre a
cas tradicionais e seu colonialismo, contaminando esses espaços paisagem, ou sobre as coisas que estão no mundo. Realizou
com as ruas. Participou de residências e exposições coletivas e in- as exposições individuais, “Minutos antes de acordar” (2020),
dividuais no Brasil e no exterior, além de ter obras em coleções na Galeria Simões de Assis, em Curitiba, Brasil; “Eyes e Yes”
institucionais, como as do Centro Cultural São Paulo (CCSP), em (2018), na Galeria Superfície, em São Paulo, Brasil; e “Reti-
São Paulo, Brasil; Museu de Arte da Pampulha (MAP), em Belo cências” (2016), na Galeria Superfície, em São Paulo, Brasil;
Horizonte, Brasil; e no acervo da Pinacoteca de São Paulo, em São além de diversas exposições coletivas.
Paulo, Brasil. Individuais recentes incluem “Rua mútua” (2020), na AM Galeria de Arte, em
Belo Horizonte, Brasil; “Pele fera” (2020), na Galeria Athena, Rio de Janeiro, Brasil; “Vulgo.
Lembra-se da grande mesa na sala de jantar” (2017), no Palácio das Artes, Belo Horizonte, Bra-
sil. Recentemente, participou das exposições: “Enciclopédia Negra” (2021), na Pinacoteca de
São Paulo, em São Paulo, Brasil; exposição “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasi-
leiros” (2021), no Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, Brasil; 36o Panorama de Arte
Brasileira (2019), no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), em São Paulo, Brasil.
117
Moisés Patrício Mag Magrela
Moisés Patrício é artista visual. Trabalha com fotografia, vídeo, Desde 2007, as ruas servem de suporte para os trabalhos de
performance, rituais e instalações em obras que tratam de ele- Mag Magrela, que podem ser encontrados nas ruas de São
mentos da cultura latina, afro-brasileira e africana. Desde 2006, Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Natal, Lisboa,
realiza ações coletivas em espaços culturais em São Paulo. For- Londres e Nova York. Mag se inspira na euforia urbana de São
mado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de Paulo para transitar por temas que falam sobre culturas bra-
São Paulo (USP), compõe obras que tratam de elementos sa- sileiras, como a fé, o profano, o ancestral, a batalha do dia-dia,
grados da cultura ameríndia e afro-brasileira. Uma caracterís- a resistência, a busca pelo ganha-pão e o feminino. Realizou
tica significativa de seu trabalho é a alusão ao candomblé, para algumas exposições individuais. A exposição “Não trago seu
quem o sagrado passa pelo corpo e seu potencial manual. Apre- amor de volta” (2016), na Galeria KingCap, em São Paulo, Bra-
sentou trabalhos em diversas exposições, entre elas a individual sil; e “Pindorama in Flames” (2016), na Galeria NYC, em Nova
“Exuberância” (2020), na Galeria Estação, em São Paulo, Brasil; York, Estados Unidos. Em 2018, pintou sua primeira empena
além das coletivas “Against, Again: Art Under Attack In Brazil” (2019), na Anya and Andrew de edifício,”Fortaleza Cansada” de 36 metros de altura por 12
Shiva Gallery, em Nova York, Estados Unidos; “Histórias Afro-Atlânticas” (2018), no Museu metros de comprimento, durante o Festival Concreto em For-
de Arte de São Paulo (MASP) e no Instituto Tomie Ohtake (ITO), em São Paulo, Brasil; “Ago- taleza. Em 2020, pintou três empenas de São Paulo, em dife-
ra somos todxs negrxs?” (2017), na Associação Cultural Videobrasil, em São Paulo, Brasil; e rentes pontos da cidade.
“A Nova Mão Afro-Brasileira” (2013), no Museu Afro Brasil, em São Paulo, Brasil. Seus traba-
lhos integram as coleções da Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; do Museu
Afro Brasil, São Paulo, Brasil; e do Museu da Abolição, Recife, Brasil.
119
Enivo Ana Júlia Vilela
A primeira experiência de Enivo com a arte se deu em 1998, Graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pe-
através do Graffiti, quando o artista tinha 12 anos de idade. lotas (UFPel), Ana Júlia Vilela atualmente reside e trabalha
Desde então, marca as ruas da cidade com a materialização de em São Paulo. Sua pintura, direta ou indiretamente, se refere
idéias, expressão de sentimentos e questionamentos, através à miscelânea de citações, trechos e colagens que nos rondam.
da imagem. Enivo, entende que a técnica, conceito e expressão Apesar de muito inclinado ao discurso, o corpo de trabalho
transitam de forma cíclica. Cada nova série criada é resultado que Vilela tem constituído ainda é majoritariamente abstrato.
