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Exposição
Descorrenta
Pintura
Artista
JOSÉ ROSINHAS
Data
15 de Fevereiro a 19 de Maio de 2023
Local
Galeria d'Arte Ortopóvoa
Curadoria
Isabel Patim
Coordenação
Margarida Lessa
Design
Acácio Viegas
Fotografia
Filipe Braga
Textos
Afonso Pinhão Ferreira / Elisa Pinhão Ferreira / Isabel Patim
Número de exemplares
500
Informações
+351 962 873 550 (Isabel Patim)
DESCORRENTA
Interrompe, quebra, larga e solta, pára, liberta, ou contraria. O processo de descorrentar pode ser penoso e exigir um
pathos que verga e chateia. Mas tu, Zé, agarraste um pente
Isto (não) é um jogo de sinonímia. que tornaste raiz, percorreste um globo e alcançaste galhos
únicos que se abeiram do chão-céu. Desenhaste 9, desenhaste
O ofício de nomear é trabalhoso. Implica saber. Compreende 93 árvores, mas tenho a convicção imaculada, que na verdade
a co-habitação com a essência do que se nomeia. Porquanto, dessas obras se alcança o arcabouço necessário à entrega e
naturalmente, os baptismos mais adequados surgem de à continuidade.
quem participa da génese; saúdo-te, Zé, pela eleição. Descor-
renta és tu e é tua. Porque é uma exposição de facto, onde Venho tendo a certeza, muito através da manifestação
autor e obra se desvelam a par, baralhando-se em substância. artística, de que o ser humano não fica estéril no amor
absoluto nem na dor hórrida, mas sim no limbo da indiferen-
Mostruário de um amor absoluto, inenarrável, Descorrenta ça e do desapego.
carrega, de igual e indissociável modo, o fardo do indizível:
de abraços de trinta anos, de dores que durarão muitas vidas Desata, desaperta, ou trava, deslaça, abre e desencadeia.
além das que já reclamaram.
Isto (não) é um jogo de sinonímia.
Gostar de viver não é nunca sentir tristeza ou solidão,
é porventura superar o preconceito de que devemos
abandonar o “negativo”, em vez de o abraçar como parte de Parabéns
um todo, de forma visceral, intrínseca e completa. Talvez não
seja suposto descorrentarmo-nos do que molesta, mas tão
só da obrigação dessa libertação. Assim como uma árvore é Elisa Pinhão Ferreira
forte, firme, enraizada e energeticamente autónoma, ela é, 2023
também, sem prejuízo da sua primeira descrição, vulnerável
na sua imobilidade. Não escapa a predadores, catástrofes e
intempéries. Não se transmuta para situações mais favoráveis
ou aprazíveis. Porém, não raras as vezes, floresce e frutifica
em condição adversa.
DESCORRENTA?
ACORRENTA, É O QUE
É ….
Viajar pelo mundo da DESCORRENTA, implica bem mais do Na paisagem do José está o pai e a viagem. Uma viagem
que apenas espreitar ou bisbilhotar, não fora as paisagens positiva com alguma aragem negativa, enfim como a vida.
exteriores que apreciamos, mais não serem que mensagens Ler a pintura é perceber essa rutura.
interiores que arrecadamos. São uma parte do pintor; tão só,
a arte do seu interior. Curador e artista, José Rosinhas é também um lutador com
carga surrealista.
Esta exposição de pintura é, no fundo, a tradução da sua
rutura com o mundo. Nota-se que o José Rosinhas aprendeu Digo, em jeito conclusivo, que fiquei maravilhado com a sua
a desligar-se do que o rodeia, para pintar o que o desenca- arte, acorrentado quanto farte.
deia. Sabe procurar o silêncio que contém os segredos, para
depois soltar os dedos. Na verdade, o artista que recusa o
ruído, ouve a sua musa vanguardista. Afonso Pinhão Ferreira
Administrador da ORTOPÓVOA
O silêncio traz riqueza, já que obriga a pensar com clareza.
Desaparece o desassossego peculiar da existência e transpa-
rece o sossego a gerar a inferência. A criação é o desembrulho
de uma reflexão sem barulho.
