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Artista
JORGE CURVAL
Curadoria
Isabel Patim
Textos
Afonso Pinhão Ferreira
Isabel Patim
Elisa Pinhão Ferreira
Coordenação
Margarida Lessa
Design
Acácio Viegas
Local
Galeria D’Arte Ortopóvoa
Data
De 22 de fevereiro a maio de 2024
Número de exemplares
500
Depósito Legal
0000000000000
Informações
+351 919 597 996 (Ortopóvoa)
A ARTE SINCRÉTICA DE
JORGE CURVAL a realidade, que tentavam embelezá-la, harmonizando o desconfor-
me e posicionando o deslocado na busca de um sublime irreal, ele
sabe, à sua maneira, que a exteriorização e a perceção da arte não
passam só pela sua intelectualização. Sabe bem que não é preciso
Afonso Pinhão Ferreira apenas pactuar com uma revolução destrutiva, assente num ex-
pressionismo que valoriza a inutilidade da estética, que faz questão
de abater os cânones, que pretende destituir o objeto numa revolta
Apreciem como numa mostra sublime que dilui o humilde, “O Retrato aniquiladora, dado valorizar de tal forma a abstração sobre o ex-
das Palavras” de Jorge Curval, se arroga como uma conjetura com pressionismo que leva a arte a abstrair-se de tal forma que tende a
assinatura, onde o artista confirma que a arte é a métrica da poesia, desaparecer1.
enfim, a linguagem da imagem que extravia.
O artista que hoje expõe na Galeria d´Arte ORTOPÓVOA, interiori-
O artista plástico oferece viagens aos observadores, atira-lhes zou a necessidade de contrarrevolucionar com a criação de novos
mensagens de renomados escritores. Mais do que isso, pois liga discursos ensaísticos para novos percursos artísticos, ou seja,
as sentenças às presenças, as ideias às candeias, os escritos aos agregar de forma sincrética o que culturalmente sobra dos fan-
espíritos, o que permite envolver o pensamento do escritor com o tásticos vanguardismos, realismos, naturalismos e figurativismos.
reconhecimento do autor, num enlace legitimamente profícuo. Claro que todos os movimentos condensaram um papel ecuménico
no percurso narrativo do ser humano, mas todos tiveram os seus
Jorge Curval sabe bem que a arte é multilingue, porque se exte- momentos e um avançar na modernidade. O modernismo e o van-
rioriza num infindo mapa de significações, cuja latitude se chama guardismo também têm direito a ter um momento e a ficarem na
representação. Sabe também que essa representação concebe ex- história. A eternidade não lhes pertence.
ponencialmente mensagens dissemelhantes, as quais poderão ser
tantas quantos os recebedores. Sejamos pois bem contemporâneos e façamos com que a inteli-
gência natural que assenta num percurso evolutivo, se manifeste
E, apesar de reconhecer o percurso evolutivo da arte, onde os na arte sem perder a sua identidade muito humana, única maneira
movimentos culturais do século vinte trocaram os sapatos altos da de vencermos a arte advinda de um qualquer algoritmo, que se
estética pelas sapatilhas da utilidade, e propuseram deixar de fingir baseará na associação instantânea imagética.
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Hoje, vivemos o sincretismo da arte, onde o artista plástico pode Permitam-me dizer-vos que há duas pinturas que me cativam
inovar na congregação objetivada de movimentos ideológicos e sobremaneira:
técnicas artísticas. A arte poderá ser novamente individual e social-
mente identitária, capaz de expressão, mas também capaz de iden- - A primeira retrata as palavras de Agustina Bessa-Luís. A insigne
tificação. Atentem como no fim do século passado e no princípio escritora envia um olhar inteligente, penetrante que farte, num misto
deste, artistas como Francis Bacon e Lucien Freud, se afirmaram de ironia e de provocação, e diz-me o que é amar, tal qual está
positiva e indiscutivelmente no mundo da arte, sendo figurativistas escrito nos muitos apeadeiros que a idade me proporcionou. A ex-
e, sobretudo, algo retratistas. Provaram que, afinal a representa- pressividade da retratada representa de forma indiscutível aquela
ção da realidade, numa outra perspetiva pode ser arte, enquanto honestidade. Aquele ponto brilhante no centro do olho direito e no
suprema manifestação humana. centro da tela obriga-nos a parar. Direi tão só, notável.