do que já foi feito e ao mesmo tempo um passo para novas pes- Utilizando-se muitas vezes de uma paleta rebaixada, a artista
quisas, ramificações de idéias que apresentam a continuidade, se mostra interessada em experimentar contrastes cromáticos
novas possibilidades de criação. Além da arte livre-expressiva e novos formatos e superfícies. Desde muito jovem, expõe re-
nas ruas e no ateliê, já ilustrou campanhas publicitárias para gularmente em salões e coletivas em diversas cidades do país:
múltiplas marcas e realizou projetos comissionados para clien- foi premiada no 43º Salão de Arte de Ribeirão Preto (2018) e
tes privados e empresas. Graduado em Artes Plásticas pela Fa- recebeu Menção Honrosa na Bienal das Artes Sesc-DF (Brasí-
culdade Paulista de Artes, é também arte-educador, na partilha lia, 2018), entre outros. Suas individuais incluem: O romance
de conhecimentos e vivências com jovens focados em pesquisar morreu (Porto Alegre, 2021), Todas as festas de amanhã (São
e produzir arte. Sócio fundador da A7MA Galeria, atua como Paulo, 2021), A morte de uma festa, MARP (Ribeirão Preto,
curador e organizador de exposições em sua galeria represen- 2019), e O som dos olhos, Museu Municipal Casa da Memória
tando artistas dentro e fora do Brasil. (Cajamar, 2012).
1 21
Thiago Rocha Pitta Lidia Lisbôa
A prática diversificada de Thiago Rocha Pitta está conectada a Formada originalmente em gravura, escultura e pintura, Lidia
uma fascinação profunda com as sutis transformações do seu Lisbôa desenvolve sua prática na intersecção entre objeto de
entorno. Suas instalações, vídeos e pinturas têm capturado a vi- arte, performance e ritual a partir de técnicas que incluem,
bração de um planeta vivo por meio do treinamento do olhar do sobretudo, a costura e o crochê. Essas últimas se apresentam
observador acerca das lentas transformações materiais, das pro- como caminho primordial, em que cada passo dado na cons-
gressões físicas de minúsculas partículas de um território e das trução de uma poética aponta para um desdobramento na
alterações repentinas do tempo. Vencedor dos prêmios Marcan- forma de ação performativa. O uso do tecido e de materiais
tonio Vilaça (2005), Brasil, e Open Your Mind Award (2009), descartados constituem as estruturas fundamentais na sua lin-
Suíça. Apresenta trabalhos em mostras individuais, desde 2002, guagem, abordando presente e passado, através de temáticas
incluindo as exposições: “Noite de abertura” (2020), no Museu autobiográficas e ancestrais. Lisbôa foi contemplada com o
de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), no Rio de Ja- 2o Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro Brasileiras
neiro, Brasil; “O primeiro verde” (2018), na Galeria Millan, em São Paulo, Brasil “L’Eremo e Il (2012) e com o Prêmio Maimeri 75 anos (1998). Dentre as principais exposições individu-
Campo Accampa” (2013), na Igreja Santa Maria Incoronata e na Gluck 50 Gallery, em Milão, ais, destacam-se: “Acordelados” (2022), na Galeria Milan, em São Paulo, Brasil; “Vestidos
Itália; “Nostalgia of Pangea” (2012), no Andersen’s Contemporary, em Copenhague, Dinamar- & Cupinzeiros” (2019), na Galeria Espaço Caixa Branca, em São Paulo, Brasil; “Performan-
ca; “Notas de um desabamento” (2010), na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio ce Corpos e Tramas” (2018), no SESC Pinheiros, em São Paulo, Brasil; “Casulos” (2015), no
de Janeiro, Brasil; “A Rocky Mist” (2009), no Meyer Riegger, em Karlsruhe, Alemanha; “The Instituto Pretos Novos (IPN), no Rio de Janeiro, Brasil; “Vila das Oyas” (2012), na Fibra
BAR vol. 2 – Donna Ong and Thiago Rocha Pitta” (2008), no Arts Initiative Tokyo, em Tóquio, Galeria, em São Paulo, Brasil; entre outras. Integrou mostras coletivas, como a 12a Bienal
Japão (2008); Também participou da 5ª e 9ª edições da Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS do Mercosul (2020), em Porto Alegre, Brasil; “Estratégias do Feminino” (2019), no Farol
(2005 e 2013). Suas obras integram diversas coleções públicas, tais como: Maison Européene Santander, em Porto Alegre, Brasil; e “Mapas Urbanos” (1998), na Fundação Bienal de São
de la Photographie, Paris, França; Hara Museum, Tóquio, Japão; Coleção Patricia Pelphs de Paulo e Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), São
Cisneros, Nova York, Estados Unidos; Colección Jumex, Cidade do México, México; e Museu Paulo, Brasil; entre outras.
de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo, Brasil; entre outras.
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Paulo Nazareth João Trevisan
O trabalho de performance e instalação de Paulo Nazareth ex- João Trevisan é pintor, escultor e performer. Utilizando dos
plora com frequência suas raízes africanas e indígenas. O ar- elementos encontrados às margens de ferrovias, João os agru-
tista lida com vários assuntos que normalmente estão ligados pa e ordena de diferentes maneiras produzindo novos corpos.