São valiosas as reflexões terminológicas, teóricas e críticas Poderíamos caminhar pelos significados de ‘árvore da vida’,
sobre o que é a arte contemporânea e as suas linhas de ou ‘árvore genológica’, tão limpidamente convocados na
expressão na atualidade. Uma dessas linhas parece caminhar representação discursiva do Artista, a par de outros como
no passo traçado por Artistas que apreendem a natureza ´mastro da viagem terrena’. Outras áreas contribuem para
mutável do tempo e do lugar nos dias de hoje. As possibili- a pluralidade semântica recriada, como a linguística, onde a
dades de alocamento espacial (placemaking) que as suas árvore salienta as relações de hierarquia e derivação por meio
produções artísticas possibilitam, partem de um desloca- de linhas descendentes. Desta polissemia, resultam ainda
mento (dislocation), que permitirá, eventualmente, identificar outras semânticas do termo que José Rosinhas recria, num
‘estranheza’ nos mais familiares e fundamentais constituintes discurso artístico único e singular, reconstruindo a árvore de
do Ser, que, a cada dia, se tornam mais singulares, no mundo costados, já que no seu esquema de forma arborescente se
atual. (T. Smith). José Rosinhas, Artista e Curador, recria e tece representa a ascendência paterna.
mundos, que nos convida a vivenciar e usufruir, com matéria
familiar e universal, criando um universo em que o conteúdo A paisagem perspetivada como Autor, ideia a conexão do
‘deslocado’ habita o universo recriado, face à singularidade do Artista com o Pai, num espaço de liberdade vivenciada in-
mundo íntimo sobre a qual nos propõe refletirmos. temporalmente. A árvore materializa a dor e a arruma-a:
uma dor que é mutante como a paisagem, em vida tempo-
Trinta trabalhos em exposição concebem quatro narrativas de rizada que, como a árvore, ecossistema vivo, está temporal-
um mesmo volume conceptual que o desenho e a pintura do mente impedida do sublime. José Rosinhas materializa essa
artista redigem, com a esferográfica Bic Cristal, com Argraf, conexão, grafada em desenho e pintura, numa libertação do
e tinta acrílica, sobre tela, papel ou reprodução fotográfica. Eu, através do discurso da paisagem e do sublime da narrativa
Esse conceito, anunciado nos títulos das obras em exposição da PAI-sagem concebida.
na galeria de arte através do jogo de palavras, eventualmen-
te corroborado no referencial da data de encerramento da
exposição, redige a paisagem como espaço de autorrepre- Isabel Patim
sentação do Artista e de representação do Outro, ausente, Janeiro 2023
mas presente, na memória.
PAISAGEM | 2022 |
ESFEROGRÁFICA BIC CRISTAL
E TINTA ACRÍLICA SOBRE PAPEL
29,7 X 21 cm
9
1993-1998 - Licenciatura em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
2003-2004 - Pós-graduação em Gestão de Património Cultural pela Escola das Artes – Universidade Católica Portuguesa.
Participou em várias exposições colectivas e individuais, e está representado em colecções nacionais e internacionais, como por
exemplo: Associação Nacional de Jovens Empresários (Porto), Biblioteca de Alexandria (Egipto), Câmara Municipal de Matosinhos,
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Centro de Arte Contemporáneo de Málaga, Fundação Dr. Luís de Araújo (Porto), Fundação
Escultor José Rodrigues (Porto), Fundação Luciano Benetton, Liberty Seguros (Lisboa), Lanchester Gallery (Reino Unido), Masc
Foundation (Viena, Áustria), MAK - Austrian Museum of Applied Arts/Contemporary Art (Viena, Áustria), Museu da Faculdade de
Belas Artes da Universidade do Porto, Printed Matter (Nova Iorque, EUA), Quinta Solar das Bouças (Amares), Tribunal da Relação do
Porto, entre outros.
Prémios
2022 – Menção Honrosa no 1º Prémio de Pintura Professor Doutor António Carlos dos Santos, Póvoa de Varzim;
1999 – 3º Prémio em ex aequo, concedido pelo BCP no III Concurso de Jovens nas Artes Plásticas - Francisco Wandschneider.
http://joserosinhas.blogspot.com
jose_rosinhas@yahoo.com