Pois bem, vejo na pintura de Jorge Curval esse sincretismo inovador. - A segunda é a que nos mostra a poetisa Florbela Espanca com
o seu olhar melancólico, que transparece a mágoa emotiva que
O desenho analisado na sua generalidade, e o retrato em particular, empresta aos seus poemas, como A Tortura, onde dá conta que
é uma forma de pensamento, não fora a partir desse traçado, visua- o sentimento do verso mais não é que pó, o nada, o sonho de um
lizarmos com maior ou menor nitidez o modelo ausente. As pinturas momento. São os cantos da boca caídos de tristeza que estão no
desta mostra, permitem tornar presentes os ausentes, e tentam centro da tela, estando os olhos embaciados de negatividade e
construir uma imagem onde a carência do retratado estar parecido também semicerrados, ansiosos de positividade.
é relativizada pelo poder que a função solicitai,ii.
Caro visitante, sinta o abraço que Jorge Curval empresta à cumpli-
Roger de Pilesiii no seu curso de pintura de 1766, já nos dizia que cidade entre as palavras e os seus autores.
as “quatro coisas para tornar um retrato perfeito eram o ar, a cor,
a atitude e os adornos”. Ora, estes retratos exímios da autoria de Fevereiro de 2024
Jorge Curval respeitam esses parâmetros, sendo que os adornos,
enquanto palavras, ajudam na identificação do retratado e enviam
simultaneamente uma mensagem ao observador.
1
Li este conceito num ensaio sobre arte na Fundação de Serralves, cuja referência
bibliográfica não consigo referenciar.
i
Ramos A.: Retrato, o desenho da presença. Campo da comunicação. ISBN: 978-
972-8610-79-1. 2010.
ii
França J.A.: O retrato em Portugal. Livros Horizonte.1981.
iii Piles, Roger de, Cours de Peinture par Principes, 1776, p.207.
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O RETRATO DAS
diacronia, nesta exposição, assiste apenas ao observador/leitor, que
constata a diferença do Eu, face à original, genial e provocadora repre-
PALAVRAS
sentação com que o Curval nos desafia o re/visitar, o re/ver e o re/ler.
Curval desafia-nos a (re)descobrir e (re)ler textualidades (também ‘não digas nada, dá-me só a mão’
visuais), ao mesmo tempo que seduz o observador/leitor com a sua ‘a coisa mais difícil e mais bonita de partilhar
obra artística, a representação visível, num convite ao fruir de um entre duas pessoas é o silêncio’,
conceito harmoniosamente conjugado, seja a partir do retrato do
escritor ou da correspondente citação breve que cuidadosamente ‘Quando te vi, amei-te já muito antes’
selecionou para cada quadro. ‘e por isso te rasgo de magia’
‘Se alguém existe na Terra Que tanto possa, és tu só!’
O mistério da (re)descoberta assim encenado convida à contem- ‘amor é fogo que arde sem se ver’
plação, oscilando a memória entre o que recorda das palavras e ‘Um não sei quê, que nasce não sei onde;
a representação pictórica padronizada de cada escritor, desafian- Vem não sei como; e dói não sei porquê.’