à raça, ideologia e distribuição desigual do desenvolvimento. Seus trabalhos, sejam eles os criados pelo espaço entre chapas
Sua prática é ao mesmo tempo interdisciplinar e participativa. de ferro que se mantém em pé com o auxílio dos parafusos, ou
Nazareth busca personificar a ideia do artista como conector, suas pinturas de fundos pretos e linhas verticais de diversas
decodificador e filósofo. Suas exposições individuais incluem espessuras, e, até mesmo, as pequenas ripas de madeira com
“Melee” (2019), no Institut of Contemporary Art (ICA), em Mia- tinta a óleo discutem intervalos entre as formas e os vazios. En-
mi, Estados Unidos; “Faca cega” (2018), no Museu de Arte da tre as exposições individuais estão: “Corpo e Alma” (2021), no
Pampulha, em Belo Horizonte, Brasil; “Old Hope” (2017), na Museu de Arte Sacra, em São Paulo, Brasil; “Das noites uma
Galeria Mendes Wood DM, em São Paulo, Brasil; “Genocide in livre sensação” (2020), na Central Galeria, em São Paulo, Bra-
Americas” (2015), na Meyer Riegger Gallery, em Berlim, Ale- sil; “Da repetição ao silêncio”, na Galeria Foro.Space, em Bogotá, Colômbia; “Corpo-trajeto”
manha; “Journal” (2014), no Institute for Contemporary Arts, (2019), no Instituto Adelina, em São Paulo, Brasil; “Corpo, breve instante” (2019), na Gale-
em Londres, Reino Unido; “Premium Bananas” (2013), no Mu- ria Karla Osório, em Brasília, Brasil; “Descarrilho” (2018), no Decurators, em Brasília, Bra-
seu de Arte de São Paulo (MASP), em São Paulo, Brasil. Parti- sil. Seus trabalhos podem ser encontrados nas coleções do Museu de Arte do Rio (MAR),
cipou da 56ª e 55ª Bienal de Veneza (2015 e 2013), na Itália, e no Rio de Janeiro, Brasil; Museu Nacional da República (MUN), em Brasília, Brasil; Mu-
da 35ª Bienal de São Paulo (2021), no Brasil, além de inúmeras seu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), em Ribeirão Preto, Brasil, entre outras.
exposições coletivas ao redor do mundo.
1 25
LUZ Contemporânea
LUZ Contemporânea é um programa de exposições de arte contemporânea
que se desdobra em eventos e ações públicas. Desenvolvido pelo curador
Simon Watson, o projeto, atualmente, encontra-se baseado no Museu de
Arte Sacra de São Paulo. Nesse espaço, LUZ Contemporânea apresenta
exposições temáticas de artistas convidados, de modo a estabelecer diálogos
conceituais e materiais com obras do acervo histórico da instituição. Embora
fortemente focada no cenário artístico brasileiro atual, LUZ Contemporânea
está comprometida com uma variedade de práticas, cultivando parcerias
com artistas performáticos e organizações que produzem eventos de arte.
Simon Watson
Nascido no Canadá e criado entre Inglaterra e Estados Unidos, Simon Wat-
son é curador independente e especialista em eventos culturais em Nova
York e São Paulo. Um veterano com trinta e cinco anos de experiencia na
cena cultural de três continentes, Watson concebeu e assinou a curadoria
de mais de 250 exposições de arte para galerias e museus, e coordenou pro-
gramas de consultoria em colecionismo de arte para inúmeros clientes in-
stitucionais e particulares. Nas últimas três décadas, Watson trabalhou com
artistas emergentes e os pouco reconhecidos, trazendo-os para a atenção de
novos públicos. Sua área de especialização curatorial é identificar artistas
visuais com potencial excepcional, muitos dos quais agora são reconhecidos
internacionalmente na categoria blue-chip e são representados por algumas
das galerias mais famosas e respeitadas do mundo.
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CURADORIA PRODUÇÃO GRÁFICA
A RT I S TA S INTERNATIONAL LIAISON
E S P E R A N Ç A
Secretaria de Cultura e Economia Criativa do
Gabriela Longman
Estado de São Paulo
Guilherme Teixeira
Prefeitura da Cidade de São Paulo Governo do
Jackson Gleizer
Estado de São Paulo
Janaina Barros
Alvin Hall
Márcio Harum
Bboy Biel
Mirella Maria
Beth Rudin DeWoody
Pollyana Quintella
Bruno Baptistella
Thierry Freitas
Daniel Silva
Ulisses Carrilho
Fernando Mota
Gustavo Amorim
GALERIAS
Henrique Martins Modenesi
AM Galeria, Belo Horizonte e São Paulo Jarbas Velloso
Casa Triângulo, São Paulo Luciana Farah
Central Galeria, São Paulo Michel Farah
Galeria Athena, Rio de Janeiro Rafael Scur
Galeria Estação, São Paulo Ranier Coimbra
Galeria Simões de Assis, São Paulo Victor Gunsalus
Galeria Superfície, São Paulo Wilson Pinheiro Jabur
Mendes Wood DM, São Paulo FSNOW
OMA Galeria, São Paulo SECONDS”
SWA Artist In Residence
M O N TA G E M
Oficina de Artes
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