do-a em mestria. Esta harmonia sublime da obra em exibição, que
transcende a mera representação, constrói uma narrativa expositiva ‘sou aquela que passa e ninguém vê’
única, que corre além dos tempos, numa paleta de frases e cores ‘sou a que chamam triste sem o ser’
sóbrias. Para tal contribui a matéria da composição em acrílico sobre ‘Para atingir, faltou-me um golpe de asa’
cartão que ora deslumbra, ora vislumbra. ‘Mal daquele que foge do mundo’
‘o cavaleiro que partiu’
Neste palco de autores, Curval convida-nos a revisitar a obra e o
tempo de cada escritor, num outro terreno cultural, artístico e social. ‘Se estiver tudo errado, comece novamente’
Este conjunto de retratos de escritores portugueses do Artista, feitos ‘não tenhamos pressa, mas não percamos tempo’
retratos da alma e da genialidade, dispensam a diacronia da leitura ‘Quanto mais se sabe mais se pena’
linear dos escritores representados, ao mesmo tempo que convidam ‘De tudo houve um começo…’
o observador/leitor a usufruir do proposto diálogo entre as Artes,
conducente à (re)descoberta, do Eu e do Outro. A linearidade da 3 de fevereiro de 2024
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Elisa Pinhão Ferreira
5
Sophia de Mello Breyner Andresen
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
6
Fernando Pessoa
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
7
Camilo Castelo Branco
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
Florbela Espanca
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
9
José Saramago
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
10
Mário de Sá-Carneiro
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
11
António Lobo Antunes
Técnica mista sobre cartão, 97 x 80 cm
12
Sophia de Mello Breyner Andresen
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
13
Eça de Queirós
Técnica mista sobre cartão, 120 x 130 cm
14
Miguel Sousa Tavares
Técnica mista sobre cartão, 90 x 90 cm
15
Agustina Bessa-Luís
Acrílico sobre madeira, 90 x 90 cm
16
Camilo Castelo Branco
Acrílico sobre madeira
33 x 66 cm
Alexandre O’Neill
Acrílico sobre madeira
45 x 90 cm
17
Alexandre O’Neill Alexandre O’Neill
Acrílico, gesso e cola sobre madeira Acrílico sobre cartão colado em madeira
50 x 50 cm 33 x 33 cm
18
Camilo Castelo Branco Almada Negreiros
Acrílico, gesso e cola sobre madeira Acrílico sobre madeira
33 x 33 cm 49 x 49 cm
19
Eugénio de Andrade Fernando Pessoa
Acrílico sobre tela Acrílico sobre tela
50 x 50 cm 59 x 59 cm
20
Fernando Pessoa Fernando Pessoa
Acrílico sobre madeira Acrílico e rede sobre madeira
35 x 35 cm 40 x 40 cm
21
Fernando Pessoa
Acrílico sobre tela
79 x 120 cm
22
Luís Vaz de Camões
Acrílico e gesso sobre tela
49 x 49 cm
23
Luís Vaz de Camões
Acrílico sobre madeira
90 x 100 cm
24
Florbela Espanca Florbela Espanca
Acrílico sobre tela Acrílico, gesso e cola sobre madeira
40 x 45 cm 50 x 50 cm
25
Mário de Sá-Carneiro
Acrílico sobre madeira
35 x 35 cm
26
Miguel Torga
Acrílico sobre madeira
33 x 66 cm
Mário de Sá-Carneiro
Acrílico sobre madeira e sobre
cartão colado em madeira
33 x 66 cm
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Sophia de Mello Breyner
Acrílico sobre tela
40x 40 cm
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JORGE CURVAL
1999 2008
ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto), Porto -ARTE LISBOA, Lisboa, Galeria Minimal
"Dojo", Galeria Minimal, Porto
Museu Amadeo Souza Cardoso, Amarante 2009
Museu Nacional Soares dos Reis, Porto "Da vida das florestas", Ermida Nossa Senhora da Conceição, Lisboa
X Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira "Da vida das florestas", Jornal de Notícias, Porto
FIIC/FAC'99 Feira de Arte Contemporânea, Lisboa “Da vida das florestas", Diário de Notícias, Lisboa
Galeria Minimal
2010
2000 "Floresta encantada", Museu Centro Memória, Vila do Conde
"Desígnios II", Galeria Minimal Porto "Floresta Europeia", 25 Anos de Portugal na Europa, Porto
FAC 2000 - Feira de Arte Contemporânea, Lisboa
Galeria Minimal, Porto
2011 2023-2024
"Primavera", Galeria Aparte, Porto “Iluminações”, Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão (15 novem-
"Florestas", Fórum Cultural de Ermesinde bro 2023 a 29 de fevereiro 2024)
2016
Exposição "Life Circles", no Palacete dos Viscondes de Balsemão, no Porto.
2017
Exposição de esculturas "Homens e Deuses", nos jardins do Museu,
Centro de Memória de Vila do Conde
Exposição de esculturas "Homens e Deuses", no Museu de Arte
Sacra da Covilhã
Representado como artista convidado na II Bienal de Arte de Gaia.
Intervenção com escultura no Hotel Torel Avantgarde, no Porto
2018
“Reflorestar Portalegre”: Galeria de S. Sebastião; Castelo; Convento
de S. Francisco; Jardim da Avenida da Liberdade; Mosteiro de S.
Bernardo; Museu da Tapeçaria de Portalegre Guy Fino; Praça da
República